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História, política e cerveja: a trajetória do lobby da indústria da cerveja

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA

PROGRAMA DE MESTRADO EM CIÊNCIA POLÍTICA

Luciano Roberto Corrêa da Fonseca Filho

HISTÓRIA, POLÍTICA E CERVEJA:

A Trajetória do Lobby da Indústria da Cerveja

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA

PROGRAMA DE MESTRADO EM CIÊNCIA POLÍTICA

Luciano Roberto Corrêa da Fonseca Filho

HISTÓRIA, POLÍTICA E CERVEJA:

A Trajetória do Lobby da Indústria da Cerveja

Dissertação de Mestrado em Ciência Política apresentada ao Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, sob Orientação do Prof. Dr. Wagner Pralon Mancuso

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Luciano Roberto Corrêa da Fonseca Filho

HISTÓRIA, POLÍTICA E CERVEJA:

A Trajetória do Lobby da Indústria da Cerveja

Dissertação de Mestrado em Ciência Política apresentada ao Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, sob Orientação do Prof. Dr. Wagner Pralon Mancuso

Banca Examinadora:

Profo Dr. Wagner Pralon Mancuso _____________________________

Profo Dr. Amâncio Jorge Silva Nunes de Oliveira _____________________________

Profa Dra. Janina Onuki _____________________________

Data da aprovação: ____ de ________________ de ________

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Dedicatória

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Agradecimentos

Como não poderia ser diferente, a realização deste trabalho envolveu diversas pessoas, cada qual contribuindo à sua maneira.

Primeiramente gostaria de agradecer ao Marcos Mesquita, por toda a ajuda e paciência nos longos “bate-papos” fundamentais para a compreensão do setor cervejeiro para além dos números e fatos.

Pela parte acadêmica, cobranças, indicações de leitura, discussões de conteúdo, forma e outros detalhes, meu muito obrigado ao Wagner, meu paciente orientador.

Agradeço também à Maria Hermínia, que indicou os rumos iniciais deste trabalho.

Um agradecimento especial ao Maceila, que me mostrou os caminhos da Ciência Política.

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Epígrafe

“Não existe nada permanente,

exceto a mudança”

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Resumo

As dinâmicas formas de organização e atuação política do empresariado brasileiro têm despertado o interesse de estudiosos da ciência política e áreas correlatas do conhecimento.

Este trabalho examina a atuação política dos empresários da indústria da cerveja por meio de um estudo das transformações ocorridas em sua entidade representativa no sistema corporativista, o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja, Sindicerv. Para tornar mais rica a compreensão das transformações no Sindicerv e na representação política do setor cervejeiro de maneira geral, paralelamente à história do Sindicerv, é discutido o contexto político-econômico brasileiro, assim como a evolução do mercado de cerveja no Brasil.

Abstract

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...10

2. O INÍCIO: 1930-1964...15

2.1. Contexto Político-Econômico: Formação da Elite Industrial Brasileira e sua inserção nas arenas decisórias...16

2.2. A Indústria da Cerveja: Início da Produção Nacional de Cerveja ...29

2.3. O Sindicerv: Fundação e Início das Atividades ...31

2.4. Conclusão...37

3. O NOVO ARRANJO: 1964-1985...39

3.1. Contexto Político-Econômico: Os Novos Canais de Acesso da Burguesia Industrial às Arenas Decisórias...40

3.2. Indústria da Cerveja: Acirramento das Fusões e Aquisições...49

3.3. O Sindicerv: Fase das Negociações de Reajuste nos Preços: 1964 - 1985...51

3.4. Conclusão...60

4. LOBBY COMO PRÁTICA PERMANENTE: PÓS 1985...62

4.1. Contexto Político-Econômico: Abertura do País ...62

4.2. A Indústria da Cerveja: Alterações no Consumo e nas Participações de Mercado...75

4.3. O Sindicerv: Implementação da Estrutura Permanente de Lobby ...82

4.4. Conclusão...97

CONSIDERAÇÕES FINAIS...99

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QUADROS

Quadro 1: Comparação entre características dos Sindicatos e Associações ...43

Quadro 2: Produção nacional de malte e cevada ...55

Quadro 3: Produção nacional de malte e cevada - década de 80 ...56

Quadro 4: Marcas de cerveja por fabricante...81

Quadro 5: Funções do cargo de superintendente do Sindicerv...86

Quadro 6: Limites de utilização de malte: Brasil e Argentina...87

Quadro 7: Exemplos de PL's com impacto no setor cervejeiro ...89

Quadro 8: Evolução do número de Projetos de Lei por assunto...90

ILUSTRAÇÕES Ilustração 1: Estrutura do Sistema Corporativista ...22

Ilustração 2: Fluxo decisório das atividades de lobby ...93

GRÁFICOS Gráfico 1: Taxa anual de crescimento: produção industrial no Brasil 1920-45...20

Gráfico 2: Criação de organizações de representação de interesses ...42

Gráfico 3: Operações de fusões e aquisições - década de 90...66

Gráfico 4: Valor das privatizações ...66

Gráfico 5: Taxa média de variação anual do PIB ...67

Gráfico 6: Taxas de crescimento da produção por categoria de uso...68

Gráfico 7: Evolução das importações nacionais ...69

Gráfico 8: Criação de sindicatos x associações ...70

Gráfico 9: Consumo nacional de cerveja: total e per capita ...76

Gráfico 10: Número de vezes que a palavra foi veiculada no jornal ...95

TABELAS Tabela 1: Participação de Mercado ...77

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1. Introdução

A atuação política do empresariado no Brasil tem despertado o interesse da comunidade acadêmica, especialmente após a redemocratização e abertura econômica do país, na medida em que esses processos estimularam maior participação do empresariado nas decisões de Estado (Mancuso, 2007b).

Na literatura sobre a ação coletiva empresarial no Brasil, há uma vertente que avalia a atuação do empresariado como fragmentada, dispersiva e imediatista no que tange às suas relações com o governo. Segundo esta corrente, o sistema corporativista de representação de interesses seria, em grande parte, responsável pela fragmentação e desarticulação do empresariado. Este sistema dificultaria a renovação das lideranças empresariais, assim como a formação de uma entidade multi-setorial de cúpula capaz de intermediar simultaneamente os interesses dos diferentes setores econômicos (Schneider,2000).

Para outros autores, entretanto, as recentes mudanças no panorama econômico e político, tais como abertura do mercado e a redemocratização, permitiram a articulação de uma pauta de interesses comuns por parte da indústria. Tais estudos apresentam evidências de que o empresariado industrial brasileiro passou a atuar de forma unificada e, geralmente, é mais bem sucedido em suas incursões no campo da política do que parte da literatura faz supor (Oliveira, 2003; Mancuso, 2007b).

Este trabalho irá abordar a questão da representação política do empresariado de um único setor, o setor cervejeiro. Com isso, a discussão acadêmica, que vem ocorrendo, primordialmente, em torno da atuação do empresariado como classe, será trazida para o nível setorial.

Desta maneira, o objetivo deste trabalho é, por meio de um estudo de caso da trajetória do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja - Sindicerv -, buscar entender como os empresários estruturam sua representação política, destacando os fatores que atuam como incentivos para definir sua forma de atuação política.

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Usando como referência fatos históricos da política e economia nacional, o texto foi dividido em três períodos: o primeiro de 1930 a 1964, ou seja, do início da era Vargas até o golpe militar; o segundo, entre 1964 a 1985, cobrindo o período do regime militar e, o terceiro, a partir de 1985 até os dias de hoje, abordando a redemocratização e abertura da economia.

Para cada um dos períodos são feitas três discussões: a primeira, sobre a evolução da indústria nacional, focando a organização política do segmento para a representação de seus interesses. A segunda, sobre o desenvolvimento da indústria cervejeira, descrevendo o crescimento da produção nacional de cerveja, o número de empresas participantes no setor, a participação de mercado dos principais produtores e suas movimentações estratégicas. Por fim, a terceira, apoiando-se em elementos apresentados nos tópicos anteriores, discute a trajetória do Sindicerv, explorando sua forma de organização e atuação política ao longo de sua história.

Importante ressaltar que as duas discussões iniciais, a respeito da evolução da organização política do empresariado e sobre o mercado de cerveja, não têm o intuito de mostrarem-se exaustivas, sendo seu propósito oferecer o contexto no qual as transformações na forma de representação política do setor cervejeiro ocorreram.

Durante o primeiro período, será visto que a partir do colapso do sistema primário-exportador, durante a década de 30 ocorre um “deslocamento do centro dinâmico da economia nacional” (Furtado, 1970), o qual migra da agricultura para a indústria.

Nesta época, diante de seu crescente poder econômico, a nascente classe de industriais brasileiros já apresentava algumas organizações de representação de interesse e, gradualmente, aumentou sua inserção nas arenas decisórias do Estado.

Sob a influência da ideologia desenvolvimentista, o governo de Getúlio Vargas dá origem a novos mecanismos de comunicação entre governo e empresariado. Ao longo das décadas de 30 e 40, são desenvolvidas e consolidadas a legislação trabalhista e o sistema corporativista. Tais mecanismos aproximaram o Estado da iniciativa privada e, neste período, o Brasil assiste a um crescimento vigoroso da indústria nacional.

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intensa atividade grevista, aderem ao sistema corporativista, criando o Sindicato Nacional da Indústria Cervejeira, o Sindicerv.

No entanto, apesar da via institucional de acesso ao Estado, a participação da indústria cervejeira na vida política continuaria centrada nos contatos pessoais dos empresários das grandes cervejarias e a atuação política do Sindicerv, neste primeiro período, ocorreria de forma pontual e esporádica.

Ainda neste período inicial, as atividades rotineiras do Sindicerv eram centradas na negociação salarial entre empregados e empregadores. Além disso, o Sindicerv passou a ser o principal local de encontro de seus associados, funcionando como um centro de troca de informações e construção de alianças.

Entretanto, após este período de alinhamento de interesses entre Estado e indústria, com a mudança das lideranças, tanto no Estado, quanto nas organizações industriais, as entidades de grau superior do sistema corporativista passam por período de enfraquecimento. A partir de meados da década de 50, a representação de interesses, até então centralizada no sistema corporativista, torna-se mais complexa.

No período de 1964 a 1985, o sistema de representação política empresarial altera sua forma básica de funcionamento. Durante o regime militar, diante da descentralização dos processos decisórios da máquina estatal, a representação política empresarial passa a acontecer em nível setorial e, sobretudo, através de um sistema de alianças entre interesses de dentro e de fora do aparelho governamental, os anéis burocráticos.

O setor cervejeiro, que já tinha sua forma de representação política centralizada nas relações pessoais de seus empresários, sofre poucas alterações em sua atuação política. As atividades de representação de interesses pelo Sindicerv junto ao governo continuam ocorrendo de forma esporádica, como evidenciaria sua participação no Plano Nacional de Auto-Suficiência em Malte e Cevada, PLANACEM, na década de 70. O Sindicerv continua também com suas rotinas ligadas ao sistema corporativista, às quais é adicionada a função de negociação dos ajustes de preço no âmbito dos planos de combate à inflação.

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No plano econômico, as reformas neoliberais da década de 90, ao promover a abertura do mercado nacional e a redução da participação do Estado na economia, promovem um aumento na concorrência no mercado nacional. A entrada de produtos importados, assim como a maior participação de capital estrangeiro na economia nacional, são os principais fatores responsáveis pelo aumento do ambiente concorrencial na economia brasileira.

O acirramento da concorrência promove uma depuração do mercado brasileiro e a década de 90 é marcada por intensa atividade de fusões e aquisições, muitas vezes com participação de capital estrangeiro.

O mercado de cerveja é fortemente impactado por estas transformações. Durante a década de 80, novos entrantes acirram a concorrência entre as cervejarias. Com a compra do controle da Brahma por investidores financeiros, o grupo GARANTIA, o setor assiste a uma escalada do processo de fusões e aquisições.

Diante do novo ambiente competitivo no setor cervejeiro, empresas menores buscam aumentar seu grau de competitividade pela via política. Em 1991, a cervejaria Kaiser filia-se ao Sindicerv e passa a desenvolver uma estrutura de lobby no âmbito da entidade, desestabilizando a estrutura de poder dentro do sindicato.

Em 1994, com o desafio de organizar uma representação unificada do setor cervejeiro nas negociações para a definição das normas do MERCOSUL, Antarctica e Brahma, incomodadas com a crescente participação da Kaiser no mercado e nas atividades do Sindicerv, aproveitam a oportunidade para propor a profissionalização da gestão do sindicato.

É criada a função de superintendente, o qual coordenaria as atividades ligadas à representação do setor nas negociações da formatação do MERCOSUL. O setor cervejeiro sai vitorioso das negociações no MERCOSUL e o Sindicerv fortalecido como entidade representante do setor.

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amplia sua atuação e passa a atuar junto às Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais.

Assim, depois de um longo processo de adaptação de suas atividades de representação política ao contexto político-econômico nacional, o setor cervejeiro transforma seu sindicato patronal, ao final da década de 90, em uma entidade de lobby.

Sua forma original de atuação política, marcada por participações esporádicas e pontuais, passa a ter caráter permanente e atuação nas três esferas do governo.

A reconstituição da trajetória do Sindicerv, deste modo, auxilia na compreensão dos fatores determinantes para as transformações ocorridas na forma de representação deste setor e explora, de maneira bem próxima, a visão dos empresários sobre as formas de interação entre setor privado e Estado. As transformações observadas comprovam uma forma pragmática e adaptativa de atuação política dos empresários do setor cervejeiro.

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2. O Início: 1930-1964

Com o objetivo de ilustrar o contexto do período histórico no qual o sistema corporativista foi implementado e o Sindicerv fundado, passaremos inicialmente à descrição do processo pelo qual os industriais definiram-se como grupo econômico politicamente organizado na década de 20 e iniciaram sua participação nas arenas decisórias das políticas públicas.

Feita esta introdução, passaremos à discussão da criação do sistema corporativista na década de 30 e 40 e a maneira como este sistema permitiu a rápida incorporação do empresariado industrial às arenas decisórias do Governo.

Por fim, ao chegarmos à década de 50, observaremos as reversões no até então bem sucedido sistema corporativista, o qual começa a sofrer um processo de fragmentação a partir de meados desta década.

Com relação ao mercado de cerveja, veremos uma breve descrição do início do processo de consolidação do mercado, com Antarctica e Brahma realizando suas primeiras operações de fusões e aquisições e consolidando sua posição de líderes do setor. Estas movimentações dão ao setor, já ao final da década de 50, seu aspecto duopolista. Nesta primeira fase já fica patente o poder político dos empresários deste setor, que dispunham de canais de acesso à alta burocracia do Estado.

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2.1. Contexto Político-Econômico: Formação da Elite Industrial Brasileira e sua inserção nas arenas decisórias

Até os anos 30 o Brasil tinha sua economia predominantemente formada pela produção agrícola voltada para a exportação1, com a produção industrial correspondendo a apenas 20% do total do valor de produção conjunta da agricultura e da indústria (Bielschowsky, 1988).

Por não haver uma indústria nacional desenvolvida o suficiente para abastecer o mercado interno, a economia brasileira dependia fortemente dos recursos advindos da exportação de café para viabilizar a importação de produtos que atendessem à demanda interna.

Dentre as poucas atividades industriais realizadas no Brasil no início do século XX, as principais eram: têxtil, chapéu, fósforo, material de transporte e cerâmica.

Em 1929, com a quebra da bolsa americana e a conseqüente deflagração da crise internacional, as exportações de café, que já vinham enfrentando problemas nos anos anteriores, sofrem novo impacto e provocam forte desvalorização cambial.

A compressão do poder de compra da moeda nacional, causada pela desvalorização cambial, provocou a busca por alternativas ao consumo de importados, aumentando a demanda pelos poucos produtos nacionais, o que colocou maior pressão sobre os preços domésticos. O aumento dos preços, por sua vez, permitiu a elevação do lucro dos industriais brasileiros, o que atraiu novos investimentos para esta atividade. Ocorria desta forma, o redirecionamento dos investimentos do capital nacional, ou na consagrada expressão de Celso Furtado, o “deslocamento do centro dinâmico” da econômica brasileira. (Furtado, 1970)

Deste modo, foi no contexto de crise internacional e exaustão do sistema primário-exportador, que a indústria brasileira sofreu seu primeiro grande impulso.

De fato, durante a década de 30 a indústria nacional cresceu consistentemente acima da produção agrícola, crescendo a uma taxa média de 10% ao ano. Ao final da década de 30 a indústria já respondia a 40% do total do valor da produção conjunta entre agricultura e indústria. (Bielschowsky, 1988).

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Inserção da Elite Industrial nas Alianças de Poder

Ao final da década de 20, a nascente burguesia industrial já iniciava sua identificação como grupo autônomo, assumia posições independentes dos demais grupos econômicos e pouco a pouco aumentava sua capacidade de exercer pressão política.

A crescente articulação política dos industriais era diretamente ligada ao surgimento de importantes líderes industriais, cuja participação seria determinante na forma de atuação política dos empresários até meados do século XX. Dentre estas lideranças, destacaram-se Jorge Street, Roberto Simonsen e Euvaldo Lodi; industriais que defendiam o protecionismo e o papel intervencionista do Estado na economia2. (Leopoldi, 1998)

“Para a indústria, a década de 20 significou um aumento da demanda por bens de consumo, mas também uma redução da proteção tarifária em virtude da ofensiva dos países industrializados para reconquistar mercados findo o conflito mundial.” (Leopoldi, 1998, pag. 9).

Movidos pela necessidade de lutar pela proteção tarifária, os industriais criaram novas organizações. Paralelamente ao já tradicional CIB (Centro Industrial Brasileiro)3, foram criados o Centro Industrial de Juiz de Fora (1926), o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo - CIESP (1928) e o Centro da Indústria Fabril do Rio Grande do Sul (1930).

Tais organizações, apoiadas em suas expressivas lideranças, conseguem que o governo implemente política de estabilização cambial, protegendo a indústria nacional da desvalorização da moeda nacional. A indústria têxtil, que mais sofrera com as reduções tarifárias no período, conseguiu ainda que as taxas alfandegárias para o setor têxtil fossem elevadas. Estas conquistas revelam o aumento gradual da influência dos industriais nas políticas públicas da época. (Diniz, 1978)

A conquista de espaço político pela burguesia industrial significava o início da alteração na estrutura de poder da sociedade brasileira. Os industriais começavam sua inserção no esquema de alianças entre elite política, agrária e importadora.

À medida que a indústria crescia em importância política, o Estado respondia criando mecanismos de comunicação com o setor. No início do século XX, já havia

2 Ideais retomados dos movimentos industrialistas do final do século XIX

3 Criado em 1904 a partir da fusão da SAIN, Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, esta criada

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órgãos consultivos que viabilizavam esta comunicação, dentre eles o Conselho Superior do Comércio e da Indústria, criado por decreto presidencial em 1923 com a função de auxiliar o governo na formulação de políticas públicas de caráter econômico. (Leopoldi, 2000)

Ao final da década de 20, o nascente grupo de industriais conseguira tornar-se independente dos demais grupos, criado novas organizações e ampliado seu acesso às arenas de decisão do Estado.

Desenvolvimentismo e a Inserção do Empresariado pelo Sistema Corporativista No contexto de crescimento da participação da indústria na vida política, no início do governo de Getúlio Vargas são desenvolvidos novos mecanismos de interação entre governo e setor privado.

Este movimento de aproximação do Estado ao setor privado tem sua origem na ideologia desenvolvimentista, que crescia neste período. Segundo esta ideologia o Estado seria responsável pelo planejamento e execução de um projeto de industrialização integral, através do qual o Brasil deixaria de ser subdesenvolvido. (Bielschowsky, 1988).

Segundo Bielschowsky, neste período inicia-se a consolidação de quatro elementos ideológicos fundamentais ao projeto desenvolvimentista:

a. “consciência de que é necessário e viável implantar no país um setor industrial integrado;

b. consciência da necessidade de instituir mecanismo de centralização de recursos financeiros, capazes de viabilizar a acumulação industrial pretendia;

c. aceitação da idéia de intervenção governamental em apoio à iniciativa privada, assim como o planejamento central;

d. nacionalismo econômico. Acirra-se o sentimento antiimperialista clássico, de defesa de barreiras alfandegárias e do controle nacional sobe os recursos naturais“.

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Com motivação nos ideais desenvolvimentistas, a partir da década de 30 é construído todo um arcabouço de instituições de regulação e controle das atividades econômicas do país4.

Ainda em 1930, primeiro ano do governo Vargas, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. No ano seguinte, através do decreto lei no 19.770, foi implementada a primeira legislação sindical do país. Ela determinava que as organizações locais, fossem elas de trabalhadores ou de empresários, deveriam se organizar em sindicatos, estes em federações e as últimas em uma confederação.

Estas organizações deveriam ser aprovadas e controladas pelo Ministério do Trabalho. Em contrapartida, seriam concedidos canais de acesso às arenas decisórias às entidades corporativistas.

Além dos canais de acesso às arenas decisórias do Estado, a criação de sindicatos patronais pelos empresários também tinha o importante interesse em criar uma organização capaz de fazer frente à intensa sindicalização dos operários no período e os crescentes movimentos grevistas.

Movidos pelos incentivos citados, a CIESP, simpatizante dos ideais corporativistas, foi a primeira entidade a adaptar-se à legislação sindical. Outras entidades, com tradições liberais como o CIB, relutaram em aderir ao sistema corporativista, mas acabaram cedendo.

Com a adesão ao sistema corporativista, os empresários passaram a ter participação imediata em questões como a formulação da legislação trabalhista e definição de tarifas, as quais eram discutidas, respectivamente, no Ministério do Trabalho e na Comissão de Revisão de Tarifas do Ministério da Fazenda.

“A via corporativa beneficiou os industriais, abrindo-lhes canais no interior do Executivo, para que colaborassem na formulação de todo o aparato legal que regulou o trabalho, a sindicalização e a política industrial protecionista.” (Leopoldi, 1998, pág. 12)

Além do acesso ao poder executivo, foram criados mecanismos de inclusão dos representantes dos interesses privados também no poder legislativo. Na Assembléia

4 Dentre as principais podemos citar: o Departamento Administrativo do Serviço Público – DASP (1938);

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Constituinte de 1933-34 foram destinados assentos para representantes das entidades classistas de cúpula. Para poder contar com seus representantes, os industriais criaram a Confederação Nacional do Brasil, contando com entidades de quatro estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Os industriais indicaram 11 empresários para a Assembléia Constituinte, os quais continuaram no Congresso até seu fechamento em 1937, permitindo aos industriais próxima participação na discussão das proposições legislativas do período.

A inserção dos representantes dos industriais nas arenas decisórias do legislativo e do executivo, aliado às tendências desenvolvimentistas do governo, possibilitou alinhamento dos interesses entre Estado e empresariado. Este alinhamento permitiu a rápida recuperação da indústria pós crise de 1929.

Gráfico 1: Taxa anual de crescimento: produção industrial no Brasil 1920-45 % 2,8 1,3 11,3 3,9 9,4 0 2 4 6 8 10 12

1920-1929 1929-1933 1933-1939 1939-1942 1942-1945

C re sc im en to a nu al ( % )

Gráfico 1: Taxa anual de crescimento: produção industrial no Brasil 1920-45

Fonte: IPEA DATA

O crescimento acentuado observado na década de 30, média de 11,3% a.a., corrobora o efeito positivo do alinhamento entre Estado e empresariado, ainda que este crescimento não possa ser atribuído a este motivo isoladamente.

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Estado Novo

Com a Constituição de 1937, novas diretrizes foram estabelecidas para o sistema corporativista. As novas diretrizes buscavam reduzir seu viés regionalista, e pretendiam transformá-lo numa estrutura verticalizada, com entidades setoriais por ramos de atividade, envolvendo a formação de múltiplas federações e confederações por cada setor de atividade.

Em 1939, através de um decreto-lei, o governo regulamentou as determinações da nova constituição, estabelecendo a verticalização do sistema corporativista. Os empresários paulistas e fluminenses, liderados por Roberto Simonsen e Jorge Street, temerosos do efeito que isto teria sobre a hegemonia da indústria do sudeste sobre as demais regiões, mobilizaram a classe empresarial e conseguiram promover modificações no decreto para que a legislação permitisse a organização do sistema corporativista em bases regionais (sindicatos organizados em federações estaduais).

Além disso, cautelosos diante do regime ditatorial de Vargas, que poderia decretar a extinção do sistema corporativista a qualquer momento, passaram a defender a existência de um sistema dual, que contaria com entidades oficias ligadas ao sistema corporativista, mas também com organizações paralelas. As entidades oficiais seriam as interlocutoras do governo, enquanto as paralelas poderiam atuar com maior liberdade longe do arbítrio do Estado. (Leopoldi, 1998)

Nesta linha, os empresários paulistas e fluminense criaram entidades oficiais do sistema corporativista, a Federação dos Sindicatos da Indústria do Distrito Federal (FSIDF) e a Federação das Indústrias Paulistas (FIP), mas mantiveram suas entidades privadas em funcionamento, FIRJ e FIESP. Esta forma dual de atuação, como veremos nos próximos capítulos, tornar-se-ia o padrão de atuação política empresarial no Brasil.

Assim, ao longo da década de 30, não apenas os empresários ampliaram sua atuação política, como iniciavam a estruturação de uma forma híbrida de representação de interesses contando com entidades integradas ao sistema corporativista e entidades paralelas a este. Estas entidades atuariam de forma complementar, com os empresários recorrendo a uma ou outra, conforme sua conveniência.

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(1943) e nela consolidados os decretos que criaram os mecanismos de representação dos empresários, o sistema corporativista5.

“O sistema corporativo de intermediação de interesses representou, na transição da ordem agrária para a sociedade urbano-industrial, a abertura de novos espaços políticos para a classe empresarial em formação, permitindo-lhe uma inserção direta no aparelho de Estado” (Diniz, 1992).

O Sistema Corporativista

O sistema corporativista foi estruturado em organizações distribuídas por três níveis: Sindicatos (associação de empresas), Federações (associação de sindicatos) e a Confederação Nacional da Indústria, congregando as federações.

A indústria, que lutara pela manutenção de um sistema representativo de interesses regionalizado, estruturou suas organizações corporativistas, conforme gráfico abaixo:

Figura 1: Estrutura do Sistema Corporativista – Indústria Organograma

Ilustração 1: Estrutura do Sistema Corporativista

5 As regras que regem a organização sindical no Brasil estão reunidas sob o título V da Consolidação das

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Os Sindicatos podem ser distritais, municipais, intermunicipais, estaduais e interestaduais. No entanto, é proibida a constituição de mais de um Sindicato para uma mesma categoria econômica em uma dada base territorial. Este último ponto é conhecido como unicidade sindical e, na prática, garante o monopólio de representação de uma determinada atividade econômica dentro do sistema corporativista.

Os recursos financeiros para a manutenção das atividades dos Sindicatos são oriundos de duas fontes:

a) as contribuições devidas aos Sindicatos pelos que participam das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidas entidades, sob a denominação de contribuição sindical;

b) as contribuições dos associados, na forma estabelecida no estatuto da entidade; Fonte: art. 548 – CLT As contribuições sindicais são obrigatórias, tanto para empregados como para empregadores. Seu recolhimento ocorre anualmente e, para os empregadores, o valor é determinado, de maneira progressiva, com base em seu Capital Social.

A filiação das empresas aos sindicatos não é obrigatória, no entanto, para que um sindicato seja reconhecido como o representante de uma determinada atividade econômica, este precisa contar com a filiação de, pelo menos, 1/3 das empresas legalmente constituídas na determinada atividade econômica6. Todos os afiliados são obrigados a pagar mensalidades (contribuição dos associados) e o valor de tais mensalidades é estipulado pela própria entidade em seu estatuto. Como benefício pela filiação, as empresas têm acesso a serviços exclusivos.

Quanto às federações e confederações, a remuneração destas tem origem na contribuição sindical, sendo o rateio desta da seguinte forma:

6 CLT: Art. 515 – “As associações profissionais deverão satisfazer os seguintes requisitos para serem

reconhecidas como Sindicatos: a) reunião de 1/3 (um terço), no mínimo, de empresas legalmente constituídas, sob a forma individual ou de sociedade, se se tratar de associação de empregadores...”

60% para o sindicato 15% para a federação 5% para a confederação

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Além disso, as federações estaduais da indústria e a confederação nacional da indústria contam ainda com a verba referente à administração do sistema “S”, sendo esta a fonte mais significativa para a indústria.

O sistema “S” iniciou-se com a criação do SENAI, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial em 1942 e com o SESI, Serviço Social da Indústria em 1946.

Os recursos para manutenção do SESI e posteriormente das demais instituições que comporiam o sistema “S”, eram originados de uma parcela da folha de pagamento das empresas. Com isto, a CNI, que antes contava apenas com os repasses dos sindicatos, contava agora com os recursos do sistema “S” que, sendo volumosos, permitiam não somente a manutenção do sistema “S”, como auxílio no desenvolvimento de outras atividades na CNI, como áreas de pesquisa e assessoria de imprensa.

Fim do Estado Novo

A criação do SESI ocorreu em resposta aos intensos movimentos grevistas ocorridos no início do governo Dutra. Ao final do Estado Novo, a elevada taxa de inflação e o crescimento do Partido Comunista Brasileiro, estimulavam mobilizações operárias por todo o país.

Após quinze anos sem eleição, em um contexto de início de guerra-fria e a conseqüente tensão entre capitalismo e comunismo, a classe operária era alvo de atenção por parte do Partido Comunista Brasileiro e por parte dos industriais.

Sob o governo de Dutra, o movimento operário, sob influência do Partido Comunista, intensificou sua atividade promovendo uma série de greves pelo país. Os empresários, que dispunham de grande influência no governo, contando inclusive com o ministro do trabalho, o industrial da FIESP Morvan Dias Figueiredo, pediram que fosse declarado estado de emergência.

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Conforme mencionado anteriormente, a grande influência das federações e confederações era marcada pela ativa participação de grandes expoentes da indústria. Ao lado de Roberto Simonsen e Jorge Street, Euvaldo Lodi era um dos principais líderes industriais da época.

Com o contexto de instabilidade política, provocada pelo movimento operário em meados da década de 40, as eleições sindicais de 1946 e 1952 foram suspensas e Euvaldo Lodi permaneceu na presidência de CNI entre 1938 e 1954. Lodi dispunha de amplo acesso ao poder executivo, inclusive à presidência. (Leopoldi, 2000)

No entanto, durante o governo Dutra, as organizações industriais sofreram perdas importantes em suas lideranças, destacadamente com o falecimento de Roberto Simonsen em 1948 e Morvan Dias Figueiredo, em 1950.

Assim, no segundo mandato de Vargas (1950 a 1954) Lodi era o último líder industrial representante dos industriais que marcaram as décadas de 30 e 40, com posicionamento pró desenvolvimentismo e postura ativa na defesa dos interesses e ideais dos industriais.

A liderança de Lodi aproximava a indústria de Vargas, sendo este um período de excelente relação entre indústria e governo. Nas palavras de Schneider:

“Formal and informal access to Vargas and other government agencies was excellent” (Schneider, pág. 103, 2004)

Entretanto, ao final do governo Vargas, uma crise política obriga Lodi a deixar a presidência da CNI e FIESP. Após a sua saída em 1954, as organizações industriais mudariam seu posicionamento ideológico, principalmente deixando de ser defensora do protecionismo, como veremos a diante.

Na primeira metade da década de 50, a política de proteção à indústria era compatível com o grande referencial desenvolvimentista vigente na época, com o Estado atuando como ator responsável pela viabilização da indústria de base e infra-estrutura do país.

Neste período inicia-se o planejamento das políticas industriais que seriam postas em prática ao longo da década de 50 por Vargas e JK. A formulação e implementação de tais políticas contou com a participação dos industriais.

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A CDI era formada por subcomissões compostas por funcionários do alto escalão do executivo e industriais indicados por suas organizações. Em 1952 apresentado o Plano Geral de Industrialização formulado pela CDI. Este plano estabeleceu quais seriam as áreas teriam prioridade na atuação do governo: energia, metalurgia, indústrias químicas, indústria da borracha e de alimentos.

O início da operação da Petrobrás, em 1954, acentuou desentendimentos dentro das federações e da CNI quanto ao posicionamento da indústria diante da ideologia desenvolvimentista do governo.

A criação da Petrobrás recolocava em pauta debates sobre o monopólio estatal sobre petróleo e produção de energia elétrica e a respeito da participação de empresas estrangeiras nessas atividades. Grupos dividiam-se dentro das federações e CNI, com empresas ligadas a capital estrangeiro posicionando-se contrárias ao monopólio estatal e a exclusão das empresas estrangeiras dessas atividades, enquanto grupos ligados aos industriais tradicionais, herdeiros de Simonsen, defendiam a política desenvolvimentista do governo.

No entanto, com a morte de Simonsen e o afastamento de Lodi em 1954, as organizações empresariais atravessavam um período de transição. A nova geração de industriais, sob a influência de diretorias formadas por estrangeiros, apresentava perfil ideológico diverso da geração anterior. Com orientação neoliberal, manifestavam-se contrários à criação da Petrobrás e da Eletrobrás, assim como ao controle do câmbio pelo governo (Leopoldi, 1998)

Grupos de industriais da nova geração surgiam nas organizações empresariais principalmente no Rio de Janeiro. Com o afastamento de Lodi, a nova geração assumiu o comando da FIRJ, passando a defender o livre mercado, criticando o controle do câmbio e os monopólios estatais. A CNI, ao nomear como presidente Lídio Lunardi, inicia o padrão de nomeação de industriais de estados com menor expressão econômica. (Leopoldi, 1998)

As transformações ocorridas nas organizações de grau superior do sistema corporativista causariam o desalinhamento entre os interesses desenvolvimentistas de JK e a ideologia neoliberal da nova geração de líderes industriais. Desta forma, “O espaço aberto no Executivo com a política industrial do governo JK seria ocupado por outras entidades industriais, que estavam nascendo: as associações paralelas” (Idem,

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A FIESP, também assistiria ao surgimento de uma nova geração de industriais, no entanto, continuaria apoiando o planejamento governamental e colaborando com os organismos do governo.

Com o intenso desenvolvimento industrial promovido pela administração de JK, concomitante às divergências internas na CNI, , a FIESP e os sindicatos setoriais seriam chamados a participar da construção das políticas setoriais da indústria.

Neste período, o enfraquecimento das entidades de grau superior já era visível, com os industriais do sul e sudeste rejeitando a representação da classe pela CNI, presidida por lideranças nordestinas. Este enfraquecimento desestimulou a adesão de novos industriais ao sistema corporativista que passaram a criar novas organizações paralelas. Dentre elas podemos destacar: ABDIB (indústrias de base), ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas), ABIFARMA (indústria farmacêutica) e a ANFAVEA (montadoras de automóveis).

Muitas vezes os presidentes dessas associações “eram os mesmos dos sindicatos corporativos, e suas relações com a FIESP muito positivas, mas preferiam a associação paralela para operar no interior dos organismos governamentais pela flexibilidade que elas ofereciam” (Idem Ibidem, pag. 32).

O sistema de representação empresarial passa a ter um aspecto híbrido, contando com entidades do sistema corporativista e organizações paralelas, ambas atuantes junto ao governo federal.

Com o enfraquecimento das entidades de grau superior, a relação entre Estado e setor privado migra para o nível setorial, com o governo estruturando planos setorizados contando com a cooperação do empresariado industrial de cada setor.

Algumas medidas do governo JK, entretanto, dividiam os industriais como a SUMOC 113, que estimulava a entrada de capital e bens de capital estrangeiros no país. Industriais prejudicados pela medida posicionavam-se contrários ao governo, enquanto os favorecidos pelos planos setorizados, mantinham-se favoráveis.

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O governo Jânio Quadros, herda o Estado endividado e com a economia enfrentando altas taxa de inflação resultante do crescimento acentuado do período anterior. Com a fragilidade da conjuntura econômica, as relações entre governo e setor privado se deterioram.

Diante de uma denúncia de má gestão de recursos da CNI, Jânio intervém na CNI e destitui seu presidente. Este procedimento seria repetido por João Goulart outras duas vezes provocando um desmantelamento do corpo técnico da entidade.

A partir de 1964, com o regime militar, novas intervenções ocorreriam, o que, aliado ao estilo decisório fechado dos governos militares, esvaziaram a capacidade representativa da CNI. (Idem Ibidem)

Novas formas de aliança Estado-empresário surgiriam durante o regime militar.

Conclusão

Com o colapso do sistema primário-exportador a indústria brasileira passa por período de forte expansão . Com o aumento de sua importância econômica industriais vão gradualmente conquistando maior representatividade política no decorrer das décadas de 20 e 30.

Neste período, o modo de produção capitalista, assim como a burguesia industrial, passam a ser aceitos pelo Estado brasileiro e sociedade em geral como um elemento importante para o desenvolvimento do país

Neste contexto, o governo de Getúlio Vargas consolida as leis trabalhistas e com elas consolida também o sistema corporativista, que passa a integrar o empresariado às arenas de decisão. No entanto, após um período inicial de bom funcionamento desta estrutura, suas entidades de grau superior perdem lideranças expressivas, como Roberto Simonsen, e passam por processo de perda de importância. O governo passa a desenvolver e implementar projetos desenvolvimentistas com o apoio direto de determinados setores industriais, trazendo as relações entre Estado e setor privado para o nível setorial.

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2.2. A Indústria da Cerveja: Início da Produção Nacional de Cerveja

A produção brasileira de cerveja começa em meados século XIX e desde então cervejarias multiplicaram-se por todo o território nacional, notavelmente na região sul e sudeste.

Segundo registros do Almanak Laemmert, durante a segunda metade do sec. XIX, foram criadas 54 cervejarias dentre elas a Cia. Antarctica (uma antiga produtora de presuntos que, em 1885, diante de uma crise de abastecimento de matéria prima, aproveita seu maquinário e passa a produzir cerveja); a Manufatura de Cerveja Brahma Villiger & Companhia (fundada em 1888 por um imigrante suíço inconformado com a má qualidade da cerveja brasileira); Cervejaria Bavária (1892); Cervejaria Boehmia (1898, que incorporou todos os bens de sua antecessora, esta criada em 1853).

Neste mesmo período, algumas operações de incorporação e mudança de controle acionário já aconteciam com destaque para a Antarctica e Brahma, as quais, ao final deste século, chamavam-se, respectivamente, Companhia Antarctica Paulista S.A. e George Maschke & Cia. – Cervejaria Brahma.

O desenvolvimento do setor cervejeiro na primeira metade do século XX praticamente se resume ao histórico de Antarctica e Brahma.

Não há dados sobre a produção cervejeira deste período, no entanto, com os movimentos de fusão e aquisição empregados por Antarctica e Brahma, estas já consolidavam sua posição como as duas principais cervejarias do país.

A Cia Antarctica, já na primeira década do século XX tornou-se uma sociedade anônima e contava com aproximadamente 60 acionistas. Dentre eles, produtores de café, que investiam recursos na importação de maquinários na troca pela exportação de café.

Na década seguinte; a Antarctica, revelando sua predisposição a ser uma das grandes do setor, da continuidade ao seu processo de expansão por aquisições e compra sua principal concorrente, a Cervejaria Bavária. Nas décadas de 30 e 40, os acionistas da empresa entram em disputa pelo seu controle e, ao final, Walter Belian assume o controle da companhia em parceria com a família Bülow. (Santos, 2003)

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prerrogativa de acesso ao mais alto escalão da burocracia estatal, incluindo o presidente Juscelino Kubitschek.

Na década de 50, com o falecimento de Karl Bülow, representante da família Bülow na Antarctica, Belian rompe o acordo que tinha com os Bülow e impede que o filho de Karl o suceda na diretoria. O fato provoca uma disputa judicial entre as famílias que só foi resolvida em 1960 no Supremo Tribunal Federal, com a vitória de Belian, que contava com o apoio do próprio Juscelino Kubitschek, então presidente. (Santos, 2003)

Para os propósitos deste texto, é relevante notar o grau de proximidade que os proprietários tinham com o Estado brasileiro, podendo recorrer a acesso direto ao presidente.

O contato das cervejarias com o Estado não ocorria de maneira casual e desorganizada. A Cia Antarctica, sediada em São Paulo, já dispunha de um escritório de representação política no DF, através do qual articulava para que suas reivindicações fossem ouvidas. Do mesmo modo, a Brahma, sediada na própria capital, também exercia atividades de representação política junto ao executivo. (Sindicerv, 2008)

(31)

2.3. O Sindicerv: Fundação e Início das Atividades

Conforme discussão feita na seção 2.1., a implementação do sistema corporativista além de funcionar como um canal de comunicação institucional entre Estado e setor privado, regulava a relação entre trabalhadores e empresários, determinando que as discussões sobre condições de trabalho e remuneração acontecessem através das entidades do sistema corporativista. Estas características principais, dentre outras, motivavam a criação de sindicatos patronais pelos empresários. No setor cervejeiro não foi diferente.

Fundação e expansão do Sindicerv

Com a liderança do setor cervejeiro assumida por Antarctica e Brahma as duas cervejarias, que já exerciam atividades independentes de representação de interesses junto ao Estado, aderiram ao sistema corporativista em 1940. Até então, as atividades de representação de interesse eram exercidas pelas cervejarias por seus próprios funcionários, sendo que a Antarctica, uma empresa paulista, tinha escritório no antigo distrito federal para o exercício destas atividades.

O Sindicato da Indústria da Cerveja de Baixa Fermentação do Rio de Janeiro foi fundado em 1º de outubro de 1940, tendo como sócios fundadores:

1. Companhia Cervejaria Brahma 2. Companhia Antarctica Paulista

Em 1948, com o objetivo de promover a extensão de base territorial a todo o território nacional, uma vez que os sócios fundadores dispunham de unidades produtivas em diversos estados do território nacional, o Sindicato da Indústria da Cerveja de Baixa Fermentação do Rio de Janeiro é transformado em Sindicerv, Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja, segundo registro junto ao Departamento Nacional do Trabalho que concede a concessão da atuação em bases nacionais, em 27 de novembro de 1948.

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junto a uma confederação. No entanto, o artigo 517 da CLT7, concede a prerrogativa de, em caráter excepcional, ser permitida a representação nacional, desde que conte com a anuência do poder executivo.

A atuação nacional de Antarctica e Brahma, com fábricas distribuídas por todas as regiões do país, justificava a representação de interesses também com abrangência nacional, o que lhes garantiu a concessão do Ministério do Trabalho.

Ampliação do Número de Associados

Os anos iniciais do Sindicerv ocorrem justamente no período considerado o auge no sistema corporativista, caracterizado pelo bom relacionamento do governo com o setor privado, principalmente no segundo governo de Vargas, entre 1950 e 1954.

Desta forma, logo na primeira década de seu funcionamento, o Sindicerv incorporou quinze novos associados, representando praticamente a totalidade da produção nacional de cerveja, uma vez que as maiores cervejarias do país eram suas associadas. (Sindicerv, 2008)

3. Companhia Progresso Indústria Brasileira de Bebidas (SP – não disponível) 4. Cia. Cervejaria Adriática (PR -1919)

5. Cervejaria Catarinense S.A. (SC – 1937) 6. Cervejaria Bavária S.A. (SP – n.d.)

7. Companhia Paulista de Cervejas Vienenses (SP – n.d.) 8. Cervejaria Columbia S.A. (SP – 1044)

9. Cia. Cervejaria São Domingos S.A. (SP – n.d.) 10.Cervejaria Leonardelli (RS - 1950)

11.Cia Cervejaria José Weiss S.A. (MG – 1950) 12.Cia Bohemia S.A. (RJ – 1898)

13.Cia Cervejaria Cayrú S.A. (R.J – n.d.) 14.Polar S.A. (RS - 1945)

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15.Cia Cervejaria Rio Claro S.A. (SP – 1945) – razão social alterada para

Cervejarias Reunidas Skol Caracu S.A., sendo incorporada pela Cia Cervejaria Brahma.

16.Cervejaria Gazapina S.A. (RS – n.d.)

17.Cia Cervejaria Paulista (SP – 1913) – Posteriormente alterou sua razão social para Cervejaria Antártica Niger, tornando-se em 1998 Indústria de Bebidas Antártica do Sudeste S.A.

Para as fundadoras do Sindicerv, Brahma e Antarctica, o aumento do número de filiados, além de representar renda adicional para o Sindicato, através das mensalidades e participação nos eventuais rateios, significava aumento da legitimidade da instituição, o que conferia aos seus pleitos, maior credibilidade.

O Sindicato não dispunha de equipe técnica e, portanto, consistia apenas em uma sala com uma secretária. Sua diretoria era formada pelos dirigentes das empresas associadas, basicamente Brahma e Antarctica. Esta estrutura enxuta tornava os custos de manutenção diminutos, principalmente considerando a utilização das compulsórias contribuições sindicais, como veremos à frente.

Fatores Motivadores da Criação do Sindicerv

A criação do Sindicerv pode ser atribuída a quatro principais fatores:

1. Possibilidade de institucionalização das negociações entre empregados e empregadores, facilitando o controle de greves;

2. Utilização dos canais de acesso ao Estado para representação política criados pelo sistema corporativista;

3. Criação de um local oficial de troca de informações entre os empresários;

4. Redirecionamento dos custos já gastos com a contribuição sindical para outro sindicato patronal.

Negociação Salarial

(34)

Neste contexto, o sistema corporativista ganhava importância para os empresários, que viam neste um mecanismo de controle e manutenção da ordem nas relações entre trabalhadores e empregadores.

Deste modo, os empresários eram motivados a ter participação próxima nos sindicatos patronais, ou até mesmo criar um para o seu setor de atuação. Sendo este o caso da indústria cervejeira.

Assim, à época de sua constituição, o Sindicerv tinha como principal função a negociação salarial.

As negociações salariais aconteciam nas delegacias regionais do trabalho, após alinhamento interno entre os associados (o que acontecia para ambos os lados, trabalhadores e patrões). O alinhamento entre as cervejarias ocorria em reuniões na sede do Sindicerv.

Acesso às Arenas Decisórias Via Sistema Corporativista

Embora o acesso ao Estado de forma institucional fosse um motivador importante para os empresários de maneira geral, a atuação do Sindicato como representante do setor junto ao governo, segundo relatos dos funcionários do Sindicerv, ocorria de maneira pontual. Ou seja, não havia mecanismos sistemáticos de representação do setor via Sindicerv junto ao governo, havia sim a disponibilidade de acesso ao governo pelos canais do sistema corporativista, os quais eram explorados quando assuntos concernentes ao setor entravam em pauta, como legislação trabalhista, regulamentação da produção e comercialização da cerveja, entre outros8.

Com o domínio das grandes cervejarias sobre o mercado e no próprio Sindicerv, a atuação política do sindicato se confundia com a atuação independente destas cervejarias. Adicionalmente, a expressiva influência política de que gozavam os dirigentes das grandes cervejarias tornava desnecessária, em muitos casos, uma associação representando o setor. Este, na figura de Brahma e Antarctica, já dispunha de canais de acesso privilegiados ao Estado.

Desta forma, o Sindicerv, com relação à representação dos interesses setoriais, funcionava para os associados, principalmente para seus fundadores, Antarctica e Brahma, como uma entidade legitimadora de seus pleitos. Colocando de outra maneira, os produtores, que antes não contavam como uma entidade que pudesse falar em nome

(35)

do setor, tampouco com um sistema que os integrasse de maneira institucionalizada às arenas decisórias do Estado, utilizavam vias de acesso ao Estado baseadas em contatos pessoais e colocavam seus pleitos em nome de suas próprias empresas. Com o Sindicerv, além de um local institucionalizado para seus encontros, podiam apresentar seus pleitos em nome do setor e de maneira institucional.

Da mesma forma, os produtores de cerveja passavam a dispor de uma via formal de acesso ao Estado, com as grandes cervejarias exercendo atividades de representação de interesses de forma individual, quanto lhes conviesse.

Local de Encontro e Troca de Informações

Outra importante função do Sindicerv era ser um local de encontro entre os associados. É necessário lembrar que, conforme descrito anteriormente, o setor era marcado pelo excesso de demanda. Esta característica tornava a concorrência entre as empresas uma disputa pacífica e muitas vezes com pactos de não agressão. Brahma e Antarctica, por exemplo, dividiram entre si os dois principais mercados do país: Rio de Janeiro ficou para a Brahma e São Paulo para a Antarctica.

Desta forma, a criação do Sindicerv por Antarctica e Brahma significava a institucionalização de antigas práticas, como a troca de informações entre os principais atores. Com o sistema corporativista a troca de informações, que já ocorria entre as cervejarias, passava agora a ter um “local de encontro” institucional possibilitando, além das atividades previstas pela CLT, como a negociação da base salarial, a discussão de outros assuntos, como impostos, proteção à indústria nacional via taxação de produtos importados e até mesmo informações sobre estratégia de mercado, tecnologias utilizadas, etc.

Redirecionamento do Imposto Sindical para Entidade Própria

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O grande porte das cervejarias implicava em volumosas contribuições sindicais. Diante dos baixos custos que representavam a constituição de uma entidade própria, dada a estrutura enxuta, o redirecionamento das contribuições sindicais, até então pagas a outro sindicato patronal, viabilizaria, praticamente sem custos adicionais, a criação de um sindicato próprio.

Ao criar o sindicato patronal do setor cervejeiro, as grandes cervejarias passariam a contar com uma entidade exclusiva, onde poderiam articular seus interesses comuns (como já faziam) e usufruiriam, sem interferência de terceiros, das prerrogativas das entidades do sistema corporativista, como canais institucionais de acesso ao Estado e controle sobre a negociação salarial.

Conclusão

Diante dos claros incentivos criados pelo Estado para a criação de uma entidade de classe e premidos pelo contexto de movimentações grevistas, Antarctica e Brahma fundam em 1940 sua primeira entidade de representação oficial, que anos mais tarde, em 1948, seria transformada no Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja, Sindicerv.

Os principais incentivos para sua criação foram: 1. Negociação salarial;

2. Representação política oficial; 3. Local de troca de informações;

4. Redirecionamento da contribuição sindical para entidade própria.

Os produtores de cerveja, incluindo os pequenos, passaram a contar com uma entidade que lhes provia os benefícios de uma entidade do sistema corporativista e os grandes produtores, com uma alternativa às suas antigas formas de atuação política.

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2.4. Conclusão

A industrialização brasileira teve seu início com o colapso do sistema primário-exportador. Diante do aumento de sua importância econômica, industriais passaram a buscar maior representatividade política nas décadas de 20 e 30. Neste período, o Estado brasileiro e, de maneira geral, a sociedade brasileira, aceitou a burguesia industrial e seu modo de produção (capitalista) como um elemento importante da sociedade.

Em resposta a esta transformação dos modos de produção na economia nacional o governo de Getúlio Vargas, durante as décadas de 30 e 40, desenvolveu e consolidou as leis trabalhistas e com elas consolidou também o sistema corporativista, que passou a ser um amplo mecanismo institucional de integração do empresariado às arenas de decisão. No entanto, após um período inicial de bom funcionamento desta estrutura, com o enfraquecimento das entidades de grau superior, a representação de interesses industriais ficou mais complexa, valendo-se principalmente de relações em nível setorial, o que estimulou a criação de organizações extra-corporativas, fazendo com que o sistema corporativista perdesse centralidade.

É neste contexto que a indústria nacional cervejeira, cujos primórdios remontam ao século XIX, desenvolveu-se como um setor produtivo. É também neste contexto que foi criado o Sindicato Nacional da Indústria Cervejeira, o Sindicerv.

A indústria cervejeira nacional surge no Brasil no século XIX e passa por grande crescimento na primeira metade do século XX, acompanhando o movimento de industrialização nacional, principalmente através da utilização de capital oriundo das atividades exportadoras (substituição de importação). Desde seus primórdios, o setor é marcado por operações de fusões e aquisições, que rapidamente formam dois grandes produtores: Antarctica e Brahma.

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Em 1948, estimulados por um contexto de intensa atividade grevista, criam o Sindicerv, o qual passam a utilizar como ponto de encontro formal para troca de informações e articulações setoriais. Nos anos seguintes, incorporam novas cervejarias ao Sindicato, as quais contribuem para a legitimação da representação do setor, muito embora a entidade fosse dominada por Brahma e Antarctica.

As atividades de representação de interesses do setor junto ao governo pelo Sindicerv eram esporádicas, uma vez que Brahma e Antarctica já empreendiam tais atividades de forma independente, reduzindo a necessidade de ações adicionais. A utilização do Sindicerv para a representação de interesses ocorria conforme a conveniência das grandes cervejarias, recorrendo ao Sindicerv quando necessitavam posicionar-se como representante de todo o setor.

Deste modo, nas décadas iniciais de sua fundação, o Sindicerv era voltado principalmente para a função de centralização da negociação salarial entre empregados e empregadores do setor cervejeiro. Os associados do Sindicerv o utilizavam ainda, como um local de encontro, onde poderiam trocar informações sobre o setor.

Na próxima seção, veremos que, com a perda da centralidade do sistema corporativista iniciada em meados da década de 50 e acirrada durante a ditadura militar, outras formas de comunicação entre Estado e setor privado ganham força.

Neste novo arranjo, o Sindicerv continuará a exercer suas funções dentro do sistema corporativista, atividades pontuais de representação de interesse e ainda incorporará outras funções, como negociação de ajustes de preços, o que, por um lado, reforçou sua posição como representante do setor.

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3. O novo arranjo: 1964-1985

O período de 1964 a 1985 é marcado pelo regime militar. Veremos que nos governos militares, com a centralização das decisões pelos tecnocratas, o perda de centralidade do sistema corporativista, que vinha ocorrendo desde meados da década de 50, é acirrada. Um esquema de alianças entre interesses da sociedade civil e do governo (anéis burocráticos) passa a ser a principal forma de comunicação entre Estado e sociedade.

Por outro lado, algumas medidas dos governos deste período, como as políticas econômicas de combate a inflação via congelamento de preços, trouxeram aos sindicatos novas atividades (e.g. participação na negociação dos ajustes dos preços).

Quanto ao mercado cervejeiro, o período é caracterizado pelo acirramento do processo de fusões e aquisições e a entrada de novos produtores, o que aumenta a concorrência no setor. No entanto, é na década de 90 (capítulo seguinte) que a concorrência entre as empresas atinge seu grau máximo.

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3.1. Contexto Político-Econômico: Os Novos Canais de Acesso da Burguesia Industrial às Arenas Decisórias

Inserido em um contexto mundial de guerra-fria, os industriais brasileiros receberam o golpe militar de 1964 com manifestações de apoio e buscaram fortalecer seus laços com os militares. Como resultado diversos empresários foram convidados a ocupar quadros importantes no governo militar, incluindo os participantes do IPES. (Dreifuss, 1981)

A burguesia empresarial, que ao final do período da ditadura voltar-se-ia contra o regime militar, em 1964 acreditava que os militares iriam restituir o sistema democrático após derrubar Goulart.

No entanto, nem sempre para contentamento desta burguesia, os militares permaneceram no poder por 20 anos e promoveram mudanças na forma de integração da elite econômica às arenas decisórias do Estado. Veremos ao longo desta seção, como a relação entre Estado e empresários se desenvolveu durante este período (Schneider, 2004).

Com o aprofundamento do capitalismo brasileiro implementado pelos governos militares, ao final da década de 60 e início da década de 70, o país experimentou um forte crescimento econômico, o chamado milagre brasileiro: período de acentuado crescimento econômico baseado no modelo de “desenvolvimento dependente-associado”, o qual ocorria com financiamento externo e a dinamização das exportações. (Idem, Ibidem).

Com o bom desempenho econômico, o governo não tinha problemas para, através de sua intensa propaganda, manter seu regime pela repressão às demais questões políticas.

No entanto, a partir de 1974, com o fim do bom momento econômico e o prolongamento da permanência dos militares no poder, com seu regime burocrático-autoritário, que desagradava diversas frações da sociedade, começou a nascer um sentimento de “falta de legitimidade” do governo militar dentre diversos grupos de poder.

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permanência no poder. Assim, “um ambicioso programa de ‘Brasil Potência’ passou a orientar as metas e a propaganda do governo” (Cardoso, 1975)

O foco no desempenho econômico, fez com que emergissem dentro do regime, um volumoso corpo técnico voltado às medidas de fomento à economia e ao desenvolvimento do país de maneira mais geral, os chamados tecnocratas. A elevada importância da questão econômica colocou os tecnocratas no centro das discussões políticas, ocorrendo uma inversão de papéis, com tecnocratas tomando as decisões, que seriam sancionadas pelos políticos. (Idem, Ibidem)

Com o Congresso à margem das decisões, “a capacidade decisória escorregou, mais e mais para o automatismo do ‘Sistema’. Este, no aspecto político-administrativo parece ter-se substantivado na ação de alguns altos funcionários de segunda linha e de limitada responsabilidade política” (Idem, Ibidem, pag. 203)

Como parte das decisões de caráter macro ainda eram tomadas pelos mais altos níveis do quadro do governo, este período foi marcado pela coexistência da “centralização do processo decisório... ...com um acentuado grau de descentralização funcional dos órgãos de política econômico-financeira, observando-se aí a atomização de responsabilidades e áreas de competência e mesmo a superposição e duplicidade de órgãos e esferas decisórias...” (Diniz, 1978)

As organizações de grau superior do sistema corporativista (federações e confederações), que passavam por processo de enfraquecimento desde meados da década de 50, conforme explicado anteriormente neste texto, continuaram a perder importância diante da continua fragmentação do sistema de representação de interesses. Esta fragmentação foi acirrada com o processo de descentralização funcional dos órgãos governamentais e a emergência da burocracia tecnocrática, acima descritos.

Quanto a descentralização do poder decisório dentro do Estado, entrevistas realizadas em estudo de 1978 conduzido por Eli Diniz, mostram que os empresários a percebiam como uma questão complexa e multifacetada. Por um lado compreendiam que, ao dificultar a ação conjunta da indústria, a descentralização aliviava a pressão desta sobre o governo central quanto às decisões globais. Por outro lado, a abertura de diversos canais de contato, permitia um próximo relacionamento no nível setorial, o que, naturalmente, agradava à burguesia industrial.

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revés no bom relacionamento setorial conquistado, ficavam inibidos a pleitearem alterações na relação Estado-indústria. (Diniz, 1978)

Diante desta situação, os empresários assumem postura pragmática. Preocupados em evitar alterações repentinas na política de relacionamento entre Estado e empresários, estruturam suas operações de representação superando os obstáculos através da utilização dos canais já existentes (ou até mesmo criando novos canais, como veremos adiante) sem formalizar junto ao governo descontentamento quanto aos mecanismos de representação. Mesmo porque, parte deles estava satisfeita com o arranjo de canais de representação formado.

Corporativismo x Associações

Dentre os canais que sofreram alterações neste período, é possível observar um expressivo aumento das associações extra-corporativas:

Gráfico 1: Criação de organizações de representação de interesses – Industriais No. de entidades

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 1931-1937 1938-1945 1946-1954 1955-1963 1964-1969 1979-1978 1979-1984 N o. d a en tid ad es Sindicatos Associações

Gráfico 2: Criação de organizações de representação de interesses

Fonte: Diniz & Boschi, 2004

Conforme o gráfico, a partir da década de 70 ocorre um aumento expressivo do número de associações criadas, validando a tese de que os empresários buscavam formas alternativas de representação de interesses.

Imagem

Gráfico 1: Taxa anual de crescimento: produção industrial no Brasil 1920-45
Figura 1: Estrutura do Sistema Corporativista – Indústria  Organograma
Gráfico 1: Criação de organizações de representação de interesses – Industriais  No. de entidades  0102030405060708090100  1931-1937 1938-1945 1946-1954 1955-1963 1964-1969 1979-1978 1979-1984No
Gráfico 3: Operações de fusões e aquisições - década de 90
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