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O projeto de lei do novo código comercial e suas implicações práticas no cenário das startups

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Academic year: 2018

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FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ANDERSON DE MORAIS BRAGA

O PROJETO DE LEI DO NOVO CÓDIGO COMERCIAL E SUAS IMPLICAÇÕES

PRÁTICAS NO CENÁRIO DAS STARTUPS

(2)

O PROJETO DE LEI DO NOVO CÓDIGO COMERCIAL E SUAS IMPLICAÇÕES PRÁTICAS NO CENÁRIO DAS STARTUPS

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Graduação Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Empresarial.

Orientador: Prof. Me. Matias Joaquim Coelho Neto

(3)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca da Faculdade de Direito

B813p Braga, Anderson de Morais.

O projeto de lei do novo código comercial e suas implicações práticas no cenário das startups / Anderson de Morais Braga. – 2016.

60 f.: 30 cm.

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2016.

Orientação: Prof. Me. Matias Joaquim Coelho Neto.

1. Direito privado. 2. Direito empresarial. 3. Direito comercial. I. Título.

(4)

O PROJETO DE LEI DO NOVO CÓDIGO COMERCIAL E SUAS IMPLICAÇÕES PRÁTICAS NO CENÁRIO DAS STARTUPS

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Graduação Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Empresarial.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________ Prof. Me. Matias Joaquim Coelho Neto (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

___________________________________________ Prof. Dr. Felipe Lima Gomes

Universidade Federal do Ceará (UFC)

___________________________________________ Mestranda Letícia Torquato de Menezes

(5)

A Deus, pela expressão de seus desígnios em

minha vida, meu guia, amparo de todas as

horas.

À minha família, base dos meus valores, pelo

(6)

Ao Criador e Arquiteto do Universo, pelo dom da vida e por tornar mais leves os

fardos da longa caminhada em busca da felicidade e do amor pleno. Aos meus pais, Marcos e

Rosemary, pelo esforço em me proporcionar uma boa educação e por me ensinarem que o

verdadeiro valor da vida reside nas pessoas e não nas coisas. A minha irmã, Vanessa, por

dividir comigo todas as alegrias e me ajudar a superar todos os percalços, desde sempre. Ao

meu amor verdadeiro, Erika, por caminhar ao meu lado na busca dos meus sonhos, por seu

companheirismo, afeto e incentivo diário. Aos meus familiares, por torcerem

incondicionalmente pelo meu sucesso. Aos amigos que a Academia me deu a oportunidade de

conhecer, principalmente aqueles que, entendendo minha limitação de tempo em razão da

dedicação a outros sonhos, me ajudaram e incentivaram a concluir o curso de Direito. Ao

estimado amigo livreiro, Jothe, por proporcionar momentos de descontração e amenidades em

seu santuário literário. Aos excelentes profissionais que tive a honra de conhecer enquanto

estagiário, em especial Raphael, Janaína e Bruno, por me mostrarem que o exercício da

advocacia pode ser fascinante quando exercida com honestidade, humanidade e conhecimento

técnico. Ao professor e orientador Matias Joaquim Coelho Neto, pelo paciência, atenção e

empenho empregados na orientação desse trabalho e na investida que nos sagrou vencedores

(7)

“Sonhe grande, pois ter sonhos grandes ou

sonhos pequenos dão o mesmo trabalho.”

(8)

O presente trabalho analisa à luz dos projetos de lei nº 1.572/2011 da Câmara dos Deputados e nº 487/2013 do Senado Federal, as implicações práticas que a vigência de um Novo Código Brasileiro Comercial trará ao Direito Empresarial brasileiro, em especial, no que toca o funcionamento das startups. Para tanto, se fez necessário uma análise doutrinária, legal e constitucional sobre o aludido assunto. Desta forma, o estudo se inicia com uma recapitulação histórica da gênese do Direito Comercial no mundo e no Brasil bem como a sua evolução ao longo dos anos. Posteriormente, são conceituadas as startups e se discute a sua relevância no atual cenário econômico global. Adiante, busca-se também entender os desafios do desenvolvimento dessas empresas por conta da limitação e burocracia da atual ordenamento, bem como apontar como o ordenamento poderá evoluir para beneficiar as empresas brasileiras e, assim, possibilitar uma maior taxa de sucesso aos empreendimentos nacionais.

(9)

This academic paper is focused at analyzing the practical implications that the term of a new Brazilian Commercial Code will bring to the Brazilian Corporate Law, in particular about the operational aspects of startups, based on the light of Nationals Laws No. 1572/2011 (House of Representatives/Câmara dos Deputados) and No. 487/2013 (Senate/Senado). Therefore, it was necessary to appreciate the doctrinal, legal and constitutional analysis to the aforementioned subject. The study begins with a historical review of the genesis of Commercial Law in the world and in Brazil, as well as their evolution over the years. Subsequently, the startups are reputable and their relevance in the current global economic scenario is discussed. Moreover, the paper details the understand about the challenges in development of those companies due between the limitation and bureaucracy of the current system, as well as point out how the land could evolve to benefit Brazilian companies and, consequently, enable a greater success rate to domestic enterprises.

(10)

1. INTRODUÇÃO ... 10

2. O SISTEMA JURÍDICO EMPRESARIAL BRASILEIRO ATUAL E SUAS PARTICULARIDADES ... 12

2.1. Evolução histórica do Direito Comercial no Mundo ... 12

2.2. Evolução do Direito Comercial no Brasil ... 16

2.3. O Código Civil de 2002 e a autonomia do Direito Comercial ... 18

2.4. Do Direito Comercial ao Direito Empresarial ... 20

2.5. O Código Comercial pátrio: peculiaridades e aplicabilidade ... 21

3. AS STARTUPS E SUA RELEVÂNCIA NO ATUAL PANORAMA NACIONAL E INTERNACIONAL ... 23

3.1. Evolução da Economia Mundial: inovação, empreendedorismo e novos formatos empresariais ... 25

3.2. Delimitação conceitual das startups ... 27

3.3. Startups no Brasil ... 29

3.4. Direito das Startups ... 31

3.5. Principais entraves jurídicos ao desenvolvimento das startups brasileiras. ... 33

3.5.1. Inadequação do ordenamento por falta de compatibilização com novos instrumentos ... 33

3.5.2. Burocracia nos processos de abertura e fechamento de empresas ... 34

3.5.3. Inexistência de um regime tributário específico para as startups ... 35

3.5.4. Fragilidade da proteção da propriedade industrial ... 37

4. O ADVENTO DO NOVO CÓDIGO COMERCIAL BRASILEIRO E SUA RELAÇÃO COM AS STARTUPS: EFEITOS PRÁTICOS DO FUTURO ORDENAMENTO ... 39

4.1. A necessidade de um Novo Código Comercial ... 39

4.2. Os projetos do Novo Código Comercial Brasileiro ... 43

4.2.1. Projeto de Lei nº 1.572/2011 ... 44

4.2.2. Projeto de Lei nº 487/2013 ... 46

4.3. Análise da alteração legislativa e a implicação prática nos cenários das startups ... 49

4.3.1. Desburocratização na abertura e fechamento de empresas ... 50

4.3.2. Regulamentação do comércio eletrônico entre empresas ... 50

4.3.3. Virtualização das obrigações empresariais e dos títulos de crédito ... 51

4.3.4. A regulamentação de novos formatos de contratos empresariais ... 52

4.3.5. A melhoria do ambiente negocial brasileiro ... 52

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 54

(11)

1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas a sociedade mundial passou por sucessivas transformações,

haja vista a propagação das inovações tecnológicas resultantes das diversas Revoluções

Industriais.

Com a difusão do uso da internet e o surgimento da rede mundial de

computadores, no início da década de 90, aumentou-se a facilidade de comunicação e

intensificou-se o fluxo de informações trocadas internacionalmente.

Por consequência, as fronteiras entre os mercados nacionais foram eliminadas, o

que fez despontar um novo horizonte econômico fundado na globalização.

Essa atual fase da economia mundial deu origem a inúmeras oportunidades de

negócios que, hoje, são exploradas por novos padrões de empresa marcados por inovações de

tecnologia e de gestão.

Essas modernas empresas de base tecnológica, com modelos de negócio repetíveis

e escaláveis, passaram a liderar a lista das maiores e mais lucrativas corporações do mundo e

a ditar o ritmo da economia mundial, sendo denominadas de startups.

O ingresso desses atores no cenário econômico global forçou uma adaptação não

só das ciências econômicas, com a reformulação de suas teorias, mas também da ciência

jurídica, com a reforma dos ordenamentos jurídicos nacionais e dos princípios de direito

internacional, a fim de adaptá-los a essa nova realidade da atividade empresarial, globalizada

e informacional por essência.

Na intenção de suprir essa necessidade de adaptação do ordenamento brasileiro a

hodierna realidade econômica, foram concebidos os projetos que visam dar origem ao Novo

Código Comercial pátrio, os quais tramitam nas casas legislativas por meio do Projeto de Lei

nº 1.572/2011 da Câmara dos Deputados, de autoria do Deputado Vicente Candido, e pelo

Projeto de Lei nº 487/2013 do Senado Federal, de iniciativa do Senador Renan Calheiros.

Com redações bastante similares, a priori, as propostas legislativas têm entre seus

objetivos a enunciação pelo direito positivo dos princípios do direito comercial que, segundo

entendimento de parte da doutrina, contribuirá com a desburocratização e modernização da

(12)

Ademais, a promulgação dessa nova codificação conferirá maior previsibilidade

às decisões judiciais que versam sobre conflitos decorrentes das relações empresariais, de

modo a garantir a segurança jurídica e a praticidade necessária ao exercício das empresas

modernas.

Destarte, o objetivo do presente trabalho é analisar à luz dos referidos projetos de

lei, as implicações práticas que a vigência desse novo ordenamento jurídico trará ao Direito

Empresarial brasileiro, em especial, no que toca o funcionamento das startups.

Assim, o primeiro capítulo dedica-se à recapitulação histórica do surgimento do

Direito Comercial no mundo e no Brasil e sua evolução ao longo dos anos, abordando os

principais aspectos quanto à sua autonomia frente ao Direito Civil e a nova nomenclatura

utilizada para denominar esse ramo do Direito.

Superada essa análise histórica, no segundo capítulo, as startups são conceituadas

bem como é discutido sobre a relevância delas no atual panorama econômico nacional e

internacional. Adiante, busca-se também entender o “Direito das Startups” e os desafios do

desenvolvimento dessas empresas por conta da limitação e burocracia da atual ordenamento.

No último capítulo, inicialmente, é forjada uma análise alicerçada na opinião de

doutrinadores e advogados empresariais militantes com a finalidade de entender a necessidade

da aprovação de um Novo Código Comercial.

Em seguida, são analisados o Projeto de Lei nº 1.572/2011, da Câmara dos

Deputados e o Projeto de Lei nº 487/2013, do Senado Federal, abordando seus objetivos e os

aspectos mais relevantes de cada projeto.

Por fim, são delimitadas as implicações práticas dessa evolução legislativa e o

impacto que trará a atividade empresarial, em especial às startups, apontando ainda como o

ordenamento poderá evoluir para beneficiar as empresas brasileiras e, assim, possibilitar uma

(13)

2. O SISTEMA JURÍDICO EMPRESARIAL BRASILEIRO ATUAL E SUAS PARTICULARIDADES

A fim de proporcionar um entendimento mais amplo sobre a evolução do Direito

Comercial até o atual Direito Empresarial, primeiramente, reporta-se ao passado para

entender a história desse ramo jurídico, sua gênese, sua evolução e, principalmente, as teorias que fundamentaram.

2.1. Evolução histórica do Direito Comercial no Mundo

Não é de hoje que existe a necessidade de regulamentação do comércio. Desde o

início das transações comerciais, que surgiram na antiguidade através do escambo e se

desenvolveram rapidamente após a criação da moeda, procura-se regulamentar as atividades

comerciais por meio da edição de leis.

Alguns registros da Idade Antiga já evidenciavam a existência de tentativas das

primeiras civilizações em normatizar a atividade comercial, como se pode constatar através da

leitura do famoso Código de Hamurabi, do Código de Manu e até mesmo de algumas

passagens dos livros religiosos, como a Bíblia e o Alcorão1.

Embora essa intenção de regulamentar às práticas comerciais seja bastante antiga,

as leis eram dispersas e não embasavam a existência de um Direito Comercial autônomo, com

princípios, regras e institutos próprios2.

Somente na Idade Média, com a formação das cidades (burgos) e o consequente

incremento do comércio realizado nas feiras ocasionadas pela intensificação das navegações

mercantis, é que se pode falar do surgimento do Direito Comercial enquanto sistema3.

Destarte, pode-se considerar que a consolidação do Direito Comercial se

subdivide em três períodos principais, sendo eles: i) a fase das corporações de ofício; ii) fase

da teoria dos atos de comércio; e iii) fase da teoria da empresa.

1

RODRIGUES, Luiz Antônio Barroso. Direito Empresarial. 2 ed. Florianópolis: UFSC. 2012, p. 16-17.

2

ALEJARRA, Luis Eduardo Oliveira. História e evolução do Direito Empresarial. Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 15 mar. 2013. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.42489&seo=1>. Acesso em: 30 dez. 2015.

3

MARTINS, Fran Martins. Curso de Direito Comercial. 35ª Edição. Rio de Janeiro: Forense. 2012. p. 6.

2

ALEJARRA, Luis Eduardo Oliveira. História e evolução do Direito Empresarial. Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 15 mar. 2013. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.42489&seo=1>. Acesso em: 30 dez. 2015.

3

(14)

No primeiro período, denominado fase das corporações de ofício, os comerciantes

se uniram em uma entidade de classe, as corporações de comerciantes, e constituíram

jurisdições próprias, de forma fragmentária, baseado nos usos e costumes mercantis da época,

possuindo eficácia restrita somente aos comerciantes que eram associados às corporações.

O jurista Fábio Ulhôa Coelho4 define essa primeira fase do Direito Comercial

como:

No primeiro [período], entre a segunda metade do século XII e a segunda do XVI, o direito comercial é o direito aplicável aos integrantes de uma específica corporação de ofício, a dos comerciantes. Adota-se, assim, um critério subjetivo para definir seu âmbito de incidência.

Assim, percebe-se que os comerciantes da Idade Média não só elaboravam suas

próprias leis, como também estavam submetidos à sua própria jurisdição, conforme evidencia

em sua obra Rubens Requião5:

É nessa fase histórica que começa a se cristalizar o direito comercial, deduzindo das regras corporativas e, sobretudo, dos assentos jurisprudenciais das decisões dos cônsules, juízes designados pela corporação, para, em seu âmbito, dirimirem as disputas entre comerciantes.

No transcorrer do tempo, a formação dos Estados Nacionais Monárquicos e a

centralização do poder jurisdicional na mão do Estado fez com que o Direito Comercial

passasse a tratar também das demandas entre comerciantes e não-comerciantes, o que fez

surgir a necessidade de delimitar a abrangência da matéria de comércio, a fim de melhor

identificar o âmbito de incidência do direito comercial.

Esse movimento deu início ao segundo período do Direito Comercial,

denominado fase da teoria dos atos de comércio. Tal fase tem como norteadora a codificação

napoleônica, com o Código Civil, em 1804, e o Código Mercantil (Code de Commerce), em

1808.

Uma vez que não mais se levava em conta o sujeito, o comerciante associado a

alguma corporação de ofício, mas o objeto em si, o ato de comércio, passou a ser adotado o

conceito objetivista da teoria dos atos de comércio para determinar a abrangência da tutela do

Direito Comercial. Os atos do comércio eram classificados de maneira enumerativa e

descritiva, porém, eles não eram cristalinamente determinados, pois se prendiam as relações

da vida civil, sendo difícil a tarefa de caracterizá-los.

4

COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de direito comercial, volume 1: Direito de Empresa.. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 29

5

(15)

Nesse sentido, manifesta-se Elizabeth Vido 6:

O segundo grande momento do desenvolvimento do Direito Comercial acontece com o Estados Nacionais e com a centralização do poder político nas mãos do monarca. Nesse período o direito comercial é definido por um critério objetivista proveniente do Código Francês de 1808, que adota a teoria dos atos do comércio, ou seja, o comerciante é quem pratica determinado ato definido na lei como ato típico da atividade comercial.

Portanto, houve o abandono do subjetivismo característico do primeiro período, o

que pôs fim ao corporativismo, passando a adotar o objetivismo dos atos legais na busca de

proporcionar uma ampla ordem comercial e um direito mais abrangente. Logo, o que se

levava em consideração para julgamento de determinada lide envolvendo assuntos comerciais,

não eram mais as partes em si, mas a conduta de cada parte e se estava em concordância com

o elencado nas normas delimitadoras da teoria dos atos de comércio.

Segundo Fábio Ulhoa7, a teoria dos atos de comércio exerceu grande influência

em grande parte dos países ocidentais, principalmente os de língua latina, servindo de base

para construção de seus ordenamentos pátrios, ficando de fora da sua zona de interferência

somente a Alemanha e os países da Common Law.

Acontece que a atividade econômica, seja comercial ou empresarial, está em

constante modificação, visto que é produto da expressão cultural e social no tempo. No

começo do século XX, em meio a discussão da reforma do Código Comercial Italiano,

passou-se a indagar se o Direito Comercial em vigor na moderno deveria ser conservado ou

se poderia ser unificado com o restante das normas de direito privado, para uma maior

adequação das relações sociais que ele regulava e da estrutura e da natureza das normas

jurídicas a realidade da época.

De acordo com Tomazette8, essa discussão tinha como objetivo constatar se a

teoria dos atos de comércio era coadunável com as relações jurídicas que estavam sendo

tratadas, uma vez que ela deixava de considerar algumas atividades econômicas de grande

relevância econômica, como a prestação de serviço. Essas atividades, apesar de gerar lucro e

serem motores da economia, não encontravam guarida nas disposições comerciais e sim nas

normas do Direito Civil.

6

VIDO, Elisabete. Prática empresarial. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2014. p. 24 7

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: Direito de Empresa.. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 31

8

(16)

Com a promulgação do Código Civil Italiano (Codice Civile) de 1942, tem início

o terceiro período do Direito Comercial, ainda vigente nos tempos atuais, chamado de fase da

Teoria da Empresa. Segundo essa teoria, a proteção do Direito Comercial decorre não da

status de comerciante, nem em razão da ocorrência ou não de um ato específico elencado em

um rol taxativo, mas sim em virtude da caracterização ou não da atividade como empresarial.

Nessa perspectiva conclui Fabio Ulhoa9, que “o núcleo conceitual do Direito

Comercial deixa de ser o ‘ato de comércio’ e passa a ser a ‘empresa’ ”.

Com relação a delimitação conceitual de empresa, o renomado doutrinador

italiano Alberto Asquini10, ao conceber a famosa Teoria Poliédrica da Empresa ou dos Perfis

da Empresa, defende a inexistência de um conceito unitário de empresa e afirma que esta

pode ser estudada por vários ângulos ou perfis, sendo eles: subjetivo, funcional, patrimonial e

corporativo. Assim, no seu entender os sistema jurídico italiano ao adotar a Teoria da

Empresa contemplou todos esses perfis em suas normas.

De todos os perfis apresentados por Asquini, o funcional, no qual identifica-se a

empresa à própria atividade, é o que recebe maior acolhimento por parte da doutrina e dos

legisladores pátrios. A empresa vista por esse filtro, corresponde à atividade econômica

organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços.

Esse sistema normativo italiano, sumariado na Teoria da Empresa, acabou por

suplantar o sistema francês, embasado na Teoria dos Atos de Comércio, e a nova visão

trazida por ele ao direito comercial passou a influenciar a legislação vigente em todo mundo,

incluindo a brasileira, sendo considerada por grande parte da doutrina como a sistemática

mais coesa e apropriada para regulamentar as atividades econômicas.

Diante desta abordagem evolutiva do direito comercial, conclui-se que a

disciplina do Direito Comercial, por ser fruto da expressão da atividade econômica no tempo,

é influenciada diretamente pelos costumes vigentes e, por isso, carece de revisão com o passar

do tempo a fim de atualizar suas normas e compatibilizá-las com a realidade contemporânea.

9

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: Direito de Empresa.. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 35

10

(17)

2.2.Evolução do Direito Comercial no Brasil

Entendido o percurso evolutivo da disciplina empresarial no mundo, faz-se

necessário um recorte mais cirúrgico, agora da evolução do Direito Empresarial no Brasil, a

fim de entender a situação atual do ordenamento pátrio.

A história do descobrimento Brasil é marcada pela existência do Pacto Colonial,

imposto por Portugal, e pelos ciclos de exploração do pau brasil do ouro. Conforme aponta

Luiz Antônio Barroso11:

Nesse tempo vigorava o Pacto Colonial imposto pela metrópole à colônia, o qual estabelecia as regras mercantis então vigentes (1500 a 1808). Caracterizado por ciclos de exploração, como o do pau-brasil, o do açúcar e o do ouro, tudo que era explorado e/ou produzido e comercializado na colônia passava pela prévia autorização e rigorosa fiscalização da metrópole.

A partir da descoberta do Brasil pelos portugueses em 1500, as relações jurídicas

no Brasil passaram a ser regidas pela legislação de Portugal, vigorando a época as Ordenações

do Reino ou Ordenações Filipinas, marcadas pela forte influência do Direito Canônico e

Romano.

Somente três séculos depois, em 1808, com fuga da corte portuguesa para Brasil,

motivada pela invasão de Portugal durante a expansão do Império Napoleônico, foi que esse

cenário começou a se modificar, em decorrência das profundas transformações que

aconteceram na economia colonial em razão desses acontecimentos.

Na condição de sede provisória da Coroa, forçou-se a abertura dos portos às

nações amigas, decretada com a Carta Régia de 180812, e outras medidas de caráter

econômico, com destaque à criação da Real Junta de Comercial e do Banco do Brasil. Logo,

houve um incremento vertiginoso da atividade comercial nas terras tupiniquins, fazendo

surgir a necessidade da modernização das práticas comerciais no Brasil e consequentemente

do Direito Comercial que as regulamentava.

Após a proclamação da Independência, em 1832, o jovem império, não satisfeito

com a utilização de uma legislação estrangeira e sedento por um novo codex pátrio, nomeou

uma comissão composta por grandes comerciantes nacionais a fim de elaborar o projeto da

11

RODRIGUES, Luiz Antônio Barroso. Direito Empresarial. 2 ed. Florianópolis: UFSC. 2012, p. 20.

12

(18)

codificação, que por meio da Lei 556 de 25 de junho de 1850, foi aprovado e promulgado.13

O Código Comercial Brasileiro, assim como a maioria dos códigos editados no

século XIX, filiou-se à teoria francesa dos atos de comércio e definiu o comerciante como

aquele que exercia atos de mercancia de como sua profissão forma habitual. Entretanto, o

dispositivo foi omisso quanto ao conceito de atos de mercancia, omissão que fora sanada com

a publicação do Regulamento nº 737 de 185014, que em seu artigo 19 baseado também no

Código Francês, definiu em um rol enumerativo os atos considerados de comércio.

Esses conceitos elencados no Regulamento nº 737 foram utilizados até mesmo

depois de sua revogação em 1875, caindo em desuso somente após a década de 60, com a

aproximação do direito brasileiro ao direito italiano a o início da reforma do direito

obrigacional.

Após a edição do Código Civil Italiano em 1942, acompanhando a tendência de

outros ordenamentos internacionais, o Brasil adere à Teoria da Empresa. Essa teoria foi

positivada no Código Civil de 200215, que derrogou grande parte do Código Comercial de

1850, restando vigente somente as normas relativas a disciplina do Direito Marítimo16.

Nesse sentido, conclui Barroso17:

Em 2002, com a entrada em vigor do Código Civil brasileiro, ocorre a total transição da Teoria Objetiva (francesa) para a Teoria de Empresa (italiana) revogando grande parte do Código Comercial brasileiro e unificando, ainda que no plano formal, o direito privado nacional (direito civil e comercial).

Assim, com o Código Civil de 2002, dá-se início da nova conjuntura do Direito

Comercial ou Empresarial brasileiro, com a volta da aplicação do caráter subjetivo, agora

alicerçado na Teoria da Empresa, passando a tutelar a figura do empresário, que conforme

estabelecido nessa codificação no artigo 96618, é aquele que exerce como profissão atividade

13

GARCIA, Ayrton Sanches. Noções históricas de Direito Comercial. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, II, n.

4, fev 2001. Disponível em:

<http://ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2059>. Acesso em jan 2016.

14

Decreto nº 737 de 25 de Novembro de 1850. “Art. 19. Considera-se mercancia:§ 1º A compra e venda ou troca de effeitos moveis ou semoventes para os vender por grosso ou a retalho, na mesma especie ou manufacturados, ou para alugar o seu uso. § 2º As operações de cambio, banco e corretagem. § 3º As emprezas de fabricas; de com missões ; de depositos ; de expedição, consignação e transporte de mercadorias; de espectaculos publicos. § 4.º Os seguros, fretamentos, risco, e quaesquer contratos relativos ao cornmercio maritimo.§ 5. º A armação e expedição de navios.”

15

BRASIL. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

16

MARTINS, Fran. Curso de direito comercial / Atual. Carlos Henrique Abrão – 37. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2014. p.85

17

RODRIGUES, Luiz Antônio Barroso. Direito Empresarial. 2 ed. Florianópolis: UFSC. 2012, p. 22.

18

(19)

empresarial, voltada para a produção e circulação de bens e serviços.

2.3.O Código Civil de 2002 e a autonomia do Direito Comercial

Como fora mencionado, o Código Civil de 2002, atendendo aos anseios

doutrinários e jurisprudenciais, adotou a Teoria da Empresa italiana, em seu Livro II - Do

Direito de Empresa. Com o novo diploma legal, mudou o foco do Direito Comercial brasileiro,

ganhando importância o estudo da empresa, e deixando para trás o estudo dos atos de

comércio.

Além disso, pode-se dizer que a edição do novel instrumento representou uma

importante transformação em nosso direito comercial, ao passo que ele passou a figurar como

uma das mais importantes fontes do direito empresarial, juntamente com outras leis que

disciplinam matérias específicas, as quais a doutrina denomina de leis esparsas, como a Lei de

Recuperações e Falências19, a Lei das Sociedades Anônimas20, a Lei do Cheque21, a Lei da

Propriedade Industrial22, entre outras.

Com todas essas mudanças trazidas por essa reforma legislativa, houve quem

defendesse a ideia de unificação do Direito Privado no Brasil, com a incorporação pelo

Direito Civil do Direito Comercial, conforme relata André Luiz Santa Cruz Ramos:

É bem verdade que a partir de certo momento a doutrina a doutrina passou a discutir, com certa ênfase, a tese de unificação do Direito Privado, a qual partia, fundamentalmente, da ideia de que a separação entre o direito civil e o direito comercial não passava de um mero fenômeno histórico já superado, ligado sobretudo ao surgimento e desenvolvimento do capitalismo. A unificação representaria, para os defensores dessa tese, a demonstração inequívoca da evolução do direito privado e da sua adaptação a nova realidade, representando, em definitivo, o fim do direito comercial como ramo autônomo.

Não obstante, com a criação de um Código dispondo de matéria civil e comercial,

houve apenas uma unificação legislativa, sem fazer que o Direito Comercial ou Empresarial

tivesse sua autonomia destituída. Defendendo que o Direito Civil e do Direito Comercial

disciplinam objetos distintos, Santa Cruz Ramos afirma que “a suposta unificação, conforme

vimos, operou-se somente num plano estritamente formal”, e conclui:

exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.

19

BRASIL. Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Dispõe sobre a lei de falência e recuperação judicial e extrajudicial.

20

BRASIL. Lei 6.404, de 15 de setembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.

21

BRASIL. Lei 7.357, de 2 de setembro de 1985. Dispõe sobre o cheque e dá outras providências.

22

(20)

Assim, pode-se dizer que cabe ao direito civil, como bem destacava o art. 1º do Código Civil de 1916, a disciplina geral dos direitos e obrigações de ordem privada concernentes às pessoas, aos bens e às pessoas, aos bens e às suas relações, sendo, ademais, fonte normativa subsidiária para os demais ramos do direito. Já o direito comercial cabe, por outro lado, a disciplina especial dos direitos e obrigações de ordem privada concernentes às atividades econômicas organizadas (antes: atos de comércio; hoje: empresas).

Nesse mesmo sentido, em seu artigo intitulado “Evolução do Direito Comercial:

seu conteúdo, seu objeto e sua autonomia”, posiciona-se professor Gustavo Ribeiro Rocha:

Ademais, o Direito Civil não é o Código Civil; e o Direito Comercial/Empresarial continuaria autônomo, ainda que suas normas estivessem contidas em um único Código, junto com as normas do Direito Civil, pois há enorme diferença de métodos entre o Direito Civil e o Comercial/Empresarial. Neste prevalece o método indutivo, de proposição geral, regulando os negócios em massa, ao passo que naquele, o dedutivo, que parte de fatos ou princípios, ocupando-se de atos isolados.

Assim, para ele:

Não se pode, pois, falar em unificação do Direito Privado ou perda da autonomia do Direito Comercial/Empresarial. Mesmo porque essa unificação legislativa abrange só uma pequena parte da matéria Empresarial, a que se chamou Direito de Empresa. A divisão do Direito Privado continua presente. E, mesmo em países em que se adota a Teoria da Empresa e a unificação legislativa, como na Espanha e na Itália, o Direito Comercial não perdeu sua autonomia.

Sem embargo, a própria Constituição Federal de 1988, no artigo23 que trata das

matérias de competência legislativa privativa da União, trata separadamente o Direito Civil

do Comercial. Além de se evidenciar, com o passar do tempo, a influência que o Direito

Comercial vem exercendo sobre o campo civil, como podemos citar no caso do instituto do

“bem de família” que teve sua origem no seio da disciplina mercantil.

Portanto, dizer que o direito comercial perdeu sua autonomia jurídica por causa do

advento do novo Código Civil é ignorar que, majoritariamente, o seu objeto de regulação

(recuperação de empresas e falências, títulos de créditos, propriedade industrial, direito

societário, contratos empresariais, etc.) continua vivo e sem alteração do ponto de vista

científico, visto que alterações legislativas de específicos tópicos regulados não modificam a

estrutura científica de um ramo do direito.24

23

CF/88: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (grifou-se)

24

(21)

2.4. Do Direito Comercial ao Direito Empresarial

Como restou demonstrado, as modificações ocorridas decorrentes da Teoria da

Empresa fizeram morrer a Teoria dos Atos de Comércio, e com ela o próprio Direito

Comercial baseado no elemento “troca”. O sujeito deixou de ser o centro deste ramo do

direito e deu lugar a inserção da atividade empresarial, esta voltada para a produção de

riqueza, que de forma organizada, produz ou circula bens ou serviços.

A adoção dessa nova teoria propiciou, também, uma melhor sistematização do

antigo Direito Comercial. A empresa passou a ser o centro do Direito Empresarial,

aumentando assim a abrangência da sua tutela que, agora, atinge não só a figura do

comerciante ou de quem prática atos de comércio mas toda atividade economicamente

organizada, com o fim de lucro, incluindo atividades de enorme relevância ao cenário

econômico que anteriormente eram desprezadas, como a prestação de serviços.

Com isso, grande parte da doutrina passou a denominar esse ramo do direito, que

se destina ao estudo das empresas, como Direito Empresarial.

Nesse sentido entende a professora Elizabeth Vido25:

A nomenclatura “Direito Empresarial” se mostra mais adequada do que simplesmente “Direito Comercial”, pois a preocupação da disciplina não está apenas na atividade de intermediação de mercadorias, mas também na produção e na prestação de serviços.

Já o posicionamento de André Luiz Santa Cruz Ramos26, em seu artigo intitulado

“Direito comercial ou direito empresarial? Notas sobre a evolução histórica do ius

mercatorum”, é que:

Hodiernamente, portanto, o direito comercial não cuida apenas do comércio, mas de toda e qualquer atividade econômica exercida com profissionalismo, intuito lucrativo e finalidade de produzir ou fazer circular bens ou serviços. Dito de outra forma: o direito comercial, hoje, cuida das relações empresariais, e por isso alguns têm sustentado que, diante dessa nova realidade, melhor seria usar a expressão direito empresarial.

Assim, pode-se concluir que o trânsito entre a teoria dos atos de comércio e a

teoria da empresa representou muito mais do que a alteração da nomenclatura, de direito

25

VIDO, Elisabete. Prática empresarial. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p.24

26

(22)

comercial para direito empresarial, mudou-se a estrutura interna do ramo do direito analisado,

tornando-a mais ampla e concatenada com a moderna estrutura negocial.

2.5.O Código Comercial pátrio: peculiaridades e aplicabilidade

De acordo com o que foi visto na evolução do direito brasileiro, logo após

proclamação da República foi dado início ao processo legislativo que, depois de tramitar por

cerca de 15 anos, culminou com a promulgação da lei n° 556, de 25 de junho de 1850, que

instituiu o primeiro e único Código Comercial Brasileiro, até hoje parcialmente vigente.

O Código Comercial brasileiro de 1850, foi editado com no Códigos de Comércio

de Portugal, da França e da Espanha, com forte influência do Código Comercial Napoleônico

de 1808, ou seja, todos filiados a Teoria dos Atos de Comércio.

O codex foi dividido em três partes: a primeira “Do comércio em geral”, tratava

da disciplina legal das atividades comerciais, a segunda “Do comércio marítimo” cuidava dos

tópicos de relacionados ao Direito Marítimo e, por fim, a terceira parte “Das quebras”

disciplinava a falência e a extinta concordata dos estabelecimentos comerciais.

O diploma mostrava-se bastante confuso, sendo necessário a edição de

regulamentos posteriores a fim de suprir lacunas existentes, dentre elas, a delimitação

conceitual dos atos de comércio, de fundamental importância para a consolidação do

ordenamento visto que era a base para definir quem eram os amparados por ele.

Com a promulgação da antiga Lei de Falências27, Decreto Lei nº 7.661/45 de 21

de junho de 1945, a parte terceira “Das quebras” foi revogada. Posteriormente, em 2005,

antiga Lei de Falências foi a substituída pela moderna Lei de Recuperação de Empresas28.

Finalmente, com a promulgação do novo Código Civil brasileiro no dia 10 janeiro

de 2002, que trouxe em seu Livro II (Do direito da empresa) conteúdo de matéria comercial, a

exemplo do que ocorreu na Itália com edição do código civil em 1942.

Esse novo Código revogou expressamente o Código Civil de 191629 e a parte

primeira do Código Comercial, “Do comércio em geral”. Com isso, restou em vigor somente

27

BRASIL. Decreto Lei nº 7.661 de 21 de junho de 1945. Lei de Falências. 28

BRASIL. Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária.

29

(23)

a parte segunda do Código Comercial, destinada a regulamentar o direito do comércio

marítimo.

Isto posto, conclui-se que o atual Código Comercial Brasileiro, além de

fundamentado em uma legislação com mais de 200 anos, encontra-se quase inteiramente

esvaziado pelo Código Civil de 2002 e por outras leis esparsas, sendo aplicáveis ainda hoje

(24)

3. AS STARTUPS E SUA RELEVÂNCIA NO ATUAL PANORAMA NACIONAL E INTERNACIONAL

A economia mundial está em evolução contínua. No último século, as

transformações no cenário econômico aconteceram em uma velocidade ainda mais rápida,

resultado das revoluções industriais que trouxeram avanços tecnológicos e o aprimoramento

dos meios de produção de riqueza30 .

Fruto de todas essas revoluções, em especial da Terceira Revolução Industrial ou

Revolução tecnocientífica, na década de 90, nasce um novo paradigma

produtivo-tecnológico31, assentado na indústria das Tecnologias das Informações e Comunicações

(TIC’s), que elimina as fronteiras entre os mercados nacionais e dá inicio a um novo horizonte

econômico globalizado.

Esse terreno fértil fez aflorar a cultura da inovação ao redor do mundo, surgindo

grandes distritos ou clusters de inovação na Itália, União Europeia, China, Irlanda e, o mais

importante, o Vale do Silício na Califórnia32.

Com isso, houve uma valorização da iniciativa empreendedora e o surgimento de

novos formatos de empresa, que tem como base as inovações tecnológicas e o uso de novos

métodos de gestão. Dentre eles, as startups33, modernas empresas de base tecnológica, com

modelos de negócios repetíveis e escaláveis.

Essas companhias passaram a liderar a lista das maiores e mais lucrativas

corporações do mundo e a ditar o ritmo da economia global, passando a exercer papel

fundamental no fluxo de capital contemporâneo. Entre elas, podemos citar: Facebook34,

30

GALVAO, Olímpio J. de Arroxelas. Globalização e mudanças na configuração espacial: da economia mundial: uma visão panorâmica das últimas décadas. Rev. econ. contemp., Rio de Janeiro , v. 11, n. 1, p. 61-97, Abr. 2007 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-98482007000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 03 Jan. 2016.

31

FARAH JR, Moisés Francisco. A terceira revolução industrial e o novo paradigma produtivo: algumas considerações sobre o desenvolvimento industrial brasileiro nos anos 90. Revista FAE, Curitiba, v. 3, n. 2, p.

45-61, 2000. Disponível em:

http://www.fae.edu/publicacoes/pdf/revista_da_fae/fae_v3_n2/a_terceira_revolucao_industrial.pdf. Acesso em: 03 Jan. 2016.

32

ALVES, Fábia Santos. Um estudo das startups no Brasil. – Salvador, 2013. p.29-32 Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/15395/1/F%C3%81BIA%20SANTOS%20ALVES.pdf. Acesso em: 02 Jan. 2016.

33

COMPANHIA STARTUP. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2015. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Companhia_startup&oldid=43110983>. Acesso em: 1 jan. 2016.

34

(25)

Instagram35, Whatsapp36, Uber37, Airbnb38, Netflix39, Dropbox40 entre outras, muitas das quais

fazem parte do cotidiano de milhões de pessoas em todo o mundo.

No Brasil, o movimento das startups se desenvolveu mais tardiamente, apesar de

se terem notícias de algumas empresas surgidas na década de 90. Somente por volta dos anos

2000, com a “bolha das ponto com”41 esse mercado voltou a crescer e, hoje, pode-se dizer que

está em avançada fase de consolidação, inclusive sendo alvo de políticas públicas e possuindo

entidades representativas de amplitude nacional.

Como as mais bem sucedidas startups brasileiras podemos citar: Buscapé42, Easy

Taxi43, iFood44, SambaTech45, Resultados Digitais46 e NuBank47.

Portanto é inegável a relevância das startups no atual panorama econômico

nacional e internacional, porém, conforme pode ser comprovado através da leitura do estudo

“Burocracia nos Negócios: os desafios de um empreendedor no Brasil”48 da Endeavor 49, no

Brasil ainda existem inúmeros desafios para o desenvolvimento e sucesso dessas empresas

por conta da limitação do ordenamento nacional e da burocracia da máquina pública.

35

Instagram é uma rede social online de compartilhamento de foto e vídeo que permite aos seus usuários tirar fotos e vídeos, aplicar filtros digitais e compartilhá-los em uma variedade de serviços de redes sociais.

36

WhatsApp Messenger, é um aplicativo multiplataforma de mensagens instantâneas e chamadas de voz para smartphones com cerca de 900 milhões de usuários no mundo.

37

Uber é uma empresa multinacional americana de transporte privado urbano baseado em tecnologia disruptiva em rede, através de um aplicativo E-hailing que oferece um serviço semelhante ao táxi tradicional, conhecido popularmente como serviços de "carona remunerada".

38

Airbnb é um serviço online comunitário para as pessoas anunciarem, descobrirem e reservarem acomodações.

39

Netlfix é um mundialmente famoso serviço de reprodução online de vídeos por streaming, que atualmente conta com um acervo de dezenas de milhares de títulos do cinema, séries e documentários.

40

Dropbox é um serviço de armazenamento de arquivos em nuvem.

41

A bolha da Internet ou bolha das empresas ponto com foi uma bolha especulativa criada no final da década de 1990, caracterizada por uma forte alta das ações das novas empresas de tecnologia da informação e comunicação (TIC) baseadas na Internet. Essas empresas eram também chamadas "ponto com" (ou "dot com"), devido ao domínio de topo ".com" constante do endereço de muitas delas na rede mundial de computadores.

42

Buscapé é o maior site de comparação de preços e produtos da América Latina.

43

O Easy Taxi é um aplicativo gratuito que conecta passageiros a taxistas de forma rápida, prática e segura.

44

OiFoodé um aplicativo que permite que você consulte a lista de restaurantes com entregas disponíveis para sua localidade e faça seu pedido através do próprio aplicativo.

45

Samba Tech é uma empresa líder na América Latina em soluções para vídeos online, gestão e distribuição profissional de vídeos, tv na internet, vídeo aulas e tv corporativa.

46

Resultados Digitais é uma empresa que tem como objetivo ajudar empresas de todos os portes a entenderem e aproveitarem os benefícios do Marketing Digital, conseguindo assim resultados reais e permanentes para os seus negócios.

47

O Nubank, uma startup brasileira de fintech, serviços financeiros tecnológicos. Atualmente ela oferece um serviço de cartão de crédito com anuidade gratuita e totalmente gerenciável por aplicativos em smartphones e tablets.

48

ENDEAVOR. Burocracia nos Negócios: os desafios de um empreendedor no Brasil. São Paulo. 2015. Disponível em: <http://info.endeavor.org.br/burocracianobrasil> Acesso em: 02 Jan. 2016.

49

(26)

3.1.Evolução da Economia Mundial: inovação, empreendedorismo e novos formatos empresariais

Com a Terceira Revolução Industrial (Revolução Tecno-Científica) e a criação da

rede mundiais de computadores por meio da internet, nas últimas décadas, foram registradas

profundas mutações na natureza das articulações internacionais em variados aspectos: na

velocidade do crescimento do comércio de bens e serviços, no incremento dos fluxos dos

ativos financeiros, na celeridade com que novas tecnologias são criadas e transferidas

internacionalmente, no desenvolvimento de novos e mais eficientes sistemas de comunicações,

transportes, telecomunicações e, principalmente, na transferência e absorção do conhecimento

e da informação.

Segundo Olímpio Galvão50, essas transformações foram importantes para que os

países rumassem a uma nova fase da economia global com a predominância da

interdependência dos mercados internacionais, nesse sentido, discorre:

Todas essas transformações trouxeram implicações extremamente importantes: elas moveram os países em direção a uma economia mundial cada vez mais sem fronteiras, tornando as economias nacionais altamente interdependentes e fazendo os movimentos internacionais de bens, de serviços, de tecnologia, de informações e de conhecimentos muito mais importantes nos dias atuais do que em qualquer outra época da humanidade.

Esse novo paradigma produtivo-tecnológico da economia global, tem como pilar

principal a inovação, motor da economia criativa moderna.

Hebart Melo e Leonardo Leitão51, no “Dicionário Tecnologia e Inovação” editado

pelo Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas do Ceará (SEBRAE-CE),

defendem que a “inovação” pode ser definida como:

Introdução no mercado de produtos, processos, métodos ou sistemas não existentes anteriormente, ou com alguma característica nova e diferente daquela até então em vigor, com fortes repercussões econômicas.

A partir dessa definição, conclui-se que inovação é uma alteração na forma de

desenvolver uma atividade econômica, seja ela produção de bens ou prestação de serviços,

buscando realizá-la de uma maneira inédita com intuito de obter resultados mais eficientes,

50

GALVAO, Olímpio J. de Arroxelas. Globalização e mudanças na configuração espacial: da economia mundial: uma visão panorâmica das últimas décadas. Rev. econ. contemp., Rio de Janeiro , v. 11, n. 1, p. 61-97, Apr. 2007 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-98482007000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 03 Jan. 2016.

51

(27)

seja em relação a custo, tempo, qualidade ou outro aspecto relevante ao sucesso da

empreitada.

Destarte, com a facilidade da transmissão da comunicação, a cultura de inovação

espalhou-se rapidamente pelo mundo, encontrando em diversos países terreno fértil para sua

expressão. Assim, surgiram bolsões de inovação pelo mundo (Itália, União Europeia, China,

Irlanda e, o mais famoso, o Vale do Silício nos Estados Unidos).

Esses distritos ou clusters52 de inovação propiciaram um ambiente competitivo e

repleto de oportunidades para se evoluir um novo modelo de negócio, favorecendo a

disseminação do empreendorismo53.

O estudioso Robert Hisrich e Michael Peters54, no seu livro “Empreendedorismo”,

o definem como “o processo de criar algo diferente e com valor, dedicando tempo e o esforço

necessários, assumindo os riscos financeiros, psicológicos e sociais correspondentes e

recebendo as consequentes recompensas da satisfação econômica e pessoal.”

Já na visão de Hebart Melo e Leonardo Leitão55, o conceito de empreendedorismo

é a “habilidade de tornar uma invenção numa inovação pela combinação, o de diferentes tipos

de conhecimentos, capacidades, habilidades e recursos”.

No início da década de 90, esse incremento da atividade empreendedora

embasado na inovação tecnológica fez surgir novos formatos de empresa. Assim, surgiram, as

startups, modernas empresas de base tecnológica, de rápido crescimento e incertezas,

fundadas em modelos de negócios repetíveis e escaláveis.

Destarte, a mudança no paradigma produtivo tornou a inovação e a produção do

conhecimento fundamentais para que um negócio possa alcançar o sucesso frente aos seus

competidores e as startups se encaixam muito bem a esse novo cenário, visto que inovar é sua

característica mais forte.

52

Um cluster, no mundo da indústria, é uma concentração de empresas que se comunicam por possuírem características semelhantes e coabitarem no mesmo local. Elas colaboram entre si e, assim, tornam-se mais eficientes.

53

PISCOPO, Marcos Roberto. EMPREENDEDORISMO CORPORATIVO E COMPETITIVIDADE EM EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA DOI: 10.5585/rai. v7i1. 254. RAI: revista de administração e inovação, v. 7, n. 1, p. 131-150, 2010.

54

HISRICH, Robert D.; PETERS, Michael P.; SHEPHERD, Dean A. Empreendedorismo. 9ª ed. São Paulo: Bookmann, 2014.

55

(28)

3.2. Delimitação conceitual das startups

O termo Startup é utilizado para denominar o estágio inicial vivido por empresas

nascentes, geralmente associadas ao setor de tecnologia, que buscam investir em produtos,

serviços e modelos de negócios inovadores.

Esse estágio consiste em um intenso período de experimentação no qual as ideias

e premissas da hipótese do negócio são validadas junto ao seu público-alvo, a fim de que os

empreendedores possam fazer as adequações necessárias no produto ou serviço para criar uma

demanda em torno deles e obter o esperado retorno financeiro. Os resultados obtidos com a

validação podem ser positivos ou negativos.

Caso a ideia e o modelo de negócios sejam validados, a startup passa para uma

fase de expansão e estruturação, crescendo em velocidade acelerada, tornando-se, assim uma

empresa de maior tamanho e passa possuir uma estrutura de governança, logo, deixa de ser

uma startup.

Caso a validação retorne um desfecho negativo, a startup passa por adaptações,

chamadas de pivotadas56, repetindo esse ciclo algumas vezes no processo denominado de

iteração, até que se encontre a solução ideal que torne o negócio viável. Caso mesmo após

todas as iterações e pivotadas não se encontre um racional de viabilidade para o negócio, a

empresa deixa de existir.

Partindo para a delimitação conceitual do termo “startup”, nota-se que não é

pacífica, existindo inúmeras visões por parte dos estudiosos e das organizações de fomento

empresarial, de modo que se faz necessário uma analise desses conceitos a fim de extrair as

principais característica desses empreendimentos.

Para Steve Blank57, um dos principais estudiosos das startups, mundialmente

conhecido por sua metodologia de descoberta de clientes:

Uma startup não é uma versão menor de uma grande companhia. Uma startups é uma organização temporária em busca de um modelo de negócio escalável, recorrente e lucrativo.

56

O termo é derivado do inglês to pivot ("mudar" ou "girar") e designa uma mudança radical no rumo do negócio.

57

(29)

Eric Ries58, discípulo de Steve Blank e autor do consagrado livro “A Startup

Enxuta”, que revolucionou o cenário das startups ao formular uma nova estratégia de modelo

de negócios que direciona as companhias startups a alocar seus recursos de forma mais

eficiente, conceitua uma startup como:

(...) uma instituição humana projetada para criar novos produtos e serviços sob condições de extrema incerteza.

Paul Graham, fundador da Y Combinator59 uma das maiores incubadoras do

mundo, trazendo uma outra abordagem conceitual, voltada para a velocidade do crescimento

dessas organizações, defende em seu site pessoal que:

Uma startup é uma empresa concebida para crescer rapidamente. Ser recém-fundada por si só não faz uma empresa uma startup. Também não é necessário para uma startp trabalhar em tecnologia, ou tomar financiamento de risco, ou têm algum tipo de "saída". A única coisa essencial é o crescimento. Todo o resto que nós associamos com startups decorre do crescimento.60

Já para o SEBRAE61, as startups:

(...)são empresas que optam por buscar novos modelos de negócios. Elas têm a importância de representar e refletir a velocidade das mudanças, bem como de influenciar na construção de novos conhecimentos e no desenvolvimento econômico.

Finalizando com um último conceito, para Associação Brasileira de Startup

(ABStartups)62, numa visão mais simplória, o termo significa:

(...) uma empresa de base tecnológica, com um modelo de negócios repetível e escalável, que possui elementos de inovação e trabalha em condições de extrema incerteza.

Seja qual for a definição, ressalvadas as nuances entre elas, nota-se que as

principais características dessas empresas são: o alto potencial de inovação, a velocidade do

seu crescimento, o baixo investimento inicial e adoção de um modelo de negócios repetível e

escalável.

Além disso, ao se analisar os caracteres desses formato empresarial, outros pontos

58

RIES, Eric. A Startup Enxuta (The Lean Startup): Como os empreendedores atuais utilizam a inovação contínua para criar empresas extramamente bem-sucedidas. São Paulo: Lua de Papel, 2012. p. 24

59

Y Combinator é uma Incubadora de empresas e desde sua criação, já "incubou" mais de 800 startups, entre elas os famosos Airbnb e Dropbox.

60

GRAHAM, Paul. Want to start a startup? Get funded by Y Combinator. Disponível em: < http://www.paulgraham.com/growth.html> Acesso em: 02 Jan. 2016.

61

Tradução livre: “A startup is a company designed to grow fast. Being newly founded does not in itself make a company a startup. Nor is it necessary for a startup to work on technology, or take venture funding, or have some sort of "exit." The only essential thing is growth. Everything else we associate with startups follows from growth.”

62

(30)

que merecem destaque são: a relação potencial de crescimento versus investimento inicial e

velocidade de crescimento versus risco. Enquanto as startups, geralmente, possuem um

potencial de crescimento inestimável para um baixo investimento inicial, as empresas

tradicionais possuem potencial de crescimento limitado e um alto investimento. Já em relação

à velocidade crescimento em função do risco, percebemos que as startups tem um

crescimento muito rápido, entretanto o risco também é bastante elevado, enquanto nas

empresas tradicionais o crescimento é lento mas o risco é pequeno.

Isto posto, conclui-se que a diferença básica entre uma empresa tradicional e uma

startup está materializada na ocorrência desses caracteres na estrutura do negócio, que

geralmente está associado a um rápido crescimento e elevado potencial econômico, ladeados

de um risco considerável.

3.3.Startups no Brasil

Embora o novo paradigma produtivo-tecnológico tenha propiciado a rápida

disseminação das startups pelo mundo na década de 90, período caracterizado pela bolha da

internet, no Brasil, o ecossistema dessas empresas nascentes de base tecnológica mostrou

potencial no inicio dos anos 2000, mas só em meados de 2010 passou a ganhar força e atrair

os holofotes da mídia econômica.

Ao que tudo indica, o movimento das startups brasileiras ganhou força por conta

do amadurecimento e do ingresso no setor produtivo da força de trabalho da “Geração Y”63,

também conhecida como geração do milênio ou geração da Internet.

Essa geração teve sua gênese imediatamente após a instauração do domínio da

virtualidade como sistema de interação social, midiática e, em parte, nas relações de trabalho.

Ela se desenvolveu em um ambiente marcado por grandes avanços tecnológicos, prosperidade

econômica, elevado consumo de bens e, principalmente, marcado por um alto índice de

urbanização. Deste modo, pode-se dizer que a geração Y é a primeira nascida no novo mundo

tecnológico, mesmo que embrionário.

Quando essa geração, caracterizada por possuir intimidade com recursos

tecnológicos e ser criativa e inovadora, passou a integrar a faixa da população

63

(31)

economicamente ativa, houve uma propagação desses novos formatos de empresa, ou seja,

das startups.

A partir daí, nota-se um crescimento contínuo e progressivo do número desses

empreendimentos e o aumento de sua relevância no cenário econômico brasileiro. Esse

mercado já movimentou uma soma superior a 1,7 bilhões de reais em investimentos somente

em 2012 e já conta com negócios internacionalmente conhecido, conforme dados da

ABStartups fornecidos ao estudo Startup Beta do SEBRAE64:

O mercado brasileiro de startups conta, atualmente, com mais de 10 mil empresas de inovação tecnológica que levantaram cerca de R$ 1,7 bilhão em 2012 em aporte. Já temos negócios internacionalmente conhecidos e representativos em seus mercados de atuação como, por exemplo: Instagram, Samba Tech, Boobox e Buscapé.

Ademais, nós últimos anos, outros grandes casos de sucesso como o do

gerenciador financeiro pessoal Zero Paper, o do aplicativo de táxis Easy Taxi, o do serviços

de entrega de alimentos iFood, da plataforma de marketing digital RDStation e o do serviços

de cartão de crédito tecnológico NuBank, estão colaborando ainda mais para a consolidação

desse ecossistema de empreendedorismo inovador.

O Brasil também busca se inserir nesse novo paradigma produtivo-tecnológico

por meio de inciativas públicas e privadas de investimento na promoção e criação de

ambientes propícios à geração de conhecimentos e fomento a inovações.

A professora Cristina Lemos65 afirma ser de fundamental importância a

implantação de políticas de promoção à inovação para acompanhar essas mudanças no quadro

econômico mundial, nesse sentido discorre:

O As mudanças que vêm sendo observadas em nível de políticas em alguns países ou regiões do mundo, particularmente naqueles mais desenvolvidos, fora fundamentadas no reconhecimento de como é crucial a formulação de políticas de promoção de inovações no quadro atual. Ainda, baseiam-se na compreensão de que o processo de inovação é um processo de aprendizado interativo, que envolve intensas articulações entre diferentes agentes, requerendo novos formatos organizacionais em redes. Para se estar apto a entrar nessas redes e nesse novo contexto, é fundamental o investimento na capacitação de recursos humanos, responsáveis pela geração de conhecimentos.

Cabe destacar, ainda para países em desenvolvimento como o Brasil, que é necessário que se reconheça, primeiramente, a importância da inovação para capacitar o país a acompanhar as mudanças em curso, possibilitar a maior participação destes no crescimento econômico mundial e contribuir para o seu desenvolvimento econômico e social.

64

SEBRAE. Startup beta Brasil. Disponível em: <http://sebraelikeaboss.com.br/case2014/numeros-gerais/> Acesso em: 02 Jan. 2016.

65

(32)

Dentre as iniciativas públicas brasileiras que buscam apoiar o segmento inovador

da economia podemos citar a criação do programa governamental Startup Brasil66, o

programa SEBRAE Like a Boss e a grande aproximação a esse setor por parte da Associação

Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) e da Agência Brasileira de

Promoção de Exportação e Investimentos (APEX).

Já na iniciativa privada, além da atuação de agentes interacionais, como a UP

Global67 e a Endeavor, e nacionais, como a Anjos do Brasil68 e ABStartups, que colaboram

para o desenvolvimento do empreendedorismo e da inovação, percebe-se um movimento das

grandes corporações no sentido de deslocar o seu setor de Pesquisa e Desenvolvimento

(P&D) e de apoiar esses negócios nascentes.

Deste modo, conclui-se que o ecossistema brasileiro das startups evoluiu bastante

nos últimos anos e, atualmente, é formado por milhares de empresas, agentes de fomento e

apoio privados e públicos nacionais e internacionais, portanto, encontra-se bem consolidado e

já impacta consideravelmente no cenário econômico nacional e internacional, ao passo que

muitos dos produtos e serviços feitos no Brasil já estão ganhando o mercado global.

3.4.Direito das Startups

Com a evolução do ecossistema de empreendedorismo e inovação no Brasil,

nota-se uma difusão do uso do termo “Direito das Startups” em eventos, palestras, artigos, notícias

e no próprio cotidiano do empreendedor. Deste modo, faz-se necessário uma breve análise

dessa expressão a fim de elucidar qualquer obscuridade que o uso dela possa vir a ocasionar.

A priori, o uso desse termo não tem o intuito de originar um novo ramo autônomo

do direito, como Direito Civil, Direito Comercial ou Direito Tributário. Até porque as

startups também estão enquadradas no conceito de empresa constante no artigo 966 do

Código Civil de 2002, por se tratarem de uma atividade econômica organizada para a

produção de bens e serviços, assim, por consequência, o estudo dessas organizações é de

competência ao Direito Comercial e não de qualquer outro ramo.

66

O Start-Up Brasil é uma iniciativa de Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com gestão da Softex, em parceria com aceleradoras e instituições públicas e privadas, que busca apoiar, por meio de editais, projetos na área de TI que sejam inovadores, colaborem para o desenvolvimento nacional e o ecossistema inovador.

67

A UP Global é uma organização internacional sem fins lucrativos dedicada ao fomento do empreendedorismo, liderança de base e ao fortalecimento das comunidades.

68

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