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Organização e representação da informação e do conhecimento

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Academic year: 2021

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Organização e representação da informação e do conhecimento

José Leonardo Oliveira Lima Lillian Alvares

Desde o princípio das civilizações, o ser humano utiliza diversos recursos para simbolizar a realidade que o circunda. Ao produzir pinturas rupestres, o homem pré-histórico desenhava figuras que retratavam práticas do seu cotidiano. Ao trazer à análise esses artefatos arqueológicos, pode-se deduzir sobre o ambiente, a realidade, os detalhes da cultura e do modo de vida daqueles povos. A pintura, nesse caso, foi um elemento usado para a re- presentação da realidade. Representar significa colocar “algo em lugar de”, conforme define Alvarenga (2003). A representação das coisas é atrelada ao conceito de substituição. Representando, criamos uma relação entre o que se apresenta e o signo, num ato de substituição, mas que não pode deixar de ser um gesto de conhecimento (PINTO, 2010).

Representar é o ato de utilizar elementos simbólicos – palavras, figuras, imagens, desenhos, mímicas, esquemas, entre outros – para substituir um objeto, uma ideia ou um fato. Para ilustrar resumidamente o ato de repre- sentar, segue uma adaptação livre da história do surgimento do sistema de contagem decimal: um pastor, para representar as ovelhas do seu rebanho, colocava, para cada uma, uma pedrinha em um saquinho. Quando queria conferir o rebanho, bastava comparar cada ovelha com uma pedrinha. Po- rém, à medida que o rebanho se multiplicava, o pastor se viu obrigado a carregar sacos pesados de pedras para representar as ovelhas, o que o forçou pensar em outra forma de representação. Em vez de carregar dez pedras para simbolizar dez ovelhas, criou uma simbologia em que cada dedo da mão representava uma ovelha. Assim, uma pedra passou a equivaler aos

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dez dedos das mãos, ou seja, dez ovelhas. Um pedaço de pau equivalia a dez pedras (como cada pedra equivalia a 10 ovelhas, então o pedaço de pau equivalia a 100 ovelhas). Nesse exemplo, os dedos, pedras e paus serviram para representar as unidades, dezenas e centenas, respectivamente.

Na comunicação oral também precisamos da representação. O ser hu- mano utiliza o idioma, que é uma atribuição simbólica que possibilita a transmissão de uma mensagem para outra pessoa. A representação simbó- lica (o idioma) deve ser dominada tanto pelo emissor como pelo receptor, ou seja, precisa ser de comum entendimento para que a comunicação possa ser transmitida e posteriormente compreendida por quem a recebe. Na tra- dição oral, conforme lembra Kenski (2003), fazia-se necessário o contato pessoal para o repasse e a perpetuação dos conhecimentos entre as gerações, o que envolvia proximidade temporal e espacial entre os interlocutores. Na falta dos interlocutores, os saberes dos antepassados eram perdidos.

A partir do momento em que o homem começa a utilizar símbolos – não somente para representar, mas também para registrar a realidade e as ideias – ele começa a deixar pistas e elementos para a perpetuação dos saberes. O surgimento da escrita, que é uma representação registrada em suportes diversos – madeira, pedra, papel, entre outros –, promoveu um salto na produção e disseminação do conhecimento humano, que passou a independer do tempo e do espaço para ser transmitido (KENSKI, 2003).

Por exemplo, um conhecimento registrado em um livro pode ser consulta- do 500 anos à frente e em localidade distante de onde foi escrito.

A invenção da escrita provocou uma revolução em termos de conheci- mento humano (KENSKI, 2003) e foi importante elemento para a repre- sentação do saber. Porém a representação não se reduz à escrita. Podemos representar o conhecimento usando de figuras, esquemas, desenhos, ima- gens, palavras, expressões, gestos, mímicas, hipertextos, entre tantos outros meios.

Na ciência da informação, a representação está relacionada com as for- mas de simbolizar a informação e o conhecimento. Alguns autores, como Tristão, Fachin e Alarcon (2004), parecem considerar a representação e organização da informação e do conhecimento como a mesma coisa, não fazendo clara distinção entre uma e outra. Para Bräscher e Carlan (2010,

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p. 150), “a organização do conhecimento é um processo de modelagem que visa construir representações do conhecimento.” Para os autores deste capítulo, organizar envolve o processo e como fazer análise, classificação, ordenação e recuperação, e representar está relacionado com o objeto, com a materialização e com o registro da simbologia que substitui o objeto ou ideia.

Pode haver representações que estão desordenadas e nem por isso dei- xam de ser representações. Um conjunto de desenhos em folhas espalhadas a esmo em uma mesa é um conjunto de representações desorganizadas.

Podemos pegar esses desenhos e catalogá-los, identificar-lhes autor, temáti- ca, data, estilo, local de produção e assim por diante, atribuindo a cada um número de chamada, e guardá-los arrumados numa pasta juntamente com uma página de índices para facilitar o acesso a cada item. Ao catalogar, esta- mos utilizando uma forma de representação e mecanismos de organização para futura busca e recuperação dos desenhos.

Na ciência da informação, quando se fala de organização e represen- tação da informação e do conhecimento, a ênfase é dada aos processos de organização, utilizando-se de representações das informações e dos conhe- cimentos cujos elementos, para serem compreendidos, precisam de alguns conceitos preliminares, como apresentamos na sequência.

Breves definições conceituais

Conhecimento e informação são termos de difícil conceituação devi- do à amplitude semântica e às diversas perspectivas de análise, domínios e concepções de cada área, como já foi problematizado por vários auto- res, dentre eles Brookes (1980), Wilson (2002), Le Coadic (2004) e Zins (2007b). Na ciência da informação, tais conceituações são frutos de refle- xões teóricas e às vezes, controversas. Algumas definições a respeito dos ter- mos para fins do que se propõe o presente livro são registradas a seguir, não entrando nas discussões amplas sobre cada aspecto. Começaremos discor- rendo sobre os conceitos dado, informação e conhecimento, não de modo isolado, mas de forma integrada, demonstrando um pouco da amplitude e da forte correlação entre os conceitos.

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Dado é definido por Le Coadic (2004, p. 8) como “a representação con- vencional, codificada, de uma informação em forma que permita submetê-la a processamento eletrônico”. Meadow, Boyce e Kraft (2000, p. 35) interpre- tam dado como “uma sequência de símbolos elementares, como dígitos ou letras”.

No campo da tecnologia da informação, em uma visão mais pragmá- tica, dado é a menor partícula da informação que, quando isolado, não possibilita a decodificação clara e comum ao entendimento humano, pois está fora do contexto que favorece a sua compreensão. Informação é o conjunto de dados que permite extrair algum significado, podendo favorecer a obtenção de conhecimento. Por exemplo, se é apresentada para alguém a seguinte sequência de caracteres “JOSÉ M 32”, temos um conjunto de dados, cuja interpretação será a mais diversa possível. Po- rém, se apresento: “Nome: JOSÉ; Sexo: M; Idade: 32”, já reunimos ele- mentos que compõem a informação e possibilitarão uma interpretação que, dependendo do contexto, poderá produzir novos conhecimentos.

O conhecimento está relacionado com os aspectos cognitivos que ocor- rem na mente humana e envolvem os processos mentais de captação, assi- milação, associação e também de construção, desconstrução e reconstru- ção de conceitos. Wilson (2006) define conhecimento

(...) como aquilo que sabemos. Envolve processos mentais de com- preensão, entendimento e aprendizado que passam na mente e apenas na mente, independentemente de interação com o mundo exterior à mente e a interação com outros. (WILSON, 2006, p. 38)

Com esse entendimento, o autor não quer retirar a importância do papel social do conhecimento. Apenas enfatiza que, quando do processo de assimilação do conhecimento, esse ocorre segundo a percepção de cada pessoa, sendo uma questão eminentemente individual. Para Le Coadic (2004), conhecimento

(...) é o resultado do ato de conhecer, ato pelo qual o espírito apre- ende um objeto. Conhecer é ser capaz de formar ideia de alguma coi-

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sa; é tê-la presente no espírito. Isso pode ser da simples identificação (conhecimento comum) à compreensão exata e completa dos objetos (conhecimento científico). O saber designa um conjunto articulado e organizado de conhecimentos a partir do qual uma ciência - um tema de relações formais e experimentais - poderá se originar. (Le Coadic, 2004, p. 4)

A informação obtida por um indivíduo, para se transformar em conhe- cimento, dialoga com a sua cultura, seus valores e princípios, seu modo de ser e sua maneira de ver e compreender o mundo. O conhecimento, nesse caso, é subjetivo (inerente ao sujeito), mas ao mesmo tempo social, pois o ser humano interage com o mundo que o circunda, modificando-o e sendo por ele modificado. Nem toda informação existente em um documento vai se transformar em conhecimento, pois quem aprende precisa ter os elementos fundamentais para a decodificação da informação, ou seja, fazer a correlação dessa informação com as estruturas mentais e conhecimentos correlatos mínimos que possibilitarão o entendimento e, se for o caso, a geração de novos conhecimentos. Da mesma maneira, “o conhecimento construído a partir de mensagens nunca poderá ser exatamente o mes- mo que aquele vindo da base do conhecimento que emitiu a mensagem.”

(WILSON, 2002, p. 38).

Conhecimento não se resume à esfera individual e cognitiva. Outra dimensão de significado da palavra envolve o aspecto do conhecimento acumulado ao longo do tempo (CURRÁS, 2010) e da sua socialização.

Alvarenga Neto, Barbosa e Pereira (2007, p. 7) sintetizam que “o conhe- cimento só existe na mente humana e no espaço imaginário entre mentes criativas em sinergia de propósito.”

Portanto, a palavra conhecimento comporta tanto a significação do pro- cesso individual e mental quanto de um conjunto de saberes que se desen- volvem e evoluem continuamente e que são socializados em uma área, uma ciência ou um domínio da atividade humana. Epistemologicamente, alguns autores denominam os tipos de conhecimento como: senso comum ou em- pírico, teológico, mitológico, artístico, filosófico e científico, cada qual com as suas características, peculiaridades e importância.

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Currás observa que

A informação é causa primeira para produzir conhecimento, quando chega ao cérebro e impacta os neurônios. Então começam a acontecer, de forma sucessiva ou simultânea... processos de percepção, apreensão, análise, classificação, arquivo em memória, avaliação que constituem o conhecimento pessoal, subjetivo e condicionado pelo substrato indivi- dual e cultural de cada indivíduo. Numa elaboração mental posterior, mais complexa, o conhecimento passa a constituir as ideias, linhas de pensamento. Essas são as que voltam a se converter em informação útil, quando surge a ocasião. (CURRÁS, 2010, p. 24-25)

A informação é elemento que compõe o conhecimento. Pode-se dizer, de maneira simplificada, que a informação é o conhecimento possível de se materializar e de ser registrado em algum suporte. Le Coadic (2004) entende que a

Informação é um conhecimento inscrito (registrado) em forma es- crita (impressa ou digital), oral ou audiovisual em um suporte... é um significado transmitido a um ser consciente por meio de uma mensa- gem inscrita em um suporte espacial-temporal: impresso, sinal elétrico.

(LE COADIC, 2004, p. 4)

No âmbito da ciência da informação, Capurro (2003, p. 9) conceitua informação como algo que “refere-se aos processos cognitivos humanos ou a seus produtos objetivados em documentos.”

Enfim, ao se pensar em organização e representação do conhecimen- to e da informação, precisamos compreender em quais aspectos dos conceitos de conhecimento, informação e dado precisamos nos ater e considerar em que domínio, área ou campo do saber ele se aplica. No caso específico, apresentamos os diversos conceitos com foco no domí- nio da ciência da informação, dialogando interdisciplinarmente com as ciências cognitivas, ciências da educação e ciência da computação, entre outras.

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Organização social do conhecimento

A organização social do conhecimento é a prática cotidiana na orga- nização dos seres, na divisão social do trabalho, na sociologia do conheci- mento, na sociologia das profissões, das inovações e de tudo mais que nos cerca. É também um fenômeno social, pois a manifestação da organização do pensamento pelo agrupamento, pela separação, pela hierarquização e pela centralização, princípios fundamentais da organização, é realizada in- tuitivamente o tempo todo. De fato, a maioria das pessoas não percebe o quanto ordenam o pensamento, e isso é apenas um indício da natureza fundamental do processo de organização do conhecimento.

Do ponto de vista da ciência da informação, os princípios da teoria de organização do conhecimento são válidos apenas para o conhecimento socializado e, sendo assim compartilhado, ele possui uma dimensão cíclica, sempre na perspectiva de geração de novos conhecimentos, convertendo, na concepção de Dahlberg (1992), o conhecimento em ação.

De fato, o estudo da organização social do conhecimento e o da or- ganização do conhecimento são naturalmente relacionados e mantêm um ponto de intersecção comum no que se refere às teorias, tradições, ideologias e paradigmas.

Organização e representação do conhecimento 1. Organização do conhecimento

No sentido mais genérico do termo, organização do conhecimento é o modo como ele é disposto em assuntos em toda parte onde se deseja a sua sistematização ordenada para atingir determinado propósito. Pelo seu caráter interdisciplinar, a organização do conhecimento é estudada também em ou- tras áreas, como antropologia, computação, filosofia, linguística, psicologia, sociologia, entre outras.

Na ciência da informação, é a área de estudos voltada às atividades de organização, representação e recuperação da informação. Dentre seus limi- tes de atuação, tenta responder a como se representa o conhecimento; se as

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áreas do conhecimento são representadas da mesma maneira; o que pode ser representado; e se tudo pode ser representado.

Henry Evelyn Bliss foi o primeiro pesquisador a registrar o termo em seus livros1 . Depois de longo período, Dagobert Soergel, em 1971, usa a expressão na sua tese de doutorado2 , seguido, dois anos depois, por Inge- traut Dahlberg, que a utiliza no título de seu doutoramento em 19733. É essa autora, em obra de 2006, que diferencia o conceito e aplicações dos termos organização do conhecimento (OC) e organização da informação (OI). Para ela, OC significa a construção de sistemas conceituais, e OI, o relacionamento de unidades desses sistemas conceituais com objetos de informação. Sua definição de OC nessa obra é

a ciência que estrutura e organiza sistematicamente unidades do conhecimento (conceitos) segundo seus elementos de conhecimento (características) inerentes e a aplicação desses conceitos e classes de conceitos ordenados a objetos/assuntos4. (DAHLBERG, 2006, p. 12) Hjørland (2008) também se manifesta sobre a organização do conheci- mento. Diferentemente de Dahlberg e de aplicação muito mais específica, ele a entende como descrição, indexação e classificação. Todavia, destaca que só fará sentido qualquer iniciativa de organização do conhecimen- to em sentido estrito observando o conhecimento no sentido amplo, isso é, considerando a abordagem organizacional. Ele acredita que qualquer sistema de organização do conhecimento existe para responder a algum objetivo, e propõe que a chave é fazer a mediação entre diversas visões e desenvolver o sistema de acordo com as metas e valores dos usuários aos

1 The Organization of Knowledge and the System of Sciences (1929) e Organization of Knowledge in Libra- ries and Subject Approach to Books (1933).

2 Organization of Knowledge and Documentation.

3 Foundations of Universal Organization of Knowledge.

4 Nas palavras da autora : “the science of structuring and systematically arranging of knowledge units (concepts) according to their inherent knowledge elements (characteristics) and the application of concepts and classes of concepts ordered by this way for the assignment of the worthwhile contents of referents (objects/subjects) of all kinds.”

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quais o sistema se destina5. Na mesma direção, registra-se a percepção de Anderson (2003), da OC como todo método de indexação, resumo, catalogação, classificação, gerenciamento de dados, bibliografia e bases de dados para a recuperação da informação. É a descrição de documentos, de seus conteúdos, características e propósitos.

Hjørland (2003) divide OC em dois tipos: (i) a organização intelectual do conhecimento, ou organização cognitiva do conhecimento, que utili- za conceitos, sistemas conceituais e teorias; e (ii) a organização social do conhecimento, que é a organização em profissões, negócios e disciplinas.

O mesmo autor, em 1994, destaca nove princípios de organização do co- nhecimento que visam a observar os problemas mais comuns de busca e recuperação da informação:

1 – a percepção realístico-ingênua de estruturas do conhecimento não é possível em ciências complexas;

2 – categorizações e classificações devem reunir assuntos relacionados e se- parar assuntos distintos;

3 – para fins práticos, o conhecimento pode ser organizado de diferentes formas, para diferentes objetivos;

4 – qualquer categorização deve refletir o próprio objetivo;

5 – categorizações e classificações sempre podem ser questionadas;

6 – observar sempre o conceito de polirrepresentação;

7 – diferentes áreas do conhecimento podem ser organizadas de diferentes formas para os mesmos fenômenos;

8 – a natureza das áreas é variável;

9 – a qualidade da produção do conhecimento, em muitas áreas e em al- guns momentos, pode ficar vulnerável.

5Nas palavras do autor: “In the narrow meaning Knowledge Organization (KO) is about activities such as document description, indexing and classification performed in libraries, bibliographic databases, archives and other kinds of ‘memory institutions’ by librarians, archivists, information specialists, subject specialists, as well as by computer algorithms and laymen. KO as a field of study is concerned with the nature and quality of such knowledge organizing processes (KOP) as well as the knowledge organizing systems (KOS) used to organize documents, document representations, works and concepts.”

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Na definição de Smiraglia (2001), organização do conhecimento é a construção de ferramentas para o armazenamento e a recuperação de entidades documentárias. Ele destaca, portanto, que o objeto de estudo é o documento, especificamente, obras bibliográficas.

A organização do conhecimento fornece uma metodologia por meio de conceitos e suas relações, que podem ser ordenados de acordo com vários critérios. Em outras palavras, ao tratar os ativos de informação, a OC fornece a metodologia para organizá-lo. Nessa perspectiva abran- gente, Sigel (2008) sugere várias abordagens para a área, ressaltando os seguintes aspectos:

é um campo interdisciplinar que reflete a prática de organização do conheci- mento para fins específicos;

aperfeiçoa o acesso conceitual, apoiando a recuperação, a criação e o compar- tilhamento de conhecimento;

está ancorado em metadados estruturados;

é a representação conceitual adequada a diferentes estruturas de acesso para ajudar a trabalhar com o conhecimento, com redes de conhecimento ou com espaços de conhecimento;

tem um fim social, pois ajuda as pessoas em seu trabalho por meio da or- ganização de estruturas de acesso que permitem melhor visualizar e compreender o ambiente ao redor.

Barité (2001) relaciona dez premissas básicas que dão razão de ser e justificativa intelectual à organização do conhecimento:

1 – o conhecimento é um produto, uma necessidade e um dínamo social;

2 – o conhecimento se realiza a partir da informação, e ao socializar-se é transformado novamente em informação;

3 – a estrutura e a comunicação do conhecimento formam um sistema aberto;

4 – o conhecimento deve ser organizado para seu melhor aproveitamento individual e social;

5 – existem muitas formas possíveis de organizar o conhecimento;

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6 – toda organização do conhecimento é artificial;

7 – o conhecimento se registra sempre em documentos, como conjunto organizado de dados disponíveis, e admite usos indiscriminados;

8 – o conhecimento se expressa em conceitos e se organiza mediante siste- mas de conceitos;

9 – os sistemas de conceitos se organizam para fins científicos, funcionais ou de documentação;

10 – as leis que regem a organização de sistemas de conceitos são uniformes e previsíveis, e se aplicam por igual a qualquer área disciplinar.

Hjørland (2006) aponta a evolução da organização do conhecimento considerando que ela ocorreu a partir de cinco tecnologias estruturantes, apresentadas a seguir. Antes, cabe refletir que, nessa abordagem, o autor considera que o campo não é impulsionado pela evolução do próprio co- nhecimento e sim pelos avanços da ciência da informação. São elas:

1. Classificação e indexação começaram em bibliotecas por volta de 1876, e entre os fundadores estão Charles A. Cutter (1837-1903), Melvil Dewey (1851-1931), Henry Bliss (1870-1955) e S. R. Ranganathan (1892-1972).

Essa fase produziu os princípios da organização do conhecimento, ainda válidos e importantes;

2. Documentação, cujo marco do surgimento foi aproximadamente em 1892, a partir dos trabalhos de Paul Otlet (1868-1944) e Henri La Fon- taine (1854-1943), por ocasião da criação do Escritório Internacional de Bibliografia, em Bruxelas, na casa de Otlet, seguido do Instituto In- ternacional de Bibliografia (IIB) em 1931, iniciativa pioneira dentre as associações internacionais no campo da informação. O IIB alterou seu nome para Instituto Internacional de Documentação (IID) em 1937, e para Federação Internacional de Documentação (FID), em 1936. Em 1988, recebeu a denominação de Federação Internacional de Informação e Documentação e manteve a sigla original. As atividades da FID foram encerradas em 2002 por falta de recursos financeiros. Na perspectiva da organização do conhecimento, essa fase caracteriza-se pelo interesse no controle bibliográfico, na comunicação e documentação científica e em

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serviços de informação para a indústria. Isso é, a abordagem de estudos era mais específica, com nível mais profundo de atendimento às necessi- dades e atitude mais científica em direção à solução de problemas;

3. Armazenamento e recuperação da informação, quando nos anos da década de 1950, a ciência da informação sofre grande influência dos computa- dores, até mesmo com o prognóstico de alguns pesquisadores apontando o futuro da área como subárea da ciência da computação. Na esteira da evolução tecnológica, os conceitos de informação e documento sofrem forte divisão conceitual. Informação tende a alinhar-se com estudos de controle, codificação e ruídos na transmissão de mensagens, enquanto do- cumento tende a ir em direção às teorias sobre o significado, linguagem, conhecimento, epistemologia e sociologia. Nessa fase, os novos conceitos de revocação e precisão tornam-se amplamente difundidos. Os computa- dores passam a objeto de pesquisa cognitiva a fim de modelar seu uso de acordo com as necessidades dos usuários. Na década de 1960, florescem os serviços baseados em computador, com destaque para o Chemical Abstracts e Medline. E mais, são intensificados os esforços em desenvolvimento da recuperação em texto livre, a lógica booleana, o acesso a assuntos específi- cos e outras inovações extremamente importantes na recuperação de docu- mentos. A recuperação da informação significou melhoria dos serviços de informação e a multiplicação de esforços de pesquisa em CI. A propósi- to, as pesquisas nessa fase foram dominadas por estudos em metodologias quantitativas em detrimento da pesquisa qualitativa. Uma tendência não concretizada nessa etapa foi a tentativa de automatizar a recuperação de informação eliminando a interpretação humana;

4. Bibliometria, quarta etapa da evolução da organização do conhecimen- to, introduzida por Eugene Garfield do Science Citation Index em 1963, marca a possibilidade de recuperar documentos de acordo com as citações que recebem, representando verdadeira reforma em recuperar informação.

Essa técnica trouxe consigo a inovação de evidenciar as relações semânticas entre os documentos citados. Em síntese, agregou o conceito de redes de documentos. Os autores que se destacam na integração desse campo com a organização do conhecimento são Pao e Worthen (1989), Pao (1993), Rees-Potter (1989) e Hjørland (2003, 2006, 2008), entre outros;

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5. Texto completo, hipertexto e internet, quando a possibilidade de recupe- ração de texto completo marca o quinto e atual momento no desenvolvi- mento da organização do conhecimento. Nessa fase, os aspectos qualitati- vos são fundamentais. Não se trata apenas das questões de fazer algoritmos eficientes para recuperação da informação, mas também para identificar os valores subjacentes e os objetivos a que tais algoritmos vão servir. Importa saber que os objetos informacionais são influenciados por pontos de vista mais amplos, e a análise de assunto é parte vital do entendimento da OC.

2. Representação do conhecimento

Quando se usa o termo “representação do conhecimento”, faz-se oportu- no ressaltar a existência de dois problemas teóricos que são explicitados por Friedman e Thellefsen (2011): a inexistência de uma terminologia unificada e a falta de compreensão estrutural e teórica no que diz respeito ao termo.

Logo, o que iremos apresentar é uma síntese das tendências atuais para uti- lização do termo, o que não esgota as discussões existentes sobre a temática.

O homem busca formas de se apropriar e de compreender a dinâmica do conhecimento humano, conforme já mostrado previamente quando da definição desse conceito. Representar o conhecimento é uma tentativa de se apropriar dos elementos informacionais existentes nas estruturas e processos mentais que compõem o conhecimento individual, para que o saber possa ser socializado.

Alvarenga (2003) esclarece que

(...)dos enunciados sobre os seres gera-se o chamado conceito, uni- dade de conhecimento referente ao ser percebido, componente essen- cial do conhecimento a ser representado. O processo de produção dos registros de conhecimento compreende a etapa de representação da coisa ou ser, gerando-se em decorrência um produto final, um conhe- cimento sobre a coisa. (ALVARENGA, 2003, p. 22)

Representar o conhecimento é um esforço, nas diversas ciências, de ma- terializar o que ocorre na mente humana e na dinâmica do conhecimento,

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cuja estrutura e funcionamento ainda significam enorme desafio para a comunidade científica. Para isso, são usados diversos modelos de repre- sentação, que podem ser descritivos, matemáticos, visuais, informatizados, dentre outros, conforme as necessidades e especificidades de cada área para se aproximar dos processos cognitivos que envolvem a aprendizagem, o raciocínio, as relações que ocorrem entre os conhecimentos disponíveis na memória para gerar novos conhecimentos.

Na ciência cognitiva, por exemplo, o conhecimento pode ser repre- sentado por meio de mapas de processos cognitivos, mapas conceituais, mapas mentais, mapeamento funcional do cérebro, etc. Na ciência da computação, principalmente no campo da inteligência artificial, são usados métodos, técnicas e instrumentos que tentam simular e repro- duzir artificialmente os processos que supomos ocorrer na mente huma- na. Para isso, são usados elementos de representação, associação entre as representações e processamento por meio da lógica formal, de redes neurais, procedimentos estatísticos e modelos matemáticos para com- por sistemas especialistas, sistemas inteligentes e de apoio à tomada de decisão que farão correlações entre os componentes de bases de dados e informações, propiciando um processamento denominado inteligen- te, que possibilita fazer inferências a partir de premissas. Por exemplo, usando conceitos da lógica formal (silogismo), temos as premissas: todo mamífero é animal; o cachorro é um mamífero. Logo, podemos inferir, por um processo de dedução, que cachorro é um animal. Na inteligên- cia artificial são usados diversos mecanismos computacionais para que as premissas existentes nas bases de dados possam ser correlacionadas e processadas, gerando novas informações, em um tipo de processamento chamado inteligente.

Referências

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