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Não se pode desligar o interruptor e voltar à normalidade

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Academic year: 2022

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Confederação do Comércio e Serviços de Portugal

SAT, 7 AUG 2021

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“Não se pode desligar o interruptor e voltar à normalidade”

Presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal p. 04-05

João Vieira Lopes

“Não se pode desligar o interruptor e voltar à normalidade”

Texto: Maria Caetano

Comércio e serviços querem apoios para lá de setembro, mas agora mais sensíveis às quebras de faturação do que a códigos de atividade. No acesso ao PRR, recusam discriminações.

Com o comércio em recuperação, e a retoma nos serviços por assegurar, o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) pede a continuação da resposta à pandemia, com regras novas. Está contra a agenda para mudar as leis laborais e deixa um alerta contra uma eventual discriminação dos serviços no acesso à bazuca europeia.

Com o novo processo de abertura anunciado e o comércio em linha com os valores de 2019 e que perspetivas é possível ter? As medidas são globalmente positivas, até porque ter diferentes horários não tinha qualquer sentido. Há setores que vão ter algumas dificuldades em recuperar, nomeadamente, todos aqueles que tinham uma grande sazonalidade. Há problemas de gestão de stocks e de imobilizados bastante

complicados. Mas a expectativa é que a ansiedade das pessoas também baixe, por passarem a ter uma vida mais próxima do normal.

Os consumidores estão a voltar aos serviços?

Está a ser um retorno mas não está a ser massivo. Há uma recuperação significativa. Mas há negócio que se perdeu que não volta. Muitos desses setores, ao fim deste tempo todo, estão bastante exaustos e exauridos de meios. A dimensão média das empresas é pequena, e, por outro lado, não tinham reservas financeiras. Houve apoios positivos, mas parte deles foram empréstimos ou adiamento de pagamentos fiscais.

As dívidas não saíram de lá e, portanto, esse tecido está bastante fragilizado. Apesar de se ir notando alguma recuperação.

Mesmo ao nível do emprego? Não há dúvida nenhuma que o lay-off simplificado foi um elemento estruturante na manutenção do emprego. No entanto, a recuperação está a ser mais lenta do que se previa e, por isso, temos defendido junto do governo que as medidas não podem ser, neste momento, todas paradas simultaneamente. Não pode ser desligar 0 interruptor e voltar à normalidade. É necessário avaliarem função dos setores, em função especialmente dos efeitos que a crise teve nas empresas. Há classificações que não caem dentro daquilo que seria lógico.

Temos defendido junto do governo uma postura muito mais transversal em termos de hierarquizar as empresas por perdas mais propriamente do que pela classificação da atividade económica.

O apoio à retoma tal como está agora neste momento segue a lógica das atividades económicas, ficando até setembro.

Sim, mas em função da evolução, há de facto um conjunto de apoios que tem de ser estendido.

Nomeadamente este? Nomeadamente esse, independentemente de admitirmos que em função das quebras possam ser ajustados. Acima de tudo a hierarquização devia ser pelas perdas e não pelas atividades económicas. Não se corre o risco de abarcar negócios que estão a ser penalizados por outros fatores?

É impossível separar tudo. O que tem de se definir são grandes linhas de intervenção, sabendo que nos casos extremos existem sempre situações atípicas.

Foi levantado o teletrabalho obrigatório. Como é que está a ser preparado o regresso ao escritório?

Em agosto, não se vão notar grandes diferenças porque as empresas têm a vida programada com férias. A partir de setembro, vai haver duas grandes tendências: as grandes empresas caminham para situações mistas, umas com mais teletrabalho outras com menos, e há um número de multinacionais, de média e grande dimensão, que vai manter o grosso das pessoas em teletrabalho, provavelmente, até ao fim do ano. Nas pequenas e micro empresas, a tendência vai ser mais para 0 regresso ao presencial.

No apoio à subida do salário mínimo, a CCP deu conta da recusa a várias centenas de empresas que pagavam ligeiramente acima do salário mínimo. Houve solução?

Foi havendo soluções mitigadas. O governo deu alguma margem de manobra, houve interpretações muito complicadas da Segurança Social. Há casos resolvidos, e casos que ainda não 0 foram. Por outro lado, há a questão de fundo da atualização dos contratos das empresas que têm 0 Estado como grande cliente. Assinam-se contratos por dois, três anos com base no salário inexistente. Ninguém consegue estimar o salário mínimo para anos seguintes e o governo tem, normalmente, aceitado que esses contratos sejam atualizados. Nem sempre tem cumprido. Este ano, no próprio Orçamento do Estado, estava previsto, mas mesmo assim até aqui há uns dias ainda não tinha saído a portaria.

Falta a portaria para a atualização anual dos contratos?

Exatamente. Abrange umas centenas de milhares de trabalhadores. Os parceiros sociais assinaram um acordo de formação profissional e qualificações. Para as empresas, parece trazer alguma melhoria no acesso ao financiamento para formação profissional, mais deduções fiscais, majorações...

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O acordo traz a revisão do catálogo nacional de qualificações, essencial. Outra questão é garantira qualidade da formação. As entidades acreditadas têm de ser bem fiscalizadas. Até agora, era um processo meramente administrativo. Também é importante que a formação esteja concentrada em um ou dois planos operacionais porque no Portugal 2020 foi um desastre completo. Esse tipo de questões parecem-nos importantes, mas a experiência demonstrou que até agora são declarações de intenções. Temos de ver como é posto em prática para perceber a eficácia.

No final da assinatura do acordo, 0 primeiro-ministro deixou a mensagem de que este não fará sentido sem a agenda do trabalho digno e o acordo de rendimentos. Uma coisa fica dependente das outras?

Este acordo é uma necessidade para melhorar a produtividade do país, a qualificação técnica dos trabalhadores. Os outros aspetos são questões importantes, mas claro que essas coisas não estão desligadas. O aumento do rendimento está ligado ao aumento da produtividade.

Sempre pusemos sérias reservas a que 0 aumento do rendimento fosse uma medida decretada de uma forma administrativa. Não resolve. Não é exequível.

Como é que vê as declarações do primeiro-ministro no sentido de associar os processos?

Associar no sentido de serem importantes para o progresso económico-social do país, estamos de acordo. Condicionai uns aos outros é que já temos sérias dúvidas. A agenda do trabalho digno prevê limitações ao uso abusivo do trabalho temporário. O que diz a CCP?

O trabalho temporário é um bocado diabolizado e há questões que não têm qualquer sentido. Por exemplo, responsabilizar o utilizador pela legalidade da empresa que presta esse serviço. São problemas de fiscalização do Estado e transfere-se o ónus para o utilizador. Por outro lado, há uma contradição porque existe liberalização completa para as empresas que fazem recrutamento e colocação. As empresas de trabalho temporário têm um licenciamento bastante rígido. Têm de apresentar uma caução em relação ao pagamento de salários, têm de investirem formação. Para já, estas distinções deviam ser melhor articuladas. E, segundo, é um absurdo exigir a uma empresa de trabalho temporário que tenha um quadro fixo. A essência do negócio é colocar temporariamente pessoas em empresas. Portanto, estamos em total desacordo.

Na questão do trabalho em plataformas digitais, que apreciação faz do que propõe o governo? O regime de TVDE ficou em aberto.

O regime de TVDE foi uma forma de compromisso aceitável. Agora, em relação à presunção da laboralidade, temos sérias dúvidas que tenha qualquer sentido. Na prática, com essa lógica, qualquer dia é impossível um trabalhador ser independente. Ou seja, se trabalhar essencialmente para uma entidade essa dependência acaba quase por se transformar numa presunção de laboralidade.

Ê uma área emergente há já algum tempo, com cada vez mais pessoas, como os estafetas. Há que separar as coisas. Essas pessoas têm de ter acesso a prestações sociais, estamos todos de acordo. Então, taxe-se em termos de Segurança Social o funcionamento dessas áreas de uma forma diferente. Não se pode resolver obrigando as empresas a colocarem as pessoas num quadro fixo.

Se 0 governo colocar na mesa um modelo de proteção social para estes trabalhadores que implique um encargo substancial em Taxa Social Única, isso já é visto com bons olhos?

Depende do peso com que isso atingir as empresas, porque é evidente que a partir de certa altura isso obriga a subir os custos do serviço. Se os encargos das empresas aumentarem significativamente 0 custo do serviço sobe.

Neste momento não têm encargos.

Mas têm uma margem. As empresas trabalham com determinadas margens. É evidente que se as empresas aumentarem os custos têm que repercutir isso nos custos de serviços. Aqui não há milagres. Há ainda os processos legislativos que correm na Assembleia no domínio do trabalho, nomeadamente para limitara contratação a prazo já com um voto em generalidade do PS.

A Assembleia é soberana e os partidos metem na Assembleia o que entenderem. Agora, da parte do governo, devia-se terminar primeiro a discussão do Livro Verde sobre 0 Futuro do Trabalho antes de entrar nessa área. A Concertação Social não se pode substituir à Assembleia da República. É um fórum onde, se estes assuntos forem bem discutidos e aprofundados, se criam bases para poder haver mais facilmente consensos na Assembleia da República, ou não. E é isso que temos defendido, não estarmos a trabalhar em questões paralelas.

Que oportunidades é que o setor dos serviços vê no Plano de Recuperação e Resiliência?

Deve haver uma discriminação positiva para processos conjuntos: trabalho em rede, fusão, associação por projeto. A nossa principal preocupação é que 0 PRR na prática coloca num plano altamente secundário todo o setor do comércio e serviços, que são os maiores empregadores do país, contribuintes para o valor acrescentado e até para o PIB. Para a economia dar um salto tem de aumentar o valor acrescentado nacional quer na área dos bens, quer na área dos serviços. Em geral, os serviços são subvalorizados. Não é por acaso que a BMW ea Mercedes viram em Portugal centros de inteligência artificial para os softwares para carros sem condutor. São áreas muito importantes estrategicamente para Portugal apanhar o comboio da evolução digital. E aí o PRR é extremamente pobre. As únicas áreas que abrem para estes setores sãb as da transformação digital e da qualificação. Agora, não há quaisquer incentivos específicos a projetos coletivos.

Não tem os mesmos incentivos que os outros setores?

Há princípios gerais. Queremos ver os concursos que vão abrir, quais vão ser os critérios de seleção, enfim, partindo do princípio que o que está, está, não vai ser alterado. O modo como estes projetos vão ser postos em prática é que vai fazer uma grande diferença. É possível vermos projetos coletivos da área dos serviços a concorrerem pelos milhões das alianças mobilizadoras? Tem sido referido que todos os setores vão poder fazer projetos. Vamos ver depois se não há discriminações na prática por razões históricas e metodológicas.

“Há uma recuperação significativa. Mas há negócio que se perdeu que não volta. Muitos desses setores, ao fim deste tempo todo, estão bastante exaustos.”

Patrões A voz dos negócios na rentrée

João Vieira Lopes será, a partir de setembro, o porta-voz das empresas portuguesas, assumindo a presidência rotativa do novo Conselho Nacional das Confederações Patronais - um projeto antigo. Será o período da discussão do Orçamento do Estado, de alterações laborais em

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iniciativas da Concertação Social e do parlamento, e- espera-se - de confirmação de uma retoma económica. Lidera a Confederação do Comércio e Serviços, a organização patronal que agrupa o maior número de empresas no país. Dão emprego a mais de 1,5 milhões de trabalhadores e foram das mais penalizadas pela pandemia.

OUTLET Diário de Notícias SECTION Dinheiro Vivo COUNTRY Portugal LANGUAGE Portuguese

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Referências

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