• Nenhum resultado encontrado

Em primeiro lugar, vamos dizer que são a mesma coisa. E isso é importante.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Em primeiro lugar, vamos dizer que são a mesma coisa. E isso é importante."

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

Campinas, 7 de janeiro de 2003 Aula de doutrina Moral 1 (Aula 11) Fundamentos da Ética

1. O que é a ética / moral

Em primeiro lugar, vamos dizer que são a mesma coisa. E isso é importante.

Concepções correntes:

Moral tem a ver com a atitude interna do homem, a sua “integridade interior”, algo restrito ao seu núcleo íntimo, à sua consciência.

Ética: É um juízo sobre o comportamento exterior do homem. Interiormente (ou com

“as nega dele”), o cara pode se um facínora, mas no tocante às suas relações a sociedade ele é um sujeito “ético”. Ele é um cara que segue à risca o “código de ética” profissional (vamos imaginar que ele é um médico), mas, vamos imaginar, que trai a esposa com a recepcionista do consultório, muito discretamente, diga-se de passagem.

Esse é um ponto fundamental: ética e moral são, para a nossa exposição, coisas estritamente sinônimas, iguais. Isso significa o seguinte: que não se pode criar uma ética esquizofrênica, que separa o “homem interior”, ou a esfera íntima, do “homem exterior”, ou a esfera pública.

Essa unidade do homem é um ponto de partida para a construção de uma ética consistente, sob o risco de cairmos num puro convencionalismo legalista, eventualmente rígido, aliado ao mais completo permissivismo. Exemplo típico:

sociedades escandinavas.

Isso posto, podemos fazer um resumo do que falaremos daqui para a frente, até acabar esse módulo. O próximo, daqui a alguns meses, será sobre os sacramentos.

1) Fundamentos da mora/ética: filosóficos, antropológicos e teológicos. Erros. 10 mandamentos

2) Cada um dos mandamentos. Mais ou menos 10 aulas.

Pois bem, o que é a moral, afinal de contas?

“Moral é o ser do homem”

“Moral é o que o é e está chamado a ser”

concepção kantiana, errada e corrente: “moral é um conjunto de REGRAS que o homem TEM QUE seguir.”

“O homem de hoje tem sérias dificuldades para compreender o verdadeiro sentido da moral, porque, ao pensar em moral, costuma imaginar alguma coisa ligada a regras e proibições, imposições mais ou menos incômodas e arbitrárias, procedentes de pais, professores, ministros religiosos; enfim, associa o tema a limitações da liberdade individual feitas pela sociedade.

(2)

Totalmente outra é a concepção do nosso interlocutor antigo preferencial, Tomás de Aquino, que nem sequer pode conceber a moral como algo imposto, nem como

“assunto reservado a religiosos” e, menos ainda, como algo constrangedor e repressivo à liberdade humana! O que, sim, ele afirma é que a moral é o ser do homem, doutrina sobre o que o homem é e está chamado a ser”

Luiz Jean Lauand, Os Fundamentos da Ética, Edix, 1994.

Na realidade, vamos falar daqui para frente: o que é a moral, e quais são as fontes da moral, e o que NÃO É a moral, por que existem inúmeras concepções erradas do tema que precisam ser esclarecidas.

2. O agir segue o ser, e não a lei

Esse é um princípio filosófico aristotélico fundamental. Deve haver uma harmonia entre a natureza dos seres e a ação que eles realizam. Cachorro late, cachorro não mia. Martelo é para martelar, não para desparafusar o parafuso. E a chave de fenda não é para abrir lata de tinta, ainda que muitas vezes façamos isso....

Quer dizer: as coisas tem um design, e o agir NATURAL, ÉTICO, RAZOÁVEL das coisas se dá quando essa ação leva em conta o design da coisa. Essa coisa está agindo conforme o PROJETO que se fez dela.

No caso do homem, existe um fator complicador importante: a liberdade

Bom, se a liberdade faz parte do design do homem, o agir livre é um agir bom, adequado, ético.

Aí acontece um problema muito sério, que foi, afinal de contas a raiz do próprio pecado original, nada mais nada menos. Liberdade para quê?

Concepção errada:

Liberdade para fazer o que me dá na telha. Como aquela música da Bethania, “Lama”

“Se eu quiser comer eu como, se eu quiser beber eu bebo, eu não quero mais ninguém. Se o meu passado foi lama, hoje quem me difama, viveu na lama também”

Evidentemente, essa coisa não funciona. Se todo o mundo fizesse o que desse na telha, e há um monte de gente com muito pouca telha, seria a calamidade total.

Assim, eu posso fazer o que dá na telha com a BARREIRA, o LIMITE da LEI. “Faz o que tu queres pois é tudo da lei, da lei” Sociedade alternativa do Raul.

Então é assim que funciona hoje em dia: eu tenho LIBERDADE para fazer o que me dá no côco, mas tenho que seguir uma MORAL que está na LEI, senão eu vou receber um CASTIGO.

O pior de tudo é que a própria religiosidade de muita gente está permeada desse concepção. É uma autêntica “moral de escravos”, que disse Sartre. Quando a lei é imposta pela sociedade, para ele tudo bem, por que afina de contas foi o próprio homem quem impôs. Uma espécie de “pacto social” Mas quando é imposta por Deus, a moral se torna uma escravidão.

(3)

Nesse ponto, caímos num outro problema: A lei, ora a lei. Que lei é essa? Quem foi que disse que a coisa é assim e não assado? Bom, a gente se juntou aqui e decidiu.

Somos maioria, temos mais força, e você vai ter que engolir essa lei aqui.

Algum tempo depois, mudam os governantes, mudam as leis. Bom, se lei é sinônimo de moral, mudou a moral!

Desse modo, a moral passa a ser, como a lei, como algo CONVENCIONAL, derivado de uma CONVENÇÃO, mais ou menos representativa, ou com maior ou menor capacidade de se impor.

A lei, a gente faz do jeito que achar melhor, em função das circunstâncias. Logo, a gente escolhe a moral que for mais conveniente, ou que estiver na moda em cada momento e em cada circunstância.

Esssa arbitrariedade na determinação do bem e do mau é algo que pode fazer muito mau ao homem:

Is, 5, 20 Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que põem as trevas por luz, e a luz por trevas, e o amargo por doce, e o doce por amargo!

21 Ai dos que são sábios a seus próprios olhos, e astutos em seu próprio conceito!

Com isso, chegamos ao seguinte ponto: existe, efetivamente, uma moral para o homem, mas essa moral é essencialmente arbitrária e provisória, que por sua vez corresponde à lei.

Concepção correta:

Falávamos de liberdade: o homem é livre? Certamente. Pode fazer o que lhe dá na telha? Poder pode, mas fazendo isso, estará, paradoxalmente, se escravizando.

Estará se entregando às suas paixões e caprichos, se tornando um autêntico escravo de si mesmo.

Bom, então o que é a liberdade?

No nosso tempo se considera às vezes erroneamente que a liberdade é fim de si mesma, que todo o homem é livre quando usa dela como quer, que a isso deve tender a vida dos indivíduos e das sociedades. A liberdade, por outro lado, é um dom grande somente quando sabemos usá-la responsavelmente para tudo o que é

verdadeiro bem. Cristo nos ensina que o melhor modo de usar a liberdade é a

caridade que se realiza na doação e no serviço. Para tal liberdade nos libertou Cristo (Gal 5, 1, 13)

Enc. Redemptor hominis, n. 21

1o., a liberdade é um dom. Não é um mérito, é um presente imerecido, que deve ser recebido com gratidão e deferência

2o. “quando sabemos usá-la responsavelmente”. Sabemos. Isso significa que a liberdade possui um leme inteligente. Implica num “saber usar”, num know-how, num conhecimento, numa disposição correta da inteligência. Mais ainda, numa inteligência que procura o seu objeto próprio, que é a verdade, e não o interesse. Não o que vai

(4)

“lhe trazer vantagem”, mas o que é verdadeiro afinal de contas, mesmo que a verdade acarrete a morte, como fizeram os mártires.

“Responsavelmente”, continua o papa. Respondendo pelos seus atos. O que faz o que dá na telha, sem lenço sem documento, é em geral, até coloquialmente, identificado com o “irresponsável”. Sujou, limpa.

E o legalista? Bom, aí tem a pena. Mas e esse negócio não está “tipificado” na lei.

Então dane-se. Bom, mas não há (e nem deve haver) uma lei dizendo que o cara tem que viver a caridade. Baubau, então dane-se a caridade.... Eu vou fazer o que é melhor para mim e pronto.

Quer dizer, o legalista substitui a responsabilidade à pena. Mas a pena é sempre uma restrição da liberdade, enquanto a responsabilidade é uma afirmação. Portanto, só é livre quem procura fazer o bem.

“Verdadeiro bem”: fazer o bem verdadeiro. Aí a coisa fica séria, porque, como dizia nosso amigo Poncio Pilatos: “O que é a verdade?”

Bom, a resposta sabemos: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, diz Cristo.

Antes disso. Onde está a verdade no campo moral? Onde encontrar a verdade sobre o homem e sobre o agir humano?

Olhando para o homem e para a natureza. Mas olhando de maneira desinteressada, de maneira reta, sem querer tirar proveito:

...Pois o que ele queria é que os seus vaqueiros vissem “o que no comum não se vê:

essas coisas que ninguém não faz conta”. E, para isso “tinham que falar e sentir, até amolecer as cascas da alma. (...) Tirar a cabeça, nem que seja por uns momentos:

tirar a cabeça, para fora do doido rojão das coisas proveitosas.

JGR, O Cara-de-Bronze, comentário Heloísa V. de Araújo, A pedra brilhante, pg. 533 Isso não é fácil. Exige uma sabedoria que vai muito além do conhecimento e da informação...

Na prática, esse conhecimento pode ser adquirido olhando para o homem, mas para o homem que realizou plenamente a sua potencialidade. Futebol de verdade: Pelé. O próprio futebol em carne e osso...etê, rana, abaetê, como tietê, como jaguaretê.

Abarana, tatarana.

Falávamos no começo: moral é o que o homem é, e está chamado a ser. Como o homem vem a ser o que ele está chamado a ser? Quando possui um comportamento virtuoso.

Assim, podemos agora dar um nome a esse “tipo” de moral que estamos falando:

“moral das virtudes”

Verdadeiro é o que leva o homem a se desenvolver. Mais homem é o homem mais virtuoso: prudência, justiça, fortaleza, temperança. Olhando para o comportamento do

(5)

homem virtuoso, olhamos para o etê, para o homem verdadeiro, para a verdade sobre o homem.

E a lei, com fica? A lei é má? Não. A lei, quando é boa enuncia sentenças

verdadeiras. Cumprindo a lei, estaremos agindo bem, não pela lei em si, mas por que a lei coincide com a verdade. Além disso, a lei ajuda a conhecer a verdade, por que facilita, dado o seu caráter sintético, enunciativo, a apreensão do verdadeiro por parte da criatura racional. Por isso, as leis verdadeiras e justas devem ser seguidas. Mas não por que está na lei, mas por que está no ser do homem.

3. Moral protestante, moral capitalista

Devemos ter em conta, entretanto, que cada vez mais estamos num mundo

capitalista até os seus estratos mais profundos. Até o PT é capitalista hoje em dia....

"em um mundo como o do Ocidente, em que dinheiro e riqueza são a medida de tudo, onde o modelo do mercado liberalista impõe as suas leis implacáveis a todos os aspectos da vida, a ética católica autêntica parece agora, para muitos, um corpo estranho de tempos há muito passados, que contrasta não somente com os hábitos de vida concretos mas também com o esquema básico do pensamento. O

liberalismo econômico traduz-se, no plano moral, em seu correspondente exato, o permissivismo".Pg 59

Vittorio Messori, A Fé em crise, O Cardeal Ratizinger se interroga, EPU, São Paulo A raiz desse negócio está no protestantismo. Explicar todo o processo demoraria muito, mas o fato é que o protestantismo nega os méritos dos atos virtuosos do ponto de vista da salvação, só sobrando (e soçobrando) a fé.

E por isso mesmo que se exige uma estrita ÉTICA nos negócios, e se permite numa boa uma MORAL permissiva na vida das pessoas.

Hoje em dia podemos facilmente cair no conto do pastor (não no do vigário, em princípio) de que o que importa mesmo, no fundo no fundo, na batata, é a GRANA.

Beautiful as a milion dolars.

A perda do sentido transcendente da vida conduz inevitavelmente ao ateísmo prático, no que proliferam o individualismo, o utilitarismo e o hedonismo (…). Assim, os

valores do ser são substituídos pelos do ter. O fim único que conta é a consecução do próprio bem estar material. A chamada “qualidade de vida” se interpreta principal ou exclusivamente como eficácia econômica, consumismo desordenado, beleza e gozo da vida física, esquecendo as dimensões mais profundas – relacionais, espirituais e religiosas – da existência.

Evangelium vitae, n. 21

E podemos nos ver se esfalfando, vendendo a alma como Fausto para ganhar GRANA e ver os nossos filhos indo para o buraco, nossa mulher virar uma dondoca insuportável, nossos amigos uns interesseiros, nosso próprio trabalho um saco, vivendo sob um stress desgraçado para ganhar GRANA, e morrer de enfarte com 50 anos e um monte de monstrinhos (que o chamavam de papai) e algumas pensões alimentícias para pagar, para as diversas mulheres. Engoliu sapo a vida inteira para poder beber uísque escocês.

(6)

Cuidado, cuidado, cuidado. Fé, esperança e caridade. É isso que enriquece o homem. Mas isso não serve para nada. O que eu ganho vindo aqui ouvir esse cara falar? Time is money. A vida é curta. Eu poderia estar no clube bebendo cerveja e admirando traseiros femininos, ao invés de agüentar esse cara chato....

3. 10 mandamentos

É o que vamos ver nas próximas aulas. Na realidade, eles são a síntese da moral cristã. São mandatos de Deus, sim, mas são principalmente enunciados, proposições sobre a natureza humana. Em cada âmbito da vida humanam, qual o comportamento verdadeiramente humano e virtuosos. Deus nos contou.

São uma receita de bolo para a felicidade humana.

Deus sabia que a simples reflexão filosófica não seria suficiente na prática, e por isso incluí-los no âmbito da revelação. Para nos ajudar a conhecer a verdade sobre o homem e praticar o bem.

9 Os preceitos do Senhor são retos, deleitam o coração; o mandamento do Senhor é luminoso, esclarece os olhos.

Sl 18

Referências

Documentos relacionados

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

Esta pesquisa discorre de uma situação pontual recorrente de um processo produtivo, onde se verifica as técnicas padronizadas e estudo dos indicadores em uma observação sistêmica

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

(1997, apud BERNARDO, 2011) definiram sete etapas principais para um estudo de evento: a) definição do evento. Nesta etapa é preciso definir qual evento será estudado, bem como

Assim, de acordo com a autora, a melhoria do ensino de Matemática envolve um processo de diversificação metodológica, exigindo novas competências do professor, tais como: ser capaz

• Minha opinião é que este tipo de procedimento leva a desmotivação, porque quando somos humilhados no local de trabalho, quando somos desqualificados não temos mais vontade

Apesar dos casos mais comuns de Assédio Moral partirem de um superior para o subordinado, há também casos em que o assédio é praticado por trabalhadores do mesmo nível.. Também

É a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, que normalmente são retiradas diariamente ao longo da jornada de trabalho e no exercício de suas