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24. Considerações acerca das palavras portuguesas terminadas em -oulo / -oilo

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24. Considerações acerca das palavras portuguesas terminadas em -oulo / -oilo

Przemysław Dębowiak

Universidade Jaguelónica de Cracóvia

No presente trabalho analisa-se o corpus constituído das palavras portuguesas terminadas em - oulo (-oula) / -oilo (-oila), como p.ex. caçoula / caçoila, canoula / canoila, ceroulas / ceroilas, cravoila, crioulo, ferragoulo, lantejoula, moçoila e moçoilo, papoila, tejoula / tejoila.

Mencionam-se também alguns nomes próprios. A explicação da etimologia dos vocábulos em questão permite esclarecer a sua estrutura morfológica, dividi-los em alguns grupos com base na sua significação e, finalmente, propor uma possível origem do sufixo -oulo / -oilo.

Palavras-chave: Português, etimologia, derivação, sufixação.

Introdução

1. Na língua portuguesa contemporânea existem algumas palavras terminadas em -oulo (-oula) / -oilo (-oila). A mais conhecida é indubitavelmente crioulo, tendo- se difundido mundialmente (através de outros idiomas) como termo que designa sobretudo um tipo de língua natural. A origem deste vocábulo foi discutida várias vezes na literatura linguística, tendo-se apresentado algumas propostas, sem que qualquer delas fosse declarada suficientemente satisfatória. Ao longo do século XX admitiu-se geralmente a etimologia segundo a qual crioulo é um derivado sufixal do substantivo cria (cf. DELP3 s.v. criar; DCECH s.v. criollo) ou do verbo criar (cf.

DELP1 s.v. crioulo). No entanto, o sufixo -oulo / -oilo costuma ser considerado pouco claro e os investigadores constatam que ele continua a ter uma origem incerta, tanto mais que a sua forma junta um traço tipicamente português, que é a alternância dos ditongos /ow/ ~ /oj/, com uma caraterística alheia a esta língua, a saber, a presença do l intervocálico.

Para verificar a origem do suposto sufixo em questão, cremos ser indispensável estudar este problema numa perspetiva mais larga, nomeadamente, verificando a

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proveniência, na medida do possível, de todas as palavras portuguesas terminadas em -oulo (-oula) / -oilo (-oila). Para este efeito servir-nos-ão dicionários gerais e regionais da língua portuguesa (principalmente Infopédia, Priberam, Aulete, Barros 2006, Barros 2010, Barros e Guerreiro 2013), dicionários etimológicos do português e do espanhol (DELP1, DELP2, DELP3, DCECH), bem como outras fontes que contêm pontualmente informações pertinentes para o nosso estudo.

Constituição e análise do corpus

2. O corpus é constituído por palavras portuguesas contemporâneas terminadas em -oulo (-oula) / -oilo (-oila) recolhidas principalmente de dois dicionários de rimas (Rhymit, DR). Porém, como pretendemos procurar a origem do suposto sufixo -oulo / -oilo, é preciso distinguirmos os derivados sufixais dos vocábulos inanalisáveis morfologicamente (quer dizer, aqueles que não têm mais de duas sílabas). Assim, com base na sua forma contemporânea, é possível eliminar todas as palavras dissilábicas:

- doula ‘mulher que aconselha, acompanha e dá assistência não clínica (física, emocional, etc.) a mulheres grávidas, antes, durante e após o parto’252 ← ing. doula

‘id.’ ← gr. doúlē ‘escrava’ (Infopédia s.v.; Priberam s.v.);

- zoilo ‘crítico invejoso e mordaz; detrator’ (← lat. Zoilus) ← gr. Zōílos, nome próprio de um crítico de Homero que viveu no século IV a.C. (Infopédia s.v.; DELP1 s.v.);

- choila / tchoila [Brasil] ‘homossexual’ ← baitchola ← baitola ‘id.’ ← ? bitola

‘distância entre os trilhos de uma via-férrea’ (supostamente pronunciado à inglesa por um engenheiro ferroviário da Inglaterra, trabalhando no Ceará, que era homossexual reconhecido) (DiF s.v. choila, s.v. tchoila, s.v. baitola);

- poulo [Trás-os-Montes e Alto Douro: Barroso] ‘terreno de pousio, inculto, mas cultivável’ ← lat. pābŭlu(m) ‘pastagem’ (Priberam s.v.; Barros 2006: 286; DELP1 s.v.);

252 O significado de todas as palavras citadas neste trabalho provém dos dicionários da língua portuguesa em linha: Infopédia, Priberam e Aulete.

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- poula [Trás-os-Montes e Alto Douro: Valpaços] ‘terreno inculto de pousio’ ← pt.

poulo (mudança de género gramatical) (Infopédia s.v. poulo; Aulete s.v. poulo; Barros 2006: 286)253.

Neste pequeno grupo de palavras excluídas da análise há empréstimos (doula, zoilo), formações portuguesas que resultam de processos fonéticos pontuais e não regulares – palatalização, metátese, aférese (choila / tchoila) e vocábulos inanalisáveis morfologicamente do ponto de vista sincrónico (poulo, poula254).

Feita a seleção, podemos passar à análise etimológica das restantes palavras.

3. Seguem as informações recolhidas para as palavras portuguesas terminadas em - oulo (-oula) / -oilo (-oila), apresentadas por ordem alfabética. Em primeiro lugar, tentamos estabelecer a origem das palavras analisadas (a profundidade da etimologia das formas citadas depende da sua utilidade para os efeitos do presente trabalho).

Depois vêm as referências bibliográficas e o nosso comentário.

Nomes comuns

3.1. arvenzoila [Alentejo: Serpa] ‘pessoa fraca, débil, delgadinha’ (s.d.) < (?) arvela 1. s.f. ‘pequena ave’; 2. adj. ‘diz-se da pessoa franzina’.

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros e Guerreiro 2013: 44; DELP1: ø; DELP2:

ø; DELP3: ø; CdP: ø; DCECH: ø]

Talvez seja um derivado sufixal com sentido metafórico, formado em português dialetal, apresentando, porém, mudanças fonéticas da sua base difíceis de explicar.

3.2. bajoulo [Algarve, Alentejo: Alandroal] ‘pedregulho, calhau’ (s.d.) ← ?

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete s.v.; Barros e Guerreiro 2013: 52; DELP1: ø;

DELP2: ø; DELP3: ø; CdP: ø; DCECH: ø; Machado 1991: ø; Vargens 2007: ø]

253 Segundo Priberam (s.v. poula), poula designa um ‘prédio rústico ordinário’.

254 Note-se que poulo tem como étimo um derivado sufixal latino em -bulum (< verbo pascere, no pretérito pāvi, ‘pastar’), o que poderia sugerir que a terminação -oulo provém do lat. -ābŭlu(m).

Contudo, este vocábulo deve ser de origem dialetal, pois em português pābulu(m) teria dado *pávoo,

*pavro ou *pouvo (cf. p.ex. lat. parvŭlu(m) → pt. párvoo → parvo, lat. pŏpŭlu(m) → pt. pôvoo → povo, lat. căpŭlu(m) → pt. cáboo → cabo, lat. nĕbŭla(m) → pt. névoa, lat. caule(m) → pt. couve). Como poulo é limitado geograficamente à região de Trás-os-Montes e Alto Douro, pode-se pensar numa influência leonesa na sua formação.

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Existe a variante bajolo (Barros e Guerreiro 2013: 52), forma que consta também no dicionário Priberam (s.v.): [informal] ‘objeto pequeno, mas pesado’. A etimologia desta palavra é obscura por várias razões: 1) faltam correspondências noutras línguas românicas (portanto, a origem latina fica excluída); 2) a eventual base de derivação baj- não é identificável; 3) não é arabismo, embora surja no sul de Portugal. Podemos supor que seja um moçarabismo.

3.3. cachoila [Trás-os-Montes e Alto Douro: Carviçais – Moncorvo] ‘moela’ (s.d.) ← mir. cachuôla ‘id.’.

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros 2006: 82; DELP1: ø; DELP2: ø; DELP3 s.v. cacho; CdP: ø; DCECH: ø]

É provavelmente um empréstimo do mirandês. Existe a variante cachola, também registada nos dicionários consultados (Infopédia s.v.; Priberam s.v.; Aulete s.v.) com várias aceções, p.ex. ‘cabeça’, ‘cabeça de porco’, ‘cabeça de peixe miúdo’, ‘moela’,

‘jogo de rapazes’. Igualmente em galego há cachola com, entre outros, o sentido familiar ‘cabeça das pessoas’ (DRAG s.v.).

3.4. caçoila / caçoula ‘recipiente largo e pouco alto, de barro ou metal, para cozinhar ao lume; caçarola’ (séc. XVI) ← esp. cazuela ‘id.’ < cazo ‘recipiente de cocina, generalmente más ancho por la boca que por el fondo, con mango y, por lo general, un pico para verter’.

[Infopédia s.v. caçoila; Priberam s.v. caçoila, s.v. caçoula; Aulete s.v. caçoula; Barros 2006: 82; Barros 2010: 93; Barros e Guerreiro 2013: 73; DELP1 s.v. caçoila, caçoula;

DELP2 s.v. caçoula; DELP3: ø; CdP s.v. caçoila; DLE s.v. cazuela, s.v. cazo; DCECH s.v. cazo]

Regionalmente existe a variante caçola (Barros 2006: 82; Barros 2010: 93; Barros e Guerreiro 2013: 74); igualmente em galego há cazola (DRAG s.v.). Trata-se de um empréstimo do espanhol, tendo o sufixo diminutivo espanhol -uelo sido adaptado como -oilo (que depois alterou com -oulo). Não se pode falar de um derivado português por dificuldades semânticas: pt. caço (1. ‘concha de terrina ou de açucareiro’, 2. ‘colher com que se tira o azeite da talha’, 3. ‘frigideira de barro com cabo’; Infopédia s.v.), pouco tem a ver com caçoila / caçoula. Também é impossível

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tratar-se da continuação direta do lat. *cattĭŏla(m) ‘pequena escumadeira’, pois esta forma teria resultado em *caçó em português. Por sua vez, Brüch (1940: 96–97) propõe uma etimologia ainda menos plausível255.

3.5. caçoilo / caçoulo ‘recipiente igual à caçoila, mas mais pequeno’ (s.d.) ← caçoila / caçoula (mudança de género gramatical).

[Infopédia s.v. caçoulo; Priberam: caçoilo; Aulete s.v. caçoulo; Barros 2006: 82;

DELP1: ø; DELP2: ø; DELP3: ø; CdP: ø; DCECH: ø]

Em galego existe a forma correspondente cazolo (DRAG s.v.). Cremos tratar-se da mudança de género gramatical como meio de exprimir diminuição (cf. Dębowiak 2014: 25–28). Não se pode falar de um derivado do pt. caço (cf. 3.4.) por razões semânticas.

3.6. canoila / canoula 1. ‘haste ou cana do milho’, 2. [heráldica] ‘emblema ou brasão com a forma desta haste’ (s.d.) < cana.

[Infopédia s.v. canoula; Priberam s.v. canoula; Aulete s.v. canoila; DELP1: ø;

DELP2: s.v. canoula; DELP3: ø; CdP: ø; DCECH: ø]

Trata-se de um derivado sufixal formado em português. Não é empréstimo nem adaptação do esp. cañuela porque este tem outro significado, nomeadamente ‘planta do género festuca’ (‘planta anual, gramínea, de un metro de altura, con hojas anchas, puntiagudas, planas, ligeramente estriadas y panojas laxas, verdes o violáceas’, DLE s.v.). O étimo do latim tardio *cannabŭla ‘tubos’ < canna ‘cana’ sugerido por Brüch (1940: 93–94) teria resultado em *canávoa, *canabra ou *canouva em português.

3.7. canoilo / canoulo ‘o mesmo que canoila / canoula’ (s.d.) ← canoila / canoula (mudança de género gramatical).

[Infopédia s.v. canoilo, s.v. canoulo; Priberam: ø; Aulete s.v. canoilo; DELP1: ø;

DELP2 s.v. canoula; DELP3: ø; CdP: ø; DCECH: ø]

255 Brüch propõe que caçoila / caçoula resulta de uma confusão de duas formas originalmente diminutivas:

1) pt. *caçola ← *cattióla (que terá originado também esp. cazuela, cat. cassola, it. cazzuola) ← lat.

*cattĭŏla ‘pequena escumadeira’ < *cattĭa ‘escumadeira’;

2) pt. *cacoulo ← *caccaulus ← *caccávulus ← lat. *caccăbŭlus ← caccăbus ‘pote, panela, caldeirão’.

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Não pode ser derivado sufixal de cano ‘tubo’ por haver diferenças a nível do significado. Note-se que a mudança de género não implicou modificações semânticas.

A forma correspondente em galego é canouco (DRAG s.v.).

3.8. carraboilo [Beiras: Mangualde] ‘carrinho de rolamentos feito pelos rapazes’ (s.d.)

< (?) carro.

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros 2010: 108; DELP1: ø; DELP2: ø; DELP3:

ø; CdP: ø; DCECH: ø]

É provavelmente um derivado sufixal com valor diminutivo, formado em português dialetal, embora a base direta de derivação (carrab-) seja pouco clara.

3.9. carraçoilo [Alentejo: Montemor-o-Novo] ‘carro ordinário’ (s.d.) < carro.

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros e Guerreiro 2013: 85; DELP1: ø; DELP2:

ø; DELP3: ø; CdP: ø; DCECH: ø]

Trata-se de um derivado sufixal com valor pejorativo, formado em português dialetal com dois sufixos encadeados: -aço e -oilo.

3.10. cartechoila [Beiras] ‘espécie de caixa para quem lava o chão se poder ajoelhar’

(s.d.) ← ?

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros 2010: 110; DELP1: ø; DELP2: ø; DELP3:

ø; CdP: ø; DCECH: ø]

A nosso ver, pode tratar-se de uma variante (com aceção metafórica especializada) de outro vocábulo usado nas Beiras (Penedono), registado por Barros (2010: 110), nomeadamente cartassola ‘joaninha’. Mesmo assim, a origem destas palavras continua obscura, sendo a eventual base de derivação cartech-, cartass- difícil de explicar.

3.11. catoilos, catroilos [Trás-os-Montes e Alto Douro] ‘apodo das gentes de Poiares’

(s.d.) ← ?

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros 2006: 102; DELP1: ø; DELP2: ø; DELP3:

ø; CdP: ø; DCECH: ø]

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Etimologia desconhecida. Pode tratar-se de um derivado sufixal da base cat- ou catr-, ambas presentes noutras palavras de teor semântico afetivo registadas por Barros (2006: 101–102)256.

3.12. ceroulas / ceroilas [antiquado] ‘peça de vestuário interior masculino, até aos tornozelos, usada por baixo das calças’ (1516) ← ár. sarāwīl, plural de sirwāl ‘calça, calção’.

[Infopédia s.v. ceroulas; Priberam s.v. ceroulas; Aulete s.v. ceroulas; DELP1 s.v.

ceroula; DELP2 s.v. ceroula; DELP3 s.v. ceroulas; CdP s.v. ceroulas; DCECH: ø;

Machado 1991 s.v. ceroula(s); Vargens 2007 s.v. ceroulas]

Esta palavra é um arabismo. Machado (1991 s.v. ceroula(s)) nota ainda esp. çeruela (1507) e pergunta se o vocábulo português não será castelhanismo. Seja como for, vê- se a correspondência formal das terminações portuguesa e espanhola.

3.13. chacoula [Alentejo] ‘nome que se dá a um rancho de raparigas que cantam’ ← ? [Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros e Guerreiro 2013: 91; DELP1: ø; DELP2:

ø; DELP3: ø; CdP: ø; DCECH: ø]

É um vocábulo de origem obscura. Não é identificável a eventual base de derivação chac-. Também não é latinismo nem arabismo, se bem que surja no sul de Portugal.

Supomos que possa ser um moçarabismo.

3.14. cornizoilo, cornisoilo [Trás-os-Montes e Alto Douro: concelho de Mirandela, Beiras: Atalaia – Pinhel] ‘cornelho – cravagem do centeio’ (s.d.) ← mir. carniçuôlo

‘id.’ ← lat. *cornĭcĭŏlu(m) ‘pequeno corno’ < cornĭcŭlu(m) ‘id.’ < cornū ‘corno’.

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros 2006: 124; Barros 2010: 137; DELP1: ø;

DELP2: ø; DELP3: ø; CdP: ø; DCECH: ø]

Existem numerosas variantes fonéticas deste vocábulo: cornichó, cornichoilo, corniçó, cornijó, cornisó (Barros 2006: 124), carnisoilo, carnisol, cornozoilo (Barros 2010: 108, 137); em galego há cornizó (DRAG s.v.). Todas estas palavras, tal como

256 A título de exemplo: catano ‘pénis’, catinga ‘miserável’, catota ‘porcaria sólida que se prende ao pelo dos animais’, catraia ‘égua velha e fraca’, catrino ‘pénis’, catrolo ‘pedaço grande de pão’. Até se regista o vocábulo simples catre ‘cama ainda mais simples e tosca que a tarimba’ que, no entanto, dificilmente poderia ser considerado como base de derivação de catroilos.

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esp. cornezuelo, provêm do mesmo diminutivo latino *cornĭcĭŏlu(m), tendo desenvolvido um sentido figurado.

3.15. corrioila [Trás-os-Montes e Alto Douro: Lagoaça] ‘erva daninha comprida que nasce nos terrenos’ (s.d.) ← mir. corriuôla ‘id.’ ← lat. corrĭgĭŏla(m) ‘pequena correia’

< corrĭgĭa ‘correia’.

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros 2006: 125; DELP1: ø; DELP2: ø; DELP3:

ø; CdP: ø; DCECH: ø]

Existem numerosas variantes portuguesas deste vocábulo: corrijó (apresentando a perda regular do l intervocálico), correjola, corrijola, corrigíola, corriola (de origem dialetal ou estrangeira) (Infopédia s.v. corriola; Priberam s.v. corriola; Aulete s.v.

corriola). Há também correspondentes formais noutras línguas iberorromânicas, entre outros em galego – correola (DRAG s.v.), todas provenientes do mesmo diminutivo latino corrĭgĭŏla(m) que desenvolveu um sentido figurado (cf. Dębowiak 2013: 135–

136).

3.16. cravoila ‘planta valerianácea medicinal (Caryophyllata vulgaris); sanamunda, erva-benta’ (s.d.) < cravo.

[Infopédia: ø; Priberam s.v.; Aulete s.v.; DELP1 s.v.; DELP2 s.v.; DELP3: ø; CdP: ø;

DCECH: ø]

É um derivado sufixal formado em português que se explicará pela semelhança das flores da cravoila com as flores de algumas espécies de cravos. Tem a variante cravoilha (DELP1 s.v. cravoila).

3.17. crioulo / crioilo s.m. 1. [história] ‘pessoa de ascendência europeia nascida num território colonizado por europeus (sobretudo no continente americano)’, 2. [história]

‘escravo nascido no continente americano, por oposição aos oriundos de África’, 3.

[linguística] ‘língua natural que resulta da mistura da língua de um povo colonizador europeu com a língua da população autóctone colonizada e que se torna língua materna de uma comunidade’; adj. 1. ‘relativo a ou proveniente de países ou regiões onde houve colonização europeia e escravatura negra’, 2. [linguística] ‘diz-se do dialeto ou língua que resulta da evolução de uma língua de contacto entre colonizadores e povos

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autóctones’; ← [antigamente] s.m. ‘cria, escravo’; adj. ‘nascido e criado em casa’

(1632257) < cria < criar.

[Infopédia s.v. crioulo; Priberam s.v. crioulo; Aulete s.v. crioulo; DELP1 s.v. crioulo;

DELP2 s.v. crioulo; DELP3 s.v. criar; CdP s.v. crioulo; DCECH s.v. criollo]

Antigamente também se usava a forma criôlo. Como não existem correspondências formais noutras línguas românicas, tão-pouco em galego em que crioulo constitui um empréstimo (DRAG s.v. crioulo, crioula), tratar-se-á de um derivado sufixal formado em português. No entanto, já se propuseram várias etimologias deste vocábulo.

Cornu (1888: 781) procurou explicar a forma crioulo através das seguintes evoluções: ← crioilo ← *criooiro ← *criaoiro ← criadoiro, o que constitui uma proposta insustentável do ponto de vista das leis fonéticas (Brüch 1940: 91–92).

Porém, Leite de Vasconcelos (1928: 364) também considerou crioulo como oriundo do adjetivo criadouro ‘suscetível de medrança, de se criar bem’ (de onde ‘aquele que se deixou criar em casa’, por oposição ao escravo recém chegado do seu país de origem), explicando a evolução formal incomum criadouro > crioulo por uma deturpação atribuída a escravos negros. Embora Brüch (1940: 92) tenha achado esta hipótese errada, alegando que a palavra crioulo era usada não só no Brasil e nas colónias pelos escravos, mas também em Portugal e tinha a sua origem na metrópole, ela não é rejeitada por Corominas (DCECH s.v. criollo) o qual acrescenta que o vocábulo crioulo nasceu provavelmente nas colónias porque em galego o termo crioulo é empréstimo português, tendo apenas aceções históricas e especializadas.

Brüch (1940: 92–93) pressupõe a existência de um étimo latino vulgar lusitano

*creābŭlum (→ *creávulu → *creaulu → pt. crioulo), derivado do verbo creāre

‘criar’. A evolução semântica teria sido a seguinte: creāre [‘criar (fazer apareçer)’ →

‘educar’] + -ābŭlum [que em latim se usava para formar nomes de instrumentos] >

*creābŭlum [‘tudo o que serve para criar, educar’ → ‘tudo que é criado e educado em casa’ → ‘um animal criado em casa, uma criança educada em casa’]. Embora o autor alemão tenha encontrado em latim um desenvolvimento paralelo (mendīcāre ‘pedir esmola’ > mendīcābŭlum ‘tudo o que serve para pedir esmola’ → ‘um grupo de pedintes’ → ‘pedinte’), a sua proposta apresenta dificuldades a vários níveis, entre

257 No entanto, deve ter existido antes desta data, já no século XVI, uma vez que a primeira abonação do esp. criollo, que é empréstimo do português, data de 1590 (DCECH s.v. criollo).

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outros fonético: o resultado esperado de *creābŭlu(m) latino teria sido *criabro,

*criávoo ou *criouvo em português (DCECH s.v. criollo)258.

Michaëlis de Vasconcelos (1976: 219–220) acha que crioulo é um derivado do verbo criar com o sufixo -oilo / -oulo, o mesmo que surge nas palavras como moçoila, lentejoula, papoula, caçoila, etc.; já Adolfo Coelho tinha considerado esta derivação como segura (cf. Brüch 1940: 90).

Também Machado (DELP1 s.v. crioulo) considera crioulo como um derivado, mas do substantivo cria com o sufixo -olo (do lat. -ollu(m)) que teria evoluído para -oulo / -oilo. Por sua vez, Corominas (DCECH s.v. criollo) afirma que

es verosímil que se trate de un mero diminutivo portugués de cria ‘esclavo criado en casa del señor’. […] Existiendo éste [sufijo -oulo (-oilo)] junto a moça no había dificultad en criar un crioula diminutivo de cria, que justamente se ha empleado en el Brasil con el significado de ‘esclavo o sirviente nacido y criado en casa del señor’ […].

Como já dissemos, a tese segundo a qual crioulo é um derivado formado em português a partir do substantivo cria parece-nos a mais verosímil.

3.18. estrapoulo [Alentejo: Reguengos] ‘arranco de ervas daninhas, etc. numa propriedade’ (s.d.) ← ?

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros e Guerreiro 2013: 149; DELP1: ø;

DELP2: ø; DELP3: ø; CdP: ø; DCECH: ø]

Vocábulo de origem obscura; não conseguimos esclarecer a eventual base de derivação estrap-.

3.19. façoila [popular, informal] ‘face grande, cara larga; faceira’ (s.d.) < face.

[Infopédia s.v. façoila; Priberam s.v. façoila; Aulete s.v. façoila; DELP1: ø; DELP2:

ø; DELP3: ø; CdP: ø; DCECH s.v. haz III]

É um derivado sufixal formado em português, veiculando um valor aumentativo; a mesma opinião é compartida por Brüch (1940: 97). Existe a variante façula que tem um correspondente exato em galego: fazula (Priberam s.v. façula; Aulete s.v. façula;

258 Além disso, relativamente à hipótese de Brüch, no mesmo dicionário surgem as seguintes perguntas:

«¿Cómo admitir un étimo del latín vulgar para un vocablo que nace en las colonias? ¿Cómo justificar una hipótesis latina, si además de fundarse en una sola lengua romance se habría formado con un sufijo que en latín de la baja época estaba muerto o moribundo?».

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DRAG s.v. fazula). Corominas (DCECH s.v. haz III) considera que façoila e façula procedem, pelo moçárabe, de um diminutivo latino *facĭŏla(m) (< facĭēs ‘face’), mas esta hipótese parece-nos demasiado ousada por só existir continuação dele em galego- português no âmbito das línguas românicas.

3.20. farragoila [Beiras: Casegas – Covilhã] ‘diz-se da pessoa mal vestida’ (s.d.) < (?) farrapo.

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros 2010: 198; DELP1: ø; DELP2: ø; DELP3:

ø; CdP: ø; DCECH: ø]

É provavelmente um derivado sufixal com valor expressivo, formado em português dialetal, que apresenta mudanças fonéticas da sua base difíceis de explicar (terá havido influência de farragoulo? cf. 3.21.).

3.21. ferragoulo / farragoulo ‘roupão largo, de mangas curtas e capuz’ (1589) ← ár.

magrebino feryūl / faryūl ‘espécie de capa’ ← lat. pallĭŏlu(m) ‘mantilha’ < pallĭum

‘manto, toga’.

[Infopédia s.v. ferragoulo; Priberam s.v. farragoulo; Aulete s.v. ferragoulo; DELP1 s.v. ferragoulo; DELP2 s.v. ferragoulo; DELP3 s.v. ferragoulo; CdP s.v. ferragoulo;

DCECH s.v. ferreruelo; Machado 1991: ø; Vargens 2007: ø]

Trata-se de um empréstimo árabe que vários autores consideram indireto, vindo para o português através do it. ferraiolo ‘capa, capote’ (DELP1 s.v. ferragoulo; DELP2 s.v. ferragoulo; DELP3 s.v. ferragoulo) – é por isso que o vocábulo está ausente nos trabalhos dedicados aos arabismos (Machado 1991, Vargens 2007).

3.22. geriboila [Trás-os-Montes e Alto Douro] 1. ‘marifusa – cogumelo comestível’, 2. ‘cebola’ (s.d.) ← ?

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros 2006: 197; DELP1: ø; DELP2: ø; DELP3:

ø; CdP: ø; DCECH: ø]

Vocábulo de origem obscura. A eventual base de derivação gerib- não é identificável.

(12)

3.23. lantejoula / lentejoula ‘pequena chapa ou escama circular, brilhante, aplicável como adorno em peças de vestuário’ (1813) ← esp. lentejuela ‘id.’ < lenteja ‘lentilha’

← lat. lentĭcŭla(m) ‘id.’ < lens, -tis ‘id.’.

[Infopédia s.v. lantejoula; Priberam s.v. lantejoula; Aulete s.v. lentejoula; DELP1 s.v.

lentejoula; DELP2 s.v. lentejoula; DELP3 s.v. lente2; CdP: ø; DCECH s.v. lenteja]

É um empréstimo espanhol, tendo o sufixo diminutivo -uela sido adaptado como - oula.

3.24. manigoilo [Beiras: Aldeia Velha – Sabugal] ‘trambolho, malfeito’ (s.d.) < (?) manigância.

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros 2010: 255; DELP1: ø; DELP2: ø; DELP3:

ø; CdP: ø; DCECH: ø]

É um adjetivo com valor expressivo, talvez formado a partir do substantivo manigância no sentido de ‘tramoia, ardil, manivérsia’.

3.25. missoilo [Trás-os-Montes e Alto Douro: Santa Marta de Penaguião, Alijó] 1.

‘pequeno saco de farinha’, 2. ‘pequena fornada’ (s.d.) ← ?

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete s.v. missoilo; Barros 2006: 246; DELP1: ø; DELP2:

ø; DELP3: ø; CdP: ø; DCECH: ø]

Aulete (s.v.) e Pereira (1909: 110) anotam uma terceira aceção de missoilo: ‘criança de colo, gorda’. A etimologia desta palavra é obscura pelas seguintes razões: 1) faltam correspondências noutras línguas românicas (portanto, a origem latina fica excluída);

2) a eventual base de derivação miss- não é identificável, embora deva ter existido, julgando pela existência de outro vocábulo derivado, usado na mesma zona de Portugal com significado mais geral: missoco ‘pedaço, bocado’ (Barros 2006: 246). A área em que funciona este vocábulo talvez sugira uma origem leonesa.

3.26. moçoila 1. ‘raparigota’, 2. ‘moça airosa’ (séc. XIX) < moça.

[Infopédia: ø259; Priberam s.v. moçoila; Aulete s.v. moçoila; DELP1 s.v. moçoila;

DELP2: ø; DELP3: ø; CdP s.v. moçoila; DCECH: ø]

259 Na Infopédia não existe a entrada moçoila, mas a palavra raparigota é definida precisamente como

‘moçoila’.

(13)

É provavelmente um derivado sufixal com valor diminutivo, formado em português; é igualmente a opinião de Brüch (1940: 97) e de Machado (DELP1 s.v.

moçoila). A nosso ver, não se deve rejeitar também a possibilidade de ter havido influência do esp. mozuela.

3.27. moçoilo ‘rapaz ainda pequeno, rapazito’ (s.d.) < moço.

[Infopédia s.v. moçoilo; Priberam s.v. moçoilo; Aulete: ø; DELP1: ø; DELP2: ø;

DELP3: ø; CdP: ø; DCECH: ø]

É provavelmente um derivado sufixal com valor diminutivo, formado em português. Na nossa opinião, existe também a possibilidade de ter havido influência do esp. mozuelo.

3.28. panhoilo [Beiras: Vermiosa, Figueira de Castelo Rodrigo] ‘lenço da cabeça’

(s.d.) ← esp. pañuelo ‘pedaço de teia, geralmente quadrado, usado para se abrigar ou como acessório na indumentária feminina e masculina’ < paño ‘pano’.

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros 2010: 286; DELP1: ø; DELP2: ø; DELP3:

ø; CdP: ø; DCECH: ø]

Tanto a forma como a significação deste vocábulo apontam para a sua origem castelhana. O sufixo -oilo é, assim, uma adaptação do sufixo diminutivo espanhol - uelo.

3.29. panoilo [Alentejo] ‘pano grande em que se transporta palha para as manjedouras’

(s.d.) < pano.

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete s.v. panoilo; Barros e Guerreiro 2013: 213; DELP1:

ø; DELP2: ø; DELP3: ø; CdP: ø; DCECH: ø]

É um derivado sufixal formado em português dialetal, com valor aumentativo.

3.30. papoila / papoula [botânica] ‘planta herbácea da família das Papaveráceas, de suco leitoso, com pétalas geralmente vermelhas e maculadas de negro na unha, espontânea e frequente em Portugal’ (séc. XVI) ← moçár. habapáwra ‘id.’ ← lat.

papāver, -ĕris ‘id.’ (com interferência do ár. habb ‘grão de cereal, semente’).

(14)

[Infopédia s.v. papoila; Priberam s.v. papoila; Aulete s.v. papoula; DRAG s.v.

papoula; DELP1 s.v. papoula; DELP2 s.v. papoula; DELP3 s.v. papoula; CdP s.v.

papoula, s.v. papoila; DCECH s.v. amapola]

Trata-se de um moçarabismo de origem latina. Está errada a opinião de Brüch (1940: 95–96) segundo a qual papoula não vem do árabe hispânico, mas sim do lat.

*papaula ← *papāvŭla (forma resultante da substituição de terminação rara por um sufixo diminutivo) ← papāver. O CdP proporciona também formas populares pampoila e pimpoila. Regionalmente papoila tem também outras significações:

‘indivíduo bruto, imbecil’ (Barros 2006: 267), ‘borboleta’ (Barros 2010: 287),

‘vagina’, ‘homossexual’ (Barros e Guerreiro 2013: 214).

3.31. passaroula [Beiras: Monsanto] ‘borboleta’ (s.d.) < pássaro.

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros 2010: 289; DELP1: ø; DELP2: ø; DELP3:

ø; CdP: ø; DCECH: ø]

É um derivado sufixal formado em português dialetal, com valor diminutivo. Em galego existe a forma correspondente paxarela (com outro sufixo), tendo o mesmo significado (DRAG s.v.). É interessante observar que em português comum o derivado passarola é aumentativo e significa ‘ave grande’ (Infopédia s.v.; Priberam s.v.; Aulete s.v.).

3.32. patoilo [Beiras] ‘indivíduo forte, pesado, de pés grossos’ (s.d.) < pata.

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete s.v. patoilo; Barros 2010: 290; DELP1: ø; DELP2:

ø; DELP3 s.v. pata1; CdP: ø260; DCECH: ø]

É um substantivo com valor expressivo, formado provavelmente a partir de pata (‘alguém que tem grandes pés – patas’) ou pato (‘alguém ingénuo como um pato’).

Em português comum funciona a variante patola (Infopédia s.v.; Priberam s.v.).

3.33. quinchoilo [Beiras: Miuzela – Almeida] ‘pequeno recinto, ao lado do balcão da casa, onde se guarda lenha, etc.’ (s.d.) < quinchoso.

260 A forma Patoilo aparece registada uma vez no CdP num texto de finais do século XX, mas como apelido, o que não contribui para fins da nossa análise.

(15)

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros 2010: 312; DELP1: ø; DELP2: ø; DELP3:

ø; CdP: ø; DCECH: ø]

Na mesma zona dialetal existe também a variante chinchoilo ‘pequeno prédio’

(Barros 2010: 124). São derivados com valor diminutivo formados em português a partir do substantivo quinchoso através de uma substituição do sufixo -oso por -oilo.

3.34. raioila [Beiras: Miuzela – Almeida] ‘jogo no qual se atira uma moeda a um risco traçado no chão’ (s.d.) ← esp. rayuela ‘espécie de jogo’ ← lat. *rădĭŏla(m) ‘raiozinho’

< rădĭus ‘raio’.

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete: ø; Barros 2010: 317; DELP1: ø; DELP2: ø; DELP3:

ø; CdP: ø; DCECH: ø]

Na mesma zona dialetal existem as variantes fonéticas com o mesmo sentido: raiola (Barros 2010: 317; Infopédia s.v.; Priberam s.v.; Aulete s.v.), raoula (Barros 2010:

318), arraioula (Barros 2010: 49); há também rioila ‘pedra pequena, redonda, para jogar o charraz – espécie de jogo’ (Barros 2010: 328). No português comum funciona a palavra vernácula arrió (e, secundariamente, arriós) 1. ‘pedrinha para jogar o alguergue’, 2. ‘jogo do alguergue’, 3. ‘pelouro’, que tem a mesma origem latina que esp. rayuela, provindo do diminutivo *rădĭŏla(m). Estas formas desenvolveram aceções figuradas: ‘risca’ → ‘jogo de pedrinhas sobre uma tábua riscada ou um solo com riscas traçadas’ → ‘pedrinha’. Em galego há formas correspondentes que têm, porém, outros sentidos (DRAG s.v.): riola ‘fila de pessoas’ e raiola 1. ‘conjunto de raios de sol que às vezes aparecem entre as nuvens quando o céu está encoberto’, 2.

‘aberta de sol num dia chuvoso’, 3. ‘calor morno do sol’ (Dębowiak 2013: 135).

3.35. rasoila [Beiras: Aveiro] ‘pá para puxar para o tabuleiro o sal que foi previamente quebrado’ (s.d.) ← lat. *rāsōrĭa(m) ‘instrumento que serve para arrasar’.

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete s.v. rasoila; Barros 2010: 319; DELP1: ø; DELP2:

ø; DELP3: ø; CdP: ø; DCECH: ø]

É uma variante fonética da palavra rasoira / rasoura ‘cilindro de pau para rasar o milho, as favas, o trigo, etc.’ (séc. XVI) (Infopédia s.v. rasoira; Priberam s.v. rasoura;

DELP3 s.v. raso), mostrando a intercambiabilidade dos sufixos -oilo ~ -oiro. Para a alternância dialetal das líquidas l ~ r talvez tenha contribuído a atração formal de outras

(16)

palavras terminadas em -ouro / -oiro (cf. 5.). Acrescente-se que a busca de palavras contendo a sequência -oila- no DRA evidenciou a existência da forma sinónima rezoila.

3.36. sapoila / sapoula [Trás-os-Montes e Alto Douro: Carviçais – Moncorvo, Beiras:

Figueira de Castelo Rodrigo] ‘mandrião, lento, indolente, inábil’ (s.d.) < sapo.

[Infopédia s.v. sapoila; Priberam: ø; Aulete s.v. sapoila; Barros 2006: 320; Barros 2010: 338; DELP1: ø; DELP2: ø; DELP3: ø; CdP: ø; DCECH: ø]

Trata-se de um derivado sufixal com sentido expressivo, formado em português dialetal. Barros (2010: 338) nota também o regionalismo sapoula na aceção metafórica

‘nevoeiro intenso’.

3.37. tacoila [Beiras: Lamegal – Pinhel] ‘pequeno anteparo de madeira para proteção dos joelhos quando se esfrega o chão; joelheira’ (s.d.) < taco.

[Infopédia: ø; Priberam: ø; Aulete s.v. tacoila; Barros 2010: 349; DELP1: ø; DELP2:

ø; DELP3: ø; CdP: ø; DCECH: ø]

É um derivado sufixal formado em português dialetal, exprimindo semelhança.

3.38. tejoula / tejoila [popular] ‘um dos ossos do casco dos cavalos’ (séc. XVIII) ← esp. tejuelo ‘id.’ < tejo ‘pequeno pedaço de telha ou coisa semelhante que se usa em vários jogos’.

[Infopédia s.v. tejoula; Priberam s.v. tejoula; Aulete s.v. tejoula; DRAG s.v. tixola, s.v. tixolo; DELP1: ø; DELP2: ø; DELP3 s.v. tejoila, tejoula; CdP: ø; DCECH s.v.

techo]

Trata-se de um empréstimo do espanhol, com adaptação do sufixo diminutivo -uelo como -oula / -oila. Houve mudança de género gramatical (pt. tejoula / tejoila s.f. ← esp. tejuelo s.m.), o que se deve provavelmente a uma confusão das palavras desta família (cf. pt. tijolo s.m. ← esp. tejuela s.f. ‘pedaço de telha ou de barro cozido’).

Vista a sua significação, as palavras galegas tixola ‘utensilio de cociña metálico, de forma redonda, pouco fondo e con mango longo, no que se friten os alimentos’ (DRAG s.v.) e tixolo ‘recipiente de barro ou de ferro, con furados polo fondo, que se utiliza para asar as castañas’ (DRAG s.v.) devem ter sido emprestados do espanhol

(17)

independentemente do português. DCECH (s.v. techo) sugere que tejoula / tejoila e tijolo podem ser moçarabismos.

Nomes próprios

3.39. Avoila [antropónimo] (s.d.) < ?

Pelos vistos é um derivado sufixal de origem afetiva, mas cuja base não nos é clara (poderia ser ave ou avó).

3.40. Palaçoulo [topónimo] aldeia do concelho de Miranda do Douro (s.d.) ← mir.

Palaçuôlo ← lat. pălātĭŏlu(m) ‘pequeno paço’ < pălātĭum ‘paço’.

É uma adaptação da forma mirandesa que continua regularmente261 um derivado sufixal diminutivo latino e cujo correspondente formal português é Paçô (cf. os topónimos Paçô no norte de Portugal, p.ex. freguesia no concelho de Arcos de Valdevez no distrito de Viana do Castelo, localidade no concelho de Sever do Vouga no distrito de Aveiro)262.

3.41. Rapoula [topónimo] 1) aldeia no concelho de Ansião, distrito de Leiria, 2) aldeia no concelho de Castelo Branco, 3) (Rapoula do Coa) aldeia no concelho de Sabugal, distrito da Guarda (s.d.) ← ?

É provavel que se trate de um topónimo de origem moçárabe (cf. Machás 1966:

124; porém, não consta em Azevedo 1994).

Classificação dos vocábulos do corpus

4. Com base no critério da sua proveniência, os vocábulos recolhidos podem ser divididos em alguns grupos.

261 Em mirandês, o ŏ tónico latino passa regularmente para o ditongo uô (Pires 2009: 25–26), p.ex. lat.

bŏnu(m) → mir. buôno, lat. mŏrte(m) → mir. muôrte, lat. rŏta(m) → mir. ruôda.

262 Deve ser pelo sucesso que têm os produtos de cutelaria fabricados em Palaçoulo que o escritor português contemporâneo José Viale Moutinho usou, no seu conto Lucas depois do credo, a palavra palaçoula como adjetivo designando um tipo de faca: «Nessa casa havia espingardas nas paredes da sala, ali ardera tudo o que poderia ser usado em defesa, excepto uma faca palaçoula de lâmina fendida várias vezes, a enferrujar-se.» / «Isaque servira-lhe, a Lucas, um presunto negro de javali, com sabor e odor a urze, a carne resistia à faca palaçoula, um queijo duro de dois anos de pimentão e um vinho avinagrado.» / «Como se afia uma faca palaçoula […]?» (CdP s.v. palaçoula). Porém, como se trata de um emprego muito restrito, não consideramos palaçoulo como adjetivo na nossa análise.

(18)

4.1. No primeiro grupo consta a palavra 3.35. rasoila, variante de rasoira, proveniente diretamente do latim. Neste caso, o sufixo continua a terminação latina - ōrĭa(m), tendo havido troca das consoantes líquidas r → l.

4.2. O segundo grupo contém os castelhanismos: 3.4. caçoila / caçoula, 3.23.

lantejoula / lentejoula, (?) 3.26. moçoila, (?) 3.27. moçoilo, 3.28. panhoilo, 3.34.

raioila, 3.38. tejoula / tejoila. Note-se que o sufixo diminutivo espanhol -uelo (← *- jólu ← lat. -ĭŏlu(m) / -ĕŏlu(m)) foi adaptado como -oulo / -oilo em português. Aliás, esta correspondência também se observa na adaptação do arabismo sarāwīl em português ceroulas / ceroilas e em espanhol antigo çeruela (forma identificada por Machado 1991 s.v. ceroula(s), cf. 3.12.).

4.3. No terceiro grupo estão classificados os vocábulos provenientes do (ou pelo menos influenciados pelo) mirandês: 3.3. cachoila ← mir. cachuôla, 3.14. cornizoilo, cornisoilo ← mir. carniçuôlo, 3.15. corrioila ← mir. corriuôla, (?) 3.25. missoilo, 3.40. Palaçoulo ← mir. Palaçuôlo. De facto, é interessante observar as correspondências portuguesas das palavras mirandesas terminadas em -uôlo (← *-jólu

← lat. -ĭŏlu(m) / -ĕŏlu(m)). O par mir. caçuôlo – pt. caçoulo / caçoilo apresenta uma relação igual àquela que está nas palavras acima mencionadas. No caso do par mir.

castanhuôla – pt. castanhola vê-se a correspondência entre -uôla e -ola, sufixo que não pode ser de proveniência portuguesa vernácula por não ter perdido o l intervocálico. Basta comparar p.ex. os vocábulos mir. muôla e pt. mó [Beiras, Trás-os- Montes] ‘dente queixal’ (Priberam s.v.), ambos constituindo o desenvolvimento regular do lat. mŏla(m).

4.4. O quarto grupo inclui os arabismos e moçarabismos: (?) 3.2. bajoulo, 3.12.

ceroulas / ceroilas, (?) 3.13. chacoula, (?) 3.18. estrapoulo, 3.21. ferragoulo / farragoulo, 3.30. papoila / papoula, (?) 3.41. Rapoula. Aqui, a terminação -oulo / - oilo resulta da adaptação de várias sequências de sons ao sistema fonológico português.

(19)

4.5. Ao quinto grupo pertencem as palavras formadas em português com o sufixo - oulo / -oilo: 3.1. arvenzoila, 3.6. canoila / canoula, 3.8. carraboilo, 3.9. carraçoilo, 3.16. cravoila, 3.17. crioulo / crioilo, 3.19. façoila, 3.24. manigoilo, 3.26. moçoila, 3.27. moçoilo, 3.29. panoilo, 3.31. passaroula, 3.32. patoilo, 3.33. quinchoilo, 3.36.

sapoila / sapoula, 3.37. tacoila, 3.39. Avoila.

4.6. O sexto grupo contém os vocábulos formados através do processo de mudança de género gramatical de palavras portuguesas já existentes: 3.5. caçoilo / caçoulo, 3.7.

canoilo / canoulo.

4.7. As palavras regionais com etimologia obscura constituem o último grupo: 3.2.

bajoulo, 3.10. cartechoila, 3.11. catoilos, catroilos, 3.13. chacoula, 3.18. estrapoulo, 3.22. geriboila, 3.25. missoilo, 3.41. Rapoula. No entanto, com base na sua distribuição geográfica, poder-se-ia supor que missoilo seja leonesismo e que bajoulo, chacoula e estrapoulo sejam moçarabismos, ao passo que Rapoula poderá ser moçarabismo pela sua forma. Deste modo, os vocábulos aqui enumerados fariam parte dos grupos 4.3. e 4.4., respetivamente.

Conclusões

5. Dos dados apresentados acima depreende-se que a terminação -oulo / -oilo, bastante rara em português, tem várias origens estranhas à norma-padrão desta língua:

ora oriental, vindo do castelhano (-uelo), ora nordestina, tendo a ver com a zona dos dialetos leoneses (-uôlo), ora meridional, apresentando-se em palavras de origem árabe e moçárabe (várias sequências de sons). Não se pode tratar da continuação regular dos sufixos latinos -ābŭlu(m) (como o postula Brüch 1940: 97) ou -ĭŏlu(m) / -ĕŏlu(m), pois o resultado final destas evoluções em português teria sido -avo / -abro / -ouvo e -ô / - ó, respetivamente (cf. DCECH s.v. criollo, Dębowiak 2013: 146–147). Nesta perspetiva, a forma -oulo / -oilo vai de encontro às leis fonéticas263.

263 Corominas sublinha este facto em vários artigos do seu dicionário (DCECH):

- «[…] un sufijo -oulo (-oilo) ha existido en portugués como representante del latino diminutivo -ŎLUS; representante no genuino, por cierto, pero tomado del leonés o del mozárabe.» (s.v. criollo);

- «El port. façoila ou façula ‘mejilla grande y grosera’ es ajeno a la lengua clásica […] y hoy familiar, aunque ya generalmente conocido […]; procederá de un dim. faciola, pero tanto el matiz familiar y la fecha moderna, en literatura, como el tratamiento con conservación de la -l- y o > ou (> oi,

(20)

Assim, a terminação analisada ter-se-á estabelecido independentemente nalgumas palavras vindas para o português de várias direções. Graças a uma correspondência formal entre as palavras portuguesas em -oulo / -oilo, espanholas em -uelo e mirandesas em -uôlo, a qual os lusófonos terão ressentido e consciencializado264, a terminação em questão terá ganho autonomia como sufixo e, provavelmente a partir do século XVI, terá começado a juntar-se a palavras portuguesas autóctones para formar novos vocábulos. É notável o galego ignorar a maior parte destes derivados, o que apoia a teoria segundo a qual o sufixo -oulo / -oilo não vem diretamente do latim e significa que ele alargou o seu uso em português já depois da separação do galego.

Outro fator que pode apontar para uma origem estrangeira heterogénea da terminação -oulo / -oilo, que chegou a ganhar estatuto de sufixo em português, é a sua instabilidade formal. Relembrem-se as seguintes formas mencionadas na parte analítica do presente trabalho: 3.2. bajoulo ~ bajolo, 3.3. cachoila ~ cachola, 3.4. caçoila / caçoula ~ caçola, 3.10. cartechoila ~ cartassola, 3.14. cornizoilo, cornisoilo ~ cornisó ~ carnisol, 3.15. corrioila ~ corrijó ~ corrijola, 3.16. cravoila ~ cravoilha, 3.19. façoila

~ façula, 3.32. patoilo ~ patola, 3.34. raioila ~ arraioula ~ raiola ~ arrió, 3.35. rasoila

~ rasoira, 3.38. tejoula / tejoila ~ tijolo, nas quais se observam alternâncias vocálicas (/ow/ /oj/ ~ /ɔ/ ~ /o/ ~ /u/) e consonânticas (/l/ ~ /ʎ/ ~ /ɾ/). As formas galegas correspondentes às portuguesas são igualmente ilustrativas a esse respeito: 3.3.

u), revelan procedencia mozárabe; sin embargo, hoy se ha corrido hasta el extremo Norte y se presenta bastante vital en el gall. fazulas ‘las mejillas, especialmente las del gordinflón o de buen color’ […].»

(s.v. haz III);

- «[…] el sufijo portugués -oulo es también típico de los extranjerismos y mozarabismos […]»

(s.v. ferreruelo);

- «El port. tejôlo o tijôlo se ha convertido en la expresión corriente para ‘adobe’ o ‘ladrillo’, tejoila ‘uno de los huesos del casco del caballo’, mientras que el gall. tixola es hoy el vocablo más corriente en el sentido de ‘sartén’ […]; aunque en gallegoportugués debiéramos tener formas en lh, la j (> gall. x) se explica por disimilación; no deja de ser asimismo llamativo que no se perdiera la -L- intervocálica (-óa, -ó) por lo cual cabe la sospecha de que en el origen fuesen préstamos del leonés o, mejor, del mozárabe. En efecto, son bastantes los mozarabismos portugueses probados, donde -OLU, -

OLA, ha dado -oulo, -oula / -oilo, -oila.» (s.v. techo).

264 Compare-se ainda o antigo adjetivo valençoila, adaptação do esp. valenzuela, usado por Garcia de Resende na sua obra Vida e feitos d’el-rey Dom João Segundo (1533): «Sayo el-rey da fortaleza com seus oito mantedores, os quaes eram o prior de Sam Joam de Castella Valençoila, e Dom Diogo d’Almeida, Joam de Sousa, Aires da Silva camareyro-mor, Dom Joam de Meneses, Monseor de Veopargas frances, Alvoro da Cunha estribeiro-mor, e Ruy Barreto com grandissimo estado e estrondo, tudo em tanta realeza que se nam pode dizer tam inteiramente como foy.» / «O prior de Sam Joam de Castella, Valençoila, que fora grande senhor, e andava cá desterrado, trazia Alexandre encima dos grifos e dizia: No es menor mi pensamiento mas ha quebrado tristura las alas de mi ventura».

Esta forma antiga foi-nos proporcionada pelo CdP (s.v. *oila) aquando da procura de palavras terminadas em -oila.

(21)

cachoila ~ gal. cachola, 3.4. caçoila / caçoula ~ gal. cazola, 3.5. caçoilo / caçoulo ~ gal. cazolo, 3.7. canoilo / canoulo ~ gal. canouco, 3.14. cornizoilo, cornisoilo ~ gal.

cornizó, 3.15. corrioila ~ gal. correola, 3.34. raioila ~ gal. raiola, 3.38. tejoula / tejoila

~ gal. tixola. Talvez se devam adicionar aqui também certas formas terminadas em - ouro / -oiro, como:

- canoura / canoira265 que, embora tenha significado especializado, será variante de 3.6. canoula / canoila;

- pelouro / peloiro266 que terá vindo de *peroulo, diminutivo moçárabe da forma continuando o lat. pĕtra(m)267, aceção existente até hoje no galego pelouro (‘pedra pequena que a erosión se tornou lisa e arredondada’; DRAG s.v. pelouro).

A alternância das líquidas l ~ r se calhar foi favorecida pela atração formal de outras palavras terminadas em -ouro / -oiro, vindas do latim, como p.ex. cossouro / cossoiro (← lat. *cursōrĭu(m)) ou vassoura / vassoira (← lat. *versōrĭa(m)) (cf. Leite de Vasconcelos 1926: 130)268.

Quanto à semântica, na sua origem, o sufixo -oulo / -oilo deve ter sido simplesmente relacional, indicando semelhança, como ainda se pode ver nos derivados: 3.16.

cravoila, 3.17. crioulo / crioilo e 3.37. tacoila. A partir daí, o sufixo analisado terá

265 canoura / canoira [regionalismo] ‘caixa em forma de tronco de pirâmide quadrangular onde se deita o cereal que vai cair no adelhão que o conduz ao centro da mó’ (1697) [Infopédia s.v. canoura; Priberam s.v. canoira, s.v. canoura; Aulete s.v. canoura; DELP1 s.v. canoura; DELP2 s.v. canoura; DELP3 s.v.

cana; CdP s.v. canoura; DCECH: ø].

266 pelouro / peloiro 1. ‘bala com que se carregavam as antigas armas de fogo’, 2. ‘bola oca de cera que se usava para nela se encerrar o voto escrito para eleições municipais, etc.’, 3. ‘cada um dos ramos de administração municipal a cargo de um vereador’ (séc. XV) [Infopédia s.v. pelouro; Priberam s.v.

pelouro; Aulete s.v. pelouro; DELP1 s.v. pelouro; DELP2 s.v. pelouro; DELP3 s.v. péla1; CdP s.v.

pelouro, s.v. peloiro; DCECH s.v. piedra].

267 Esta etimologia, que nos parece plausível, foi proposta por Corominas (DCECH s.v. piedra). Porém, vários autores consideram pelouro / peloiro como derivado de pela ‘bola’ (DELP1 s.v. pelouro; DELP3 s.v. péla1; Brüch 1940: 94–95).

268 Discutindo sobre a possível evolução: lat. -ōrĭu(m) → pt. -ouro / -oiro → -oulo / -oilo, vale a pena mencionar que a busca no CdP (s.v. *oulo) se revelou interessante a esse respeito, patenteando o topónimo antigo Prioulo que provirá do lat. prōmontōrĭu(m), se se acreditar na etimologia sugerida por Francisco Manuel de Melo. Eis o fragmento da sua obra Epanaphora politica primeira (1637) em que surge o dito nome: «Falta de Piloto prâtico, foy a Capitana em busca do Cabo, que sendo visto, mas não conhecido, de nossos marinheiros, era forçoso apartar da terra por toda aquella noute. Porèm, voltando a ella, ao outro dia, e vendo, que faltava por muitas horas, se entendeo haverse dobrado: porque correndo a costa de Espanha, desde o Promontorio Sacro (hoje dito de: S.Vicente) pello rumo de Norte Sul; deste cabo de Finis, até outro que lhe demóra ao Nordeste, dito dos naturaes, com nome humilde, de Prioulo (que parece ser o Celtico Promontorio, que disserão os antigos) se encurva a terra, formando hum simicirculo, ou arco mixto, de varias porções, ou segmentos de rumos; […]».

Prioulo como nome de um cabo na Galiza aparece também algumas vezes na Arte de navegar, em que se ensinão as regras praticas […] de Manoel Pimentel (1762).

(22)

vindo a exprimir igualmente diferenças de tamanho, no sentido de veicular a ideia de dimensões mais pequenas (3.8. carraboilo, 3.26. moçoila, 3.27. moçoilo, 3.31.

passaroula, 3.33. quinchoilo, também pelouro / peloiro) ou maiores (3.6. canoila / canoula, 3.19. façoila, 3.29. panoilo). Destes últimos empregos terão nascido secundariamente valores afetivos e expressivos (3.1. arvenzoila, 3.9. carraçoilo, 3.20.

farragoila, 3.24. manigoilo, 3.32. patoilo, 3.36. sapoila / sapoula).

Com este trabalho esperamos ter contribuído para esclarecer a questão da origem da terminação -oulo / -oilo, autonomizada como sufixo, na língua portuguesa.

Símbolos

← = provém de; → = resulta em; < = deriva de; > = é a base de derivação para

Referências

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