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VI Congreso ALAP Dinámica de población y desarrollo sostenible con equidad

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VI Congreso ALAP

Dinámica de población y desarrollo sostenible con equidad

Esterilização e arrependimento: perfil sociodemográfico das mulheres arrependidas no Brasil 1996 e 2006

Raphael Francisco do Nascimento Soares

Etapa 3

(2)

Esterilização e arrependimento: perfil sociodemográfico das mulheres arrependidas no Brasil 1996 e 2006

1

Raphael Francisco do Nascimento Soares2

Resumo:

Em 2006, a esterilização feminina foi o método contraceptivo mais prevalente entre mulheres de 15 a 49 anos no Brasil. A difusão da esterilização feminina, principalmente a partir dos anos 1980, está altamente associada a partos cesáreos. Foi impulsionada pela reestruturação a qual o sistema nacional de saúde estava passando nas décadas de 1960 e 1970, baseado na medicina curativa em detrimento da medicina preventiva.

Há, ainda, por parte das usuárias, desconhecimento, má orientação e desinformação a respeito deste método. E, apesar de ser um método contraceptivo de alta eficácia, é permanente e pode haver o arrependimento como uma grave consequência, já que a reversão dessa cirurgia e terapias alternativas tais como a fertilização in vitro (FIV) são caras, muito especializadas e não são acessíveis para a maioria das mulheres.

O arrependimento após a cirurgia de laqueadura está altamente associado com o perfil de mulheres jovens, com até 30 anos de idade. Em geral, os motivos de arrependimento são dois:

ou porque a mulher quer outro filho (67%) ou porque mudou de marido (14%), segundo os dados da PNDS de 2006 para o universo de mulheres de 15-49 esterilizadas.

Este trabalho tem como objetivo apontar as diferenças entre as mulheres que se arrependeram e aquelas que não se arrependeram após o procedimento de laqueadura tubária de acordo com algumas características sociodemográficas selecionadas, tais como, sexo, idade, grau de escolaridade, área (rural/urbana) e outras utilizando os microdados das pesquisas brasileiras do tipo DHS para 1996 e 2006. Após essas considerações e análises iniciais, será apresentado o perfil da mulher que se arrependeu, ressaltando algumas características como basilares da reflexão, bem como, abrir a discussão como o debate poderá ser aprofundado.

Palavras-chaves: DHS; Brasil; esterilização; arrependimento.

Área Temática: Demografia

1 Trabalho apresentado no VI Congreso de la Asociación Latinoamericana de Población, realizado em Lima-Perú, de 12 à 15 de agosto de 2014.

2 Doutorando em Demografia - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR – UFMG)

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1. Introdução

Em 2006, a esterilização feminina foi o método contraceptivo mais prevalente entre mulheres de 15 a 49 anos no Brasil. Entre as mulheres em união, a proporção de mulheres esterilizadas representou 29,1%, segundo relatório da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS, 2006). Em 1986, 28,2% das mulheres unidas, entre 15 e 44 anos de idade se submeteram ao procedimento (BEMFAM, 1986). E, em 1996, esse percentual atingiu 40,1% das brasileiras unidas entre 15 e 49 anos (BEMFAM, 1996).

A difusão da esterilização feminina, principalmente a partir dos anos 1980, está altamente associada a partos cesáreos. Foi impulsionada pela reestruturação a qual o sistema nacional de saúde estava passando nas décadas de 1960 e 1970, baseado na medicina curativa em detrimento da medicina preventiva. O efeito direto dessa reformulação foi a medicalização do planejamento familiar, ausência total de políticas públicas para o setor. Nesse contexto, a laqueadura tubária não era custeada pelo sistema público nem pelos planos privados de saúde. Então, o mecanismo para cobrir os custos ou acobertar a intervenção cirúrgica era acoplá-la a uma cesariana ou registrar a realização de outro procedimento, (POTTER, 1999; VIEIRA, 2003; CAETANO e POTTER, 2004; CAETANO, 2010).

A promulgação da Lei do Planejamento Familiar no Brasil em janeiro de 1996 (Lei 9.263) foi baseada no conceito de direitos reprodutivos aprovado na Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (CIPD) do Cairo, de 1994, e em um momento de alta proporção de mulheres esterilizadas. No entanto, o número de procedimentos havia crescido após a promulgação da lei, como apontam alguns estudos (LUIZ e CITELI 1999 apud CAETANO, 2010). Dessa forma, pouco havia mudado após a promulgação da lei e das portarias que a regulamentavam, pois ainda era elevado o grau de desconhecimento por parte dos gestores públicos e diretores de serviços de saúde (BERQUÓ e CAVENAGHI, 2003).

Há, também, por parte das usuárias, desconhecimento, má orientação e desinformação a respeito deste método. E, apesar de ser um método contraceptivo de alta eficácia, é permanente e pode haver o arrependimento como uma grave consequência, já que a reversão dessa cirurgia e terapias alternativas tais como a fertilização in vitro (FIV) são caras, muito especializadas e não são acessíveis para a maioria das mulheres (VIEIRA, 1998; CURTIS et al., 2006).

O arrependimento após a cirurgia de laqueadura está altamente associado com o perfil de mulheres jovens, com até 30 anos de idade (VIEIRA, 1998; HILLIS et al., 1999; CURTIS et al., 2006). Em geral, os motivos de arrependimento são dois: ou por que a mulher quer outro filho (67%) ou porque mudou de marido (14%), segundo os dados da PNDS de 2006 para o universo de mulheres de 15-49 esterilizadas.

Em um estudo realizado em 1992, na Região Metropolitana de São Paulo, VIEIRA (1998) explorou tanto a prevalência como a natureza do arrependimento após a esterilização. A autora encontrou associação entre que as mulheres jovens, que se separaram depois ou que continuaram solteiras após esterilização e a morte de filhos com arrependimento.

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Além de mulheres mais jovens apresentarem maior chance de arrependimento do que as mulheres com mais de 30 anos, HILLIS et al. (1999) mostrou em um estudo longitudinal que mulheres esterilizadas após o parto cesário possuíram duas vezes mais chance de se arrepender do que aquelas que realizaram o procedimento em um intervalo de tempo após a maternidade. O aumento da probabilidade de arrependimento após a esterilização dentre as mulheres que eram jovens na época do procedimento é geralmente atribuído a mudanças no tamanho desejado de família, ou seja, a vontade de ter outro filho.

Em outro estudo realizado por LUDERMIR et al. (2009) conduzido em um hospital público de ensino na capital de Pernambuco, Recife, mostrou que as mulheres que apresentaram uma maior probabilidade de arrependimento foram as esterilizadas quando jovens, as que não foram responsáveis pela decisão da cirurgia, as que realizaram a esterilização até o 45º dia pós-parto e as que adquiriram informações sobre métodos contraceptivos depois da laqueadura tubária.

Este trabalho é composto por cinco seções, incluindo esta introdução. Na segunda seção, foram detalhados os métodos e os dados utilizados no estudo. Na terceira seção, foram utilizados os dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS), de 2006, a fim de apontar as diferenças entre as mulheres que se arrependeram e aquelas que não se arrependeram após o procedimento de laqueadura tubária de acordo com algumas características sociodemográficas selecionadas, tais como, sexo, idade, grau de escolaridade, área (rural/urbana) e outras.

Na seção seguinte, através de um modelo de regressão logística, fez-se uso dos dados da PNDS de 2006 para descrever a relação entre um conjunto de variáveis independentes selecionadas e uma variável resposta binária, correspondente ao arrependimento após a esterilização, considerando o universo das mulheres de 15 a 49 anos. Após essas considerações e análises, apresentamos as considerações finais sobre o perfil da mulher que se arrependeu, ressaltando algumas características como basilares da reflexão.

2. Dados e métodos

Para o presente trabalho, foram utilizados os microdados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS) de 2006. Essa PNDS está inserida na 5ª fase da Pesquisa de Demografia e Saúde, do projeto MEASURE/DHS que é conduzido em escala mundial.

A PNDS (2006) é a terceira pesquisa no país. Outras duas pesquisas foram realizadas. A primeira em 1986 (Pesquisa Nacional sobre Saúde Materno-Infantil e Planejamento Familiar – PNSMIPF/1986) e, a segunda, em 1996 (Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde – PNDS/1996). Ressaltando que as três pesquisas brasileiras possuem comparabilidade nacional e internacional.

A PNDS (2006) permite a análise dos avanços ocorridos no Brasil com relação à saúde da mulher e da criança e abre espaço para incorporar novas questões em atenção aos avanços técnicos científicos, bem como às mudanças em curso na sociedade brasileira.

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Como o objetivo do trabalho é medir a associação entre o arrependimento após a esterilização da mulher e uma série de variáveis explicativas, foi elaborado um modelo de regressão logística. Para tanto, algumas considerações a repeito do modelo escolhido e do plano amostral da pesquisa são necessárias.

a. Plano amostral da PNDS de 2006

As hipóteses assumidas na estimação de modelos de regressão estão baseadas em dados que foram obtidos através de uma amostra aleatória simples com reposição (AASc). Porém, o plano amostral da PNDS de 2006, como o das DHS’s em geral, não corresponde a uma AASc e incorpora aspectos de amostragem como estratificação, conglomeração, probabilidades de seleção desiguais em um ou mais estágios e ajustes dos pesos amostrais para calibração com totais populacionais conhecidos. Portanto, os dados provenientes de planos amostrais complexos não podem ser tratados como se fossem observações independentes e identicamente distribuídas, pois as estimativas de variância e de parâmetros para ajustes do modelo são influenciadas, conjuntamente, pela estratificação, conglomeração e pesos, que se não forem levadas em consideração podem comprometer a qualidade do ajuste do modelo e a interpretação dos resultados obtidos (Pessoa e Silva, 1998).

A amostra de setores foi obtida de forma independente em dez estratos, por amostragem aleatória simples por conglomerados. Os estratos foram definidos a partir da combinação das cinco grandes regiões e da situação do domicílio, urbana e rural.

Considerando-se amostras com populações grandes e utilizando-se uma aproximação pela amostragem aleatória simples (AAS), com erro de cinco pontos percentuais, obteve-se o número mínimo de entrevistas em cada estrato. Os microdados da PNDS de 2006 fornecem nos arquivos as variáveis relativas à identificação de estrato (CM003_ESTR), unidade primária de amostragem (CM002_CONG) e o peso (fator de expansão) do domicílio já com a propriedade de calibração no total populacional à amostra da PNDS (XM999_PESO).

Portanto, o método comumente empregado para o ajuste de modelos paramétricos, quando se considera o plano amostral e os pesos provenientes de dados de amostras complexas, é o método da máxima pseudoverossimilhança (MPV). O procedimento de MPV proporciona estimativas consistentes e razoavelmente simples de calcular, tanto para os parâmetros, como para as variâncias dos estimadores pontuais dos parâmetros (Pessoa e Silva, 1998).

b. Modelo de regressão logística

Utiliza-se um modelo de regressão logística quando se está interessado no número ou proporção de sucessos em cada subgrupo, em termos de níveis de fatores e outras variáveis explicativas que caracterizam o subgrupo, a variável de interesse possui distribuição binomial, com probabilidade de sucesso πi em ni ensaios.

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A probabilidade de sucesso no modelo logístico é dada por:

Ou, equivalentemente, as probabilidades πi são modeladas como:

Onde Xi é o vetor de variáveis explicativas, βi é o vetor de parâmetros a serem estimados e g é a função de ligação.

Os parâmetros do modelo são estimados através do método da máxima pseudoverossimilhança (MPV), pois é levado em consideração o plano amostral da PNDS.

Para avaliar a qualidade de ajuste do modelo é utilizado o teste de razão de verossimilhança (TRV). Este teste compara o modelo estimado somente com o intercepto, com o modelo estimado com o intercepto e as variáveis explicativas (modelo de interesse).

H0: logit(πi)=β0

H1: logit(πi)=β0+ β1X1i+...+ βpXpi

A estatística de teste é dada por duas vezes a diferença positiva entre o logaritmo na base neperiana (ln) da função de verossimilhança do modelo de interesse ajustado e o modelo ajustado somente com o intercepto. Essa estatística tem distribuição qui-quadrado (χ2) com (p-1) graus de liberdade. Portanto, rejeita-se H0 caso essa estatística de teste for maior ou igual ao valor tabelado de uma qui-quadrado com (p-1) graus de liberdade (χ2(α;p-1)), a um nível de significância de 100α%.

A significância dos parâmetros do modelo verifica-se através dos testes de Wald multivariado e de Wald univariado. O teste de Wald multivariado testa a hipótese nula de que o parâmetro (βp) é igual a zero, ou seja, se esta variável não tem efeito, dado que as outras variáveis estão no modelo. O teste de Wald univariado, similar ao teste t de student do modelo de regressão linear, testa cada nível de fator separadamente.

A análise dos resultados é realizada através do estudo das vantagens (odds) e das razões de vantagens (odds ratio), já que os parâmetros estimados do modelo de regressão logística são de difícil interpretação. Portanto, a razão de vantagens é o parâmetro de interesse na regressão logística, devido a sua fácil análise (Hosmer e Lemeshow, 1990).

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A vantagem (πi/(1- πi)) mede o quanto a probabilidade de sucesso no j-ésimo fator é maior do que a probabilidade de fracasso no mesmo fator. Em outras palavras, a vantagem de um evento é a razão do número esperado de vezes que um evento irá ocorrer em relação ao número esperado de vezes que não irá ocorrer.

A razão de vantagens mede o quanto maior é a vantagem de sucesso no j-ésimo fator comparado com a vantagem de sucesso no fator de referência. Logo, a razão de vantagens é uma medida de relação entre duas variáveis dicotômicas e está diretamente relacionada aos parâmetros estimados no modelo de regressão logística. A razão de vantagens entre o j-ésimo fator e fator de referência é dada pelo valor da base natural (e) elevado ao coeficiente do j-ésimo fator da variável explicativa k (eβik).

3. Análise descritiva

Em um primeiro momento, faz-se necessário fazer a análise exploratória da PNDS de 2006 a fim de organizar, resumir e descrever aspectos importantes de um conjunto variáveis sociodemográficas dentre as mulheres esterilizadas que se arrependeram e aquelas que não se arrependeram de ter realizado o procedimento.

Os resultados dessa análise exploratória estão apresentados na Tabela 1. Em 2006, 12,2% das mulheres esterilizadas de 15 a 49 anos reportaram estavam arrependidas de ter realizado a laqueadura tubária. O interesse aqui é na ocorrência e não na persistência, pois as mulheres não reportam o momento em que se arrependeram de ter se submetido à esterilização. Este resultado é coerente com os resultados que LUDERMIR et al. (2009) encontrou estudando mulheres esterilizadas em um hospital público de Recife, bem como em relação à extensiva revisão bibliográfica que realizou.

Nesses estudos, a proporção de mulheres arrependidas variou entre 10% e 20%.

Quando investigada a região de residência, observou-se que não existem diferenças entre os perfis das mulheres que se arrependeram e as que não se arrependeram, bem como por área urbana/rural. Na área urbana, a proporção de mulheres arrependidas é superior a das mulheres da área rural, porém não é estatisticamente significante.

Da mesma forma, não foram encontradas diferenças significativas entre os perfis de mulheres arrependidas quando comparadas as que não se arrependeram por escolaridade, raça/cor, religião atual e religiosidade.

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Total Sim Não Região de residência atual

Norte 10,7 12,1 10,5

Nordeste 33,8 32,5 34,1

Sudeste 34,7 32,8 34,8

Sul 10,3 9,5 10,5

Centro-Oeste 10,5 13,2 10,1

Área de residência atual

Urbano 80,0 84,2 79,4

Rural 20,0 15,8 20,6

Grau de escolaridade atual

Sem instrução 6,6 7,4 6,5

1 a 3 anos 16,1 13,3 16,6

4 anos 15,7 17,5 15,2

5 a 8 anos 30,4 33,0 30,1

9 a 11 anos 23,6 23,0 23,6

12 anos ou mais 7,6 5,8 7,9

Raça/Cor

Branca 34,3 31,2 34,9

Não branca 65,7 68,8 65,1

Religião atual

Nenhuma 4,7 3,5 4,9

Católica 64,1 58,7 64,9

Evang. Tradic. 13,7 13,7 13,7

Evang. Pentec. 13,3 19,5 12,4

Espírita 2,4 3,5 2,2

Afro Brasileira 0,2 0,6 0,1

Outra 1,6 0,6 1,8

Religiosidade

Não frequenta 12,3 12,3 12,2

Frequenta 87,7 87,7 87,8

Fonte: PNDS, 2006.

Tabela 1 - Proporção de mulheres de 15 a 49 anos quanto ao arrependimento segundo características

socioeconomicas Brasil - 2006

Em geral, as mulheres que se arrependeram de ter se submetido ao procedimento reportaram como motivo ou porque queriam outro filho (66,7%) ou porque mudaram de marido (13,9%), como mostra a Tabela 2. Ou seja, essas mulheres se esterilizaram em uma época que ainda não tinham atingido seu número desejado de filhos ou, então, a perspectiva de um novo relacionamento trouxe novamente o desejo da maternidade.

Seria, nesses casos, importante investigar os motivos que fizeram que essas mulheres não quisessem ou, até mesmo, não pudessem optar um método contraceptivo reversível.

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Mudou de marido 13,9

Quer outro filho 66,7

Marido quer outro filho 4,0

Filho morreu 2,1

Efeitos colaterais 4,6

Prob. saúde associados 3,1 Diminuiu interes. por sexo 0,0

Outro motivo 5,6

Fonte: PNDS, 2006.

Tabela 2 - Proporção de mulheres de 15 a 49 anos arrependidas segundo o motivo

Brasil - 2006

A Tabela 3 apresentam algumas características das mulheres esterilizadas segundo a condição de arrependimento. A maioria das mulheres, cerca de 65%, submeteram ao procedimento de laqueadura tubária até os 29 anos de idade, jovens ainda e, metades das mulheres foram esterilizadas há pelo menos 10 anos. Dessa forma, mulheres esterilizadas mais precocemente em suas vidas reprodutivas apresentaram uma proporção maior de arrependidas do que aquelas que se esterilizaram mais tardiamente.

Quatorze por cento das mulheres que se esterilizaram até os 29 anos de idade reportaram arrependimento, ao passo que as mulheres esterilizadas com 30 anos ou mais, em torno de 8% delas reportaram arrependimento (porcentagens não apresentadas na tabela). A Tabela 3 mostra que, de uma forma geral, mulheres esterilizadas recentemente, apresentam uma proporção menor de arrependidas do que aquelas que se submeteram ao procedimento há mais tempo. Por exemplo, cerca de 7% das mulheres que se esterilizaram há 3 anos ou menos reportaram arrependimento, enquanto que mulheres que se esterilizaram há 10 anos ou mais, 13,2% se dizem arrependidas (porcentagens não apresentadas na tabela).

Conforme discutido na literatura sobre esterilização no Brasil (POTTER, 1999;

CAETANO e POTTER, 2004; CAETANO, 2010), a maioria das mulheres foram esterilizadas durante o parto Cesário (60%), em 2006. No entanto, não existiram diferenças significativas entre as mulheres esterilizaram que se arrependeram e as que não se arrependeram de acordo com o momento em que foi realizado o procedimento (ver Tabela 3).

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Total Sim Não Idade à época da esterilização

15-19 2,5 5,8 2,0

20-24 24,8 30,6 24,0

25-29 38,6 41,0 38,2

30-34 22,2 14,7 23,2

35-39 9,7 6,3 10,1

40-44 1,9 1,6 2,0

45-49 0,4 - 0,5

Anos transcorridos desde a esterilização

Menos de 2 anos 9,5 5,8 10,1

2 a 3 anos 8,7 4,3 9,4

4 a 5 anos 10,2 9,2 10,3

6 a 7 anos 12,3 17,1 11,7

8 a 9 anos 10,3 9,8 10,4

10+ anos 49,0 53,8 48,2

Momento em que foi realizada a esterilização

Na cesariana 58,8 66,9 57,7

Logo após parto normal 5,5 5,3 5,6

Horas após parto normal 3,5 3,6 3,5

Não ocasião do part. 32,2 24,2 33,3

Fonte: PNDS, 2006.

Tabela 3 - Proporção de mulheres de 15 a 49 anos quanto ao arrependimento segundo certas característica do momento da

esterilização Brasil - 2006

Das mulheres esterilizadas que se arrependeram 86,7% não fariam a cirurgia de laqueadura. Em contrapartida, entre aquelas que não se arrependeram, apenas 7,2% não fariam a esterilização, ou seja, mostrando algum grau de arrependimento ou insatisfação com a decisão tomada, como mostra a Tabela 4.

Total Sim Não

Sim, faria hoje 83,0 13,3 92,8

Não, não faria hoje 17,0 86,7 7,2

Fonte: PNDS, 2006.

Tabela 4 - Proporção de mulheres de 15 a 49 anos quanto ao arrependimento segundo a decisão de

fazer hoje a esterilização Brasil - 2006

A PNDS de 2006 investigou a se as mulheres esterilizadas recomendariam a esterilização a alguém parente ou amigo e, como era de esperar, o percentual de que recomendaria foi maior entre as mulheres que não reportaram arrependimento. Os dados mostraram, também, que embora cerca de 73% das mulheres não tenha recebido nenhuma informação sobre os outros métodos contraceptivos antes de realizar o procedimento, isso não influenciou na questão do arrependimento. Por outro lado, discutir com o parceiro antes de se esterilizar mostrou a importância da questão da discussão para o casal a respeito de qual método usar, pois 63,7% das mulheres que se arrependeram discutiram o assunto com o companheiro, enquanto que esse percentual foi significativamente maior para aquelas que não se arrependeram, cerca de 84% (ver Tabela 4).

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4. Fatores associados ao arrependimento após a esterilização

Nesta seção será aplicado um modelo de regressão logística a fim de descrever a relação entre um conjunto de variáveis independentes selecionadas e uma variável resposta binária, correspondente ao arrependimento ou não da mulher após a realização da laqueadura tubária, considerando o universo das mulheres esterilizadas entre 15-49.

Os modelos de regressão logística são amplamente utilizados nas Ciências Sociais. E, assim como nos modelos de regressão linear, têm como objetivo descrever a associação entre uma variável dependente e um conjunto de variáveis independentes.

Fundamentalmente, o que diferencia o modelo de regressão linear do de regressão logística é que neste último a variável dependente é binária ou dicotômica, permitindo, assim, o uso de um modelo de regressão para se calcular ou prever a probabilidade de um evento específico (Hosmer e Lemeshow, 1990).

a. Ajuste do modelo e análise dos resultados

A escolha das covariáveis, utilizadas no modelo de regressão logística, foi baseada na análise feita na seção anterior e na literatura. Estas se mostraram como variáveis sociodemográficas de significativa importância para o estudo do arrependimento após esterilização.

Durante o processo de seleção do modelo, foram testadas, primeiramente, variáveis de controle tais como região de residência, área (urbana/rural), escolaridade da mulher, cor/raça, religião atual e religiosidade (frequência a cultos), idade a esterilização, anos desde a esterilização e o momento em que foi realizada a esterilização. No modelo “sem ajuste”, apenas as variáveis de idade a esterilização, de anos desde a esterilização e do momento em que foi realizada a esterilização se mostraram significativas, ao nível de confiança α de 5%. No entanto, ao inserir as variáveis de estudo “se faria hoje a esterilização” e “discutiu o assunto com o marido/companheiro”, as variáveis de controle não foram significativas, sendo retiradas do modelo. Sendo assim, o modelo final proposto, ou “ajustado”, é refrente a essas duas últimas variáveis de estudo. Os resultados com os coeficiente e razões de vantagem dos modelos com e sem ajuste são apresentados na Tabela 5.

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Coeficiente Razão de

vantagem Coeficiente Razão de vantagem

Intercepto - - -0,56 -

Idade à época da esterilização

15 a 29 anos 0,645 1,91 - -

30 anos ou mais 1,00 - -

Anos transcorridos desde a esterilização

até 3 anos 1,00 - -

4 a 9 anos 0,77 2,16 - -

10+ anos 0,76 2,15 - -

Momento em que foi realizada a esterilização

Na cesariana 0,47 1,60 - -

Após parto normal 0,30* 1,36 - -

Não ocasião do part. 1,00 - -

Faria hoje a esterilização

Sim, faria hoje -4,40 0,01 -4,36 0,01

Não, não faria hoje 1,00 1,00

Discutiu o assunto com marido/companheiro

Sim 1,00 1,00

Não -3,20 2,61 0,80 2,23

Fonte: PNDS, 2006.

Nota: Não significativo a 5%.

Tabela 5 - Fatores associados ao arrependimento após a esterilização

Coeficientes e razões de vantagens da regressão logistica dos modelos não ajustados e ajustado

Brasil - 2006

Modelo não-ajustado Modelo ajustado

O modelo “sem-ajuste” aponta alguns resultados que a literatura ressalta.

Mulheres mais jovens possuem a maior chance de se arrepender após o procedimento do que mulheres de 30 anos ou mais e também, mulheres que se esterilizaram há 4 anos ou mais possuem duas vezes mais de arrependimento do que aquelas que se esterilizaram há três anos ou menos. Na análise do momento em que a mulher realizou a laqueadura tubária, a chance da mulher se arrepender é 60% maior em comparação com a mulher que se esterilizou em um momento que não na ocasião do parto.

O modelo final de regressão logística da inserção do idoso na força de trabalho foi ajustado e a análise será feita com base nas razões de vantagem. O modelo final foi composto das variáveis de “faria hoje a esterilização” e de “discutiu o assunto com o marido/companheiro”, como consta na Tabela 5. Apesar de a análise descritiva ter apontado uma grande diferença entre as mulheres arrependidas e não arrependidas, a chance de uma mulher que se arrependeu de ter feito a laqueadura é 1% maior do que aquela mulher que não se arrependeu. Por outro lado, discutir o assunto com o marido/companheiro se mostrou de grande importância para no futuro não haver arrependimento, pois a chance de uma mulher que não discutiu o assunto com seu companheiro se arrepender é 2,23 vezes maior em relação àquela que discutiu.

5. Considerações finais

A esterilização feminina foi o método contraceptivo mais prevalente entre mulheres de 15 a 49 anos no Brasil no ano de 2006. No entanto, é um método

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irreversível e pode ter o arrependimento como uma grave consequência, visto que outras alternativas tais como a fertilização in vitro (FIV) são caras, muito especializadas e não são acessíveis para a maioria das mulheres.

Ao contrário do que a literatura mostrou, nesse estudo, variáveis como a idade a esterilização e o momento em que foi realizado o procedimento, não se mostraram significativas tanto na modelagem quanto na análise descritiva. Em contrapartida, “faria hoje a esterilização” e de “discutiu o assunto com o marido/companheiro” apresentaram significância estatística. Ou seja, em suma, segundo os dados da PNDS (2006), não importa se a mulher foi submetida à esterilização jovem ou se realizou a esterilização no momento do parto, mas sim se ela discutiu o assunto com o marido/companheiro. Como mostrou a Tabela 5, as mulheres que não discutiram o assunto com o companheiro de união apresentaram 2,23 mais chance de se arrepender do que aquelas que discutiram.

Ressaltando que a modelagem não mostrou diferenças por grande região do Brasil, área rural ou urbana, escolaridade, raça, religião atual e religiosidade, tidas como possíveis variáveis de controle.

Esse trabalho representou uma análise preliminar sobre o assunto arrependimento utilizando os dados da PNDS de 2006. É necessário, ainda, estudar mais profundamente o rico questionário da pesquisa, pois outras variáveis importantes poderão ser incluídas. Além disso, dispomos de três pesquisas do projeto DHS no Brasil, o que será de grande utilidade a fim de se comparar coortes de mulheres. Dados das DHS’s brasileiras mostram que a proporção de mulheres unidas de 15 a 44 anos que se arrependeram foi de 10,6%, em 1986, passando para 11,2%, em 1996 e chegando a 13,1% em 2006.

Referências bibliográficas

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Referências

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