1
Dra. Maria Teresa Eglér Mantoan
Faculdade de Educação da Universidade
Estadual de Campinas, Unicamp
PROFESSORA: VALDIRENE FARIA
1
Inclusão escolar
2
Pretende responder:
• o que é inclusão escolar;
• quais as razões pelas quais ela tem sido proposta;
• quem são seus beneficiários, e como fazê-la acontecer nas
salas de aula de todos os níveis de ensino.
3
OBJETIVO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA:
que escolas sejam instituições abertas
incondicionalmente a todos os alunos e, portanto,
INCLUSIVAS.
CARACTERÍSTICAS DA ESCOLA inclusiva
• Deve possuir um ética crítica e transformadora, em
sua luta pela inclusão escolar em oposição a uma
posição ética Conservadora;
• uma escola para todos, INCLUSIVA, reconhece os
conteúdos acadêmicos, não menospreza o
conhecimento científico, sistematizado, mas não se
restringe a instruir os alunos ou “dominá-los”, a todo o
custo.Isto porque:
• Atenta-se a um ensino participativo, solidário,
acolhedor, voltado as capacidades e talentos dos
alunos.
4
Surge em um cenário de Crise de Paradigmas
• Paradigmas = um conjunto de regras, normas, crenças, valores, princípios que são partilhados por um grupo em um dado
momento histórico e que norteiam o nosso comportamento... até entrarem em crise, porque não nos satisfazem mais, não
dão conta dos problemas que temos de solucionar (Thomas Kuhn; Edgar Morin).
• Uma crise de paradigma é uma crise de concepção, de visão de mundo .
• Da crise surgem mudanças:
O período em que se estabelecem as novas bases teóricas
suscitadas pela mudança de paradigmas é bastante difícil, pois caem por terra os fundamentos sobre os quais a ciência se
assentava e se fincam novos pilares que a sustentarão, daqui para frente.
5
crise de paradigmas: É o que estamos vivendo no momento.
• A escola se entupiu do formalismo da racionalidade e cindiu-se em modalidades de ensino, tipos de serviços, grades curriculares,
burocracia.
• Uma ruptura de base em sua estrutura organizacional, como propõe a inclusão, é uma saída para que ela possa fluir novamente, espalhando sua ação formadora por todos os que dela participam.
• A INCLUSÃO, portanto, implica em mudança desse atual paradigma educacional para que se encaixe no mapa da educação escolar que emerge (educação inclusiva, para todos, participativa).
• As diferenças (questões de identidade) culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gênero, enfim, a diversidade humana está cada vez mais em destaque e é condição imprescindível para se entender como aprendemos, e como entendemos o mundo e a nós mesmos.
6
Diante da crise dos paradigmas: um universo dos saberes e
conhecimentos interdisciplinares emerge!
• Ou seja, um novo paradigma do conhecimento está surgindo
das interfaces e das novas conexões e dos encontros da
subjetividade humana com o cotidiano, o social, o cultural.
• Antes os saberes eram isolados e partidos. Agora, redes cada
vez mais complexas de relações, geradas pela velocidade das
comunicações e informações estão rompendo as fronteiras
das
disciplinas
e
estabelecendo
novos
marcos
de
compreensão entre as pessoas e do mundo em que vivemos.
7
No paradigma educacional que vigorava:
• A exclusão escolar era associada a ignorância do aluno,
diante dos padrões de cientificidade do saber escolar.
A democratização é massificação de ensino!
• Mantoan, questiona e atribui responsabilidade ao modelo de
divisão do conhecimento especializado, o modelo que divide o
pensamento em áreas específicas. Pauta-se em Edgar Morim
(2001), mais precisamente, em seu conceito de:
hiper-especializações dos saberes dificulta a articulação de
um saber com o outro saber. Impossibilita uma visão do
essencial e do global, porque isola, separa os conhecimentos,
ao invés de reconhecer as suas inter-relações
8
• Rever os paradigmas da escola: “transformar a escola em
uma escola única e para todos, em que a cooperação
substituirá a competição, pois o que se pretende é que as
diferenças se articulem e se componham e que os talentos
de cada um sobressaiam”. Também é necessário “um
esforço de modernização e de reestruturação de suas
condições atuais a fim de responderem às necessidades de
cada um de seus alunos, em suas especificidades, sem cair
nas malhas da educação especial e suas modalidades de
exclusão”.
• Necessidade de Incluir: “formar gerações mais preparadas
para viver a vida na sua plenitude, livremente, sem
9
Integração ou inclusão ?
• Os dois vocábulos - integração e inclusão - conquanto tenham significados semelhantes, são empregados para expressar situações de inserção diferentes e se fundamentam em posicionamentos teórico-metodológicos divergentes.
• O uso do vocábulo “integração” refere-se à inserção escolar de alunos com deficiência nas escolas comuns, mas seu emprego é encontrado até mesmo para designar alunos agrupados em escolas especiais para pessoas com deficiência, ou mesmo em classes especiais, grupos de lazer, residências para deficientes.
• O processo de integração ocorre dentro de uma estrutura educacional, que oferece ao aluno a oportunidade de transitar no sistema escolar, da classe regular ao ensino especial, em todos os seus tipos de atendimento: escolas especiais, classes especiais em escolas comuns, ensino itinerante, salas de recursos, classes hospitalares, ensino domiciliar e outros. Trata-se de uma concepção de inserção parcial, porque o sistema prevê serviços educacionais segregados. A escola não muda como um todo, mas os alunos têm de mudar para se adaptarem às suas exigências.
10
A inclusão questiona o conceito
de integração
O objetivo da integração é inserir um aluno ou um grupo de
alunos que já foram anteriormente excluídos
e
a inclusão, ao contrário, objetiva não deixar ninguém de fora
do ensino regular, desde o começo da vida escolar.
As escolas inclusivas propõem um modo de organização do
sistema educacional que considera as necessidades de todos
os alunos e que é estruturado em função dessas necessidades
11
• A inclusão implica a mudança, a Ruptura do
paradigma EDUCACIONAL atual.
“A INCLUSÃO não se limita aos alunos com
deficiência e aos que apresentam dificuldades de
aprender, mas a todos os demais, para que obtenham
sucesso na corrente educativa geral. Os alunos com
deficiência constituem uma grande preocupação para
os educadores inclusivos, mas todos sabemos que a
maioria dos que fracassam na escola são alunos que
não vêm do ensino especial, mas que possivelmente
acabarão nele” (Mantoan, 1999).
12
Inclusão escolar - Por quê?
Panorama:
“A escola brasileira é marcada pelo fracasso e pela
evasão de uma parte significativa dos seus alunos, que são marginalizados pelo insucesso e privações
constantes e pela baixa auto-estima resultante da exclusão escolar e social”
Perfil desses alunos marginalizados:
São alunos “conhecidos das escolas, pois repetem as suas séries várias vezes, são expulsos, evadem e ainda são rotulados como mal nascidos e com hábitos que
fogem ao protótipo da educação formal”.
Soluções:
O fracasso é tido como do aluno e a escola reluta em
reconhecer o fracasso como seu. Como soluções, não se buscam novas saídas e não se vai a fundo nas causas
13
“É fácil receber os “alunos que aprendem apesar da escola”
e é mais fácil ainda encaminhar os que têm dificuldades de
aprendizagem para as classes e escolas especiais, sendo
ou não deficientes, aos programas de reforço e aceleração.
Por meio dessas válvulas de escape continuamos a
discriminar os alunos que não damos conta de ensinar.
Estamos habituados a repassar nossos problemas para
outros colegas, os
“especializados” e, assim, não recai
sobre nossos ombros o peso de nossas limitações
profissionais”.
14
O PORQUÊ da INCLUSÃO se pauta em três questões:
• 1ª questão/ IDENTIDADE X DIFERENÇA:
• As ações educacionais, em sua maioria, são dimensões éticas conservadoras, que exaltam sentimentos de tolerância e respeito.
No entanto, esses sentimentos residem na diferença (entender como
diferenciação, distinto de inclusão); sendo assim, acentua-se a
exclusão, já que se valora as diferenças entre cada sujeito fomentando unicamente a tolerância e o respeito.
Entende-se que as diferenças são estagnadas, não havendo possibilidade de mudança, não abarcando a dimensão do progresso entre as pessoas. Deixa-se de compreender que a identidade de cada um vai sendo construída.
15
• o conceito de diferença pode ser facilmente arrastado
“para a vala dos preconceitos, da discriminação, da
exclusão”
• a inclusão é:
“produto de uma educação plural, democrática e
transgressora. Ela provoca uma crise escolar, ou melhor,
uma crise de identidade institucional, que, por sua vez,
abala a identidade dos professores e faz com que seja
ressignificada a identidade do aluno.O aluno da escola
inclusiva é outro sujeito, que não tem uma identidade
fixada em modelos ideais, permanentes, essenciais”.
16
2 ª Questão/ Questão legal:
Senso comum A maioria dos alunos das classes especiais são aqueles que não conseguem acompanhar seus colegas (os indisciplinados, os filhos de lares pobres, de negros e outros).
A Constituição Federal “garante A TODOS o direito à educação e ao acesso à escola”, na medida em que “não usa adjetivos e assim sendo, toda escola deve atender aos princípios constitucionais, não podendo excluir nenhuma pessoa em razão de sua origem, raça, sexo, cor, idade ou deficiência”.
Com base na Constituição Federal e na Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Pessoa Portadora de Deficiência (Guatemala, 1999), MANTOAN, observa:
a necessidade de as escolas adaptarem-se a acessibilidade de todos, bem como a inclusão de metodologias (nomeadamente LIBRAS E BRAILLE) nas grades dos cursos de formação de professores visando a inclusão irrestrita.
17
3ª Questão/As mudanças
• Nossas políticas de educação continuam insistem em “apagar incêndios” Elas não propõem inovações e, principalmente, NÃO QUESTIONAM A PRODUÇÃO
DA IDENTIDADE geradora das diferença nas escolas. Ocorre, assim, a
manutenção da exclusão escolar.
• O que impede que as inovações em termos de políticas educacionais inclusivas tenham sucesso aqui no Brasil?
• “Penso que não levamos a sério os nossos compromissos educacionais, como os outros povos, neste e em outros momentos de nossa história educacional. Desrespeitamos o que nós mesmos nos dispusemos a realizar, quando definimos nossos planos escolares, nosso planejamento pedagógico, quando escolhemos as atividades que desenvolveremos com nossas turmas e avaliamos o desempenho de nossos alunos e o nosso, como professores. Uma coisa é o que está escrito e outra coisa é o que acontece, verdadeiramente, nas salas de aula, no dia-a-dia, nas nossas rotinas de trabalho. Somos, certamente, bem pouco sinceros conosco mesmos, com a comunidade escolar, com os pais e com os nossos alunos, principalmente!”
• “Válvulas de escape como o reforço paralelo, o reforço continuado, os currículos adaptados etc, continuam sendo modos de discriminar alunos que não damos conta de ensinar e de nos escondermos de nossas próprias incompetências”. • Aluno real, encarnado, convive no cotidiano da escola. Todavia, a escola
tradicional resiste à inclusão em virtude “de sua incapacidade de atuar diante da complexidade, da diversidade, da variedade, do que é real nos seres e nos
grupos humanos”. Isso porque:
A Escola fantasia o aluno abstrato; com base nesse aluno a escola “justifica a maneira excludente de tratar as diferenças. Assim é que se estabelecem as
categorias de alunos: deficientes, carentes, comportados, inteligentes, hiperativos, agressivos e tantos mais”.
Deste modo:
• A escola se protege do aluno real, na sua singularidade, e caí na Exclusão!
Assim, é reforçada “a necessidade de se criarem modalidades de ensino, espaços, e programas segregados, para que alguns alunos possam aprender. Sem dúvida, é mais fácil gerenciar as diferenças, formando classes especiais de objetos, de seres vivos, acontecimentos, fenômenos, pessoas...”
• “Válvulas de escape como o reforço paralelo, o reforço
continuado, os currículos adaptados etc, continuam sendo
modos de discriminar alunos que não damos conta de ensinar e
de nos escondermos de nossas próprias incompetências”.
• Aluno real, encarnado, convive no cotidiano da escola. Todavia,
a escola tradicional resiste à inclusão em virtude “de sua
incapacidade de atuar diante da complexidade, da diversidade,
da variedade, do que é real nos seres e nos grupos humanos”.
Isso porque:
A Escola fantasia o aluno abstrato; com base nesse aluno a
escola “justifica a maneira excludente de tratar as diferenças.
Assim é que se estabelecem as categorias de alunos: deficientes,
carentes, comportados, inteligentes, hiperativos, agressivos e
Inclusão Escolar- Como fazer?
Deste modo:
• A escola se protege do aluno real, na sua singularidade, e caí
na Exclusão!
Assim, é reforçada “a necessidade de se criarem modalidades
de ensino, espaços, e programas segregados, para que alguns
alunos possam aprender. Sem dúvida, é mais fácil gerenciar
as diferenças, formando classes especiais de objetos, de seres
vivos, acontecimentos, fenômenos, pessoas...”
• ESCOLAS espaços vivos de acolhimento e de formação
para todos os alunos verdadeiros ambientes educacionais
inclusivos!
• não há inclusão, quando a inserção de um aluno é
condicionada à matrícula em uma escola ou classe especial.
FALOU-SE EM ESCOLA ou CLASSE especial, não é
INCLUSÃO!
• NAS ESCOLAS QUE APLICARAM A INCLUSÃO
Observa-se três situações:
A- desafios provocados por essa inovação;
B - ações no sentido de efetivá-la nas turmas escolares,
incluindo o trabalho de formação de professores;
C- novas perspectivas que se abrem à educação escolar, a
partir de sua implementação.
•
Tarefas fundamentais para mudar a escola
1- recriar o modelo educativo escolar, tendo como eixo o ensino para todos;
É necessário romper com o primado e da supervalorização do conteúdo acadêmico
as escolas de qualidade são espaços educativos de construção de personalidades humanas autônomas, críticas, nos quais as crianças aprendem a ser pessoas.
As escolas devem ser abertas às diferenças
2- reorganizar pedagogicamente as escolas, abrindo espaços para que a cooperação, o diálogo, a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico, habilidades mínimas para o exercício da verdadeira cidadania;
ações centradas no projeto político-pedagógico
experiências de trabalho coletivo, em pequenos grupos e grupos diversificados. EVITAR aquele trabalho em sala de aula marcado pela individualização das tarefas.
reorganização administrativa e dos papéis desempenhados pelos membros da organização escolar—SOLUÇÃO: descentralização da gestão administrativa + diminuição do caráter controlador, fiscalizador e burocrático visando um teor pedagógico.
3 - garantir aos alunos tempo e liberdade para aprender e um ensino que não segrega
abandonar um ensino transmissivo e adotar uma pedagogia ativa, dialógica, interativa, integradora.
a diferenciação é feita pelo aluno, ao aprender e não pelo professor, ao ensinar!
conteúdos são sempre considerados como meios e não como fins do ensino escolar.
Suprimir o caráter classificatório de notas e substituí-lo por uma visão diagnóstica da avaliação escolar!
4 - formar, aprimorar continuamente e valorizar o professor para que tenha condições e estímulos para ensinar a turma toda, sem exclusões e exceções;
deve garantir a liberdade e a diversidade das opiniões dos alunos O professor não procurará eliminar as diferenças em favor de uma
suposta igualdade do alunado
Ensinar, na perspectiva inclusiva significa ressignificar o papel do professor, da escola, das práticas pedagógicas.
formarem grupos de estudos nas escolas, para a discussão e a
compreensão dos problemas educacionais, à luz do conhecimento científico e interdisciplinarmente.