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Parecer. Objeto da consulta

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Av. D. João II, Lote 1.08.01 Edifício H • Parque das Nações • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7 Parecer Objeto da consulta

1. Foi comunicado ao IRN, I.P., para os efeitos tidos por convenientes, um despacho judicial exarado em processo

de insolvência no qual se manifesta um entendimento contrário ao propugnado no Despacho n.º 93/2010, que manda inserir no registo definitivo da declaração de insolvência de sociedade comercial a menção da firma com o aditamento «sociedade em liquidação» ou «em liquidação» e atualizar a matrícula com igual aditamento.

2. Aduzindo-se, no referido despacho judicial, que o disposto no art. 146.º/3 do Código das Sociedades Comerciais

(CSC) não se coaduna com as caraterísticas do processo de insolvência, desde logo, em face do disposto no art. 1.º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE), que dá prevalência à satisfação dos credores através de um plano de insolvência que, nomeadamente, preveja a recuperação da empresa, a questão que se submete à apreciação do Conselho Consultivo é, pois, a de saber do mérito do procedimento que vem sendo seguido nos serviços de registo, designadamente, à luz dos argumentos aduzidos no dito despacho judicial.

Pronúncia

1. Como se sabe, a dissolução é a primeira fase ou momento do ato (ou processo) complexo destinado à extinção da sociedade comercial personificada (registada) e à respetiva cessação do conjunto de deveres imputáveis à

DIVULGAÇÃO DE PARECER DO CONSELHO CONSULTIVO N.º 54/ CC /2017

N/Referência: P. C.Co. 9/2017 STJSR-CC Data de homologação: 17-11-2017 Consulente: Serviços Jurídicos

.

Assunto: dissolução de sociedade por efeito de declaração de insolvência – (in)aplicabilidade do art. 146.º/3 do Código das Sociedades Comerciais.

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Av. D. João II, Lote 1.08.01 Edifício H • Parque das Nações • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7

esfera jurídica do ente societário, pelo que bem se compreende que o seu efeito central seja, normalmente, a

entrada imediata da sociedade na segunda fase desse ato complexo, ou seja, a liquidação1.

1.1. Daí que se estabeleça, no art. 146.º do CSC, que, salvo quando a lei disponha de forma diversa, a sociedade dissolvida entra imediatamente em liquidação e que, a partir da dissolução, deve ser aditada à firma da sociedade a menção «sociedade em liquidação» ou «em liquidação», seguindo-se, em termos procedimentais, o disposto nos arts. 147.º e seguintes do mesmo Código ou, nos casos de insolvência ou de liquidação judicial, o disposto nas respetivas leis do processo.

1.2. Como salienta Raúl Ventura, a palavra «liquidação» é, pois, mencionada, no art. 146.º do CSC, numa dupla

qualidade; de fase da vida social, por um lado, e de processo, por outro, sendo que o aditamento à firma, no sentido de passar a constar que a sociedade se encontra em liquidação, visa precisamente salientar a situação criada pela dissolução, independentemente do processo tendente à liquidação, que poderá variar, em face das especificidades do caso concreto, ou nem chegar a ser efetivado. Donde, «sociedade em liquidação» equivalerá a «sociedade dissolvida», contrapondo-se, assim, a «sociedade não dissolvida»2.

1.3. Neste fio de pensamento, com a declaração de insolvência, a sociedade passa a ser «sociedade dissolvida»,

abrindo-se a fase da liquidação, que poderá volver-se em procedimento de liquidação, através da tramitação supletiva ou dos meios alternativos de liquidação acordados no âmbito do plano de insolvência, ou cessar sem que tal procedimento se verifique ou conclua, por via da aprovação de um plano de insolvência que preveja antes a recuperação da sociedade e o seu regresso à atividade.

1.4. Tomando-se o aditamento à firma com este sentido e alcance, ou seja, o de sinalizar perante terceiros a situação jurídica da sociedade (sociedade dissolvida) e não o iter ou o procedimento aplicável à sua extinção, não haveria, pois, na prática dos serviços de registo e no despacho do IRN, I.P., que a sustenta, qualquer desarticulação legal, posto que, efetivamente, a declaração de insolvência coloca a sociedade na situação jurídica de sociedade dissolvida, seja qual for a via que posteriormente seja seguida no sentido de se obter a satisfação do interesse dos credores (art. 141.º/1/e) do CSC)3.

2. É certo que, tal como vem referido no despacho judicial, o art. 1.º do CIRE permite que, ao invés do processo

supletivo de insolvência, preordenado à liquidação do património da sociedade como meio de satisfação do interesse dos credores, estes optem pela aprovação de um plano de insolvência, que pode consistir apenas na fixação de um modelo alternativo de liquidação, mas que pode, outrossim, prover pela continuidade ou recuperação da sociedade (art. 195.º do CIRE).

1 Assim, Ricardo Costa, anotação ao art. 141.º do CSC, Código das Sociedades Comerciais em Comentário, vol. II, Almedina, Coimbra,

2011, pp. 563/564.

2 Dissolução e Liquidação de Sociedades, Almedina, Coimbra, 1993, pp.210 e ss.

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Av. D. João II, Lote 1.08.01 Edifício H • Parque das Nações • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7

2.1. Por isso, o afastamento da conceção de «falência-liquidação» refletido na sucessão legislativa atinente à

matéria poderia, realmente, justificar a ponderação de mecanismos próprios de sinalização da situação da sociedade insolvente na firma respetiva, que permitissem noticiar, sem outros subsídios de informação, o regime jurídico implicado e substituir a referência genérica e indistinta (aplicável em qualquer caso, independentemente da modalidade da liquidação ou das vicissitudes legalmente consentidas) resultante da mera aplicação do art. 146.º/3 do CSC.

2.2. Contudo, na falta de tal especificidade de regime, o aditamento à firma, que aqui se analisa, não deixa de

poder ser lido como consequência de um facto jurídico (a dissolução da sociedade) operado num processo (o processo de insolvência) que é um processo de liquidação, o qual, efetivamente, se baseia na liquidação do património do devedor ditada pela declaração de insolvência, sem prejuízo de o seu curso poder ser afastado pelo plano de insolvência4.

2.3. A despeito de a liquidação do património da sociedade declarada insolvente se colocar como tramitação supletiva, é verdade que o processo de insolvência não deixa de aparecer caraterizado, no art. 1.º do CIRE, como um processo de execução universal com a finalidade de liquidação do património do devedor insolvente e a repartição do produto obtido pelos credores, e que tal liquidação não se suspende automaticamente em face da existência do plano de recuperação, mas por força de uma decisão que o determine (arts. 156.º e 206.º do CIRE)5,

sendo que também não é com a aprovação do plano de insolvência que opte pela recuperação da empresa que a mesma passa a ser considerada, do ponto de vista jurídico, como sociedade ativa ou sociedade não dissolvida.

2.4. Dito de outra forma, conquanto o plano de insolvência se possa traduzir num plano de recuperação da

sociedade, em vez da sua extinção, ocorre que o dito plano só poderá ser aprovado e homologado após o trânsito em julgado da sentença da declaração de insolvência, ou seja, num momento em que a sociedade já adquiriu a situação jurídica de sociedade dissolvida atrás referida, e que não será o plano de insolvência judicialmente homologado, ou sequer a suspensão da liquidação, que pode ser decretada nos termos previstos no art. 206.º do CIRE, a modificar a situação jurídica da sociedade.

2.5. Com efeito, diante das disposições conjugadas dos arts. 230.º/1/b) e 234.º do CIRE, o facto jurídico que retira

a sociedade da condição jurídica de «sociedade dissolvida» (sinalizada na firma respetiva com o intuito de noticiar, de forma mais imediata, o momento em que a sociedade se encontra e, portanto, a insusceptibilidade de a mesma continuar a sua vida normal para a realização dos fins iniciais) há de ser antes o encerramento do processo de insolvência alicerçado em plano de insolvência (homologado por decisão transitada em julgado) que preveja a continuidade da sociedade comercial, o qual produzirá ipso facto o regresso da sociedade à sua vida ativa.

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Av. D. João II, Lote 1.08.01 Edifício H • Parque das Nações • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7

2.6. Com o encerramento do processo baseado em plano de insolvência, devidamente homologado por sentença

transitada em julgado, que preveja a continuidade da sociedade comercial, dá-se então um fenómeno semelhante ao que está previsto no art. 161.º do CSC, embora com as especificidades próprias do processo de insolvência, donde, retomando a sociedade a qualidade de «sociedade não dissolvida», o registo do regresso à atividade (art. 67.º/2/a) do CRCom) dará igualmente lugar à eliminação do aditamento feito à firma da sociedade6.

2.7. Antes disso, cremos que é o mesmo princípio de verdade que justifica o aditamento à firma previsto no art.

146.º/3 do CSC 7a implicar que este aditamento se mantenha, pois, ainda que os dizeres nele contidos não sejam

de molde a elucidar sobre a vicissitude determinante da dissolução ou sobre o âmbito processual em que a mesma operou, e, como tal, não permita compreender, sem recurso à demais informação registal, os termos subjacentes à condição jurídica da sociedade neles refletida, parece não sobrar dúvida, em face do estatuído no art. 234.º do CIRE, que a retomada da atividade da sociedade só mediatamente se alicerça no plano de insolvência, e que a mesma é efeito do encerramento do processo.

2.8. Obviamente, se tomarmos o aditamento à firma noutros termos, vale dizer, como informação relativa à

pendência do procedimento de liquidação, como parece retirar-se da argumentação expendida no despacho judicial em tabela, mais aguda se torna a falta de ajustamento terminológico ao contexto da insolvência, concretamente quando os credores tenham optado pela conservação da empresa e o no hiato temporal que separa a homologação do plano de insolvência do encerramento do processo.

2.9. Porém, como fizemos por sublinhar no que atrás se deixou dito, antes do encerramento do processo de

insolvência, o aditamento à firma, quer seja lido como notícia relativa à situação da sociedade quer como indicativo da pendência do processo de liquidação a que o processo de insolvência supletivamente se destina, não deixa de espelhar, com verdade, que a sociedade é ainda «sociedade dissolvida».

Encerramento

Feitas estas considerações, somos, assim, de parecer que o conteúdo do Despacho n.º 93/2010, na parte que aqui nos ocupa, não apresenta qualquer incompatibilidade com as normas de direito substantivo implicadas, não havendo, quanto a nós, razões que determinem a sua substituição ou revogação.

Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 16 de novembro de 2017.

6 Assim, quando o plano se traduza em medidas de recuperação da sociedade, como se afigura ser a hipótese que espoletou o despacho

judicial aqui considerado, a execução do plano, que se traduza na retomada da atividade da sociedade, verificar-se-á em momento subsequente ao encerramento do processo. Logo, estando o encerramento do processo sujeito a registo e impondo-se, com ele, a eliminação da menção aditada à firma da sociedade, nos termos do art. 146.º/3 do CSC, só a morosidade na promoção deste registo ou na sua realização permitirão equacionar os constrangimentos descritos no requerimento subjacente ao referido despacho judicial.

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Av. D. João II, Lote 1.08.01 Edifício H • Parque das Nações • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7

Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora, Carlos Manuel Santana Vidigal (com declaração de voto em anexo), Ana Viriato Sommer Ribeiro, António Manuel Fernandes Lopes, Luís Manuel Nunes Martins, Blandina Maria da Silva Soares.

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Av. D. João II, Lote 1.08.01 Edifício H • Parque das Nações • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7 P.º C.Co. 9/2017 STJSR-CC Declaração de Voto

Voto o parecer favoravelmente.

Todavia, afigura-se-me que o aditamento previsto no artigo 146º, nº 3, do Código das Sociedades Comerciais não deve ser executado em duas situações:

- A primeira respeita aos casos em que o juiz atribua ao devedor da administração da massa insolvente. Em rigor, a sociedade não se encontra em situação de liquidação. Dispõe o artigo 225º que tem por epígrafe” Início da liquidação” que mesma “…só tem lugar depois que ao devedor seja retirada a administração…”, motivo pelo qual se, em tal situação, não será de aditar à firma uma das aludidas expressões. É certo que o caso pode ser encarado como suspensão ou adiamento de liquidação, mas certo é também que durante essa fase a sociedade dissolvida não está em liquidação;

- A segunda respeita à declaração de insolvência proferida ao abrigo do artigo 39º do CIRE que recentemente discutimos. Neste caso também não há liquidação, a não ser que o conservador o determine por força da conjugação do disposto nos artigos 39/10 e 234/4 do CIRE bem como do 15/5/g) 3 e 24/6 do RJPADLEC. E se não há liquidação não faz sentido o aditamento.

Lisboa, 16 de novembro de 2017.

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