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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 1335/07-1

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Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 1335/07-1

Relator: AUGUSTO CARVALHO Sessão: 15 Novembro 2007 Número: RG

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: AGRAVO

Decisão: NEGADO PROVIMENTO

ARRENDAMENTO RURAL

Sumário

1.A falta de junção do contrato escrito de arrendamento rural ao agricultor autónomo com a petição inicial tem como consequência a extinção da

instância, a menos que o autor alegue que essa omissão é imputável à parte contrária.

2.Não tendo os arrendatários notificado os senhorios, previamente à

propositura da acção, para a redução do contrato a escrito, nem alegado na petição inicial que tal falta é imputável à parte contrária, a instância não poderia prosseguir e, por consequência, também não poderia deixar de ser julgada extinta.

Texto Integral

Acordam no Tribunal da Relação de Guimarães

Os autores Fernando P... e mulher Maria J..., residentes no lugar das V..., freguesia de Arões S. Romão, Fafe, intentaram a presente acção declarativa, com processo comum e forma sumária, contra os réus Manuel F... e mulher Amélia R..., residentes no Loteamento do P..., Lote ...3, freguesia de Arões S.

Romão, Fafe, pedindo que seja reconhecido que o despejo do prédio que ocupam como arrendatários rurais põe em risco sério a sua subsistência económica e a do seu agregado familiar.

A fundamentar o seu pedido, os autores alertam para o facto de já terem proposto contra os réus uma acção semelhante a esta, que culminou com a

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declaração de extinção da respectiva instância, vindo os mesmos, por isso, aproveitar-se dos efeitos civis derivados da sua procedência, nos termos do artigo 289º, nº 1 e 4, do C. P. C. Alegaram que são arrendatários rurais de determinados prédios dos réus, tendo estes, contudo, denunciado tal contrato, notificando-os para procederem à entrega dos mesmos prédios tomados de arrendamento em determinada data.

Sucede que, conforme factos que alegam, a manutenção de tal contrato é indispensável à sua subsistência, o que, conjugado com o facto de os réus serem abastados proprietários, pretendendo os prédios para posterior revenda para construção de moradias, obsta à concretização de tal denúncia.

Os réus contestaram, defendendo a extinção da instância, pelo facto de os autores não terem procedido à junção de um contrato de arrendamento escrito, nem terem alegado que a ausência de tal redução do contrato a escrito lhes possa ser imputada, como exige o nº 5, do artigo 35º, LAR, não podendo essa omissão ser suprida pelo tribunal na notificação cuja

concretização requerem. Não compete ao tribunal executar tarefa da competência dos autores.

No despacho saneador, o Exmº Juiz, com o fundamento de que a não redução a escrito do contrato de arrendamento é, única e exclusivamente, imputável aos autores, nos termos do artigo 35º, nº 5, do DL 385/88, de 25/10, julgou extinta a instância.

Inconformados com esta decisão, os autores recorreram para esta Relação, formulando as seguintes conclusões:

1.Em 1 de Novembro de 1989, os agravados deram de arrendamento aos ora agravantes, por acordo verbal, os prédios identificados no artigo 3º da petição inicial.

2.Em 5 e 7 de Outubro de 2004, os ora agravados fizeram notificar os autores, ora agravantes, para que reduzissem a escrito o contrato verbal vigente.

3.Naquela data, estava pendente uma acção judicial, tendente a aferir da natureza rural ou urbana do contrato celebrado entre as partes, sendo certo que não poderia ser reduzido a escrito um contrato de arrendamento rural submetido a um regime jurídico específico, quando o conteúdo da proposta apresentada pelos então réus, poderia vir a assumir natureza diferente, ficando, por isso, sujeita a um regime distinto daquele.

4.Aquando da propositura da acção, de cuja sentença se recorre, os então autores, aqui agravantes, juntaram um exemplar de arrendamento ao

agricultor autónomo, em tudo semelhante ao que lhes havia sido enviado pelos

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réus, ora agravados, em 2004, na medida em que não havia, naquela data, e só naquela, motivo para não subscreverem o aludido contrato.

5.Fizeram-no em obediência ao preceituado no artigo 35º, nº 5, do DL 385/88, de 25/10.

6.Os ora agravantes apuseram as suas assinaturas no referido contrato, respeitando em tudo o teor daquele que os réus/agravantes quiseram, inoportunamente, fazer valer.

7.Tanto mais que a redução a escrito de arrendamento rural não implica a obrigação de celebração de um novo contrato.

8.Sendo certo que, face ao princípio da liberdade contratual, os ora agravados sempre poderiam recusar a assinatura daquele escrito, pelo que, nunca

ficariam vinculados a um contrato contra a vontade ou desconhecimento, conforme quer fazer valer a sentença recorrida.

9.Face ao exposto, não pode ser imputada aos agravantes a falta de um

exemplar de arrendamento, na medida em que foram estes a vencer a inércia, não podendo, de todo, tê-lo feito previamente à propositura da acção,

conforme sustenta a sentença recorrida, na medida em que o arrendamento em litígio se encontra pendente em tribunal há já 11 anos, pelo que difícil seria encontrar tal sentido de oportunidade.

10.Não tinham, por isso, os agravantes de alegar que a suposta falta de um contrato reduzido a escrito seria imputável à parte contrária, na medida em que a instrução da petição inicial era acompanhada do exemplar do contrato que havia sido aceite pelos agravados, tanto mais que o artigo 35º, nº 5, do supracitado diploma legal, impõe aquela alegação apenas no caso de não ter sido junto qualquer escrito.

11.O que manifestamente não aconteceu.

12.Ao decidir como decidiu, o tribunal a quo fez incorrecta interpretação e aplicação da lei, violando, por conseguinte, o disposto no artigo 35º, nº 5, do DL 385/88, de 25/10.

Concluem, pedindo que seja dado provimento ao recurso e, por via disso, revogada a sentença e substituída por outra que ordene o prosseguimento da acção.

Os recorridos Manuel F... e mulher Amélia R... apresentaram contra-alegações, concluindo que deve ser negado provimento ao recurso e confirmada a

sentença recorrida.

Colhidos os vistos, cumpre decidir.

Os elementos de facto a considerar, por relevantes, para o conhecimento do

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recurso são os seguintes:

-Por acordo verbal celebrado a 1 de Novembro de 1989, os réus deram de arrendamento aos autores os seguintes prédios sitos na freguesia de Arões S.

Romão, concelho de Fafe; Campo da Veiga, com leira ao Sul, terra culta co árvores de vinho, no lugar do Penedo, descrito na Conservatória do Registo Predial sob o nº 14.796, do Livro B-43 e inscrito na matriz sob o artigo 605º;

Sorte de Mato dos Salgueiros, no lugar do Monte dos Salgueiros, descrito na Conservatória do registo Predial sob o nº 19.081 e inscrito na matriz sob o artigo 823º; Sorte de Mato da Veiga, no lugar do Penedo, que faz parte do descrito na Conservatória do Registo Predial sob o artigo 13.577 e inscrito na matriz sob o artigo 604º; uma casa com suas divisões, no lugar da Veiga, edificado em parte do descrito na Conservatória do Registo Predial sob o artigo 14.796, do Livro B-43 e inscrito na matriz urbana sob o artigo 184º.

-A renda anual estipulada para o arrendamento dos prédios foi a de 150.000

$00 ou 748,20 euros, acrescida de metade da produção do vinho e da fruta.

-Os réus fizeram notificar judicialmente os autores, por requerimento apresentado em 2 de Maio de 2005, no dia 2 de Junho do mesmo ano, da denúncia do contrato de arrendamento ao agricultor autónomo, para o termo do prazo da sua próxima renovação, que ocorria em 31 de Outubro de 2006, devendo, nessa data, entregar os prédios ao requerente devolutos de pessoas e bens.

-Os réus fizeram notificar judicialmente os autores, por requerimento apresentado em 3 de Maio de 2004, nos dias 5 e 7 de Outubro de 2004, respectivamente, o autor marido e a ré mulher, para estes assinarem o contrato de arrendamento respeitante aos prédios supra referidos e que os mesmos autores exploram por contrato verbal, desde 1 de Novembro de 1989.

-Os autores recusaram-se a assinar o contrato de arrendamento que lhes foi apresentado em quadriplicado por solicitador, no âmbito da notificação judicial avulsa referida.

-Com a petição inicial, os autores apresentam o exemplar de um contrato de arrendamento ao agricultor autónomo, junto a fls 39 dos autos, agora, com as suas assinaturas, exemplar esse que lhes havia sido enviado pelos Réus, em 2004, e que os mesmos autores, na altura, não assinaram.

São apenas as questões suscitadas pelos recorrentes e sumariadas nas respectivas conclusões que o tribunal de recurso tem de apreciar – artigos 684º, nº 3 e 690º, nº 1, do C. P. Civil.

A questão a decidir consiste em saber se poderia deixar de ser declarada extinta a instância, por ter sido omitida a exigência legal de instrução da

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acção com um exemplar do contrato de arrendamento ao agricultor autónomo já assinado por ambas as partes.

Não está posto em causa que estamos ante um contrato de arrendamento rural ao agricultor autónomo, situação que resulta dos factos alegados e provados por documentos e por acordo das partes.

O artigo 3º, nº 1, do D.L. 385/88, de 25 de Outubro (L.A.R.), estabelece que os arrendamentos rurais, incluindo os arrendamentos ao agricultor autónomo, são obrigatoriamente reduzidos a escrito.

Por outro lado, os nº 3 e 4, do mesmo preceito, estipulam que “qualquer das partes tem a faculdade de exigir, mediante notificação à outra parte, a redução a escrito do contrato” e que “a nulidade do contrato não pode ser invocada pela parte que, após a notificação, tenha recusado a sua redução a escrito”.

A isto acresce, nos termos do artigo 35º, nº 5, do mesmo diploma legal, que

“nenhuma acção judicial pode ser recebida ou prosseguir, sob pena de

extinção da instância, se não for acompanhada de um exemplar do contrato, quando exigível, a menos que logo se alegue que a falta é imputável à parte contrária”.

A redução a escrito dos contratos não tem apenas em vista salvaguardar os intervenientes de eventuais conflitos ou proteger o arrendatário, parte normalmente considerada mais fraca.

Com esta exigência, para além da obtenção de uma maior clareza do conteúdo dos contratos, da consecução de mais facilidade de prova em juízo e de melhor ponderação do acto que se celebra, pretende também o Estado,

nomeadamente, saber quais os prédios arrendados, as obrigações fiscais dos intervenientes nos contratos, qual o responsável pelo não cultivo dos prédios, as possibilidades de emparcelamento e quais os eventuais interessados.

A exigência do nº 5, do citado artigo 35º, por sua vez, é essencial para que o autor veja a acção recebida ou para que ela prossiga, no caso de só

posteriormente se ter dado pela falta do exemplar do contrato.

É um preceito de natureza processual, que constitui um pressuposto

específico das acções referentes a arrendamentos rurais ou, ainda, daquelas que tenham subjacentes a existência de tais contratos, ao mesmo tempo que cria “uma nova causa de extinção da instância a juntar às previstas no artigo 287º, do C. P. Civil”.

«A exigência da junção do contrato escrito com a petição ou do seu

suprimento através da alegação de que a falta é imputável à parte contrária só tem lugar quando a acção tenha como causa de pedir, ou faça parte desta, um contrato verbal de arrendamento rural.

Trata-se de um pressuposto processual positivo, especial destas acções, que tem de ser necessariamente alegado para a admissibilidade da instância ou

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para que ela possa prosseguir, se só mais tarde se der pela sua falta, sob pena de extinção». cfr. Aragão Seia e M. Costa Calvão, Arrendamento Rural, 4ª edição, pág. 35 e 259.

Decorre de tudo quanto já se referiu que impende, em regra, sobre o

arrendatário, quando este pretenda exercer o direito de oposição à denúncia do arrendamento rural, o ónus de instruir a acção com um exemplar do contrato ou alegar que a falta de formalização do contrato lhe não é imputável, mas sim por culpa da outra parte.

Os autores/agravantes recusaram-se a reduzir a escrito o contrato,

anteriormente, celebrado verbalmente e dizem, agora, que assim agiram porque foram notificados pelos réus/agravados durante a pendência de uma acção judicial, na qual se apreciava a natureza rural ou urbana do

arrendamento, acção essa cuja decisão apenas transitou em julgado, no final do mês de Abril de 2005 (artigo 7º da petição).

Mas, ainda que se considerasse válida a razão invocada, os autores sempre poderiam, logo após aquela data, Abril de 2005, ter lançado mão da faculdade prevista no nº 3, do citado artigo 3º, da LAR, isto é, notificarem eles os

senhorios para reduzirem o contrato a escrito e se estes recusassem, então, sobre eles poderiam recair as consequências do incumprimento.

Não se tendo os autores disposto a reduzir o contrato a escrito, quando foram notificados para o efeito, em Outubro de 2004, nem mesmo após Abril de 2005, também não o podem agora fazer, simultaneamente, com a propositura da acção.

De facto, com a petição inicial, os autores apresentam o exemplar de um contrato de arrendamento ao agricultor autónomo, junto a fls. 39 dos autos, agora, com as suas assinaturas, exemplar esse que lhes havia sido enviado pelos Réus, em 2004, e que os mesmos autores, na altura, não assinaram.

A junção do contrato escrito com a petição é, como se referiu, um pressuposto e, portanto, uma circunstância ou facto que se considera como antecedente necessário do recebimento da acção. O que aos ora agravantes se impunha era, para satisfazer aquele requisito processual, assim evitando a extinção da instância, ter assinado o contrato que os agravados lhes enviaram ou, pelo menos, após Abril de 2005, mas previamente à instauração da acção, notificar aqueles para o efeito e, a partir daí, proceder em conformidade com a posição assumida. A notificação judicial requerida na própria acção pelos agravantes não satisfaz, de modo algum, a exigência prevista no nº 5, do artigo 35º, da L.A.R.

Não juntando o contrato escrito, os autores/agravantes só poderiam evitar a declaração de extinção da instância, alegando que a omissão era imputável aos réus/agravados.

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Para o efeito, os autores deveriam ter recorrido à faculdade prevista no nº 3, do citado artigo 3º, da L.A.R., notificando os senhorios, previamente à

instauração da acção, para a redução do contrato a escrito, colocando-se em condições de, em caso de recusa, poderem fazer recair sobre aqueles as consequências do incumprimento da forma, designadamente, adquirindo a possibilidade de alegar que a falta lhes era imputável. cfr. Acórdão da Relação do Porto, de 16.1.2001, C.J., ano XXVI, Tomo I, pág.179.

Os autores não assinaram o documento do contrato, quando foram notificados para tal, em Outubro de 2004 e, após Abril de 2005, mas antes da propositura da acção, não notificaram os senhorios, ora réus/agravados, para redução do mesmo contrato a escrito. Por isso, apesar de não ter sido alegado que a falta de redução do contrato a escrito era imputável à parte contrária, pois, o que se refere no artigo 7º da petição inicial não satisfaz a respectiva exigência legal, os autores também já não o poderiam, agora, fazer.

Deste modo, e em conclusão, entende-se que a falta de junção do contrato escrito de arrendamento rural ao agricultor autónomo com a petição inicial tem como consequência a extinção da instância, a menos que o autor alegue que essa omissão é imputável à parte contrária. Não tendo os autores/

agravantes notificado os senhorios, previamente à propositura da acção, para a redução do contrato a escrito, nem alegado na petição inicial que tal falta é imputável à parte contrária, a instância não poderia prosseguir e, por

consequência, também não poderia deixar de ser julgada extinta, como foi.

Decisão:

Pelos fundamentos expostos, acordam os Juízes desta secção cível em negar provimento ao agravo e em confirmar a decisão recorrida.

Custas pelos agravantes.

Guimarães, 15.11.2007

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