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A adoção das IFRSS na perspectiva da subjetividade: uma investigação quanto a evidências de gerenciamento de resultado

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ISSN 2179-5037

Revista UNIABEU Belford Roxo V.6 Número 13 maio- agosto 2013

A ADOÇÃO DAS IFRSs NA PERSPECTIVA DA

SUBJETIVIDADE: UMA INVESTIGAÇÃO QUANTO A EVIDÊNCIAS

DE GERENCIAMENTO DE RESULTADO

Jane Kelly Batista Ramalho Pedroza1 Jaqueline Gomes Rodrigues de Araújo2 Márcia Reis Machado3

RESUMO: A proposta deste estudo é verificar se existem evidências de gerenciamento de resultados antes e após a adoção de IFRSs no Brasil, em empresas classificadas no nível 1 de governança corporativa da BM&F BOVESPA. A pesquisa está baseada em uma amostra de 27 empresas, já extraídas as instituições financeiras classificadas nesse nível. O período analisado compreende o período de 2004 a 2011, e o modelo utilizado para detecção de gerenciamento de resultados foi o modelo de Burgstahler e Dichev (1997). Para a análise dos dados, utilizou-se de estatística descritiva e distribuição de frequência (histograma), como prevê o modelo. As evidências encontradas nesta pesquisa indicam a existência de gerenciamento de resultados em torno de zero no Brasil. Esses resultados são condizentes com o estudo realizado por Burgstahler e Dichev (1997). No entanto, não se pôde verificar o grau de intensidade deste gerenciamento, em virtude de limitação própria do modelo. Os resultados também não permitem confirmar se a adoção das IFRSs foi o único fator determinante desse resultado, visto que não são percebidas grandes variações nos períodos analisados (Pré e Pós IFRS).

Palavras-chave: gerenciamento de resultados; IFRSs; demonstrativos financeiros.

The IFRS adoption of the perspective of subjectivity: an investigation as a result of evidence of management

ABSTRACT:The purpose of this study is to determine if there is evidence of earnings management before and after the adoption of IFRSs in Brazil, in companies classified in Level 1 of Corporate Governance of the BM & F BOVESPA. The research, based on a sample of 27 companies, has drawn financial institutions classified at this level. The sample period covers the 2004-2011 period and the model used for detecting earnings management was the model of Burgstahler and Dichev (1997). For data analysis, we used descriptive statistics and frequency distribution (histogram) as the model predicts. The evidence found in

1

Mestranda do Programa Multiinstitucional e Inter-regional de Pós graduação em Ciências Contábeis UNB/UFPB/UFRN. PB, Brasil.janekramalho@hotmail.com

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Mestranda do Programa Multiinstitucional e Inter-regional de Pós graduação em Ciências Contábeis UNB/UFPB/UFRN. PB, Brasil.jgr_jaque@hotmail.com

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Doutora do Programa Multiinstitucional e Inter-regional de Pós graduação em Ciências Contábeis UNB/UFPB/UFRN.PB, Brasil.marciareism@hotmail.com

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this study indicates the existence of earnings management around zero in Brazil. These results are consistent with the study by Burgstahler and Dichev (1997). However, it was not possible to verify the degree of intensity of management, due to limitations of the model itself. The results did not allow us to confirm whether the adoption of IFRS was the only determinant of this result, since wide variations are not perceived in the analyzed periods (pre and post IFRS).

Keywords: earnings management; IFRS; financial statements.

1 INTRODUÇÃO

A diversificação das formas pelas quais os negócios vêm acontecendo, influenciadas pelo processo genericamente denominado de globalização, têm resultado em negócios cada vez mais complexos, cuja gestão requer informações contábeis mais detalhadas, preparadas visando uma maior compreensão dos resultados e que possam refletir a realidade econômica dos fatos das organizações.

Nesse ambiente, é possível afirmar que as práticas contábeis, assim entendido o processo de preparação de informações contábeis para os interessados no patrimônio das organizações, também foram, de certa forma, “globalizadas”, ou seja, vários países, de todos os continentes, iniciaram um processo de convergência com as normas emitidas pelo International Accounting Standards Board - IASB, inclusive o Brasil.

Por valorizar em seu conjunto de normas mais a essência econômica que a forma jurídica, esse conjunto de princípios requer do preparador dos demonstrativos financeiros julgamentos acerca de alguns itens. Esse fato é importante para que se avance no desenvolvimento da contabilidade como ciência e para que se forneçam informações úteis que possam amparar os stakeholders.

Sob a ótica dos conflitos de agência, considerando a assimetria informacional existente na relação administradores e acionistas, verifica-se que cada um desses agentes tem interesses distintos. Considerando o lucro como um dos principais números produzidos pela empresa, os incentivos dados aos agentes podem conduzi-los a enviesar as informações contábeis e, consequentemente, a percepção dos investidores e outros usuários da informação contábil.

A necessidade da divulgação dos critérios e das premissas que fundamentaram os julgamentos realizados é importante para os stakeholders,

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principalmente para os acionistas e investidores, pois garantem maior transparência e comparabilidade das informações contidas nos relatórios financeiros.

Diante do exposto, o presente estudo tem por o objetivo identificar empiricamente se existem ou não evidências de gerenciamento de resultados, sob a ótica de suavização de resultados, através da análise das contas de receita, lucro operacional e ativo total das empresas classificadas em Nível 1 de Governança Corporativa da BM&F BOVESPA, utilizando como base o modelo de gerenciamento de resultados proposto por Burgstahler e Dichev (1997).

2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Regulação contábil

Alterações no ambiente de negócios, das quais resulta, entre outros aspectos, a necessidade de informações de natureza financeira, econômica e social de maior qualidade, isto por parte dos usuários, tem resultado em profundas alterações na prática contábil. Em se tratando de Normas Internacionais de Contabilidade - NIC, pode-se identificar a adoção de práticas que permitam maior transparência e qualidade das informações contidas nos relatórios financeiros.

O processo de regulação inicia-se após a criação do AICPA – American Institute of Certified Public, órgão que reuniu profissionais registrados por meio de um certificado público. A preocupação do governo em proteger os cidadãos do jogo de interesse pelas estradas de ferro nos Estados Unidos, por volta de 1830, levou à criação do ICC – Interstate Commerce Comission, responsável pela criação de um sistema contábil uniforme. A SEC – Securities and Exchange Comission surge em 1934, após o contexto da crise de 1929, com a missão de supervisionar o processo de divulgação de informações contábeis, delegando mais tarde a fixação dos padrões de contabilidade a órgãos privados como o CAP (1936), o APB (1959) e o FASB desde 1972.

É importante destacar que a regulamentação existe não somente em detrimento do interesse do Estado em munir a sociedade de informações financeiras, conforme afirmam Deegan e Unerman (2011). Na perspectiva das teorias pró-regulação a informação contábil é um bem público, e um de seus benefícios está associado à redução das falhas de mercado.

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A normatização no Brasil, de acordo com Niyama e Silva (2008), inicia-se em 1808 com a determinação de utilização das partidas dobradas e, mais tarde, com o primeiro Código Comercial Brasileiro, em 1850, estabelecendo os padrões de escrituração contábil. A obrigatoriedade de publicação surge em 1860 com a Lei nº 1.083. A partir de então, as obras didáticas e os encontros de classe apoiam esse processo até momentos atuais.

Assim, como o Fasb emitia padrões de contabilidade americanos, o IASB - International Accounting Standards Board, órgão apoiado por países da União Europeia, emitia padrões de contabilidade internacional. O IASB ganhou força e com a iniciativa de diversos organismos em nível mundial, a aplicação dos padrões por ele emitidos pôde ser notada no Brasil a partir do ano 2000, com a publicação de documentos da CVM e do Banco Central, mais tarde com a criação do CPC. Enfatiza-se aqui o esforço dos órgãos que criaram o CPC, juntando órgãos normatizadores e academia para a aceitação de padrões de contabilidade internacional.

O órgão responsável pela emissão de padrões de contabilidade, mais recentemente, tem sido o IFRS International Financial Reporting Standards, aceito por vários países em todo o mundo, incluindo Estados Unidos, que aos poucos estão aderindo às normas internacionais de contabilidade.

A justificativa da existência de regulamentação se sustenta na busca por uniformidade e comparabilidade das informações divulgadas pelas entidades, embora no início do processo os contadores tenham apresentado resistência em função da flexibilidade de divulgação integral. Essa busca pela legitimidade tem alcançado nos últimos anos a maioria dos países no mundo, inclusive o Brasil.

O processo de regulação das NIC - Normas Internacionais de Contabilidade tem refletido em informações mais transparentes e comparáveis proporcionando maior qualidade da informação. Como todo processo de mudança acompanha benefícios e implicações, com as NIC não acontece diferente. Entretanto, essa premissa requer do agente preparador das demonstrações financeiras um nível maior de julgamento quanto a eventos críticos, e, embora muitos autores defendam a regulação como meio de impedir práticas gerencias discricionárias, as normas internacionais de contabilidade, ao permitirem o uso da subjetividade, pode ganhar maior espaço o uso de ações discricionárias por parte dos gestores.

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2.2 Teoria da agência

Considerando a complexidade da economia moderna, a importância da informação contábil baseada nos resultados é motivada pela Teoria da Agência. A teoria da agência, desenvolvida por Jensen e Mecling (1976), tem como pressuposto básico a existência de mercados que são regidos por contratos firmados entre agente e principal, sendo estes considerados respectivamente gerentes ou administradores e acionistas. Jensen e Mecling (1976) conceituam os custos de agência, mostram sua relação com a separação entre controle e propriedade e investigam a natureza de tais custos. Neste sentido, a teoria da firma representa um conceito criado pelo economista britânico Ronald Coase, em seu artigo The Nature of Firm, em 1937.

A problemática da agência tem em sua essência a separação entre propriedade e controle, sendo que os problemas de agência ocorrem quando os desejos ou objetivos do principal e dos agentes estão em conflitos e é caro e difícil monitorar o comportamento destes (JENSEN; MECKLING, 1976).

Sendo assim, a teoria justifica a relevância da contabilidade nas empresas, tendo em vista que a busca pelas demonstrações contábeis e pela neutralidade destas é necessária para diminuir a assimetria informacional inerente ao mercado.

Considerando a premissa de que existem interesses distintos entre esses indivíduos, e que o “principal” está interessado no resultado gerado por seus “agentes”, Paulo (2007) infere que cada agente espera maximizar a sua própria riqueza, conforme versa a essência dessa teoria, e isso é acentuado pela problemática da assimetria informacional. Os contratos existem na tentativa de se estabelecer equilíbrio aos objetivos conflitantes, sendo considerados mecanismos ineficientes em função de situações futuras não serem totalmente previstas, cabendo ações discricionárias por parte dos agentes (SHLEIFER e VISHNY, 1997; JENSEN e MECKLING, 1976).

A assimetria informacional existente na relação agente-principal é inerente à contabilidade financeira e concentra-se nos problemas causados por informações imperfeitas e incompletas. Lopes e Martins (2005) reforçam que os administradores possuem informações mais completas sobre o desempenho da empresa do que os

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investidores. Nesse contexto, a informação contábil contribui reduzindo o impacto desses conflitos de interesse.

2.3 Gerenciamento de resultados

Sob a ótica dos conflitos de agência, o lucro pode ser utilizado como base para a atribuição de bonificações aos administradores, bem como para a distribuição de dividendos aos acionistas. Lopes e Martins (2005) inferem que o lucro é um dos números mais importantes produzidos pela contabilidade, possuindo inúmeras utilizações. Desse modo, é importante considerar que esse resultado pode contemplar ajustes contábeis de natureza discricionária, tendendo para algum objetivo particular. Esses ajustes contábeis são classificados por Paulo (2007) como um tipo de manipulação da informação contábil conhecida como gerenciamento de resultados.

A expressão Earning Manangement, que corresponde ao termo gerenciamento de resultados, é conceituada, segundo Healy e Wahlen (1999), como o uso de julgamento dos administradores na elaboração das demonstrações contábeis, com intuito de iludir algumas das partes interessadas. Schipper (1989) reforça esse entendimento onde gerenciamento é uma intervenção de caráter proposital, das demonstrações contábeis, com a intenção de obter benefícios particulares.

Sob a ótica da relação agente-principal, diversos estudos empíricos apresentam um conjunto de incentivos para o agente agir oportunisticamente. O entendimento de alguns aspectos no comportamento dos administradores e dos acionistas é essencial para compreender quais os incentivos econômicos estão por trás das atitudes desses agentes. A literatura aponta alguns desses incentivos, dentre eles: evitar a divulgação de perdas, a suavização dos resultados contábeis e a remuneração baseada em desempenho.

Conforme Burgstahler e Dichev (1997), existe um tipo específico de gerenciamento de resultados que consiste na realização de mecanismos que evitem a apresentação de pequenos prejuízos, o que poderia ser categorizado como “gerenciamento de resultados em torno de zero”. Lopes e Martins (2005) citam ainda como incentivos que estão presentes na atuação dos administradores a própria legislação societária.

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Em muitos casos, conforme enfatiza Vieira (2010), as normatizações dão aos administradores possibilidades de agir discricionariamente nas escolhas de procedimentos contábeis, através dos accruals. Quanto mais estimativas e julgamento, maior o volume de accruals nos números contábeis, como reforça Paulo (2007).

Associando os conceitos abordados pela teoria que trata do gerenciamento de resultados e os padrões internacionais de contabilidade baseado nas IFRS, vem à tona um questionamento acerca dos impactos dos julgamentos contábeis exigidos pela aplicação das normas, nas demonstrações contábeis.

Verifica-se que a subjetividade é uma característica presente nas IFRS, o que pode ter como consequência um aumento no nível de gerenciamento de resultados, além do comprometimento na qualidade da informação contábil.

2.4 subjetividade em contabilidade

As normas internacionais de contabilidade pautam-se em uma contabilidade baseada mais em princípios que em regras. Essa abordagem pode ser percebida ao longo da edição de seus pronunciamentos, e esse fator requer certo julgamento por parte dos preparadores dos demonstrativos financeiros. Esse é um tema convidativo a discussão acerca da preparação do profissional e da utilização dessa premissa como poder discricionário por alguns gestores.

Com a adoção das NIC, os profissionais terão que abandonar a utilização de um conjunto de regras e passar a utilizar um conjunto de princípios. Essa observação pode ser vista nos escritos de Niyama (2011) e Epstein e Jermakowicz (2011), onde existe a inserção do conceito de True and Fair View nas normas editadas, conforme pode ser notado no IAS 1. A visão verdadeira e justa apoia a opção pela escolha da contabilização do fato com suas características econômicas, onde, mesmo existindo a forma jurídica de um evento, deve prevalecer a essência econômica da transação. Entre esses fatores, a escolha da política contábil utilizada pode ser vista como um dos aspectos estratégicos a serem adotados pela organização. Diante desse fato, pode-se comentar que a subjetividade é inerente ao ser humano e seus julgamentos podem ser afetados por algum tipo de viés, seja pela formação profissional ou valores culturais.

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Essas limitações, segundo Iudícibus (2007), fazem parte das fases pelas quais a contabilidade tem passado para evoluir rumo ao futuro, onde fatores favoráveis e desfavoráveis conflitam em um processo de desenvolvimento. Na fase mais recente do desenvolvimento, o autor defende que ao mesmo tempo em que se preconiza uma subjetividade responsável pelo profissional contábil nota-se a interferência governamental. Esse aspecto pode ser notado na visão de Fugi e Slomski (2003) em uma resposta à real necessidade de mudanças para que se forneçam informações que subsidiem as decisões dos usuários.

Destaca-se que, mesmo existindo a busca dos órgãos reguladores por informações comparáveis, visando um padrão de alta qualidade, Frezatti et al. (2011) expõem que a vertente subjetividade é um fator limitador da convergência às normas internacionais. De certa forma, ao se auferir julgamento, deve-se considerar fatores que podem não ter o efeito esperado de uma subjetividade responsável. Nas palavras de Frezatti et al. (2011), esse pensar responsável não representa uma tarefa fácil, é preciso reformular todo um pensamento já legitimado no campo da contabilidade.

3 METODOLOGIA

3.1 Caracterização da pesquisa

O presente estudo caracteriza-se como pesquisa empírico-analítica. O método quantitativo caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas, desde as mais simples como percentual, média, desvio-padrão, às mais complexas como coeficiente de correlação, análise de regressão, etc. (RICHARDSON et al., 2008).

A população do presente estudo compreende as 35 empresas listadas no Nível 1 de governança corporativa da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBOVESPA). Essa classificação no mercado financeiro preconiza que empresas classificadas no Nível 1 devam emitir demonstrações financeiras transparentes e com boas práticas de Governança Corporativa. As informações referentes às demonstrações financeiras foram coletadas através do banco de dados Economática.

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As empresas dos setores “financeiro” e “fundos” foram excluídas da população por possuírem regulamentação específica, o que poderia impactar nas variáveis utilizadas, e, consequentemente, nos histogramas utilizados para este estudo. Igualmente, foram excluídas as entidades que não apresentaram dados suficientes para o estudo, decorrendo em uma amostra de 27 empresas analisadas nos anos de 2004 a 2011, e resultando em um total de 162 observações. Para o estudo foram coletados dados relativos à receita, lucro líquido e ativo total das empresas dos anos de 2004 a 2011. Não foram utilizados os dados referentes aos anos de 2007 e 2008 por se tratar do período de transição para as IFRSs no Brasil. Portanto, a análise concentrou-se nos anos de 2004 a 2006, considerado como período Pré-IFRS, e 2009 a 2011, como Pós-IFRS.

Neste estudo, analisa-se o gerenciamento de resultados sob a perspectiva da suavização de resultados, categorizado como “gerenciamento de resultados em torno de zero”. Esse modelo de gerenciamento é previsto por Burgstahler e Dichev (1997), onde a distribuição de frequência (histograma) dos resultados foi associada ao gerenciamento de resultados a partir da observação de que poucas de empresas apresentam pequenos prejuízos e muitas de empresas apresentam pequenos lucros. O trabalho dos autores reporta à discussão de que gestores possuem aversão em apresentar resultados negativos, tornando-se mais provável que a empresa venha a apresentar pequenos ganhos ao invés de pequenos prejuízos em torno de zero.

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

A primeira análise consiste em encontrar a média da receita, lucro operacional e ativo total das empresas classificadas no Nível 1 de Governança. Na segunda análise, optou-se por utilizar o valor dos ativos totais para medir em percentagem a variável lucro líquido, que é a variável de interesse na análise. A partir desse resultado será calculada a distribuição de frequência que será apresentada em histograma, conforme prevê o modelo.

Inicialmente, apresenta-se a Tabela 1, onde são apresentados os resultados obtidos das médias de lucro líquido dividido pelo ativo total de cada empresa, para o

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período Pré-IFRS, compreendido entre 2004 e 2006, e o período Pós-IFRS, 2009 a 2011.

Tabela 1: Resultado da divisão de lucro líquido sobre ativo total

Nº de empresas Resultados Pré-IFRS Resultados Pós-IFRS

1 0,0895 0,1163 2 0,0778 0,1311 3 0,0303 0,0244 4 0,0289 0,0187 5 -0,0076 0,1256 6 -0,0047 0,0180 7 0,0854 0,0655 8 0,0984 0,1005 9 0,0647 0,0624 10 -0,0006 0,1633 11 0,0095 0,0139 12 -0,0416 0,0929 13 0,1039 0,0756 14 0,1364 0,0681 15 0,1259 0,0383 16 0,0598 0,0146 17 0,0038 0,0092 18 0,0174 0,0110 19 0,0815 0,0326 20 0,0234 0,0053 21 0,0216 0,0249 22 0,1066 0,0638 23 0,0658 0,0314 24 0,0631 0,0946 25 0,0618 -0,1946 26 0,1746 0,0334 27 0,1378 0,1236

Fonte: Dados da pesquisa (2012)

Ressalta-se que os resultados do lucro líquido sobre o ativo total situam-se entre os limites de -1 até 1. A partir deste ponto, a análise tem como objetivo identificar os valores que estão próximos de zero antes e depois da adoção de normas internacionais de contabilidade. Para esse entendimento, apresenta-se o Gráfico 1, referente ao período Pré-IFRS.

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Gráfico 1 - Distribuição de frequência das empresas que divulgaram

resultados próximos a zero.

Fonte: Dados da pesquisa (2012)

O modelo de Burgstahler e Dichev (1997) se propõe a analisar os valores próximos a zero, como indicador de gerenciamento de resultados nas empresas. O Gráfico 1, por sua vez, demonstra a frequência de empresas que apresentaram resultados próximos de zero no período Pré-IFRS, onde, dentre as 27 empresas investigadas, quatro apresentaram em seu resultado um comportamento de lucro em termos de porcentagem de ativos totais abaixo de zero (pequenos prejuízos), representado pelo intervalo entre -0,01 e -0,04. Este resultado, se comparado à frequência de empresas que apresentaram resultados acima do ponto de referencia “lucro zero”, demonstra que, com maior frequência as empresas evidenciam pequenos lucros.

Considerando a premissa de gerenciamento a partir da suavização de resultados, os gestores preferem apresentar um pequeno lucro como resultado, ao invés de um pequeno prejuízo, em situações próximas de resultados nulos (lucro zero). Esse tipo de gerenciamento foi confirmado nas empresas analisadas nesta amostra, no período Pré-IFRS (2004 a 2006). Entretanto, é importante ressaltar que uma das principais limitações dessa metodologia é não identificar a intensidade do gerenciamento de resultados. 1 3 1 1 3 2 4 1 2 2 2 1 1 2 1 Frequência

Lucro Líquido em Porcentagem dos Ativos Totais (por empresa)

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A mesma análise através de distribuição de frequência foi feita para o período considerado como Pós-IFRS (2009 a 2011), sendo apresentadas no Gráfico 2.

Gráfico 2 - Distribuição de frequência das empresas que divulgaram

resultados próximos a zero.

Fonte: Dados da pesquisa (2012)

Ao avaliar a distribuição de frequência do período Pós-IFRS, conforme Gráfico 2, nota-se uma maior frequência dos resultados próximos de 0,01, ou seja, maior que zero, o que é indicativo de pequenos lucros, bem como, uma menor frequência dos resultados abaixo de zero (prejuízo). Tal resultado corrobora com a expectativa de ser muito mais provável que os gestores venham reportar pequenos lucros do que pequenos prejuízos, em situações próximas de resultado nulo, sendo tal fator indício de gerenciamento de resultados contábeis, conforme especifica a literatura internacional que trata do assunto (BURGSTABLER; DICHEV, 1997; DECHOW; SKINNER, 2000).

Uma análise mais detalhada a respeito da empresa que apresentou prejuízo foi realizada e apontou uma queda brusca em sua receita líquida, o que certamente foi fator determinante para o resultado apresentado.

Confrontando os Gráficos 1 e 2, que correspondem ao período Pré e Pós IFRS, não se constatou variações significantes acerca do gerenciamento de resultados, considerando pequenos lucros e pequenos prejuízos.

1 5 4 3 1 2 2 1 2 2 1 2 1 Frequência

Lucro Líquido em Porcentagem dos Ativos Totais (por empresa)

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve por objetivo identificar empiricamente se existem ou não evidências de gerenciamento de resultados, sob a ótica de suavização de resultados, através da análise das contas de receita, lucro operacional e ativo total das empresas classificadas em Nível 1 de Governança Corporativa da BM&F BOVESPA, utilizando como base o modelo de gerenciamento de resultados proposto por Burgstahler e Dichev (1997).

As evidências encontradas nesta pesquisa indicam a existência de gerenciamento de resultados em torno de zero no Brasil. Esses resultados são condizentes com o estudo realizado por Burgstahler e Dichev (1997). No entanto, não se pôde verificar o grau de intensidade deste gerenciamento, em virtude de limitação própria do modelo. Os resultados também não permitem confirmar se a adoção das IFRSs foi o fator determinante desse resultado, visto que não são percebidas grandes variações nos períodos analisados (Pré e Pós IFRS).

Em estudo anterior, feito por Beuren e Kann (2011), observou-se a existência de implicações positivas e negativas da implementação das IFRSs em alguns países da União Europeia, mas, fatores como desenvolvimento da profissão, regulamentação e nível de ensino em cada país podem ter influência no resultado, sendo as mesmas considerações pertinentes neste trabalho.

Embora o fato de ter encontrado evidências de gerenciamento de resultados responda ao problema de pesquisa, não foi possível afirmar que a adoção de normas internacionais de contabilidade permitiu aos gestores usar da subjetividade com intenção de gerenciar resultados, devido aos aspectos subjacentes que têm estreita relação com o gerenciamento, principalmente no que tange ao método estatístico utilizado. Apenas com a utilização de técnicas estatísticas mais robustas é possível verificar os níveis de gerenciamento de resultado de modo mais efetivo.

No estudo feito por Beuren e Kann (2011), observou-se a existência de implicações positivas e negativas em alguns países da União Europeia, mas, fatores como desenvolvimento da profissão, regulamentação e nível de ensino em cada país podem ter influência nesse resultado.

Sendo assim, como sugestão de novas pesquisas, propõe-se: (i) analisar quais seriam as escolhas contábeis mais frequentemente realizadas para o gerenciamento (provisões, por exemplo) ou inserir outras variáveis de controle,

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como as de governança corporativa. As evidências encontradas no estudo contribuem essencialmente para o entendimento do comportamento das empresas próximas de zero e como os potenciais conflitos de interesses que podem motivar os gestores a tomarem escolhas contábeis de forma a maximizar seu retorno privado levando em consideração as recentes práticas contábeis adotadas no Brasil.

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Recebido em 10 de junho de 2013. Aceito em 07 de julho de 2013.

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Tabela 1: Resultado da divisão de lucro líquido sobre ativo total
Gráfico  1  -  Distribuição  de  frequência  das  empresas  que  divulgaram  resultados próximos a zero
Gráfico  2  -  Distribuição  de  frequência  das  empresas  que  divulgaram  resultados próximos a zero

Referências

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