SENADOFEDERAL SenadorEDUARDOAZEREDO
LínguaBrasileiraDeSinais
“UmaConquistaHistórica”
BRASÍLIA–2006
LínguaBrasileiraDeSinais
UmaConquistaHistórica
5 APRESENTAÇÃO
A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, graças à luta sis- temáticaepersistentedaspessoascomdeficiênciaauditiva,foire- conhecida pela Nação brasileira como a Língua Oficial da Pessoa
Surda,comapublicaçãodaLeinº10.436,de24-4-2002eaLeinO 10.098,de19-12-2002.
Aconquistadestedireitotrazimpactossignificativosnavida
socialepolíticadaNaçãobrasileira.Oprovimentodascondiçõesbá- sicasefundamentaisdeacessoàLibrassefazindispensável.Requer
oseuensino,aformaçãodeinstrutoreseintérpretes,apresençade
intérpretesnoslocaispúblicoseasuainserçãonaspolíticasdesaú- de,educação,trabalho,esporteelazer,turismoefinalmenteousoda
Libraspelosmeiosdecomunicaçãoenasrelaçõescotidianasentre
pessoassurdasenão-surdas.
SegundoAntoniodeCamposAbreu,representantedaFe- deraçãodeSurdosnoConselhoNacionaldaPessoacomDefici- ência,comextensocurrículonalutapelosdireitosdosurdo,“pre- servaraculturadacomunidadesurdaénecessárioeimportante.
UsaraLínguaBrasileiradeSinaisécidadaniaparatodaacomu- nidadesurda.Respeitaraformadecomunicaçãodosurdoéum
deverdasociedadeedetodos.Ossurdossonhamcomummundo
pelasmãosquefalam”.FoiAntonioquemcedeuostextosdesua
autoriaparaserempublicadosemconjuntocomalegislaçãoem
vigorsobreaLibras.
Espera-sequecadamunicípiodestePaís,emamplaarti- culaçãoentreosgovernosmunicipal,estadualefederal,entreos
PoderesLegislativo,ExecutivoeJudiciário,entreoPoderPúblico,
sociedadecivileprincipalmenteemamplaparceriacomasasso- ciações de surdos tornem a Libras uma língua presente na vida
6
social,políticaeeconômicabrasileira,favorecendoaconstrução
da sociedade inclusiva. Que todos leiam e se apropriem destas
leis.Cumpra-sealei.
EduardoAzeredo,
SenadordaRepública.
7 UMACONVERSAINICIAL
AFederaçãoNacionaldeEducaçãodeIntegraçãodosSur- dos,(Feneis)asassociaçõeseoutrasinstituiçõesdesurdosinicia- ram suas atividades com o objetivo de desenvolver a educação e
inclusãodossurdosampliandoassuasoportunidadessociais.Para
isto,desenvolveram,aolongodosanos,estudos,pesquisas,cursos,
encontros,debates,seminárioserealizaramvisitasemdiversaslo- calidades,colhendosugestõesquefundamentassemsuametaeres- paldassemsuasações.
Emtodoesteperíodo,aFeneispôdeconstataruma“discus- são”noâmbitoeducacionalentreprofissionais,pais,instrutorespro- fessores,líderesdossurdoseescolasemtornodaLínguadeSinais.
Viuemergir,entreosprofissionais,umadisputaentreduascorrentes
teóricas,ooralismoeafilosofiadosurdo.Cadaqualcomseusargu- mentos,opiniões,objetivosemetas.
Para a Feneis, a língua de sinais é um direito do surdo à
línguamaterna,responsávelpeloseudesenvolvimentoculturalso- cial e acadêmico/educacional. As dúvidas, receios e dificuldades
de assumir essa postura prejudicou em muito, o surdo, além da
questãodotempoperdidoemdiscussõesentrefamíliaseprofissio- naisenvolvidoscomesteindivíduo.ALínguadeSinaiséachave
paraampliarainserçãodosurdonoâmbitosocial.Historicamente
afaltadevontade,decoragem,ouodesconhecimentoeafaltade
interessedaspessoascomacomunicaçãocomosurdoforamos
principaisfatoresqueafastamosurdodasrelaçõescomoquese
passaaoseuredor.
“Todossabemquecada“povo”temsuaculturaediferença.
Assim, nada como encaminhar ações diretas ao “povo/mundo” do
surdo.Estetextomostraosprincipaispontosrelacionadosàdeman- dadosurdoqueéorespeitoàsuaLíngua.Sehouveaquelesque
8
acreditaram,pormuitotempo,queautilizaçãodaLínguadeSinais
prejudicava o trabalho de aprendizado da fala, isto não é verdade.
É,sim,umaformadesegregaçãosocial.Todosurdopodeaprender
a falar sem usar as mãos. Porém, o aspecto da comunicação fica
relegadoasegundoplano,oqueprejudicaprofundamenteousode
sualínguaviva,capazdeconceituaresimbolizaromundonoqual
vive.”(AntonioC.Abreu)
Ora,osurdoprecisasentir-seusandooquedemelhorapes- soatem:suapossibilidadederelacionar-seecomunicar-se.Inclusão
socialéincluiraLibrascomoformadecomunicaçãodapessoasurda.
OqueaFeneisespera(ecomconfiança)équeopensamentoque
nãoreconheceaLibrascomolínguadossurdospossaseralterado
nosentidodaaceitaçãoplenadaLínguadeSinaisemtodooBrasil,
nãosóporqueagoraistoélei,maspelacompreensãoeaceitação
internalizadadestaformadecomunicaçãocomasmãos.
Unidos,ossurdos,pais,profissionais,professoresepessoas
dacomunidadecomopropósitodereconheceraLibrascomoLíngua
OficialdosSurdosteremosavitóriadacomunidadedossurdos,da
populaçãoedoGovernonocumprimentodeumdireito.Cumpriro
direitoéoquechamodeinclusão.
Cordialmente
AntônioCamposdeAbreu,surdo.
9 Conceitosbásicos
ALínguaBrasileiradeSinaiséumsistemalingüísticolegítimo
enatural,utilizadopelacomunidadesurdabrasileira,demodalidade
gestual-visual e com estrutura gramatical independente da Língua
portuguesafaladanoBrasil.ALIBRAS,LínguaBrasileiradeSinais,
possibilitaodesenvolvimentolingüístico,socialeintelectualdaque- lequeautilizaenquantoinstrumentocomunicativo,favorecendoseu
acessoaoconhecimentocultural-científico,bemcomoaintegração
nogruposocialaoqualpertence.
AspessoassurdasconsideramqueporseraLibrasumalín- guaprópriadacomunidadesurdabrasileira,deve-seprocurargaran- tirqueoensinodestalínguasejarealizado,preferencialmente,por
professores/instrutoressurdos,viabilizandodessaformamaiorrique- zainterativaculturalentreprofessor/instrutorsurdoealunos.Diante
detalcolocação,sefaznecessáriocapacitarcadavezmaissurdos
paraseremprofessoreseinstrutoresconformeasexigênciaslegaise
opropostopelasfederaçõeseassociaçõesdesurdos.
Acomunidadesurdaéprocuradaporeducadoreseinteres- sadosparateremmaisdetalhessobreaLibras.Asinstituiçõescomo
clínicaseescolastêmdemandadoapresençadeprofissionaissur- doshabilitados,reconhecendoquesomenteosprópriossurdoscon- seguempreservarosaspectosculturaisdalíngua.Oreconhecimento
oficialnoBrasildaLínguaBrasileiradeSinais(LIBRAS)comomeio
decomunicaçãodeusocorrente,bemcomoagarantiapelaadmi- nistraçãopúblicadepreparaçãodeprofissionaisqueatuemnaárea
comodevidoconhecimentoefluênciadamesma,vêmampliandoa
demandaporprofissionaishabilitadosnoensinodaLibras.
10
Torna-se urgente que a profissão de professor/instrutor da
LínguaBrasileiradeSinaisedeintérpretedaLibrassejamregula- mentadas. O reconhecimento legal destas profissões asseguram
maiorqualidadeeposturaéticadosprofissionais.Facilitaepermite
ainclusãodeprofessores/instrutoresdeLibrasnoquadrodeprofis- sionais das escolas onde há surdo estudando e permite a criação
docargodeintérpreteparaosserviçospúblicoseespaçospúblicos
freqüentadospelaspessoassurdas.(Campos,Antonio)
• Identidadessurdas:conceitoseheterogeneidades
GladisPerlin–surda–doutorandadaUniversidadeFederal
deSantaCatarina–criticaainfluênciadopoderouvintistaquepre- judicaaconstruçãodaidentidadesurda.Elaafirmaque:“Éevidente
queasidentidadessurdasassumemformasmultifacetadasemvista
dasfragmentaçõesaqueestãosujeitas,emfacedapresençado
poderouvintistaquelhesimpõemregras,inclusive,encontrandono
estereótiposurdoumarespostaparaanegaçãodarepresentaçãoda
identidadesurdaaosujeitosurdo”.
SegundoaFederaçãodeSurdos,combasenasafirmações
deGladisPerlim,otermoidentidadeéoquemelhoratendeàtemáti- cadasurdez.Éusado,pelosurdo,nabuscadodireitodesersurdoe
desecomunicaremsualínguanatural.Deacordocomatrajetóriavi- venciadapelossujeitossurdos,nassuaslutaseintempéries,otema
(re)construçãodaidentidadesurdaésempreusadoaoresponderem
àpergunta–oqueésersurdonoBrasil?
Viverumaexperiênciavisualéteralínguadesinais,alíngua
visual,pertencenteaoutracultura,aculturavisualelingüística.Há
deseconsideraroutroconceitodaidentidadesurda,derelevância
política, dentro do multiculturalismo, de igual importância para ou- trosmovimentossociais,pelabatalhacontraaideologiadominante:a
IdentidadePolíticaSurda.Éummovimentopelaforçapolíticaemprol
danossadiferença...éumalutacontraoestigma,contraoestereoti- po,contraopreconceito,contraadeficiênciaeespecialmentecontra
opoderdoouvintismo.
• AssociaçõesdosSurdos–MinasGerais
Ossurdosconsideramassuasassociaçõescomoumsegun- dolar.Láelesfazemsuasfestividades,vivemaculturasurdaeseor-