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A organização de jogo de uma equipa de futebol : uma abordagem sistémica para a construção de uma forma de jogar

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Academic year: 2021

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(1)A organização de jogo de uma equipa de futebol Uma. abordagem. sistémica. construção de uma forma de jogar. Humberto Luís Moura da Silva. Porto, 2008. para. a.

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(3) A organização de jogo de uma equipa de futebol Uma. abordagem. sistémica. para. a. construção de uma forma de jogar. Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física, na área de Alto Rendimento – Futebol, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Orientador: Mestre José Guilherme Oliveira Humberto Luís Moura da Silva. Porto, 2008.

(4) Silva, H. (2008). A organização de jogo de uma equipa de futebol. Uma abordagem sistémica na construção de uma forma de jogar. Dissertação de Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.. PALAVRAS – CHAVE: FUTEBOL, ABORDAGEM SISTÉMICA, ORGANIZAÇÃO, PRINCÍPIOS DE JOGO..

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(6) Agradecimentos. AGRADECIMENTOS Ao Mestre José Guilherme Oliveira, pela sua disponibilidade na orientação deste trabalho, apesar de ter muitas outras responsabilidades e muitos outros afazeres. Por me ter ajudado a perceber como contar uma “história”, sem perder o fio condutor. Aos meus entrevistados, que apesar de possuirem pouco tempo disponível, prontificaram-se em colaborar na execução do nosso trabalho, contribuindo assim para o seu enriquecimento. Ao meu Avô materno, por ser um exemplo de vida que eu tentarei sempre seguir. Pela sua simplicidade e boa disposição contagiantes. Aos meus outros avós que não são menos importantes. Sem eles, certamente não estaria onde estou. À minha Mãe, por todo o apoio que sempre me deste e por me ajudares a tornar-me na pessoa que hoje sou. Obrigado! À minha Irmã, por tudo o que fizeste por mim e por tudo o que ainda continuas a fazer... Sem ti não conseguiria atingir esta meta. Obrigado! À Lu, por seres a luz que me ilumina todos os dias. Por me teres apoiado em todos os momentos que precisei. À Tina, por seres a amiga que és e por me “aturares” muitas vezes, de livre e espontânea vontade. Aos meus amigos, em especial ao Gabi e ao Moita pela partilha de conhecimento. Não se esqueçam que sem divergência de opiniões, dificilmente haverá evolução.. V.

(7) Agradecimentos. À Maltinha, por todos os momentos de enorme alegria que passámos juntos ao longo destes “custosos” anos de faculdade. À. Tuna. Musicatta. Contractile,. pelos. Simplesmente, um marco na minha vida académica.. VI. ensinamentos. de. vida..

(8) Índice. ÍNDICE AGRADECIMENTOS…………………………………………………………………………...... V. ÍNDICE……………………………………………………………………………………………... VII. RESUMO…………………………………………………………………………………………... IX. ABSTRACT……………………………………………………………………….……………….. XI. RESUMÉ……………………………………………………………………………..…….………. XIII. 1. INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………………. 1. 2. REVISÃO DA LITERATURA...……………………………………………………………….. 7. 2.1. A ABORDAGEM SISTÉMICA NO FUTEBOL………………………………………………….. 7. 2.1.1 O PORQUÊ DA APLICAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DE UM SISTEMA AO FUTEBOL..... 10. 2.2 MODELO DE JOGO/MODELIZAÇÃO SISTÉMICA COMO PROJECTO DE ACÇÃO DO SISTEMA... 13. 2.2.1. A NECESSIDADE DE CONTEXTUALIZAR..…………………………………………….. 15. 2.3. TREINAR SEGUNDO O PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE............……………………………. 17. 2.3.1 OPERACIONALIZAR O PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE............................................. 19. 2.4 O CONHECIMENTO ESPECÍFICO EM FUTEBOL.......……………………………………….... 20. 2.4.1. DO CONHECIMENTO DECLARATIVO AO PROCESSUAL............................................. 21. 2.5 A “CONDIÇÃO” FRACTAL DO EXERCÍCIO DE TREINO....................................................... 22. 2.5.1 O TREINO PARA A MELHORIA QUALITATIVA DA TOMADA DE DECISÃO…………........ 26. 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...……………………………………………........ 29. 3.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA..……………………………………………………….... 29. 3.2. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO................................................................…............ 29. 3.3. RECOLHA DE DADOS...............…………………………………………………………..... 30. 4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DAS ENTREVISTAS.……………………………... 31. 4.1 A PERTINÊNCIA DE UMA ABORDAGEM SISTÉMICA NO FUTEBOL....................................... 31. 4.1.1 A APLICABILIDADE DAS CARACTERÍSTICAS DE UM SISTEMA NO FUTEBOL.....…....... 33. 4.2 A PREDOMINÂNCIA DO LADO ESTRATÉGICO-TÁCTICO NO JOGO DE FUTEBOL................... 36. 4.3 A IMPORTÂNCIA DO MODELO DE JOGO/MODELIZAÇÃO SISTÉMICA PARA SE ATINGIR UMA FORMA DE JOGAR................................................................................................................... 37. VII.

(9) Índice. 4.3.1 A ESPECIFICIDADE NO PROCESSO DE TREINO........................................................ 41. 4.3.2 A INTERVENÇÃO ESPECÍFICA NO DECORRER DOS EXERCÍCIOS DE TREINO PARA O CUMPRIMENTO DO PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE.............…............................................... 42. 4.3.3 A RELEVÂNCIA DAS INFORMAÇÕES PROVENIENTES DOS JOGADORES PARA O PROCESSO DE TREINO............................................................................................................. 44. 4.3.4 A OPTIMIZAÇÃO DO CONHECIMENTO DECLARATIVO E DO CONHECIMENTO PROCESSUAL E A PROCURA DE UM “SABER SOBRE O SABER FAZER”......................................... 45. 4.4 A FRACTALIDADE NO PROCESSO DE TREINO PARA UMA MELHORIA QUALITATIVA DA TOMADA DE DECISÃO.............................................................................................................. 46. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................. 49. 6. SUGESTÕES PARA FUTUROS ESTUDOS................................................................... 51. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 53. 8. ANEXOS. I. ANEXO I.......................................................................................................................... I. ANEXO II......................................................................................................................... XI. VIII.

(10) Resumo. RESUMO O futebol assume-se como um fenómeno complexo. Desta forma, consideramos a pertinência de uma abordagem sistémica ao futebol, visando uma inteligibilidade da complexidade das interacções dos jogadores nos diferentes níveis de organização. Tendo isto por base, o treinador de futebol poderá encontrar indicadores de qualidade que lhe permitam organizar o jogo e modelar a sua equipa de acordo com a sua ideia de jogo. O processo de treino apresenta-se como um meio privilegiado para que os jogadores adquiram determinados conhecimentos e princípios de jogo, referentes à forma de jogar que o treinador preconiza. Com o presente estudo pretendemos atingir os seguintes objectivos: i: verificar a pertinência de uma abordagem sistémica no contexto do futebol; ii: identificar aspectos relevantes para a organização de jogo de uma equipa de futebol; iii: indagar e discutir a intervenção específica do treinador no processo de treino para o atingir de uma determinada forma de jogar. Para este efeito, para além de efectuarmos revisão da literatura, entrevistámos dois professores extremamente conceituados da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto: o Professor Doutor Júlio Garganta e o Professor Vítor Frade. O cruzamento da informação decorrente da revisão da literatura, com o conteúdo das entrevistas permitiu chegar às seguintes conclusões: a) a abordagem sistémica é ajustada à complexidade do fenómeno do futebol; b) a abordagem sistémica torna a complexidade das interacções dos jogadores, nos diferentes níveis, inteligível; c) ao ser encarada como um sistema, a equipa de futebol necessita de um modelo de jogo que contextualize e direccione as interacções entre os seus elementos e o meio específico onde actua; d) a objectivação do modelo de jogo e a modelação da organização de jogo da equipa faz-se no processo de treino; e) a operacionalização dos exercícios de treino carece de uma intervenção específica por parte do treinador para que não haja perda de especificidade. PALAVRAS. –. CHAVE:. FUTEBOL,. ORGANIZAÇÃO, PRINCÍPIOS DE JOGO.. IX. ABORDAGEM. SISTÉMICA,.

(11) X.

(12) Abstract. ABSTRACT Football is seen as a complex phenomenon. In an attempt to understand the complexity of the interactions of the players in the different levels of organization, we consider a systemic approach to football. Based on this, the coach might be able to find quality indicators that will allow him to organize the game and model his team in accordance with his idea of the game. The coaching process presents itself as a favored medium through which players can develop a certain knowledge and game principles, in line with the way of play envisioned by the coach. The objectives of this study are: i: to assess the pertinence of a systemic approach in the context of football; ii: to identify features that are relevant to organize the game of a football team; iii: to discuss the intervention of the coach in the coaching process in order to attain a certain way of play. With this purpose, we carried out a systematic review and interviewed two highly respected professors of the Faculty of Sport, University of Porto: Professor Júlio Garganta (PhD) and Professor Vítor Frade. The information gathered in the systematic review was integrated with the content of the interviews and we could conclude the following: a) the systemic approach is adjusted to the complexity of the phenomenon of football; b) the systemic approach renders the complexity of the interactions of players in the different levels understandable; c) when viewed as a system, the football team needs a model of game to “guide” the interactions between its elements and the specific mean where it performs; d) it is in the coaching process that the game model is made objective and the organization of the game is modeled; e) in order to prevent the loss of specificity, the coach needs to intervene when the coaching exercises are made operative. KEY WORDS: FOOTBALL, SYSTEMIC APPROACH, ORGANIZATION, GAME PRINCIPLES.. XI.

(13) XII.

(14) Resumé. RESUMÉ Le football est un phénomène complexe. En effet, on propose un abordage systémique du football pour mieux comprendre la complexité des interactions entre les joueurs dans les différents niveaux de l’organisation. Ainsi, le coach du football pourrait trouver les indicateurs de qualité qui lui permettront d’organiser le jeu et de modeler son équipe en accord avec son idée de jeu. Le processus d’entrainement se présente comme un moyen privilégié pour que les joueurs puissent développer certaines connaissances et principes de jeu relatifs à la manière de jouer idéalisée par le coach. Avec ce travail, on a proposé les objectifs suivants: i: vérifier la pertinence d’un abordage systémique dans le contexte du football; ii: identifier les caractéristiques importantes pour l’organisation d’une équipe de football; considérer. si. l’intervention. spécifique. du. coach. dans. le. processus. d’entrainement pour conquérir une certaine façon de jouer est fondamentale. En vue de ces objectifs, on a déroulé une révision de la littérature et on a aussi interviewé deux professeurs bien connus de l’École de Sports, Université de Porto : le Professeur Docteur Júlio Garganta et le Professeur Vítor Frade. Le croisement de l'information réunie suite à la révision de la littérature avec le contenu des interviews a permit de tirer les conclusions suivantes : a) l’abordage systémique est ajusté à la complexité du phénomène du football; b) l’abordage systémique rend plus intelligible la complexité des interactions des joueurs dans les différents niveaux; c) quand regardé comme un système, l’équipe de football a besoin d’un modèle de jeu pour “guider” les interactions entre ses éléments et le moyen spécifique où elle joue; d) c’est dans le processus d’entrainement que le modèle de jeu est objectivé et que l’organisation de jeu est modelée; e) pour qu’il n’y ait pas perte de spécificité, il est nécessaire d’avoir une intervention spécifique du coach quand les exercices d’entrainement sont opérationnalisés. MOTS CLES: FOOTBALL, ABORDAGE SYSTÉMIQUE, ORGANISATION, PRINCIPES DE JEU.. XIII.

(15) XIV.

(16) Introdução. 1. Introdução. “...não existe treinador que no seu íntimo não queira ser o “deus de Laplace” – conseguir prever com uma certeza infinitesimal a evolução do jogo, controlar esse sistema multivariável. Por isso, talvez ele preferisse substituir a variabilidade pela estereotipia na expectativa de que as atitudes dos seus jogadores fossem previstas e articuladas com a máxima certeza, de que as propriedades topológicas do movimento que eles manifestam fossem as menos variáveis”. (Cunha e Silva, 1995 citado por Garganta & Cunha e Silva, 2000, p. 5). “Pensa-se que ao reduzir a complexidade do jogo no treino se está a tornar as coisas mais fáceis. Quanto a mim, está apenas a criar-se condições de sucesso no treino, não no jogo! No jogo a complexidade continua lá.” (Mourinho, citado por Lourenço & Ilharco, 2007, p. 45). Apesar de um recente aumento da investigação sobre a intervenção do treinador numa equipa de futebol, ainda há muitas lacunas por preencher a este nível (Bowes & Jones, 2006). Arnold LeUnes (citado por Cushion, 2007, p. 427), refere que “sabemos muito pouco sobre a actividade do treinador e da sua intervenção no processo de treino”. Garganta (2006b, p. 10) refere que “para quem assiste a uma partida de futebol, o jogo afigura-se simples. Contudo, quem joga apercebe-se que está em presença de um fenómeno complexo, pelo facto de ter que, a um tempo, referenciar a posição da bola, aferir a situação de colegas e adversários, em relação aos alvos (as balizas) a atacar e a defender, e agir num ambiente instável. Se a posição dos alvos é conhecida à partida, já a localização de colegas e oponentes muda continuamente em função da circulação do móbil de jogo (a bola), o que faz com que os espaços do campo de jogo devam ser diferentemente valorizados nos distintos momentos”. Como consequência disso, a intervenção do treinador no processo de treino deve ser analisada pela sua complexidade, na tentativa de dar a conhecer todos os constrangimentos do jogo aos seus jogadores e, para além disso, tornar inteligível a sua ideia de jogo (Bowes & Jones, 2006; Cushion, 2007). No entanto, as abordagens. 1.

(17) Introdução. utilizadas nos estudos realizados, não capturam na totalidade a complexidade do papel desempenhado pelo treinador numa equipa de futebol (Bowes & Jones, 2006). Isto, deve-se ao facto de a natureza da actividade compreender um infindável número de dilemas e de tomadas de decisão que requerem um planeamento constante, observação, avaliação, reajustamentos a todo o processo e uma intervenção específica (Amieiro, Oliveira, Resende, & Barreto, 2006; Carvalhal, 2000; Frade, 2006; Garganta, 2006b; Guilherme Oliveira, 2004; Jones & Wallace, 2005). No entender de Jones e Wallace (2005), a conceptualização da actividade do treinador tem sido inadequada. Uma das maiores críticas apontadas é a da utilização de uma perspectiva racionalista na forma de encarar o processo de treino (Bowes & Jones, 2006). Assim, um dos conceitos fundamentais. utilizados. nas. pesquisas. efectuadas,. prende-se. com. o. reducionismo, ou seja, com a tentativa de entender o funcionamento de um todo pela análise das partes separadamente (Bowes & Jones, 2006). Isto é, a actividade do treinador é dissociada dos restantes elementos que constituem a equipa e, como consequência disso, o lado interactivo essencial para o sucesso colectivo é descurado (Cushion, 2007). Em relação à actividade do treinador propriamente dita, as críticas mais frequentes vão de encontro ao facilitismo e à excessiva simplificação de um processo que, como já foi referido, é caracterizado por uma enorme complexidade. Geralmente, o treinador opta por recorrer a métodos convencionais para ensinar o jogo, em detrimento de uma operacionalização baseada na compreensão do fenómeno do futebol e no entendimento da sua ideia colectiva de jogo (Amieiro, Oliveira, Resende, & Barreto, 2006; Frade, 2006; Guilherme Oliveira, 2006). Além disso, há uma repetição exagerada de exercícios analíticos e descontextualizadas, como por exemplo: corrida em velocidade máxima num percurso de 20m em linha recta. Este exercício terá um transfer diminuto ou inexistente para o jogo, já que se apresenta à margem dos requisitos tácticos (Garganta, 2006b). Imaginemos outro exemplo, uma situação de finalização sem oposição de qualquer defesa (exceptuando o guarda-redes), 2xG.R., está-se a criar condições para o sucesso para quem. 2.

(18) Introdução. está a atacar, no entanto a complexidade do jogo não está presente, devido a um enorme facilitismo. Na execução deste trabalho, propomos a aplicação de uma abordagem sistémica ao futebol e ao processo de treino, já que esta nos permitirá observar a totalidade do fenómeno em questão e, proporcionará uma visão holística sobre equipa. É, então pertinente realizar uma pequena contextualização histórica da abordagem sistémica. Esta surge a partir da teoria geral dos sistemas, que é um corpo de conhecimentos feito de leis que incidem sobre os sistemas em geral, trata-se da filosofia dos sistemas. Esta teoria geral e generalista foi fundada pelo biologista austríaco, Ludwig von Bertalanffy em meados do séc. XX (Bertrand & Guillemet, 1988). No entanto, a abordagem sistémica diferencia-se da teoria geral dos sistemas por ser mais específica, mais praxiológica. Assim sendo, apesenta-se como uma metodologia que permite reunir e organizar conhecimentos, tendo em vista uma maior eficácia na acção (Bertrand & Guillemet, 1988). Visto isto, segundo o pensamento sistémico a equipa de futebol é perspectivada como um sistema social dinâmico e sociocognitivo, isto é, um conjunto de elementos que interagem entre si, tendo em vista a aquisição de conhecimentos que lhe permita agir de uma forma mais eficaz no seu meio específico (Garganta & Gréhaine, 1999). Intimamente ligada ao conhecimento está a noção de modelo (Garganta, 1997). Neste sentido, a abordagem sistémica incide sobre fabricação de modelos, de forma a organizar conhecimentos para a resolução de problemas em contextos específicos (Bertrand & Guillemet, 1988). Relativamente ao fenómeno de futebol é de extrema importância que o treinador possua uma concepção de jogo, isto é, uma ideia de jogo, tendo em conta toda a conjuntura envolvente (Frade, 2006; Guilherme Oliveira, 2004). A estruturação de conhecimentos relativos a essa ideia de jogo irá permitir a criação de um modelo de jogo que será fulcral na construção de uma organização de jogo, e orientará e regulará todo o processo de treino (Frade, 2006; Guilherme Oliveira, 2004).. É de realçar, que no decorrer deste trabalho apelamos à necessidade do treinador de futebol criar um modelo de jogo rico que levará a um conjunto de. soluções. individuais. e. colectivas,. 3. de. forma. a. fazer. face. aos.

(19) Introdução. constrangimentos típicos do jogo. Estamos em crer que esta forma de operacionalizar pode ser aplicada não só à alta competição, mas ao futebol em geral. Mais à frente, poderemos verificar que a abordagem sistémica é caracterizada por um elevado grau de especificidade (Bertrand & Guillemet, 1988). Para ficarmos desde já com uma ideia do princípio da especificidade no futebol, Guilherme Oliveira (2004, p. 152) (de acordo com a ideia de jogo do treinador) refere que “este entendimento de especificidade, implica a necessidade de haver um contexto, ou seja, uma organização sistémica que represente determinado envolvimento, em que os diferentes elementos, ou variáveis, interagem entre si, sendo representativos desse contexto e contribuindo para a sua unicidade”. Ainda de acordo com o mesmo autor (2004), o conceito de especificidade, além de estar relacionado com a modalidade de futebol, tem que estar ligado ao modelo de jogo da equipa, à sua forma de jogar, a esse mesmo contexto. A pertinência deste trabalho prende-se com a escassez de estudos realizados sobre a actividade do treinador e, também pela necessidade de perceber a complexidade da intervenção do treinador na construção de uma forma de jogar, de uma identidade própria para a sua equipa, de uma cultura de jogo. Antes de iniciar o processo de treino, o treinador deve respeitar variadíssimos factores. Na opinião de diversos autores, é da responsabilidade do treinador criar as condições necessárias para o emergir do jogar que pretende ver instituído como líder de todo o processo (Carvalhal, 2000; Frade, 2006; Guilherme Oliveira, 2006). Para que tal aconteça, o jogador de futebol deve possuir um conjunto de conhecimentos, de saberes que lhe permita dar o seu contributo à equipa de um modo eficiente e eficaz. Este conjunto de conhecimentos passa pela aquisição de um saber o que fazer (conhecimento declarativo), de um saber fazer (conhecimento processual) e, acima de tudo, de um “saber sobre o saber fazer” (Frade, 2006). A tomada de decisão do jogador de futebol estará condicionada pelo contexto (Júlio & Araújo, 2005) e as decisões que ele toma durante uma partida. 4.

(20) Introdução. de futebol têm muito a ver com os exercícios que executa no treino (Garganta, 2006b; Gréhaine, Godbout, & Bouthier, 2001). Aferimos, então a necessidade de procurar respostas concretas e opiniões válidas acerca do processo de treino. Este processo encerra em si uma enorme complexidade, na medida em que suscita inúmeras preocupações e levanta variadíssimas questões que merecem a nossa atenção. Visto isto, propomos alcançar os seguintes objectivos na realização deste trabalho: -. Verificar a pertinência de uma abordagem sistémica no contexto do futebol;. -. Identificar aspectos relevantes para a organização de jogo de uma equipa de futebol;. -. Indagar e discutir a intervenção específica do treinador no processo de treino para o atingir de uma determinada forma de jogar.. Para atingir os objectivos a que nos proposemos entrevistamos dois professores extremamente conceituados da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto: o Professor Doutor Júlio Garganta e o Professor Vítor Frade. O presente trabalho foi estruturado em sete pontos. O primeiro ponto é referente à introdução que nos ajuda a justificar a pertinência do estudo, a definir os objectivos a alcançar e a apresentar a estrutura do trabalho. O segundo ponto é relativo a uma revisão da literatura sobre o tema em questão. O terceiro ponto prende-se com os procedimentos metodológicos que foram utilizados para a execução deste estudo. No quarto ponto realizamos a discussão dos dados obtidos nas entrevistas que efectuámos, cruzando com informação proveniente da revisão da literatura. No quinto ponto apresentamos de uma forma clara e concisa as considerações finais.. 5.

(21) Introdução. No sexto ponto são apresentadas as sugestões para futuros estudos. No sétimo ponto expomos as referências biblográficas que sustentaram a realização deste trabalho monográfico. No oitavo e último ponto estão anexas as entrevistas efectuadas.. 6.

(22) Revisão da Literatura. 2. Revisão da Literatura: 2.1 A abordagem sistémica no futebol. “A. complexidade. não. compreende. apenas. quantidades de unidades...; compreende também incertezas, indeterminações, fenómenos aleatórios”. (Morin, 2003 citado por Lourenço & Ilharco, 2007, p. 77). Normalmente, as análises realizadas ao jogo de futebol são na sua esmagadora maioria quantitativas, indicam o número de cantos conquistados, o número de remates efectuados, o número de faltas cometidas e, mais recentemente, o número de metros percorridos por um jogador. Estas acções observadas não espelham na totalidade o que se passa numa partida de futebol (Lobo, 2008b). O futebol extravasa o campo da quantificação e apresenta-se como um fenómeno demasiado complexo (Dooley, 1997; Garganta & Cunha e Silva, 2000) para ser explicado numa análise estatística que é habitualmente realizada pelos meios de comunicação social. Assim sendo, a quantificação só nos dará uma perspectiva parcelar e empobrecida do que é a qualidade de jogo e o futebol na sua globalidade, já que este se caracteriza por uma elevada aleatoriedade e imprevisibilidade (Garganta, 2006b; Garganta & Cunha e Silva, 2000). Seguindo a linha de pensamento de Heidegger (1977, in Lourenço & Ilharco, 2007) , a matematização de um fenómeno como é o futebol, só permite conhecê-lo em todo o detalhe, excepto como jogo de futebol. Estas palavras ilustram bem que, num fenómeno que assume uma tal complexidade, analisar as partes de forma isolada será insuficiente (Amieiro, Oliveira, Resende, & Barreto, 2006; Lobo, 2008b). Actualmente, o aspecto táctico do jogo é cada vez mais estudado, as acções dos jogadores e os padrões comportamentais que conferem a organização funcional da equipa são, efectivamente, mais valorizados. Estas acções irão revelar a verdadeira essência do jogo, já que este se caracteriza por uma interacção entre os elementos que nele actuam (Castelo, 1996).. 7.

(23) Revisão da Literatura. Porém, o lado táctico do jogo não pode ser dissociado das outras dimensões que o constituem, nomeadamente, a física, a psicológica, a técnica, a cognitiva, etc. (Frade, 2006). Em concordância com Garganta (2006b) e Castelo (1994) o futebol assume-se, preponderantemente, como um jogo táctico caracterizado por uma luta pelo domínio dos espaços, que contempla aspectos estratégicos e em que a coerência de movimentação é de extrema importância (Gréhaine & Godbout, 1995). Assim sendo, a táctica é a dimensão unificadora que dá sentido e lógica a todas as outras. Ainda neste sentido, Garganta (2006b) menciona que o problema principal que se coloca ao jogador de futebol é o saber o que fazer e a altura certa para o fazer, consoante o projecto de jogo colectivo, ou seja, qualquer tipo de acção de um jogador, tem sempre subjacente uma acção táctica (Amieiro, Oliveira, Resende, & Barreto, 2006). Gréhaine (1991, p. 12) refere que “esta forma de ver o futebol acarreta consigo três categorias de problemas: -. Problemas relacionados com o espaço e com o tempo. Na fase ofensiva o jogador de futebol deve encontrar soluções para os problemas individuais e colectivos relacionados com a condução do objecto do jogo, ou seja, a bola, de forma a ultrapassar, usar ou evitar os adversários. Na fase defensiva deve criar-se obstáculos, de forma a abrandar ou parar a bola e o adversário, tendo em vista a recuperação da posse da mesma.. -. Problemas relacionados com o fluxo de informação. Os jogadores devem lidar com situações relacionados com a criação de incerteza e imprevisibilidade na equipa adversária e situações de previsibilidade para os seus colegas de equipa. Isto está dependente da quantidade e da qualidade da informação existente. A incerteza é gerada pela informação que não possuímos sobre o estado do sistema (equipa de futebol). A redução da incerteza para a equipa em posse de bola está relacionada com a qualidade da informação e dos princípios de jogo, inerentes ao modelo de jogo, proporcionando tomadas de. 8.

(24) Revisão da Literatura. decisão apropriadas à situação, entendidas pelos colegas de equipa num determinado momento do jogo. -. Problemas relacionados com a organização de jogo. Os jogadores de uma equipa devem entender uma movimentação individual, num projecto colectivo (entenda-se modelo de jogo). Cada jogador deve pensar acima de tudo, colectivamente nas suas acções individuais e dar o seu melhor à equipa”.. Visto isto, para uma melhor compreensão do fenómeno, a equipa de futebol e as interacções entre os jogadores e o meio/contexto devem ser abordadas como um sistema complexo (Gréhaine, Bouthier, & David, 1997) Com efeito, reconhecemos a natureza sistémica do futebol, na medida em que está centrada nos processos e no conhecimento adquirido para uma acção conjunta. mais. eficiente. e. mais. eficaz,. tendo. sempre. em. conta. a. envolvente/contexto. Antes de avançarmos mais, é importante definir sistema. Segundo Ackoff (1985, citado por Bertrand & Guillemet, 1988, p. 47), “um sistema é um todo que não pode ser decomposto sem que perca as suas características essenciais. Deve, portanto, ser estudado como um todo. Além disso, antes de explicar um todo em função das partes, é preciso explicar as partes em função do todo”. Por consequência, as coisas devem ser vistas como partes de totalidades maiores e não como entidades que devem estar separadas e isoladas, isto é, o jogador de futebol é visto como um microsistema de um todo que é a equipa. Esta linha de pensamento veio romper por completo com a filosofia cartesiana que vigorou até ao Séc. XX, que se apresentava como demasiado reducionista (Lourenço & Ilharco, 2007) e que se fosse aplicada ao futebol, certamente, observaria as acções individuais de uma forma isolada e sem um sentido colectivo (Amieiro, Oliveira, Resende, & Barreto, 2006). Há cerca de cinquenta anos atrás e de forma a “combater” a perspectiva analítica, descontextualizada e incapaz de analisar os fenómenos que primam pela sua complexidade, como é o caso do futebol, surge a abordagem sistémica.. Esta,. não. é. apenas. uma. forma. de. perspectivar. as. organizações/sistemas, é também uma maneira de as conceber e de as gerir,. 9.

(25) Revisão da Literatura. respeitando a sua globalidade. Bertrand e Guillemet (1988), defendem que a abordagem sistémica representa a análise, a concepção e a coordenação dos recursos humanos e físicos, com vista a atingir os objectivos visados pela organização/sistema, quer seja uma família, um partido político ou uma equipa de futebol. Segundo estes autores este tipo de abordagem compreende quatro elementos que caracterizam uma qualquer organização: -. Objectivos e metas a alcançar;. -. Uma cultura, que no caso de uma equipa de futebol corresponde ao modelo de jogo e aos respectivos princípios de jogo, que em interacção com os jogadores e o meio irão conferir uma identidade própria e distinta;. -. Os recursos humanos, nomeadamente os elementos que constituem a equipa;. -. Os conhecimentos, que neste caso em particular, trata-se de conhecimento específico em futebol.. Para um bom funcionamento, é necessária uma integração de todos estes elementos/itens sob a forma de planificação e de gestão, ou seja, na forma de intervir para modificar a organização/sistema e que será da responsabilidade do treinador como líder de todo o processo (Cushion, 2007; Frade, 2006; Guilherme Oliveira, 2006; Lourenço & Ilharco, 2007; Olafson, 1995).. 2.1.1 O porquê da aplicação das características de um sistema ao futebol. Neste ponto abordaremos algumas características próprias de uma abordagem sistémica, mais propriamente as que consideramos mais pertinentes para a execução deste trabalho. Visto isto, interessa abordar, primeiramente, a abertura do sistema. Neste sentido, uma equipa de futebol é perspectivada como um sistema aberto, já que se encontra em constante interacção com o meio específico, troca informação com o mesmo de forma a ajustar-se à realidade e às constantes mudanças, tendo em vista uma acção 10.

(26) Revisão da Literatura. mais eficiente e eficaz (Bertrand & Guillemet, 1988; Garganta & Gréhaine, 1999; Gréhaine, Bouthier, & David, 1997; MacPherson, 1993, 1994). Como já foi referido, o jogo de futebol é caracterizado por uma elevada imprevisibilidade e aleatoriedade e por uma relação de oposição (Garganta & Cunha e Silva, 2000; Garganta & Gréhaine, 1999; Gréhaine & Godbout, 1995), ou seja, uma equipa/sistema complexo interage directamente com outra equipa/sistema complexo e, além disso, ambas têm que obedecer a um conjunto de normas que formam o regulamento (Garganta & Cunha e Silva, 2000; Lebed, 2006). Neste âmbito, o meio/contexto tem uma enorme influência no desempenho e no comportamento da equipa de futebol, devido a todos os seus constrangimentos (Garganta, 2006b; Lebed, 2006). A complexidade, na medida em que o futebol é encarado como um macrosistema complexo, com dois sistemas dinâmicos em interacção. Cada sistema é composto por subsistemas que se relacionam entre si, a um nível colectivo, a um nível inter-sectorial, como por exemplo a interacção entre o sector defensivo e o sector médio, e, também a um nível sectorial, pela a interacção entre jogadores do mesmo sector (Garganta & Gréhaine, 1999; Guilherme Oliveira, 2004). O jogador de futebol, nesta perspectiva, é visto como um subsistema, também ele dinâmico e complexo (Garganta & Gréhaine, 1999; Lebed, 2006). O dinamismo ou a dinâmica do sistema é balizado(a) pela estrutura correspondente ao modelo de jogo e aos princípios de jogo que o formam. A finalidade, pelo objectivo comum que o sistema apresenta. Toda e qualquer equipa de futebol ambiciona ser bem sucedida, ou seja, ganhar (Garganta, 2006a; Garganta & Gréhaine, 1999; Gréhaine, Bouthier, & David, 1997; Gréhaine, 1991). Assim, surge-nos a noção de equifinalidade (Bertrand & Guillemet, 1988) que, no contexto do jogo de futebol prende-se com a capacidade de uma equipa, a partir de diferentes pontos e da utilização de diferentes caminhos, consiga alcançar o golo. A totalidade, já que o sistema é mais do que a soma das suas partes. Este, apresenta características próprias e distintas das características dos elementos que o constituem (Bertrand & Guillemet, 1988). Ainda segundo estes. 11.

(27) Revisão da Literatura. autores, a noção de sinergia está intimamente ligada à característica da totalidade, pela organização e interacção entre os elementos que resultará num efeito. maior. do. que. a. soma. dos. efeitos. dos. elementos. tomados. individualmente. No que concerne ao futebol, a equipa consegue atingir objectivos que o jogador por si só não consegue. O fluxo de informação é outra das características presentes no sistema. Antes de mais, é pertinente distinguir informação de comunicação. Enquanto que informação/informar é o acto de divulgar, esclarecer e dar conhecimento de algo a alguém, a comunicação é um processo, o qual gera mudanças nos elementos que dele participam num tempo, num espaço e num contexto (Rodrigues, 1999). Isto é o que se passa numa equipa de futebol, o treinador transmite a sua ideia de jogo, o seu modelo de jogo e os respectivos princípios de jogo, o jogador assimila a informação que lhe é dada que, posteriormente lhe permitirá comunicar com os restantes elementos da equipa, num determinado momento, num determinado espaço do terreno de jogo, tendo em conta as directivas do projecto de jogo colectivo. Assim sendo, os canais de comunicação representam um dado fulcral de qualquer sistema (Bertrand & Guillemet, 1988) e é através de uma operacionalização coerente que se atinge melhorias a este nível (MacPherson, 1993, 1994). Para finalizar este ponto, juntamos as características da regulação e controlo com a retroacção, já que existe entre elas uma relação de reciprocidade. Como qualquer sistema, uma equipa de futebol necessita de uma unidade de controlo que regule o funcionamento da mesma. O treinador tem a incumbência de tomar decisões, de definir objectivos e metas a alcançar. Atente-se nas palavras de Bertrand e Guillemet (1988, p. 51) “A regulação e o controlo supõe que as acções empreendidas estarão em conformidade com o plano inicial e que os desvios serão corrigidos. Estas correcções supõem a existência de um mecanismo de retroacção”. A retroacção é muito importante para o modelo de jogo, porque permitirá ao treinador obter informações sobre o que se passa no seio da sua equipa e ajustar a sua intervenção.. 12.

(28) Revisão da Literatura. 2.2 Modelo de jogo/modelização sistémica como “projecto de acção” do sistema. “A equipa é um sistema, uma vez que as acções dos jogadores são integradas numa determinada estrutura, seguindo um determinado modelo, de acordo com determinados princípios...”. (Teodorescu, 1997 citado por Garganta & Gréhaine, 1999, p. 43). A abordagem sistémica consiste, essencialmente, na produção de modelos da realidade organizacional, numa modelização sistémica, ou seja, num modo de intervir para modificar os sistemas. Interessa-se pela resolução de problemas em contextos específicos (Bertrand & Guillemet, 1988), observando sempre a totalidade dos fenómenos em questão. Antes de avançarmos mais, é pertinente definir a estrutura de um sistema. A estrutura de um sistema como uma equipa de futebol, pela sua complexidade, está intimamente ligada ao modelo de jogo e aos princípios de jogo que o constituem, independentemente de apresentar uma estrutura em 14-4-2 ou em 1-4-3-3. É, também definida pelas relações e pela interacção entre os elementos que formam a equipa, ou seja, pela forma como a equipa se comporta durante um encontro de futebol, isto é, pela sua estrutura dinâmica que lhe confere uma organização funcional. Retomando a modelização sistémica, Le Moigne (1986, citado por Garganta & Gréhaine, 1999, p. 44), refere que “modelar/modelizar um sistema complexo (equipa de futebol), passa, obrigatoriamente, por elaborar e conceber modelos, isto é, construções simbólicas e específicas da realidade em que o sistema irá actuar, com a ajuda das quais poderemos definir projectos de acção, avaliar os seus processos e a sua eficácia”. A modelação advém da necessidade de tornar a complexidade das interacções entre os elementos do sistema, inteligível. O treinador de futebol deve procurar então, encontrar uma forma de transmitir a sua ideia de jogo, utilizando uma linguagem acessível a todos. os. elementos. da. equipa. e,. 13. acima. de. tudo,. adoptar. uma.

(29) Revisão da Literatura. operacionalização coerente, em conformidade com o seu modelo de jogo e com os princípios de jogo inerentes a esse mesmo modelo (Frade, 2006). Apoiamo-nos nas palavras de Faria (1999, p. 18), seguindo a linha de pensamento de Le Moigne, mencionando que a modelização sistémica “obriga a uma decomposição do fenómeno jogo/complexidade, articulando-o em acções também elas complexas, acções comportamentais de uma determinada forma de jogar – Modelo de Jogo/Modelo de Complexidade. Esta articulação surge em função do que se pretende ver instituído – um conceito de acções intencionais, uma cultura de jogo”. Na abordagem sistémica, a noção de modelo é entendida como a representação de um sistema e dos seus processos (Bertrand & Guillemet, 1988). Assim, Guilherme Oliveira (2006) define modelo de jogo como "uma ideia / conjectura de jogo constituída por princípios, sub-princípios, subprincípios dos sub-princípios..., representativos dos diferentes momentos/fases do jogo, que se articulam entre si, manifestando uma organização funcional própria” e que dão vida ao sistema. Os princípios de jogo e os sub-princípios de jogo..., que dão corpo ao modelo de jogo são os padrões comportamentais que uma equipa apresenta nos diferentes momentos do jogo (Amieiro, Oliveira, Resende, & Barreto, 2006; Frade, 2006; Guilherme Oliveira, 2006). Por exemplo, a forma como uma equipa executa a transição defesa-ataque, após o pivô defensivo ter recuperado a posse de bola junto da sua área, se a linha avançada estiver muito próxima da área adversária e a linha defensiva estiver muito recuada. O padronizado ou a norma pode ser a opção pelo futebol directo... Nas sessões de treino é possível, recriar estes problemas específicos de uma partida de futebol através de exercícios, também específicos (Guilherme Oliveira, 1991). Quanto maior o detalhe dos princípios, subprincípios e sub-princípios dos sub-princípios, maior será a qualidade de jogo de uma equipa. A preocupação do treinador deve passar, obrigatoriamente, por desenvolver no seio da sua equipa uma determinada cultura que lhe irá conferir um “jogar”, ou seja, uma identidade que lhe permitirá fazer face aos inúmeros constrangimentos do jogo (Garganta, 2006b; Gréhaine, Bouthier, & David, 1997).. 14.

(30) Revisão da Literatura. Estabelecemos um paralelismo com o que foi dito anteriormente, com as palavras de Guilherme Oliveira (2004), quando refere que a concepção de jogo do treinador é formada pela organização das respectivas ideias de jogo, as quais vão permitir criar um modelo de jogo, promover uma operacionalização e geri-la. Esse modelo irá permitir a definição de projectos de acção e os respectivos princípios de jogo que serão trabalhos nas sessões de treino, de forma a atingir a dinâmica da equipa e para que ela opere verdadeiramente como um todo (Amieiro, Oliveira, Resende, & Barreto, 2006). Esta noção de unicidade característica de um sistema promoverá uma acção conjunta mais eficiente e eficaz. Um aspecto de extrema importância é o carácter mutável/flexível do modelo de jogo, visto que, este assume-se sempre como uma conjectura e está permanentemente aberto aos acrescentos individuais e colectivos, por isso, em contínua construção, nunca é, nem será, um dado adquirido. Assim sendo, o modelo final é sempre inatingível, porque está sempre em reconstrução (Guilherme Oliveira, 2006). O plano inicial necessita de reajustamentos, já que o futebol é um fenómeno em constante evolução e, por conseguinte,. o. processo. de. treino. acompanhará. essa. evolução. e. contextualização (Frade, 2006). Para que isto aconteça, o treinador deve obter informação sobre o que se passa na sua equipa, sobre os resultados da sua intervenção e consequências da sua acção (retroacção), de modo a ajustar e corrigir o seu modo de intervir e decidir sobre o melhor caminho a seguir (controlo e regulação). O papel do gestor/treinador é, portanto, vital no seu sistema (Bertrand & Guillemet, 1988).. 2.2.1 A necessidade de contextualizar. Quando se fala em operacionalização surge-nos, inevitavelmente, a necessidade de contextualizar. A contextualização é um critério central a respeitar no processo de treino. E o que é contextualizar? É trabalhar de uma forma específica, de acordo com o que se deseja ver instituído na equipa, respeitando as características do jogo de futebol e as características dos. 15.

(31) Revisão da Literatura. jogadores que o treinador tem à sua disposição. Para além disso, é fulcral ter em conta toda a conjuntura envolvente, o momento e o enquadramento competitivo (Frade, 2006). Para tornar a contextualização mais clara, digamos que é possuir uma visão holística de todo o processo. Tal como no pensamento sistémico, tudo é contemplado, tudo está interligado, respeitando sempre a especificidade como princípio metodológico (Guilherme Oliveira, 2006). Como foi acima referido, o fenómeno do futebol deve ser perspectivado como um todo e para que tal aconteça, trabalhar de uma forma analítica e descontextualizada não fará sentido (Amieiro, Oliveira, Resende, & Barreto, 2006). Com efeito, os exercícios de treino devem ser específicos e devem contemplar todas as dimensões como a táctica, a técnica, a física e a psicológica. Não obstante, é importante referir que todas estas dimensões estão subjugadas à dimensão táctica, já que, esta irá permitir uma interacção/comunicação. entre. os. jogadores. e. conferir. a. organização. necessária para o emergir do “jogar” (Frade, 2006). Seguindo esta filosofia, verificamos que a educação táctica dos futebolistas é o elemento mais importante para uma equipa ter sucesso. “Os treinadores têm as suas ideias sobre a forma como os jogadores devem evoluir no terreno, mas é necessário que cada um saiba desempenhar a sua tarefa de olhos fechados se for caso disso” (Van Gaal, 1998 citado por Carvalhal, 2000, p. 27). Atente-se nas palavras de Mourinho (citado por Amieiro, Oliveira, Resende, & Barreto, 2006, p. 162), “O mais importante numa equipa é ter um determinado modelo de jogo, um conjunto de princípios de jogo, conhecê-los bem, interpretá-los bem, independentemente de ser utilizado este ou aquele jogador”. Visto isto, toda a equipa deve estar identificada com uma determinada forma de jogar e não apenas aqueles que jogam com maior frequência. Frade (2006) refere que a contextualização começa com a abordagem dos quatro momentos do jogo: a organização defensiva; organização ofensiva; transição defesa-ataque e transição ataque-defesa, no sentido de ir. 16.

(32) Revisão da Literatura. proporcionando a possibilidade de interligação entre eles e que irá conferir a tão ambicionada organização funcional.. 2.3 Treinar segundo o princípio da especificidade.. “O jogo é o espelho exequível do treino, então para o jogo ser JOGO o treino não pode ser outra coisa se não “JOGO””. (Guilherme Oliveira, 1991, p. 13). Como já foi referido, a abordagem sistémica caracteriza-se por elevado grau de especificidade e pela procura de soluções em contextos específicos (Bertrand & Guillemet, 1988). Então, no contexto do futebol, a especificidade deve ser entendida como um conceito aberto ao imprevisível, ao aleatório, ao acaso, já que, a essência do próprio jogo contém essas características (Garganta, 2006b; Garganta & Cunha e Silva, 2000; Guilherme Oliveira, 2006). O treino de futebol deve, então, ir ao encontro da situação de jogo tanto quanto possível (Guilherme Oliveira, 1991; Júlio & Araújo, 2005). De acordo com Carvalhal (2000), o princípio da especificidade deve dirigir o processo de treino, é uma forma de jogar. Ainda segundo este autor, a especificidade exige da equipa técnica a preocupação de inventar exercícios o mais ajustado possível a essa pretensão, no sentido de criar nos treinos a competição que desejam que aconteça. O modo de operacionalizar o modelo de jogo são os exercícios específicos, estes serão o meio mais eficaz para adquirir uma forte relação entre informação e acção, ou seja, que leve os jogadores a interiorizar o conhecimento adquirido e que leve à aquisição de comportamentos inerentes a uma forma de jogar que se pretende ver instituída. Guilherme Oliveira (2006), reitera que a especificidade é o fundamento teórico do processo de treino, e que não tem qualquer sentido que os valores do tipo de preparação/treino específico não sejam elevadíssimos. Assim, é através da vivenciação de variadíssimos contextos de exercitação (Garganta, 17.

(33) Revisão da Literatura. 2006b) que se optimizará o rendimento do sistema no seu meio específico. Então, o treino deve ser potenciador de soluções para fazer face aos problemas que se prendem com a gestão do instante, do “aqui e agora”, característico do jogo de futebol (Frade, 2006; Garganta, 2006b). Ainda de acordo com Carvalhal (2000, p. 25), “os exercícios em futebol para a preparação e organização de uma equipa têm que se traduzir no simular de “momentos” da competição, e esse simular tem que se traduzir em exercícios que na sua própria essência não desvirtuem aquilo que é (ou vai ser) a realidade competitiva. O não desvirtuar significa que cada exercício tem que possuir as “componentes” do jogo na sua totalidade”. Frade (2006), refere que o processo de treino tem que ter sempre em conta a especificidade do jogo, acrescentando que não há melhor forma de trabalhar, se esta for em consonância com o que se passa durante a partida de futebol. No entanto, há algo mais para além disso. Segundo Guilherme Oliveira (2004) o treino ou as situações de treino, só são verdadeiramente específicas quando houver uma permanente e constante relação entre as componentes táctico-técnicas individuais e colectivas, psicocognitivas, físicas e coordenativas, em correlação permanente com o modelo de jogo e os respectivos princípios que lhe dão corpo. Assim sendo, só existe especificidade quando as situações de treino são realmente específicas e não apenas situacionais, ou seja, retira-se do jogo idealizado aquilo que é mais importante e transporta-se para o treino sendo este constituído por acções desejadas para o jogo, obedecendo às directivas da matriz de jogo. Com efeito, a especificidade é uma necessidade metodológica, o treinador deve criar um conjunto de condições que leve o jogador a ficar afinado a um acoplamento específico de informação-acção (Júlio & Araújo, 2005). Para que isso aconteça é preciso criar um contexto facilitador, tanto ao nível da informação, bem como ao nível da operacionalização, utilizando exercícios específicos que potenciem determinados padrões comportamentais (Amieiro, Oliveira, Resende, & Barreto, 2006; Frade, 2006).. 18.

(34) Revisão da Literatura. 2.3.1 Operacionalizar o princípio da especificidade. “Para mim, treinar é treinar em especificidade, é criar exercícios que me permitam exacerbar os meus princípios de jogo”. (Mourinho, citado por Amieiro, Oliveira, Resende, & Barreto, 2006, p. 139). Qualquer treinador de futebol encontra inúmeras dificuldades na aplicação do princípio da especificidade no processo de treino, na medida em que, este depende de vários factores determinantes e é por isso que a maioria “não se dá ao trabalho” (Frade, 2006). Guilherme Oliveira (2004, p. 154), refere que “a operacionalização do conceito de especificidade condiciona o formato do processo de treino, mas também, obrigatoriamente, a intervenção nesse formato. Isto é, para que o conceito de Especificidade seja atingido durante o treino, não basta que os exercícios propostos sejam potencialmente específicos, é necessário uma intervenção interactiva do treinador com o exercício e com os jogadores para que ela aconteça”. Essa intervenção deve acontecer em três momentos distintos (Guilherme Oliveira, 2004, p. 154): -. “No momento antecedente à execução do exercício, o treinador explica-o no sentido dos jogadores perceberem qual o seu contexto, quais os seus objectivos, quais os comportamentos desejados e que implicações esses comportamentos irão ter no desenvolvimento dos conhecimentos colectivos e individuais e na qualidade de prestação.. -. Durante a execução do exercício, o treinador deve funcionar como catalisador positivo dos comportamentos desejados..., e inibir os comportamentos inadequados (retroacção).. -. O último momento acontece no final do exercício com o objectivo de salientar os aspectos positivos e os aspectos negativos do realizado”.. Visto isto, atinge-se uma determinada forma de jogar através da operacionalização de exercícios específicos, sempre com uma intervenção. 19.

(35) Revisão da Literatura. específica e ajustada, em consonância com o modelo de jogo e os respectivos princípios inerentes ao mesmo (Amieiro, Oliveira, Resende, & Barreto, 2006; Frade, 2006; Guilherme Oliveira, 2004; Guilherme Oliveira, 2006; Oliveira, 2005).. 2.4 O conhecimento específico em futebol. “O ideal seria que. todos os jogadores pensassem da mesma forma num determinado momento do jogo”. (Frade, 2006). O conhecimento específico está relacionado com o repertório de saberes que um jogador de futebol possui, de forma a fazer face aos constrangimentos que o jogo em si lhe impõe (Guilherme Oliveira, 2004). Para a execução deste trabalho centramo-nos, principalmente, na aquisição de conhecimento específico relativo ao modelo de jogo. Assim sendo, o jogador de futebol deve estar identificado com a matriz de jogo, com determinados padrões comportamentais (Amieiro, Oliveira, Resende, & Barreto, 2006; Guilherme Oliveira, 2006), para que a solução encontrada num determinado momento do jogo seja “entendida” pelos restantes elementos da equipa (Frade, 2006). No seguimento do que foi mencionado anteriormente, pretende-se, acima de tudo, que o jogador de futebol adquira um “saber sobre o saber fazer” (Frade, 2006), isto é, que possua um conhecimento táctico-técnico abrangente que lhe permita estar identificado com uma determinada cultura táctica de jogo e, além disso, um à vontade no conhecimento do projecto de jogo colectivo que lhe proporcione uma eficiente interacção/comunicação com os restantes elementos (Guilherme Oliveira, 2004). No entanto, é de salvaguardar que o conhecimento específico poderá ser mais alargado, já que o modelo de jogo poderá ser demasiado pobre. O jogador de futebol pode possuir um conhecimento específico que lhe permita. 20.

(36) Revisão da Literatura. jogar com qualidade e eficiência em vários modelos de jogo (Guilherme Oliveira, 2006).. 2.4.1 Do conhecimento declarativo ao conhecimento processual. Como vimos no ponto anterior há uma necessidade de aquisição de um conhecimento específico relativo ao modelo de jogo, de forma a transformar a informação, em acções e comportamentos que irão conferir uma determinada forma de jogar e um “saber sobre o saber fazer” (Frade, 2006). No futebol, a utilização da expressão “saber o que fazer” tem sido usada para descrever o conhecimento declarativo, enquanto que expressões como “saber fazer”, ou simplesmente “fazê-lo” descrevem o conhecimento processual (Cohen, 1984; Eysenck & Keane, 1994; MacPherson, 1994). Por conhecimento declarativo entende-se o conhecimento que pode ser expresso através da verbalização, já o conhecimento processual está relacionado com o agir, ou seja, com a realização de acções de acordo com uma situação específica (Cohen, 1984; Eysenck & Keane, 1994). Segundo Guilherme Oliveira (2004), a interacção entre o conhecimento declarativo e o processual irá permitir uma melhoria no desempenho. Assim sendo, o treinador para além de passar a informação aos jogadores sobre os comportamentos desejados, deve criar exercícios específicos para a criação de hábitos e padrões comportamentais, de modo a chegar ao “jogar” que pretende (Frade, 2006). Em concordância com Guilherme Oliveira (2004), a repetição sistemática de determinadas acções ao longo do processo de treino transforma o conhecimento declarativo em conhecimento processual. A optimização do conhecimento declarativo e processual do jogo, passa incontornavelmente, pelas situações criadas no processo de treino. Estas devem conter as particularidades do jogo, para que o atleta seja confrontado com situações/problemas idênticas às do jogo (Garganta, 2006b).. 21.

(37) Revisão da Literatura. Podemos então afirmar que o conhecimento processual obtido pelo treino de determinados princípios, sub-princípios... inerentes ao modelo de jogo, utilizando exercícios específicos, promove a aquisição e retenção do conhecimento declarativo específico (Helsen & Pauwels, 1993). Por outro lado, o conhecimento declarativo (princípios, padrões e regras que conferem organização ao jogo, já que apresentam a problemática e limites de intervenção dos jogadores para solucionar os problemas) evolui para um conhecimento processual mais sofisticado, tendo em vista uma acertada tomada de decisão (Gréhaine, Godbout, & Bouthier, 2001; MacPherson, 1993).. 2.5 A “condição” fractal do exercício de treino. “Os fractais são formas geométricas que são igualmente complexas nos seus detalhes e na sua forma geral. Isto é, se um pedaço de fractal for devidamente aumentado para tornarse do mesmo tamanho que o todo, deveria parecer-se com o todo, ainda que tivesse que sofrer pequenas variações”. (Mandelbrot, 1992 citado por Cunha e Silva, 1996, p. 166). O conceito de fractal foi criado por Mandelbrot, um matemático polaco ao serviço da IBM, que ao estudar a flutuação dos preços do algodão no mercado internacional, verificou que, por detrás do comportamento aberrante da distribuição habitual desses valores, se encontra uma simetria do ponto de vista. da. escala.. Assim,. apesar. das. variações. momentâneas. serem. imprevisíveis, elas apresentavam o mesmo padrão quando comparadas com variações para grandes lapsos de tempo (Cunha e Silva, 1999). A este fenómeno, Mandelbrot chamou “invariância de escala”. E ela decorre de dois princípios organizadores: a cascata e a homotetia interna. A cascata assegura o desdobramento das escalas, já a homotetia interna impõe a autosemelhança. Da fusão dos dois princípios resulta um terceiro: a invariância (auto-semelhança) de escala (Cunha e Silva, 1999). Desta forma, os fractais são objectos sem escala que contribuem para o entendimento funcional total de determinado fenómeno. 22.

(38) Revisão da Literatura. O matemático polaco opunha-se à utilização dos fractais para além dos limites algébrico-matemáticos (Cunha e Silva, 1996), porém, no entender de Paulo Cunha e Silva (1999), entre outros autores, o conceito de fractal aplicase a variadíssimos fenómenos, já que permite explicar a sua natureza e a sua complexidade. Ele permite-nos “estudar a folha para conhecer a verdade da árvore” (Condé, 1993 citado por Cunha e Silva, 1999, p. 113). Para uma melhor compreensão do conceito, é pertinente reflectir sobre a sinédoque: tomar a parte pelo todo e o todo pela parte (Cunha e Silva, 1999). No contexto do futebol e segundo a perspectiva de Guilherme Oliveira (2004), a organização fractal do exercício de treino é uma necessidade metodológica, para que a fragmentação proporcione uma intervenção mais eficaz por parte do treinador. As suas palavras ilustram bem a fractalidade no futebol (2004, p. 146) “relativamente ao jogo, a decomposição acontece ao nível das diferentes “fases”/momentos, respectivos comportamentos ou princípios que lhes estão associados e as diferentes escalas que podem assumir.. No. que. concerne. ao. processo,. a. fractalização. incide. na. operacionalização, tanto na criação como no direccionamento. Desta forma a organização fractal pretende criar, nos diferentes aspectos que se podem decompor, uma homotetia interna (de natureza funcional) que permita, em qualquer. escala,. identificar. as. singularidades. da. equipa,. ou. seja,. representativas do todo”. Existe, então uma aplicabilidade da fractalidade no futebol como modelo interpretativo da realidade com coerência funcional. Neste sentido, o exercício de treino deverá reger-se pela especificidade do jogo, pela sua dimensão holística e pelo contexto, isto é, por uma determinada forma de jogar que se pretende ver instituída (Frade, 2006), apesar de sofrer algumas alterações devido à fragmentação. Ainda segundo Guilherme Oliveira (2004), deve ter-se em consideração quatro fractalidades na criação de um processo de treino com as características desejadas: -. A primeira fractalidade é referente à decomposição dos diferentes momentos de jogo: a organização defensiva; a. 23.

(39) Revisão da Literatura. organização ofensiva; a transição defesa-ataque e a transição ataque-defesa e relativa aos comportamentos que os jogadores devem assumir nesses momentos do jogo a uma escala colectiva; sectorial (por exemplo: sector defensivo); inter-sectorial e, por fim a uma escala individual. Assim, o exercício de treino deverá permitir a aquisição de conhecimentos específicos, que possibilitam ao jogador e à equipa agir nos diferentes momentos do jogo, perante todos os constrangimentos, em função de uma ideia colectiva de jogo, o modelo de jogo da equipa. -. A segunda fractalidade é relativa ao modelo de jogo. Neste âmbito, Guilherme Oliveira (2004, p. 151) refere que “Os princípios. de. jogo. podem. ser. considerados. como. as. características que uma equipa evidencia nos diferentes momentos de jogo, isto é, são padrões de comportamento táctico-técnico que podem assumir várias escalas mas são sempre representativos do Modelo de Jogo, independentemente da escala de manifestação. Neste entendimento de princípios estes apresentam uma configuração e organização fractal uma vez que se manifestam como invariâncias do Modelo e independentemente da escala representam esse Modelo. Os princípios de jogo, ou os padrões de comportamento, podem ser decompostos em sub-princípios e estes, por sua vez, também até atingirem uma escala mínima. No entanto, nessa decomposição não pode deixar de haver fractalidade, isto é, os sub-princípios, ou. os. sub-princípios. dos. sub-princípios deverão sempre. representar o todo”. Acrescenta ainda, que só desta forma é que pode existir um desenvolvimento dos conhecimentos específicos e uma melhoria no desempenho dos jogadores. -. Na terceira fractalidade encontramos uma perspectiva do conceito de especificidade da autoria de Guilherme Oliveira que vai de encontro a um estudo realizado pelo próprio em 1991 e, também de encontro à Psicologia Ecológica defendida por. 24.

(40) Revisão da Literatura. Gibson. Neste âmbito, a especificidade para além de estar relacionada com a modalidade em questão (neste caso, o futebol), está em permanente intracção com o contexto, isto é, com o modelo de jogo específico da equipa. Guilherme Oliveira (2004, p. 156) acrescenta que “Este conceito de especificidade também. deve. assumir. uma. organização. fractal.. Independentemente do princípio ou do sub-princípio, do exercício mais complexo ou menos complexo, da intervenção do treinador mais global ou mais pormenorizada, isto é, das diferentes escalas de intervenção, a Especificidade deve estar sempre presente e deve ser representativa do Modelo de Jogo. A Especificidade, em todas as escalas possíveis, terá de ser sempre uma invariante/constante do processo”. Para que isto aconteça, há a necessidade de uma intervenção específica e adequada, dentro dos parâmetros do que foi mencionado no ponto 2.3.1. -. A quarta fractalidade prende-se com a modelação do exercício. Esta modelação tem por base as três primeiras fractalidades, já que a operacionalização do processo de treino está intimamente ligada ao modelo de jogo, à especificidade e aos diferentes momentos do jogo. Assim sendo, a configuração estrutural e funcional do exercício deve ser adequada à aquisição de determinados. comportamentos. por. parte. dos. jogadores,. representativos da cultura de jogo (modelo de jogo). Além disso, o treinador deve intervir de uma forma específica, de forma a exacerbar. os. comportamentos. adequados,. inibir. os. comportamentos inadequados e para que a homotetia interna da equipa seja sempre alcançada (Guilherme Oliveira, 2004). Há, então uma necessidade de fragmentar o jogo no processo de treino, todavia, deve existir a preocupação de o fazer sem que haja um empobrecimento do que é a qualidade de jogo de uma equipa, do jogar (Frade, 2006). Neste âmbito, a fractalização permite a construção de uma cultura de. 25.

Referências

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