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Filosofia. Revisão: Revolução Científica. Teoria. O que foi a Revolução Científica?

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Academic year: 2022

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Revisão: Revolução Científica

Teoria

O que foi a Revolução Científica?

O termo Revolução Científica foi utilizado pelo filósofo francês Alexandre Koyré para explicar o processo de transformação e ruptura no modo de observar e compreender a natureza, que se desenvolveu na Europa em meados do século XVII. Para ele, esse processo pode ser reduzido a duas ações fundamentais: a destruição do cosmos e a geometrização do espaço. Mas o que isso significa? Para entender melhor, é preciso voltar no tempo.

Na Antiguidade, pensadores como Aristóteles, compreendiam a natureza a partir da noção de cosmos, isto é, da ideia de que o Universo é um todo finito, fechado e ordenado hierarquicamente. Portanto, havia uma hierarquia entre as qualidades dos corpos, que iam desde a terra, escura, pesada e imperfeita até as estrelas e esferas celestes, que representavam o máximo de perfeição. Assim, a física aristotélica buscava explicar o

“porquê” dos fenômenos através de uma visão qualitativa.

Baseando-se na concepção aristotélica, o matemático e astrônomo Claudius Ptolomeu, com o seu famoso Almagesto, aprimorou a teoria geocêntrica, segundo a qual a Terra está parada no centro do Universo e todos os outros corpos celestes, incluindo o Sol, giram ao seu redor.

Essa teoria foi aceita por mais de vinte séculos, sobretudo, por dois motivos. Primeiro, por ser confirmada pelo senso comum, já que os nossos sentidos nos dão a impressão de que a Terra está parada e de que o Sol se move ao seu redor. Depois, por ter sido adotada pela Igreja como uma doutrina, uma vez que no próprio texto bíblico há uma passagem, no livro de Josué, em que Deus faz o Sol parar.

Em 1543, o matemático e astrônomo Nicolau Copérnico publicou um livro intitulado Das Revoluções dos Orbes Celestes. Nessa obra, ele desenvolveu o heliocentrismo, retomando algumas das teses defendidas na Antiguidade por Aristarco de Samos, e propondo, dentre outras coisas, que a Terra se move e que o Sol está parado no centro do Universo.

Em sua obra intitulada O Ensaiador, Galileu afirma o seguinte: “A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos (isto é, o Universo), que não se pode compreender antes de entender a língua e conhecer os caracteres com os quais está escrito. Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências e outras figuras geométricas, sem cujos meios é impossível entender humanamente as palavras: sem eles nós vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto.”

Essas palavras nos mostram como Galileu Galilei buscou assimilar o espaço físico ao espaço geométrico de Euclides, deixando para trás a ideia aristotélica de cosmos. Com isso, a visão qualitativa do Universo deu lugar a uma visão quantitativa. Não se tratava mais de explicar o “porquê” dos fenômenos, recorrendo às suas qualidades, mas sim de compreender “como” os fenômenos acontecem, estabelecendo relações e proporções através da linguagem matemática.

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Opondo-se à ciência especulativa, segundo a qual o conhecimento provém das noções e dos princípios, Galileu desenvolveu uma ciência ativa, também conhecida como ciência experimental. Para ele, não bastava que as teorias científicas fossem baseadas apenas no discurso formal, era preciso observar a realidade, fazer experimentações e submeter os resultados à comprovação.

A produção dessa ciência experimental só foi possível porque Galileu dispunha de uma oficina com alguns recursos, como plano inclinado, termômetro, luneta e relógio d’água. Com isso, ele descobriu, por exemplo, a relação entre o tempo que um corpo leva para percorrer o plano inclinado e a distância percorrida. Assim, após repetidas experiências, ele formulou a lei da queda dos corpos.

Teoria do conhecimento

Na modernidade, com as transformações desencadeadas pela Revolução Científica, surge uma nova forma de investigação filosófica chamada teoria do conhecimento. Essa nova vertente da filosofia buscava responder, em grande medida, às seguintes questões: De que forma o ser humano alcança o conhecimento?

De que maneira ele apreende os objetos externos a ele? Nesse contexto, surgiram duas correntes filosóficas que apresentaram respostas distintas e conflitantes entre si, a saber, o racionalismo e o empirismo.

Para os racionalistas, que têm Descartes como figura central, a verdade só pode ser alcançada pela razão.

Eles partem da ideia de que os sentidos são enganosos e, por esse motivo, incapazes de nos revelar o conhecimento verdadeiro. Somente os princípios lógicos (matemáticos) podem servir de base para os conhecimentos seguros. Nessa perspectiva, todos os homens possuem uma gama de ideias inatas (ideias trazidas desde o nascimento).

O método cartesiano

Para Descartes a razão consiste no uso do bom senso para “julgar de forma correta e discernir o verdadeiro do falso”. Mas, embora todos os homens possuam o bom senso, em certa medida, para além de possuí-lo é necessário aplicá-lo bem. E aplicá-lo bem significa aplicá-lo segundo um método. Por isso, em sua obra mais famosa, intitulada Discurso do método (1637), Descartes apresenta o método cartesiano, composto por quatro regras para bem conduzir a própria razão. Vejamos:

“O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô- lo em dúvida.

O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las.

O terceiro, o de conduzir por ordem os meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros.

E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir.”

DESCARTES, René. Discurso do método; Meditações; Objeções e respostas; As paixões da alma; Cartas. Coleção Os pensadores, 2ºed. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Jr. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 37-38.

As quatro regras descritas acima são chamadas, respectivamente de regra da evidência; regra da análise;

regra da síntese e regra da enumeração.

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Apesar de criticar o ceticismo de sua época, Descartes reconhecia a importância da dúvida na produção do conhecimento filosófico. Afinal, conhecimento sem reflexão é opinião, pois não há o que justifique esse conhecimento como verdadeiro. Por isso, Descartes faz uso da dúvida como instrumento, transformando a proposta do ceticismo em uma etapa na construção do conhecimento e não na conclusão sobre ele.

A dúvida cartesiana pode ser caracterizada como metódica, porque é ordenada, lógica e tem um desenvolvimento controlado, com um determinado fim. Além disso, ela é também radical, porque atinge todo o conhecimento que temos e hiperbólica (exagerada), porque considera como falsas todas as opiniões que apresentem o menor indício de dúvida. Em sua obra intitulada Meditações Metafísicas (1641), ele demonstra a aplicação da dúvida, bem como quais são as suas etapas. Vejamos:

1ª dúvida (argumento dos sentidos): Já fui mais de uma vez enganado por minha sensibilidade. Ora, se os sentidos já me enganaram uma vez, que garantia tenho eu de que não me enganarão novamente?

O que sobrevive: as impressões sensíveis mais fortes (de minha própria existência, por exemplo).

2ª dúvida (argumento do sonho): Já tive a experiência, inúmeras vezes, de sonhos intensos, que me pareciam profundamente reais. Ora, se já estive dormindo e cria estar dormindo, o que me garante que não estou dormindo agora?

O que resiste: os elementos básicos da percepção sensível (cor, tamanho, textura, tempo, etc.) e as verdades matemáticas.

3ª dúvida (argumento do gênio maligno): Ora, e se houver uma ser todo-poderoso que me engana a cada vez em que eu julgo possuir um conhecimento verdadeiro? É possível concebê-lo, portanto é razoável duvidar.

O que resta: aparentemente nada.

Mas, pensando bem, encontramos uma certeza em meio a tanta dúvida. Se estou duvidando, estou pensando.

Ora, se para duvidar é preciso pensar e só posso pensar se existir, duvidar da minha existência confirma exatamente o contrário, isto é, que eu existo! (é justamente aqui que surge aquela famosa frase: Cogito, ergo sum ou “Penso, logo existo''). Há agora um ponto fixo indubitável. Com base na certeza da sua existência, Descartes passa a deduzir uma série de outras certezas. Nessa reconstrução do edifício do conhecimento, só que agora sob bases seguras, as mais importantes verdades que Descartes acreditou provar foram:

Se é através da minha capacidade de pensar que posso garantir a minha própria existência, mesmo que eu ainda não saiba de qualquer outra coisa (nem se tenho corpo), portanto, é esta capacidade de me pensar que define: minha essência é a racionalidade, é a capacidade de pensar.

Dentre todas as ideias que possuo, ainda sem saber se existe algo além de mim, há uma ideia diferente de todas as outras: a ideia de Deus. Esta ideia se diferencia por não dizer respeito a um ser finito, como as outras, mas sim a um ser infinito. Ora, de onde pode me ter vindo esta ideia? Ela não pode ter vindo de mim, pois eu sou um ser finito, enquanto esta ideia é infinita. Como o menor não pode dar origem ao maior, então o finito não pode gerar o infinito. Assim, essa ideia não pode ter sido gerada por mim. Há, portanto, um Ser infinito que pôs esta ideia em mim. A este ser chama-se Deus. Sendo infinito, Deus possui necessariamente todas as perfeições, tanto de poder, quanto morais.

Prosseguindo, se há um Deus perfeitamente poderoso e bom, então o mundo à nossa volta também existe de fato, pois um Deus assim não permitiria que eu me enganasse tão radicalmente a respeito da realidade. É compatível com a bondade infinita de um ser todo-poderoso permitir que eu me engane às vezes, mas não

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que eu me engane sempre. Graças a Deus, portanto, pode-se dizer com certeza, que o mundo exterior à minha mente é real.

Por fim, se foi a descoberta do cogito, isto é, a descoberta de minha capacidade racional que legitimou todo o meu saber, obtido de modo seguro e, ao contrário, tudo o que eu percebia pelos sentidos era desconfiável, então não há dúvida de que a razão é o fundamento último do conhecimento humano e que só ela nos dá segurança na busca da verdade. Os sentidos, ao contrário, só têm valor sob o comando da razão. Dessas conclusões Descartes estabelece então que:

● No mundo há apenas duas substâncias, res cogitans e res extensa.

● A res cogitans é a esfera da consciência, da razão e da ideia.

● A res extensa é o mundo material, conhecível, mas não confiável.

● O ser humano é composto pelas duas, sendo sua parte essencial a res cogitans.

● Deus é uma substância especial, ou separada da existência mundana. Descartes a chama de res infinita, definida pelas características que já foram apresentadas.

Descartes formula então uma concepção metafísica dualista e idealista, onde a existência é formada por matéria e ideia, sendo a ideia (ou razão) preponderante por ser confiável.

Empirismo

Para os empiristas, dentre os quais se destacam John Locke, Francis Bacon e Hume, só é possível alcançar a verdade, conhecer as coisas, a partir da experiência, ou seja, através dos sentidos. Para eles, a mente humana é uma tábula rasa, ou seja, uma folha de papel em branco, completamente sem conteúdo. Ao longo da vida, o homem adquire seus conhecimentos a partir da experiência sensível.

John Locke

Opondo-se ao inatismo de Descartes e Ralph Cudworth (seu contemporâneo), Locke propõe que não existem ideias inatas (ideias que já nascem com os homens, como a ideia de Deus). Para ele, o homem nasce como uma tábula rasa (uma folha em branco), isto é, desprovido de qualquer conhecimento e de qualquer ideia previamente impressa em sua alma. Assim, todo o nosso conhecimento é adquirido ao longo da vida, através da experiência sensível imediata e de seu processamento interno.

Nessa perspectiva, a partir da experiência sensível com os objetos e com os fenômenos, surgem as ideias simples. Em seguida, por meio de processos como a combinação, a comparação e a abstração dessas ideias simples surgem as ideias complexas. Por isso, Locke defende que nossas ideias provêm de duas fontes distintas, quais sejam, a sensação e a reflexão.

Desse modo, por meio da sensação, nós percebemos as qualidades dos objetos, que podem ser primárias ou secundárias. As qualidades primárias são sempre objetivas, isto é, existem nos objetos, independentemente do sujeito que os contempla. Por exemplo, o movimento, o repouso, o número, a configuração, a extensão, entre outros. As qualidades secundárias, por sua vez, são aquelas que variam de acordo com o sujeito e que, portanto, são subjetivas. Por exemplo, a cor, o som, o sabor, entre outros.

Além disso, por meio da reflexão, a alma (intelecto) processa os objetos apreendidos pelos sentidos, dando origem às ideias que não são passíveis de surgir a partir da experiência, tais como a ideia de Deus, de

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substância etc. Após todo esse processo, o conhecimento pode ser expresso por meio da linguagem, um conjunto arbitrário de sinais, que constituem a marca sensível das ideias.

Francis Bacon

Bacon inicia sua reflexão acerca do conhecimento humano alegando que certos preconceitos e noções falsas, dificultam a apreensão correta da realidade. Tais preconceitos correspondem aos chamados ídolos.

Concebendo a ciência como uma prática, isto é, como uma atividade, Bacon se opõe ao pensamento contemplativo, presente tanto em Aristóteles quanto na Escolástica. Para ele, a ciência deve ser objetiva e produzir efeitos reais na vida humana. Por isso, para proceder corretamente, os cientistas devem se afastar dos possíveis enganos do pensamento.

O termo ídolo vem de eidolon (que em grego significa “imagem”, “simulacro” ou “fantasma”), Bacon o utiliza ressaltando o sentido de “vazio” da palavra. No âmbito religioso, ídolo é uma representação de algo divino a ser adorado, mas que não é a própria divindade, sendo assim, uma representação vazia e, em última instância, um engano. Assim, Bacon atribui à palavra ídolo, no contexto de sua teoria, o sentido de “erro habitual”,

“preconceito”, “noção enganosa” e “equívoco”. Segundo ele, existem quatro tipos de ídolos:

Os ídolos da tribo são aqueles preconceitos inerentes à natureza humana que surgem, devido ao próprio hábito, nas comunidades como verdades dadas e não questionadas (a palavra “tribo” aqui faz referência à espécie humana). Nesse sentido, os “ídolos da tribo” se diferenciam do espírito científico, na medida em que as hipóteses levantadas pela ciência precisam estar de acordo com os fatos. Assim, Bacon entende que a astrologia, por exemplo, é uma falsa ciência, dadas as suas generalizações apressadas.

Outra característica importante dos “ídolos da tribo” é a atribuição de propriedades humanas às coisas da natureza. Um exemplo disso é a ideia dos antigos de que “a natureza tem horror ao vácuo”, ou seja, atribui- se a natureza algo que, na verdade, é uma mera suposição humana. Isso ocorre pela noção de que o que existe está na exata medida da nossa capacidade de percepção. Bacon afirma que, ao contrário, nossa percepção precisa ser guiada pelo método para dar conta da verdade, com risco de distorcer e corromper o conhecimento.

Os ídolos da caverna (provavelmente uma alusão à alegoria da caverna de Platão) têm sua origem não na comunidade, como os “ídolos da tribo”, mas sim em cada pessoa ou indivíduo. Assim, por conta das características individuais, ou mesmo pela educação a que um indivíduo é submetido, surgem falsas ideias às quais a ciência precisa se opor. Os ídolos da caverna, portanto, decorrem dessas características que, para Bacon, “perturbam” o espírito humano.

Bacon atribui a distorção e corrupção do conhecimento à diferença entre as pessoas. Sem um método, cada um conclui aquilo que lhe parece mais plausível, ativa ou passivamente, por ouvir alguém a quem se tem grande admiração ou até mesmo pelo acaso. A cada um os fenômenos se manifestam de uma forma, com variações e perturbações.

Os ídolos do foro (ou ídolos do mercado) são aqueles que decorrem da linguagem, através da qual são atribuídas palavras a certas coisas que são inexistentes ou mesmo palavras confusas às coisas que existem.

Nesse sentido, há diversas controvérsias às quais nos apegamos apenas por questões linguísticas. Como exemplo, temos palavras que se referem a coisas inexistentes como “primeiro motor”. Bacon observa que as pessoas, para viver em sociedade, precisam se relacionar e isso acontece através da comunicação. O mau

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uso das palavras bloqueia o intelecto e produz enganos e inverdades. As palavras, em vez de elucidar, podem levar os homens a controvérsias e mal-entendidos.

Os ídolos do teatro se referem às teorias ou reflexões filosóficas que, muitas vezes, estão mescladas com a teologia, com o saber comum e, até mesmo, com superstições profundamente arraigadas. Nesse sentido, ele compara os sistemas filosóficos a fábulas que poderiam ser representadas no palco. Bacon atribui a formulação dos ídolos do teatro à credulidade, tradição e negligência, que permitem que pensadores insiram no ambiente científico pensamentos viciosos.

Método indutivo

De acordo com Francis Bacon, a ciência é uma técnica, de modo que os conhecimentos científicos devem servir ao homem no objetivo de instaurar o que ele chamou de imperium hominis, isto é, o império do homem sobre todas as coisas. Atribui-se a ele, a máxima scientia potentia est, que em latim significa “conhecimento é poder”, cuja intenção é, justamente, promover o domínio da ciência sobre a natureza e expandir a prosperidade humana.

Bacon critica a análise da realidade baseada no método lógico-dedutivo aristotélico, que seria, segundo ele, um método estéril, ou seja, incapaz de ampliar o conhecimento e o domínio humano sobre a natureza. Suas conclusões acerca do conhecimento dão conta da necessidade de reproduzir e experimentar os fatos, um a um, quantas vezes forem possíveis e necessárias, para a partir daí, interpretá-los e induzir leis gerais. Por isso, em sua obra intitulada Novum Organum (1620), ele defende que a ciência deve se basear no método indutivo, isto é, ela deve analisar a realidade indo sempre do particular para o geral.

O objetivo do método de Bacon é constituir uma nova maneira de estudar os fenômenos naturais. Para ele, a descoberta de fatos verdadeiros não depende do raciocínio silogístico aristotélico, mas sim da observação e da experimentação regulada pelo raciocínio indutivo. O conhecimento verdadeiro é resultado da concordância e da variação dos fenômenos que, se devidamente observados, apresentam a sua causa real.

Para isso, no entanto, deve-se descrever de modo pormenorizado os fatos observados para, em seguida, confrontá-los com três tábuas que disciplinam o método indutivo:

Tábua da presença: responsável pelo registro de presenças das formas que se investigam;

Tábua da ausência: responsável pelo controle de situações nas quais as formas pesquisadas se revelam ausentes;

Tábua da comparação: responsável pelo registro das variações que as referidas formas manifestam.

Com isso, seria possível eliminar causas que não se relacionam com o efeito ou com o fenômeno analisado e, pelo registro da presença e variações seria possível chegar à verdadeira causa de um fenômeno. Estas tábuas não apenas dão suporte ao método indutivo, mas fazem uma distinção entre a experiência vaga, composta por noções recolhidas ao acaso e a experiência escriturada, ou seja, a observação metódica e passível de experimentações e verificações empíricas.

David Hume

David Hume é um pensador cético, ou seja, ele duvida que haja a possibilidade de alcançarmos um conhecimento indubitável. Para ele, o entendimento humano possui limites bastante estreitos, afinal de contas, estamos submetidos aos sentidos e aos hábitos, o que nos leva a produzir conhecimentos que, na melhor das hipóteses, são apenas prováveis.

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A origem do conhecimento

Hume é considerado um empirista radical, pois, segundo ele, o conhecimento deriva sempre das percepções individuais, que podem ser impressões ou ideias. A diferença entre impressões e ideias é apenas o grau de vivacidade com que afetam a nossa mente. De um lado, as impressões são percepções originárias, por isso são mais vivas, como ver, ouvir, sentir dor etc. De outro lado, as ideias são percepções mais fracas por serem derivadas, isto é, por serem “pálidas cópias” das impressões. Desse esquema conceitual, podemos concluir que não existem ideias inatas em nossa mente. Portanto, todas as nossas ideias são derivadas das impressões sensíveis.

Tipos de associações de ideias

Há, no entanto, ideias complexas, que surgem da associação de ideias simples por meio da nossa imaginação. Assim, se combinamos em nossa mente a ideia de “lobo”, por exemplo, com a ideia de “homem”, podemos formar a ideia de “lobisomem”. Essas associações de ideias ocorrem de três formas distintas, combinando-se por semelhança, contiguidade e causalidade.

A associação por semelhança ocorre quando uma impressão se liga a uma ideia anterior já contida na mente, como uma rememoração. Hume exemplifica que uma pintura sobre um lugar ou uma pessoa nos remeteria a pensar sobre o lugar ou a pessoa em si.

A associação por contiguidade é relacionada à conexão possível entre os objetos que geram as percepções e ideias. Pensar num cômodo de uma casa pode levar a pensar no restante dos cômodos, assim como pensar em um lápis pode levar a pensar em uma borracha.

A associação por causalidade ocorre quando se observa uma relação de causa e efeito entre determinados fenômenos. Hume utiliza a ferida como exemplo de causalidade, pois pensar numa ferida invariavelmente leva a pensar sobre a dor conseguinte.

Crítica à causalidade

Antes de David Hume, a teoria da causalidade era aceita como um princípio autoevidente e, portanto, inquestionável. Retomando a tradição filosófica desde Aristóteles, a causalidade pode ser descrita mais ou menos nos seguintes termos:

● Todo ser contingente deve ter uma causa;

● Causa e efeito devem assemelhar-se um ao outro;

● Dada uma causa, seu efeito deve seguir-se necessariamente.

Com isso, podemos observar que o princípio segundo o qual todo ser contingente deve ter uma causa foi utilizado por Tomás de Aquino, na sua terceira via, para demonstrar que se o mundo é contingente, ele deve ter uma causa necessária, que é Deus. Do mesmo modo, Descartes utilizou o princípio segundo o qual causa e efeito devem assemelhar-se um ao outro para demonstrar a existência de Deus. Segundo ele, a ideia de Deus é infinita e, portanto, não pode ser causada pelo homem, que é um ser finito, uma vez que a causa e o efeito não se assemelham. Assim, se temos a ideia de Deus é porque Ele, que é infinito, a colocou em nós.

A crítica de Hume se dirige sobretudo à ideia de que dada uma causa, seu efeito deve seguir-se necessariamente. De acordo com ele, "a razão jamais pode mostrar a conexão entre dois objetos, mesmo com a ajuda da experiência e da observação de sua conjunção constante em todos os casos passados”.

Portanto, o que nos faz inferir que um objeto ocorre necessariamente a partir de outro, ou seja, estabelecer relações de causa e efeito não é a racionalidade, mas sim o hábito. Em outras palavras, nós estamos habituados a buscar padrões entre coisas que se seguem, como a fumaça e o fogo, por exemplo. Contudo,

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esses padrões, que chamamos de causalidade, se fundamentam apenas na repetição de experiências que tivemos e não em argumentos racionais.

O problema da indução

Em seguida, Hume afirma que nós temos uma tendência a interpretar nossas inferências como leis da natureza (como acontece no método indutivo). Nossos hábitos e crenças nos fazem formular supostas leis e supostas conexões necessárias entre eventos que, em última análise, são apenas sucessões de fatos e sequência de eventos sem nenhum nexo causal. Por termos habitualmente observado esses fenômenos se sucederem, acreditamos que eles ocorrerão novamente, o que não é garantido, segundo o filósofo escocês.

Por exemplo, o fato de termos visto o Sol nascer, diariamente, até hoje, não nos garante que ele nascerá amanhã. Ou seja, a partir da observação de vários fenômenos particulares (cada dia em que vimos o Sol nascer) não há como ter certeza da generalização (que o Sol nascerá todos os dias).

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Exercícios de fixação

1.

Qual das etapas abaixo não faz parte das regras propostas por Descartes para bem conduzir a própria razão?

a) Evidência b) Análise c) Síntese d) Antítese

2.

Qual das alternativas abaixo apresenta corretamente as características da dúvida cartesiana?

a) Radical, metódica e indutiva b) Metódica, radical e empírica c) Metódica, radical e hiperbólica d) Hiperbólica, radical e insolúvel

3.

Qual das alternativas abaixo apresenta somente qualidades primárias?

a) movimento, repouso e cor b) movimento, repouso e número c) configuração, repouso e som d) cor, som e número

4.

Qual das alternativas abaixo apresenta somente qualidades secundárias?

a) configuração, som e cor b) movimento, repouso e som c) cor, movimento e repouso d) cor, som e sabor

5.

Assinale a alternativa que corresponde à associação de ideias que ocorre quando se observa uma relação de causa e efeito entre determinados fenômenos.

a) associação por impressão b) associação por causalidade c) associação por contiguidade d) associação por semelhança

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Exercícios de vestibulares

1.

(Uel, 2010) A obra de Galileu Galilei está indissoluvelmente ligada à revolução científica do século XVII, a qual implicou uma “mutação” intelectual radical, cujo produto e expressão mais genuína foi o desenvolvimento da ciência moderna no pensamento ocidental. Neste sentido, destacam-se dois traços entrelaçados que caracterizam esta revolução inauguradora da modernidade científica: a dissolução da ideia greco-medieval do Cosmos e a geometrização do espaço e do movimento.

(KOYRÉ, A. Estudos Galilaicos. Lisboa: Dom Quixote, 1986. pp. 13-20; KOYRÉ, A. Estudos de História do Pensamento Científico. Brasília, Editora UnB, 1982. pp. 152-154.).

Com base no texto e nos conhecimentos sobre as características que marcam revolução científica no pensamento de Galileu Galilei, assinale a alternativa correta.

a) A dissolução do Cosmos representa a ruptura com a ideia do Universo como sistema imutável, heterogêneo, hierarquicamente ordenado, da física aristotélica.

b) A crença na existência do Cosmos, na física aristotélica, se situa na concepção de um Universo aberto, indefinido e até infinito, unificado e governado pelas mesmas leis universais.

c) Contrária à concepção tradicional de ciência de orientação aristotélica, a física galilaica distingue e opõe os dois mundos do Céu e da Terra e suas respectivas leis.

d) A geometrização do espaço e do movimento, na física galilaica, aprimora a concepção matemática do Universo cósmico qualitativamente diferenciado e concreto da física aristotélica.

e) A física galilaica identifica o movimento a partir da concepção de uma totalidade cósmica, em cuja ordem cada coisa possui um lugar próprio conforme sua natureza.

2.

(Uel, 2010) A ONU declarou 2009 o Ano Internacional da Astronomia pelos 400 anos do uso do telescópio nas investigações astronômicas por Galileu Galilei. Essas investigações desencadearam descobertas e, por sua vez, uma nova maneira de compreender os fenômenos naturais. Além de suas descobertas, Galileu também contribuiu para a posteridade ao desenvolver o método experimental e a concepção de uma nova ciência física.

Com base nas contribuições metodológicas de Galileu Galilei, é correto afirmar:

a) A experiência espontânea e imediata da percepção dos sentidos desempenha, a partir de Galileu, um papel metodológico preponderante na nova ciência.

b) A observação, a experimentação e a explicação dos fenômenos físicos da natureza desenvolvidos por Galileu aprimoram o método lógico-dedutivo da filosofia aristotélica.

c) A observação controlada dos fenômenos na forma de experimentação, segundo o método galileano, consiste em interrogar metodicamente a natureza na linguagem matemática.

d) A verificação metodológica da verdade das leis científicas pelos experimentos aleatórios defendida por Galileu fundamenta-se na concepção finalista do Universo.

e) O método galileano reafirma o princípio de autoridade das interpretações teológico-bíblicas na definição do método para alcançar a verdade física.

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3.

(PUC-PR, 2009) São de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente humana. Para melhor apresentá-los, assinalamos os nomes: Ídolos da Tribo, Ídolos da Caverna, Ídolos do Foro e Ídolos do Teatro.”

BACON. Novum Organum..., São Paulo: Nova Cultural, 1999, p.33.

É correto afirmar que para Bacon:

a) Os Ídolos da Tribo e da Caverna são os conhecimentos primitivos que herdamos dos nossos antepassados mais notáveis.

b) Os Ídolos do Teatro são todos os grandes atores que nos influenciam na vida cotidiana.

c) Os Ídolos do Foro são as ideias formadas em nós por meio dos nossos sentidos.

d) Através dos Ídolos, mesmo considerando que temos a mente bloqueada, podemos chegar à verdade.

e) Os Ídolos são falsas noções e retratam os principais motivos pelos quais erramos quando buscamos conhecer.

4.

(PUC-PR, 2009) “Ciência e poder do homem coincidem, uma vez que, sendo a causa ignorada, frustra- se o efeito. Pois a natureza não se vence, se não quando se lhe obedece. E o que à contemplação apresenta-se como causa é regra na prática.”

BACON. Novum Organum..., São Paulo: Nova Cultural, 1999, p.40.

Tendo em vista o texto acima, assinale a alternativa correta:

a) Bacon estabelece que a melhor maneira de explicar os fenômenos naturais é recorrer aos princípios inatos da razão.

b) Através do conhecimento científico, o homem aprende a aceitar o domínio dos princípios metafísicos de causalidade sobre a natureza.

c) O conhecimento da natureza depende do poder do homem. Assim um rei conhece mais sobre a natureza do que um pobre estudante.

d) Através da contemplação - observação – da natureza o homem aprende a conhecê-la e, então, reúne condições para dominar a natureza.

e) Devemos ser práticos e obedecer à natureza, pois o conhecimento das relações de causa e efeito é impossível e sempre frustrante.

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5.

(Enem, 2015) Todo o poder criativo da mente se reduz a nada mais do que a faculdade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos fornecem os sentidos e a experiência. Quando pensamos em uma montanha de ouro, não fazemos mais do que juntar duas ideias consistentes, ouro e montanha, que já conhecíamos. Podemos conceber um cavalo virtuoso, porque somos capazes de conceber a virtude a partir de nossos próprios sentimentos, e podemos unir a isso a figura e a forma de um cavalo, animal que nos é familiar.

HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.

Hume estabelece um vínculo entre pensamento e impressão ao considerar que:

a) os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na sensação.

b) o espírito é capaz de classificar os dados da percepção sensível.

c) as ideias fracas resultam de experiências sensoriais determinadas pelo acaso.

d) os sentimentos ordenam como os pensamentos devem ser processados na memória.

e) as ideias têm como fonte específica o sentimento cujos dados são colhidos na empiria.

6.

(Unemat, 2017) O ponto de partida de Hume, como o dos demais empiristas, é a tese segundo a qual nossas ideias sobre o real se originam de nossa experiência sensível. A percepção é considerada como critério de validade dessas ideias, que, quanto mais próximas da percepção que as originou, mais nítidas e fortes são, ao passo que, quanto mais abstratas e remotas, menos nítidas se tornam, empalidecendo e perdendo sua força.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré- socráticos a Wittgenstein.Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

(Adaptado)

Segundo Danilo Marcondes, o empirismo de David Hume argumenta a favor da a) necessidade da separação entre ideia e experiência sensível.

b) percepção como mediadora entre as ideias e a experiência sensível.

c) gradual abstração das ideias em relação às percepções.

d) experiência como forma de conhecimento imediato.

e) necessidade de se produzir ideias claras e distintas.

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7.

(Unesp, 2018) Posto que as qualidades que impressionam nossos sentidos estão nas próprias coisas, é claro que as ideias produzidas na mente entram pelos sentidos. O entendimento não tem o poder de inventar ou formar uma única ideia simples na mente que não tenha sido recebida pelos sentidos.

Gostaria que alguém tentasse imaginar um gosto que jamais impressionou seu paladar, ou tentasse formar a ideia de um aroma que nunca cheirou. Quando puder fazer isso, concluirei também que um cego tem ideias das cores, e um surdo, noções reais dos diversos sons.

(John Locke. Ensaio acerca do entendimento humano, 1991. Adaptado.)

De acordo com o filósofo, todo conhecimento origina-se a) da reminiscência de ideias originalmente transcendentes.

b) da combinação de ideias metafísicas e empíricas.

c) de categorias a priori existentes na mente humana d) da experiência com os objetos reais e empíricos.

e) de uma relação dialética do espírito humano com o mundo.

8.

(Enem, 2013) Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira vez no início da Modernidade, como expectativa de que o homem poderia dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, convertida em programa anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente.

CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques, Scientiae Studia. São Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado).

Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o projeto iluminista concebem a ciência como uma forma de saber que almeja libertar o homem das intempéries da natureza.

Nesse contexto, a investigação científica consiste em:

a) Expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas ainda existentes.

b) Oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que outrora foi da filosofia.

c) Ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que almejam o progresso.

d) Explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos éticos e religiosos.

e) Explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos debates acadêmicos.

(14)

9.

(UEA, 2014) Se não há na alma nenhuma ideia inata: se a alma é semelhante a um papel branco, white paper, ou, como traduziram seus tradutores latinos, uma “tábula rasa” (tábua rasa) na qual nada está escrito, e tudo vem a ser escrito posteriormente pela experiência: se não há, pois, ideias inatas, o problema que se apresenta é o problema de qual seja a origem das ideias; e este é o problema que Locke trata com maior profundidade.

(Manuel Garcia Morente. Fundamentos de filosofia, 1967.)

Locke respondeu a questão referida pelo excerto, sustentando filosoficamente que as ideias a) são as condições a priori da experiência empírica.

b) mascaram os verdadeiros interesses egoísticos dos homens.

c) nascem da captação pelos sentidos do mundo exterior.

d) surgem no espírito por meio da intuição intelectual.

e) têm origem em uma causa virtuosa, Deus.

10.

(Enem, 2014) É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida.

SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).

Apesar de questionar os conceitos da tradição, a dúvida radical da filosofia cartesiana tem caráter positivo por contribuir para o(a)

a) dissolução do saber científico.

b) recuperação dos antigos juízos.

c) exaltação do pensamento clássico.

d) surgimento do conhecimento inabalável.

e) fortalecimento dos preconceitos religiosos.

(15)

Gabaritos

Exercícios de fixação 1. D

A antítese não pertence às quatro regras propostas por Descartes. Elas são, respectivamente, a regra da evidência; regra da análise; regra da síntese e regra da enumeração.

2. C

A dúvida cartesiana pode ser caracterizada como metódica, porque é ordenada, lógica e tem um desenvolvimento controlado, com um determinado fim. Além disso, ela é também radical, porque atinge todo o conhecimento que temos e hiperbólica (exagerada), porque considera como falsas todas as opiniões que apresentem o menor indício de dúvida. Portanto, a alternativa C é o gabarito da questão.

3. B

A alternativa B é a única que apresenta apenas qualidades primárias, quais sejam: movimento, repouso e número.

4. D

A alternativa D é a única que apresenta somente qualidades secundárias, quais sejam: a cor, o som e o sabor.

5. B

A associação por causalidade ocorre quando se observa uma relação de causa e efeito entre determinados fenômenos. Hume utiliza a ferida como exemplo de causalidade, pois pensar numa ferida invariavelmente leva a pensar sobre a dor conseguinte.

Exercícios de vestibulares 1. A

Galileu Galilei foi o responsável pela superação do aristotelismo e por uma nova concepção de ciência.

No que se refere à astronomia, por exemplo, ele foi um defensor ferrenho do heliocentrismo proposto por Copérnico. Note-se que a teoria geocêntrica encontrava-se nas obras de Aristóteles, posteriormente completadas por Ptolomeu. Essa concepção, que perdurou durante toda a Antiguidade e a Idade Média, era de certo modo confirmada pelo senso comum, uma vez que precebemos, pelos sentidos, que a Terra é imóvel e que o Sol gira à sua volta. Porém, os instrumentos desenvolvidos por Galileu Galilei possibilitaram corrigir e ampliar a experiência sensível. Um exemplo disso, é a luneta que o permitiu enxergar a superfície rugosa e irregular da Lua, desfazendo a noção aristótelica (qualitativa e hierárquica) de que a Lua era composta por uma substância perfeita e incorruptível.

2. C

Segundo Alexandre Koyré, a experimentação – interrogação metódica da natureza – realiza-se deliberadamente numa linguagem matemática ou, mais exatamente, geométrica. Por sua vez, ela não pode ser ditada pela experiência, no sentido de experiência bruta, de observação do senso comum que, na verdade, não desempenhou qualquer papel, a não ser obstáculo, no nascimento da física clássica. (cf.

KOYRÉ, A. Estudos Galilaicos, Lisboa: Dom Quixote, 1986. p. 16.). Segundo Ronaldo Mourão, qualquer estudioso que “tenha um mínimo contato com a obra de Aristóteles ou com seus seguidores medievais, sabe que a filosofia escolástica é firmemente alicerçada na observação e no dado sensível imediato. O papel de Galileu nesse aspecto não foi introduzir o dado empírico-sensitivo no pensamento científico, e sim o conteúdo que a observação do mundo passou a ter para a ciência. Para Galileu, a natureza revela seus segredos quando as perguntas são formuladas matematicamente; a observação passa a ser, com ele, a experimentação. Não basta mais olhar as coisas, trata-se de ‘construir um fenômeno’, ou seja, estruturar uma pergunta inserida num contexto teórico, que receberá como resposta um número, um

(16)

ente matemático”. (MOURÃO, R. F. A mensagem de Galileu. In: Galilei, Galileu. A mensagem das estrelas.

Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e Ciências Afins; Salamandra, 1987. p. 9-10).

3. E

Francis Bacon desenvolveu o que foi chamado de “crítica dos ídolos”, correspondente a uma tipologia de imagens que impedem o conhecimento da verdade. Para ele, os ídolos podem ser:

Ídolos da caverna: [corresponde às] opiniões que se formam em nós por erros e defeitos de nossos órgãos dos sentidos. São os mais fáceis de corrigir por nosso intelecto;

Ídolos do foro: são as opiniões que se formam em nós como consequência da linguagem e de nossas relações com os outros. São difíceis de vencer, mas o intelecto tem poder sobre eles;

Ídolos do teatro: são as opiniões formadas em nós em decorrência dos poderes das autoridades que nos impõem seus pontos de vista e os transformam em decretos e leis inquestionáveis. Só podem ser refeitos se houver uma mudança social e política;

Ídolos da tribo: são as opiniões que se formam em nós em decorrência de nossa natureza humana; esses ídolos são próprios de espécie humana e só podem ser vencidos se houver uma reforma da própria natureza humana.

4. D

Francis Bacon, filósofo empirista inglês, é considerado um dos fundadores do método científico moderno. Baseado no raciocínio indutivo, o método científico mais adequado para o domínio da natureza seria a observação dos fenômenos naturais, como se afirma na alternativa [D].

5. A

Hume estabelece um vínculo entre pensamento e impressão ao considerar que os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na sensação. Ou seja, como um empirista radical, ele considera que todos os conteúdos em nossa mente provêm da experiência sensível. Note-se que, apesar da aparente correção, a alternativa E está errada, uma vez que as ideias têm como fonte as sensações, isto é, os dados provenientes dos sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar) e não os sentimentos.

6. B

De acordo com o texto de Danilo Marcondes, o empirismo de David Hume argumenta a favor da percepção como mediadora entre as ideias e a experiência sensível. Nesse sentido, a percepção (ou impressão) está entre a experiência propriamente dita e a formação das ideias em nossa mente. Por isso, é ela que garante a validade e a força das ideias, ou seja, quanto mais próxima da percepção que a originou, mais nítida e forte será uma ideia.

7. D

John Locke é um dos principais representantes do empirismo. Segundo ele, as ideias são resultado da experiência humana, exatamente como apresenta a alternativa D.

8. C

Adquirir conhecimentos sólidos e fundamentados sobre os fenômenos que nos rodeiam torna o mundo compreensível e permite ao ser humano exercer um controle sobre a natureza. Exercer esse controle foi parte do projeto iluminista, representado pela máxima de Francis Bacon “Scientia potentia est”

(conhecimento é poder). Do mesmo modo, Descartes defende que o conhecimento e o domínio da natureza são úteis, na medida que satisfazem as nossas necessidades, por meio da invenção de uma infinidade de utensílios e favorecem a conservação da saúde.

9. C

Para John Locke, não existem ideias inatas (ideias que nascem com o homem como, por exemplo, a ideia de Deus), o homem nasce como uma tábula rasa, desprovido de qualquer conhecimento, sem nenhuma ideia pré-formada em sua alma. Locke vai defender que nossas ideias serão criadas empiricamente a partir da sensação e da reflexão.

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10. D

É a dúvida metódica, radical e hiperbólica que conduz Descartes à conclusão da própria existência, através do cogito, isto é, do pensamento. Esta é a primeira certeza e, portanto, o primeiro conhecimento inabalável, que serve de base para todas as demais certezas. Sendo assim, a alternativa [D] é o gabarito da questão.

Referências

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