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AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE ARGAMASSAS DE CAL HIDRÁULICA NATURAL: ANÁLISE IN SITU VS LABORATORIAL

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AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE ARGAMASSAS DE CAL HIDRÁULICA NATURAL: ANÁLISE IN SITU VS LABORATORIAL

M. R. VEIGA A. R. SANTOS

Investigadora Principal com habilitação Bolseira de Investigação

LNEC LNEC

Lisboa; Portugal Lisboa; Portugal

e-mail: rveiga@lnec.pt e-mail: arsantos@lnec.pt

RESUMO

Os revestimentos de paredes com base em argamassas de cal hidráulica podem ser particularmente adequados para reabilitação de edifícios antigos sem valor histórico ou arquitetónico particularmente elevado. Permitem, por comparação com as argamassas de cal aérea, obter soluções compatíveis com custos moderados e sem necessidade de mão-de-obra muito especializada, além de trazerem benefícios no caso de edifícios antigos localizados em zonas de elevada humidade.

Devido à pouca experiência no comportamento das novas argamassas de cal hidráulica natural, em condições de exposição natural, foram realizadas aplicações, em muretes de alvenaria de tijolo tradicional, de argamassas de cal hidráulica natural com diferentes formulações. Foram realizados ensaios in situ e comparados com os resultados físico- mecânicos obtidos em laboratório, tendo-se retirado conclusões sobre o comportamento das argamassas aplicadas.

1. INTRODUÇÃO

Em Portugal, na última década, as intervenções de reabilitação em edifícios antigos (anteriores à generalização da estrutura de betão armado, que ocorreu cerca de 1950) têm vindo a aumentar significativamente, nomeadamente nos grandes centros habitacionais. Contudo, nessas intervenções, realizadas, em grande parte, com escassez de meios (económicos, de mão de obra e de tecnologia), os materiais e os processos construtivos adotados não têm em conta os critérios científicos, contribuído frequentemente para acelerar diversos mecanismos de degradação dos edifícios em vez de promoverem a sua durabilidade e bom estado de conservação.

De acordo com o conhecimento atual, a seleção das soluções de revestimentos de substituição deve basear-se em critérios de compatibilidade, de modo a evitar a aceleração da degradação dos materiais pré-existentes, em particular das alvenarias [1][2][3]. Vários estudos têm apontado a utilização de argamassas de cal aérea como sendo uma solução adequada e compatível para a execução de revestimentos para edifícios antigos; no entanto a sua utilização é difícil em ambientes que se encontrem permanentemente húmidos e em locais com acesso limitado de dióxido de carbono. Além disso, implicam mão-de-obra com um certo grau de especialização. A utilização de cal hidráulica natural, produzida tendo em conta as exigências da NP EN 459-1:2011 [4], pode ser particularmente adequada para edifícios sem um elevado valor histórico ou arquitetónico, cuja conservação tenha que ser garantida com meios limitados e mão-de-obra pouco especializada ou em obras de reabilitação localizadas em zonas muito húmidas ou em contacto direto com a água.

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O desempenho dos rebocos depende, entre outros fatores, das características dos componentes utlizados; contudo, a escolha dos materiais está muitas vezes dependente do que se encontra próximo do local da obra. Tendo em conta a nova diretiva europeia para a restrição da extração de areias fluviais e os recursos geológicos disponíveis no território português e o seu potencial de exploração, torna-se oportuna a avaliação do comportamento de argamassas com areias regionais.

Em Portugal, é ainda escassa a experiência de utilização das novas argamassas de cal hidráulica natural. Nessas condições, considera-se necessário complementar o estudo experimental em laboratório dessas argamassas com aplicações no exterior, em condições de exposição natural, com o intuito de avaliar o seu desempenho em serviço. Para o efeito foram aplicadas diversas formulações de argamassas de cal hidráulica natural em muretes de alvenaria de tijolo tradicional na estação de envelhecimento natural do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

Com o presente trabalho pretende-se analisar a correlação entre os resultados de ensaios realizados em laboratório, segundo as Normas Europeias aplicáveis, e os valores obtidos através de ensaios in situ; o objetivo final é a avaliação do comportamento de argamassas de cal hidráulica natural e diferentes areias regionais, em suportes com características semelhantes a alvenarias de edifícios antigos. Pretende-se igualmente contribuir para estabelecer critérios que permitam, por um lado, prever, através da análise laboratorial, o comportamento dos revestimentos quando aplicados em obra e, por outro, avaliar o desempenho dos revestimentos aplicados através de ensaios in situ.

Sabe-se que esta correlação apresenta à partida grandes dificuldades. Por um lado, as características deste tipo de revestimentos, quando aplicados, alteram-se em relação aos mesmos produtos ensaiados sobre provetes preparados em laboratório. Por outro lado, existe a variação introduzida pelas técnicas de ensaio in situ, que são sempre métodos indiretos de avaliação.

2. TRABALHO EXPERIMENTAL

2.1 Definição das argamassas

A campanha experimental, que se desenvolveu na Unidade de Revestimentos de Paredes do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC/URPa), teve como objetivo a avaliação do comportamento de argamassas de cal hidráulica natural NHL 3,5 e areias regionais, em suportes com características semelhantes a alvenarias de edifícios antigos.

Para o cumprimento do objetivo estabelecido, numa primeira fase, foram definidas e preparadas diversas formulações de argamassa, numa campanha experimental realizada em laboratório; os resultados dos ensaios físico-mecânicos obtidos nesta fase permitiram, numa segunda fase, a seleção de formulações para aplicação em muretes na estação de ensaio natural e a comparação desses resultados com os obtidos in situ.

As composições de argamassas estudadas têm em comum o tipo de ligante (NHL 3,5), mas variam no teor de ligante e no tipo de areia natural (Tabela 1). São usadas areias siliciosas (Areia do Rio Tejo e areia de sílica fina) e areias calcárias da zona de Sesimbra.

Na primeira fase, foram avaliadas argamassas de reboco, de refechamento de juntas e de acabamento, sendo a principal diferença entre os vários tipos de argamassas, a granulometria das areias utilizadas: nas argamassas de reboco e de refechamento de juntas usaram-se areias com granulometria bem distribuída inferior a 4,0 mm e nas argamassas de acabamento empregaram-se areias com granulometria também bem distribuída mas inferior a 0,5 mm. Nas argamassas de reboco e de refechamento de juntas, de modo a minimizar a variável da distribuição granulométrica das areias analisadas, a curva granulométrica da areia calcária foi calibrada de acordo com as frações granulométricas da areia do Rio Tejo.

Todas as argamassas em laboratório foram preparadas de acordo com a norma europeia EN 1015-2:1998 [5], com as condições de cura definidas na EN 1015-11:1999 [6]. A água adicionada em cada mistura de argamassa foi a necessária para garantir uma trabalhabilidade adequada para uma argamassa de revestimento, verificando-se corresponder a um espalhamento de 146 mm ±3 mm [7].

Os revestimentos aplicados nos muretes de alvenaria de tijolo tradicional, construídos na estação de envelhecimento

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acabamento, conforme apresentado na Tabela 2. Os revestimentos foram aplicados em duas orientações solares (N e S) e de modo estratigráfico, deixando sempre uma parte da camada subjacente à vista, de modo a ser possível avaliar todas as camadas do revestimento (Figura 1). Sob o reboco foi aplicado um salpico, de modo a garantir uma melhor aderência do reboco ao suporte. Para não introduzir mais variáveis na análise do desempenho, a composição do salpico é idêntica à do reboco, mas com teores de água mais elevados.

Tabela 1 - Composição das argamassas em estudo e caracterização dos constituintes

Argamassa

Traço volumétrico NHL : areia

Ligante Areia

Identificação MV (kg/m3) Identificação MV (kg/m3)

I 1:2,5

Cal hidráulica

natural NHL 3,5 720

Rio Tejo

< 4,0 mm 1470

II 1:3

III 1:3,5

IV 1:2,5 Calcária

(< 4,0 mm) 1510

V 1:3

VI 1:2,5

Sílica fina

(< 0,5 mm) 1465

VII 1:3

VIII 1:3,5

IX 1:3 Calcária fina

(< 0,5 mm) 1285

X 1:3,5

MV - Massa volúmica aparente

Figura 1: Revestimentos aplicados nos muretes na estacão de envelhecimento natural do LNEC Tabela 2 - Composição dos revestimentos aplicados nos muretes

Murete Orientação Composição Reboco Acabamento

1 Sul I+VI 1:2,5 - NHL3,5 e areia de Rio Tejo 1:2,5 - NHL3,5 e areia de sílica fina IV+IX 1:2,5 - NHL3,5 e areia calcária 1:3 - NHL3,5 e areia calcária fina Norte III+VIII 1:3,5 - NHL3,5 e areia de Rio Tejo 1:3,5 - NHL3,5 e areia de sílica fina 2 Norte e Sul II+VII 1:3 - NHL3,5 e areia de Rio Tejo 1:3 - NHL3,5 e areia de sílica fina

V+X 1:3 - NHL3,5 e areia calcária 1:3,5 - NHL3,5 e areia calcária fina

2.2 Metodologia adotada

Tendo em conta os objetivos definidos de avaliar o desempenho físico-mecânico de diversas formulações de argamassas com base em cal hidráulica natural NHL3,5 e diferentes tipos de areias em condições de ambiente natural, em suportes

Argamassa de acabamento Argamassa de reboco

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com características semelhantes a alvenarias de edifícios antigos, comparando os valores obtidos nos ensaios in situ com os resultados obtidos em laboratório, foi estabelecida uma metodologia que envolveu diversos ensaios.

2.2.1 Análise laboratorial

Em Laboratório foram realizados ensaios sobre as argamassas no estado endurecido aos 28 e aos 90 dias (Figura 2). Os ensaios realizados sobre os provetes prismáticos (40x40x160 mm) seguem as especificações das normas europeias em vigor: EN 1015-11:1999 [6] no caso dos ensaios de resistência mecânica - resistência à compressão (Rc) e resistência à tração por flexão (Rt); NP EN 14146:2006 [8] para o ensaio de determinação do módulo de elasticidade dinâmico (E); o ensaio de absorção de água por capilaridade (CC) foi realizado com base na norma EN 1015-18:2002 [9], tendo-se optado por ensaiar os provetes prismáticos na sua dimensão original.

Figura 2: Ensaios realizados para a caracterização das argamassas em laboratório.

a) Ensaio de resistência à compressão; b) Ensaio de absorção capilar; c) Ensaio para determinação do módulo de elasticidade pelo método da frequência de ressonância

2.2.2 Avaliação in situ

A análise in situ foi realizada sobre as argamassas (reboco e reboco + acabamento) no estado endurecido aos 28 dias.

Os ensaios realizados foram os descritos seguidamente.

a) Ensaio de choque de esfera (Figura 3a) – este ensaio permite analisar a deformabilidade do revestimento e é realizado com o aparelho “Martinet Baronnie”. O corpo do aparelho é colocado na posição horizontal e em seguida deixa-se tombar, sobre o revestimento aplicado sobre o murete, o braço do aparelho, com 0,6 m de comprimento, possuindo na sua extremidade uma esfera de aço com 50 mm de diâmetro e massa de 0,5 kg, produzindo um choque com energia de 3 Joules. O embate da esfera provoca uma degradação sobre o revestimento que é quantificada pelo diâmetro da mossa e pelo tipo de degradação resultante. A técnica de ensaio é descrita na Ficha de Ensaio do LNEC FE Pa 25 [10][11].

b) Ensaio de esclerómetro de pêndulo (Figura 3b) – este ensaio possibilita uma avaliação da resistência mecânica e da deformabilidade do reboco. Para a realização do ensaio utilizou-se um esclerómetro de pêndulo modelo Schmidt PM, que através de uma massa conhecida provoca uma reação elástica por impulso quando choca contra a superfície do revestimento. É possível medir a quantidade de energia recuperada no ressalto da massa, o que permite obter um índice de dureza da superfície ensaiada (valor de ressalto) sobre uma escala graduada no aparelho. O método baseia-se na norma ASTM C 805 [12]. Quanto mais brando for o material, maior a quantidade de energia que ele absorve e menor é a altura do ressalto.

c) Ensaio com durómetro (Figura 3c) – o aparelho possui na sua extremidade um pino que quando pressionado contra o material, pela acção da mola, sob carga normalizada, indica a resistência à penetração, que se traduz no movimento de um ponteiro ao longo de uma escala de 0 a 100. Este ensaio permite avaliar a dureza superficial do revestimento. Para a sua execução utilizou-se um durómetro Shore A, cuja escala corresponde a energias de 550 a 8065 N.m. O ensaio baseia-se nas normas NP ISO 7619 [13] e ASTM D2240 [14].

d) Ensaios com tubos de Karsten (Figura 3d) – para avaliar o comportamento à água dos revestimentos foram realizados ensaios de permeabilidade à água sob baixa pressão, com recurso a tubos de Karsten. A técnica de ensaio, descrita na Ficha de Ensaio do LNEC FE Pa 39 [15], consiste em medir a quantidade de água absorvida através de uma

a) b) c)

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determinada superfície do reboco, após um período de tempo definido, empregando um conjunto de pequenos tubos de vidro graduados que são fixados às zonas da parede em estudo.

e) Ensaio com o humidímetro (Figura 3e) – para avaliar a distribuição e os níveis de concentração de água nos revestimentos foram realizados ensaios recorrendo a um humidímetro portátil (referência Tramex CRH). O humidímetro portátil é um instrumento utilizado para medir o teor de água das superfícies, através de dois elétrodos em forma de agulha que se colocam em contacto com os elementos a testar [16] [17].

Figura 3: Ensaios in situ realizados para avaliação do desempenho dos revestimentos aplicados.

a) Ensaio de choque de esfera; b) Ensaio com esclerómetro de pêndulo; c) Ensaio com durómetro; d) Ensaio com tubos de Karsten; e) Ensaio com humidímetro portátil

2.3 Resultados e discussão

2.3.1 Análise laboratorial

Na Tabela 3 são apresentados os resultados obtidos nos ensaios de laboratório sobre provetes dos revestimentos em estudo. Pelo facto de a análise in situ ter sido realizada, até ao momento, aos 28 dias, apenas se apresentam neste estudo, os resultados obtidos em laboratório nas argamassas aos 28 dias.

Tabela 3 - Resultados médios dos ensaios de caracterização física-mecânicas em laboratório aos 28 dias

Argamassa Areia Traço volumétrico

MV [kg/m3]

CC10-90 [kg/m2.min1/2]

RT (N/mm2)

RC (N/mm2)

E (N/mm2) 28 d 28 d 28 d 28 d 28 d I

Rio Tejo (RT)

1:2,5 1810 2,4 0,6 1,2 3550

II 1:3 1780 2,8 0,2 0,5 2480

III 1:3,5 1750 2,5 0,2 0,5 2450

IV Calcária (C) 1:2,5 1910 2,0 0,6 1,7 5640

V 1:3 1880 2,2 0,4 0,9 3840

VI

Sílica fina (Sf)

1:2,5 1730 3,0 0,3 0,7 2410

VII 1:3 1700 3,1 0,3 0,5 2180

VIII 1:3,5 1640 2,6 0,2 0,5 2170

IX Calcária fina (Cf) 1:3 1840 1,8 0,7 2,0 5340

X 1:3,5 1770 2,3 0,4 1,6 4110

MV – Massa volúmica aparente; C10-90 - Coeficiente de capilaridade; Rt - Resistência à tração por flexão; Rc - Resistência à compressão; E - Módulo de elasticidade dinâmico.

Os resultados apresentados na Tabela 3 mostram que as argamassas mais ricas em ligante apresentam maior massa volúmica. As argamassas com areias calcárias têm massa volúmica aparente superior às argamassas de areia de Rio Tejo, aparentando maior compacidade.

a) b) c) d) e)

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Os coeficientes de capilaridade das argamassas com areias calcárias são inferiores aos das argamassas do mesmo traço com areia siliciosa e diminuem com o aumento do teor de ligante. Nas argamassas com areia siliciosa verifica-se um aumento do coeficiente de capilaridade do traço 1:2,5 para o traço 1:3, mas a tendência inverte-se, diminuindo do traço 1:3 para 1:3,5. A velocidade de absorção de água, em todas as composições em estudo apresenta valores elevados.

As características mecânicas apresentam um aumento com o aumento do teor de ligante, com exceção das composições II e III, cujas resistências mecânicas se mantêm inalteradas. As argamassas IV e IX, com areias calcárias, apresentam módulos de elasticidade bastante mais elevados que as restantes composições.

2.3.2 Avaliação in situ

A observação dos rebocos aplicados, ao fim de cerca de 28 dias, mostra em todos os casos, um bom aspeto geral, sem fissuras, empolamentos ou outros defeitos visíveis (Figura 3).

Na Figura 4 e na Tabela 4 são apresentados os resultados obtidos nos ensaios in situ sobre as aplicações de argamassas de reboco e nos sistemas argamassa de reboco+ argamassa de acabamento. Os valores apresentados são médias de várias determinações (nº indicado na tabela), realizadas a várias alturas da superfície do murete. Apresenta-se também o desvio-padrão.

Tabela 4 - Resultados médios dos ensaios realizados in situ

Murete Composição

Ensaios de caracterização das características mecânicas

Humidimetro (%) (média de 6 determinações ±

desvio padrão) Ensaio de choque

Ø mossa (mm) (média de 3 determinações ± desvio

padrão)

Esclerómetro (graus vickers VH)

(média de 3 a 6 determinações± desvio

padrão )

Durómetro (média de 6 determinações ±

desvio padrão)

1 S

I 1:2,5 RT 16±1 35±4 82±9 2,2

I+VI 1:2,5 RT + 1:2,5

Sf 10±1 41±5 85±3 2,4

IV 1:2,5 C 11±2 35±5 80±11 2,7

IV+IX 1:2,5 C + 1:3 C 10±2 39±2 91±2 3,2

N

III 1:3,5 RT 10±1 36±3 84±10 3,0

III+VIII 1:3,5 RT + 1:3,5

Sf 11±1 36±5 84±5 3,3

2 S

II 1:3 RT 9±0 36±2 78±8 1,8

II+VII 1:3 RT + 1:3 Sf 12±0 40±3 84±5 2,3

V 1:3 C 10±0 30±4 79±8 2,6

V+X 1:3 C + 1:3,5 C 11±1 35±5 90±7 3,2

N

II 1:3 RT 10±1 35±3 86±5 3,2

II+VII 1:3 RT + 1:3 Sf 11±1 35±6 87±4 3,2

V 1:3 C 10±0 34±3 78±11 3,5

V+X 1:3 C + 1:3,5 C 10±1 38±4 91±4 4,0

Durómetro <30 – muito fraca; 30 - 50 – fraca; 50 - 70 – moderada; 70 - 87 – normal;> 88 – muito dura.

Esclerómetro <20 – muito fraca; 20 - 30 – fraca; 30 - 40 – moderada; 40 - 55 – normal; 55 - 75 – dura; > 75 – muito dura Humidímetro 0 a 2% - zonas secas; 2 a 4% - zonas ligeiramente húmidas; 4 a 6% - zonas húmidas; 6 a 6,9% - zonas muito

húmidas

Os resultados mostram características mecânicas moderadas e relativamente semelhantes para todos os revestimentos, aos 28 dias de idade. Os traços com maior ou menor teor de ligante, a existência ou não de acabamento e a natureza siliciosa ou calcária do agregado não parecem influenciar significativamente essas características. Excetuam-se as argamassas com traço 1:2,5, quer com areia siliciosa quer com areia calcária, em que se identifica um aumento das características mecânicas com a aplicação de um acabamento. Em particular, ao contrário do que se verifica nos ensaios em laboratório, não se observam características mecânicas superiores dos rebocos 1:2,5, nem das argamassas com areia

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calcária. Todas as técnicas de ensaio usadas (choque de esfera, esclerómetro e durómetro) são bastante consistentes na identificação destas tendências.

Os ensaios de permeabilidade à água sob baixa pressão, com tubos de Karsten, mostram que a aplicação de um acabamento reduz significativamente, em todos os casos, a permeabilidade à água dos revestimentos. Os rebocos com areia calcária são mais absorventes que as composições com areia siliciosa, ao contrário do que se observa nas argamassas ensaiadas em laboratório. Os revestimentos com argamassas com traços 1:3, quer com areia siliciosa, quer calcária, são os que apresentam menor permeabilidade à água nos ensaios in situ.

Não se detetaram variações significativas de comportamento hídrico e mecânico, nos rebocos aplicados, com a mesma composição, e orientações distintas.

Figura 4: Resultado médio do ensaio com os tubos de Karsten nas aplicações in situ no murete 1 e 2 3. CONCLUSÕES

Os resultados obtidos mostram que os ensaios laboratoriais apontam para uma distinção clara de duas classes de comportamento mecânico, entre as argamassas com areia siliciosa e com areia calcária. No entanto, os resultados obtidos in situ não evidenciam essa distinção. Nestes ensaios, todas as técnicas usadas para avaliação das características mecânicas foram relativamente consistentes entre si. O acabamento final, embora influencie os resultados, não altera significativamente a avaliação das características mecânicas, com exceção dos rebocos com traço 1:2,5, quer com areia siliciosa quer com areia calcária, em que se identifica claramente um aumento das características mecânicas com a aplicação do acabamento.

Também no que se refere às características hígricas, as diferenças significativas encontradas nos ensaios de absorção de água em laboratório entre as argamassas com areia siliciosa e com areia calcária, estas últimas com coeficientes de capilaridade mais reduzidos, não se refletiram na permeabilidade à água evidenciada nos ensaios in situ dos revestimentos aplicados. Por outro lado, nos ensaios in situ observou-se claramente uma redução de permeabilidade com a aplicação de um acabamento, para todas as composições ensaiadas.

O facto de em laboratório não terem sido avaliados os revestimentos no seu conjunto, pode conduzir a variações de comportamento na análise comparativa. Contundo os ensaios in situ mostram uma boa capacidade de caracterização do desempenho mecânico e hígrico dos revestimentos aplicados. Embora tenham menor resolução e menos capacidade de diferenciação que os ensaios laboratoriais, têm a vantagem de avaliar os revestimentos no seu conjunto, tendo em conta a contribuição das várias camadas e as espessuras reais de aplicação.

Em qualquer caso, uma avaliação de desempenho com base experimental deve sempre ser feita a partir de vários ensaios, cruzando resultados e considerando uma interpretação global e não ensaio a ensaio.

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Os resultados obtidos mostram que a natureza da areia influencia significativamente as características mecânicas e físicas das argamassas, verificando-se, em geral, que as argamassas com areia calcária têm características mecânicas significativamente superiores e coeficientes de capilaridade ligeiramente inferiores. Contudo, essas características não se refletem nos revestimentos aplicados em duas camadas, pelo menos nos ensaios realizados in situ aos 28 dias.

As composições com traço 1:3 parecem ter valores equilibrados nas principais características, quer em laboratório quer nas aplicações in situ.

Os resultados obtidos até ao momento (aos 28 dias) podem ainda sofrer alterações significativas, devendo portanto repetir-se as observações e a análise experimental a idades mais avançadas.

4. AGRADECIMENTOS

As autoras agradecem a colaboração da empresa Secil Martingança S.A. neste trabalho que tem também o apoio do Projeto de Investigação e Inovação 2013-2020 do LNEC "REuSE - Revestimentos para Reabilitação: Segurança e Sustentabilidade".

5. REFERÊNCIAS

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LNEC, Julho de 2004. Colecção Edifícios, CED 9.

[2] Borges, Cristina et al, “Role of aggregates in durability of air lime mortars: influence of curing conditions”. In Proceedings of the 3rd Historic Mortars Conference (HMC 2013). Glasgow, 2013, 9 p.

[3] Veiga, Maria Rosário et al “Lime-Based Mortars: Viability for Use as Substitution Renders in Historical Buildings”. International Journal of Architectural Heritage, vol 4, number 2, 2010, pp. 177-195.

[4] Instituto Português da Qualidade (IPQ) “Cal de construção - Parte 1: Definições, especificações e critérios de conformidade”. Lisboa, 2011. NP EN 459-1.

[5] Comité Européen de Normalisation (CEN) “Methods of test for mortar for masonry - Part 2: Bulk sampling of mortars and preparation of test mortars”. Brussels, 1998. EN 1015-2.

[6] CEN “Methods of test for mortar for masonry - Part 11: Determination of flexural and compressive strength hardened mortar”. Brussels, 1999. EN 1015-11.

[7] Veiga, Maria Rosário; Santos, Ana Rita ”As argamassas de cal hidráulica natural na reabilitação. Avaliação e otimização do seu desempenho”. Patorreb 2015 – 5ª conferência sobre Patologia e Reabilitação de Edifícios. 26-28 março, Porto, 2015.

[8] IPQ “Métodos de ensaio para pedra natural. Determinação do módulo de elasticidade dinâmico (através da medição da frequência de ressonância fundamental)”. Lisboa, 2006. NP EN 14146.

[7] Moropoulou, Antonia et al. “Correlation of physico-chemical and mechanical properties of historical mortars and classification by multivariate statistics”. Cement and Concrete Research 33, 2003, pp. 891-898.

[9] CEN “Methods of test for mortar for masonry - Part 18: Determination of water absorption coefficient due to capillary action of hardened rendering mortar”. Brussels, 2002. EN 1015-18.

[10] Magalhães, Ana Cristian et al “Diagnóstico de anomalias de revestimentos de paredes com técnicas de ensaio in situ. Avaliação da resistência mecânica”. Actas do 3º ENCORE, Encontro sobre Conservação e Reabilitação de Edifícios. Lisboa, LNEC, 2003.

[11] Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) “Fichas de ensaio de revestimentos de paredes. Ensaio de choque de esfera”. Lisboa: LNEC, 1980. FE Pa 25.

[12] American Society for Testing and Materials (ASTM) “Standard Test Method for Rebound Number of Hardened Concrete”. ASTM C 805.

[13] IPQ “Borracha vulcanizada ou termoplástica. Determinação da dureza por penetração utilizando um durómetro.

Parte 1: Método do durómetro (dureza Shore)”. Lisboa, 2009. NP ISO 7619-1.

[14] ASTM “Standard Test Method for Rubber Property: Durometer Hardness”. ASTM D 2240.

[15] LNEC “Ficha de Ensaio de revestimentos de paredes. Ensaio de absorção de água sob baixa pressão”. Lisboa:

LNEC, 2002. FE Pa 39.

[16] Massari, Giovanni; Massari, Ippolito “Damp Buildings. Old and new”. Roma: International Centre for the Study of the Preservation and the Restoration of Cultural Property (ICCROM), 1993.

[17] Henriques, Fernando “Humidades em paredes”. Lisboa: LNEC, 2001.

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