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PAISAGENS DE FESTA E DE FÉ: LAGOLÂNDIA. João Guilherme da Trindade Curado 1 ; Carlos Eduardo Santos Maia 2

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Academic year: 2021

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PAISAGENS DE FESTA E DE FÉ: LAGOLÂNDIA

João Guilherme da Trindade Curado1; Carlos Eduardo Santos Maia2

1 Doutorando em Geografia pelo Instituto de Estudos Sócio-Ambientais – IESA/UFG

2 Orientador, Professor Dr. do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais – IESA/UFG

RESUMO

As festas são manifestações populares que possibilitam interpretação de comunidades, uma vez que representam momentos distintos, mas não diferentes do cotidiano. Ao mesmo tempo a paisagem é adaptada e/ou transformada efemeramente por ocasião das festividades, demonstrando a capacidade de adaptação e criatividade na manutenção da tradição de se festejar, no caso, os santos do catolicismo popular. No intuito de geograficizar a etnografia de festas do catolicismo popular em Goiás é que se delimitou o enfoque espacial em Lagolândia, que se localiza no município de Pirenópolis, sendo a abordagem estendida aos últimos cinco anos. As paisagens das festas lagolandienses possibilitam uma compreensão dos processos interpretativos que ocorrem principalmente pelas imagens que se produzem sobre essas festas, para tanto é que se propõem análises destas festividades mediante as significações e interpretações que elas propiciam, mediante investigações participativas.

Palavras-chave: Paisagem, Festas, Religiosidade Popular, Lagolândia.

O projeto de pesquisa de Doutorado em Geografia apresentado ao Programa de Pós- Graduação em Geografia do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais, inserido na linha de pesquisa o “espaço e práticas culturais”, visa investigar as paisagens em momentos de festas, tendo o Distrito de Lagolândia, situado a 37 quilômetros de Pirenópolis – Goiás – como referencial de análise.

Eleger a paisagem do Distrito de Lagolândia como objeto pelo qual se buscará compreender a organização da vida de seus habitantes por intermédio das inúmeras manifestações culturais do catolicismo popular mediante as identidades, memórias e significados possibilita recuperar o envolvimento daquela comunidade com seus rituais e suas tradições festivas, estabelecendo diálogo com o contexto espacial no qual está inserida.

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A proposta de um estudo geográfico que revisite a tradição festiva de uma comunidade como a de Lagolândia necessita priorizar o extenso calendário das festas ali existentes e a partir delas e das diversas, convergentes e contraditórias imagens que daí emanam entender a constituição e significação da paisagem.

Material e método

A delimitação do tema parte do pressuposto que a experiência do pesquisador deve ser considerada, assim como sua produção prévia, quando se trata de uma Pós-Graduação Stricto Senso, em nível de doutoramento, em que as reflexões teóricas, metodológicas e experienciais são de suma importância e exigem análises mais consistentes. A paisagem, trabalhada durante o Mestrado, continua sendo o principal conceito geográfico que permitirá a interpretação das manifestações festivas que acontecem em Lagolândia. Assim sendo, a pesquisa orienta-se pela abordagem do seguinte problema: como são representadas as paisagens diante das manifestações festivas que acontecem em Lagolândia que geram, abarcam e reprimem os conflitos existentes naquela comunidade?

É preciso lembrar que o ciclo festivo daquele local é espiralado, tendo uma centralidade matriz e impulsionadora capaz de repetir os mesmos movimentos anualmente, mas em diferentes situações que não as anteriores. Assim, a cada ano, festas como as de São Sebastião, São João, Divino Pai Eterno, Nossa Senhora da Conceição e Folia de Reis – só para destacar algumas – são revividas graças às imagens e as memórias que foram se acumulando por gerações e dotando de sentido os rituais que as compõem; possibilitando, portanto, uma delimitação de um ciclo temporal pautado no(s) tempo(s) da(s) festa(s) que abarca um ano, mas também a historicidade da tradição festiva de Lagolândia.

A análise da presente pesquisa tem por foco as festas acontecidas nos entre os anos de 2005 e 2009. A intenção é compreender as dinâmicas da paisagem por intermédio das festas do catolicismo popular de Lagolândia. Metodologicamente, a pretensão se pauta na inventariação destes festejos tendo a paisagem por referência, assim como as imagens por elas produzidas, possibilitando a compreensão da organização da vida a partir das festas.

A investigação das paisagens de Lagolândia pauta-se em autores da Geografia Cultural, que consideram a paisagem como algo mais do que é visto. Sobre as festas ali realizadas busca-se interpretar os significados que elas possuem para a comunidade local, tendo a paisagem como texto e contexto. Daí a importância de seguir e perseguir as festas, compreender e experienciar os fenômenos festivos para embasar a análise dessa sociedade altamente simbólica e ritualística, onde a

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ação ritual tem uma qualidade formal a isto. Segue altamente estruturada, sucessões unificadas e é ordenada freqüentemente em certos lugares e tempos que são dotados de significado simbólico especial. Então, ação ritual é repetitiva e freqüentemente redundante, mas estes mesmos fatores servem como meios importantes de incorporar emoção, guiando cognição, e organizando grupos sociais (KERTZER, 1988, p. 9).

O processo de Investigação na Ação – I.A. – tem colaborado nas etapas de recolhimento de dados, nas análises, nas reflexões e no direcionamento das propostas de ações durante a realização das festividades, evitando ao máximo os impactos causados pela presença de alguém de “fora” daquele contexto social. Perceber as paisagens festivas por meio de festas cíclicas se enquadra perfeitamente à proposição deste método, pois “a I-A constitui sempre um processo contínuo, em espiral, de ação-observação-reflexão-nova ação (DOMINGO, 1994).

A produção de mapas possibilitará uma contextualização das paisagens festivas, assim como a abordagem fotográfica, por mostrar as significativas alterações que as festas impõem nas paisagens como elementos identificadores das tradições lagolandienses. No intuito de melhor entender o contexto festivo são realizadas entrevistas com indicações de autores da História Oral.

Resultados e discussões

A partir de uma cuidadosa revisão bibliográfica chegou-se a autores que possibilitarão a discussão sobre festas no Brasil: Jancsó, Kantor ( 2001), Del Priore (1994), Tinhorão (2000), Schwarcz (1999), Abreu (1999), Ferreira (2002) e Almeida (1994). Para as festas goianas: Brandão (1978 e 2004). Tendo por foco Pirenópolis: Silva (2001), Maia (2002), Alves (2004) e Curado (2006) e Lôbo (2006).

No que tange à formação da comunidade de Nossa Senhora da Conceição destaca-se Jayme (1971, 1973), Vasconcellos (1991) e Rezende (2009). As festas em Lagolândia são revigoradas a cada ano, e é este o aspecto que merece atenção, uma vez que podem conter inúmeros outros sentidos que não só o festejar.

As festas são vistas, aqui, como momento de integração e/ou negociação, quando combinações ou ajustes entre habitantes e a paisagem local se efetivam, portanto “as festas seriam ocasiões privilegiadas onde se poderiam ligar casa, rua e outro mundo, que, por um momento, estariam formando um todo coeso e sem divisões” (DAMATTA, 1997, p. 154). O

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“outro mundo”, o invisível, é o mais evidente na paisagem local e por isso a análise das Festas em Lagolândia apresenta um caráter diferenciador, pois lá o que se comemora além do santo homenageado é a Santa ali nascida – Benedita Cipriano Gomes, a Santa Dica.

As discussões sobre festa permeadas pela abordagem da paisagem possibilitam várias vertentes investigativas, como a paisagem ser “um dos elementos centrais num sistema cultural, pois, como um conjunto ordenado de objetos, um texto, age como um sistema de criação de signos através do qual um sistema é transmitido, reproduzido, experimentado e explorado” (DUCAN, 2004, p. 106), ou “os signos de que as paisagens são portadoras transmitem mensagens intencionais, geralmente muito fáceis de serem decifradas pelas pessoas familiarizadas com a cultura local” (CLAVAL, 2004, p. 67). Enfim, “a paisagem ressurge como possibilidade de revisitação das práticas culturais e de campo de revelação das atitudes dos homens entre si e desses com o que lhes fosse ainda mais estranho, ou simplesmente de outra substância” (GOMES, 2001, p.55).

Conclusões

As festas religiosas do catolicismo popular realizadas em Lagolândia permitem um significativo inventário das tradições culturais desenvolvidas e mantidas no interior de Goiás, em que a fartura presente na comida ofertada vem demonstrar aspectos da ruralidade mantida, assim como a fé e a necessidade de expressá-la visivelmente por meio da externalização de sentimentos, devoções e emoções. Práticas estas que compreendidas na/pela paisagem local possibilitam melhor visualização do homo festivus – personagem gerador, conciliador ou amenizador dos conflitos criados ou confabulados por ele mesmo diante das tradições festivas.

Referências Bibliográficas

ABREU, Martha. O império do Divino: festas religiosas e cultura popular no Rio de Janeiro, 1830-1900. Rio de Janeiro/São Paulo: Nova Fronteira/FAPESP, 1999.

ALMEIDA, Jaime de. Todas as festas, a festa. In: SWAIN, Tânia Navarro. História no plural. Brasília: Ed. UnB, 1994. p. 153-187.

ALVES, Ana Cláudia Lima e. Minotauros, capetas e outros bichos: a transgressão consentida na festa do Divino de Pirenópolis de 1960 ao tempo presente. Brasília: UNB, 2004. 186p. (Mestrado em História).

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Divino, o Santo e a Senhora. Rio de Janeiro: Campanha Nacional de Defesa do Folclore Brasileiro, 1978. 163p.

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________. De tão longe eu venho vindo: símbolos, gestos e rituais do catolicismo popular em Goiás. Goiânia: UFG, 2004. 412p.

CLAVAL, Paul. A paisagem dos geógrafos. In: CORRÊA, Roberto Lobato & ROSENDAHL, Zeny (Orgs.). Paisagens, textos e identidade. Rio de Janeiro: ed. UERJ/Nepec, 2004. p. 13- 74.

CURADO, João Guilherme da T. As alterações ocorridas na paisagem por onde passam as procissões de Pirenópolis – Goiás: 1920 a 2005. Goiânia: IESA/UFG, 2006. (Mestrado em Geografia).

DAMATTA, Roberto. A casa & a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5ª ed.

Rio de Janeiro: Rocco, 1997. 163p.

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Referências

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