RESBCAL
REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
CIÊNCIA EM ANIMAIS DE LABORATÓRIO
Volume 4 - Número 1 - 2016
São Paulo - SP
Publicação Semestral
RESBCAL
São Paulo
v. 4
n. 1
p. 1-84
Jul. 2016
© 2012 – Sociedade Brasileira de Ciência em Animais
de Laboratório
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ISSN 2238-1589
CATALOGAÇÃO-NA-PUBLICAÇÃO
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Revista da Sociedade brasileira de Ciência em animais de laboratório
/
Sociedade
brasileira de Ciência em animais de laboratório
. – v. 3, n. 1 (2015) – . – São
Paulo :
SbCal,
2012-semestral
ISSN: 2238-1589
1.
animais de laboratório
. 2.
Ciência dos animais de laboratório
. I.
Sociedade
brasileira de Ciência em animais de laboratório
.
EDIT
ORIAL
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na área de ciência de animais de laboratório. Esse processo sempre foi
constituído pela divulgação de resultados, relatos e revisões por alunos, técnicos,
professores e pesquisadores visando a difusão para todos os profissionais
envolvidos na manipulação de animais de laboratório de poderem ter um acesso
contínuo, dinâmico e atualizado das relevantes informações obtidas por cada
equipe de cada instituição envolvida na ciência de animais de laboratório.
SUMÁRIO
15-21
22-31
32-43
45-81
ARTIGOS ORIGINAIS
EVALUATION OF THE APPLICABILITY OF DOPPLER VELOCIMETRY FOR
MONITORING ACUTE KIDNEY INJURY IN RAT
Regiane Marinho da Silva, Gui Mi Ko, José Eduardo Mourão Santos,
Mirian Aparecida Boim, Amanda Ikegami, Maria Helena Bellini
ASPECTOS MORFOLÓGICOS DO ÚTERO DE MACACO RHESUS (MACACA
MULATTA – ZIMMERMANN, 1780) EM FÊMEAS NULÍPARAS, PRIMÍPARAS E
PLURÍPARAS
Igo Vieira de Souza, Tatiana Kugelmeier, Márcia Andrade, Hildebrando Benedicto
ARTIGO DE REVISÃO
UTILIZAÇÃO DE MÉTODOS ALTERNATIVOS À EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL EM
PESQUISA
Andresa Gomes dos Santos, Lílian Cristina Pereira
O COMPORTAMENTO DO CAMUNDONGO SWISS WEBSTER EM BIOTÉRIO DE
EXPERIMENTAÇÃO: OBSERVAÇÕES E REFLEXÕES
Jerônimo Diego de Souza Campos, Kelly Cristina Demarque, Luanda Yanaan Hoppe,
Viviane Muniz da Silva Fragoso, Thais Veronez de Andrade Martins, Miguel Ângelo
Brück Gonçalves, Gabriel Melo de Oliveira
RESUMOS
ISSN 2238-1589
1 Laboratory of Animal Experimentation of the National Institute of Pharmacology and Molecular Biology (LEA INFAR), Federal University of São Paulo (UNIFESP), São Paulo, Brazil
2 Radiology Division, Federal University of São Carlos, São Paulo, Brazil
3 Nephrology Division, Federal University of São Paulo, São Paulo, Brazil; 4Biotechnology Department, IPEN-CNEN, 05508-220, São Paulo, Brazil.
Data Recebimento: 05/03/2016 Aceito para a Publicação: 04/04/2016 Autor para Correspondência: Maria Helena Bellini
E-mail: mhmarumo@terra.com.br
EVALUATION OF THE APPLICABILITY OF DOPPLER VELOCIMETRY
FOR MONITORING ACUTE KIDNEY INJURY IN RATS
Regiane Marinho da Silva
1, Gui Mi Ko
1, José Eduardo Mourão Santos
2, Mirian Aparecida Boim
3,
Amanda Ikegami
4, Maria Helena Bellini
3,4Animal models of renal disease have been used in the study of pathogenesis and
the-rapeutic protocols. In this study, doppler ultrasound was used to evaluate dysfunction
in the renal vasculature in acute kidney injury in an animal model. Eight male Wistar
rats received gentamicin (80 mg/kg) for 10 days. The blood urea and creatinine levels
were measured to assess renal function. All doppler ultrasound measurements were
performed on both kidneys and a colour map of the renal circulation was generated.
Renal function and Doppler ultrasound measurements were performed 10 days before
GM treatment and on the 5th and 10th days of the assay. Gentamicin treatment led
to increased serum creatinine and blood urea levels at 5 days and 10 days post initial
inoculation. A significant reduction in renal artery blood flow was observed after 5 days.
However, these levels remained unchanged until the 10th day, demonstrating a lack of
correlation with serum creatinine and blood urea levels. Therefore, the assessment of
flow blood velocity of renal arteries by doppler ultrasound is not useful for monitoring
acute kidney injury in rats.
Keywords:
Renal circulation, Ultrasonography Doppler, Disease models, Animal.
INTRODUCTION
Acute renal injury (AKI) is defined as an abrupt
reduction in kidney function and is associated with
a high mortality rate.1 Drugs are a common cause
of AKI. Gentamicin (GM) is an antibiotic widely
used to treat infections caused by Gram-negative
bacteria.2,3,4 However, it causes nephrotoxicity
as a major adverse reaction in up to 30% of
tre-ated patients. The pathogenesis of GM involves
multiple pathways, including oxidative stress,
inflammation, increased nitric oxide (NO) and
reduced renal blood flow.5
Biochemical measurements of blood or urine
along with clinical observations have been used to
diagnose AKI in human and animal models. Rats
are one of the experimental models used most
frequently to study pathogenesis and therapeutic
protocols for AKI. To establish an AKI model,
based on biochemical parameters, successive
blood samplings must be performed to assess the
renal injury.
The imaging techniques, such as magnetic
resonance, computerised tomography and nuclear
medicine imaging, are being increasingly used
both clinically and experimentally, contributing
to advances in understanding the
pathophysiolo-gy of many diseases. However, the use of these
techniques for the assessment of renal tissue
perfusion in small animals is complicated by
many issues, such as the degrees of spatial and
temporal resolution that are obtainable or by the
use of X-rays, radioisotopes or contrast agents
that are potentially nephrotoxic.6,7 Advances in
high frequency ultrasound imaging methods have
ARTIGO ORIGINAL
EVALUATION OF THE APPLICABILITY OF DOPPLER VELOCIMETRY FOR MONITORING ACUTE KIDNEY INJURY IN RATS
opened up new opportunities for the analysis of
blood flow in vivo.
The laser-Doppler flowmeter (LDF) reads the
frequency of the oscillation produced by the
Do-ppler frequency shift of the red blood cells and is
a non-invasive and accurate method to measure
microcirculatory blood flow in tissue.
The aim of this study was to evaluate the
ap-plicability of doppler ultrasound for monitoring
AKI in rats.
MATERIALS AND METHODS
Animals
Adult males Wistar Rats (Rattus
norvegicu-salbinus) weighing between 200-250 gwere
ob-tained fromthe animal house of the Laboratory of
Animal Experimentation of the National Institute
of Pharmacology and Molecular Biology (LEA
INFAR), Federal University of São Paulo
(UNI-FESP). All animals were cared for in accordance
with the standards of the institute under a protocol
approved by the Animal Experimentation Ethics
Committee (Number of Process: 5509151014).
Acute kidney injury model
Rats (n = 8) were treated with GM (Mantecorp
Indústria Química e Farmacêutica S.A., Rio de
Janeiro, Brazil) (80 mg / kg, i.p.; n = 8) for 10
consecutive days. At the end of the assay, the
rats were euthanized using 3 times the dose of
ketamine and xylazine required for anaesthesia by
intraperitoneal administration. The experimental
design is shown in Figure 1.
Blood collection
Blood samples for biochemical testing were
ob-tained by puncturing the tail vein under inhalation
anaesthesia with isoflurane (Cristália, Lindóia, São
Paulo, Brazil).Collections occurred10 days before
the start of induction and on days 5 and 10 after
inoculation with GM.
Briefly, blood was collected under ether
anaes-thesia and after immersion of the tail in warm
wa-ter (40ºC). It was then transferred to an Eppendorf
tube (1.5 ml) and centrifuged (2500 rpm, 10 min,
room temperature), and the serum was separated
and stored at - 20ºC until dosage.
Biochemical analyses
The serum creatinine and blood urea nitrogen
(BUN) were evaluated in the serum samples and
in the 24-hour urine using the Cobas Mira Plus
(Roche) with a Labtest kit (Labtest, Belo
Hori-zonte, Brazil).
Ultrasound examination
To obtain ultrasound images, the animals
were anaesthetised with isoflurane and
posi-Figure 1: Experimental design: Eight rats were used in the experiment. Blood collection and ultrasound
Regiane Marinho da Silva, Gui Mi Ko, José Eduardo Mourão Santos, Mirian Aparecida Boim, Amanda Ikegami, Maria Helena Bellini
tioned supine on a MousePad (THM100) with
integrated temperature sensor, heater and ECG
electrodes (Indus Instruments, Houston, TX).
The paws of the animals were placed in ECG
sensors allowing constant monitoring of the heart
rate and body temperature. The removal of hair
in the region of interest was performed with a
depilatory cream, and a gel (gel 100 ™ ECO
ECO-Med Pharmaceutical INC. Mississango,
Ontario, Canada) was used as a fluid coupling
between the animal’s skin and the translator in
real time. The tests were carried out in a Vevo
770 (VisualSonics, Toronto, ON, Canada) system
with a 40 MHz linear transducer, with a 6 mm
focal length and lateral and axial resolutions of
68.2 and 38.5 mM, respectively. B-mode
ima-ges in the axial and longitudinal planes of both
kidneys, with measurement of the longitudinal,
transverse and antero-posterior kidney diameters,
were obtained.
Colour Doppler ultrasonography
Doppler and spectral modes (Colour and
PW--mode) were used for US of the aorta and renal
arteries (RA), and the peak systolic velocity and
end diastolic velocity were measured. The
intra--renal arteries were evaluated by measuring the
resistive index, acceleration time and
accelera-tion index.
Statistical analyses
The results are presented as the means ± SE.
Single comparisons of mean values were
perfor-med using Student’s t test. Multiple comparisons
of the mean values were performed using one-way
ANOVA followed by the Bonferroni’s test using
GraphPad Prism version 4.0 for Windows
(Gra-phPad Software, San Diego, Calif., USA; http://
www.graphpad.com). P < 0.05 was considered
statistically significant.
RESULTS
Serum creatinine and blood urea levels
In this work, we studied an animal model of
nonlethal kidney injury. GM treatment led to
increased serum creatinine and blood urea levels
at 5 days and 10 days post initial inoculation
(Figure 2).
Figure 2: Biochemical parameters of renal function after GM injury (A) Serum creatinine (pCr) and (B) blood
EVALUATION OF THE APPLICABILITY OF DOPPLER VELOCIMETRY FOR MONITORING ACUTE KIDNEY INJURY IN RATS
Colour Doppler analysis
Doppler velocimetry analysis of RA was
per-formed (Figure 3). Blood velocity values were
assessed before and after GM inoculation (day
-10). On the 5th day of GM treatment, RA
velo-cimetric indices decreased significantly compared
to the pre-assay value (day -10). After 10 days
of treatment, the blood velocity of the RA levels
remained unchanged (Figure 4).
DISCUSSION
Animal testing in nephrology was and
con-tinues to be responsible for advancing the
un-derstanding of the pathophysiology of acute and
chronic kidney injury. To validate the animal
models, repeated blood samples are required to
assess renal function by measuring serum
crea-tinine and blood urea nitrogen. Blood collection
is an additional stress for the animals and also
has an impact on the outcome of the research
data.8 Doppler US is a non-invasive diagnostic
method that is used widely in human and
vete-rinary medicine.9 The present study, involving
a nephrotoxic animal model of AKI, was used
to evaluate the potential utility of Doppler
ve-locimetry in rats.
Changes in the serum parameters indicated
that treatment with GM caused a decrease in
renal function after 5days, which was even
more pronounced at the end of the treatment at
10 days.
Doppler velocimetry analysis was used as a
tool to assess renal circulation. Significant
re-duction in renal artery blood flow was verified
after 5 days. This decrease was inversely
pro-Figure 4: Doppler velocimetry findings of the
RA before and after GM treatment. Significant
decrease of RA blood velocity was observed
after 5 and 10 days of treatment (***p<0.01 and
*p<0.05, respectively) (ANOVA One-Way, with
Tukey test).
Figure 3: Colour Doppler map of the right renal artery showing the blood drawn with a velocity profile of the
Regiane Marinho da Silva, Gui Mi Ko, José Eduardo Mourão Santos, Mirian Aparecida Boim, Amanda Ikegami, Maria Helena Bellini
portional to the increase of blood urea and serum
creatinine, which are parameters typically used
to diagnose AKI.10 The decrease of RA blood
flow can be explained by renal vasoconstriction,
which is a known consequence of
aminoglyco-side nephrotoxicity.10 After 10days of GM
treatment, the blood urea and serum creatinine
levels were elevated compared with those
pre-sented at day 5, whereas renal artery blood flow
remained unchanged. These data indicate that
decreased renal blood flow may be the first
sig-nal of dysfunction, as reported by Carvalho and
Chammas.9 Additionally; these data indicated
that intrarenal vascular hemodynamic alteration
didn´t contribute to the elevation of urea and
creatinine blood levels.
CONCLUSION
The results presented in this paper indicate that
Doppler velocimetry of renal arteries could be a
useful and non-invasive method for monitoring
acute kidney injury in animal models. However,
Doppler velocimetry is not useful for monitoring
acute kidney injury in in rats.
ACKNOWLEDGMENT
This study was supported by FAPESP (Process
number: 2010/52180-4 and CAPES
(337.567.208-02).
AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE DA DOPPLERVELOCIMETRIA
PARA O MONITORAMENTO DE LESÃO RENAL AGUDA
EM RATOS
Modelos animais têm sido utilizados tanto no estudo da patogênese quanto no
de-senvolvimento de protocolos terapêuticos de doenças renais. No presente trabalho, a
ultrassonografia com doppler foi usada para avaliar disfunções na vascularização renal
em um modelo animal de doença renal aguda. Oito ratos Wistar machos receberam
gentamicina (80 mg/kg) durante 10 dias. Os níveis de ureia e creatinina do sangue
foram medidos para avaliar a função renal. Todas as medições foram realizadas
em ambos os rins, gerando um mapa da circulação renal. As medições da função
renal e da ultrassonografia com doppler foram feitas 10 dias antes do tratamento
com gentamicina e no 5° e 10° dia do ensaio. O tratamento levou ao aumento de
creatinina sérica e ureia no sangue no 5° e 10° dia após o início da inoculação da
gentamicina. Uma redução significativa no fluxo sanguíneo da artéria renal foi
ob-servada após 5 dias. No entanto, estes níveis permaneceram inalterados até o 10°
dia, o que demonstra uma falta de correlação com os níveis de creatinina sérica e
ureia. Portanto, a avaliação da velocidade do fluxo sanguíneo das artérias renais, por
ultrassonografia com doppler não é útil para monitorar lesão renal aguda em ratos.
Palavras-chave:
Circulação renal, Ultrassonografia Doppler, Modelos animais.
EVALUATION OF THE APPLICABILITY OF DOPPLER VELOCIMETRY FOR MONITORING ACUTE KIDNEY INJURY IN RATS
1. Basile DP, Anderson MD, Sutton
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Gentamicin-induced nephrotoxicity: Do we have
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3. Mingeot-Leclercq MP,
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4. Kadkhodaee M, Khastar H,
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nephrotoxicity in rat. Exp Physiol.
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ISSN 2238-1589
1. Coordenação de Pesquisa e Experimentação Animal – Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos/Fiocruz- Rio de Janeiro 2. Departamento de morfologia, Instituto
Biomédico – Universidade Federal Fluminense - Rio de Janeiro Data Recebimento: 01/04/2016 Aceito para a Publicação: 08/06/2016 Autor Para Correspondência: Igo Vieira de Souza E-mail: igo@fiocruz.br
ASPECTOS MORFOLÓGICOS DO ÚTERO DE MACACO RHESUS
(MACACA MULATTA – ZIMMERMANN, 1780) EM FÊMEAS
NULÍPARAS, PRIMÍPARAS E PLURÍPARAS
Igo Vieira de Souza¹ Tatiana Kugelmeier
1Márcia Andrade
1Hildebrando Benedicto²
A criação de primatas não humanos em cativeiro para fins de pesquisa científica
requer grande conhecimento e cuidados com sua reprodução e manejo. Problemas
relacionados à gestação, tais como abortos, distocias e retenção de placenta causam
grande impacto na produtividade das colônias, no bem-estar dos animais e custo da
criação. A fim de minimizar esses prejuízos, nosso estudo tem como objetivo
melho-rar a compreensão da anatomia uterina de macaco rhesus (Macaca mulatta). Foram
estudadas 15 fêmeas entre 38 e 87 meses de idade e massa corporal entre 4,9 e 7,39
Kg, pertencentes ao Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos/ ICTB, Fiocruz,
RJ. As fêmeas foram divididas em 3 categorias: nulíparas, primíparas e pluríparas. Em
todos os animais foram feitos o estudo topográfico, biometria dos órgãos, microscopia de
luz e quantificação de colágeno no miométrio. O útero é do tipo simples, caracterizado
por um fundo globóide, oco, alongado e de formato piriforme. Pode ser dividido em:
corpo, fundo e cérvix. Não foram observadas diferenças macroscópicas e de topografia
entre as 3 categorias estudadas. As fêmeas pluríparas obtiveram as maiores medidas
biométricas e de quantidade de colágeno no miométrio comparado as outras categorias
de fêmeas estudadas. O endométrio é formado por um epitélio prismático simples e
uma lâmina própria que contém glândulas endometriais tubulares e retas com o mesmo
tipo de epitélio. Concluímos que as medidas e constituição histológica do útero variam
conforme o histórico reprodutivo, o que explica, em parte, o maior risco de ocorrência
de complicações no parto em fêmeas pluríparas.
Palavras-chave:
Útero, Colágeno, Macaca mulatta. Parto. Reprodução.
1. INTRODUÇÃO
Devido ao alto grau de homologia genética com
os seres humanos e similaridades fisiológicas,
bio-químicas, anatômicas e etológicas, os primatas não
humanos (PNH) foram consagrados como
exce-lentes modelos experimentais e têm sido utilizados
para pesquisa biomédica por muitas décadas
1,2.
Macaca mulatta (macaco rhesus) é uma das
espé-cies símias mais utilizadas na pesquisa biomédica
e é o objeto de estudo do presente trabalho.
Em função da escassez de literatura sobre o
tema abordado para a espécie animal em questão,
o objetivo deste trabalho é estudar os aspectos
morfológicos macroscópicos e microscópicos do
útero de macaco rhesus e comparar entre fêmeas
nulíparas (nunca pariram), primíparas (apenas
um parto) e pluríparas (mais de dois partos). Uma
compreensão mais consistente sobre este tema
representa uma ferramenta chave para o
desen-volvimento de biotécnicas de reprodução, além
de oferecer contribuições futuras relevantes no
manejo reprodutivo desta espécie símia.
ARTIGO ORIGINAL
ASPECTOS MORFOLÓGICOS DO ÚTERO DE MACACO RHESUS (MACACA MULATTA – ZIMMERMANN, 1780) EM FÊMEAS NULÍPARAS, PRIMÍPARAS E
PLURÍPARAS
MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo foi realizado no Instituto de Ciência
e Tecnologia em Biomodelos (ICTB), Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rio de Janeiro/ RJ e na
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
(FMVZ), Universidade de São Paulo (USP), São
Paulo, SP. No ICTB, os animais são criados e
man-tidos segundo as orientações do Guide for the Care
and Use of Laboratory Animals (NRC, 1996; 2006)
e os procedimentos de manejo aprovados pela
Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA –
Fiocruz, registro nº LW-05/16, “Criação, Produção
e Manutenção de Primatas não Humanos no Centro
de Criação de Animais de Laboratório/ Cecal para
Atender aos Programas e Projetos Desenvolvidos
na Fiocruz”). O projeto foi submetido e
aprova-do pela Comissão de Ética no Uso de Animais
(CEUA) da FMVZ/ USP, protocolo nº 1818/2009.
Animais
Foram analisados 15 úteros de macaco rhesus
(M. mulatta) procedentes do ICTB, Serviço de
Criação de Primatas Não Humanos/SCPrim da
Fiocruz, sendo cinco úteros de fêmeas nulíparas,
cinco primíparas e cinco pluríparas. Todas as
fê-meas eram maduras sexualmente, idades entre 38
a 87 meses e peso corporal entre 4,9 a 7,39 Kg.
Biometria: O estudo biométrico do útero foi
re-alizado com régua calibrada e paquímetro. O
com-primento total do útero foi mensurado do início da
região do fundo uterino até o óstio externo do útero.
A cérvix uterina foi medida do final do corpo até o
óstio externo do útero. Os dados métricos obtidos
para cada animal foram submetidos à análise
esta-tística, como média aritmética, mediana e desvio
padrão. Em todos os animais foram feitos o estudo
topográfico, biometria dos órgãos, microscopia de
luz e quantificação de colágeno no miométrio.
Análises microscópicas
Após as mensurações, foram retirados
frag-mentos representativos das três regiões uterinas:
corpo, fundo e cérvix. Foram processados
histolo-gicamente para microscopia óptica e corados com
hematoxilina-eosina (padronização e identificação
do material) e picrosirius red (evidenciação e
quantificação das fibras colágenas).
Histomorfometria
Para quantificação do colágeno, as lâminas
coradas com picrosirius red foram observadas
por meio de o microscópio óptico (Axioscópico
Zeiss
®) e os resultados analisados em um
micro-computador de morfomeria específico (KS-400
Zeiss
®). Padronizou-se a leitura e mensuração de
cinco campos por lâmina, sendo feito três lâminas
para cada animal com espaçamento de 10 cortes no
micrótomo por lâmina, num total de 225 campos
mensurados.
Análise estatística
Os dados obtidos foram analisados por meio do
programa SAS System for Windows (SAS, 2000).
Através do aplicatico Guided Data Analisys, os
dados obtidos foram testados quanto à
normalida-de dos resíduos e homogeneidanormalida-de das variâncias.
Caso não obedecessem a essas premissas, foram
transformados (logaritmo na base 10 – Log
10; RQ
X; Quadrado – X²), e se a normalidade não fosse
obtida, empregava-se então a análise de variância
(ANOVA) não paramétrica. Para comparação das
biometrias entre fêmeas nulíparas, primíparas e
pluríparas foram utilizados o teste Least
Signifi-cant Differences (LSD).
Para a descrição dos resultados, foram
empre-gados as médias e seus respectivos erros padrões
(média ± erro padrão da média) dos dados
ori-ginais e os níveis de significância (p) dos dados
originais, quando obedecessem às premissas; dos
dados transformados, quando possível a
trans-formação; e dos dados não paramétricos quando
não obedecessem as premissas e não houvesse
transformações possíveis.
O nível de significância utilizado foi de 5%,
isto é, para um nível de significância menor que (p
Igo Vieira de Souza, Tatiana Kugelmeier, Márcia Andrade and Hildebrando Benedicto
estatísticas entre as variáveis classificatórias
(his-tórico de partos) para uma determinada variável
resposta (características uterinas).
RESULTADOS
As análises revelaram que o aparelho
repro-dutor feminino de macaco rhesus (M. mulatta) é
composto pela genitália externa, com a presença
da vulva, clitóris, pequenos lábios e ausência dos
grandes lábios. A genitália interna é formada por
dois ovários, duas tubas uterinas, útero e vagina
(Figura 1).
O útero se situa na cavidade pélvica, sobre a
vagina, entre a bexiga urinária e o intestino reto. A
face dorsal é mais convexa que a ventral. O útero
é do tipo simples, caracterizado por um fundo
globóide, localizado sobre a junção com as tubas
uterinas, oco, alongado e com contorno piriforme;
seu lúmen é reduzido e quando seccionado
me-dialmente, a cavidade tem um formato de fenda
transversa. Pode ser dividido macroscopicamente
em três regiões: corpo, fundo e cérvix uterina. Na
extremidade cranial, acima da desembocadura
das tubas uterinas, está presente o fundo, que
se caracteriza como uma região livre, de forma
alargada, convexa e arredondada. O corpo do
útero está abaixo da região do fundo, possui uma
porção dorsal que está em contato com a bexiga
urinária, denominado face vesical, e uma porção
ventral que está em contato com o intestino reto,
face intestinal. Ao longo de cada margem do útero
encontram-se e se justapõem o peritônio visceral,
que cobriu a face vesical e a porção que cobriu a
face intestinal, para formar as asas do ligamento
largo do útero. A cérvix aparece externamente com
um formato globóide, semelhante ao fundo do
útero, porém mais convexa. Sua porção caudal se
projeta no canal vaginal, formando um fórnix
vagi-nal. A cérvix uterina apresenta pregas ou projeções
na mucosa do canal cervical que se orientam em
direção ao lúmen. O canal cervical é obstruído por
um colículo principal ventral cervical e um par de
menores e variavelmente desenvolvido colículo
dorsal. Interdigitações desses colículos resultam
numa peculiar sinuosidade dorsoventral do canal
cervical (Figura 2). O suporte de ligamentos do
útero inclui os ligamentos uterossacrais, redondo,
largo e em menor grau os ligamentos
útero-ova-rianos. O ligamento largo do útero é delicado e
contorna a margem do útero como uma membrana
e se fusiona na região cervical. O ligamento
redon-do que está coberto pelo ligamento largo, se fixa
próximo à borda lateral do útero, logo abaixo da
inserção das tubas uterinas. Não foram observadas
diferenças macroscópicas e topográficas entre
as fêmeas nulíparas, primíparas e pluríparas. O
comprimento total do útero nas fêmeas nulíparas
teve média de 4,12 ± 0,2 cm, nas primíparas 4,32
± 0,26 cm e nas pluríparas 5,14 ± 0,71 cm.
Comparando as mensurações entre as três
categorias estudadas, observou-se que as fêmeas
pluríparas obtiveram as maiores medidas (Tabela
1). Histologicamente o útero de M. mulatta é
dividido em perimétrio, miométrio e
endomé-trio. O perimétrio é a mais externa, composta de
Figura 1: Aparelho reprodutivo feminino de
Macaca mulatta: C - corpo; CL - clitóris; V - vagina;
FV - fórnix vaginal; OEU - orifício externo do útero;
F - fundo; TU - tuba uterina; OD - ovário direito;
OE - ovário esquerdo.
ASPECTOS MORFOLÓGICOS DO ÚTERO DE MACACO RHESUS (MACACA MULATTA – ZIMMERMANN, 1780) EM FÊMEAS NULÍPARAS, PRIMÍPARAS E
PLURÍPARAS
uma camada serosa constituída de mesotélio e
tecido conjuntivo. O miométrio é a camada mais
espessa das três, composto por fibras musculares
lisas dispostas em diversos sentidos, aparecendo
seccionadas no sentido transversal, longitudinal e
oblíquo. As fibras musculares estão separadas por
tecido conjuntivo e numerosos vasos sanguíneos.
O endométrio é formado por um epitélio
prismá-tico simples e uma lâmina própria que contém
glândulas endometriais com o mesmo tipo de
epi-télio. Em todos os animais estudados as glândulas
endometriais eram tubulares simples e retas, com
o lúmen estreito e ligeiramente ondulado. Estas
características correspondem a um endométrio na
fase proliferativa ou estrogênica. A lâmina própria
é constituída por tecido conjuntivo frouxo muito
celularizado e rico em vasos sanguíneos. Em
re-lação à distribuição do colágeno no miométrio, o
método de picrossirius red permitiu observar uma
ampla distribuição do colágeno por todo o
compar-timento. O colágeno aparece na cor avermelhada
e em forma de espiral (Figura 3).
A estrutura histológica da cérvix uterina
di-fere do resto do útero. O revestimento do canal
Tabela 1. Dados biométricos do aparelho reprodutor de fêmeas de Macaca mulatta em diferentes idades
reprodutivas.
Medida (cm)
Nulíparas
Primíparas
Pluríparas
Comprimento do corpo uterino
2,41± 0,07
2,44 ± 0,07
3,07 ± 0,15
Largura do corpo uterino
1,8 ± 0,06
1,69 ± 0,13
2,14 ± 0,15
Espessura do corpo uterino
0,91 ± 0,06
0,73 ± 0,05
0,99 ± 0,06
Comprimento da cérvix
1,71 ± 0,04
1,8 ± 0,07
2,07 ± 0,18
Largura da cérvix
2,08 ± 0,09
1,92 ± 0,09
2,26 ± 0,09
Espessura da cérvix
0,91 ± 0,06
0,73 ± 0,05
0,99 ± 0,06
Figura 2: Corte sagital do aparelho reprodutor
feminino de macaco rhesus: CCD - colículo
cervical dorsal; CCV - colículo cervical ventral; CU
- cavidade uterina; FVD - fórnix vaginal dorsal; FVV
- fórnix vaginal ventral; MV - mucosa vaginal; OEU -
óstio externo do útero; OIU – óstio interno do útero.
Figura 3: Fotomicrografia do miométrio:
Observação da distribuição do colágeno sendo
representado pela cor vermelha e em formato de
espiral; C – colágeno, corte longitudinal (5µm),
Igo Vieira de Souza, Tatiana Kugelmeier, Márcia Andrade and Hildebrando Benedicto
cervical (endocérvix), assim como o das pregas
e suas ramificações, é constituído por um
epi-télio prismático simples secretor de muco, o
qual se acumula no canal. Possui poucas fibras
musculares lisas e consiste principalmente em
tecido conjuntivo denso. As glândulas mucosas
cervicais apresentaram o mesmo tipo de epitélio
do canal endocervical. A porção da cérvix uterina
que se estende do óstio externo do útero ao fórnix
vaginal (ectocérvix) é revestida por um epitélio
pavimentoso estratificado não queratinizado. A
porcentagem de colágeno encontrado no
mio-métrio das fêmeas nulíparas teve uma média de
26,32 ± 0,82 cm, nas primíparas 29,07 ± 1,01 cm
e nas pluríparas 38,93 ± 1,07 cm, pelo método
de picrosirius red.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
A morfologia macroscópica do aparelho
repro-dutor feminino de Macaca mulatta se assemelha
de forma geral ao modelo encontrado nos primatas
da subordem Anthropoidea (primatas do Novo e
do Velho Mundo). Entretanto, existem
particu-laridades específicas entre as diversas espécies
existentes nesta subordem, as quais devem ser
consideradas, diante da necessidade de melhorar
o conhecimento relativo à biologia da reprodução
em primatas.
O útero de M. mulatta encontra-se na cavidade
pélvica, sobre a vagina, entre a bexiga urinária e
o intestino reto. Em Alouatta guariba clamitans
e Alouatta caraya, o útero está ligeiramente
des-locado para o lado esquerdo, devido ao grande
desenvolvimento do ceco
3. Em linhas gerais, a
topografia e localização do útero se assemelham
aos demais primatas.
Na maioria dos primatas, como na espécie deste
estudo, os grandes lábios estão ausentes, sendo
descritos na infraordem Prossimii e na família
Ce-bidae
4, em Alouatta guariba clamitans e Alouatta
caraya
3e no Homo sapiens
5.
O útero é do tipo simples e piriforme,
seme-lhante ao da maioria dos primatas, com exceção
dos prossímios, que na maior parte do grupo,
possuem dois cornos uterinos curtos. Na família
Lorisidae e no gênero Tarsius apresentam dois
cornos uterinos longos ou útero bicorno
4. Essa
di-ferença no formato está relacionada com o número
de filhotes por parto. Os primatas que possuem o
útero bicorno tem um número maior de filhotes
por parto, enquanto os que possuem o útero do
tipo simples tem normalmente apenas um filhote
por parto. Em Callithrix sp. (representante da
infraordem Anthropoidea) os nascimentos duplos
são regras (gêmeos fraternos) e possuem o útero
com uma sutil separação da extremidade superior
por um chanfro mediano.
Em todas as fêmeas estudadas, o epitélio da
mucosa uterina se mostrou invariavelmente
pris-mático simples. A mesma característica foi
obser-vada no epitélio das glândulas endometriais. Em
gibões (família Hylobatidae), existem diferenças
entre os epitélios do útero. A mucosa é constituída
por epitélio cúbico-colunar simples ou
pseudoes-tratificado e as glândulas endometriais possuem
epitélio colunar simples
6.
Diferente do que foi encontrado em outros
estudos com Macaca mulatta
7,8, o endométrio e
a cérvix uterina das fêmeas estudadas não
apre-sentaram células ciliadas. Estas células ciliadas
aparecem em Callithrix jacchus, porém raras
9.
A cérvix uterina de Macaca mulatta possui
epitélio prismático simples, como ocorrem na
maioria dos primatas. Porém bugios (Alouatta
guariba clamitans e Alouatta caraya) possuem
epitélio prismático pseudoestratificado
3. A razão
dessas diferenças encontradas na literatura é
des-conhecida.
Durante a gestação, o miométrio passa por um
período de grande crescimento como resultado
de hipertrofia e hiperplasia. Muitas células
mus-culares lisas sintetizam ativamente o colágeno,
cuja quantidade aumenta significativamente no
útero
5. O aumento do número de partos leva a um
aumento de depósito de colágeno no miométrio,
levando a uma alteração na composição do útero,
o que poderia explicar as diferenças biométricas
nas três categorias estudadas. Todas as fêmeas
encontravam-se na fase estrogênica, porém não
ASPECTOS MORFOLÓGICOS DO ÚTERO DE MACACO RHESUS (MACACA MULATTA – ZIMMERMANN, 1780) EM FÊMEAS NULÍPARAS, PRIMÍPARAS E
PLURÍPARAS
se sabe se elas estavam no início, meio ou fim
dessa fase. Uma das variáveis que poderia estar
influenciando nos dados biométricos.
Os resultados demonstram que as fêmeas
pluríparas de Macaca mulatta possuem maiores
mensurações do útero (comprimento, largura
e espessura do corpo e comprimento, largura e
espessura da cérvix) e maior porcentagem de
colágeno no miométrio comparado as fêmeas
nulíparas e primíparas. Estudos pormenorizados
e maior número de animais seriam necessários
para melhor esclarecimento dessas diferenças
entre as mensurações do útero e a porcentagem
de colágeno no miométrio dos animais em estudo.
Os dados anatômicos aqui registrados
repre-sentam uma ferramenta auxiliar para estudos de
reprodução em primatas e em humanos, além de
oferecer subsídios para aprimorar o manejo
repro-dutivo da espécie símia analisada.
AGRADECIMENTOS
Ao Dr. Renato Choppard (in memoriam), do
Instituto de Ciências Biomédicas, Departamento
de Anatomia, Universidade de São Paulo/USP,
pelo apoio e orientação neste trabalho.
MORPHOLOGICAL ASPECTS OF UTERUS IN FEMALE
NULLIPAROUS, PRIMIPAROUS, AND PLURIPAROUS RHESUS
MACAQUES (MACACA MULATTA – ZIMMERMANN, 1780)
The creation of nonhuman primates in captivity for scientific research
purpo-ses requires great knowledge and care of their breeding and management.
Problems related to pregnancy, such as abortions, dystocia, and retained placenta
cause great impact on the productivity of the colonies, animal welfare, and breeding
costs. In order to minimize these losses, our study aims to improve understanding of the
uterine anatomy of rhesus monkey (Macaca mulatta). Fifteen females between 38 and
87 months of age and body mass between 4.9 and 7.39 kg, belonging to the Institute of
Science and Technology in Biomodels/ISTB, Fiocruz, RJ were studied. Females were
divided into 3 categories: nulliparous, primiparous, and pluriparous. Topographical study,
biometrics organs, light microscopy, and quantification of collagen in the myometrium
were carried out in all animals. The uterus is a simple type, characterized by a globoid,
hollow, elongated body and pear-shaped format. It can be divided into: body, fundus, and
cervix. No macroscopic and topographic differences among the three categories studied
were observed. The pluriparous females achieved the highest biometric and amount
of collagen measures in the myometrium compared to the other categories of studied
females. Endometrium is formed by a simple prismatic epithelium and lamina propria
containing straight and tubular endometrial glands with the same type of epithelium.
We conclude that measurements and histological constitution of the uterus vary as the
reproductive history, which explains, in part, the major risk of complications occurred
in parturition of pluriparous females.
Keywords:
Uterus, Collagen, Macaca mulatta. Parturition. Reproduction.
Igo Vieira de Souza, Tatiana Kugelmeier, Márcia Andrade and Hildebrando Benedicto
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do aparelho reprodutor em bugios
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ISSN 2238-1589
1 Discente do Curso de Especialização em Toxicologia, Centro Universitário Hermínio Ometto.
2 Docente do Programa de Pós Graduação em Ciências Biomédicas do Centro Universitário Hermínio Ometto – Uniararas.
Data Recebimento: 08/01/2016 Aceito para a Publicação: 08/06/2016 Autor Para Correspondência: Lílian Cristina Pereira
E-mail: lilianpereira@uniararas.br
ARTIGO DE REVISÃO
RESUMO
UTILIZAÇÃO DE MÉTODOS ALTERNATIVOS À EXPERIMENTAÇÃO
ANIMAL EM PESQUISA
Andresa Gomes dos Santos
1& Lílian Cristina Pereira
2Para sobreviver em um ambiente adverso, o ser humano sempre contou com o auxílio
dos animais para as mais variadas funções e finalidades. Quando trata-se de avaliação
da toxicidade de uma substância é necessário verificar os efeitos nocivos que a mesma
pode desencadear aos homens, animais e ambiente após exposição. Para que se possa
verificar tal propósito, o modelo animal ainda tem sido o mais utilizado nos estudos de
avaliação toxicológica. Entretanto, a utilização de animais na pesquisa é um tema que
tem sido razão de diversas discussões e envolve a quantidade de animais utilizados, a
real necessidade de sua utilização e a eficácia da extrapolação dos dados obtidos para
seres humanos por exemplo. Por outro lado, pesquisadores e a comunidade científica
nacional e internacional têm somado investimentos e esforços no desenvolvimento e
validação de métodos alternativos ao uso de animais. Neste contexto, o conceito e
uso dos 3 Rs, do inglês (Replace, Reduce e Refine), tornou-se tendência na avaliação
da toxicidade de compostos. Desta forma, o presente trabalho apresenta em forma de
revisão de literatura
baseada em artigos publicados e atualizados, uma reflexão e uma
abordagem atual acerca do tema sobre a relação do uso de animais em pesquisa e sua
relevância para o avanço na avaliação do risco à exposição aos compostos químicos
e aborda os métodos alternativos já implantados, bem como relaciona dados sobre a
regulamentação na experimentação animal em nosso país.
Palavras-chave: Avaliação Toxicológica; Experimentação Animal; Métodos alternativos.
INTRODUÇÃO
Os humanos estão expostos a uma enormidade
de produtos químicos no seu dia-a-dia, seja por
meio da produção, consumo, presença no ambiente
ou descarte incorreto de medicamentos, produtos
de cuidados pessoais, domisanitários, praguicidas,
nanomateriais, surfactantes, plastificantes,
retar-dantes de chama entre outros
1. Para garantir uma
proteção adequada da saúde humana e do ambiente
é essencial que seja verificado, de forma
adequa-da, o potencial que estes compostos apresentam
para induzir toxicidade
2. Análises toxicológicas
que fornecem informações sobre periculosidade,
exposição, risco de intoxicação e mecanismo de
toxicidade, são componentes da Avaliação de
Risco, uma das etapas importantes para atestar
se-gurança e regulamentar uma substância química
3.
Atualmente, os testes que fornecem dados para a
avaliação de risco de substâncias químicas são
ba-seados em modelos que utilizam experimentação
animal desenvolvido nos últimos 60 anos
4.
A princípio, todo animal pode servir à
experi-mentação, entretanto, tem-se procurado utilizar
um modelo que apresente melhor resposta a um
determinado estímulo, seja por sua maior
sensi-bilidade, facilidade de manejo e evidenciação do
efeito ou por sua semelhança anatômica,
fisioló-gica ou metabólica com o homem
5. Cabe ressaltar
Andresa Gomes dos Santos e Lílian Cristina Pereira
que a utilização de animais deve seguir os
precei-tos do rigor científico e da ética que norteiam os
desenhos experimentais com modelos biológicos,
bem como, as normas de bioterismo preconizadas
nacionalmente
6. Contudo, muitas críticas foram
dirigidas a estes testes nos últimos anos, pois
en-volve uma série de pressupostos e extrapolações
2.
Devido à evolução técnico-científica, na década
de 80 iniciou-se o desenvolvimento de modelos
experimentais alternativos para as diversas áreas,
em substituição ao uso de animais de laboratório
6.
Neste contexto, novas ferramentas estão sendo
desenvolvidas, validadas e aplicadas pelos
toxi-cologistas para atestar a segurança de substâncias
químicas, porém sem o uso de animais
7. Desta
forma, os métodos alternativos também estão
sen-do contemplasen-dos na etapa da avaliação de efeitos
toxicológicos de substâncias químicas
6.
O uso de métodos alternativos apresenta
diversas vantagens, que vão desde a não
utiliza-ção de animais, quando se trata de métodos de
substituição, até a redução de custos a resultados
mais preditivos uma vez que métodos in vitro
apresentam como benefício o fato de serem
me-nos sujeitos a interferentes exterme-nos, já que os
animais sofrem influência de presença de ruídos,
alterações de metabolismo em função de alguma
modificação de temperatura, ciclo de luz, umidade
etc
8. Entretanto, os animais de laboratório deverão
ser utilizados sempre que não existam métodos
alternativos validados que os substituam ou, em
casos específicos, após screening com métodos
in vitro e/ou matemáticos validados, precedendo,
dessa forma, os estudos clínicos
5.
REVISÃO DE LITERATURA
1. Relação entre ser humano e animais:
A relação dos seres humanos com as demais
espécies animais é de longa data na história e
envolve uma relação predatória e de simbiose
9, 10. Os humanos se valem e exploram as outras
espécies como fonte de alimento, força de tração
para o trabalho, para proteção de sua saúde desde
os primórdios de sua evolução
9. Para sobreviver
a um meio adverso, o ser humano sempre contou
com o auxílio dos animais para as mais variadas
finalidades. Porém, sabe-se que esse processo
histórico de interação com a espécie humana não
ocorreu de modo que refletisse, de forma justa, a
participação de cada um nesse contexto
11.
A filosofia também auxilia a legitimar a visão
de inferioridade dos animais. Protágoras, ainda no
período pré-socrático (408-410 a.C.), já enaltecia
o antropocentrismo ao estabelecer como princípio
universal, “o homem como a medida de todas as
coisas”
12. Enquanto no século XVI, René
Des-cartes defendeu a teoria mecanicista, pela qual os
animais não seriam mais do que simples máquinas,
desprovidos de alma e, portanto, insensíveis à dor
e ao sofrimento
13. Com o advento dos estudos
científicos não foi atribuído papel diferente aos
animais, ainda considerados seres restritos a servir
o ser humano
14. Movidos pela conveniência ou
adequação aos interesses existentes o humanismo
cartesiano perdurou como principal fundamento
moral por muitos anos.
2. Histórico da utilização de animais para
experimentação científica
As experiências com animais nas ciências da
vida remontam à Grécia antiga e aos primeiros
experimentos médicos, sendo que o primeiro
relato da utilização de animais em experimentos
científicos data do século V a.C., com Alcmêon
que dissecava os animais e fazia anotações
15.
Atribui-se a Hipócrates os primeiros estudos na
área de saúde que relacionavam as semelhanças
entre órgãos humanos doentes com os de animais,
que também foi adotado por Aristóteles.
No campo das pesquisas médicas
experimen-tais, Galeno destaca-se como o precursor das
atividades de vivissecção em animais
14. Séculos
adiante (em 1638) foi realizado o primeiro uso
de animais em atividades científicas para estudo
da fisiologia da circulação sanguínea, com mais
de 80 espécies de animais, realizado por William
Harvey. A publicação do livro “A Origem das
UTILIZAÇÃO DE MÉTODOS ALTERNATIVOS À EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL EM PESQUISA
Espécies” de Charles Darwin, em 1859,
estabe-leceu os pressupostos do vínculo existente entre
as diferentes espécies animais no contexto do
processo evolutivo. Desta forma, a teoria de
Da-rwin possibilitou a extrapolação dos dados obtidos
em pesquisas com modelos animais para seres
humanos
16 17.
A Lei Arouca (Lei 11.794/2008), que
regula-menta o inciso VII, §1º do artigo 225 da
Consti-tuição Federal, considera lícito o uso científico e
acadêmico de animais, desde que nos limites por
ela estabelecidos. O objetivo é regular o uso
cien-tífico de animais. Dentro destes limites, destaca-se
a exigência legal de que as atividades didáticas
com animais vivos somente sejam realizadas por
estabelecimentos de ensino superior ou de
edu-cação profissionais técnica de nível médio, desde
que seja da área biomédica
18. Assim controlaram
as atividades de ensino e pesquisa que estejam
ocorrendo nas universidades, auxiliando os
pro-fissionais da área biomédica.
Além do mais, o Brasil apresenta uma lei
federal que regulamenta o uso de animais na
experimentação científica, a Lei Arouca (Lei
11.794/2008). Em seis capítulos, essa lei
estabe-lece um conjunto de regras, como a criação do
Conselho Nacional de Controle de
Experimenta-ção Animal (CONCEA), e – vedando a atuaExperimenta-ção
independente do pesquisador, pessoa física, para
realizar experimentos com animais – obrigou a
todas as instituições que pretendam utilizar
ani-mais, na pesquisa ou no ensino, a se cadastrarem
no Conselho e comporem uma Comissão de Ética
para Uso de Animais (CEUA), que analisará cada
projeto de pesquisa ou plano de aula envolvendo
vertebrados (exceto a espécie humana). Além
dis-so, a Lei Arouca lista as condições de criação e uso
dos animais e as penalidades administrativas às
instituições que transgredirem as suas disposições
e seu regulamento
19.
3. Conceito dos 3Rs (Reduction, Refinement e
Replacement)
Em 1959, o zoologista William M.S. Russell
e o microbiologista Rex L. Burch publicaram um
livro, onde estabeleceram o conceito dos três “Rs”
para utilização dos animais
20. Esta proposta não
impede a utilização de modelos animais em
expe-rimentação, mas visa uma adequação e reflexão de
humanizá-la tendo em vista o sofrimento animal
21.
O Princípio dos 3Rs é assim denominado em
função das iniciais, em inglês, (Reduction,
Refine-ment e ReplaceRefine-ment): o primeiro “R” (Reduction
= redução) determina que os pesquisadores devem
utilizar o mínimo de animais em um experimento,
apenas a quantidade necessária capaz de fornecer
resultados estatísticos significativos. O segundo
“R” (Refinement = Refinação) sugere o emprego
de métodos adequados de analgesia, sedação e
eutanásia, com o propósito de reduzir a dor e o
desconforto, evitando ao máximo o estresse de
animais de experimentação, ou seja, o uso de
animais deve ser feito por pessoas treinadas. E por
fim, o terceiro “R” (Replacement = Substituição)
orienta o uso de métodos alternativos, sempre que
possível
18,21.
No Brasil, a responsabilidade de monitorar e
avaliar a introdução de técnicas alternativas que
substituam a utilização de animais em atividades
de ensino ou pesquisa é do CONCEA. Esta
enti-dade é responsável por credenciar as instituições
que utilizem animais em seus trabalhos, além de
criar as normas brasileiras de produção e uso de
animais
22.
Com base na idéia de que os humanos têm a
responsabilidade de cuidar dos animais e adotar
comportamentos e práticas que busquem o seu
bem-estar, agindo de forma humana, os princípios
dos 3Rs consistem em:
1) A redução do número de animais utilizados,
acompanhada pelo aumento da qualidade do
tratamento estatístico é uma importante
alter-nativa. Contudo, fica implícito neste caso que
um número adequado de animais para obtenção
de dados válidos seja cumprido, porém não
excedendo o valor mínimo
24. Reduzir o uso
de animais ao mínimo necessário para alcançar
significâncias estatísticas, envolver cálculos
preliminares estatísticas e/ ou modelagem por
computador, partilha de animais quando os
tecidos ou órgãos são necessários, ou a
elimi-Andresa Gomes dos Santos e Lílian Cristina Pereira
nação de variáveis que aumentaria o número
de animais necessários
16.
2) Refinar as técnicas de criação e de
experimen-tação de forma a minimizar um procedimento
existente ou a técnica, de forma a minimizar
o nível de dor ou sofrimento do animal
16,ou
seja, qualquer desenvolvimento que diminua
a incidência ou severidade dos processos aos
animais em experimentação
24. Pode-se incluir
também neste item as questões metodológicas
e estatísticas que permitem analisar dados
ob-tidos em amostras progressivamente menores.
3) Repor ou substituir os animais por alternativas
tecnológicas (técnicas in vitro, tais como tecido,
órgão ou cultura de células), animais menos
sensíveis situados na baixa escala filogenética
(invertebrados, insetos), sistemas vivos
não--animais (a transferência de genes retrovirais)
ou sistemas não-vivos (modelagem por
com-putador)
16.