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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE DIREITO DE SÃO PAULO RAFAEL ESTEPHAN MALUF

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE DIREITO DE SÃO PAULO

RAFAEL ESTEPHAN MALUF

O RECEBIMENTO DE VALORES A TÍTULO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS E POSSÍVEIS NORMAS PENAIS INCIDENTES NA CONDUTA DO ADVOGADO

São Paulo 2021

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE DIREITO DE SÃO PAULO

RAFAEL ESTEPHAN MALUF

O RECEBIMENTO DE VALORES A TÍTULO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS E POSSÍVEIS NORMAS PENAIS INCIDENTES NA CONDUTA DO ADVOGADO

Projeto de pesquisa apresentado como requisito parcial para aprovação no Mestrado Profissional em Direito Penal Econômico, da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas.

Orientador: Adriano Teixeira Guimarães

São Paulo 2021

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IDENTIFICAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

O ponto nuclear do trabalho é dar os contornos devidos à conduta do advogado togado por meio do recebimento de honorários advocatícios, seja ele de origem espúria ou com finalidade criminosa, na medida em que se pretende aprofundar o estudo sobre os tipos penais que poderiam subsumir-se sobre esse comportamento.

A questão envolve diversas controvérsias sobre os contornos legais da criminalização do recebimento de honorários advocatícios de origem maculada e/ou de origem lícita, mas com finalidade espúria, permeando uma linha interpretativa sensível de uma ação profissional legítima ou que afronte determinada norma penal.

É certo que o advogado não apenas exerce uma atividade profissional convencional, mas a ele é depositado pelo Estado a função pública de representar o cidadão perante o Poder Judiciário, inclusive sendo ele considerado por diversos diplomas legais indispensável à administração da justiça1.

Sob o ponto de vista do recebimento de honorários maculados e lavagem de capitais, temos a eventual punição do advogado quando “ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal”, inclusive quando “os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere”.

A abordagem inicial sobre o tema destaca o recebimento de honorários maculados por advogado togado que, comprovadamente, prestou o serviço pelo qual foi contratado, independentemente da ciência ou eventual desconfiança que tais recursos tenham sido obtidos por meio de atividade delituosa de seu cliente.

À primeira vista, a solução do problema pode ser mitigada na esfera do tipo objetivo, mais especificamente na imputação objetiva, por meio das condutas neutras, cujas ações quando consideradas aceitáveis serão atípicas do ponto de vista penal.

Não se poder negar que a atividade exercida pelo advogado, quando desempenhada licitamente, não ultrapassa os limites de suas prerrogativas de função,

1 Constituição Federal de 1988: Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei; Código de Ética e Disciplina da OAB: Art. 2ºO advogado, indispensável à administração da Justiça, é defensor do Estado democrático de direito, da cidadania, da moralidade pública, da Justiça e da paz social, subordinando a atividade do seu Ministério Privado à elevada função pública que exerce; Lei 8.906/94: Art. 2º O advogado é indispensável à administração da justiça.

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mesmo que favoreça terceiro para o aperfeiçoamento de determinada conduta delitiva2.

Não seria o caso do advogado que deixa de ser advogado e vem a ser peça de organização criminosa ou de conluio para a prática dos crimes deixa de ter a proteção de seu múnus profissional. Nestas circunstâncias, o aspecto subjetivo deve ser levado em consideração, em que o conluio prévio implica afastamento do risco permitido, não havendo que se falar em conduta neutra.3

Assim, objetivamente, conforme amplamente difundido em diversas obras, o conceito de ação neutra afirmado por Greco consubstanciaria em “todas as contribuições a fato ilícito alheio não manifestamente punível”4.

Nesse sentido, Rassi afirma que as ações neutras, assim entendidas como aquelas condutas que, apesar de consistirem em contribuições socialmente rotineiras, profissionalmente adequadas, de acordo com o convívio social, ao se relacionarem com o autor de crime suscitam dúvidas sobre sua licitude. 5 E, ainda, sob a ótica da teoria da imputação objetiva, perfeitamente aplicável à participação criminal, a ação é neutra ou cotidiana representa para o fato do autor um incremento (e não criação) do risco permitido. Participação haverá se o incremento ultrapassou o risco permitido.

Há autores que defendem, a exemplo de Bottini, que o dinheiro recebido por profissional liberal, como o advogado, por meio de prestação de serviço efetivamente realizada, com o devido cumprimento dos requisitos fiscais, não contribuiria para mascarar o bem ilícito, uma vez que o seu destino é conhecido. Nesse caso, não haveria objetivo de lavagem, uma vez que a transparência /formalidade do pagamento afasta a incidência do dispositivo penal6.

Complementando o mesmo autor: o mero beneficiário dos valores lavados não participa do crime, mesmo que saiba de sua prática. O ato de gastar o dinheiro é mero exaurimento do tipo de lavagem, não integra o delito. E isso parece valer para os

2 RIOS, Rodrigo Sánchez. Advocacia e Lavagem de Dinheiro: Questões de Dogmática jurídico-penal e de Política Criminal, GVlaw, Saraiva, 2010, p. 153.

3 RASSI, João Daniel; GRECO FILHO. Vicente. Lavagem de dinheiro e advocacia: uma problemática das ações neutras. Boletim IBCCRIM nº 237 - Agosto /2012.

4 GRECO, Luís. Cumplicidade através de Ações Neutras: A imputação objetiva na participação, Ed.

Renovar, 2004, p. 110. (confirmar)

5 RASSI. João Daniel; GRECO FILHO. Vicente. Lavagem de dinheiro e advocacia: uma problemática das ações neutras. Boletim IBCCRIM nº 237 - Agosto /2012.

6 BADARÓ, Gustavo Henrique; BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Lavagem de Dinheiro: aspectos penais e processuais penais: comentários à Lei 9.613/1998, com a alteração da Lei 12.683/12. São Paulo: RT, 2014, p. 147.

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advogados contencioso e para o operacional, pois o recebimento de honorários é relacionado com a prestação do serviço em si e não com o conteúdo do serviço prestado.7

Nesse sentido, deverá ser avaliada a relevância do contrato de prestação de serviço e emissão de nota fiscal pelo advogado para incidência ou não de eventual imputação de lavagem de dinheiro, levando em consideração se essas formalidades teriam relevância na subsunção do fato ao respectivo tipo penal.

Diante dessa afirmação de Bottini, cumpre fazer o seguinte questionamento. A falta de formalidades fiscais atrairia a conduta do advogado a eventual lavagem de capitais ou crime contra a ordem tributária ?

Muito embora não haja regulamentação precisa da OAB sobre o tema, a Lei 8.906/94 é expressa quanto ao direito dos advogados em recebimento de honorários pelo serviço prestado8, inclusive permitindo o pagamento por meio de bens do próprio cliente9 quando comprovada impossibilidade de pagamento em pecúnia.

Outrossim, não há previsão legal sobre o recebimento de honorários por terceiros alheios ao contrato de prestação de serviço, e muito menos em relação às pessoas politicamente expostas - PEP - e seus familiares.

Contudo, nesse mês, o Conselho Federal da OAB avaliará uma proposta de provimento encaminhado por notórios advogados, com o fim de regulamentar a atividade da advocacia no sensível campo da lavagem de capitais, cujo texto abarca o

7BADARÓ, Gustavo Henrique; BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Lavagem de Dinheiro: aspectos penais e processuais penais: comentários à Lei 9.613/1998, com a alteração da Lei 12.683/12. São Paulo: RT, 2014, p. 147.

8 Lei 8.906/94: Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito aos honorários convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência.

9 Código de Ética e Disciplina da OAB: Art. 38. Na hipótese da adoção de cláusula quota litis, os honorários devem ser necessariamente representados por pecúnia e, quando acrescidos dos de honorários da sucumbência, não podem ser superiores às vantagens advindas em favor do constituinte ou do cliente. Parágrafo único. A participação do advogado em bens particulares de cliente, comprovadamente sem condições pecuniárias, só é tolerada em caráter excepcional, e desde que contratada por escrito.

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recebimento o recebimento de honorários10, o seu pagamento por terceiros11 alheios ao contrato, bem assim contraprestação feita em espécie12.

Por outra ótica, em hipotética impossibilidade de avaliar a responsabilidade do advogado pelo tipo objetivo, resta sopesar as circunstâncias do tipo subjetivo, aferindo se a ausência de conhecimento sobre a origem dos honorários pagos ao advogado seria suficiente para tornar a conduta de receber os valores maculados atípica.

Assim, haveria uma migração exploratória do tipo objetivo para o tipo subjetivo – dolo direto –, avaliando se o conhecimento do advogado sobre a origem espúria de seus honorários teria relevância para imputar a ele responsabilidade criminal.

Para alguns autores, a solução para o recebimento de honorários maculados encontra-se no elemento subjetivo do tipo da lavagem de capitais, ocasião em que o advogado apenas seria responsabilizado quando inequívoco conhecimento da origem espúria desses valores.13

Em decisão paradigma do tribunal constitucional alemão prolatada em 2004, a resolução para o caso de recebimento de honorários advocatícios maculos repousou no elemento subjetivo do tipo, mais especificamente no dolo direto, sendo fundamentado que o advogado apenas poderia ser responsabilizado quando tivesse conhecimento irretorquível quanto a origem dos recursos espúrios, excluindo responsabilidade quando houvesse incidência de dolo eventual ou conduta culposa. 14

Contudo, há expressivo questionamentos de doutrinadores quanto a incidência do dolo eventual na aludida norma penal, uma vez que essa modalidade é suficiente para aperfeiçoamento de outros ilícitos penais e não é recepcionada pelo branqueamento de capitais.15

10 Art. 2o. É vedado ao advogado concorrer, incitar ou prestar qualquer forma de auxílio jurídico para operações ou transações que saiba tenham a finalidade da prática dos crimes previstos no art. 1o da Lei n. 9.613/98. Parágrafo único. Não constituem concorrência, auxílio ou participação a prestação legítima de atividades privativas da advocacia e o recebimento de honorários pela prestação desses serviços.

11 Art. 4o. É permitido o pagamento dos honorários advocatícios por terceiros não beneficiários dos serviços profissionais desde que justificada.

12 Art. 9. A sociedade de advogados ou o advogado que receber pagamentos, total ou parcialmente, em espécie deverá observar o disposto na Instrução Normativa RFB n. 1.761, de 20 de novembro de 2017.

13 ORIONE SOUZA, Alvaro Augusto Macedo Vasques, et al. Exercício da Advocacia e Lavagem de Capitais:

Estudo de casos acerca da advocacia consultiva e do recebimento de honorários maculos. 1. Ed. FGV Direito SP. São Paulo. 2016. p. 212

14 GRANDIS, Rodrigo De. O exercício da advocacia e o crime de “lavagem” de dinheiro. Em: “Lavagem de dinheiro: prevenção e controle penal” / Coordenador Carla Veríssimo Di Carli e Andrey Borges de Mendonça. 2ª Ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2012. p. 173

15 SANCHEZ RIOS, Rodrigo. “Advocacia e lavagem de dinheiro: questões de dogmática jurídico-penal e de política-criminal”. São Paulo: Saraiva, 2010 (Direito penal econômico – Gvlaw). p. 225

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Nesses contextos acima ilustrados, inúmeros dúvidas permeiam a conduta do advogado quando, no estrito cumprimento de sua atividade profissional, recebe valores a título de honorários advocatícios que sabe ou desconfia ter origem criminosa. Assim, estaria o advogado incorrendo em hipotético branqueamento de capitais ?

Ultrapassando um pouco a questão da lavagem de capitais, vale fazer a seguinte indagação. Poderia incorrer no crime de receptação o advogado que recebe valores a título de honorários advocatícios que sabe ser provenientes de crime antecedente ?

Essa é a intenção do Projeto de Lei nº 3.787/19 que tramita na Câmara dos Deputados, de autoria da Deputada Federal Bia Kicis (PSL), que pretende, dentre algumas modificações na Lei 9.613/1998, a inclusão do “parágrafo 7º” no tipo penal do artigo 180 do Código Penal, criminalizando a conduta de recebimento de honorários advocatícios que sabe ser oriundo de produto de crime16 como receptação qualificada.

Por outro lado, merece especial atenção a atuação do advogado que, mediante contrato fictício de prestação de serviço, recebe honorários advocatícios de origem lícita para futura empreitada criminosa, seja quando o causídico é utilizado como um mecanismo essencial para o aperfeiçoamento de um delito, seja quando ele próprio se vale desse recurso para obter alguma vantagem ilícita para si ou em benefício de seu cliente.

Para De Grandis, além de violar regramentos da Lei 8.906/94 e Código de Ética da OAB, o advogado estaria claramente atuando em desconformidade com a sua função social, criando, um risco desaprovado ao bem jurídico protegido pela normal penal de branqueamento de capitais – administração da justiça.17

Indo além, mesmo que o valor tenha procedência lícita da atividade do cliente, mas tenha sido pago ao advogado por meio de um contrato fictício para fins espúrios, poderia dizer que o crime antecedente da lavagem estaria contemplado por eventual crime de falso contido da fraudulenta prestação de serviço ? Talvez assim haveria incidência da normal penal prevista na Lei 9.613/1998 ?

Com base no cenário acima criado, inúmeros tipos penais poderiam recair sobre a conduta do advogado que se vale do recebimento de honorários para cometer

16https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1771915&filename=PL+378 7/2019 - Visto em 18.8.2020.

17 GRANDIS, Rodrigo De. O exercício da advocacia e o crime de “lavagem” de dinheiro. Em: “Lavagem de dinheiro: prevenção e controle penal” / Coordenador Carla Veríssimo Di Carli e Andrey Borges de Mendonça. 2ª Ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2012. p. 179

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crimes, tais como peculato (art. 312 do CP), concussão (art. 316 do CP), corrupção passiva e ativa (arts. 317 e 333 do CP), entre outros.

Uma outra prática existente no mercado, que no mínimo pode soar imoral e merece estudo mais aprofundado, é o pagamento pelo advogado contratado por determinada empresa de comissionamento ao corpo jurídico ou qualquer representante da própria empresa contratante, como forma de agradecimento por viabilizar ou auxiliar na negociação e, até mesmo, “comprar uma boa relação institucional”.

Esse repasse a título de “gratificação/comissionamento” ao representante da empresa que contratou os serviços advocatícios muitas vezes é formalizado por meio de contratos fictícios de prestação de serviço de consultoria advocatícia (nesse caso, o pagamento teria ocorrido ao indivíduo pertencente ao corpo jurídico da empresa), permitindo incidência de hipotético tipo penal previsto no artigo 299 do Código Penal ou, ainda, para alguns, a subsunção ao crime de estelionato em face da empresa financeiramente prejudicada.

Por não haver expressa previsão legal do crime de corrupção privada em nosso ordenamento jurídico, ainda se discute se determinada norma penal já existente em nossa legislação poderia suprir essa lacuna de tipificação penal da conduta.

Outrossim, não podemos ignorar casos em que advogados/procuradores foram denunciados18 pelo crime de fraude a licitação por exclusivamente emitir de pareceres jurídicos em procedimentos licitatórios, sem que haja o exato preenchimento das condições do tipo objetivo e subjetivo das normas penais elencadas na Lei 8.666/1993.

O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no julgamento de um Recurso Ordinário em Habeas Corpus19 para absolver um procurador asseverando que “resta evidenciada a atipicidade das condutas dos Recorrentes, uma vez que foram denunciados apenas pela de simples emissão e suposta aprovação de parecer jurídico, sem a demonstração da presença de nexo de causalidade entre a conduta a imputada e a realização do fato típico”.

Ainda, em recente decisão de relatoria do Ministro Gilmar Mendes, foi concedida a ordem de ofício em Habeas Corpus20 para determinar o trancamento de

18https://www.conjur.com.br/2016-jul-09/trf-anula-decisao-condenou-advogado-opiniao-parecer - visto em 19.8.2020.

19RHC 39.644/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 17/10/2013, DJe 29/10/2013.

20HC 171.576, Rel. Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em 17/09/2019, DJe 5/8/2020).

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uma ação penal em que um procurador do Município de Caxias do Sul foi denunciado por ter, na qualidade de assessor jurídico, emitido parecer em um processo licitatório supostamente fraudulento.

Por conseguinte, um caso paradigmático que não poderia deixar de ser mencionado e que tomou expressiva notoriedade, foi a operação Esquema S21, deflagrada pela polícia federal ao final do mês de agosto desse ano.

O mencionado procedimento criminal trata de suposto desvio de recursos da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (SENAC-RJ e SESC-RJ), cujas irregularidades contavam com a participação de advogados por meio de contratos advocatícios fictícios com a finalidade de corromper agentes públicos, bem assim devolução de parte dos valores ao próprio contratante do suposto serviço.

Assim, o pagamento dos honorários advocatícios eram feitos algumas vezes sob contratos de prestação de serviços advocatícios ideologicamente falsos, outras sem contratação formal contemporânea (com confecção de propostas ou contratos de serviços advocatícios com a aposição de datas retroativas), sem critérios técnicos, sem concorrência/licitação2, e, ainda, eram efetivados por intermédio da Fecomércio-RJ para a fuga dos órgãos oficiais de controle (conselhos fiscais do SESC e do SENAC Nacional, TCU e CGU), porque esta entidade, de natureza privada, não está sujeita aos mesmos.

Inclusive, por meio do artigo 327, parágrafo 1º, do Código Penal, os advogados relacionados na denúncia foram equiparados a funcionários públicos perante os delitos previstos na Lei 12.850/13 e artigo 332 do Código Penal – tráfico de influência. À primeira vista, equiparar o advogado a um funcionário público me parece uma inovação diante da jurisprudência analisada no presente estudo, razão pela qual poderá ser um ponto relevante para a pesquisa.

Assim, o mencionado caso é muito pertinente para o presente estudo por tratar de diversas figuras típicas imputadas a advogados no mesmo contexto fático, tais como estelionato, peculato, tráfico de influência, exploração de prestígio, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, bem assim organização criminosa e sonegação fiscal, além de ter instigado a OAB a fomentar regulamentação legislativa sobre o assunto, inclusive diante da já editada Recomendação III de 2020 do ENCCLA22.

21 A denúncia foi oferecida em 24.8.2020 e recebida em 28.8.2020, perante a 7ª Vara Federal Criminal da Subseção Judiciária do Rio de Janeiro.

22 Considerando a lesividade para o Estado Democrático de Direito e as graves consequências dos delitos de lavagem de dinheiro, corrupção e crimes conexos, em todas as suas formas;

Considerando que o Brasil é membro da Organização das Nações Unidas e tem a tradição diplomática de atuar efetivamente na arena global e cumprir os ditames daquela organização.

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Apenas a título ilustrativo, foi elaborado pequeno esquema para elucidação do tema que se pretende abordar:

Considerando que o Brasil é membro do Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo (GAFI) e assumiu o compromisso de implementar as 40 Recomendações e de se submeter periodicamente ao processo de avaliação mútua do Brasil pelo Grupo, prevista para se iniciar em 2020;

Considerando o quanto estabelecido nas Recomendações 22, 23 e 28 do GAFI concernentes às obrigações a que se submetem as atividades e profissões não financeiras designadas, dentre as quais a dos advogados;

Considerando que o inciso XIV do artigo 9º da Lei n° 9.613, de 1998 define como um dos sujeitos obrigados às medidas preventivas PLD/CFT as pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mesmo que eventualmente, serviços de assessoria, consultoria, contadoria, auditoria, aconselhamento ou assistência, de qualquer natureza, em operações, dentre os quais os advogados e profissionais jurídicos independentes;

Considerando que recentemente o setor de notários e registradores foi regulamentado por força do Provimento n. 088/2019 da Corregedoria Nacional de Justiça;

Considerando que, dentre as atividades profissionais previstas no artigo 9º da Lei n° 9.613, de 1998, os advogados ainda não possuem uma regulamentação quanto as obrigações previstas na mesma lei;

Considerando que o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) é o órgão que tem a competência de regular e fiscalizar os advogados;

Considerando a necessidade de compor a obrigação legal com o princípio da inviolabilidade das comunicações entre cliente e advogado;

A Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro – ENCCLA recomenda ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil que edite regulamentação aos advogados para o cumprimento das obrigações previstas na Lei n° 9.613, de 1998, observado o regime de inviolabilidade e o sigilo nas relações entre o advogado e o cliente nos termos da Lei n. 8906 de 4 de julho de 1994 (Estatuto da OAB).

Advogado Cliente

Honorário de origem maculada

Honorário de origem lícita

Lavagem de Capitais Receptação

Corrupção Ativa ou Passiva Organização Criminosa Exploração de prestígio

Outros delitos Finalidade

Finalidade

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Portanto, o que se pretende para a formação da pesquisa é exaurir as hipóteses de tipificação penal da conduta do advogado por meio do recebimento de honorários advocatícios, avaliando, eventualmente, o que está por vir em relação as inovações legislativas.

MANIFESTAÇÃO DO PROBLEMA NA JURISPRUDÊNCIA NACIONAL

Em pesquisa jurisprudencial realizada a partir da data-base do ano de 2015, com doze critérios de pesquisa23 que remetiam especificamente aos termos “advocacia”

e “lavagem de dinheiro” perante o Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal, foram encontrados 32 precedentes, sendo que 28 deles teriam relevância para o tema que se pretende abordar.

Dos precedentes válidos extraídos do Superior Tribunal de Justiça, todos são relativos ao advogado togado exercendo atividade contenciosa ou consultoria jurídica estrita, não sendo localizado casos em que o advogado atuou por meio de consultoria ou operação extrajurídica – Ex: representação de empresas no Brasil ou exterior.

Diante dessa pesquisa, estavam relacionados em concurso à lavagem de capitais outros delitos, tais como associação criminosa, corrupção ativa, peculato, fraude à licitação e tráfico de influência.

De igual forma, os precedentes encontrados perante o Supremo Tribunal Federal revelaram que a atuação do advogado era adstrita ao contencioso ou consultoria jurídica estrita, sendo a ele imputado os mesmos crimes citados nos julgados extraídos do Superior Tribunal de Justiça.

Portando, preliminarmente, essas foram as informações extraídas de nossos Tribunais Superiores, dando uma breve antecipação da quantidade de casos que serão analisados e suas respectivas fundamentações que levaram a imputar a responsabilidade criminal ao advogado, sendo que poucos deles, apenas três do Superior Tribunal de Justiça, avaliaram especificamente sobre o recebimento de honorários maculados por serviços prestados.

PROPOSTA PRELIMINAR DA SOLUÇÃO DO PROBLEMA.

23 advocacia + lavagem de dinheiro; advogado + lavagem de dinheiro; advocacia + lavagem de capitais;

advogado + lavagem de capitais; advogado + sentença + lavagem de dinheiro; advogado + condenação + lavagem de dinheiro; advogado + sentença + lavagem de capitais; advogado + condenação + lavagem de capitais; advocacia + sentença + lavagem de capitais; advocacia + condenação + lavagem de capitais;

advocacia + sentença + lavagem de dinheiro; advocacia + condenação + lavagem de dinheiro.

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Inicialmente, o trabalho pretendia fazer uma reflexão dos precedentes, a fim de compreender e estudar a fundamentação utilizada nos casos em que condenou ou absolveu advogados por crimes ligados ao exercício de sua atividade profissional, sobretudo em relação ao recebimento de honorários advocatícios. Contudo, após ponderação mais acurada, cada precedente relevante será avaliado dentro do estudo de análise de cada tipo penal, deixando as informações mais concisas e centralizadas aos temas referenciados.

Ao longo do trabalho, o ponto que que irá merecer mais atenção é a efetiva prestação de serviço advocatício e o recebimento de honorários maculados, sendo avaliada as possíveis soluções, dentre elas contidas no tipo objetivo, tipo subjetivo e, até mesmo, possível causa justificante contida no artigo 23, III, do Código Penal24.

Portanto, objetivamente, o que se pretende diante do presente pré-projeto é dar os contornos devidos à conduta do advogado por meio do recebimento de honorários advocatícios, sejam eles de origem maculada, sejam eles de origem lícita a fim de serem utilizados para o cometimento de crime em prol do cliente contratante e/ou do próprio advogado, analisando as possíveis subsunções de sua conduta às normas penais.

SUMÁRIO PRELIMINAR

I. Introdução sobre o tema II. Apresentação do problema

III. Hipóteses de conduta do advogado

iii.i Recebimento de honorários maculados com a prestação efetiva do serviço advocatício

iii.i.i Avaliação pelo aspecto do tipo objetivo – tipicidade objetiva iii.i.ii Avaliação pelo aspecto do tipo subjetivo

iii.i.iii Avaliação pelo aspecto de causa justificante – exercício regular de um direito

iii.ii Diferentes áreas de atuação do advogado togado

iii.iii Contrato de prestação de serviço total ou parcialmente fictício iii.iv Recebimento de honorários de origem lícita com finalidade espúria IV. Análise dos tipos penais para os crimes cometidos pelo advogado por

meio dos honorários recebidos V. Conclusão

24 Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de um direito.

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BIBLIOGRAFIA

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“Lavagem de dinheiro: prevenção e controle penal” / Coordenador Carla Veríssimo Di Carli e Andrey Borges de Mendonça. 2ª Ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2012.

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RASSI. João Daniel; GRECO FILHO. Vicente. Lavagem de dinheiro e advocacia: uma problemática das ações neutras. Boletim IBCCRIM nº 237 - Agosto/2012.

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RIOS, Rodrigo Sánchez. Advocacia e Lavagem de Dinheiro: Questões de Dogmática jurídico-penal e de Política Criminal, GVlaw, Saraiva, 2010.

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Etapas do trabalho:

Pesquisa e análise de fontes bibliográficas primárias e secundárias - fevereiro/março/abril de 2021

Sistematização das informações levantadas – abril de 2021

Redação introdução I e apresentação do problema II – abril/maio de 2021 Redação capítulo III – maio/junho de 2021

Redação capítulo IV – junho de 2021 Redação conclusão – junho de 2021 Revisão – junho de 2021

Versão preliminar – julho de 2021 Versão provisória – março de 2022 Banca de qualificação – abril de 2022 Depósito versão definitiva – maio de 2022 Banca final – junho de 2022

Depósito versão corrigida – julho de 2022

Referências

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