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REPRESENTAÇÕES DO ANARQUISMO NA HISTORIOGRAFIA DO MOVIMENTO OPERÁRIO BRASILEIRO

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REPRESENTAÇÕES DO ANARQUISMO NA HISTORIOGRAFIA DO MOVIMENTO OPERÁRIO BRASILEIRO

Autor: Osvaldo Rodrigues Júnior Orientador: Profº. Dr. Renato Lopes Leite Palavras-chave: Historiografia, representação, Anarquismo A presente monografia tem como objetivo investigar as representações historiográficas do anarquismo no movimento operário brasileiro, a partir de três obras fundamentais: Socialismo e Sindicalismo no Brasil (1675-1913), produzida em 1969 pelo militante anarquista português Edgar Rodrigues; Anarquistas, imigrantes e o movimento operário brasileiro (1890-1920), obra produzida em 1979 por Sheldon Leslie Maram, um dos diversos autores brasilianistas que pensaram o tema anarquismo e Nem pátria, nem patrão, produzido em 1983 por Francisco Foot Hardman, que propõe uma nova interpretação do tema anarquismo.

Após a leitura de um artigo intitulado A historiografia da classe operária no Brasil: Trajetória e tendências, produzido pelo professor da Unicamp (Universidade de Campinas) Cláudio Batalha, onde o autor identifica três categorias historiográficas principais que produziram a respeito do movimento operário brasileiro, optei por utilizar uma abordagem, que vise, através de três autores específicos, demonstrar as características identificadas por Batalha para cada uma das vertentes: os militantes, os brasilianistas e a produção acadêmica, como define Cláudio Batalha. Isso porque, a abordagem dada pelo professor da Unicamp, serve mais como uma retrospectiva superficial dos momentos da produção a respeito do movimento operário. Portanto, é necessário que seja feito um estudo, que vá às obras importantes e demonstre as especificidades de cada produção.

Como hipóteses, acredito que as diferentes tradições intelectuais de cada período de produção acabam por gerar as diferentes ou muitas vezes semelhantes representações do anarquismo. Além disso, o contexto sóciopolítico de cada período influi de maneira preponderante na produção das representações de mundo de cada autor. Uma abordagem historiográfica que análise as obras e as suas especificidades, além de ser um estudo pioneiro, tem como principal função contribuir para o estudo da própria história da historiografia, campo ainda pouco debatido no universo acadêmico brasileiro.

O objetivo deste trabalho será “não se deixar levar pelas representações que as lideranças construíram sobre a classe que pretenderam dirigir”1. Para compreender as diversas representações, o arcabouço teórico será retirado do texto O mundo como representação, de Roger Chartier e a intenção, portanto, será trabalhar a historiografia como representação “considerando não haver prática ou estrutura que não seja produzida pelas representações, contraditórias e em confronto, pelas quais os indivíduos e os grupos dão sentido ao mundo que é deles”2. E, por fim, compreender como afirma Chartier, que toda produção intelectual é feita mediante as condições do meio em que vive o autor dos trabalhos. Portanto, não trabalhar as representações como desencarnadas ao seu contexto.

Em 1905, Evaristo de Moraes publica Apontamentos de direito operário, considerada a primeira obra a conter elementos de uma história do operariado brasileiro. Esta coleção de artigos trata das condições de existência e trabalho do operariado, artigos estes, publicados

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HARDMAN, Francisco Foot. Nem pátria nem patrão. Brasiliense: São Paulo, 1984. p. 14.

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primeiramente no jornal Correio da manhã. Esse é apenas um dos vários exemplos de tentativas de se investigar o operariado brasileiro, desde o começo do século XX, na maioria dos casos, em artigos publicados na imprensa operária, em folhetos distribuídos nos locais de concentração trabalhadora e em publicações oficiais ou semi-oficiais.

No entanto, essas diversas tentativas “não comportam uma preocupação historiográfica central, somente presente de forma mais sistemática em obras já dos anos 1950 e 1960”3. Edgar Rodrigues, na introdução da obra Socialismo e sindicalismo no Brasil, indica que a falta de preocupação historiográfica da produção anterior à década de 1960, pode ser explicada, pela falta de documentos, muitas vezes em estado de arquivo particular, e a falta de arquivos específicos, restando, assim, a imprensa operária como única fonte de pesquisa, como afirma Edgar:

Buscando publicações e procurando alguns dos sobreviventes dessa grande jornada, deparamos com os mais diversos tropeços: uns não tinham documentos e publicações da época “heróica” das lutas sociais, porque segundo eles – foram-lhes destruídas pela polícia em suas buscas, outros porque não tiveram tempo para guardar e arquivar, tal eram as suas andanças e peregrinações que tiveram que empreender pelos Estados; outros, que ao morrer, não tiveram o cuidado de doar aos mais jovens, ou mesmo para as bibliotecas estaduais os seus livros, jornais e revistas, e tudo se perdeu devorado pelo fogo ou no papel velho; e um e outro que – possui como relíquias – publicações, mas não as cediam apesar dos mais justos e bem intencionados propósitos do pesquisador4 .

Além da escassez de fontes relacionadas ao tema movimento operário brasileiro, citada por Edgar Rodrigues, um fator de fundamental importância, para pensarmos o período anterior a 1970, é o domínio do IHGB (Instituto Histórico Geográfico Brasileiro), sobre a organização e difusão da produção historiográfica brasileira. A proposta central do IHGB, como órgão estatal, era expandir e externar o ideário do Estado nacional, através da historiografia, de maneira a servir a história como “um saber sobre o Brasil capaz de viabilizar uma determinada ordem”5. Com isso, não interessando de maneira alguma temas “marginais” como o movimento operário.

Para além dos escritos superficiais sobre o operariado brasileiro, a produção militante surge como os primeiros estudos sobre o movimento operário brasileiro de forma mais sistemática e “historiográfica”. Composta por sindicalistas e ativistas políticos da esquerda, jornalistas e advogados vinculados aos movimentos sociais, essa produção militante pode ser dividida em duas principais vertentes. A primeira, tinha nos grandes feitos, nas greves, organizações e congressos, o seu foco fundamental de análise. E a segunda vertente, acreditava em uma história inconsciente anterior a fundação do PCB (Partido Comunista Brasileiro) em 1922, e uma história verdadeiramente operária a partir da criação do partido como afirma Cláudio Batalha em Historiografia da classe operária: Trajetórias e tendências.

Na primeira vertente, está inserida a obra Socialismo e sindicalismo no Brasil, de Edgar Rodrigues. Ainda no prefácio de sua obra, Edgar Rodrigues afirma que o interesse em produzir a obra surgiu de uma análise de obras anteriores, que tinham o sindicalismo como objeto de análise, e com a não satisfação por parte do autor com estas obras. Socialismo e sindicalismo no Brasil nascera como um interesse do autor em verificar a presença do

3 BATALHA, Cláudio Henrique de Moraes. Historiografia da classe operária: Trajetórias e tendências. São

Paulo: Contexto, 2001, p. 147.

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RODRIGUES, Edgar. Socialismo e sindicalismo no Brasil. Rio de Janeiro: Laemmert, 1969, p. 9.

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movimento operário brasileiro em outras obras, para depois se tornar uma idéia que pretendia científica. Mas, antes desta idéia dar significado ao interesse, o interesse surgiu de uma auto-reflexão de Edgar Rodrigues, que observa “à carência de publicações, especialmente de livros que historiassem honesta e lealmente o fabuloso movimento operário e as correntes do socialismo que dele participaram, em grande parte conduzido por modestos e anônimos trabalhadores”6. Essa auto-reflexão cotidiana da necessidade de dar vida aos sujeitos modestos e anônimos é de fundamental importância para compreendermos o processo de construção do pensamento histórico de Edgar Rodrigues. Como afirma Rüsen: “a auto-reflexão é, com efeito, um elemento vital no dia-a-dia da ciência”7.

A partir desta carência observada, Edgar Rodrigues tem como perspectiva orientadora, produzir uma história das lutas sociais no Brasil, tendo como foco, os trabalhadores anônimos, para ele, fundamentais aos processos de luta dos trabalhadores brasileiros. Iniciando nos quilombos até chegar aos congressos e greves dos trabalhadores no século XX, Edgar Rodrigues trata de um trabalhador heróico no sentido de um homem idealizado, que no dia-a-dia lutava pela revolução.

Edgar Rodrigues, em Socialismo e sindicalismo no Brasil, serve de exemplo para ilustrar o caráter hagiográfico das obras militantes, afirmado por Cláudio Batalha em A historiografia da classe operária brasileira: Trajetórias e tendências, como característica fundamental para compreendermos a produção militante. Edgar Rodrigues afirma que Lima Barreto, um dos grandes literatos anarquistas, foi “um intransigente defensor dos oprimidos, do proletariado”8, destacando assim, o caráter mítico do pensador anarquista brasileiro, presente também em vários outros momentos da obra.

A função legitimadora, também apontada por Cláudio Batalha, em Historiografia da classe operaria: Trajetórias e tendências, como característica presente na produção militante, é outra característica marcante na obra de Edgar Rodrigues. Como exemplo, Edgar Rodrigues utiliza um capítulo da sua obra, intitulado Os germens da violência geram violência, para legitimar as ações violentas dos militantes anarquistas em todo o mundo, como uma forma de reação à violência do Estado contra os anarquistas. Edgar Rodrigues desta maneira, busca legitimar a violência como resposta a violência, utilizando-se das experiências de luta dos militantes anarquistas em várias partes do mundo, além do Brasil, principalmente na Espanha.

A cronologia de Edgar Rodrigues, pode ser considerada como um exemplo das cronologias próprias dos militantes, mais uma das características que Cláudio Batalha aponta para descrever a produção militante. Cronologias como afirma Cláudio Batalha em Historiografia da classe operaria: Trajetórias e tendências, que não possuem vínculo algum com os grandes acontecimentos históricos que ocasionaram algum tipo de ruptura histórica. Como exemplo disso, Edgar Rodrigues faz uma história das lutas sociais no Brasil e, para isso, utiliza as próprias lutas como marcos históricos, deixando de lado acontecimentos sóciopolíticos externos às lutas sociais.

A teleologia, mais uma das características apontadas por Cláudio Batalha em Historiografia da classe operaria: Trajetórias e tendências para caracterizar a produção militante, está presente de forma bem clara como fio condutor da obra de Edgar Rodrigues. Edgar Rodrigues inicia seu trabalho com os escravos negros de Palmares até chegar às greves operárias do inicio do século XX. Todo este processo de lutas sociais é abordado por ele com

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RODRIGUES, p. 9.

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RÜSEN, Jürn. Razão histórica. Brasília: Editora da UNB, 2001, p. 25.

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uma mesma causa: lutar contra o Estado e o patronato, e também com um fim intrínseco as lutas, a revolução operária que a cada dia aparentava maior amadurecimento, segundo Edgar.

Concluindo, como afirma Batalha, apesar das limitações “científicas” das pesquisas militantes, o pioneirismo e ineditismo desta produção são fundamentais para pensarmos a constituição de uma historiografia do movimento operário no Brasil. Mesmo que “idealizada e hagiográfica, da classe operária em uma época na qual só havia espaço para estudos das classes dominantes”9.

Ao longo da década de 1960, surgem os primeiros estudos acadêmicos relacionados ao tema movimento operário brasileiro. Estes estudos, produzidos por sociólogos, tinham como objetivo “elaborar grandes sínteses, que estabeleciam teorias explicativas do movimento operário e de suas opções ideológicas”10. Por isso, Cláudio Batalha, em Historiografia da classe operária: Trajetórias e tendências, intitula esses estudos como “as sínteses sociológicas”.

A importância das ciências sociais para as pesquisas histórico-acadêmicas diz respeito tanto ao ineditismo acadêmico das pesquisas sobre o movimento operário brasileiro, quanto às noções a respeito do movimento operário brasileiro, introduzidas por essas pesquisas. Três são essas noções posteriormente presentes em vários momentos da historiografia brasileira. A primeira, diz respeito à origem estrangeira do operariado, a segunda, ao vínculo entre o estrangeirismo e o anarquismo, e a terceira, a hegemonia do anarquismo no movimento operário da primeira república.

Duas são as explicações de Francisco Foot Hardman para essa entrada do tema movimento operário brasileiro nas academias brasileiras. A primeira justificativa é social, ou seja, os períodos de repressão fizeram com que os estudiosos da oposição acabassem por se interessar por esse campo de estudo, tão pertinente ao momento histórico vivido pelo Brasil. Mas, não apenas fazer oposição ao regime era o interesse dos pesquisadores da história do trabalho, mas sim, acabar com certos preconceitos como o de caracterizar o movimento operário como mero ornamento social.

A segunda explicação está na própria institucionalização do tema, ou seja, a criação de arquivos específicos impulsionou a pesquisa acadêmica da história do trabalho e do movimento operário brasileiro. Em 1974, a fundação do Arquivo Edgar Leuenroth, na Unicamp (Universidade de Campinas), proporcionou aos historiadores uma nova gama de documentos e, portanto, de possibilidades. Além deste, o Instituto Internacional de História Social em Amsterdã na Holanda e o Archivio Storico Del Movimento Operaio Brasiliano em Milão na Itália, acabaram por internacionalizar as fontes e o tema movimento operário brasileiro. Não somente os arquivos, mas também a expansão do sistema nacional de pós-graduação, com conseqüência da criação de mestrados específicos na área da história do trabalho, impulsionou e enriqueceu a gama de pesquisas relativas ao tema como afirma Foot Hardman em História do trabalho e cultura operária no Brasil pré-1930: um campo de estudos em construção.

Portanto, a década de 1970 é de mudanças institucionais preponderantes para a história, como disciplina acadêmica e conseqüentemente para a historiografia. Essas mudanças institucionais ocasionam na vinda de historiadores estrangeiros, no caso dos brasilianistas, norte-americanos vindos ao Brasil para especializarem-se e pesquisarem sobre temas brasileiros. Para o professor da Unicamp, Cláudio Batalha, os brasilianistas “menos

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BATALHA, p. 148.

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preocupados com grandes explicações teóricas do que uma parte significativa da produção brasileira de até então, introduziram um uso mais vasto e rigoroso das fontes, particularmente da imprensa operária”11.

Obra marcante produzida pela corrente brasilianista Anarquistas, imigrantes e o movimento operário brasileiro (1890-1920), de Sheldon Leslie Maram. Na introdução desta obra, Maram afirma que o anarcossindicalismo foi à doutrina política dominante no movimento operário brasileiro da primeira república. Além disso, Maram afirma que partindo de um recorte temporal específico, de 1890 até 1920, e de três espaços físicos, Santos, Rio de Janeiro e São Paulo, a intenção é encontrar o “por que os trabalhadores brasileiros tiveram participação tão pequena no movimento operário? Seria simplista e insatisfatório apontar como causas a sua origem agrária, o seu fatalismo e sua falta de consciência de classe”12. O autor ao mesmo tempo em que define a sua problemática, descarta três fatores para o possível fracasso apontado. Quanto ao espaço físico, Santos, Rio de Janeiro e São Paulo são segundo o autor os locais fundamentais para a pesquisa, pois representam os três maiores pólos industriais brasileiros.

Para a obra de Sheldon Leslie Maram em particular, são muito importantes as já citadas idéias a respeito do movimento operário brasileiro, introduzidas pelas “sínteses sociológicas”. No primeiro capítulo Imigrantes: Operários e Organizadores, Maram trata de solidificar a noção introduzida pelos sociólogos com relação ao estrangeirismo do operariado brasileiro. Para isso, Maram se utiliza de dados para afirmar que espanhóis, portugueses e italianos são as etnias mais presentes na imigração européia para o Brasil. Já no quarto capítulo intitulado, Anarquismo: Teoria e prática, Maram afirma que o anarquismo foi transposto da Europa para o Brasil e trouxe com ele problemas de adaptação à realidade brasileira.

A conclusão a que chega Maram é a de que são duas as principais causas do “fracasso” do movimento operário brasileiro. Em primeiro lugar, a repressão é apontada pelo autor como um fator crucial para a desestabilização do movimento operário brasileiro. Em segundo lugar, Maram afirma que a falta de organização é outro fator fundamental para o fracasso. A falta de organização deriva e muito dos conflitos étnicos nos meandros do movimento. Além das diferenças étnicas, a organização em grande parte, não ocorreu pelas contradições políticas entre, libertários, socialistas e reformistas. Maram chega a identificar, a inexistência do movimento operário no período da primeira republica como afirma:

De certo modo, o antigo movimento operário nunca chegou a ser construído. Para substituí-lo, Getulio Vargas criou uma estrutura sindical depois de 1930, que recebia os benefícios das leis trabalhistas apenas onde e quando o governo desejasse, com uma burocracia sindical impar e rigidamente controlada pelo Estado. Desde então o trabalho organizado permaneceu uma ferramenta do governo e dos políticos13.

Com relação ao contexto social, tanto Dulles como Maram produzem em um período de maior abertura política, mesmo assim “tratar de temas considerados mais sensíveis pelas autoridades podia significar para muitos assumir riscos exagerados”14, fazendo, assim, com

11 BATALHA, p. 150.

12 MARAM, Sheldon Leslie. Anarquistas, imigrantes e o movimento operário brasileiro (1980 – 1920). Rio

de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 29.

13

MARAM, p. 149.

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que os autores se autopoliciassem como afirma Cláudio Batalha em Historiografia da classe operária: Trajetórias e tendências. Portanto, com os brasilianistas a década de 1970 assistira a inserção do tema movimento operário brasileiro nas academias brasileiras. Este tema era analisado na grande maioria das vezes pelo prisma do trabalhismo intercedente e redentor da classe operária. Enquanto isso, outra vertente destacava a existência pré-política, anarquista anterior a 1930 e a consciência de classe finalmente surgida com o nascimento do PCB (Partido Comunista Brasileiro) em 1922 como afirma Francisco Foot Hardman em História do trabalho e cultura operária no Brasil pré-1930: um campo de estudos em construção.

Sheldon Leslie Maram, com Anarquistas, imigrantes e o movimento operário brasileiro (1890-1920), enquadra-se na primeira linha interpretativa descrita por Hardman em História do trabalho e cultura operária no Brasil pré-1930: um campo de estudos em construção, pois ao mesmo tempo em que afirma a inexistência do movimento operário brasileiro, questiona os métodos de luta empregados pelos anarquistas. Corrente política dominante no movimento operário da primeira republica, segundo Sheldon Leslie Maram.

Apesar de significativa como primeira corrente historiográfica a tratar o tema movimento operário brasileiro. Hardman, em História do trabalho e cultura operária no Brasil pré-1930: um campo de estudos em construção, afirma que apesar de iniciada na década de 1970, a historiografia brasilianista é limitada e frágil. Mesmo as relações com a ciência política, a antropologia e a literatura, não conseguem aproximar o movimento operário da história econômica e política de forma considerável, segundo Hardman.

Em um contexto de abertura político-social e de novas influências no campo intelectual historiográfico brasileiro, a década de 1980, mas especificamente em 1983, Francisco Foot Hardman, publica Nem pátria, nem patrão. Hardman nos três capítulos e mais o apêndice da sua obra, procura investigar a popularização da cultura operária por intermédio das próprias práticas culturais do operariado brasileiro. O objetivo de Foot Hardman, portanto, é o de observar a questão da cultura operária e as relações de conflito e simbiose desta cultura com a cultura dominante.

A obra de Francisco Foot Hardman Nem pátria, nem patrão parte de uma carência historiográfica do período. Uma carência em muito ligada às influências da nova-esquerda inglesa, ou seja, a carência de se analisar as questões culturais e o cotidiano do trabalhador operário. A partir desta carência, Hardman formula a sua tese de que as culturas tanto operária, quanto dominante sofrem um processo de simbiose no período da primeira república. Para isso, Hardman opta pela literatura e pelo lazer operário para investigar esse movimento de simbiose. A função é a de orientar os operários de que existe sim uma influência predominante da cultura operária nas práticas culturais burguesas. Não como a historiografia anterior pensava a cultura dominante sobrepondo-se a cultura operária.

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traduzida em 1981 para o português, “tradução péssima por sinal”15 como afirma a professora da Unicamp, Silvia Hunold Lara em A herança dos Annales: o principio e seus discípulos.

Cláudio Batalha, em Historiografia da classe operária: Trajetórias e tendências, afirma que a ampliação dos enfoques e a conseqüente maior pluralidade temática, acabou por criar uma situação de fragmentação do campo de estudo, movimento operário brasileiro. Com isso, segundo ele, “um campo de estudos relativamente bem definido passa a fundir-se (e confundir-se) com outros campos (estudos urbanos, cidadania e política) e chega ao final dos anos 80 em crise”16.

Cronologicamente, portanto, concluo que a produção militante inseriu, tanto o movimento operário brasileiro, quanto o anarquismo como temas a serem pesquisados. Mesmo que de forma ufanista e metodologicamente pouco sistemática. Em tempos de ditadura, os militantes resistiram à repressão e continuaram a produzir obras de alto caráter ideológico e de contestação política.

Enquanto isso, os brasilianistas tentaram em seus escritos retirar a importância dos operários do processo de formação da sociedade brasileira, muito influenciados pelas idéias introduzidas pelos sociólogos. Produzindo em uma época de maior abertura, e ligados à ideologia oficial de desqualificar as temáticas marginais, os brasilianistas afirmaram que o anarquismo fora o algoz da classe operária brasileira da primeira República.

Já na década de 1980, os historiadores brasileiros finalmente por meio das novas perspectivas historiográficas, principalmente a influência da história social inglesa ou nova-esquerda, inseriram novamente a temática movimento operário brasileiro e principalmente o anarquismo como temas históricos fundamentais. Em tempos de efervescência política com o movimento pelas eleições diretas, a riqueza cultural do operariado, impulsionada principalmente pelas práticas anarquistas, fora a temática fundamental da produção historiográfica cultural. Constituindo desta maneira, a década de 1980, como a década de maior importância para as produções historiográficas a respeito do tema movimento operário brasileiro.

15 LARA, Silvia Hunold. A herança dos Annales: O princípio e seus discípulos. Porto Alegre: Editora da

UFRGS, 2000, p. 243.

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