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Estratégias de Redes de Negócios: como os aglomerados favorecem o desempenho nas exportações

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Academic year: 2021

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Área Temática: Estratégia e Organizações

Estratégias de Redes de Negócios: como os aglomerados favorecem o desempenho nas exportações

AUTORA

LILIAN SOARES PEREIRA CARVALHO Universidade Presbiteriana Mackenzie

lilian_pereira@uol.com.br RESUMO

As redes de negócios têm sido amplamente discutidas e estudadas por diversos autores como forma de obter vantagem competitiva. Os aglomerados são formas que as redes de negócios assumem quando empresas semelhantes possuem proximidade geográfica. Eles podem ser geradores de vantagens competitivas para as empresas participantes na medida em que dão acesso a recursos que de outra forma as empresas individuais não obteriam ou teriam dificuldades em conseguir. A proximidade geográfica pode levar à concentração de mão-de-obra em torno do aglomerado e a facilidade de acesso a matérias-primas. Também a cooperação entre as empresas deve ser considerada como uma forma de obter desempenho superior, seja em inovação de produtos ou processos, ou a abertura de novos mercados consumidores. O texto procura estabelecer uma relação entre os aglomerados e o desempenho superior nas exportações. Esse trabalho tem relevância em analisar os autores que estudam o tema e relacioná-lo às exportações, um indicador pode contribuir com o crescimento não só das empresas, mas também dos países, pois a aceitação do mercado externo pode levar não só ao crescimento econômico das empresas participantes do aglomerado, mas também ao crescimento econômico de regiões inteiras, contribuindo para a competitividade de um país no mercado internacional.

Palavras chaves: Aglomerados, vantagem competitiva, exportações. ABSTRACT

Bussiness networks have been consistently studied by several authors as a way of obtaining competitive advantage. Clusters can be defined as the geographical concentration of companies. Clusters produce competitive advantage to participant firms as they can allow access to resources that firms would not obtain or they would be difficult to get. Geographical proximity can lead to concentration of labor force around the cluster and it could be easier to obtain raw material. Cooperation between firms should also be considered as a way to obtain superior performance, that is in product or process inovation, and also in search for new markets. This paper seeks to analyse works that have studied bussiness networks and clusters, and relate these topics to superior performance in exports. The superior performance in exports can contribute not only to growth of firms, but also to growth of entire regions, leading the country to achieve better performance in international markets.

Key words: Clusters, competitive advantage, exports.

1. INTRODUÇÃO

Em um ambiente globalizado como o atual, é preciso pensar na competitividade de micro e pequenas empresas frente a grandes corporações, algumas delas multinacionais. As grandes

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empresas possuem vantagens no ambiente em que atuam, seja por possuírem economias de escala, domínio tecnológico, poder de barganha com fornecedores e compradores ou até influência política, ameaçando o desempenho e a sobrevivência das micro e pequenas empresas.

O ambiente globalizado e as transformações no comércio internacional reavivaram o interesse nas formações de redes de micro e pequenas empresas, tendo em vista que em várias regiões do mundo existem concentrações de empresas que, apesar de pequenas individualmente, atuando em conjunto conseguem obter posições de destaque, conquistando mercados nacionais e internacionais.

Existem várias terminologias para este tipo de relacionamento entre empresas: redes de negócios, aglomerados, arranjos produtivos locais, sistemas produtivos inovativos locais, sistemas locais de produção, clusters, entre outros. Todas elas têm por objetivo descrever estratégias de cooperação entre empresas como forma de obter vantagem competitiva em seu ambiente. De acordo com Cassiolato e Lastres (2002):

“... a aglomeração de empresas e o aproveitamento de sinergias geradas por suas interações fortalecem suas chances de sobrevivência e crescimento, constituindo-se em importante fonte de vantagens competitivas duradouras. A participação em sistemas produtivos locais tem auxiliado empresas, especialmente as de micro, pequeno e médio portes, a ultrapassarem as barreiras ao crescimento, a produzirem eficientemente e a comercializarem seus produtos em mercados nacionais e até internacionais”.

Os aglomerados constituem um importante tipo de formação de fácil identificação, pois a proximidade geográfica permite que as empresas se concentrem em determinado local e tenham acesso a recursos de forma mais rápida e fácil do que se aventurassem sozinhas no mercado.

O objetivo deste trabalho é desenvolver uma relação entre pertencer a um aglomerado e obter um desempenho superior nas exportações. Tendo em vista que uma micro ou pequena empresa atuando sozinha teria dificuldades em se aventurar no mercado externo, pertencer a um aglomerado pode dar à empresa individual uma vantagem competitiva no sentido em que a própria localidade pode ajudar com acesso a recursos ou a cooperação entre as empresas participantes pode levar a abertura de novos mercados com mais facilidade.

2. Redes de Negócios

Alguns autores têm voltado sua atenção para a formação de redes no âmbito empresarial, levando em consideração quais os aspectos que caracterizam a formação de uma rede. Para Perry (1999), “As it is impossible to be a small business without linkages, at least customers if not suppliers and a range of bussines services as well, it seems that we need to differentiate ‘ordinary’ from network relations.”1 Neste sentido, serão apresentadas algumas visões do que são redes de negócios e o que as diferenciam de outras relações empresariais.

Uma primeira definição das redes de negócios deriva da perspectiva dos custos de transação. O artigo de Coase de 1937 coloca a questão de o quê são empresas e porquê elas existem. A explicação do autor é que as empresas são meios de diminuir os custos de transação. Entende-se por custos de transação os custos que ocorrem quando uma transação econômica é feita. Baseando-se no artigo de Coase, Williamson (1993) vê os mercados e as hierarquias como duas formas de organizar as atividades econômicas.

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Como é impossível ser um pequeno negócio sem laços com fornecedores, compradores e mais uma gama de serviços, parece-nos que é preciso diferenciar relações “comuns” das relações de redes. (Tradução nossa).

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Os mercados são mais eficientes quando uma relação entre agentes econômicos pode ser finalizada ou alterada a qualquer momento, ou o produto ou serviço está disponível (foi produzido) antes da compra, ou ainda quando existe um grau de confiança de que o contrato ou transação será concluído conforme as partes concordaram. Já as hierarquias providenciam soluções quando as três condições citadas anteriormente não são atendidas. Ou seja, o gerenciamento interno dos recursos diminui os custos de transação e por isso as hierarquias se apresentam como a forma mais eficiente. Nessa perspectiva, as redes de negócios são formas intermediárias, combinando elementos de mercado e de hierarquias. Se compararmos as redes aos mercados, elas possuem flexibilidade no gerenciamento de transações. Na comparação com as hierarquias, elas ainda possuem um certo grau de gerenciamento interno nos limites da empresa individual. (PERRY, 1999).

Em segundo lugar, Powell (1990) desenvolve a visão dos custos de transação modificada, na qual as redes não são somente formas transitórias ou residuais de organização empresarial, mas sim oferecem vantagens de acordo com atributos específicos que combinam características de hierarquias e de mercado. As redes são uma forma de organização flexível que permitem respostas rápidas, mas também possuem características de hierarquias que favorecem o comprometimento, não pela burocracia, mas pelos interesses mútuos dos participantes.

Uma terceira visão desenvolvida por Granovetter (1985) dá ênfase ao papel das relações sociais na formação das redes. Para este autor, em todas as transações econômicas estão embutidas as relações sociais, e nelas são encontradas tanto relações de cooperação como de competição, relações tácitas e também acordos formais. Por este ponto de vista, as redes não são percebidas somente como um caminho opcional, mas estão presentes em todos os tipos de relações entre empresas.

A discussão de o que são redes leva em conta basicamente as três perspectivas citadas acima. Na visão de Perry (1999), elas permitem o estudo de quatro tipos de redes de pequenas empresas. Essa tipologia admite tanto as redes como forma de diminuição dos custos de transação como a importância das relações sociais para sua sustentabilidade. Há que se considerar que os tipos de redes podem se sobrepor

Abaixo são descritos os tipos de redes, as características dos laços interorganizacionais, exemplos de cada tipo e pontos importantes de cada tipo de rede:

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Tipo De Rede Laços Interorganizacionais

Exemplos Pontos Importantes

Familiar e

Étnica

Laços basedados na

família e contatos pessoais

Organizações formadas por minorias étnicas, negócios familiares Dependência de recursos étnicos, enclaves econômicos, impactos de racismo Local ou Aglomerado Proximidade geográfica e comprometimento mútuo derivado de valores e metas comuns

Vale do Sílicio, Terceira Itália Sustentabilidade, variação entre os distritos industriais, origem como uma barreira para a multiplicação do modelo Organizacional Laços de investimento ou

de propriedade, sociedade em associações industriais

Joint Ventures, Câmaras de

Comércio, Grupos de Negócios

Status de pequenas empresas em grupos de horizontalilação e verticalização, influências na cooperação industrial Comprador-Fornecedor

Interação para ampliar o papel de fornecedores e terceiros

Terceirização relacional Extensão da mudança na relação de terceirização, impactos na manufatura global

Fonte: Adaptado de Perry (1999)

O primeiro tipo de redes de empresas é a familiar e étnica. Para Perry (1999) elas são construídas em pela associação de familiares, amigos e conhecidos. A força deste tipo de rede deriva da confiança e do comprometimento entre familiares e pessoas próximas ao negócio. Este tipo de rede pode sofrer de dependência dos recursos de mão-de-obra de uma comunidade étnica, impactos de racismo e enclaves econômicos na medida em que as redes se fechem para outras empresas ou pessoas de outras comunidades.

O segundo tipo é a rede local ou aglomerado, que tem por característica a proximidade geográfica. Existem muitas variações neste tipo de rede, derivadas principalmente dos diferentes laços que unem as empresas participantes. Uma combinação de forças familiares, legislativas, políticas e históricas podem induzir a um comprometimento com determinado local. Há variação também no tipo de conhecimento gerado pelas redes locais e o seu grau de especialização. Um exemplo deste tipo de rede é a região do Vale do Silício nos Estados Unidos. No mesmo local está a mão-de-obra especializada necessária no mercado de tecnologia da informação que permite aos empresários construírem negócios mais rapidamente por essa proximidade de pessoal especializado. (PERRY, 1999).

Os outros dois tipos são as redes organizacionais e as redes de compradores e fornecedores. O primeiro tipo leva em conta a cooperação entre empresas, através de joint-ventures, grupos de negócios e câmaras de comércio. Já as redes de compradores e fornecedores levam em conta a terceirização, mas em um grau de comprometimento maior do que o de relações de terceirização “normais”. Um exemplo seria a “Toyota City”, onde a empresa Toyota desenvolveu o comprometimento de seus fornecedores e os envolveu no seu processo de produção. (PERRY, 1999).

Além dos tipos de redes, podem ser descritos os diferentes de vínculos que ligam as empresas participantes. Segundo Nadvi (1997), eles podem ser:

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- Verticais: referem-se às ligações entre empresas e seus fornecedores sub-contratados ou a ligações entre empresas e seus clientes compradores. A cooperação vertical pode envolver processos como gestão de estoques, desenvolvimento de produtos e processos, controle de qualidade, gestão de marketing, entre outros;

- Horizontais: envolve empresas competidoras entre si e podem também englobar instituições de apoio e fomento à atividade empresarial, como associações comerciais; e

- Multilaterais: envolve tanto empresas de um mesmo nível como seus fornecedores e compradores. Envolve também a participação de entidades de apoio à atividade empresarial da região com o objetivo de instalar e administrar estruturas de comércio local, facilitar o acesso à informação e fomentar parcerias com centros de pesquisa e prestação de serviços.

Para este estudo será considerada a tipologia local ou aglomerado, com ênfase aos benefícios gerados para as empresas participantes deste tipo de rede na obtenção de recursos que, de outra forma, não seriam alcançados sem a proximidade entre as empresas, levando em consideração os tipos de vínculos que as empresas podem adotar como forma de obter vantagem competitiva e resultados superiores nas exportações.

2.1 Aglomerados

Um dos primeiros estudos a explicar porque as empresas se concentram em determinado local foi o realizado por Alfred Marshall sobre economias locais na Grã-Bretanha do início do século XX. A efetividade destes aglomerados deriva do que o autor chamou de “commons”: a concentração de mão-de-obra especializada, serviços intermediários (o aglomerado facilita o acesso de fornecedores especializados) e inteligência industrial (a informação “flui” nos limites do aglomerado mais rapidamente difundindo novas idéias e conhecimento), itens nos quais as empresas individuais tanto contribuem como se beneficiam, e muito de sua vantagem competitiva é derivada desta dinâmica. (PERRY, 1999; PORTER, 1999; SCHMITZ, 1999).

Outro autor que deu grande ênfase a essa formação particular foi Porter (1999). Para ele, os aglomerados são concentrações geográficas de empresas inter-relacionadas, fornecedores especializados, prestadores de serviços, empresas em setores correlatos e outras instituições como universidades, órgãos públicos e associações comerciais.

Os aglomerados influenciam o desempenho das empresas de três maneiras: pelo aumento da produtividade da empresa ou dos setores componentes, pelo fortalecimento da capacidade de inovação e pelo estímulo à formação de novas empresas, favorecendo a inovação o crescimento do aglomerado.(PORTER, 1999). Os mecanismos que sustentam esse desempenho são resumidos no quadro abaixo:

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Mecanismos Descrição Acesso a insumos e a

pessoal especializado

A localização no interior do aglomerado proporciona acesso a insumos de melhor qualidade e/ou de menor custo em

comparação com o mercado individual.

Acesso à informação As informações técnicas, de mercado e sobre outras áreas acabam se concentrando no aglomerado e em suas empresas. O acesso é de melhor qualidade e a custos inferiores, permitindo aumento de produtividade.

Complementaridade Facilitação das complementaridades entre as atividades dos diferentes participantes.

Acesso a instituições e bens públicos

Os aglomerados transformam em bens públicos (para as empresas participantes) insumos que seriam dispendiosos. Incentivos e

mensuração de desempenho

Os aglomerados melhoram os incentivos dentro das empresas para a obtenção de altos níveis de produtividade. A rivalidade com os competidores locais exerce um efeito estimulante.

Fonte: Adaptado de Porter (1999) Como se vê no quadro acima, os vínculos de cooperação e de competição que as empresas estabelecem, sejam eles com fornecedores, compradores ou com concorrentes podem influir nos mecanismos que melhoram o desempenho do aglomerado como um todo. Seja pela localidade, com acesso a insumos e pessoal especializado, ou pela complementaridade entre empresas, estes vínculos melhoram o desempenho da empresa individual participante de um aglomerado. (NADVI, 1997; PORTER, 1999).

Autores nacionais também dão grande destaque aos aglomerados como associações entre empresas que podem gerar vantagem competitiva. Para Cassiolato e Lastres (2003): “... o reconhecimento de que o aproveitamento das sinergias coletivas geradas pela participação em aglomerações produtivas locais efetivamente fortalece as chances de sobrevivência e crescimento, particularmente das micro e pequenas empresas, constituindo-se em importante fonte geradora de vantagens competitivas duradouras”. Pode-se concluir que, tanto para Porter (1999) como para Cassiolato e Lastres (2003) os aglomerados são fontes de vantagem competitivas e representam uma influência no desempenho da empresa individual.

Segundo Cassiolato e Lastres (2003) são os processos de aprendizagem coletiva, cooperação e dinâmica inovativa dos aglomerados os responsáveis pelo desempenho superior das empresas participantes.

Para Humphery e Schmitz (1997) empresas semelhantes produzindo na mesma localidade trazem benefícios estáticos e dinâmicos. Os benefícios estáticos ajudam as empresas a se especializarem, atraindo fornecedores, compradores e operários especializados. Já os benefícios dinâmicos referem-se aos vínculos de cooperação, como a difusão de idéias inovadoras, a participação em associações comerciais e a busca de novos mercados para seus produtos.

Os autores que estudam os aglomerados como formações que facilitam a obtenção de vantagem competitiva concordam que não só a localidade influencia, mas também o acesso à informação, os vínculos de cooperação e a atividade coordenada das empresas podem melhorar o desempenho do aglomerado em se tratando de inovação de produtos e processos, abertura de novos mercados e ganhos de produtividade.

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2.1.1 Aglomerados e Desempenho nas Exportações

Schmitz (1999) preocupou-se em explicar as razões que levam um aglomerado a ser bem sucedido como um pólo exportador. Ele realizou estudos empíricos em dois aglomerados: o Vale dos Sinos no Brasil e a região de Sialkot no Paquistão. A região do Vale dos Sinos (sul do país) possui mais de 400 empresas produtoras de calçados e cerca de 70% de sua produção é destinada às exportações. Já a região de Sialkot no Paquistão possui mais de 300 empresas produtoras de instrumentos cirúrgicos e mais de 90% de sua produção é destinada à exportação, principalmente a países da Europa e da América do Norte.

Tendo em vista estes estudos, para o autor são dois os motivos que levam um aglomerado a ser bem sucedido como pólo exportador: o primeiro deles são as economias externas. Elas levam em conta a visão Marshalliana (vide item 3.2). As economias externas são os “commons” citados no item anterior. Elas são involuntárias, incidentais e, sozinhas, não podem explicar a totalidade do desempenho de um aglomerado. (PERRY, 1999, PORTER, 1999; SCHMITZ, 1999).

Em relação às economias externas há que se considerar que elas podem levar à falência de um mercado. Para explicar essa idéia, deve-se ressaltar que existem dois tipos de economias externas: pecuniária e tecnológica. A economia externa pecuniária acontece quando, por exemplo, um investimento da empresa X leva a um aumento nos pedidos ao fornecedor Y. Esse aumento da produção em Y leva a uma diminuição do preço unitário do produto de Y não só para a empresa X, mas para todos os clientes de Y. Já a economia externa do tipo tecnológica não se reflete diretamente no preço dos produtos. Um exemplo seria a empresa X investir em uma nova tecnologia de produção e treinar seus funcionários, que posteriormente irão trabalhar na empresa Y ou Z, fazendo com que a empresa X perca o ineditismo de seu investimento na nova tecnologia. Essa idéia pode levar à conclusão de que não há sentido em participar de um aglomerado, já que existe o risco de que a empresa seja prejudicada com vazamento de informações. Mas isso não acontece porque, em um aglomerado, as empresas são tanto fontes como receptoras das economias externas. Nesse caso, o que as empresas participantes recebem de benefícios supera o que elas perdem devido a essa eventual falha do mercado. (SCHMITZ, 1999).

O segundo motivo que explica o desempenho superior de um aglomerado é a ação conjunta. Ela pode ser de dois tipos: bilateral (empresas individuais cooperando, compartilhando equipamentos ou desenvolvendo novos produtos) ou multilateral, na qual grupos de empresas unem-se em associações. Dividindo-se esses dois tipos de ações, podem-se descrever cooperações horizontais (entre competidores de uma mesma indústria) e cooperações verticais (entre fornecedores e compradores). A convergência de interesses, a mediação de crises e a difusão de informações são benefícios da ação conjunta que explicam como os aglomerados conseguem aproveitar oportunidades e superar crises. (SCHMITZ, 1999).

Perry (1999) também se preocupou com a ação conjunta. Para ele, as empresas participam de “grupos de ação conjunta” por três motivos: desenvolvimento de novos mercados, manutenção das estratégias de marketing do grupo e para melhorar a performance de uma rede pelo compartilhamento de recursos e suporte aos projetos da rede. Há uma concordância entre Perry (1999) e Schmitz (1999) quando se trata da ação conjunta: ambos descrevem-na como um dos fatores para que a rede ou aglomerado seja bem sucedido nas exportações (desenvolvimento de novos mercados no caso de Perry).

Para Porter a cooperação entre empresas não tem lugar central no desempenho de um aglomerado. Nessa perspectiva, principalmente no que se refere à pesquisa e desenvolvimento, a cooperação não deve ser estimulada. Quando o autor se refere à complementaridade entre empresas (vide item 3.2) ele se atém mais aos benefícios da localidade do que da cooperação e

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ação conjunta. Por exemplo, “no turismo (...) a qualidade da experiência do visitante depende não só do apelo principal da atração (como praias ou localidades históricas), mas também do conforto e do serviço dos hotéis, restaurantes, lojas de suvenires, aeroportos outros meios de transporte e assim por diante”.

Apesar da posição cética de Porter (1999) aos benefícios da ação conjunta, os estudos de Perry (1999) e Schmitz (1999) mostram que as empresas participantes em um aglomerado se beneficiam mais do que são prejudicadas pela iniciativa consciente de cooperarem e buscarem um objetivo comum. Schmitz (1999) vai além, dizendo que a superação de crises e aproveitamento de oportunidades se dá principalmente pela ação conjunta.

Um último conceito foi desenvolvido por Schmitz (1999): a eficiência coletiva. Para o autor, as economias externas, somadas à ação conjunta, resultam na eficiência coletiva dos aglomerados. As economias externas, citadas anteriormente são incidentais, mas a ação conjunta é perseguida pelas empresas do aglomerado conscientemente. Esses dois conceitos são fundamentais para entender as razões pelas quais um aglomerado alcança desempenho superior nas exportações. Nesse sentido, a eficiência coletiva é a vantagem competitiva dos aglomerados.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As redes de negócios têm chamado cada vez mais a atenção dos autores e explicar as razões de seu sucesso têm sido um grande desafio. Os aglomerados, foco deste trabalho, são de fácil identificação pela proximidade geográfica das empresas participantes e estudá-los permite que sejam analisados os benefícios da localidade, que podem dar às micro e pequenas empresas acesso a recursos que de outra forma não seriam obtidos.

Os benefícios da localidade não podem ser ignorados, mas no caso do crescimento dos aglomerados e de sua expansão nas exportações, um outro motivo para o desempenho vêm à tona: a ação conjunta. Ela pode ser descrita como um benefício dinâmico dos aglomerados, e estudos empíricos realizados por Schmitz (1999) mostram que este aspecto não pode ser deixado de lado quando se trata de aglomerados com desempenho superior nas exportações.

Descobrir as razões que levam um aglomerado a ser bem sucedido é de extrema importância para as micro e pequenas empresas e também para os países, pois fomentar este tipo de rede de negócio pode levar ao crescimento de regiões inteiras.

Para Perry (1999), o aglomerado pode ser um tipo de rede de difícil imitação, por isso estudar como os aglomerados surgem, obtém vantagem competitiva e sustentabilidade é de fundamental importância para que essas características possam ser replicadas em outras regiões.

Há que se aprofundar os estudos sobre cooperação e ação conjunta das empresas participantes de um aglomerado, já que muita ênfase é dada aos benefícios da localização, mas nem todos os autores concordam nos efeitos positivos da ação conjunta. É preciso entender melhor este mecanismo da cooperação e analisar as situações nas quais ela é útil para o aglomerado e de que forma torná-la mais eficaz.

REFERÊNCIAS

Cassiolato, J. E..; Lastres, M. H.. Arranjos e Sistemas produtivos locais na indústria brasileira., 2002. Disponível em: http://redesist.ie.ufrj.br. Acesso em 12/03/2006

Cassiolato, J. E; Lastres, H. M. O foco em arranjos produtivos e inovativos locais de micro e pequenas empresas. In: Lastres, M. H..; Cassiolato, J. E.; Maciel, M. L. (Org.). Pequena empresa: cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003.

Coase, R.H. The nature of the firm (1937). In Willianson, Oliver; Winter, Sidney G.(ed) The nature of the firm: Origins, evolution, and development. Oxford: Oxford University Press, 1993.

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Granovetter, M. S. Economic action and social structure: the problem of embeddedness. American Journal of Sociology, v. 91, n. 3, p. 481-510, 1985.

Humphery, J; Schmitz, H. Princípios para promoção de pólos e redes de PME´s. In: Passos, C. F. Desafios para as PME´s. São Paulo: IPT/SEBRAE-SP, 1997. p. 139-172.

Nadvi, K. The cutting edge: collective efficiency and international competitiveness in Pakistan. Discussion Paper, v.360. Brighton: University of Sussex/Institute of Development Studies, 1997 Perry, M.Small firms and network economies. New York: Routldege, 1999.

Porter, M. E. Competição - On Competition. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

Powell, W. Neither markets nor hierarchy: network forms of organization (1990). In: Cummings, L. ; Shaw, B. (eds) Research in Organizational Behavior, Vol12, Greenwich, CT: JAI Press, 1997.

Schmitz, H. Collective efficiency and increasing returns. Cambridge Journal of Economics, v. 23, n. 4, p. 465-483, jul. 1999.

Williamson, O.; Winter, S. G.(ed) The nature of the firm: Origins, evolution, and development. Oxford: Oxford University Press, 1993.

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