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Avaliação das atitudes e comportamentos alimentares em crianças e adolescentes obesos referenciados a uma consulta hospitalar vs uma comunidade escolar

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RevPortEndocrinolDiabetesMetab.2014;9(2):111–115

Revista

Portuguesa

de

Endocrinologia,

Diabetes

e

Metabolismo

w w w . e l s e v i e r . p t / r p e d m

Artigo

original

Avaliac¸

ão

de

atitudes

e

comportamentos

alimentares

em

crianc¸

as

e

adolescentes

obesos

referenciados

a

uma

consulta

hospitalar

vs.

uma

comunidade

escolar

Diana

e

Silva

a,b,∗

,

Ana

Vaz

b

,

Carla

Rego

c

,

Cláudia

Dias

d

,

Luís

Filipe

Azevedo

d

e

António

Guerra

a,b,c aUnidadedeNutric¸ão/HospitalPediátricoIntegrado/CentroHospitalarS.João,Porto,Portugal

bFaculdadedeCiênciasdaNutric¸ãoeAlimentac¸ãodaUniversidadedoPorto,Porto,Portugal cFaculdadedeMedicinadaUniversidadedoPorto,Porto,Portugal

dServic¸odeBioestatísticaeInformáticaMédica,Porto,Portugal

informação

sobre

o

artigo

Historialdoartigo: Recebidoa22desetembrode2014 Aceitea23desetembrode2014 On-linea22deoutubrode2014 Palavras-chave: Crianc¸a Adolescente Comportamentoalimentar Children’sEatingAttitudeTest Obesidadeinfantil

r

e

s

u

m

o

Introduc¸ão:Asperturbac¸õesalimentaresemidadepediátricapodeminfluenciaraingestãoalimentare comprometerasaúdeebem-estardoindivíduo.

Objetivos: Avaliaratitudesecomportamentosalimentaresdecrianc¸as/adolescentescomexcessode peso/obesidadereferenciadosaumaconsultahospitalarvs.umacomunidadeescolar.

Materialemétodos:Foramavaliadas157crianc¸as/adolescentes:92comexcessodepeso/obesidade(GA) e65escolares(GB).Ocomportamentoalimentar(CA)foiavaliadoporumaescalaChildren’sEating Atti-tudeTest(ChEAT)–Maloneyetal.,1998,versãoparacrianc¸aseadolescentesadaptadadoEAT(Garner, Garfinkle,1979),sendoasrespostasassinaladasnumaescaladeLinkert(1-6).Asalterac¸õesdoCAforam divididasem3subescalas:1–aspetosrelativosaocumprimentodadieta;2–preocupac¸ãocomacomida ebulimia;3–controlodaingestãoalimentar.Procedeu-seaindaàcaracterizac¸ãodoestadodenutric¸ão (IMC)dacrianc¸a/adolescente(CDC,2000).Osresultadossãoapresentadospormédiaedesviopadrão. Resultados: Atotalidadedaamostra(M=43,6%;F=56,4%)apresentaumaidadecronológicamédiade 9±2anos(min=6;max=12).Observa-seexcessodepesoem14,1%doGAvs.23%doGBeobesidade em85,9%doGAvs.12,3%doGB.Verificam-seemambososgruposestudadosvaloresmédiosbaixos queraníveldaescalaglobaldoChEAT(GA=16,4±8,6;GB=10,0±7,6)queraníveldas3subescalas:1– GA=12±7;GB=5±5;2–GA=2±2;GB=1±2;3–GA=3±3;GB=4±4,comdiferenc¸assignificativas nassubescalas1e3.SãoobservadosvaloresdeboaconsistênciainternanaescalaglobaldoChEAT (␣=0,761)enasubescala1(␣=0,793),enquantoassubescalas2e3apresentamvaloresmédios(2: ␣=0,518;3:␣=0,503).

Conclusões: OChEATéumaescalaquepodeserutilizadaparaavaliac¸ãodasatitudese comportamen-tosalimentaresnapopulac¸ãopediátricaportugueses,poisregista-seumaboasensibilidadeparaos parâmetrosquesepretendemavaliar.

©2014SociedadePortuguesadeEndocrinologia,DiabeteseMetabolismo.PublicadoporElsevier España,S.L.U.Todososdireitosreservados.

Evaluation

of

Food

attitudes

and

behaviours

in

obese

children/adolescents

followed

at

the

nutrition

outpatient

paediatric

hospital

vs.

school

community

Keywords: Child

a

b

s

t

r

a

c

t

Background: Thefoodbehavioursinpaediatricagecancompromisethehealthandwellbeingofthe individualandinfluenceabadbalancedfoodintake.

∗ Autorparacorrespondência.

Correioeletrónico:silvaqueiroga@netcabo.pt(D.eSilva).

http://dx.doi.org/10.1016/j.rpedm.2014.09.001

(2)

112 D.eSilvaetal./RevPortEndocrinolDiabetesMetab.2014;9(2):111–115 Adolescent

Eatingbehavior

Children’sEatingAttitudeTest Childhoodobesity

Aims:ToevaluatetheFoodBehaviour(FB)ofchildren/adolescentswithoverweight/obesityvsaschool communitythroughtheChEATquestionnaire.

MethodsandMaterials: Thesamplewascomposedof157children/adolescentsofbothgendersof6to 12yearsoldwereevaluatedanddividedintotwogroups:GA(n=92),fromtheNutritionConsultationof thePaediatricServicesHospitalSJoãoinPortoGB(n=65)andtwoschoolgroups.TheFBwereevaluated throughChEAT(Children’sEatingAttitudeTest–Maloneyetal.,1998)–composedof26items,aversion tochildrenandadolescentsadaptedfromEAT(GarnerDM,GarfinklePE,1979),beingtheanswerssignedin aLikertscale(1-6).Afterarecodificationwasmade(0-3),thepunctuationwentfrom0-78.Thechangesof FBweredividedin3sub-scales:1–aspectsrelatedtothecomplianceofthediet(0-39);2–worryabout foodandbulimia(0-18);3–Controloffoodintake(0-21).Thenutritionstateofthechildren/adolescents wasevaluated(BMI).Theresultsarepresentedbythemeanaverageanddp.

Results:Thetotalsample(M=43,6%;F=56.4%),showsameanchronologicalageof9±2years(min=6; max=12).Amongthechildren(14,1%)areoverweightandobese(85,9%)fromGAandfromtheGB23%are overweightand12,3%areobese.Itisobservedthatinbothgroups,lowmeanvaluesarepresentedinthe globalChEATscale(GA=16,4±8,6;GB=10,3±7,7)andinthethreesub-scales:1-GA=12±7;GB=5±5; 2-GA=2±2;GB=1±2;3-GA=3±3;GB=4±4,withsignificantdifferencesinthesub-scales1and3. ThereareobservedvaluesofgoodinterneconsistencyintheglobalChEATscale(␣=0.761)andinthe sub-scale1(␣=0.793)aslongasinthesub-scales2and3presentmeanvaluesof(2=0.518;3=0.503) arepresented.

Conclusion: ChEATisascalethatcanbeusedtoevaluatetheattitudesandthefoodhabitsamongthe Portuguesepaediatricpopulation,thereforeitisregisteredagoodsensitivitytotheparametersthatare supposedtobeevaluated.

©2014SociedadePortuguesadeEndocrinologia,DiabeteseMetabolismo.PublishedbyElsevierEspaña, S.L.U.Allrightsreserved.

Introduc¸ão

Aalimentac¸ãoéumatodesobrevivência.Todososseresvivos

precisamde se alimentar,observando-seuma capacidadeinata

para a procura do alimento1. Atualmente a alimentac¸ão serve

inúmerospropósitosparaalémdeserindispensávelàvida,pois

consistenumdosprincipaisatossociaisehumanos1.

Aculturaditaaspremissascomoossereshumanossedevem

comportaroualimentar.Ainfluênciadoambientecondicionaos

padrõesdeingestãoeoshábitosalimentaresespecíficos,alguns

delespré-estabelecidosepenetráveisadiversosfatoresculturais,

sociaisepsicológicos1.

Alimentar-seécadavezmais umatosocial,ondeo

envolvi-mentodosfamiliareseparesvaiinfluenciandoodesenvolvimento

depreferências,atitudesecomportamentosalimentaresdacrianc¸a

edoadolescente2,3.

Ocontextonoqualsedesenvolvemospadrõesalimentaresna

infânciatorna-se,pois,fundamental.Ainterac¸ãosocialàsrefeic¸ões

permiteàcrianc¸aexperiênciasalimentaresconstrutivas,podendo

facilitara aquisic¸ãodeatitudes positivasperante osalimentos,

que podem perdurarpormuitos anos4. O ensinoexperimental

comosalimentosincluiexposic¸ão,condicionamentoassociativo,

aprendizagemdesaboresemodelac¸ãoparental,sendoesteúltimo

tendencialmentedecrescenteàmedidaquesedesenvolvemos

pró-priosprocessosdeautonomia5–7.

Aidadeescolaréafasecrucialparaaestruturac¸ãoeconsolidac¸ão

dehábitosalimentareseestilosdevidasaudáveis,quepersistem

duranteaidadeadulta8.Poroutroladoedeacordocoma

litera-tura,parecebastanteconsistenteofactodeoníveldeeducac¸ãoe

socioeconómicodospaisinfluenciarasescolhasdeestilodevida

dosfilhos8.

Algunsautoresconsideramqueosfatorescomportamentaisque

influenciamaingestãoeinteragemcomoambientefamiliar,ou

mesmocomapredisposic¸ãogenética,originampadrõesde

prefe-rênciaseconsumosalimentares.Porexemplo,ocomportamento

alimentar(CA)adquiridopodeser umimportantemediadordo

bomoumauestadonutricionaldoindivíduo9,10.Maushábitos

ali-mentareseestilosdevida sedentáriostêmsidodescritoscomo

principaiscausasnoaumentodrásticodaprevalênciadeexcesso

depeso/obesidadenasúltimasdécadas,tantonospaíses

desenvol-vidoscomoemviasdedesenvolvimento10,11.

Éhojeunanimementeaceitepela comunidadecientífica que

os hábitos alimentares contraídos na infância e na

adolescên-ciapodempotencialmenteinfluenciarodesenvolvimentofísico,

intelectualeemocionaldosindivíduos.Considera-sequehábitos

alimentarespoucosaudáveis,instaladosprecocemente,têmefeitos

negativosnasaúdedaspopulac¸õesadultas12,13.

Asatitudesecomportamentosalimentaressãoresultadodeum

longoprocessodesocializac¸ãoedesenvolvimento,aprendidosno

seiodafamíliaesujeitosàsinfluênciasdospares14.Algunsestudos

concluemmesmoqueafaltadeatenc¸ãoporpartedospaispodeser

consideradoumfatorobesogénico15–17.

A identificac¸ão precoce dos perturbac¸ões do CA tanto nas

crianc¸ascomonosadolescentespareceserumdadopreciosopara

melhorcompreenderalgumassituac¸õesclínicas,nomeadamenteo

excessodepeso/obesidade18.

O desenvolvimento de distúrbios alimentares caracteriza-se

pelaexistênciadeumconjuntodehábitosalimentaresede

ati-vidade física desajustados, práticas obsessivas de controlo de

peso,atitudesecomportamentossobreaalimentac¸ão

acompanha-dosdeumainsatisfac¸ãocoma imagemcorporaledealterac¸ões

psicológicas19.A avaliac¸ãodasatisfac¸ão/insatisfac¸ãodaimagem

corporalpodeassociar-seapráticasalimentaresincorretas.

Foiobjetivodo presentetrabalho avaliaratitudes e

compor-tamentos alimentaresde crianc¸as/adolescentes comexcesso de

peso/obesidadereferenciadosaumaconsultadenutric¸ão

pediá-tricadoHospitalSãoJoãovs.umacomunidadeescolardodistrito

doPorto.

Materialemétodos

Foram avaliadas 157 crianc¸as/adolescentes: 92 seguidas em

consultahospitalarporexcessodepeso/obesidade(GA)e65

esco-lares(GB).

ApesardoEatingAtitudeTest(EAT)serotestequetemsidomais

utilizadoparaavaliardistúrbiosalimentaresemadultose

adoles-centes,numavariedadedeculturaseamostras20,21oCAfoiavaliado

porumaescala–Children’sEatingAttitudeTest(ChEAT–Maloney

etal.,1998)(Graner,1982)19,versãoparacrianc¸aseadolescentes

(3)

D.eSilvaetal./RevPortEndocrinolDiabetesMetab.2014;9(2):111–115 113 Tabela1

Crianc¸as/adolescentes.Avaliac¸ãodasatitudesecomportamentosalimentarespelasescalasdoChEATerespetivassubescalas:médiaedesviopadrão(GA=92;GB=65)

GA GB

Média(dp) p* Média(dp)

16,4(8,6) ChEAT(escalaglobal) 0,001 10,0(7,6)

12,0(7,0) Aspetosrelativosaocumprimentodadieta 0,001 5,0(5,0)

2,0(2,0) Preocupac¸ãocomacomidaebulimia 0,080 1,0(2,0)

3,0(3,0) Controlodaingestãoalimentar 0,021 4,0(4,0)

*TesteMannWhitney.

assinaladasnumaescaladeLikert(1-6),compreendidas entreo

sempre(1)eonunca(6)22.

Os26itensqueconstituemaescalaestãodivididosem3

subes-calas:1–aspetosrelativosaocumprimento dadieta–refletem

a recusa patológica a alimentos de elevado valor energético e

preocupac¸ãocomaimagemcorporal(itens:1,6,7,10,11,12,14,

16,17,22,23,24e25);2–preocupac¸ãocomacomidaebulimia

–refere-seaepisódiosdeingestãocompulsiva,purgaeoutras

téc-nicasdecontrolodepeso(itens:3,4,8,18,21e26);3–controlo

daingestãoalimentar–demonstraoautocontroloemrelac¸ãoaos

alimentosereconheceforc¸associaisnoambientequeestimulam

aingestãoalimentar(itens:2,5,9,13,15,19,20).Posteriormente,

procedeu-seàrecodificac¸ãodecadaitemde0-3,nadependênciada

escolha:«sempre»(3);«quasesempre»(2);«frequentemente»(1);

«algumasvezes»,«raramenteenunca»(0).Apontuac¸ãovariaentre

0-78eas3subescalasrelativasàsalterac¸õesdoCAapresentama

seguintepontuac¸ão:1–aspetosrelativosaocumprimentodadieta

(0-39);2–preocupac¸ãocomcomidaebulimia(0-18);3–controlo

daingestãoalimentar(0-18).

Considerou-seovalorigualousuperiora20,napontuac¸ãototal,

comopontodecorteparaalterac¸õesseverasdoCA(Garner1979),

tendoporbaseoscritériosdaDiagnosticandStatisticalManualof

MentalDisorders–4th(DSM-IV)20.Scores10<20sãoindicadores

dealterac¸õesmoderadasdoCAescores<10sãoindicadoresdeCA

normal23.

Oreferidoquestionáriofoitraduzidoemváriaslínguase

vali-dadoempopulac¸õesdeambosossexos24.Aversãoutilizadaneste

estudofoitraduzidaemportuguêsevalidadanoBrasil25.

Paracaracterizaroestadonutricionalcalculou-seoíndicede

massacorporal(IMC)deQuetellet(peso/estatura2)26,assimcomo

osZc do IMC,utilizando como padrãode referência as tabelas

do CDC27.Segundo o IMC para o sexo eidade foiconsiderado

excessodepesoPc≥85<95eobesidadeoPc≥9528.

Previamentetodososparticipantesforaminformadose

escla-recidosacerca dos objetivosdo estudoa realizareassinaram a

declarac¸ãodeconsentimentoinformado.Oprotocolofoiaprovado

pelacomissãodeéticadoCentroHospitalarSãoJoãoepelos

con-selhosdediretivosdasinstituic¸õesescolares.

Asvariáveisnuméricassãodescritasatravésdamédiae

des-viopadrão.Nacomparac¸ãodegruposfoiutilizadootestedeMann

Whitney.Foiefetuadotambémumestudodefiabilidadedas

esca-lasdoquestionáriosendoapresentadooalfadeCronbach,ouseja,

medirseumconjuntodeitensestáamediromesmoconstructo

esperando-sequeestejammuitocorrelacionados.Estevalorvaria

entre0-1,sendoquequantomaispróximode1maiorafiabilidade

doconstructoquesepretendemedir.

Emtodasasanálisesconsiderou-secomsignificadoestatístico

umvalordep<0,05.Foiutilizadoosoftwaredeanáliseestatística

StatisticalPackagefortheSocialSciencesv18.0(PASWSPSS®).

Resultados

Atotalidadedaamostrados2grupos(M=43,6%;F=56,4%)

apre-sentaumaidadecronológicamédia9±2anos(min=6;max=12).

Datotalidadedecrianc¸asdoGA,14,1%têmexcessodepesoe85,9%

obesidadeedoGB23%temexcessodepesoe12,3%obesidade.

Do total das crianc¸as/adolescentes escolares (GB) apenas

9%apresentamalterac¸õesdo CA,sendoestasmaisevidentesno

grupodeobesosseguidonaconsulta(GA=34%),tendoporbasea

análisedoscoretotaldaescaladoChEATeutilizandoovalor20

comopontodecorte.

Omesmoseobservaanalisandoosvaloresmédiosdaescala

globaledas respetivasescalas emambososgrupos (GAeGB),

sendoqueascrianc¸as/adolescentesdaconsultaapresentammais

alterac¸õesdeCAemtodasassubescalascomdiferenc¸as

significati-vasentregrupos,queraníveldaescalaglobaldoChEAT(p<0,001)

queraníveldassubescalas1(p<0,001)e3(p=0,021)(tabela1).

Verificam-se emambos osgrupos estudadosvalores médios

baixos quer a nível da escala global do ChEAT (GA=16,4±

8,6;GB=10,0±7,6)queraníveldas3subescalas:1–GA=12±7;

GB=5±5; 2 – GA=2±2; GB=1±2; 3 – GA=3±3; GB=4±4,

comdiferenc¸asestatisticamentesignificativasnaescalaglobal(p

<0,001)enassubescalas:1–aspetosrelativosaocumprimentoda

dieta(p<0,001)e3–controlodaingestãoalimentar(p=0,021)

(tabela1).

Relativamente às crianc¸as/adolescentes avaliadas em meio

escolarnãofoiencontradaumaassociac¸ãocomsignificado

esta-tístico entre as 3 subescalas do ChEAT e o estado nutricional

da totalidadeda populac¸ãoestudada, noentanto, as crianc¸as e

adolescentescomexcessodepeso/obesidadeapresentamvalores

designificânciamaiselevadosnasubescala2(preocupac¸ãocom

a comida ebulimia) no grupocom excessode peso(p=0,027)

(tabela2).

Sãoobservadosvaloresdeboaconsistênciainternanaescala

globaldoChEAT(␣=0,761)enasubescala1(␣=0,793),enquanto

se registam apenas valores de consistência interna média nas

subescalas2e3(␣=0,518e␣=0,503,respetivamente)(tabela3).

Tabela2

Crianc¸as/adolescentes.Avaliac¸ãodasatitudesecomportamentosalimentarespelas escalasdoChEATvs.estadoponderal(excessodepeso[85≤Pc<95]=36;obesidade [Pc≥95]=87;p*<0,05)

85≤Pc<95 Pc≥95

p* p*

0,355 Aspetosrelativosaocumprimentodadieta 0,072 0,027 Preocupac¸ãocomacomidaebulimia 0,182

0,242 Controlodaingestãoalimentar 0,385

*TesteMannWhitney;Pc=percentil.

Tabela3

Crianc¸as/adolescentes.Avaliac¸ãodaconsistênciainternadaavaliac¸ãodasatitudes ecomportamentosalimentarespelasescalasdoChEATerespetivassubescalas:␣

␣ n

ChEAT(escalaglobal) 0,761 26

1Aspetosrelativosaocumprimentodadieta 0,793 13 2Preocupac¸ãocomacomidaebulimia 0,518 6 3Controlodaingestãoalimentar 0,503 7 ␣:alfadeCronbach.

(4)

114 D.eSilvaetal./RevPortEndocrinolDiabetesMetab.2014;9(2):111–115 Discussão

Influênciassociaiseculturais parecemserresponsáveispelo ambiente obesogénico, onde o excessivo consumo de alimen-tosdensamenteenergéticosenutricionalmentedesequilibrados, associados a uma crescente adesão a atividades sedentárias, sãoresponsáveispelodrásticoaumentodesobrepeso/obesidade, desencadeandosériosproblemasfísicosepsicológicos29,30.

Muitoemboraestudos recentesapontem paraa necessidade

de considerarem uma mais-valia a avaliac¸ão das alterac¸ões do

CA,sãoescassosostrabalhosemidadespediátricas31,32.Umdos

instrumentosatualmentemaisutilizadosnestegrupoetárioéa

versãoreduzidadoEATquecompreende26itens–ChEAT.Este

instrumentofoidesenhadoparamedirumgrandenúmerode

atitu-desecomportamentosalimentaresemcrianc¸as/adolescentescom

menosde15anos32.

Para o rastreio da obesidade pediátrica a OMS recomenda

a utilizac¸ão do cálculo do IMC segundo a fórmula de

Que-tellet (IMC=peso [kg]/altura (m)2) por apresentar uma forte

correlac¸ãocomapercentagemdegorduracorporal33,34.

Tratando--sede uma populac¸ãomuito jovem,éacentuada a prevalência

deexcessodepeso/obesidadedeterminadapeloIMC,mesmono

grupo escolar (GB=35,3%), sugerindo um mau prognóstico no

futuro. Embora ligeiramente superiores, estes achados vêm

de encontro ao observado noutros estudos realizados em

crianc¸as/adolescentesportugueses35.

Algunsestudoslongitudinaismostramqueaobesidadedepois

dos 3 anosde idade se associa a maior risco de obesidade na

idadeadulta,bemcomoamaiormorbilidadecardiometabólicae

mortalidade35,36.

Noestudorealizadonãoseobservamdiferenc¸assignificativas

entreassubescalasdoChEATeoestadonutricionaldascrianc¸as

ouadolescentescomexcessodepesoecomobesidade(IMC=85≥

Pc>95eIMC=Pc≥95).Comparativamenteaogrupodosobesos,o

grupocomexcessodepesoeapresentavaloresmédiosmais

ele-vadosrelativamenteacomportamentosrelacionadoscombulimia,

emborasemsignificadoestatístico(p=0,027).Contudo,

Yannakou-liaetal.observam,emcrianc¸ascomexcessodepeso/obesidade,

umatendênciamaiorparaapresentaremcomportamentos

alimen-taresalterados37.

Ao analisarmos a consistência interna do ChEAT, verifica-se

queesteinstrumento temsensibilidadeparao quesepretende

medir,observando-sevaloresbonsdeconsistênciainterna

particu-larmentenaescalaglobaldoChEATesubescala1(aspetosrelativos

aocumprimentodadieta),enquantoassubescalas2(preocupac¸ão

comacomidaebulimia)e3(controlodeingestãoalimentar)

apre-sentamvaloresdeconsistênciainternamédios(tabela3).

Nãosetratandodeumestudodevalidac¸ão,aanáliseestatística

daconsistênciainternamediadapeloalfa(˛)permiteaaplicac¸ão

daescalacomseguranc¸a.Ouseja,comprova-sequeoChEATéum

instrumentoquepodeserutilizadonaavaliac¸ãodasatitudese

com-portamentosalimentaresnapopulac¸ãopediátricaportuguesa.

Conclusões

Aobesidadenainfânciaefaseinicialdaadolescênciaparece

nãoestarassociadaaindicadoresdecomportamentosalimentares

alterados.Osresultadosdopresentetrabalhoapresentamvalores

médiosbaixos destes indicadores tanto ao nível da escala

glo-balcomodasrespetivas subescalas,em ambososgrupos (GAe

GB),provavelmenteporsetratardeumgrupomuitojovemcom

umaimaturidadeglobaledeintrospec¸ãoincapazdeumacorreta

autoavaliac¸ão.

OChEATéumaescalaquepodeserutilizada,comseguranc¸a,

na avaliac¸ão das atitudes e comportamentos alimentares na

populac¸ão pediátrica portuguesa. Verifica-se, no entanto, que

crianc¸as/adolescentescomexcessodepeso/obesidadeapresentam

maior envolvimento em comportamentos relativos ao

cumpri-mentodadieta(exemplo:tenhomedodeestarcomexcessode

peso;pensomuitoemsermaismagro;afasto-medecomidasque

contenhamac¸úcarecomocomidadedieta)edaingestãoalimentar

(exemplo:mantenho-meafastadodacomidaquandotenhofome;

demoromaistempoacomerumarefeic¸ãodoqueosoutros;posso

demonstrarcontrolonacomidaquecomo).Talfactopodedever-se

provavelmenteàmaiorexposic¸ãoàspressõessocioculturaisaque

estãosujeitos.

Visandoaadoc¸ãodeestilosdevidamaissaudáveis,

preconiza--seumaintervenc¸ãobaseadanoconhecimentodasatitudesedos

comportamentosalimentaresduranteainfânciaeaadolescência,

sendoparaissonecessárioimplementarmaisestudosnonossopaís.

Conflitodeinteresses

Osautoresdeclaramnãohaverconflitodeinteresses.

AgradecimentosAgrupamentosEscolares:Irmãospassos-

Gui-fõesecolégioalemãodoPorto.

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