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ENCONTRO COM O PARAÍSO: o imaginário despertado pela Carta do Descobrimento do Brasil

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Academic year: 2021

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ENCONTRO COM O PARAÍSO:

o imaginário despertado pela Carta do

Descobrimento do Brasil

Lélian Patrícia de Oliveira Silveira

Doutoranda em Estudos Culturais pela Universidade do Minho e Universidade de Aveiro, Mestre em Gestão e Planejamento e Turismo pela Universidade de Aveiro, Especialista em Gestão em Turismo e Hotelaria, professora do Curso de Gestão de Turismo do CEFET/RJ (Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca)–Petrópolis, Brasil. Email: lelian.silveira@hotmail.com

Maria Manuel Baptista

Doutora em Cultura pelo Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, professora auxiliar e investigadora do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, Portugal. Email: mbaptista@ua.pt

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Resumo

A Carta do Descobrimento se configura como um dos mais

detalhados informativos e primeiro documento que dispomos

acerca do território brasileiro e seus habitantes. Foi escrita

em 1500 por Pero Vaz de Caminha que, mesmo não sendo um

homem do mar, mas um escrivão da comitiva, tentou fazer

um relato o mais minucioso possível e com exatidão de cada

detalhe da nova terra, bem como do povo que a habitava. A

Carta reflete a visão do europeu sobre o mundo naquele

momento e reúne uma variedade de possibilidades de

análises multidisciplinares. O presente estudo tem como

objetivo apresentar o imaginário e as primeiras impressões

descritas pelo escrivão ao relatar a “terra nova”, que vão

desde as imagens míticas do paraíso perdido, a inocência

original de Adão e Eva, a superioridade europeia, a enorme

riqueza natural encontrada, até o povo inocente e alegre.

Palavras-chave: Paraíso; Grandes Navegações; Carta do

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1. A idealização do paraíso

As origens do mito do paraíso remontam a diversas

versões encontradas em escritos históricos e

literários. Boa parte do que concebemos como a

ideia do paraíso tem raízes que vêm desde os textos

bíblicos, com a descrição do Éden e a maldição do

pecado original, que levou à expulsão do homem do

Jardim, passando pelos autores clássicos dos séculos

XVI ao XIX.

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2. O imaginário despertado pela

Carta do Descobrimento do Brasil

Caminha relata, nos mínimos detalhes, a viagem de

Pedro Álvares Cabral e descreve as imagens míticas

do Éden, quando fala do solo fecundo, das águas

cristalinas, da exuberância da natureza etc. Projeta a

sua formação de homem de mentalidade ainda

medieval, mas, ao mesmo tempo, moderno o

suficiente para antever a praticidade na utilização

desse paraíso. Esse mito era corrente na Idade

Média e fazia parte da literatura considerada não só

fantasiosa, mas também informativa e confirmada

por depoimentos de viajantes e estudiosos.

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A Carta como documento histórico é importante para

a percepção do imaginário europeu de uma época.

Reúne uma variedade de possibilidades de análises

multidisciplinares. Elas vão desde as imagens míticas

do paraíso perdido, a inocência original de Adão e

Eva, a superioridade europeia, a enorme riqueza

natural encontrada, até o povo inocente e alegre.

Ademais, retrata os corpos dos nativos, as danças, as

pinturas e adornos utilizados, a nudez, a flora, a

fauna, as relações sociais, a hierarquia, os costumes,

as armas, a falta de religiosidade etc.

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A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas do que de deixar mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão [...] (Castro, 2008:91-92).

Ali davam alguns arcos por folhas de papel e por algumas carapucinhas velhas e por qualquer coisa [...]. Alguns deles traziam arcos e setas; e deram tudo em troca das carapuças e por qualquer coisa lhes davam [...] (Castro, 2008:101-105-110).

Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre eles andavam uma, com coxa, do joelho até o quadril e nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tingidas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descoberta, que não havia nisso desvergonha nenhuma [...] (Castro, 2008:102).

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[...] fato que deduzo que é gente bestial e de pouco saber, e por isso tão esquiva. Mas apesar de tudo andam bem curados, e muito limpos. E naquilo ainda mais me convenço que são como aves, ou alimárias montezinas, as quais o ar faz melhores penas e melhor cabelo que às mansas, porque os seus corpos são tão limpos e tão gordos e tão formosos que não pode ser mais! E isso me faz presumir que não têem casas nem moradias em que se recolham; e o ar em que se criam os faz tais [...] (Castro, 2008:104).

[...] se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, [...] porque certamente essa gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles todo e qualquer cunho que lhes quiseram dar, uma vez Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como homens e mulheres bons [...] (Castro, 2008:111).

Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal como se lá também houvesse prata! [...] (Castro, 2008:92-93).

Porém a terra em si é de muitos bons ares, assim frios e temperados como de Entre-Douro e Minho [...] as águas são infinitas e em tal maneira é graciosa, que querendo aproveitá-la, tudo dará nela [...] (Castro, 2008: 115-116).

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Referências Bibliográficas

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Bignami, R. (2002). A imagem do Brasil no turismo: construção, desafios e vantagem competitiva. São Paulo: Aleph.

Chauí, M. (2000). Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo. Castro, S. (2008). A Carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&M.

Delumeau, J. (1992). Uma história do paraíso. O Jardim das delícias. Trad. Tereza Perez. Lisboa: Terramar.

Holanda, Sérgio B. (2000). Visão do Paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização

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Costa do descobrimento - A Revista Bahia Terra da Felicidade. Revista Espaço Acadêmico. N°37.

Url: http:// www.espacoacademico. com. br /037/37epacheco.htm, último acesso a: 06/11/2013. Pereira, Paulo R. (Org.). (1999). Os três únicos testemunhos do Descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro: Lacerda Editora.

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Referências

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