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N a tu re za c o n s titu c io n a l d e s s e s d o is te m a s

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Academic year: 2021

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A N O V A C O N S T I T U I Ç Ã O :

E S T A B I L I D A D E E J O R N A D A D E T R A B A L H O ( * )

O rla n d o T e ix e ira da C o s ta ( * * ) S U M Á R IO : 1. A e s ta b ilid a d e e a jo rn a d a d e tra b a lh o na C o n s titu in te ; 2. O e x e m p lo da tra d iç ã o h is tó ric a ; 3. N a tu re za c o n s titu c io n a l d e s s e s d o is te m a s ; 4. E nu nciação no te x to c o n s titu c io n a l.

1. Dentre os temas polêmicos da Constituinte a respeito dos direitos dos trabalhadores, dois sobressaem em relação aos demais: a estabilidade ou garantia de emprego e a jornada de trabalho.

O debate a respeito deles, no entanto, não se resume ao conteúdo intrinse­

camente trabalhista, consistente na conveniência ou oportunidade da adoção da­

quela ou na limitação desta a um número de horas igual ou inferior ao que inter­

nacionalmente se adota. Muito pelo contrário, o deslinde dessas controvérsias de mérito pressupõe e está condicionado à indagação prévia da natureza constitu­

cional de ambas as matérias. Por isso, ao invés de incidir na abordagem traba­

lhista desses temas, vou enfocá-los do ângulo constitucional.

2. A tradição histórica pode servir como primeiro parâmetro de apoio às considerações que me proponho fazer.

Consultando vinte e, sete Constituições estrangeiras dos dois hemisférios polí­

tico-ideológicos do mundo, publicadas, ao correr deste ano, pela Subsecretaria de Edições Técnicas do Senado Federal, verifiquei que apenas duas não consagram, expressamente, o princípio genérico do direito ao trabalho ou alguma norma mais específica assegurando proteção contra a despedida arbitrária, proibindo o despe­

dimento sem justa causa ou falando na estabilidade do trabalhador. Dentre essas mesmas Leis Fundamentais, apenas quatro não se referem à jornada de trabalho, pois todas as outras a limitam explicitamente ou registram o postulado da du­

ração diária ou semanal a ser regulado pela lei ordinária.

No âmbito do direito constitucional doméstico a situação não é diferente, pois desde 1934, a partir de quando as nossas Cartas M agnas passaram a cuidar, especificamente, da proteção social do trabalhador, que elas vêm registrando o preceito da estabilidade no emprego, bem como limitando a duração diária do tra­

balho, com exceção da de 1934, que, quanto à primeira matéria, admitiu apenas a indenização ao trabalhador dispensado sem justa causa (artigo 121, § 1.°, letra "g").

Ante esses numerosos exemplos, é evidente a conclusão de que, sob uma perspectiva histórica, o tratamento dessas matérias pela Constituição em fase de preparo, é perfeitamente justificável.

( * ) B reve e xp o s iç ã o lid a d u ra n te o 3.° Pain el in te g ra n te do p rog ra m a do S egundo C o n g re s s o B ra s i­

le ir o de D ir e ito C o le tiv o do T rabalho e P rim e iro S e m in á rio S obre D ir e it o C o n s titu c io n a l do Trabalho,

( * ‘ ) O a u to r é M in is t r o do T rib u n a l S u p e rio r do T ra b alh o e P ro fe sso r T itu la r da U n iv e rs id a d e Federal do Pará, c o lo c a d o à d is p o s iç ã o da U n iv e rs id a d e de B ra s ília .

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3. Em que pese essa demonstração, tais matérias poderiam ser consideradas estranhas ao objeto e conteúdo das constituições, do que decorreria a imperti­

nência do seu tratamento pela Constituinte. É que, com a adoção das constitui­

ções escritas, em contraposição ao sistema costumeiro usado pela Inglaterra, passaram elas a ser entendidas tão-somente, como documentos definidores e ordenadores das instituições políticas, corroborando, aqui, com o conceito daquele país, segundo o qual a constituição é um “conjunto de instituições que regulam a organização política do Estado” (A. V. Dicey, The Law of the Constitution, pág.

187, apud Paulino Jacques, Curso de Direito Constitucional, 7.ª edição, pág. 22).

Expressão dessa mentalidade, a nossa Carta de Lei, de 25 de março de 1824,

“oferecida e jurada" pelo Imperador Dom Pedro Primeiro, prescrevia em seu artigo 178: "É só constitucional o que diz respeito aos limites, e atribuições res­

pectivas dos Poderes Políticos e aos Direitos Políticos, e individuais dos Cidadãos.

Tudo o que não é constitucional, pode ser alterado sem as formalidades, pelas legislaturas ordinárias".

A complexidade que a vida social foi assumindo, exigiu, porém, que a lei fundamental dos Estados, não se restringisse aos limites estreitos da organiza­

ção política. Dai porque, coincidentemente com o primeiro após-guerra, as consti­

tuições do México, da Rússia e da Alemanha que surgiram nessa época, passa­

ram a ser mais analíticas e regulamentares, modificando a técnica constitucional até então empregada e serviram como paradigmas para as que as seguiram.

Segundo William Bennett Munro, o crescimento do volume das Constituições decorreu de três causas principais: a) aumento das funções do Estado, exigindo novos princípios e normas; b) desconfiança do povo na sabedoria e integridade dos legisladores ordinários; c) insatisfação do povo com a construção jurispru­

dencial (cf. Paulino Jacques, ob. cit., mesma página).

A s causas apontadas por Munro, não só me parecem corretas, como são portadoras de uma atualidade surpreendente, em relação à presente realidade brasileira. O aumento da complexidade das funções do Estado, do século XVIII para cá, é axiomática, não necessita de demonstração. A desconfiança do povo em relação aos legisladores ordinários, pode ser demonstrada e comprovada atra­

vés do substancial volume de preceitos incluídos, pela Assembléia Nacional Constituinte em funcionamento, no primeiro esboço de projeto constitucional, com 496 artigos, produto evidente dos anseios populares possíveis, não concre­

tizados através da legislação ordinária ou das reformas constitucionais necessá­

rias e jamais concretizadas ou sequer propostas. E ssas mesmas demonstração e comprovação, também servem para ilustrar a Insatisfação popular relativamente à Jurisprudência do poder judiciário, já que freqüentemente desatenta “às exigên­

cias do bem com um ” (art. 5.° da Lei de introdução ao Código Civil).

Não pode prevalecer, pois, o argumento segundo o qual, certas matérias, mormente as de cunho econômico e social, extrapolariam os limites de uma Constituição, pois, hoje em dia, as leis fundamentais são verdadeiros c ó d ig o s políticos diversificados e não simples estatutos básicos. Desde o primeiro após-guerra, as cartas constitucionais passaram a ser analíticas ou regulamenta­

res, contendo preceitos dos mais variados ramos do direito.

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S o m e n te em razão de um a in c o m p a tib ilid a d e e s s e n c ia l, c a ra c te riz a d a p e lo d e s p ro p ó s ito do tra ta m e n to d e ssas m a té ria s em um a c a rta magna, é que essa o b je çã o s e ria p o s s ív e l. Essa in c o m p a tib ilid a d e , p o ré m , In e x is te , p o is um a c o n s ti­

tu iç ã o , h o je em dia, não é apenas a lei que tr a ta da o rg an izaçã o do Estado, se g u ­ ra m e n te um a in s titu iç ã o bá sica , m as s im um e s ta tu to m ais a b ra n g e n te , d e s tin a d o a d ita r a o rg an izaçã o g e ra l da s o cie d a d e , que não se e xa u re nos a s p e c to s p o lí­

tic o s , m as e n vo lve , ig u a lm e n te , suas fe iç õ e s e co n ô m ica , so cia l e c u ltu ra l.

Por isso , não c o n s titu i ne nh um a im p ro p rie d a d e a firm a r que a e s ta b ilid a d e no e m p re g o é m a té ria c o n s titu c io n a l e que a jo rn a d a d e tra b a lh o po de s e r p re v is ta no te x to da no ssa fu tu ra le i fu n d a m e n ta l, o q u e não im p o rta em d iz e r que esse s d o is te m a s ou o u tro s m ais, po ssam ou de va m s e r tra ta d o s com e x c e s s iv o s d e ­ ta lh e s , p o is não se d e ve c o n fu n d ir o v íc io d o d e ta lh a m e n to co m a v ir tu d e da p re ­ v is ã o p e rtin e n te e o p o rtu n a .

4 . E nte n d e m o s, p o rta n to , sup era da, a p e rq u iriç ã o a re s p e ito da na tu re za c o n s titu c io n a l d e sse s d o is a ssu n to s, m as ach am o s, de to d o , p e rtin e n te , in d a g a r co m o e le s d e ve rã o s e r e n u n cia d o s no te x to fu n d a m e n ta l.

Se um a c o n s titu iç ã o , h o je em dia, pode s e r re g u la m e n ta ris ta , no bom s e n ­ tid o , não q u e r d iz e r que ela deva se r d e ta lh is ta . Ela d e ve r e f le tir as p re o cu p a çõ e s re le v a n te s da so cie d a d e e e xp re ssá -la s a tra v é s de u m p a ra le lo g ra m a de fo rç a s do s fa to re s re a is do p o d e r que ne la o p era m , a fa s ta d a a m in u d ê n c ia .

Não im p lic a , p o ré m , em e s m iu ç a r e s s e s te m a s , p re v e r, co m o a C o n s titu iç ã o a rg e n tin a , a "p ro te c c ió n c o n tra el d e s p id o a r b itr a r io ” (a rt. 14 b is ), qu e é a f ó r ­ m ula m a is m o d e rn a e de c o n sa g ra çã o in te rn a c io n a l p e la C o n ve n çã o n. 158 da OIT.

C o m o a C o n s titu iç ã o da R e pú blica d e G uin é -B issa u “ q u e o tra b a lh a d o r só p o de rá s e r d e sp e d id o nos caso s e nos te rm o s p re v is to s em l e i ” (a rt. 37, 2). Ou co m o a C o n s titu iç ã o P o lític a dos E stados U n id o s M e x ic a n o s , que “ el p a tro n o q u e d e sp id a a un o b re ro sin causa ju s tific a d a e p o r h a b e r in g re s a d o a una a s s o c ia c ió n o s in ­ d ic a to , o p o r h a b e r to m a d o p a rte en una h u e lg a líc ita , e s ta rá o b lig a d o , a e le c c ió n d e l tra b a ja d o r, a c u m p lir el c o n tra to o a in d e n iz a rio co n e l im p o rte d e tr e s m e ­ ses de s a la rio " (a rt. 123, A , X X II).

T ra ta m e n to s d iv e rs ific a d o s ta m b é m p o d e m se r e s c o lh id o s pa ra re g u la r a d u ra ­ ção da jo rn a d a de tra b a lh o , adotan do -se p re s c riç õ e s co m o a da C o n s titu iç ã o de P o rtu gal, que a sse g u ra o d ir e ito “ . . . a um lim ite m á xim o da jo rn a d a de t r a b a lh o . . . ” (a rt. 60, I, d); p re c e ito co m o o da C o n s titu iç ã o P o lítica da R e pú blica da C o sta Rica, que p re v ê que “ la jo rn a d a o rd in á ria de tra b a jo d iu rn o no podrá e x c e d e r de ocho ho ras d ia ria s y cu a re n ta e ocho a la s e m a n a " (a rt. 58); ou d is p o s iç ã o com o a da C o n s titu iç ã o P o lítica do Peru: "L a jo rn a d a o rd in á ria de tra b a jo es de och o ho ras d ia ria s y de cu a re n ta y och o se m a n a le s. Puede re d u c irs e p o r co n v e n io c o le c tiv o o p o r le y ” .

C o m o se vê, essas m a té ria s são de na tu re za c o n s titu c io n a l.

Em razão do c la m o r p o p u la r e p a rtic u la rm e n te o p e rá rio , d e ve m c o n s ta r da fu tu ra C o n s titu iç ã o . Cabe aos c o n s titu in te s , p o rém , e le g e r a red açã o m a is in te ­ lig e n te , m a is té c n ic a e co n se n tâ n e a co m os a n se io s dos seu s e le ito re s e co m a re a lid a d e na cio nal.

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