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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ LETÍCIA DE PAULA

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

LETÍCIA DE PAULA

CONCEITOS JURÍDICOS

CONCERNENTES AO DIREITO DO MAR E

SUA IMPORTÂNCIA DIANTE DO USO SUSTENTÁVEL DA

BIODIVERSIDADE MARINHA DA COSTA BRASILEIRA

CURITIBA

2013

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CONCEITOS JURÍDICOS CONCERNENTES AO DIREITO DO MAR E

SUA IMPORTÂNCIA DIANTE DO USO SUSTENTÁVEL DA

BIODIVERSIDADE MARINHA DA COSTA BRASILEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em direito.

Orientador: Prof. Dr. Wagner Rocha D’Angelis

CURITIBA

2013

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LETÍCIA DE PAULA

CONCEITOS JURÍDICOS CONCERNENTES AO DIREITO DO MAR E

SUA IMPORTÂNCIA DIANTE DO USO SUSTENTÁVEL DA

BIODIVERSIDADE MARINHA DA COSTA BRASILEIRA

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no Curso de Direito em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 2013. _________________________________

Curso de Direito

Universidade Tuiuti do Paraná.

Orientador: Prof. Doutor Wagner Rocha D’Angelis Universidade Tuiuti do Paraná

Prof. Doutor Universidade

Prof. Doutor Universidade

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Wagner Rocha D’Angelis pela atenção e colaboração durante a execução deste trabalho e à minha mãe por sempre ser o apoio em toda esta trajetória de vida acadêmica.

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Se considerarmos o mar como um legado, que as gerações precedentes nos transmitiram para que nós dele façamos uso racional ou como um bem do qual nós somos depositários e que nós devemos administrar da melhor forma possível resulta disto para nós todos, numerosas obrigações legais. O usufruto – o direito de uso e de gozo – que nós temos sobre o mar e seus recursos, é inseparável da obrigação que nós temos de protegê-lo contra toda degradação e contra o esgotamento de seus recursos.

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O trabalho aborda questões pertinentes aos oceanos e mares, de acordo com os conceitos jurídicos concernentes ao Direito do Mar, que regem as atividades realizadas nesses espaços, sob o ponto de vista do desenvolvimento sustentável dos recursos marinhos. Com base nos preceitos da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, um importante conjunto de normas que regulamenta os espaços marítimos, este trabalho pretende destacar a importância do uso racional dos recursos naturais dos ambientes marinhos brasileiros e da proteção dessa imensa riqueza contida nas águas jurisdicionais do Brasil. Procura-se de maneira especial destacar a Parte XI da referida Convenção, uma de suas partes mais importantes que trata dos fundos dos mares, região também denominada Área, situada além dos limites de jurisdição nacional e regida pelo princípio do patrimônio comum da humanidade. Por fim, também se aborda os principais aspectos sobre o tema Oceanos, debatido na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.

Palavras-chave: Oceanos e mares. Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Rio+20.

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Esta tesis de grado aborda las cuestiones relativas a los océanos y los mares, de acuerdo con los conceptos jurídicos relacionados con el derecho del mar, que rigen las actividades en estos espacios, desde el punto de vista del desarrollo sostenible de los recursos marinos. Con base en los principios de la Convención de las Naciones Unidas sobre el Derecho del Mar, un importante conjunto de normas que regulan los espacios marítimos, este trabajo tiene como objetivo destacar la importancia de la utilización racional de los recursos naturales de los ambientes marinos brasileños y proteger esta enorme riqueza contenida en aguas jurisdiccionales de Brasil. Se pretende dar a conocer de manera especial a la Parte XI de la Convención, una de sus piezas más importantes relacionadas con los fondos de los mares, una región conocida también como la zona, que se encuentra más allá de los límites de la jurisdicción nacional y se rige por el principio del patrimonio común de la humanidad. Por fin, también cubre los principales temas de los Océanos que fue discutido en la Conferencia de Naciones Unidas sobre el Desarrollo Sostenible, Río +20.

Palabras clave: Océanos y mares. Convención de las Naciones Unidas sobre el Derecho del Mar, el Río +20.

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ABRAPAT Associação Brasileira de Equipagens da Aviação de Patrulha CIRM Comissão Interministerial para os Recursos do Mar

CLCS Commission on the Limits of the Continental Shelf

CLPC Comissão de Limites da Plataforma Continental DHN Diretoria de Hidrografia e Navegação

EMAM Estrutura de Missão para os Assuntos do Mar

GOOS/Brasil Sistema Brasileiro de Observação dos Oceanos e Clima ISER Instituto de Estudos da Religião

LEPLAC Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira MMA Ministério do Meio Ambiente

ONU Organização das Nações Unidas PC Plataforma Continental

PCJB Plataforma Continental Jurídica Brasileira

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

PROARQUIPELAGO Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo

PROMAR Programa de Mentalidade Marítima

REMPLAC Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Brasileira

REVIMAR Programa de Avaliação do Potencial Sustentável e Monitoramento dos Recursos Vivos do Mar

REVIZEE Programa de Avaliação do Potencial Sustentável dos Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva

SDN Sociedade das Nações

SECIRM Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar

SECLPC Secretária da Comissão de Limites da Plataforma Continental UNCED Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

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INTRODUÇÃO ... 10 1 O MAR ... 13 1.1 O DIREITO DO MAR ... 15 1.1.1 Águas interiores... 20 1.1.2 Mar territorial ... 21 1.1.3 Zona Contígua ... 23

1.1.4 Zona econômica exclusiva (ZEE) ... 23

1.1.5 Plataforma continental ... 24

1.1.6 Alto mar ... 27

1.1.7 Fundos marinhos (a Área) ... 28

1.1.8 Estreitos e Canais ... 32

2 O USO RACIONAL E SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS NATURAIS DOS ESPAÇOS MARÍTIMOS BRASILEIROS ... 34

2.1 A AMAZÔNIA AZUL ... 34

2.1.1 As quatro vertentes referentes ao uso racional e sustentável da Amazônia Azul ... 37

2.1.1.1 A vertente econômica ... 37

2.1.1.2 A vertente ambiental ... 39

2.1.1.3 A vertente científica ... 39

2.1.1.4 A vertente soberania ... 42

2.2 AMAZÔNIA AZUL: UM LEGADO PARA O FUTURO DO BRASIL ... 42

3 A CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (RIO + 20) ... 44

3.1 DA CONFERÊNCIA DE ESTOCOLMO À RIO+20 ... 44

3.2 A RIO+20... 46

3.3 A RIO+20 E A QUESTÃO DA PRESERVAÇÃO DOS OCEANOS ... 48

3.3.1 “O Futuro que Queremos”: o documento final da Rio+20 ... 50

3.4 DESAFIOS PARA OS LÍDERES MUNDIAIS ... 52

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 54

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INTRODUÇÃO

O oceano intervém de modo crucial, no conjunto dos processos físicos, químicos e biológicos que regem o sistema climático global, porque recobre mais de dois terços da superfície da terra. Ele interage com a atmosfera, os continentes, os fundos marinhos e a biosfera, por isso é considerado o “fator-chave” no cenário da mudança global. (BARROS, 2007, p. 27). Deste modo, é imperioso desenvolver ações que visem o desenvolvimento sustentável do ambiente marinho, área que, em razão dos efeitos danosos provocados pelas atividades humanas, vem sendo severamente afetada em diversos lugares do mundo.

Na imensidão do mar do Brasil, o país possui relevantes interesses econômicos e estratégicos, uma vez que, cerca de 95% do comércio exterior do país é transportado por via marítima, movimentando mais de 40 portos brasileiros nas atividades de importação e exportação. (MARINHA, 2010).

A Zona Costeira do Brasil, considerada patrimônio nacional pela Constituição de 1988, abrange uma faixa de 8.968 km de extensão, na qual está incluído um conjunto de ecossistemas costeiros sobre uma área de aproximadamente de 388 mil quilômetros quadrados. Quatrocentos municípios se encontram ao longo da costa brasileira, onde habitam 36,5 milhões de pessoas, implicando grande densidade populacional. (BARROS, 2007, p. 326). Segundo Carvalho (2005, p. 18) cerca de 80% da população brasileira vive a menos de 200 km do mar e exerce forte pressão sobre a natureza por meio de ações concernentes ao turismo, lazer, pesca comercial entre outras atividades praticadas na área que envolve a Amazônia Azul.

A preocupação do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, para com a conservação dos Oceanos, fortemente evidenciada em sua mensagem, por ocasião do Dia Internacional da Diversidade Biológica, celebrado em 22 de maio de 2012, foi motivo para a escolha do tema e desenvolvimento desta monografia. Afinal, os oceanos são fontes inestimáveis de recursos e segundo o Departamento de Informações Públicas das Nações Unidas (2012), três bilhões de pessoas dependem, para o seu sustento, dos recursos da pesca, turismo, comércio, transporte e energia provenientes de áreas marinhas e costeiras. Mas os oceanos, que cobrem mais de 70% da superfície terrestre, são um dos ecossistemas mais ameaçados.

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Assim, o objetivo deste trabalho é investigar acerca da intrincada relação entre o homem, a natureza e a legislação pertinente ao meio ambiente marinho, e das propostas que lideranças mundiais vêm apresentando no sentido de adotar novas posturas em prol da recuperação dos oceanos na perspectiva econômica, social e ambiental, os três pilares do desenvolvimento sustentável.

Para desenvolvimento da monografia foram selecionados livros e artigos, entre outros documentos, dos quais se efetuou uma síntese das principais ideias de cada autor e/ou dos documentos, no sentido de fundamentar e expor o tema, contribuindo assim, para a reflexão sobre de que modo será possível defender e proteger o meio ambiente marinho de forma sustentável e duradoura.

A monografia foi desenvolvida em três capítulos. O primeiro apresenta a definição de Direito do Mar, os objetivos da Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar e a descrição de todos os espaços marítimos. Ressalta-se neste capítulo, a Parte XI da Convenção, que se refere à exploração dos fundos dos mares de acordo com o princípio do Patrimônio Comum da Humanidade.

O segundo capítulo aborda o uso racional dos recursos naturais dos espaços marítimos brasileiros, enfatizando o grande patrimônio brasileiro no mar: a Amazônia Azul e as quatro vertentes referentes ao uso racional e sustentável desta área.

O terceiro capítulo faz considerações sobre a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), uma das maiores conferências convocadas pela Organização das Nações Unidas com o intento de implementar novos rumos para o desenvolvimento sustentável, tanto em nível nacional quanto internacional. Destaca-se a oportunidade de participação da sociedade civil nos Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável que se preocupou em inserir entre os dez temas-chave os “Oceanos”, um dos ecossistemas mais ameaçados de destruição. Cita-se também, neste capítulo a aprovação do documento final sobre a Rio+20, intitulado “O Futuro que Queremos”. Em especial, mencionam-se os principais parágrafos pertinentes aos Oceanos. Os signatários desse documento reconhecem que os oceanos, mares e áreas costeiras constituem um sistema integrado e fundamental para o ecossistema da Terra e que a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar é um instrumento valioso a ser utilizado no tocante à proteção e uso sustentável dos oceanos, mares e ecossistemas marinhos. Entretanto, cientes do compromisso de proteger e restaurar a saúde dos ambientes marinhos, a proposta defendida pelo Brasil e Europa relativa à abertura de um

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processo para a criação de um mecanismo legal destinado à proteção dos oceanos em áreas de alto-mar e regulamentação da exploração da biodiversidade em regiões fora das jurisdições nacionais, não foi consolidada.

Com a realização deste trabalho, espera-se auxiliar na compreensão sobre o Direito do Mar e a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar no momento atual, em que se reflete sobre a acelerada destruição da natureza e procura-se buscar soluções para minimizar a crise ambiental que atinge o mundo.

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1 O MAR

O mar, desde épocas mais longínquas da história da civilização, considerado imprescindível via de transporte de mercadorias e gerador de alimentos, exerceu significativa influência no desenvolvimento, sobrevivência e poder dos povos e nações. (MARTINS, 2013, p. 1).

O mar ocupa mais de 70% da superfície do globo e soma mais de 90% do volume total das águas do planeta Terra. Mais de 60% de toda a população do planeta vive nas regiões costeiras. Ele exerce um papel essencial sobre o equilíbrio da biosfera remanescente, determinando o clima do Planeta. O mar fornece oxigênio, sal e água dessalinizada, além de cerca de 90 milhões de toneladas de peixes anualmente. As ondas, correntes e marés são geradoras de energia. O subsolo do mar contém uma extraordinária reserva de minerais e de petróleo. O mar também é fonte de turismo e lazer. (JO, 2004, p. 713).

Grandes potências mundiais despontaram em razão do mar. A disputa por seu domínio, portanto, teve início com o surgimento dos primeiros Estados organizados e o estabelecimento do que, nos dias de hoje, se chama Direito do Mar. (MARINHA DO BRASIL, 2000).

As primeiras aspirações de domínio marítimo através do direito surgiram durante a Idade Antiga, no Império Romano, com a declaração do Mare Nostrum (nosso mar), referindo-se ao contexto de todo o mar Mediterrâneo, e que refletia a vontade do Poder Militar dos romanos. (MARINHA DO BRASIL, 2000).

No final da Idade Média e durante a Idade Moderna, o desenvolvimento do comércio e o esplendor das cidades italianas suscitaram novas concepções concernentes ao Direito do Mar, determinando o início do estabelecimento de direitos sobre os mares adjacentes a seus territórios. (MARTINS, 2013, p. 24). Deste modo, Veneza proclamou seu total domínio sobre o Mar Adriático, a Suécia e a Dinamarca sobre o Mar Báltico e a Inglaterra sobre o Mar do Norte. No período das Grandes Navegações, as tentativas de domínio do mar foram estabelecidas pelos portugueses e espanhóis por meio do Tratado de Tordesilhas, que designava a soberania de Portugal sobre o oceano Índico e o Atlântico Sul, e a Espanha sobre o oceano Pacífico e o Atlântico Norte, especialmente o Golfo do México. (MARTINS, 2013, p. 24).

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Na esteira dos acontecimentos, inicia-se a disputa de natureza política e econômica entre portugueses, espanhóis, holandeses, franceses e ingleses para decidir se o mar era suscetível de apropriação ou não, culminando na controvérsia jurídico-doutrinária entre o jurista e filósofo holandês Hugo Grotius e o arqueólogo inglês John Selden, sobre o Mare Liberium (mar livre) e o Mare Clausum (mar fechado). Já no século XVII os defensores da livre utilização dos espaços marítimos saíram vencedores, o que originou o princípio e a prática da liberdade dos mares e da livre navegação. (HOMEM, 2001 apud ZANELLA, 2010).

O princípio da liberdade dos mares surge quando Hugo Grotius publica, em 1609, o livro "Mare Liberum", apoiando o uso do mar e do ar por todas as nações livres. (MARINHA DO BRASIL, 2000). A propósito, Monserrat Filho (2012) relata:

No século XVII, a Holanda (Países Baixos), potência marítima emergente, ergueu essa bandeira, para ter seu lugar ao sol. Hugo Grotius (1583-1645), [...] autor da notável obra ‘As leis da Guerra e da Paz’ (1625), decidiu ajudar seu país a romper com o monopólio comercial das grandes potências de então, Espanha e Portugal. Precursor do Direito Internacional, ao lado de Francisco Victoria, Grotius publicou, em 1606, “Mare Liberum” (Mar Livre), parecer em defesa da liberdade dos mares. Ele via nesta liberdade uma necessidade essencial para a comunicação entre os povos e os países. Daí que, a seu ver, país algum tinha o direito de monopolizar o controle dos mares. Nascia o princípio do pleno e indiscriminado acesso aos mares, que se tornou norma absolutamente comum e corrente no mundo.

De acordo com o texto transcrito acima, pode-se dizer que “Nenhum povo e nenhuma pessoa podem ter direitos sobre o oceano, porque nem a sua natureza e nem seu público, permitem a sua possessão ou a sua ocupação.” (BARROS, 2007, p. 67).

Mare clausum, seu de dominio maris, libri duo, foi escrito em 1636 por John

Selden. Nessa obra, Selden procurou demonstrar que o mar era suscetível de ser apropriado da mesma forma que o território, sustentando, portanto, o direito exclusivo sobre os mares circundantes. (BARROS, 2007, p. 67).

Portugal e Espanha defenderam os princípios do Mare clausum nos oceanos durante a era das grandes navegações ou dos descobrimentos e expansão colonial (séculos XV e XVI). Com a contestação de outras nações europeias sobre tais princípios e a intervenção de Grotius em favor do mar livre, consagra-se definitivamente este princípio. (BARROS, 2007, p. 68).

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Com o princípio da liberdade dos mares solidamente estabelecido, surgia uma nova tendência no sentido de fixar os limites do território marítimo que não seriam mais determinados antecipadamente de forma arbitrária, e sim, por meio de acordos ou convenções.

1.1 O DIREITO DO MAR

O Direito do Mar (Law of the Sea) é uma das áreas do Direito Internacional Público que vem se desenvolvendo ao longo de vários séculos.

Segundo Jo (2004, p. 513), o direito do mar “é o conjunto das normas legais que visam reger a utilização do mar, atuando na prevenção e na solução dos conflitos surgidos no uso deste.”

Martins (2013, p. 10) explica que o direito do mar restringe-se às relações internacionais entre Estados soberanos sobre a jurisdição e competência conferidas a cada um deles no que tange aos territórios marítimos e age, por consequência, na prevenção e solução de conflitos entre os Estados.

Durante muito tempo as normas sobre o Direito do Mar não estiveram definidas. A preocupação em estabelecer sua codificação surgiu no século XX. Na cidade de Haia, Holanda, em 1930, ocorreu a Primeira Conferência para a Codificação do Direito Internacional, promovida pela Sociedade das Nações (SDN), na qual se tratou sobre a questão das águas territoriais, além dos assuntos sobre conflitos de nacionalidade e responsabilidade por danos a bens de estrangeiros. Na ocasião não se conseguiu finalizar um tratado. (MELLO, 2002, p. 1113).

Embora a Conferência de Haia não tenha apresentado resultados expressivos, sobretudo no que diz respeito a termos e conceitos, aproveitamento de recursos e extensão do mar territorial, nota-se, contudo, a conotação econômica revelada em seu processo regulamentar. (MARTINS, 2013, p. 11).

Após a Segunda Grande Guerra, sob o patrocínio da Organização das Nações Unidas (ONU), voltou-se à ideia de codificação e, em 1958, em Genebra, durante a 1.ª Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, com participação de oitenta e seis Estados, concluíram-se quatro convenções: Convenção sobre o Mar Territorial e a Zona Contígua, Convenção sobre o Alto-mar, Convenção sobre a Plataforma Continental e Convenção sobre a Pesca e

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Conservação dos Recursos Vivos do Alto-mar. (MELLO, 2002). Segundo Rezek (2011, p. 349) as quatro convenções

[...] produziram-se no limiar de uma era marcada pelo questionamento das velhas normas e princípios: os oceanos já não representavam apenas uma via de comunicação navegatória, própria para alguma pesca e algumas guerras. O fator econômico, tanto mais relevante quanto enfatizado pelo progresso técnico, haveria de dominar o enfoque do direito do mar nos tempos modernos.

Apesar do grande avanço, as negociações empreendidas na 1.ª Conferência das Nações Unidas, em 1958, para definir a largura do mar territorial, falharam em diversos aspectos por causa das mudanças no cenário internacional. Neste ponto, destacam-se os temores dos Estados costeiros, sobretudo dos mais pobres, diante do esgotamento dos recursos e a vontade de limitá-lo e os progressos na ciência e tecnologia marinhas. (ESTRUTURA DE MISSÃO PARA OS ASSUNTOS DO MAR /EMAM, 2012).

Em 1960, também em Genebra, realizou-se a 2.ª Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Oitenta e oito Estados participaram desse evento. (MELLO, 2002). Essa conferência não obteve avanço significativo, permanecendo ainda a necessidade de regulação quanto à largura do Mar Territorial, delimitação de zonas de pesca, entre outros assuntos de ordem internacional. (FERREIRA, L.; FERREIRA, N., 2008).

Na época, a comunidade internacional enfrentava grandes transformações em suas sociedades, como o surgimento de novos Estados, crescimento populacional no mundo, significativos avanços na área científica e tecnológica. Essas mudanças repercutiram também nos oceanos. Anteriormente considerado como meio para transporte e comunicação entre as nações, além de espaço para operações militares e atividades de pesca artesanal, os oceanos passaram por radicais transformações quanto a sua utilidade e finalidade, instigando, assim, a cobiça econômica por parte das nações. O homem passa a vislumbrar os oceanos como espaços geradores de imensas riquezas. (FERREIRA, L.; FERREIRA, N., 2008).

A célere evolução da ciência e da tecnologia propiciou o desenvolvimento da pesca em grande escala e o aprofundamento do conhecimento geológico sobre o leito marinho que, por sua vez, revelou seu grande potencial em recursos minerais, levando, deste modo, à abertura de nova fronteira de exploração nos mares.

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As crescentes discussões sobre as formas de apropriação, utilização e a exploração dos recursos marinhos resultaram na convocação da 3.ª Conferência sobre o Direito do Mar promovida pelas Nações Unidas, que iniciou em 1973, com sessões em Nova York, Caracas e Genebra, e foi concluída em 1982, com a assinatura de uma convenção – a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), firmada em Montego Bay, na Jamaica, por 117 membros. (MELLO, 2002).

Mello (2002, p. 1138) esclarece que no desenrolar da 3.ª Conferência buscou-se o conbuscou-senso quanto às questões relativas ao direito do mar, porque os paíbuscou-ses ricos representavam a minoria e os países pobres compreenderam que não seria conveniente não aceitar uma convenção que não estivesse de acordo com aqueles. A Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar, também conhecida como Convenção de Montego Bay, tem por principal objetivo estabelecer normas jurídicas para os mares e oceanos com a intenção de facilitar as comunicações internacionais, promover o uso pacífico dos mares e oceanos, utilizar de forma equitativa e eficiente os seus recursos, conservar os recursos vivos, proteger e preservar o meio ambiente marinho. (CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DIREITO DO MAR, 1982).

A codificação do direito do mar tem ainda o propósito de contribuir para a manutenção e o fortalecimento da paz, da segurança, da cooperação e das relações de amizade entre todas as nações, de acordo com os princípios de justiça e igualdade de direitos, e promover o progresso econômico e social em benefício de toda a humanidade. (CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DIREITO DO MAR, 1982).

A Convenção de 1982 define de modo detalhado a regulamentação dos espaços oceânicos, dos limites da jurisdição nacional, do acesso aos mares, da navegação, da proteção e preservação do ambiente marinho, da exploração e conservação dos recursos biológicos, da investigação científica marinha, da exploração dos recursos minerais dos fundos oceânicos e de outros recursos não biológicos, além da solução de controvérsias. (CENTRO DE GESTÃO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS, 2007, p. 41).

Segundo Martins (2013, p. 11) “a Convenção garantiu ao direito do mar uma característica universal e contribuiu para a sistematização dos direitos e deveres dos países signatários no espaço marítimo.”

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Ferreira, L. e Ferreira, N. (2008) mencionam que a CNUDM representou uma verdadeira construção da codificação do direito do mar, passando as normas escritas a substituírem as normas costumeiras que, “durante muito tempo, no direito do mar, foram unicamente costumeiras.” (REZEK, 2011, p. 349).

O texto da Convenção de 1982 compõe-se de 320 artigos, distribuídos em 17 partes e nove anexos (BARROS, 2007, p. 176). Cabe destacar que:

O Brasil, que ratificou a convenção em dezembro de 1988, tratou de ajustar seu direito interno aos preceitos da convenção, antes mesmo da sua entrada em vigor – e, pois, antes de encontrar-se obrigado no plano internacional. A Lei n. 8.617, de 4 de janeiro de 1993, reduz a doze milhas a largura de nosso mar territorial e adota o conceito de zona econômica exclusiva para as cento e oitenta milhas adjacentes. (REZEK, 2011, p. 350).

Depois de quase nove anos de negociação, a referida Convenção foi aprovada por 130 votos, 4 contra (Estados Unidos da América, Israel, Turquia e Venezuela) e 17 abstenções, e entrou em vigor no dia 16 de novembro de 1994, “um ano após a reunião do quorum de sessenta Estados ratificantes ou aderentes.” (JO, 2004, p. 516; REZEK, 2011, p. 350).

Convém destacar que, até a efetivação da assinatura da Convenção de Montego Bay, ocorreram nove sessões entre os anos de 1974 e 1982, onde se buscava um consenso entre os Estados em relação a um sistema para a solução de controvérsias no mar. (SÓRIA, 2004). Segundo Rangel (1992, p. 366):

As controvérsias surgem e se ampliam à medida que avultam os usos do mar, a quantidade de navios, o impacto do processo tecnológico, e à medida também que cresce o número dos componentes da comunidade internacional.

A Convenção consagra na parte XV a temática da "Solução de Controvérsias", sendo que dos seus nove anexos, quatro deles (Anexos V, VI, VII e VIII) dizem respeito respectivamente à conciliação, ao Estatuto do Tribunal Internacional do Direito do Mar1, à arbitragem e, finalmente à arbitragem especial. (RANGEL, 1992, p. 375).

1

O Tribunal Internacional do Direito do Mar, atualmente sediado em Hamburgo, Alemanha, ou International Tribunal for the Law of the Sea, conforme sua página eletrônica em 2013 (http://www.itlos.org), é um órgão judicial independente estabelecido pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, para julgar os litígios emergentes da interpretação e aplicação da Convenção. (Tradução livre)

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Rangel (1992, p. 383) assevera que o sistema de solução de controvérsias representa um estágio avançado no desejo de, por meios pacíficos, fazer cessar litígios envolvendo Estados e demais protagonistas da vida internacional. O reconhecimento do sistema de solução de controvérsias significa que ele não pode ser desvinculado de demais questões regulamentadas por normas que definem os direitos e deveres contidos na convenção.

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar marca o início de uma etapa totalmente diferente no âmbito do Direito do Mar, tanto pelos conceitos ratificados quanto pelo estabelecimento de uma nova ordem na utilização e na apropriação dos espaços marítimos. De forma concisa, ela definiu a divisão dos espaços marítimos, cobrindo praticamente todas as áreas oceânicas, e, como consequência, nos dias atuais, mesmo os países não signatários adotam e respeitam os conceitos relacionados com as definições dos espaços marítimos e ao meio ambiente. (MARINHA DO BRASIL, 2000). Em outras palavras, a partir da vigência da Convenção de 1982, vislumbrou-se uma nova realidade, a exploração dos mares, especificamente os fundos marinhos, que não mais ficariam restritos ao controle de um pequeno grupo de Estados, mas sim se estende a toda humanidade. (SÓRIA, 2004).

Os espaços marítimos definidos na Convenção de Montego Bay (Figura 1) são conhecidos nos dias atuais como: águas interiores, mar territorial, zona contígua, zona econômica exclusiva, plataforma continental, alto mar, águas arquipelágicas, zona internacional dos fundos dos mares, casos especiais: estreitos, canais e rios; que fossem iguais em todo mundo ou pelo menos mais próximos.

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FIGURA 1 – ESQUEMA SIMPLIFICADO DOS ESPAÇOS MARÍTIMOS

FONTE: <http://www.abrapat.org.br/esp_mar_2.html>

1.1.1 Águas interiores

No âmbito do espaço da soberania de todo Estado existem águas interiores estranhas ao direito do mar, e por isso quase não são mencionadas na Convenção de 1982. As águas interiores consideradas na Convenção são as águas de mar aberto: fazem parte da grande extensão de água salgada em comunicação livre na superfície da Terra. O regime jurídico das águas interiores é determinado pelo Estado costeiro que exerce soberania ilimitada sobre elas. O acesso aos portos por navios estrangeiros não é livre. Para atracar, os navios entram nas águas interiores, portanto, precisam de autorização da capitania dos portos. (REZEK, 2011, p. 351-352).

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1.1.2 Mar territorial

O mar territorial é definido pela Convenção de 1982, em seu artigo 2.º, como “uma zona de mar adjacente ao território e além das águas interiores e, no caso do Estado Arquipélago, das águas arquipelágicas, sobre as quais se estende a soberania do Estado Costeiro.” (CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR, 1982).

A Lei n.º 8.617, de 4 de janeiro de 1993 que dispõe sobre o mar territorial, a zona contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma continental brasileiros, e dá outras providências, em seu artigo 2.º determina: “A soberania do Brasil estende-se ao mar territorial, ao espaço aéreo sobrejacente, bem como ao estende-seu leito e subsolo.” (BRASIL, 1993).

Rezek (2011, p. 353) esclarece que a soberania a que se refere a Convenção, “só não é absoluta” (...) porque sofre uma principal restrição que diz respeito ao direito de passagem inocente. Esse direito é reconhecido em favor de navios de qualquer bandeira que poderão atravessar as águas do Mar Territorial desde que realizem a passagem rapidamente e de maneira ininterrupta, seja em direção a qualquer porto localizado fora das águas interiores, seja para sair delas.

“A passagem é inocente desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança do Estado costeiro. A passagem deve efetuar-se de conformidade com a presente Convenção e demais normas de direito internacional.” (CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR, artigo 19).

Segundo Rezek (2011, p. 354) “A ideia da soberania do Estado costeiro no mar territorial relaciona-se, na origem, com o imperativo de defesa do território.” Por isso, no início do século XVIII adotava-se de forma generalizada, uma faixa de três milhas náuticas de largura (1 milha náutica equivale a 1852 metros), que foi determinada em função do alcance de um tiro de canhão à época.

“No século XX, e por volta da Segunda Guerra Mundial, alguns Estados estenderam – sempre por meio de atos unilaterais – a largura dessa área a quatro, seis, nove e mesmo doze milhas náuticas.” (REZEK, 2011, p. 354).

A partir de 1952, países da América Latina como o Chile, Equador e Peru decidiram estender seus mares territoriais até duzentas milhas (cerca de 370 quilômetros), reclamando-as, levando em conta as necessidades econômicas daqueles países. (REZEK, 2011, p. 355).

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O Brasil adotou o mar territorial de duzentas milhas por meio do Decreto-lei n.º 1.098, de 25 de março de 1970. Observe-se:

A concepção extensionista do mar territorial não se circunscreveu, de todo modo, na América Latina: A Guiné, na costa atlântica africana, vindicaria oitenta milhas, e a Islândia, república insular a noroeste da Europa, onde é acentuada a dependência de recursos marinhos, viria a estender a cinquenta milhas a largura de sua faixa de mar territorial – o que lhe custou um litígio com a Grã-Bretanha. (REZEK, 2011, p. 355).

O Decreto-lei n.º 1.098 tinha por objetivo proteger, também, interesses econômicos, a pesca, preservar o meio ambiente marinho e promover o controle das atividades estrangeiras de pesquisa científica em áreas próximas às costas brasileiras. (CARVALHO, 1999, p. 112).

Os esforços no sentido de instituir o mar territorial de duzentas milhas foram considerados positivos. A Convenção de 1982 determina que seja de doze milhas marítimas (aproximadamente 22 Km) a largura máxima da faixa de mar territorial de todo Estado costeiro, porém reconhece e assegura os direitos soberanos e a sua jurisdição em uma faixa marítima, e confirma as duzentas milhas denominando-a de zona econômica exclusiva. (CARVALHO, 1999, p. 123).

A forma de delimitar o mar territorial consiste em “medir a largura da faixa a partir da linha de base, isto é, da linha litorânea de maré baixa, alternada com a linha de reserva das águas interiores quando ocorrem baías ou portos.” (REZEK, 2011, p. 355).

Em outras palavras, Mello (2002, p. 1148) explica que a linha de base do mar territorial “é aquela a partir da qual se mede a largura do mar territorial em direção ao alto-mar. É a linha que separa o mar territorial das águas interiores.” Ainda segundo Mello (2002, p. 1148), salienta-se a importância da linha de base do mar territorial, porque quanto mais, mar afora, mais longe irá o mar territorial, bem como mais larga será a área das águas interiores. A linha de base normal é aquela ao longo da costa na mar. O Direito Internacional não define o que seja baixa-mar, contudo, a Convenção de 1982, em seu artigo 5.º, declara que é aquela indicada nas cartas marítimas de grande escala, reconhecidas oficialmente pelo Estado costeiro. Neste ponto, esclarece Rezek que:

As ilhas como Fernando de Noronha e Trindade devem dispor de faixa própria, em igual extensão, o que determina a conjugação de suas águas

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territoriais com as do continente, quando dele estiveram próximas. Ilhas artificiais e plataformas não têm mar territorial próprio. Também não o têm os baixios a descoberto (vale dizer, as ilhas que submergem na maré alta), a menos que se encontrem, no todo ou em parte, dentro da faixa de águas territoriais do continente ou de uma ilha autêntica: neste caso a linha de base deverá contorná-los. (REZEK, 2011, p. 355-356).

O princípio da equidistância2 confirmado na Convenção de 1982 é utilizado para delimitar o mar territorial no caso dos Estados costeiros adjacentes ou que se encontrem situados frente a frente, salvo se tenham deliberado com o consentimento de todos, a adoção de outro princípio.

1.1.3 Zona Contígua

O Estado costeiro, segundo a Convenção de 1982, pode estabelecer a zona contígua como medida de proteção do seu território, que não se estenderá além de 24 milhas marítimas (44Km) contadas a partir da mesma linha de base do mar territorial, com o propósito de evitar ou reprimir as infrações às suas leis e regulamentos alfandegários, fiscais, de imigração, saúde ou de outra natureza no seu território ou em suas águas. O estatuto jurídico da zona contígua não é o do mar territorial. No mar territorial, o Estado costeiro possui competência jurisdicional total, já na zona contígua, exerce apenas competência jurisdicional fragmentária e especializada. Atualmente essa faixa se confunde com as primeiras milhas da zona econômica exclusiva. (REZEK, 2011, p. 357).

Para os países que se preocupam com a captação dos recursos fiscais e com a segurança, ainda existe a necessidade da zona contígua. (JO, 2004, p. 523).

1.1.4 Zona econômica exclusiva (ZEE)

O conceito de zona econômica exclusiva foi estabelecido pela Convenção de 1982, como uma forma de conciliação entre os interesses dos países em desenvolvimento, que defendem maiores larguras para o Mar Territorial, e as

2

A utilização do princípio da equidistância, segundo o artigo 15 da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, consiste em traçar uma linha mediana cujos pontos são equidistantes dos pontos mais próximos das linhas de base, a partir das quais se mede a largura do mar territorial de cada um desses Estados. Contudo, este artigo não se aplica quando, por motivo da existência de títulos históricos ou de outras circunstâncias especiais, for necessário delimitar o mar territorial dos dois Estados de forma diferente.

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pretensões dos países desenvolvidos em proteger a liberdade dos mares. (SÓRIA, 2002). Essa zona é definida como uma faixa adjacente ao mar territorial, que se sobrepõe à zona contígua. Sua largura máxima é de cento e oitenta e oito milhas marítimas contadas do limite exterior do mar territorial, com o que se perfazem duzentas milhas a partir da linha de base. (REZEK, 2011, p. 357).

O artigo 56 da Convenção de 1982 reconhece

os direitos de soberania do estado costeiro para fins de exploração dos recursos naturais, vivos ou não vivos, do mar, a exploração e o aproveitamento da zona para fins econômicos, como a produção de energia a partir da água, das correntes e dos ventos.

O Estado costeiro exerce ainda jurisdição sobre a zona no que tange à preservação do meio marinho, investigação científica e instalação de ilhas artificiais. (ACCIOLY; NASCIMENTO E SILVA; CASELLA, 2011, p. 617).

A Convenção garante a liberdade de navegação na zona econômica exclusiva, do sobrevôo e a de colocação de cabos ou dutos submarinos, além de outros usos compatíveis com os direitos do Estado costeiro. (REZEK, 2011, p. 358).

A ZEE tem importância estratégica, principalmente porque é nela que se encontram os principais recursos pesqueiros. A propósito, a pesca deve ser praticada dentro dos limites de captura exigidos para preservação das espécies, cuja reprodução esteja seriamente ameaçada, cabendo-lhe a autorização, mediante licença, para que outros países completem o nível de captura recomendada pelos organismos internacionais, estabelecendo as cotas, o período de tempo em que ocorrerá a pesca e as espécies que poderão ser capturadas. (MARINHA DO BRASIL, 2000).

O Estado deve levar em conta as necessidades das comunidades costeiras que vivem da pesca e as necessidades especiais dos países em desenvolvimento que buscam soluções no sentido de diminuir a escassez de alimentos e eliminar a pobreza. (ACCIOLY; NASCIMENTO E SILVA; CASELLA, 2011, p. 618).

1.1.5 Plataforma continental

As pesquisas científicas revelaram que os continentes não baixam de forma abrupta até as profundezas oceânicas. Os estudos evidenciaram que há uma

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espécie de planície submarina, ao longo das costas, que se inclina, gradualmente e de forma natural, até uma grande distância do litoral, formando o que se denominou a “plataforma continental”, ou subamarina. (BARROS, 2007, p. 129). Accioly; Nascimento e Silva e Casella (2011, p. 619) aludem que:

A denominação provém especialmente de que, segundo dizem os geólogos, os continentes, em muitas regiões, parecem assentar sobre uma espécie de base ou plataforma submersa, que se prolonga em declive suave até chegar a uma profundidade de perto de 200 metros ou, aproximadamente, 100 braças ou 600 pés, daí caindo, subitamente, para as profundezas abismais.

Apesar de a existência da plataforma continental ser conhecida há anos, geograficamente, o direito internacional não se ocupava dela, visto que ainda não havia avanço tecnológico necessário para que sua exploração pudesse ser cogitada. Com o desenvolvimento de novas tecnologias, vai se tornando viável a exploração pelos estados costeiros da plataforma continental, área rica em recursos naturais passíveis de aproveitamento pelo homem, tanto os do leito do mar quanto os de seu subsolo. (ACCIOLY; NASCIMENTO E SILVA; CASELLA, 2011, p. 619). Deste modo, a concepção de plataforma continental foi introduzida no Direito Internacional Privado devido a fatores exclusivamente de natureza econômica, visto que em suas águas encontram-se incontáveis recursos. (MELLO, 2002, p. 1178).

A Plataforma Continental de um Estado costeiro, de acordo com o art. 76 da Convenção de 1982,

compreende o leito e o subsolo das zonas marinhas que se estendem além do seu mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural de seu território terrestre, até o bordo exterior da margem ou até a distância de duzentas milhas marítimas das linhas de base, a partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja essa distância. (CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR, 1982, artigo 76).

Quando a plataforma continental geológica se estende além das 200 milhas marítimas, a Convenção recomenda certos critérios para a determinação dos limites externos, a saber: 350 milhas marítimas (648Km) a partir das linhas de base, ou 100 milhas marítimas de distância a partir da isóbata3 de 2.500 metros de profundidade. Nesses casos, a plataforma passa a ser denominada “plataforma continental

3

Isóbata, segundo o Dicionário Aurélio, é a linha que nas cartas hidrográficas, liga pontos de igual profundidade.

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jurídica” (CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR, 1982, artigo 76). O Estado pode optar pelo que mais lhe convier. Isto significa que a Plataforma Continental poderá, avançar além de 350 milhas marítimas. (MARINHA DO BRASIL, 2000).

A Convenção reconhece direitos de soberania do Estado costeiro para efeitos de exploração e aproveitamento dos recursos marinhos existentes na plataforma continental. (CENTRO DE GESTÃO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS, 2007). Contudo, essa soberania não é plena, uma vez que não inclui as águas marinhas e o espaço aéreo sobrejacente, restringindo-se aos recursos minerais e a outros recursos não vivos do leito e do subsolo, além dos organismos vivos pertencentes a espécies sedentárias, isto é, àquelas que no período de captura estão imóveis no leito do mar ou no seu subsolo, ou que só podem mover-se em constante contato físico com esse leito ou subsolo. (BRASIL, 1993).

“De acordo com os direitos de soberania, se o Estado costeiro não explorar e aproveitar os recursos minerais da plataforma continental, ninguém mais poderá fazê-lo sem o seu expresso consentimento.” (CENTRO DE GESTÃO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS, 2007, p. 44).

Apesar da exclusividade sobre esses recursos, as atividades na plataforma continental, bem como na ZEE, devem ser realizadas conforme a política ambiental da Convenção voltada para a proteção e preservação do ambiente marinho. O Estado deve adotar leis e regulamentações não menos efetivas do que as regras internacionais de práticas e procedimentos recomendados para prevenir, reduzir e controlar a poluição das atividades de exploração e aproveitamento dos recursos marinhos, e também de instalações, estruturas e ilhas artificiais sob sua jurisdição (CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR, 1982, artigo 79).

A Convenção não definiu os termos da investigação científica marinha, porém ela especifica que sua realização na ZEE e na plataforma continental deve ser conduzida mediante o consentimento do Estado costeiro. Deste modo, o Estado costeiro pode permitir projetos científicos marinhos de outros Estados ou de competência de organizações internacionais, desde que estejam relacionados a fins pacíficos e voltados ao avanço do conhecimento científico sobre ambientes marinhos de forma a trazer benefícios para toda a humanidade. O Estado costeiro deve estabelecer regras e procedimentos que assegurem que esse consentimento

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não seja retardada ou negada sem motivo. (CENTRO DE GESTÃO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS, 2007, p. 44).

O Estado costeiro pode, segundo seu próprio discernimento, negar esse consentimento se o projeto:

(a) Tiver uma influência direta na exploração e aproveitamento dos recursos naturais, vivos ou não vivos; (b) implicar perfurações na plataforma continental, a utilização de explosivos ou a introdução de substâncias nocivas ao meio marinho; (c) implicar a construção, a operação ou o uso de ilhas artificiais, instalações e estruturas. (CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR, 1982, artigo 246).

A Parte VI da Convenção (artigo 76 a 85) deixa claro que o Estado costeiro exerce direitos de soberania sobre a exploração e o aproveitamento dos recursos naturais em sua plataforma continental e que nela, ninguém pode executar tais atividades sem seu expresso consentimento. Já a Parte XIII da Convenção (artigo 238 a 265) define que, além dos limites da zona econômica exclusiva da plataforma continental jurídica, o Estado costeiro não poderá exercer o poder discricionário de recusar consentimento para projetos direcionados à pesquisa que influenciem a exploração e o aproveitamento dos recursos marinhos. Isso não se aplica àquelas áreas nas quais o Estado costeiro esteja desenvolvendo ações destinadas ao aproveitamento e a exploração dos recursos naturais. (CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR, 1982). Nesse aspecto, é relevante definir os principais recursos e áreas de interesse nacional, viabilizando o exercício da soberania do país sobre eles.

1.1.6 Alto mar

O alto mar compreende todos os espaços marinhos não incluídos na zona econômica exclusiva, no mar territorial ou nas águas interiores de um Estado, nem as águas de um Estado arquipélago. O alto mar não inclui o leito do mar tampouco o seu subsolo. O leito e o subsolo formam um sistema legal separado chamado área. (JO, 2004, p. 528). Em outras palavras, pode-se dizer que o alto mar abrange todas as águas situadas além dos limites das águas territoriais.

O artigo 87 da Convenção de 1982, sobre a liberdade do alto mar dispõe: “O alto mar está aberto a todos os Estados, quer costeiros quer sem litoral. A liberdade

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do alto mar é exercida nas condições estabelecidas na presente Convenção e nas demais normas de direito internacional.”

A liberdade do alto mar diz respeito à navegação, ao sobrevoo por aviões de qualquer natureza, à colocação de cabos e dutos submarinos, à construção de ilhas artificiais, à pesca e à investigação científica. (REZEK, 2011, p. 361).

O alto mar deve ser utilizado para fins pacíficos (art. 88 da Convenção de 1982) e no exercício de suas liberdades cada Estado se obriga a considerar os interesses dos demais. Todos os Estados devem colaborar entre si na conservação dos recursos vivos do alto mar. (REZEK, 2011, p. 361-362).

Conforme o artigo 89 da Convenção “Nenhum Estado pode legitimamente pretender submeter qualquer parte do alto mar à sua soberania.”

1.1.7 Fundos marinhos (a Área)

A Parte XI da Convenção de 1982 dá o nome de “Área” ao leito do mar na região dos fundos marinhos, e ao respectivo subsolo. A Área situa-se além dos limites da jurisdição nacional, ou seja, das diversas plataformas continentais. A Área corresponde às águas do alto mar e ao respectivo espaço aéreo. Seus recursos compreendem todos os minerais sólidos, líquidos ou gasosos, incluindo os nódulos polimetálicos que são, basicamente, concentrações de óxidos de ferro e manganês, com concentrações de outros elementos metálicos, como o níquel, cobre e cobalto. (MARINHA DO BRASIL, 2000).

Uma das razões que criaram a Convenção de 1982 foi a expectativa gerada pela exploração dos recursos naturais na região dos fundos marinhos em um futuro próximo. Os países em desenvolvimento se preocuparam muito com os possíveis benefícios que seriam privilégios exclusivos dos países industrializados. A Parte XI da Convenção tem por objetivo garantir o compartilhamento dos benefícios provenientes da atividade comercial nos fundos marinhos para todos os países que integram a ONU. (JO, 2004, p. 531). O princípio que rege a Área e seus recursos é o princípio do Patrimônio Comum da Humanidade (Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, artigo 136), ou seja, sua exploração pressupõe um direito igual de acesso às riquezas da Área, por todos os Estados. A concretização desse princípio confere aos Estados a possibilidade de explorar os recursos dos fundos

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marinhos pelo sistema internacional, o que assegura a participação no compartilhamento de tecnologia e de benefícios. (JO, 2004, p. 531).

A Convenção cria uma instituição internacional (Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos), a ser integrada pelos Estados-partes, destinada a organizar, controlar e administrar as atividades na Área. (CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR, artigo 157). Segundo o Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (2007, p. 46)

A Autoridade, com sede em Kingston, na Jamaica é constituída por uma Assembleia, um Conselho, uma Comissão Jurídica e Técnica, um Comitê de Finanças, sua Empresa e seu Secretariado. O Brasil é membro do Conselho desde a sua formação, em 1996.

Cabe ressaltar que a Convenção regulamenta minuciosamente as questões concernentes à Área e Autoridade na Parte XI, pelos artigos 133 a 183. (ACCIOLY; NASCIMENTO E SILVA; CASELLA, 2011, p. 674). O Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (2007, p. 88) expõe:

Algumas das disposições da Parte XI da Convenção estabeleciam que países e empresas que se lançassem na explotação de recursos minerais marinhos na Área deveriam transferir tecnologia e financiar operações de explotação por parte da Autoridade, através de sua Empresa, em nome dos países em desenvolvimento. Diante disso, dezessete países, na maioria desenvolvidos, abstiveram-se de assinar a Convenção, impedindo, dessa forma, a sua universalização. Segundo eles, tais disposições eram economicamente inaplicáveis e penalizavam consideravelmente as empresas que poderiam vir a explotar os recursos minerais da Área. Um acordo de implementação das disposições sobre a Área foi então negociado entre os países em desenvolvimento e os desenvolvidos. Esse acordo tinha como objetivo inicial assegurar que a Autoridade fosse estabelecida sob as bases de um custo mínimo de funcionamento, visto que a explotação dos recursos minerais da Área não se tornaria realidade nos próximos quinze ou vinte anos. Tais negociações modificaram várias disposições sobre a Área contidas na Parte XI da Convenção, consideradas inaceitáveis pelos países desenvolvidos. As competências da Autoridade foram reduzidas, ao mesmo tempo em que se fortaleceu o papel dos países desenvolvidos, que passaram a participar do Conselho da Autoridade, mesmo os que não haviam assinado a Convenção em Montego Bay. Em 1993, um ano antes de a Convenção entrar em vigor, a grande maioria dos países que detinham capitais e tecnologias para a exploração dos recursos da Área ainda permanecia fora da Convenção.

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Os países em desenvolvimento consideram a Parte XI da Convenção uma vitória no contexto da Nova Ordem Econômica Internacional4, desde que a exploração da Área garanta o benefício financeiro deles. Já os países industrializados e as empresas transnacionais não ficaram satisfeitos com a Parte XI. (JO, 2004, p. 532). Isto porque os países detentores de recursos econômicos e tecnológicos defendem seus interesses de apropriação dos recursos dos fundos marinhos e os países em desenvolvimento defendem esses recursos como patrimônio comum da humanidade.

O conceito de “patrimônio comum da humanidade” com justiça distributiva, sobre o qual foram estruturadas as ações realizadas por meio da Autoridade e de seus órgãos, ficou esvaziado com as alterações implementadas durante as negociações. Isto porque, desde então, a Autoridade e seus órgãos passaram a obedecer a critérios de rentabilidade, visando à minimização dos custos para os Estados Partes. (CENTRO DE GESTÃO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS, 2007, p. 88).

Segundo Accioly, Nascimento e Silva e Casella (2011, p. 674), com o objetivo de contornar o impasse gerado diante da não aceitação da Convenção, ou, mais precisamente, da sua Parte XI, pela grande maioria dos países industrializados, abriram-se novas negociações por intermédio da Secretaria Geral das Nações Unidas, no sentido de buscar uma solução que mantivesse intocada a própria Convensão, mas que pudesse atender às dificuldades dos países industrializados no tocante à referida Parte XI.

Os debates que envolveram a elaboração da Convenção, desde o início até a sua entrada em vigor, implicaram inúmeros interesses, e as questões pertinentes à Área originaram as maiores controvérsias durante o processo de negociação. Assim, estabeleceu-se uma interlocução com representantes da ONU sobre os problemas que encerravam as atividades na Área, e em 29/07/1994, chegou-se a um consenso: a adoção de um Acordo para a Implementação da Parte XI, fato que permitiu a entrada em vigor da Convenção. (CENTRO DE GESTÃO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS, 2007, p. 46).

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A Nova Ordem Econômica Internacional, segundo Ana Maria Guerra Martins (1989), refere-se à ideia pela qual as riquezas naturais são patrimônio de todos e, como tal deve ser efetuada no interesse de toda a Comunidade Internacional, sobretudo, no interesse dos mais desfavorecidos e não apenas em proveito de alguns.

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O Acordo passou a vigorar em caráter provisório junto com a Convenção, e deve ser interpretado e aplicado, como um único instrumento, em conjunto com a Parte XI. Em caso de incompatibilidade entre tais instrumentos, prevalece o Acordo (CENTRO DE GESTÃO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS, 2007, p. 88).

Segundo a Casa Civil da Presidência da República (2008)

O Acordo reconhece a importante contribuição da Convenção das Nações Unidas para a manutenção da paz, a justiça e o progresso para todos os povos do mundo; reafirma que o leito do mar, os fundos marinhos, e o seu subsolo além dos limites da jurisdição nacional, bem como os recursos da Área, são patrimônio comum da humanidade; e manifesta a consciência dos países que aderiram ao Acordo sobre a importância da Convenção para a proteção e a preservação do meio ambiente marinho e da crescente preocupação com o meio ambiente global.

“Este Acordo entrou em pleno funcionamento em 1996, constituindo-se parte vinculante da Convenção.” (MELO, 2012, p. 47). Em relação às modificações realizadas na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, Rangel (2004

apud MELO, 2012, p. 47) descreve que:

Não sofre modificações no tocante às duas primeiras secções da Parte XI, sobre disposições gerais e princípios que regem a Área (seções 1 e 2), com exceção do artigo 144 [transferência de tecnologia] que recebeu emenda aditiva. Emendas se introduzem a seguir, a partir do artigo 150, que se refere às políticas gerais relativas às atividades da Área. Essas modificações da Parte XI acabaram por determinar outras, no Anexo III e IV, concernentes a condições básicas de prospecção, exploração e aproveitamento da Área e ao Estatuto da Empresa [...]

Mesmo depois da reformulação da Parte XI da Convenção, ainda perdurou a oposição dos Estados Unidos em aceitar suas provisões. O grande objetivo desta reorganização era somente a ratificação da Convenção pelos países industrializados, cuja adesão não aconteceu da forma desejada. O principal idealizador deste Acordo, que foi os Estados Unidos da América, não aderiu à Convenção em razão do regime jurídico da Parte XI, ou seja, em função do que foi estabelecido na área dos fundos marinhos. (MELO, 2012, p. 48).

Com a aprovação do Acordo, muita expectativa foi criada para a ratificação da Convenção pelos Estados Unidos. Por isso, lamenta-se que depois de árduos esforços dispensados na elaboração deste documento, e também do alto preço pago pelos países em desenvolvimento para o funcionamento desse Acordo, ainda

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existam países, de relevante importância na econômica e política internacional, que resistem a assinar a Convenção. (MELO, 2012, p. 48-49).

Cabe lembrar que no Brasil, o Decreto n.º 6.440, de 23 de abril de 2008, publicado no dia 24 de abril de 2008 no Diário Oficial da União, promulgou o Acordo Relativo à Implementação da Parte XI da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Este Acordo fora aprovado pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo n.º 270, de 4 de outubro de 2007, e o Governo brasileiro depositara o instrumento de ratificação do Protocolo em 25 de outubro de 2007. (CASA CIVIL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2008).

Ressalte-se que os Estados Unidos assinaram a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, porém, ainda não a ratificaram em seu Senado.

A propósito, no dia 8 de junho de 2012, ao celebrar o Dia Mundial dos Oceanos, o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon enfatizou o trigésimo aniversário da abertura para as primeiras assinaturas da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Na ocasião, Ban Ki-moon sublinhou a importância da Convenção para a comunidade internacional, lembrando que esse tratado é um excelente exemplo de cooperação internacional, uma vez que por meio dele se estabelecem as regras e padrões do uso dos mares e oceanos, visando à proteção e preservação de seus imensos recursos. Na mensagem, Ban Ki-moon também fez um apelo aos Estados-membros que ainda não ratificaram a Convenção, que o fizessem no decorrer do trigésimo aniversário da Convenção. (ONU BRASIL, 2012).

Em 10 de dezembro de 2012, Ban Ki-moon, em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, pediu novamente os esforços mundiais para que todos os 193 Estados-membros se comprometam com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, essa importante ferramenta para o desenvolvimento sustentável. Segundo ele, o tratado está próximo de alcançar a “meta da universalidade”, uma vez que 163 Estados e a União Europeia fazem parte do acordo. (ONU BRASIL, 2012).

1.1.8 Estreitos e Canais

A Convenção de 1982 não define de modo literal o que são os estreitos. Contudo, em geografia, eles constituem uma passagem natural que liga dois mares diferentes. Rezek (2011, p. 363-364) descreve:

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O estreito típico é o corredor cujas águas integram o mar territorial de um ou mais Estados, e que assegura a comunicação entre espaços de alto mar ou zona econômica exclusiva, interessando à navegação internacional. Sem haver trazido maiores inovações, a Convenção de 1982 garante nos estreitos o direito de passagem em trânsito a navios e aeronaves, civis ou militares, de qualquer bandeira.

Os canais também são corredores que tornam possível o trânsito entre dois espaços marítimos. Os canais são construídos pela engenharia humana. Por não ser uma obra da natureza, o regime jurídico de todo canal que tenha interesse para a navegação internacional, em princípio, há de ser estabelecido pela soberania do Estado que assumiu a construção do mesmo em seu próprio território. (REZEK, 2011, p. 364).

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2 O USO RACIONAL E SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS NATURAIS DOS ESPAÇOS MARÍTIMOS BRASILEIROS

2.1 A AMAZÔNIA AZUL

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) estabelece que, no Mar Territorial, todos os bens econômicos existentes na massa líquida, sobre o leito do mar e no subsolo marinho, são propriedade exclusiva do país ribeirinho. Estabelece ainda, que na Zona Econômica Exclusiva (ZEE), esses bens podem ser explorados com a mesma exclusividade. E mais: quando a Plataforma Continental (PC) ultrapassa essa distância, é possível estender a propriedade econômica do Estado, de acordo com a aplicação de critérios específicos, a até 350 milhas náuticas. No Brasil, essas áreas somadas, representam uma imensidão de aproximadamente 4,5 milhões de quilômetros quadrados, o que equivale à metade da extensão do território terrestre do país. A essa imensa área oceânica, dá-se o nome de Amazônia Azul. (CARVALHO, 2005, p. 18).

O limite exterior da Plataforma Continental não deve exceder 350 milhas. (CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR, ARTIGO 76 - 6). Diante disto, ficou convencionado que caberia aos Estados traçarem o limite exterior da sua Plataforma Continental quando esta se estendesse além das 200 milhas marítimas pertinentes à Zona Econômica Exclusiva (CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR, ARTIGO 76 - 7). As informações sobre os limites da Plataforma Continental, além das 200 milhas marítimas (ZEE), devem submeter-se pelo Estado costeiro à Comissão de Limites da Plataforma Continental. (CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR, ARTIGO 76 - 8). Contudo, a Convenção (Artigo 76 - 9) estabelece que o Estado costeiro deve depositar junto ao Secretário Geral das Nações Unidas mapas e informações que descrevam permanentemente os limites exteriores da sua plataforma continental e ao Secretário Geral compete tornar público esses documentos. A atuação da Comissão está prevista no Anexo II da Convenção, sendo que seu artigo 4.º assim dispõe:

Quando um Estado costeiro tiver intenção de estabelecer, de conformidade com o artigo 76, o limite exterior da sua plataforma continental além de 200

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milhas marítimas, apresentará à Comissão, logo que possível, mas em qualquer caso dentro dos 10 anos seguintes à entrada em vigor da presente Convenção para o referido Estado, as características de tal limite, juntamente com informações científicas e técnicas de apoio. O Estado costeiro comunicará ao mesmo tempo os nomes de quaisquer membros da Comissão que lhe tenham prestado assessoria científica e técnica. (CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR, ANEXO II, ARTIGO 4).

Com o intento de estabelecer o limite exterior da Plataforma Continental no seu enfoque jurídico, ou seja, definir a área marítima, além das 200 milhas, na qual o país exercerá direitos de soberania para a exploração e o aproveitamento dos recursos naturais do leito e subsolo marinho, o Brasil instituiu o Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC), por meio do Decreto n. 95.787/88, posteriormente atualizado pelo Decreto n. 98.145, de 15 de setembro de 1989. Sendo que a unidade responsável pelas ações do plano é a Marinha do Brasil, por meio da Secretária da Comissão de Limites da Plataforma Continental (SECIRM) e da Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN). (MARINHA DO BRASIL, 2011a).

De acordo com os sólidos estudos realizados pelo LEPLAC, verificou-se a necessidade de propor um novo limite para a Plataforma Continental, que seria de 350 milhas. Assim sendo, em 2004, o Governo brasileiro apresentou à Organização das Nações Unidas, uma proposta para estender a área marítima, além das 200 milhas da zona econômica exclusiva, conforme o artigo 76 da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. (MARTINS, 2010, p. 86). Segundo a Marinha do Brasil (2011a),

Os 960 mil km2 correspondentes à área total reivindicada além das duzentas milhas náuticas se distribuem ao longo da costa brasileira, principalmente nas regiões Norte (região do Cone do Amazonas e Cadeia Norte Brasileira), Sudeste (Região da Cadeia Vitória-Trindade e Platô de São Paulo) e Sul (região de Platô de Santa Catarina e Cone do Rio Grande) e equivalem à soma das áreas dos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nesses termos, a área oceânica sob jurisdição brasileira totalizará 4,4 milhões de km2 o que corresponderá, aproximadamente, à metade da área terrestre do nosso território, e é considerada a nossa Amazônia Azul.

Em abril de 2007, após concluir a análise de cunho técnico-científico sobre a solicitação brasileira, a Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) encaminhou suas recomendações ao Governo Brasileiro. Essas recomendações,

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não atenderam à reivindicação brasileira na sua totalidade, por isso, o Brasil não as aceitou. Assim, do total aproximado de 960 mil km2 de área pleiteada, além das duzentas milhas náuticas, a CLPC não concordou com cerca de 190 mil km2, distribuídos nas seguintes áreas da Plataforma Continental Brasileira: Cone do Amazonas, Cadeias Norte Brasileira e Vitória-Trindade e Margem Continental Sul. A área rejeitada pela CLPC corresponde, aproximadamente, a 4,2% da área da Amazônia Azul e a 19% da área da plataforma continental estendida. (MARINHA DO BRASIL, 2011a).

Segundo o relatório apresentado pelo Presidente da Comissão de Limites da Plataforma Continental, sobre os trabalhos desenvolvidos por essa Comissão e suas subcomissões, durante a trigésima sessão realizada em New York, entre 30 de julho e 24 de agosto de 2012, o Brasil havia encaminhado um comunicado em 11 de junho de 2012, afirmando que o resumo das recomendações propostas anteriormente pela CLPC sobre o pleito de extensão da Plataforma Continental brasileira, ainda se encontrava em análise. (COMMISSION ON THE LIMITS OF THE CONTINENTAL SHELF, 2012, p. 14). (Tradução livre)

Com os estudos realizados por meio da Diretoria de Hidrografia e Navegação, atualmente, fundamentados em novas tecnologias utilizadas para dar mais segurança à nova coleta de dados oceanográficos obtidos ao longo da margem continental brasileira, ou seja, do prolongamento da plataforma continental, espera-se que, em breve, o Brasil apreespera-sente uma nova proposta reivindicando a extensão da PC à Comissão de Limites da Plataforma Continental para que se possam estabelecer as bases no sentido de traçar a fronteira final do País, na Amazônia Azul.

Na imensidão do mar do brasileiro, o país possui diversos e importantes interesses de natureza econômica e estratégica, uma vez que cerca de 95% do comércio exterior do país é transportado por via marítima, movimentando mais de 40 portos brasileiros nas atividades de importação e exportação. (MARINHA, 2010).

A Zona Costeira do Brasil, considerada patrimônio nacional pela Constituição de 1988, abarca uma faixa de 8.968 km de extensão, incluindo um conjunto de ecossistemas costeiros sobre uma área de aproximadamente de 388 mil quilômetros quadrados. Quatrocentos municípios se encontram ao longo da costa brasileira, onde habitam 36,5 milhões de pessoas, implicando grande densidade populacional,

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