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1. O que é filosofia?

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Academic year: 2022

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1. O que é filosofia?

Pensar nesta questão é a nossa missão para esta semana. Vou afirmar que a filosofia é a atividade de trabalhar da maneira correta de pensar sobre coisas.

Antes de começar a explicar o que isso significa, observe que minha definição começa di- zendo que a filosofia é uma atividade. Na verdade, acho que isso é mais importante

ponto sobre filosofia do que o resto do que digo esta semana.

Como a filosofia é uma atividade, para entender o que é a filosofia, você precisa ficar preso e fazê-lo. Você precisa começar a pensar em problemas filosóficos e na maneira como outros pensadores os abordaram. É isso que faremos no restante do curso. Muito do

filosofia é aprender ferramentas e técnicas específicas para raciocinar, argumentar e se expressar.

A melhor maneira de entender essas ferramentas e técnicas, e entender as perguntas que interessam aos filósofos, é seguir o caminho do resto do curso!

1.1 Filosofia e outros assuntos

Então, afirmo que a filosofia é a atividade de trabalhar da maneira correta de pensar sobre as coisas. No entanto, todos os assuntos, não apenas a filosofia, tentam pensar nas coisas da maneira certa. Isso é verdade, mas podemos distinguir entre pensar nas coisas e elaborar a maneira correta de pensar sobre as coisas. No segundo caso, você se afasta do que está fazendo e faz perguntas sobre o que isso pressupõe e se é o caminho certo a seguir.

Por exemplo, ao fazer física, investigamos a realidade física construindo experimentos, me- dindo, formulando teorias.

Ao fazer filosofia da física, podemos perguntar: ‘O que queremos dizer com’ realidade física

‘?’; “Como os resultados experimentais confirmam ou não confirmam uma hipótese?”, Ou; ‘O que distingue uma boa ciência teoria de uma má?

Ao praticar medicina, tentamos curar ou tratar as pessoas de acordo com nossas melhores teorias médicas atuais.

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Ao fazer a filosofia da medicina, podemos recuar e pensar se os conceitos que nossas me- lhores teorias médicas empregam fazem sentido ou o que “saúde” e “doença” realmente significam.

Isso nos mostra que a relação entre filosofia e outros assuntos pode ser embaçada - po- demos estar interessados na maneira correta de pensar em vários domínios diferentes; e muitas vezes somos forçados a fazer filosofia pelos desafios

ou resultados que outros assuntos levantam para nós.

2. Filosofia: Difícil, Importante e em Todo Lugar

2.1 A filosofia é ‘fundamental’?

Costuma-se afirmar (com frequência por filósofos!) Que a filosofia, ou as perguntas que ela faz, são, de certo modo, fundamentais. O que isso pode significar? É verdade?

Uma sensação em que isso não é verdade: há muitas perguntas e atividades que você pode realizar, perfeitamente legitimamente sem fazer nenhuma filosofia.

Um sentido em que é verdade: não importa que tipo de perguntas você esteja fazendo ou que atividades esteja realizando, sempre poderão surgir outras questões filosóficas.

Isso ocorre porque a filosofia envolve recuar e examinar os pressupostos do que você está fazendo ou as perguntas que está fazendo.

Quais são esses pressupostos? Eles são os corretos?

É por isso que a filosofia, como assunto, é tão ampla - esse “retrocesso” é algo que sempre podemos fazer, independentemente do que estamos perguntando ou pensando.

2.2 A filosofia é importante?

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Como na alegação de que a filosofia é fundamental, ao tentar definir a filosofia, costuma- -se dizer que o assunto, ou as perguntas que ele faz, têm alguma importância especial.

Isso é verdade?

Novamente, há um sentido em que claramente não existe - porque (como sugeri) per- guntas filosóficas podem surgir sobre qualquer coisa, muitas serão triviais ou chatas demais para incomodar a pergunta!

Mas há razões para pensar a filosofia, na melhor das hipóteses, é importante:

o A maioria da filosofia (ou pelo menos, a filosofia que mais vale a pena) visa pensar claramente sobre as coisas que mais importam para nós.

o Pensar filosoficamente (por exemplo, recuar e examinar pressupostos) pode nos aju- dar a questionar ou ver dogmas passados ou sabedoria aceita que pode não ser a me- lhor coisa para pensar ou acreditar.

3. Filosofia: como fazer

Para repetir, a melhor maneira de aprender a fazer filosofia é seguir este curso, pensan- do nos problemas e perguntas que ele aborda.

Mas mesmo antes de fazer isso, você já tem uma boa idéia de como a filosofia é feita - porque tentar pensar nas coisas da maneira certa é algo que fazemos o tempo todo.

3.1 Devo ir ao cinema hoje à noite?

Suponha que você esteja tentando decidir se vai ao cinema hoje à noite. Seu processo de decisão envolverá: procurar evidências, que você deve ou não

o o que está acontecendo? Você já viu isso antes? Tens dinheiro suficiente?

Pensar no que essa evidência lhe dá motivos para fazer (ou pensar na questão de ir ao cinema) o Talvez você já tenha visto esse filme antes - mas foi tão bom que

você gostaria de vê-lo novamente; Talvez você tenha dinheiro suficiente - mas realmente deveria estar economizando para outra coisa.

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Chegando a uma conclusão sobre o que fazer ou pensar, com base nessas evidências Por exemplo. “Considerando tudo, eu realmente não deveria ir ao cinema hoje à noite”

Suponha que, ao decidir se devo ou não ir ao cinema hoje à noite, raciocino assim:

1. Eles têm bons cachorros-quentes no cinema 2. eu gosto de cachorro-quente

3. Portanto, eu deveria ir ao cinema Ao fazer isso, dei um argumento muito simples para a conclusão de que eu deveria ir ao cinema.

Observando isso, podemos ver que um argumento, na filosofia, é apenas uma sequência de evidências e raciocínios projetados para apoiar uma conclusão específica.

Esse argumento tem duas premissas (denominadas ‘1’ e ‘2’, acima), bem como sua conclu- são (denominada ‘3’).

Uma parte muito importante de se fazer filosofia é pensar se argumentos específicos fazem ou não um bom trabalho ao estabelecer suas conclusões. Como podemos questionar o ar- gumento acima?

Uma maneira é questionar se a verdade da conclusão decorre da verdade de suas premis- sas. Ou seja, se as premissas são verdadeiras, a conclusão deve ser verdadeira? Se isso acontecer, dizemos que o argumento é válido.

No caso do argumento acima, parece que existem muitos casos em que as premissas po- dem ser verdadeiras, mas a conclusão pode não ser verdadeira.

O argumento é inválido.

Outra maneira é questionar a verdade das premissas.

No caso acima, isso envolveria descobrir sobre os cachorros-quentes no cinema e se eu realmente gosto ou não de cachorros-quentes. Quando um argumento é válido com premis- sas verdadeiras, dizemos que é sólido.

Portanto, um argumento pode falhar em ter uma ou mais premissas falsas ou por ser invá- lido.

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3.2 Temos livre-arbítrio?

Vamos pensar em um argumento um pouco mais difícil e talvez mais interessante para avaliar.

Parece a todos nós que temos muita liberdade em relação ao que escolhemos ou não fazer.

Mas existem argumentos que tentam colocar isso em questão:

1. A maneira como o mundo era no passado controla exatamente como é no presente e como será no futuro

2. Fazemos parte do mundo, como todo o resto.

3. Não podemos controlar como as coisas eram no passado ou como o passado controla o presente e o futuro

4. Portanto, não controlamos nada do que acontece no mundo, incluindo todas as coisas que pensamos, dizemos e fazemos.

É muito mais difícil descobrir se esse argumento é bom ou ruim do que foi para o nosso primeiro argumento - mas nós o avaliamos da mesma maneira

maneiras:

As premissas (1-3) são verdadeiras?

o Por exemplo o passado realmente fixa o presente e o futuro? Somos realmente partes do mundo como todo o resto?

A verdade das premissas garante a verdade da conclusão (ou seja, o argumento é válido)?

Por exemplo ‘controle’ significa a mesma coisa em ‘1’ como em ‘4’? Caso contrário, talvez o que ‘1’ nos diga sobre controle não leve à conclusão em ‘4’.

Não faz parte de nossa tarefa esta semana refletir sobre as maneiras de responder a esse argumento em detalhes (embora você queira compartilhar suas idéias sobre isso

nos fóruns de discussão).

Mas observe que cada uma das maneiras de responder que eu (muito rapidamente) sugeri acima tem algum trabalho associado a ela - cada uma das formas de responder ao argumen-

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to precisa ser explicada e defendida com muito mais detalhes. Esse tipo de trabalho é o que fazemos quando fazemos filosofia.

Ao tentar pensar sobre algum tópico da maneira correta, tentamos obter o entendimento mais claro possível das evidências a favor de nosso pensamento, como fazemos, e da ma- neira como ela apoia as conclusões sobre o tópico que

chegar em.

3.3 Nem tudo é argumento.

Embora tentar construir e avaliar argumentos em favor de alguma visão ou conclusão seja uma parte crucial da filosofia, o assunto é muito mais do que isso. Aqui está uma citação (do filósofo Hilary Putnam) que eu acho

expressa isso bem:

“A filosofia precisa de visão e argumento [...] há algo decepcionante em uma obra filosófica que contém argumentos, por mais bons que não sejam inspirados por alguma visão genuí- na, e algo decepcionante em uma obra filosófica que contém uma visão, por mais inspiradora que seja sem suporte de argumentos […]

Especulações sobre como as coisas estão juntas requerem [...] a capacidade de estabele- cer distinções e conexões conceituais e a capacidade de argumentar [...] Mas visões es- peculativas, por mais interessantes ou bem apoiadas por argumentos ou perspicazes, não são tudo o que precisamos.

Também precisamos do que [o filósofo Myles] Burnyeat chamou de ‘visão’ - e entendo isso como visão de como viver nossas vidas e como ordenar nossas sociedades ”.

Uma lição aqui é que devemos ter em mente o “quadro geral” ao apresentar ou criticar ar- gumentos filosóficos.

Às vezes, isso pode envolver voltar atrás e pensar em por que um tópico é interessante ou útil para ser considerado em primeiro lugar

Às vezes, isso pode envolver o pensamento sobre a visão que pode ter inspirado um ar- gumento que estamos criticando ou avaliando. O pensamento sobre essa visão pode nos

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ajudar a entender melhor um argumento ou talvez fazer um trabalho melhor em expressar como está sendo o argumento?

4. Existe uma ‘maneira certa’ de pensar nas coisas?

Eu tentei definir filosofia como a atividade de descobrir a maneira correta de pensar sobre as coisas. E acabamos de ver que construir e avaliar argumentos é uma parte importante dessa atividade. Mas existe uma maneira correta de pensar sobre as coisas? E se houver, como sabemos que podemos chegar ao caminho certo apenas pensando?

Essas são questões realmente importantes para a filosofia. Eu os exponho não porque acho que posso respondê-las (certamente não posso!), Mas porque enfatizam algo que eu já mencionei sobre questões filosóficas - elas podem surgir em qualquer lugar, mesmo em resposta à definição de filosofia em que estive. tentando dar.

Uma motivação para fazer essas perguntas pode ser o pensamento de que há algo suspeito sobre a noção de uma ‘maneira correta de pensar’ que eu usei em minha definição - então talvez minha definição não seja a maneira correta de pensar sobre filosofia.

Em vez de tentar responder a essas perguntas importantes, quero terminar rapidamente considerando o que dois grandes filósofos do passado disseram sobre eles.

4.1 Hume no ‘caminho certo’ de pensar

O grande filósofo baseado em Edimburgo, David Hume, teria concordado com o espírito cético das perguntas acima - ele era pessimista com a noção de uma ‘maneira correta’ de pensar sobre as coisas e ainda mais pessimista com a ideia de que essa ‘maneira correta’ ‘poderia ser algo que nossas mentes pudessem entender.

Como um bom filósofo empirista, Hume pensou que era crucial que a filosofia permanecesse fiel à nossa experiência sensorial do mundo. No entanto, ele argumentou que nossa expe- riência nos diz muito menos sobre o mundo do que normalmente pensamos. Por exemplo:

Causa: Nós nunca observamos uma coisa causando outra. Podemos ver uma bola de bilhar rolar para outra e depois ver a segunda bola de bilhar rolar. Mas tudo o que realmente ob- servamos são as bolas de bilhar em vários momentos e lugares.

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Nossa experiência de uma bola fazendo a outra rolar é algo extra, além dos horários e locais em que as bolas de bilhar estão ocupando.

Portanto, para Hume, causalidade não é algo que observamos no mundo.

É algo extra que nossas mentes adicionam aos eventos que observamos.

Nós mesmos: nunca realmente nos observamos - podemos observar vários pensamentos, sentimentos e impressões à medida que passam pela mente de “nossa”, mas nunca obser- vamos o único assunto que deveria unificar ou

tem, tudo isso.

Portanto, para Hume, a idéia de um eu persistente, além dos vários pensamentos e senti- mentos que passam pela mente de ‘nossa’ é algo extra que nossas mentes acrescentam ao que realmente observamos.

Faça esses hábitos de nossas mentes - experimentar o mundo como se contivesse eventos causalmente conectados; experimentar a nós mesmos como mais do que feixes de impres- sões e sentimentos - correspondia à maneira como as coisas realmente são no mundo? Em outras palavras, eles são os modos corretos de pensar sobre a causa e sobre nós mesmos?

Hume achou que não sabíamos a resposta para essas perguntas - tudo o que sabemos é que esses são os hábitos que nossas mentes têm, não se esses são os certos ou os erra- dos.Isso levou Hume à conclusão sombria de que:

“A observação da cegueira e fraqueza humanas é o resultado de toda a filosofia e nos encon- tra a todo momento, apesar de nossos esforços para evitar ou evitá-la.”

4.2 Kant no “caminho certo” de pensar O grande filósofo alemão Immanuel Kant disse que essas idéias de Hume o despertaram de seus sonolentos dogmáticos. Anteriormente, Kant havia assumido que o pensamento filosófico poderia nos colocar em contato com o mundo, mas agora ele percebia que tinha que provar isso.

As opiniões de Kant são muito complicadas - mas, em poucas palavras, ele tentou mostrar que a possibilidade de um mundo que não se enquadrava nas regras e padrões que nossa mente impõe à experiência não fazia sentido.

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Hume estava certo ao apontar que a reflexão filosófica descobre maneiras pelas quais não podemos evitar pensar e experimentar o mundo - como se estender pelo espaço, se des- dobrar ao longo do tempo, conter contenções causais

eventos.

Mas ele estava errado ao sugerir que esses fatos poderiam ser apenas fatos sobre nós - hábitos arbitrários de nossas mentes. Kant tentou mostrar que também eram fatos sobre o que é para um mundo estar lá para pensar em primeiro lugar.

Se tentarmos pensar em um mundo que não está em conformidade com as formas de pen- sar acima, descobrimos que não podemos fazê-lo. Talvez pensemos que podemos imaginar a simples possibilidade de que o mundo não esteja em conformidade com essas formas de pensar (mesmo que não possamos imaginar exatamente como isso seria). Mas podemos entender Kant como sugerindo que, se podemos fazer isso, não estamos mais pensando em como o mundo pode estar.

Em outras palavras, Kant tentou mostrar que as regras que governam nosso pensamento são as mesmas que governam o mundo, e que podemos saber disso apenas pensando nis- so.

Portanto, para Kant, existe uma maneira correta de pensar sobre as coisas, e podemos chegar a ela pelo uso claro e cuidadoso da razão.

4.3 Filosofia e história

Mal arranhamos a superfície das idéias complexas e interessantes de Hume e (particular- mente) de Kant acima - mas esses esboços rápidos nos mostram que um dos aspectos emocionantes e desafiadores da filosofia é a maneira como ela pode nos dialogar com gran- des pensadores do passado, quando tentamos esclarecer nossas próprias idéias.

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