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DESIGUALDADE EDUCACIONAL E RAÇA: BREVE DIALOGO COM A LITERATURA ACADÊMICA 1

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DESIGUALDADE EDUCACIONAL E RAÇA: BREVE DIALOGO COM A

LITERATURA ACADÊMICA1

Pereira, Rosângela Saldanha2 Xavier Rambla, Francesc3

Resumo: O tema das desigualdades raciais esta presente na agenda internacional, e, não é dos mais simples, posto que existem muitas possibilidades e caminhos teóricos para explicar a discriminação e/ou segregação racial de cerca de 900 milhões pessoas no mundo, conforme Relatório de Desenvolvimento Humano, de 2004. A compreensão e desvendamento das questões derivadas das relações étnicas e raciais encontram-se, certamente, entre os maiores desafios da humanidade no século XXI. Este artigo tem por objetivo realizar um breve diálogo com a literatura acadêmica sobre o tema das desigualdades raciais na educação. Especificamente, trataremos de apresentar o approach teórico das desigualdades educativas e sua conexão com raça, fazendo um recorte do debate internacional e brasileiro.

Palavras-chave: desigualdade educacional e raça; discriminação racial ; educação, classe social.

Introdução

A associação entre classe social e desigualdades educativas para os países desenvolvidos tem sido extensivamente documentada ( Floud et al. 1956, Halsey et al. 1980, Backburn e Marsh 1991; Savage e Egerton, 1997, entre outros). Ademais, a década de 90 foi marcada por novas abordagens teóricas sobre a persistência das desigualdades educacionais. Entre os resultados mais significativos, destaca-se o consenso de que os efeitos de origem social e raça são mais fortes nas fases iniciais da escolarização, do que em transições educacionais para níveis mais elevados (Shavit e Blossfeld,1993; , Jonsson e Mills 1993 a; Heath, 2000).

Outro ponto que se destaca na análise da produção acadêmica sobre desigualdades educacionais é a sua orientação para a descrição empírica, e pouca ênfase nos fatores explicativos da relação entre origem social e racial e resultados educativos. Breen e Jonsson destacam que um caminho importante para superar esta lacuna seria utilizar o conhecimento

1 Este artigo é um dos produtos do projeto de pesquisa, financiado pelo Ministério de Educacion y Ciencia da Espanha, com o título “ Mas Allá de La focalización: educación, desarrollo y políticas contra la pobreza” ( SEJ2005-04235/SOCI).

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Prof.Dr do Depto de Economia/UFMT. Pesquisadora do NEPRE/UFMT e do SAPS/UAB. e-mail: rosal@superig.com.br

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Prof. Dr do Depto de Sociologia/ Universidad Autónoma de Barcelona. Coordenador do SAPS ( Seminári d’análisi de les Politiques Socials/UAB) e-mail: Xavier.rambla@uab.es

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existente para “produce an exhaustive list of the set of family resources and institutional factors that impinge on the opportunities of children, and to measure their relative importance in particular societies.A further step is to develop models of the mechanisms through which these associations are generated” (Breen e Jonsson, 2005: 236).

A seguir faremos uma breve revisão das principais interpretações teóricas sobre a relação entre estrutura social, raça e desigualdades educativas. Ressaltamos, que, ainda que estes estudos utilizem dados e metodologias diferentes, e se referem , muitas vezes, à realidade dos países do norte, seus resultados são úteis para identificar possíveis marcos teóricos a serem aplicadas ao caso brasileiro.

1 . Panorama Internacional

È somente a partir da segunda metade da década de 70 que a questão da diversidade étnica passa a ser incorporada nas análises como protagonista, consolidando uma linha especifica de investigação. O tipo de investigação atual sobre as desigualdades de resultados e as diferenças raciais tem uma orientação distinta daquela vigente na década de 50. O domínio do funcionalismo positivista, promoveu investigações que atribuíam as desigualdades de desempenho entre as raças, à questão da inteligência ( Jensen, 1969).

A partir da década de 70, a tese de superioridade ou inferioridade racial começa a perder força, e surgem as investigações etnográficas sobre a estratificação racial na escola ( Rist 1970; Rubovits y Maehr 1973). Entretanto, a perspectiva interpretativa desses estudos não avança em relação a análise das outras formas de discriminação que se produzem na escola. McCarthy ( 1993), informa que a análise marxista da função de reprodução do sistema educativo acaba por subordinar a análise da discriminação racial à desigualdade social. Por outro lado, o interacionismo simbólico, ao enfatizar a construção social das relações escolares, não percebe a estratificação educacional como “ procesos que median entre las relaciones raciales en la estructura social de origen y su reproducición” ( Bonal 1998:164). Assim, as desigualdades de desempenho entre as raças são percebidas apenas como função das relações que ocorrem no interior da escola ( grau de ideologia racista dos professores, enfrentamento racial entre os alunos, etc...).

Uma das mais destacadas teorias para explicar os resultados educativos diferenciados por raça é a “oppositional culture”4, utilizado por Ogbu ( 1974), para examinar a estratificação racial nos Estados Unidos e seu impacto sobre o êxito acadêmico dos estudantes negros.

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Os estudos de Ogbu são paradigmáticos da abordagem multicultural ou de pluralismo cultural que tiveram forte impulso a partir da década de 80.

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De acordo com esta teoria, os negros reconhecem o valor da educação como fator de mobilidade ascendente, porém, como tem consciência das barreiras de acesso aos níveis mais elevados de escolarização e ao mercado de trabalho, desenvolvem uma visão pessimista de suas perspectivas futuras. Isto, traduz –se em uma postura avesa a competição para as recompensas; os estudantes adotam valores de “anti-achievement”5 para reduzir a discrepâncias entre o esforço educacional e as recompensas recebidas no mercado de trabalho. Estas normas de “anti- achievement" se refletem no comportamento de crianças na escola, contribuindo para o que Ogbu chamou de “cultural inversion”: “cultural inversion is the tendency for involuntary minorities to regard certain forms of behavior, events, symbols and meanings as inappropriate for them because these are characteristic of white Americans. At the same time the minorities value other forms of behavior, events, symbols and meanings, often the opposite, as more appropriate for themselves ( Ogbu, 1992:8).

Se por um lado, diversos estudos americanos ( Majors and Billson ,1992; Fischer et al., 1996, Neither; Graham et ali, 1998 ; Farkas et ali,2002) baseados em evidencias empíricas confirmaram a validez e robustez das hipóteses de Ogbu, por outro, registra-se pesquisas que a questionam (Erickson 1987; Trueba, 1988; Jaynes e Williams, 1989; MacLeod; 1995; Ainsworth-Darnell e Downey, 1998) e concentram suas criticas em 3 pontos essenciais: primeiro, Ogbu não considerou o sucesso de indivíduos de outras minorias étnicas, que tem desempenho acadêmico elevado; segundo, a estrutura analítica utilizada mostra-se economicamente determinística e mecânica; e por fim, Ogbu concentrou-se em explicar o insucesso acadêmico “de populações marginais” e não procurou compreender o desempenho daqueles negros que obtém o sucesso.

Outra linha teórica é conhecida como “ resigned adaptation”, desenvolvida por Wilson (1987), sua tese central é a de os negros ao viverem em comunidades onde o nível sócio-econômico e educacional são baixos e o desemprego é freqüente, estes restringem suas aspirações e diminuem seu desejo de adquirir maior escolarização. Tal contexto é reforçado pelo sentimento de que a obtenção de maior escolaridade não resultará em

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Adscription e Achievement são dois conceitos amplamente difundidos na literatura sociológica introduzidos pela literatura parsoniana (Parsons ,1970; Traiman, 1970). Não existe no português uma tradução direta para as duas palavras, pois estas antes representam conceitos de processos sociais. Adscription, e outras palavras daí derivadas, significa um processo de alocação de status onde a posição social do indivíduo é basicamente herdada a partir de suas características familiares e/ou individuais, tais como status socioeconômico dos pais, nível educacional dos pais, raça, gênero, estrutura familiar, local de nascimento, etc. Achievement, e outras palavras daí derivadas, significa um processo de alocação de status no qual a posição social do indivíduo é basicamente construída a partir de características adquiridas pelo indivíduo ao longo de sua vida, como educação, primeiro emprego, etc.

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empregos que melhorem sua situação financeira. Holzer ( 1991), investigando as regiões onde há maior concentração de negros nos EUA, constatou que as carências de oportunidades econômicas, são transmitidas através das gerações e o incentivo de adquirir educação para compensar a discriminação torna-se menos importante.

Rothon ( 2005, 2006) examina o desempenho educativo de diferentes grupos étnicos na Grã-Bretanha. Usando evidência empírica de um exame nacional, confirma a tese de Ogbu quanto ao desempenho escolar, atitudes e comportamento dos negros, mas , não na mesma intensidade. Ademais, registrou que os chineses e indianos, tem superado o desempenho educacional dos brancos. Mas, de um modo geral, confirma que os brancos apresentam rendimento e performance escolar melhores que os demais grupos étnicos. O desafio que esta posto para a investigação das ciências sociais, segundo Rothon , é o de avançar na compreensão de como o pertencimento étnico e a classe social influenciam o desempenho escolar. As teorias atuais são limitadas, pois não explicarm porquê os afro-descendentes da mesma classe social dos brancos ainda apresentam rendimentos escolares inferiores.

Em termos gerais é possível identificar duas corrente interpretativas das desigualdades étnico-racais, a partir da década de 80: a abordagem multiculturalista e a abordagem antiracista. A primeira, identifica o racismo como um problema de ignorância ou preconceito racial que são introjetados na prática escolar e atribuem as desigualdades de desempenho entre as raças ás características das minorias étnicas ( privação e déficit cultural, atitudes de resistência a integração, etc...). Neste sentido, a variável cultural explica as desigualdades educacionais, separando-as das relações econômicas e sociais entre grupos desiguais ( Juliano,1994).

A linha de investigação com base na abordagem antiracista, busca identificar como o racismo ( de forma consciente ou não) está incorporado nas instituições e indivíduos do Estado nação ( Demaine, 1989; Gillborn, 1990; Troyna, 1993). As relações raciais não podem ser separadas de relações sociais mais amplas. O racismo se articula com outras formas de exclusão e opressão. Para MacCarthy ( 1993) a intersecção entre as variáveis raça, gênero e classe é do tipo assincrônica, ou seja, não é produto da confluência de formas homogeneas de exploração nem de interesses idênticos de emancipação. “ Por lo tanto, la experiência de la desigualdad educativa de um joven negro de clase media es cualitativamente diferente de uma chica negra de clase trabajadora’ ( McCarthy, 1993:125 citado por Bonal 1998: 167). O assincronismo configura e estrutura a experiência de desigualdade e as dinâmicas das trajetórias acadêmicas e sociais. Portanto, o estudo sobre a intersecção das formas de desigualdades é um interessante campo em grande medida a explorar.

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2. Panorama do Brasil

No Brasil, foi apenas a partir do final dos anos de 1970 que estudos sistemáticos sobre desigualdades raciais na educação passaram a ser desenvolvidos. Esses estudos produziram variadas evidências estatísticas sobre as desigualdades educacionais entre brancos e negros. Sociólogos como Hasenbalg e Silva (1991,1992,2000) observaram que mesmo com os variados controles impostos aos seus dados – como pela condição socioeconômica da família, ocupação dos pais, organização da estrutura familiar etc. – havia uma persistência na diferença entre as taxas de evasão e progressão escolar de brancos e negros, sendo que estes últimos sempre se encontravam em condições de desvantagem. Mesmo assim, por muito tempo a categoria raça não foi considerada relevante ao estudo do desempenho escolar dos estudantes brasileiros. O próprio Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) do Ministério da Educação, demorou a reconhecer a relevância do fator raça dentre aqueles que afetam o desempenho escolar.

É, apenas em 2003 que um trabalho de análise dos dados do Saeb dedica-se exclusivamente analisar várias questões associadas à cor ou raça dos alunos (Soares e Alves 2003). Uma primeira característica observada pelos autores em relação à desigualdade de proficiência entre alunos brancos e negros é que ela não se distribui uniformemente entre os diferentes níveis socioeconômicos. Embora Soares e Alves (2003, pp.153-154) constatem que maior nível socioeconômico das famílias gere um impacto positivo sobre a proficiência de estudantes de todos os grupos raciais, os autores apontam que esse impacto é “bem maior” na proficiência de alunos brancos do que na dos negros. Isso faz com que a desigualdade de proficiência entre alunos brancos e negros seja maior entre aqueles pertencentes a grupos socioeconômicos mais privilegiados do que entre aqueles que integram as camadas menos favorecidas da sociedade.

Para Soares e Alves (2003, p. 154), tal evidência “deixa claro” que a diferença de proficiência entre alunos brancos e negros não pode ser explicada exclusivamente pela condição socioeconômica de suas famílias. Além disso, os autores verificaram que melhorias nas condições escolares e familiares também favorecem mais os alunos brancos do que os negros. Escolas melhor equipadas e com diretores mais envolvidos, ou que contam com professores melhor qualificados e remunerados, produzem efeitos significativos para as desigualdades raciais na educação, mas no sentido de aumentá-las. Assim, a despeito de estudantes de todos os grupos raciais serem beneficiados por essas melhorias, os efeitos delas são proporcionalmente menores sobre os ganhos educacionais dos alunos negros. Isso sugere

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que tais melhorias, “se implementadas nas escolas na forma como o sistema educacional se organiza atualmente, pouco contribuirão à promoção da igualdade racial na educação brasileira” (Soares e Alves, 2003, p. 157).

O mesmo ocorre com alguns fatores familiares que influenciam positivamente a proficiência escolar. De acordo com os dados do Saeb 2001, a existência de livros na residência dos estudantes acrescenta mais à proficiência escolar de brancos do que à de negros, padrão que se repete na análise das preferências dos alunos pelo estudo. Tais evidências estatísticas, extraídas do Saeb 2001, levam os autores à seguinte afirmação:

“ Todos os fatores escolares, incluindo os professores, e familiares indicam a mesma tendência. Eles sugerem que as condições escolares positivas se potencializam quando se referem aos alunos brancos, produzindo uma espiral favorável que os impulsiona bem mais

do que impulsiona os alunos negros e pardos. Assim, esse resultado mostra que a melhoria das condições de ensino pode contribuir para elevar a média do desempenho escolar, mas com sensíveis desigualdades entre estratos [raciais]” (SOARES & ALVES, 2003, p. 158).

Outro tipo de abordagem metodológica nas investigações sobre desigualdade de desempenho entre as raças no Brasil é a que constrói séries históricas sobre a diferença de proficiência entre alunos brancos e negros. Um trabalho pioneiro, foi o desenvolvido por Bonamino, Franco e Alves (s/d), que utilizam as quatro primeiras edições do Saeb, que coletaram informações sobre a raça dos estudantes, para analisar a evolução da desigualdade de proficiência entre alunos brancos e negros. Em todos os anos e séries analisadas, os autores constatam a existência de um efeito negativo da raça ou cor negra sobre a proficiência escolar, efeito este que se mantém mesmo após o controle do status socioeconômico das famílias e das condições escolares .

Amparados por esses resultados , os autores afirmam que há uma especificidade ligada à raça na diferença de proficiência entre alunos brancos e negros. Ou seja, a persistência desse efeito independente da raça sobre a proficiência escolar ao longo dos anos indica que tal diferença não pode ser compreendida como mera conseqüência de desigualdades econômicas ou sociais. Por conta desse efeito, estudantes negros e brancos que freqüentam a mesma escola possuem resultados educacionais desiguais, [pois] os estudantes brancos se beneficiam mais dos recursos escolares do que os estudantes negros, embora ambos grupos sejam beneficiados por escolas bem cuidadas e equipadas (Bonamino, Franco & Alves, S/D, Pp. 11-14).

Segundo o documento Fatores Associados ao Desempenho em Língua Portuguesa e Matemática: A Evidência do SAEB – 2003, organizado pela Fundação Cesgranrio os

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resultados do ajuste dos modelos aplicados à amostra do Saeb 2003 confirmam “fatos amplamente conhecidos sobre fatores individuais e escolares associados ao desempenho dos alunos”. No que se refere à relação entre raça e desempenho, o citado relatório confirma a manutenção de um efeito negativo e significativo da cor preta sobre a proficiência escolar mesmo quando se considera o “nível socioeconômico, o sexo e o atraso escolar” (Fatores Associados ao Desempenho em Língua Portuguesa e Matemática: A Evidência do SAEB – 2003, agosto de 2004, pp. 20-21). Ou seja, mesmo ao se comparar a proficiência escolar de alunas (ou apenas de alunos) brancas e pretas pertencentes ao nível socioeconômico mais alto e que não possuem defasagem entre sua idade e a série que estão cursando, ainda assim, as alunas brancas obtêm melhores níveis de proficiência escolar do que as alunas pretas. Estas desigualdades são apontadas como conseqüência de um processo de discriminação que ocorre no interior das escolas.

Portanto, a perspectiva interpretativa das desigualdades raciais no Brasil, a partir da década de 80, apóia-se fortemente na abordagem multiculturalista e na teoria de “oppositional culture”, sugerindo que o preconceito e a discriminação raciais presentes no cotidiano escolar seriam os responsáveis pelo efeito negativo da raça negra sobre o desempenho escolar (Figueira, 1990; Dias, 1980; Rosemberg 1987; Henriques,2001; Teixeira Poli, 2003)

O argumento central que orientou estas investigações é traduzido por Kabengele Munanga ao afirmar que “ o preconceito incutido na cabeça do professor e sua incapacidade em lidar profissionalmente com a diversidade, somando-se ao conteúdo preconceituoso dos livros e materiais didáticos e às relações preconceituosas entre alunos de diferentes ascendências étnico-raciais, sociais e outras, desestimulam o aluno negro e prejudicam seu aprendizado” (MUNANGA, 2001, p. 94).

É assim identificada na literatura duas dimensões fundamentais para a compreensão do funcionamento do preconceito e da discriminação raciais no ambiente escolar brasileiro: a dos recursos didáticos e práticas pedagógicas, e a das relações sociais no interior das escolas. Figueira (1990) afirma que os livros didáticos e os professores são responsáveis pela existência e reprodução do preconceito racial dentro do sistema formal. Também foi constatado alto grau de coerência do preconceito racial, pois um mesmo entrevistado mantinha seu padrão de resposta nos vários itens avaliados ( Figueira, 1990,pp. 64-66).

O debate sobre relações étnicos/raciais e educação é amplo, com diversas abordagens, entretanto, no caso brasileiro podemos registrar por um lado, a predominância de investigações que buscam explicar a desigualdade racial no desempenho escolar, a partir das relações sociais que ocorrem dentro da escola; e por outro, é um consenso relativo entre os

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pesquisadores sociais , de que ainda sabemos pouco, e é preciso avançar na investigação das relações raciais procurando aprofundá-la, a “ partir do ponto em que as pesquisas desenvolvidas até aqui parecem esgotar suas possibilidades de explicação, dadas as limitações de seu próprio referencial teórico e metodológico” ( Teixeira Poli , 2003: 30).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Breen e Jonsson (2005) fazendo um balanço das literatura internacional sobre desigualdades educacionais, chama a atenção para a necessidade de se avançar na compreensão teórica de como as desigualdades são criadas e mantidas, posto que as proposições marxistas e liberais contribuem para explicar as diferenças de resultado educacional, mas, não fornecem elementos do “porquê” os efeitos classe social e racial poderiam manter o diferencial de desempenho das trajetórias educacionais, num contexto de transformação sócio-econômica.

A análise dos contextos em que se têm desenvolvido os estudos sobre relações raciais no Brasil, aponta para a necessidade de aprofundar a investigação a partir de outros approaches teóricos, e em pelo menos duas grandes linhas: de um lado, buscar compreender “porque” as desigualdades raciais não são superadas, perguntando-se concretamente pelos mecanismos da estrutura social que estariam operando para que essas desigualdades sejam mantidas ou, até mesmo, acentuem-se com o passar do tempo; e qual o papel da política educacional, em um contexto de expansão da oferta educativa e desenvolvimento, no processo de reprodução das assimetrias raciais no Brasil. Isto indica a relevância de estudos que buscam compreender as assimetrias raciais no sistema educativo a partir tanto de sua relação com a estrutura social, quanto da lógica subjacente ao processo de formulação e implantação das políticas educativas ( Adelantado, Noguera e Rambla, 2000).

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