RevPortEndocrinolDiabetesMetab.2014;9(2):111–115
Revista
Portuguesa
de
Endocrinologia,
Diabetes
e
Metabolismo
w w w . e l s e v i e r . p t / r p e d m
Artigo
original
Avaliac¸
ão
de
atitudes
e
comportamentos
alimentares
em
crianc¸
as
e
adolescentes
obesos
referenciados
a
uma
consulta
hospitalar
vs.
uma
comunidade
escolar
Diana
e
Silva
a,b,∗,
Ana
Vaz
b,
Carla
Rego
c,
Cláudia
Dias
d,
Luís
Filipe
Azevedo
de
António
Guerra
a,b,c aUnidadedeNutric¸ão/HospitalPediátricoIntegrado/CentroHospitalarS.João,Porto,PortugalbFaculdadedeCiênciasdaNutric¸ãoeAlimentac¸ãodaUniversidadedoPorto,Porto,Portugal cFaculdadedeMedicinadaUniversidadedoPorto,Porto,Portugal
dServic¸odeBioestatísticaeInformáticaMédica,Porto,Portugal
informação
sobre
o
artigo
Historialdoartigo: Recebidoa22desetembrode2014 Aceitea23desetembrode2014 On-linea22deoutubrode2014 Palavras-chave: Crianc¸a Adolescente Comportamentoalimentar Children’sEatingAttitudeTest Obesidadeinfantilr
e
s
u
m
o
Introduc¸ão:Asperturbac¸õesalimentaresemidadepediátricapodeminfluenciaraingestãoalimentare comprometerasaúdeebem-estardoindivíduo.
Objetivos: Avaliaratitudesecomportamentosalimentaresdecrianc¸as/adolescentescomexcessode peso/obesidadereferenciadosaumaconsultahospitalarvs.umacomunidadeescolar.
Materialemétodos:Foramavaliadas157crianc¸as/adolescentes:92comexcessodepeso/obesidade(GA) e65escolares(GB).Ocomportamentoalimentar(CA)foiavaliadoporumaescalaChildren’sEating Atti-tudeTest(ChEAT)–Maloneyetal.,1998,versãoparacrianc¸aseadolescentesadaptadadoEAT(Garner, Garfinkle,1979),sendoasrespostasassinaladasnumaescaladeLinkert(1-6).Asalterac¸õesdoCAforam divididasem3subescalas:1–aspetosrelativosaocumprimentodadieta;2–preocupac¸ãocomacomida ebulimia;3–controlodaingestãoalimentar.Procedeu-seaindaàcaracterizac¸ãodoestadodenutric¸ão (IMC)dacrianc¸a/adolescente(CDC,2000).Osresultadossãoapresentadospormédiaedesviopadrão. Resultados: Atotalidadedaamostra(M=43,6%;F=56,4%)apresentaumaidadecronológicamédiade 9±2anos(min=6;max=12).Observa-seexcessodepesoem14,1%doGAvs.23%doGBeobesidade em85,9%doGAvs.12,3%doGB.Verificam-seemambososgruposestudadosvaloresmédiosbaixos queraníveldaescalaglobaldoChEAT(GA=16,4±8,6;GB=10,0±7,6)queraníveldas3subescalas:1– GA=12±7;GB=5±5;2–GA=2±2;GB=1±2;3–GA=3±3;GB=4±4,comdiferenc¸assignificativas nassubescalas1e3.SãoobservadosvaloresdeboaconsistênciainternanaescalaglobaldoChEAT (␣=0,761)enasubescala1(␣=0,793),enquantoassubescalas2e3apresentamvaloresmédios(2: ␣=0,518;3:␣=0,503).
Conclusões: OChEATéumaescalaquepodeserutilizadaparaavaliac¸ãodasatitudese comportamen-tosalimentaresnapopulac¸ãopediátricaportugueses,poisregista-seumaboasensibilidadeparaos parâmetrosquesepretendemavaliar.
©2014SociedadePortuguesadeEndocrinologia,DiabeteseMetabolismo.PublicadoporElsevier España,S.L.U.Todososdireitosreservados.
Evaluation
of
Food
attitudes
and
behaviours
in
obese
children/adolescents
followed
at
the
nutrition
outpatient
paediatric
hospital
vs.
school
community
Keywords: Child
a
b
s
t
r
a
c
t
Background: Thefoodbehavioursinpaediatricagecancompromisethehealthandwellbeingofthe individualandinfluenceabadbalancedfoodintake.
∗ Autorparacorrespondência.
Correioeletrónico:silvaqueiroga@netcabo.pt(D.eSilva).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rpedm.2014.09.001
112 D.eSilvaetal./RevPortEndocrinolDiabetesMetab.2014;9(2):111–115 Adolescent
Eatingbehavior
Children’sEatingAttitudeTest Childhoodobesity
Aims:ToevaluatetheFoodBehaviour(FB)ofchildren/adolescentswithoverweight/obesityvsaschool communitythroughtheChEATquestionnaire.
MethodsandMaterials: Thesamplewascomposedof157children/adolescentsofbothgendersof6to 12yearsoldwereevaluatedanddividedintotwogroups:GA(n=92),fromtheNutritionConsultationof thePaediatricServicesHospitalSJoãoinPortoGB(n=65)andtwoschoolgroups.TheFBwereevaluated throughChEAT(Children’sEatingAttitudeTest–Maloneyetal.,1998)–composedof26items,aversion tochildrenandadolescentsadaptedfromEAT(GarnerDM,GarfinklePE,1979),beingtheanswerssignedin aLikertscale(1-6).Afterarecodificationwasmade(0-3),thepunctuationwentfrom0-78.Thechangesof FBweredividedin3sub-scales:1–aspectsrelatedtothecomplianceofthediet(0-39);2–worryabout foodandbulimia(0-18);3–Controloffoodintake(0-21).Thenutritionstateofthechildren/adolescents wasevaluated(BMI).Theresultsarepresentedbythemeanaverageanddp.
Results:Thetotalsample(M=43,6%;F=56.4%),showsameanchronologicalageof9±2years(min=6; max=12).Amongthechildren(14,1%)areoverweightandobese(85,9%)fromGAandfromtheGB23%are overweightand12,3%areobese.Itisobservedthatinbothgroups,lowmeanvaluesarepresentedinthe globalChEATscale(GA=16,4±8,6;GB=10,3±7,7)andinthethreesub-scales:1-GA=12±7;GB=5±5; 2-GA=2±2;GB=1±2;3-GA=3±3;GB=4±4,withsignificantdifferencesinthesub-scales1and3. ThereareobservedvaluesofgoodinterneconsistencyintheglobalChEATscale(␣=0.761)andinthe sub-scale1(␣=0.793)aslongasinthesub-scales2and3presentmeanvaluesof(2=0.518;3=0.503) arepresented.
Conclusion: ChEATisascalethatcanbeusedtoevaluatetheattitudesandthefoodhabitsamongthe Portuguesepaediatricpopulation,thereforeitisregisteredagoodsensitivitytotheparametersthatare supposedtobeevaluated.
©2014SociedadePortuguesadeEndocrinologia,DiabeteseMetabolismo.PublishedbyElsevierEspaña, S.L.U.Allrightsreserved.
Introduc¸ão
Aalimentac¸ãoéumatodesobrevivência.Todososseresvivos
precisamde se alimentar,observando-seuma capacidadeinata
para a procura do alimento1. Atualmente a alimentac¸ão serve
inúmerospropósitosparaalémdeserindispensávelàvida,pois
consistenumdosprincipaisatossociaisehumanos1.
Aculturaditaaspremissascomoossereshumanossedevem
comportaroualimentar.Ainfluênciadoambientecondicionaos
padrõesdeingestãoeoshábitosalimentaresespecíficos,alguns
delespré-estabelecidosepenetráveisadiversosfatoresculturais,
sociaisepsicológicos1.
Alimentar-seécadavezmais umatosocial,ondeo
envolvi-mentodosfamiliareseparesvaiinfluenciandoodesenvolvimento
depreferências,atitudesecomportamentosalimentaresdacrianc¸a
edoadolescente2,3.
Ocontextonoqualsedesenvolvemospadrõesalimentaresna
infânciatorna-se,pois,fundamental.Ainterac¸ãosocialàsrefeic¸ões
permiteàcrianc¸aexperiênciasalimentaresconstrutivas,podendo
facilitara aquisic¸ãodeatitudes positivasperante osalimentos,
que podem perdurarpormuitos anos4. O ensinoexperimental
comosalimentosincluiexposic¸ão,condicionamentoassociativo,
aprendizagemdesaboresemodelac¸ãoparental,sendoesteúltimo
tendencialmentedecrescenteàmedidaquesedesenvolvemos
pró-priosprocessosdeautonomia5–7.
Aidadeescolaréafasecrucialparaaestruturac¸ãoeconsolidac¸ão
dehábitosalimentareseestilosdevidasaudáveis,quepersistem
duranteaidadeadulta8.Poroutroladoedeacordocoma
litera-tura,parecebastanteconsistenteofactodeoníveldeeducac¸ãoe
socioeconómicodospaisinfluenciarasescolhasdeestilodevida
dosfilhos8.
Algunsautoresconsideramqueosfatorescomportamentaisque
influenciamaingestãoeinteragemcomoambientefamiliar,ou
mesmocomapredisposic¸ãogenética,originampadrõesde
prefe-rênciaseconsumosalimentares.Porexemplo,ocomportamento
alimentar(CA)adquiridopodeser umimportantemediadordo
bomoumauestadonutricionaldoindivíduo9,10.Maushábitos
ali-mentareseestilosdevida sedentáriostêmsidodescritoscomo
principaiscausasnoaumentodrásticodaprevalênciadeexcesso
depeso/obesidadenasúltimasdécadas,tantonospaíses
desenvol-vidoscomoemviasdedesenvolvimento10,11.
Éhojeunanimementeaceitepela comunidadecientífica que
os hábitos alimentares contraídos na infância e na
adolescên-ciapodempotencialmenteinfluenciarodesenvolvimentofísico,
intelectualeemocionaldosindivíduos.Considera-sequehábitos
alimentarespoucosaudáveis,instaladosprecocemente,têmefeitos
negativosnasaúdedaspopulac¸õesadultas12,13.
Asatitudesecomportamentosalimentaressãoresultadodeum
longoprocessodesocializac¸ãoedesenvolvimento,aprendidosno
seiodafamíliaesujeitosàsinfluênciasdospares14.Algunsestudos
concluemmesmoqueafaltadeatenc¸ãoporpartedospaispodeser
consideradoumfatorobesogénico15–17.
A identificac¸ão precoce dos perturbac¸ões do CA tanto nas
crianc¸ascomonosadolescentespareceserumdadopreciosopara
melhorcompreenderalgumassituac¸õesclínicas,nomeadamenteo
excessodepeso/obesidade18.
O desenvolvimento de distúrbios alimentares caracteriza-se
pelaexistênciadeumconjuntodehábitosalimentaresede
ati-vidade física desajustados, práticas obsessivas de controlo de
peso,atitudesecomportamentossobreaalimentac¸ão
acompanha-dosdeumainsatisfac¸ãocoma imagemcorporaledealterac¸ões
psicológicas19.A avaliac¸ãodasatisfac¸ão/insatisfac¸ãodaimagem
corporalpodeassociar-seapráticasalimentaresincorretas.
Foiobjetivodo presentetrabalho avaliaratitudes e
compor-tamentos alimentaresde crianc¸as/adolescentes comexcesso de
peso/obesidadereferenciadosaumaconsultadenutric¸ão
pediá-tricadoHospitalSãoJoãovs.umacomunidadeescolardodistrito
doPorto.
Materialemétodos
Foram avaliadas 157 crianc¸as/adolescentes: 92 seguidas em
consultahospitalarporexcessodepeso/obesidade(GA)e65
esco-lares(GB).
ApesardoEatingAtitudeTest(EAT)serotestequetemsidomais
utilizadoparaavaliardistúrbiosalimentaresemadultose
adoles-centes,numavariedadedeculturaseamostras20,21oCAfoiavaliado
porumaescala–Children’sEatingAttitudeTest(ChEAT–Maloney
etal.,1998)(Graner,1982)19,versãoparacrianc¸aseadolescentes
D.eSilvaetal./RevPortEndocrinolDiabetesMetab.2014;9(2):111–115 113 Tabela1
Crianc¸as/adolescentes.Avaliac¸ãodasatitudesecomportamentosalimentarespelasescalasdoChEATerespetivassubescalas:médiaedesviopadrão(GA=92;GB=65)
GA GB
Média(dp) p* Média(dp)
16,4(8,6) ChEAT(escalaglobal) 0,001 10,0(7,6)
12,0(7,0) Aspetosrelativosaocumprimentodadieta 0,001 5,0(5,0)
2,0(2,0) Preocupac¸ãocomacomidaebulimia 0,080 1,0(2,0)
3,0(3,0) Controlodaingestãoalimentar 0,021 4,0(4,0)
*TesteMannWhitney.
assinaladasnumaescaladeLikert(1-6),compreendidas entreo
sempre(1)eonunca(6)22.
Os26itensqueconstituemaescalaestãodivididosem3
subes-calas:1–aspetosrelativosaocumprimento dadieta–refletem
a recusa patológica a alimentos de elevado valor energético e
preocupac¸ãocomaimagemcorporal(itens:1,6,7,10,11,12,14,
16,17,22,23,24e25);2–preocupac¸ãocomacomidaebulimia
–refere-seaepisódiosdeingestãocompulsiva,purgaeoutras
téc-nicasdecontrolodepeso(itens:3,4,8,18,21e26);3–controlo
daingestãoalimentar–demonstraoautocontroloemrelac¸ãoaos
alimentosereconheceforc¸associaisnoambientequeestimulam
aingestãoalimentar(itens:2,5,9,13,15,19,20).Posteriormente,
procedeu-seàrecodificac¸ãodecadaitemde0-3,nadependênciada
escolha:«sempre»(3);«quasesempre»(2);«frequentemente»(1);
«algumasvezes»,«raramenteenunca»(0).Apontuac¸ãovariaentre
0-78eas3subescalasrelativasàsalterac¸õesdoCAapresentama
seguintepontuac¸ão:1–aspetosrelativosaocumprimentodadieta
(0-39);2–preocupac¸ãocomcomidaebulimia(0-18);3–controlo
daingestãoalimentar(0-18).
Considerou-seovalorigualousuperiora20,napontuac¸ãototal,
comopontodecorteparaalterac¸õesseverasdoCA(Garner1979),
tendoporbaseoscritériosdaDiagnosticandStatisticalManualof
MentalDisorders–4th(DSM-IV)20.Scores≥10<20sãoindicadores
dealterac¸õesmoderadasdoCAescores<10sãoindicadoresdeCA
normal23.
Oreferidoquestionáriofoitraduzidoemváriaslínguase
vali-dadoempopulac¸õesdeambosossexos24.Aversãoutilizadaneste
estudofoitraduzidaemportuguêsevalidadanoBrasil25.
Paracaracterizaroestadonutricionalcalculou-seoíndicede
massacorporal(IMC)deQuetellet(peso/estatura2)26,assimcomo
osZc do IMC,utilizando como padrãode referência as tabelas
do CDC27.Segundo o IMC para o sexo eidade foiconsiderado
excessodepesoPc≥85<95eobesidadeoPc≥9528.
Previamentetodososparticipantesforaminformadose
escla-recidosacerca dos objetivosdo estudoa realizareassinaram a
declarac¸ãodeconsentimentoinformado.Oprotocolofoiaprovado
pelacomissãodeéticadoCentroHospitalarSãoJoãoepelos
con-selhosdediretivosdasinstituic¸õesescolares.
Asvariáveisnuméricassãodescritasatravésdamédiae
des-viopadrão.Nacomparac¸ãodegruposfoiutilizadootestedeMann
Whitney.Foiefetuadotambémumestudodefiabilidadedas
esca-lasdoquestionáriosendoapresentadooalfadeCronbach,ouseja,
medirseumconjuntodeitensestáamediromesmoconstructo
esperando-sequeestejammuitocorrelacionados.Estevalorvaria
entre0-1,sendoquequantomaispróximode1maiorafiabilidade
doconstructoquesepretendemedir.
Emtodasasanálisesconsiderou-secomsignificadoestatístico
umvalordep<0,05.Foiutilizadoosoftwaredeanáliseestatística
StatisticalPackagefortheSocialSciencesv18.0(PASWSPSS®).
Resultados
Atotalidadedaamostrados2grupos(M=43,6%;F=56,4%)
apre-sentaumaidadecronológicamédia9±2anos(min=6;max=12).
Datotalidadedecrianc¸asdoGA,14,1%têmexcessodepesoe85,9%
obesidadeedoGB23%temexcessodepesoe12,3%obesidade.
Do total das crianc¸as/adolescentes escolares (GB) apenas
9%apresentamalterac¸õesdo CA,sendoestasmaisevidentesno
grupodeobesosseguidonaconsulta(GA=34%),tendoporbasea
análisedoscoretotaldaescaladoChEATeutilizandoovalor20
comopontodecorte.
Omesmoseobservaanalisandoosvaloresmédiosdaescala
globaledas respetivasescalas emambososgrupos (GAeGB),
sendoqueascrianc¸as/adolescentesdaconsultaapresentammais
alterac¸õesdeCAemtodasassubescalascomdiferenc¸as
significati-vasentregrupos,queraníveldaescalaglobaldoChEAT(p<0,001)
queraníveldassubescalas1(p<0,001)e3(p=0,021)(tabela1).
Verificam-se emambos osgrupos estudadosvalores médios
baixos quer a nível da escala global do ChEAT (GA=16,4±
8,6;GB=10,0±7,6)queraníveldas3subescalas:1–GA=12±7;
GB=5±5; 2 – GA=2±2; GB=1±2; 3 – GA=3±3; GB=4±4,
comdiferenc¸asestatisticamentesignificativasnaescalaglobal(p
<0,001)enassubescalas:1–aspetosrelativosaocumprimentoda
dieta(p<0,001)e3–controlodaingestãoalimentar(p=0,021)
(tabela1).
Relativamente às crianc¸as/adolescentes avaliadas em meio
escolarnãofoiencontradaumaassociac¸ãocomsignificado
esta-tístico entre as 3 subescalas do ChEAT e o estado nutricional
da totalidadeda populac¸ãoestudada, noentanto, as crianc¸as e
adolescentescomexcessodepeso/obesidadeapresentamvalores
designificânciamaiselevadosnasubescala2(preocupac¸ãocom
a comida ebulimia) no grupocom excessode peso(p=0,027)
(tabela2).
Sãoobservadosvaloresdeboaconsistênciainternanaescala
globaldoChEAT(␣=0,761)enasubescala1(␣=0,793),enquanto
se registam apenas valores de consistência interna média nas
subescalas2e3(␣=0,518e␣=0,503,respetivamente)(tabela3).
Tabela2
Crianc¸as/adolescentes.Avaliac¸ãodasatitudesecomportamentosalimentarespelas escalasdoChEATvs.estadoponderal(excessodepeso[85≤Pc<95]=36;obesidade [Pc≥95]=87;p*<0,05)
85≤Pc<95 Pc≥95
p* p*
0,355 Aspetosrelativosaocumprimentodadieta 0,072 0,027 Preocupac¸ãocomacomidaebulimia 0,182
0,242 Controlodaingestãoalimentar 0,385
*TesteMannWhitney;Pc=percentil.
Tabela3
Crianc¸as/adolescentes.Avaliac¸ãodaconsistênciainternadaavaliac¸ãodasatitudes ecomportamentosalimentarespelasescalasdoChEATerespetivassubescalas:␣
␣ n
ChEAT(escalaglobal) 0,761 26
1Aspetosrelativosaocumprimentodadieta 0,793 13 2Preocupac¸ãocomacomidaebulimia 0,518 6 3Controlodaingestãoalimentar 0,503 7 ␣:alfadeCronbach.
114 D.eSilvaetal./RevPortEndocrinolDiabetesMetab.2014;9(2):111–115 Discussão
Influênciassociaiseculturais parecemserresponsáveispelo ambiente obesogénico, onde o excessivo consumo de alimen-tosdensamenteenergéticosenutricionalmentedesequilibrados, associados a uma crescente adesão a atividades sedentárias, sãoresponsáveispelodrásticoaumentodesobrepeso/obesidade, desencadeandosériosproblemasfísicosepsicológicos29,30.
Muitoemboraestudos recentesapontem paraa necessidade
de considerarem uma mais-valia a avaliac¸ão das alterac¸ões do
CA,sãoescassosostrabalhosemidadespediátricas31,32.Umdos
instrumentosatualmentemaisutilizadosnestegrupoetárioéa
versãoreduzidadoEATquecompreende26itens–ChEAT.Este
instrumentofoidesenhadoparamedirumgrandenúmerode
atitu-desecomportamentosalimentaresemcrianc¸as/adolescentescom
menosde15anos32.
Para o rastreio da obesidade pediátrica a OMS recomenda
a utilizac¸ão do cálculo do IMC segundo a fórmula de
Que-tellet (IMC=peso [kg]/altura (m)2) por apresentar uma forte
correlac¸ãocomapercentagemdegorduracorporal33,34.
Tratando--sede uma populac¸ãomuito jovem,éacentuada a prevalência
deexcessodepeso/obesidadedeterminadapeloIMC,mesmono
grupo escolar (GB=35,3%), sugerindo um mau prognóstico no
futuro. Embora ligeiramente superiores, estes achados vêm
de encontro ao observado noutros estudos realizados em
crianc¸as/adolescentesportugueses35.
Algunsestudoslongitudinaismostramqueaobesidadedepois
dos 3 anosde idade se associa a maior risco de obesidade na
idadeadulta,bemcomoamaiormorbilidadecardiometabólicae
mortalidade35,36.
Noestudorealizadonãoseobservamdiferenc¸assignificativas
entreassubescalasdoChEATeoestadonutricionaldascrianc¸as
ouadolescentescomexcessodepesoecomobesidade(IMC=85≥
Pc>95eIMC=Pc≥95).Comparativamenteaogrupodosobesos,o
grupocomexcessodepesoeapresentavaloresmédiosmais
ele-vadosrelativamenteacomportamentosrelacionadoscombulimia,
emborasemsignificadoestatístico(p=0,027).Contudo,
Yannakou-liaetal.observam,emcrianc¸ascomexcessodepeso/obesidade,
umatendênciamaiorparaapresentaremcomportamentos
alimen-taresalterados37.
Ao analisarmos a consistência interna do ChEAT, verifica-se
queesteinstrumento temsensibilidadeparao quesepretende
medir,observando-sevaloresbonsdeconsistênciainterna
particu-larmentenaescalaglobaldoChEATesubescala1(aspetosrelativos
aocumprimentodadieta),enquantoassubescalas2(preocupac¸ão
comacomidaebulimia)e3(controlodeingestãoalimentar)
apre-sentamvaloresdeconsistênciainternamédios(tabela3).
Nãosetratandodeumestudodevalidac¸ão,aanáliseestatística
daconsistênciainternamediadapeloalfa(˛)permiteaaplicac¸ão
daescalacomseguranc¸a.Ouseja,comprova-sequeoChEATéum
instrumentoquepodeserutilizadonaavaliac¸ãodasatitudese
com-portamentosalimentaresnapopulac¸ãopediátricaportuguesa.
Conclusões
Aobesidadenainfânciaefaseinicialdaadolescênciaparece
nãoestarassociadaaindicadoresdecomportamentosalimentares
alterados.Osresultadosdopresentetrabalhoapresentamvalores
médiosbaixos destes indicadores tanto ao nível da escala
glo-balcomodasrespetivas subescalas,em ambososgrupos (GAe
GB),provavelmenteporsetratardeumgrupomuitojovemcom
umaimaturidadeglobaledeintrospec¸ãoincapazdeumacorreta
autoavaliac¸ão.
OChEATéumaescalaquepodeserutilizada,comseguranc¸a,
na avaliac¸ão das atitudes e comportamentos alimentares na
populac¸ão pediátrica portuguesa. Verifica-se, no entanto, que
crianc¸as/adolescentescomexcessodepeso/obesidadeapresentam
maior envolvimento em comportamentos relativos ao
cumpri-mentodadieta(exemplo:tenhomedodeestarcomexcessode
peso;pensomuitoemsermaismagro;afasto-medecomidasque
contenhamac¸úcarecomocomidadedieta)edaingestãoalimentar
(exemplo:mantenho-meafastadodacomidaquandotenhofome;
demoromaistempoacomerumarefeic¸ãodoqueosoutros;posso
demonstrarcontrolonacomidaquecomo).Talfactopodedever-se
provavelmenteàmaiorexposic¸ãoàspressõessocioculturaisaque
estãosujeitos.
Visandoaadoc¸ãodeestilosdevidamaissaudáveis,
preconiza--seumaintervenc¸ãobaseadanoconhecimentodasatitudesedos
comportamentosalimentaresduranteainfânciaeaadolescência,
sendoparaissonecessárioimplementarmaisestudosnonossopaís.
Conflitodeinteresses
Osautoresdeclaramnãohaverconflitodeinteresses.
AgradecimentosAgrupamentosEscolares:Irmãospassos-
Gui-fõesecolégioalemãodoPorto.
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