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ENQUADRAMENTO LEGAL E REGULAMENTAR

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ENQUADRAMENTO LEGAL E REGULAMENTAR

ODRIGUES/DIVESPOT

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documento 5

Estudo Jurídico para a Criação e Cogestão da área marinha protegida de interesse comunitário

documento 6

Proposta de Ato de Classificação de parque natural marinho documento 7

Estudo para a Elaboração do Programa Especial e do(s) Regulamento(s) de Gestão documento 8

ENQUADRAMENTO LEGAL

E REGULAMENTAR

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documento 5

ENQUADRAMENTO LEGAL E REGULAMENTAR

Estudo Jurídico para a Criação e Cogestão da área marinha protegida de interesse

documento 5

ENQUADRAMENTO LEGAL E REGULAMENTAR

Estudo Jurídico para a Criação e Cogestão

da área marinha protegida de interesse

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Católica Research Centre for the Future of Law

Centro de Estudos e Investigação em Direito da Universidade Católica Portuguesa

Estudo Jurídico para a Criação e Cogestão

de uma Área Marinha Protegida de Interesse Comunitário (AMPIC) no Algarve

Equipa responsável:

António Cortês Joana Delgado

Março de 2021

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Estudo Jurídico para a Criação e Cogestão

da Área Marinha Protegida de Interesse Comunitário (AMPIC) do Algarve

Índice

Prefácio sobre o objeto, a elaboração e a sequência do Estudo

Parte I – A Classificação da Área Marinha Protegida

1. Enquadramento – as áreas protegidas em Portugal e o desafio do desenvolvimento sustentável

2. Património natural e atividades humanas no Recife do Algarve 2.1. O estudo do CCMAR sobre valores naturais

2.2. O trabalho desenvolvido em Processo Participativo 2.3. O estudo do CCMAR sobre atividades humanas

3. A classificação do Recife do Algarve como área marinha protegida 4. O âmbito e a tipologia da classificação do Recife do Algarve como área

marinha protegida: parque natural de âmbito nacional 5. O Recife do Algarve enquanto Parque Natural Marinho

6. O procedimento de classificação da área marinha protegida do Recife do Algarve

7. O ato de classificação da área marinha protegida no Recife do Algarve 8. O programa especial da área marinha protegida no Recife do Algarve 9. A relação entre o programa especial da área marinha protegida e os

instrumentos de ordenamento do espaço marítimo

10. O estatuto de proteção do Recife do Algarve ao nível europeu

Parte II – A gestão da área marinha protegida

1. Enquadramento – a necessidade de gestão partilhada e a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade 2030

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2. A gestão das áreas protegidas

2.1. O alcance da “gestão” das áreas protegidas

2.2. As atividades humanas reguladas por legislação não ambiental e os licenciamentos específicos dentro das áreas protegidas

3. O modelo de gestão direta: duas experiências 3.1. O Parque Natural da Arrábida

3.2. A Reserva Natural das Berlengas

4. O meio caminho do modelo de gestão contratualizada. O caso do Projeto Piloto para a Gestão Colaborativa do Parque Natural do Tejo Internacional

5. Proposta inovadora de criação uma Associação Pública Mista 5.1. Enquadramento

5.2. A previsão da figura da associação pública como entidade de cogestão de áreas protegidas

5.3. A hipótese da AMPIC como associação pública mista

6. Proposta inovadora de alargamento do papel das Comissões de Cogestão em áreas marinhas protegidas no mar territorial

6.1. Enquadramento sobre a lei em vigor da cogestão de áreas protegidas aplicável às áreas marinhas no mar territorial

6.2. Proposta inovadora de possível delegação de poderes do ICNF nas Comissões de Cogestão e de alargamento da respetiva composição nas áreas protegidas no mar territorial

Parte III – Conclusões

Parte IV - Guia para a elaboração dos Estatutos de uma Associação Pública Mista de Gestão da AMPIC

Parte V - Proposta de Regime Jurídico de Cogestão de Áreas Protegidas no Mar Territorial

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Prefácio

Sobre o Objeto, a Elaboração e a Sequência do Estudo

A) A Universidade do Algarve, e em particular o Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve (CCMAR), promoveu, em articulação com a Fundação Oceano Azul, um levantamento de informação transdisciplinar, biológica, ecológica, geológica, oceanográfica e das atividades humanas na área marinha ao largo da costa dos municípios de Lagoa, Silves e Albufeira, visando a criação de uma Área Marinha Protegida de Interesse Comunitário (AMPIC). Essa área foi inicialmente identificada nos Estudos da Universidade do Algarve como “Baía de Armação de Pêra”, mas de agora em diante, para efeitos deste Estudo Jurídico, será identificada simplesmente por “Recife do Algarve”.

Os Estudos do CCMAR demonstram que a área marinha em causa forma um grande recife natural, que constitui um habitat privilegiado para a reprodução e desenvolvimento de inúmeras espécies marinhas. Inclui, nomeadamente, 6 zonas elegíveis para o sistema de classificação europeu EUNIS, 19 espécies com estatuto de conservação e 12 espécies novas que não são conhecidas em mais nenhum outro local. Além disso, o habitat potencia o desenvolvimento de bancos de pesca, que devem naturalmente ser geridos de forma sustentável, e possibilita diversas formas de atividades marítimo-turísticas.

Pretende-se conservar o mencionado habitat e a biodiversidade nele existente, de modo compatível com o uso sustentável dos mesmos, através da criação e manutenção de uma área marinha protegida que envolva a participação ativa das principais partes interessadas, tanto na sua conceção como na sua posterior gestão: associações de pescadores, empresas marítimo-turísticas, organizações não-governamentais ligadas à proteção do ambiente, universidades, institutos de investigação e Administração Pública a nível nacional e local.

Neste sentido, a Fundação Oceano Azul pretendeu saber, através deste estudo jurídico, como se poderia proceder, em termos de direito, à criação

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de uma Área Marinha Protegida de Interesse Comunitário no Recife do Algarve que permitisse a participação ativa na sua gestão de diversas entidades locais, públicas e privadas, tendo em vista a propor ao Governo a criação dessa mesma área marinha protegida de interesse comunitário.

Para tal, este estudo fez o enquadramento jurídico da questão, com dois objetivos:

1º. Identificar o modo de classificação e ordenamento da área como Área Marinha Protegida, quanto aos procedimentos, à forma legal e ao conteúdo essencial dos instrumentos dessa classificação e ordenamento da área protegida.

2.º Estudar o modo como se poderão articular, em termos de cogestão da área protegida, os organismos relevantes da Administração Direta e Indireta do Estado, as Autarquias Locais e, ainda, entidades privadas representativas de interesses socioeconómicos e ambientais envolvidos na área.

B) No que respeita à classificação e ordenamento da área protegida, o Estudo, que foi inicialmente escrito em junho de 2019, preparou e enquadrou a Proposta de Ato de Classificação da Área Marinha Protegida, que viria a ser, posteriormente, em julho de 2020, elaborada em separado, com a colaboração e com as informações do CCMAR da Universidade do Algarve, tendo em consideração os dados do Processo Participativo. Este documento é apresentado em separado, após este Estudo.

C) No que respeita à questão da cogestão da AMPIC, cumpre dizer o seguinte. Este Estudo Jurídico foi inicialmente elaborado em junho de 2019, tendo terminado com a proposta de criação de uma Associação Pública Mista para gerir a AMPIC. Mas foi objeto de posterior atualização e aditamento da parte final em função do decurso do processo participativo e do superveniente surgimento do Decreto-Lei nº 116/2019, de 21 de agosto, que veio apresentar um modelo de cogestão de áreas

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protegidas. Este diploma legal, todavia, não veio resolver totalmente os problemas relativo às áreas protegidas no mar territorial e, em especial, daquelas que possuam as características de parque natural.

Entretanto saiu, também, o Decreto-Lei n.º 73/2020, de 23 de setembro, que regula o novo regime da pesca comercial marítima, e que trouxe, como novidade, um regime de “cogestão” de pesca comercial. Este diploma, porém, não é aplicável às áreas protegidas no mar territorial, que nos termos do Regime Jurídico da Conservação da Natureza e da Biodiversidade têm “programas especiais” próprios e são geridas pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, o que facilmente se compreende dados os objetivos de preservação (ou até de recuperação) dos valores ambientais nas áreas protegidas. Mas o novo diploma veio confirmar a adequação da solução que defendemos de uma maior intervenção das comissões de cogestão de áreas protegidas na regulamentação da pesca, das atividades marítimo-turísticas e de todas as outras atividades humanas que podem decorrer dentro dessas áreas protegidas.

Assim, este Estudo termina com indicações práticas para a concretização de dois modelos inovadores de cogestão, contendo nomeadamente:

- Um Guia para a elaboração dos Estatutos de uma Associação Pública Mista, que era a ideia inicial e que poderá vir a ser adotada no futuro próximo numa lógica de aprofundamento da gestão participada (Parte IV); e,

- Uma Proposta de Regime Jurídico de Cogestão de Áreas Protegidas no Mar Territorial, que consiste numa adaptação do regime geral da Lei da Cogestão de Áreas Protegidas e do Regime Jurídico da Conservação da Natureza e da Biodiversidade à especificidade das áreas marinhas protegidas situadas no mar territorial (Parte V)

Lisboa, 18 de março de 2021

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Lista de Abreviaturas

AMP – Área Marinha Protegida

AMPIC – Área Marinha Protegida de Interesse Comunitário CCMAR – Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve

DGRM - Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos.

DGAM - Direção Geral da Autoridade Marítima

ENCNB – Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade 2030 (Resolução do Conselho de Ministros n.º 55/2018, de 7 de maio) ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas

ITP – Instituto de Turismo de Portugal

PSOEM - Plano de Situação do Ordenamento do Espaço Marítimo Nacional RJCNB – Regime Jurídico da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (Decreto-Lei n.º 142/2008, de 24 de julho)

RJIGT – Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (Decreto-Lei n.º 80/2015, de 14 de maio)

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Parte I

A Classificação da Área Marinha Protegida

1. Enquadramento – as áreas protegidas em Portugal e o desafio do desenvolvimento sustentável

Existem em Portugal continental, atualmente, 47 áreas protegidas incluídas na Rede Nacional de Áreas Protegidas, ao abrigo da legislação portuguesa, sendo que 32 dessas áreas são de âmbito nacional (1 parque nacional, 13 parques naturais, 9 reservas naturais, 2 paisagens protegidas e 7 monumentos naturais) e 14 de âmbito regional ou local (2 reservas naturais, 11 paisagens protegidas e 1 parque natural), identificando-se ainda uma área protegida privada. Contabilizando também as áreas protegidas das Regiões Autónomas (nos Açores, designadamente, 24 reservas naturais, 10 monumentos naturais e 16 paisagens protegidas, e na Madeira 1 parque natural, 4 reservas naturais, 1 área protegida e uma rede de áreas marinhas protegidas), as áreas protegidas classificadas ao abrigo da legislação nacional incluem cerca de 850 000 ha de superfície terrestre e 250 000 km2 de superfície marinha1.

“No âmbito da Rede Nacional de Áreas Protegidas, identificam-se seis áreas protegidas com área marinha com expressão superior a 0,5 km2: Parque Natural do Litoral Norte; Reserva Natural das Berlengas; Parque Natural da Arrábida; Reserva Natural das Lagoas de Santo André e Sancha; Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina e o Monumento Natural do cabo Mondego”2.

Portugal é, reconhecidamente, uma nação rica em património natural, como o atestam as inúmeras áreas protegidas existentes. De facto, a classificação de áreas protegidas é um instrumento ao serviço da proteção da natureza e da biodiversidade, mas que assume contornos mais complexos

1 Dados incluídos da Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade para 2030, constante da Resolução do Conselho de Ministros n.º 55/2018, publicada no Diário da República, 1.ª série, n.º 87, de 7 de maio de 2018.

2 Resolução do Conselho de Ministros n.º 143/2019, in DR 29 agosto de 2019, p. 43.

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quando é indissociável do património sociocultural e do seu aproveitamento económico, ou seja, o património natural tem de ser visto em conjugação com os objetivos do desenvolvimento sustentável.

Tal circunstância torna-se menos complexa se considerarmos que atualmente a classificação de uma área protegida já não passa pelo “(…) paradigma puramente “conservacionista” em que a proteção se exercia pela negativa, pela proibição de usos e pela ocultação de valores”, paradigma esse que, de certa forma, também levou à “neutralização” das áreas protegidas, “(…) não as incorporando no processo de desenvolvimento”3. Pelo contrário, “(…) as áreas protegidas são hoje entendidas como ativos estratégicos em que, em maior ou menor grau, a presença das atividades humanas é essencial para manter os valores que as caracterizam”4.

Note-se que essa matriz de compatibilização dos valores naturais com o seu aproveitamento económico é mais abrangente que as áreas protegidas, sendo denominador comum de qualquer política pública que atualmente se equacione no domínio ambiental: “(…) nem desenvolvimento económico irrestrito ou ilimitado, à custa do bem ambiente, nem estagnação económica por causa do bem ambiente. Tudo está em conciliar o desenvolvimento económico com a sustentabilidade ambiental; por outras palavras, tudo está em garantir a natureza duradoura do desenvolvimento”5.

Assim, e em especial no que respeita o espaço marítimo, “(…) exige-se desde logo uma nova atitude, uma nova tomada de consciência, a nível global.

Em vez de contrapor simplesmente desenvolvimento económico e proteção do ambiente marinho, fazer uma chamada de atenção para a “economia azul”, para o “crescimento azul”, à semelhança do que já sucede com a “economia verde”6.

3 Vd. Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade para 2030, constante da Resolução do Conselho de Ministros n.º 55/2018.

4 Vd. Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade para 2030, constante da Resolução do Conselho de Ministros n.º 55/2018.

5 Vd. Maria da Glória F. P. D. Garcia O lugar do direito da proteção do ambiente, Almedina, Coimbra, 2007, pág. 172.

6 Vd. António Cortês e Armando Rocha, O princípio da proteção do ambiente marinho, in Direito do Mar, Novas perspetivas, coord. Maria da Glória Garcia, António Cortês e Armando Rocha,

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Ou, por outras palavras, e no que respeita o ordenamento do mar, “(…) a finalidade última do ordenamento do mar (…) é o desenvolvimento sustentável, ainda que na perspetiva da proteção”7.

Ora, é nesse modelo de entendimento das áreas protegidas como zonas de confluência entre património natural e cultural, entre valores a proteger e recursos com aproveitamento económico, que mais releva o conhecimento mais aprofundado e mais localizado dos valores e dos interesses a regular. Em concreto, é na existência de uma matriz dupla, composta por interesses relacionados com a proteção e por interesses relacionados com utilização humana, que importa trazer para a gestão do território e do espaço marítimo quem diretamente ocupa, usa e explora os recursos existentes e que, por essa razão, conhece o potencial e, em simultâneo, pode reconhecer o limite, dos elementos naturais existentes. Na verdade, a gestão de áreas protegidas “(…) encerra especificidades próprias decorrentes dos seus valores naturais, mas também socioculturais e económicos, para as quais as entidades que estão no território detêm, reconhecidamente, uma capacidade de mobilização e interação que a proximidade e conhecimento do território lhes confere”8.

Tendo presente esses pressupostos, e trazendo-se para os centros de decisão as entidades de proximidade, é necessário assegurar que os mecanismos de planeamento deste tipo de áreas comportem a gestão dos conflitos que possam surgir. É esse o ponto de partida das teorias do planeamento colaborativo ou comunicacional: “aos planeadores cabe agora uma nova função como facilitadores do diálogo, moderadores de debates e mediadores de negociações, pressupondo-se que a boa qualidade dos processos garantirá a tomada de boas decisões”9.

7 Vd. Joana Albernaz Delgado, Histórias da terra e do mar – pensar o ordenamento do espaço marítimo no quadro do ordenamento do território, in Direito do Mar, Novas perspetivas, coord.

Maria da Glória Garcia, António Cortês e Armando Rocha, Universidade Católica Editora, Lisboa, 2016, pág. 186.

8 Vd. Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade para 2030, constante da Resolução do Conselho de Ministros n.º 55/2018.

9 Vd. João Ferrão, Ética e ordenamento do território, in Ética Aplicada: Ambiente, Almedina, Coimbra, 2017, pág. 72.

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Note-se que o ordenamento do território (independentemente, para estes efeitos, de se tratar de território terrestre ou território marítimo) é também uma política pública10, que enquanto tal tem desafios (colisão entre prioridades e ações, entre interesses públicos e privados, entre o médio e o longo prazo, entre interesses nacionais e globais11), mas que também apresenta dilemas próprios de natureza ética, como o dilema entre interesses públicos associados ao território e os interesses legítimos dos privados que sobre esse mesmo território têm direitos e/ou expectativas, bem como o dilema entre as políticas setoriais e os objetivos gerais de ordenamento do território12.

No entanto, e muito embora se reconheça a presença desse condomínio de interesses, em especial no planeamento, as áreas protegidas são reguladas por um regime jurídico – o Decreto-Lei n.º 142/2008, de 24 de julho, que estabelece o regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade (doravante DL 142/2008, ou RJCNB) – que, atendendo aos interesses que visa acautelar, centra por regra as competências e os poderes genéricos de planeamento no Governo e os poderes de gestão numa única entidade, especialmente consignada à prossecução desses mesmos interesses, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.P.. Como se verá adiante, a participação de entidades de proximidade nesse âmbito é ainda diminuta, o que, associado à rigidez dos instrumentos de ordenamento e de gestão aprovados a nível central, pode tornar gestão das áreas protegidas algo com pouca aderência à realidade. Em concreto, a gestão das áreas protegidas é em regra realizada longe dos centros de decisão locais, e por isso afastada daqueles que melhor conhecem o território e as suas necessidades, sendo conformada por regras muitas vezes pouco adaptadas às especificidades das zonas que pretendem regular.

Esse cenário adensa-se quando as áreas protegidas em causa se situam em espaço marítimo, caso em que o regime jurídico do respetivo ordenamento espacial não tem ainda a consolidação que apresenta no ordenamento terrestre.

10 João Ferrão, ob. cit., pág. 60.

11 João Ferrão, ob. cit., pág. 61.

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A lei que estabelece as Bases da Política de Ordenamento e de Gestão do Espaço Marítimo Nacional data só de 2014 (a Lei n.º 17/2014, de 10 de abril), sendo o seu regime de desenvolvimento de 2015 (o Decreto-Lei n.º 38/2015, de 12 de março, na sua redação em vigor). O Plano de Situação do Ordenamento do Espaço Marítimo Nacional (PSOEM) – o principal instrumento de ordenamento do espaço marítimo nacional, previsto designadamente nos artigos 9.º e seguintes do Decreto-Lei n.º 38/2015, de 12 de março – só no final de 2019 foi aprovado e publicado, pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 203- A/2019, de 30 de dezembro.

Em conclusão, as áreas protegidas em Portugal, que pelo seu número, dimensão e relevância reiteram a importância do património natural do país, são cada vez mais entendidas como espaços de confluência não só entre valores naturais a proteger e recursos económicos a explorar como, por outro lado, entre entidades públicas e privadas, todas prosseguindo interesses específicos, em que algumas delas, pela sua proximidade ao território, sempre apresentariam uma legitimidade acrescida na participação em decisões de gestão.

2. Património natural e atividades humanas no Recife do Algarve

2.1. O estudo do CCMAR sobre valores naturais

O Estudo “Baía de Armação de Pêra – Informação de base dos valores naturais e usos do espaço marinho” - que foi realizado pelo CCMAR - Universidade do Algarve, com o patrocínio na Fundação Oceano Azul e cujo relatório data de março de 2018 - permitiu concluir que a Baía de Armação de Pêra (que foi a designação inicialmente adotada para a área marinha do “Recife do Algarve”) constitui uma das áreas mais ricas em termos de biodiversidade a nível nacional. Em concreto, a Baía de Armação de Pêra “(…) beneficia de condições oceanográficas particulares e do maior recife rochoso costeiro de

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Portugal, que determinam valores ecológicos ímpares no contexto da costa portuguesa”13.

Em termos de localização e delimitação geográficas, a Baía de Armação de Pêra compreende a área entre o Farol de Alfanzina (limite oeste) e a marina de Albufeira (limite este), e estende-se até ao limite da batimétrica de cerca de 30m, totalizando uma área total de aproximadamente 100 km214.

No âmbito do estudo realizado resultaram os seguintes dados sobre o património natural existente15:

a) foram observadas 889 espécies na Baía de Armação de Pêra, das quais 703 de invertebrados, 111 de peixes e 75 espécies de algas.

b) Foram também identificadas 19 espécies com estatuto de conservação, entre as quais os cavalos-marinhos (Hippocampus spp.) e o mero (Epinephelus marginatus).

c) Foram descobertas mais 45 espécies novas para Portugal e 12 novas espécies para a ciência.

d) Os recifes naturais presentes são um dos habitats designados na diretiva europeia HABITATS (Habitat 1170), assim como os Bancos de areia sem vegetação vascular (Habitat 1110 pt1) e Bancos com Cymodocea nodosa (Pradaria de ervas marinhas, Habitat 1110 pt2).

e) Existem mais dois habitats sob estatuto de proteção pela Convenção OSPAR, que são as pradarias de ervas marinhas (C. nodosa) e os bancos de Maerl (algas calcárias).

f) Foram ainda identificados na zona da Baía de Armação de Pêra 6 novos habitats para o sistema de classificação Europeu EUNIS (European

13 Vd. Relatório do Estudo Baía de Armação de Pêra – Informação de base dos valores naturais e dos usos do espaço marinho, CCMAR, Universidade do Algarve, Fundação Oceano Azul, Faro, Março de 2018.

14 Vd. Relatório do Estudo Baía de Armação de Pêra – Informação de base dos valores naturais e dos usos do espaço marinho, CCMAR, Universidade do Algarve, Fundação Oceano Azul, Faro, Março de 2018.

15 Vd. Relatório do Estudo Baía de Armação de Pêra – Informação de base dos valores naturais e dos usos do espaço marinho, CCMAR, Universidade do Algarve, Fundação Oceano Azul, Faro,

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Nature Information System), com destaque para os jardins de gorgónias, comunidades de algas castanhas e calcárias e de bancos de ofiurídeos.

g) A zona entre Albufeira e Armação de Pêra apresenta características particulares que favorecem o crescimento e sobrevivência das larvas de peixe, nomeadamente de sardinha.

Quanto aos valores naturais que ocorrem no Recife do Algarve e que se encontram identificados na Rede Natura 2000, o Estudo concluiu pela existência de elementos constantes da Diretiva Habitats, em concreto:

a) Bancos de areia permanentemente cobertos por água do mar pouco profunda – Habitat 1110 (Código EUNIS A4.2, A4.3, A4.4), com os Subtipos Bancos de areia sem vegetação vascular (1110pt1) e Bancos com Cymodocea nodosa (1110pt2.);

b) Recifes – Habitat 1170.

Por sua vez, foram identificadas várias espécies com estatuto de conservação internacional, que a seguir se discriminam:

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Espécie Filo Família EC IUCN

Raja undulata Chordata Rajidae SS2 EN

Trachurus trachurus Chordata Carangidae SS2 VU Balistes capriscus Chordata Balistidae SS2 VU Epinephelus

marginatus Chordata Serranidae SS2 VU

Eunicella verrucosa Cnidaria Gorgoniidae SS, SS2 VU Palinurus elephas Arthropoda Palinuridae SS, SS2 VU Hippocampus

hippocampus Chordata Syngnathidae SS, SS1,

SS2, SS3 DD Hippocampus

guttulatus Chordata Syngnathidae SS, SS1,

SS2, SS3 DD

Arnoglossus thori Chordata Bothidae SS2 DD

Solea solea Chordata Soleidae SS2 DD

Torpedo marmorata Chordata Torpedinidae SS2 DD Torpedo torpedo Chordata Torpedinidae SS2 DD

Alosa alosa Chordata Clupeidae SS1

Alosa fallax Chordata Clupeidae SS1

Axinella polypoides Porifera SS1

Caryophyllia

inornata Cnidaria Caryophylliidae SS Charonia lampas Mollusca Ranellidae SS1 Maja brachydactyla Arthropoda Majidae SS1 Mitra zonata Mollusca SS1

Ophidiaster

ophidianus Echinodermata Ophidiasteridae SS1 Paracentrotus

lividus Echinodermata Parechinidae SS1 Scyllarus arctus Arthropoda Scyllaridae SS1 Spongia agaricina Porifera Spongiidae SS1 Spongia officinalis Porifera Spongiidae SS1

Zonaria pyrum Mollusca SS1

Tabela 1 – Espécies registadas na Baia de Armação de Pêra pelos projetos RENSUB, respetiva Família e Phylum, e estatuto de conservação (EC): SS – outro, SS1 – Convenção de Berna, SS2 – Lista Vermelha da Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN); cujo estatuto é identificado na última coluna (foram excluídas as espécies só avaliadas pela IUCN com a classe LC, Least Concern/Pouco preocupantes); - Lista OSPAR de Espécies e Habitats Ameaçados e/ou em Declínio.

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No que respeita o património cultural e as atividades económicas, resultaram do estudo as seguintes conclusões16:

a) As comunidades locais registam um peso significativo da sua economia ligada ao mar.

b) Encontram-se bancos de pesca importantes para a pesca local (sobretudo artesanal) e costeira e para atividades turísticas (mergulho, pesca recreativa de costa, submarina, embarcada, passeios de barco, visita às grutas, entre outras).

c) A criação de zonas de produção aquícola (como a aquacultura), de manchas de empréstimo para alimentação artificial da costa (como a extração de areias), a imersão de dragados e atividades similares são altamente prejudiciais na Baía de Armação de Pêra e áreas adjacentes, pois criam desequilíbrios ambientais, põem em risco as áreas de maternidades de espécies e reduzem a biodiversidade e os stocks de recursos pesqueiros, prejudicando também as atividades turísticas.

Perante os dados obtidos, o Estudo concluiu como ação prioritária assegurar a utilização sustentável desta baía, através da criação de mecanismos que garantam em simultâneo a sustentabilidade ambiental e a sustentabilidade económica daquela área, com participação de todas as entidades públicas e privadas que possam, atendendo à sua natureza, interesses e conhecimento, trazer contributos relevantes para a prossecução desse objetivo. Como se refere no Estudo, “a ideia principal é conservar a natureza de forma integrada, envolvendo as principais partes interessadas: associações de pescadores, empresas de turismo, organizações não-governamentais ambientais, universidades, institutos de investigação, administração local, regional e nacional”17.

16 Vd. Relatório do Estudo Baía de Armação de Pêra – Informação de base dos valores naturais e dos usos do espaço marinho, CCMAR, Universidade do Algarve, Fundação Oceano Azul, Faro, Março de 2018.

17 Vd. Relatório do Estudo Baía de Armação de Pêra – Informação de base dos valores naturais e dos usos do espaço marinho, CCMAR, Universidade do Algarve, Fundação Oceano Azul, Faro, Março de 2018.

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Para esse efeito, o Estudo concluiu que os objetivos definidos poderiam ser alcançados pela criação, ao abrigo do ordenamento jurídico português, de uma área marinha protegida.

Em conclusão, o Estudo efetuado pelo CCMAR – Universidade do Algarve, com o patrocínio da Fundação Oceano Azul, demonstra que o Recife do Algarve (designado em 2018, nesse estudo, por Baía de Armação de Pêra) apresenta não só características únicas ao nível do património natural que justificam um estatuto de proteção abrangente e integrado, como também um património cultural e um potencial de aproveitamento económico que deve ser regulado e equilibrado com a proteção dos valores naturais e da biodiversidade, entendendo-se que tal equilíbrio pode ser alcançado com a criação de uma área marinha protegida.

2.2. O trabalho desenvolvido em Processo Participativo

De acordo com o Estudo, pretendia-se que a criação da área protegida fosse objeto de um processo participativo, com intervenção de todos os interessados de modo a garantir o máximo de informação sobre a área e o máximo de ponderação de todos os interesses envolvidos. Para esse efeito, e ainda antes do início do futuro procedimento formal de criação da área protegida propriamente dita, foram feitos vários trabalhos preparatórios em que a participação de todos aqueles que representam os interesses relevantes foi plenamente assegurada.

A ideia é criar uma área em que os diferentes interessados sejam envolvidos na definição das regras a que se irão submeter com a criação da área marinha protegida. É isso que se visa com uma Área Marinha Protegida de interesse Comunitário.

O processo participativo foi-se realizando com vista à identificação dos objetivos da área, das atividades interditas e condicionadas e à definição das zonas com diferentes regimes de proteção.

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Salientam-se, desde já como quatro objetivos que permitem definir o tipo de Área Protegida que está em causa:

1) “Conservação (conservação eficaz dos valores naturais existentes, particularmente dos mais sensíveis e ameaçados)

2) Pesca sustentável (valorização da pesca sustentável)

3) Turismo sustentável (desenvolvimento de atividades recreativas sustentáveis)

4) Educação ambiental (Promoção de atividade educativas e culturais relacionadas com o oceano)”18.

Além disso, o Processo participativo também identificou quais as atividades que, em sua opinião e sem prejuízo de posterior discussão pública, devem ser interditas e quais as atividades que devem ser condicionadas a autorização ou licenciamento. No essencial, pretendem-se interditar ou condicionar atividades prejudiciais à biodiversidade e à preservação dos valores naturais e das funções dos ecossistemas e regulamentar as atividades de pesca comercial e lúdica e as atividades marítimo-turísticas de modo a torná-las sustentáveis.

Além disso, discutiu-se no Processo Participativo o “zonamento”, i.e., as zonas da área protegida sujeitas a diferentes regimes de proteção.

2.3. O estudo do CCMAR sobre as atividades humanas

Já em 2020 foi apresentado um segundo Estudo intitulado “Área Marinha Protegida de Interesse Comunitário na costa de Lagoa, Silves e Albufeira:

Mapeamento e valoração das atividades suportadas e desenvolvimento de um processo participativo”, coordenado pelo Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve e patrocinado pela Fundação Oceano Azul.

18 Ver M. Helena Guimarães/Jorge Gonçalves/Bárbara Horta e Costa, Área Marinha Protegida da Interesse Comunitário - Relatório da 5ª Reunião Participativa (30 de Outubro de 2019), p. 16, onde Jorge Gonçalves resume os resultados do processo participativo no que respeita aos objetivos da área.

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Esse estudo dá dados sobre as atividades humanas no Recife do Algarve que deverão ser reguladas de modo a preservar e recuperar a biodiversidade e a salvaguardar a sustentabilidade dessas mesmas atividades, em especial da pesca e das atividades marítimo-turísticas.

Transcrevemos aqui as principais conclusões do estudo:

“Os resultados obtidos para a área da AMPIC permitiram estimar que a pesca lúdica engloba anualmente cerca de 1 500 praticantes (apenas entre as modalidades apeada e embarcada), que gastam cerca de 750 000€ apenas em despesas diretas. Paralelamente, estima-se que a captura total para estas modalidades seja de, aproximadamente, 6 000 kg anuais. A pesca comercial (embarcações até aos 15 m) gerará cerca de 8 M€ em receitas anuais e suportará cerca de 607 empregos diretos. As atividades MTs, incluindo passeios de costa, observação turística de cetáceos, pesca recreativa com operador e mergulho, geraram um total de 40 M€ em 2018 e suportaram 1051 empregos diretos. Os valores aqui apresentados são demonstrativos dos enormes benefícios suportados por este recife natural e da dependência destas atividades de um ecossistema marinho íntegro e funcional. Ao apresentar valores do Impacto Económico Direto (IED) destas atividades, apenas se revela uma pequena porção do valor total deste recife costeiro. Este recife é fundamental para o bem-estar das comunidades, residentes e visitantes, prestando serviços essenciais, em valências tão diversas como a regulação do clima, mitigação e absorção de poluição, proteção e segurança costeira, para os quais não são apresentados valores neste estudo, mas cujo valor deve ser considerado na gestão e planeamento desta área. Finalmente, tendo em conta os múltiplos interesses e benefícios suportados por este recife, a criação de uma área com estatuto de conservação – com zonamento e regulamentação específica – numa área com um elevado índice de utilização, como aqui fica demonstrado, só poderá ser bem-sucedida através do envolvimento dos utilizadores, e da população em geral, nas várias fases de designação e implementação desta AMP; de forma a alavancar a sua aceitação social, promover a troca de conhecimento entre utilizadores maximizando, assim, a sua eficiência. Paralelamente é necessário

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implementar programas de monitorização (ecológica e socioeconómica) e fiscalização sólidos que garantam a capacidade desta AMP para alcançar os objetivos a que se propõe”19.

Deste estudo resulta a importância das atividades humanas (ou socioeconómicas) na área marinha do Recife do Algarve. Mas isso não significa obviamente, de modo nenhum, que se deixem para segundo plano a conservação da natureza e dos valores naturais e paisagísticos da área.

Faz-se notar que, por um lado, este estudo é complementar do estudo anterior do CCMAR, intitulado Baía de Armação de Pêra – Informação de base dos valores naturais e dos usos do espaço marítimo”, onde se identificam os valores naturais a preservar e recuperar na área e que estarão ameaçados a menos que se classifique como área protegida o Recife do Algarve. Por outro lado, o estudo que estamos a considerar e cujo sumário executivo acabámos de transcrever em parte, deixa muito claro que as próprias atividades de pesca e marítimo-turísticas que se desenvolvem no recife dependem, para serem sustentáveis, “de um ecossistema marinho íntegro e funcional”.

3. A classificação do Recife do Algarve como área marinha protegida De acordo com o estudo realizado pela Universidade do Algarve, que acima ficou descrito em detalhe, o Recife do Algarve não só reúne as condições necessárias para a sua classificação como área protegida como tal classificação se impõe pela sensibilidade do local, pelo valor do seu património e pela necessidade de criar um quadro regulatório próprio de gestão das atividades que nela são desenvolvidas.

19 Ressurreição A, Rangel M, Oliveira F, Monteiro P, Bentes L, Pontes J, Henriques NS, Afonso CML, Sousa I, Guimarães MH, Horta e Costa B, Gonçalves JMS (2020). Mapeamento e valoração das atividades suportadas pela costa de Lagoa, Silves e Albufeira e desenvolvimento de um processo participativo com vista ao estabelecimento de uma Área Marinha Protegida de Interesse Comunitário (AMPIC). CCMAR, Universidade do Algarve, Fundação Oceano Azul, Faro, Portugal.

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Ora, o já referido Regime Jurídico da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (RJCNB) veio substituir o regime anterior da rede nacional de áreas protegidas, assente na Lei n.º 11/87, de 7 de abril, que definiu as bases da política de ambiente, e no Decreto-Lei n.º 19/93, de 23 de janeiro.

E, nesse quadro, o RJCNB criou a Rede Fundamental de Conservação da Natureza (RFCN), que é composta não só pelas áreas classificadas que integram o Sistema Nacional de Áreas Classificadas (SNAC) como também pelas áreas integradas na Reserva Ecológica Nacional (REN), na Reserva Agrícola Nacional (RAN) e no domínio público hídrico, enquanto áreas de continuidade (artigo 5.º).

Por sua vez, o SNAC abrange não só as áreas protegidas integradas na Rede Nacional de Áreas Protegidas como também os sítios e zonas de proteção integrados na Rede Natura 2000 e outras áreas classificadas ao abrigo de compromissos internacionais assumidos pelo Estado Português [artigo 5.º, n.º 1, alínea a)].

O RJCNB aplica-se a todo o território nacional e às águas sob jurisdição nacional (artigo 2.º, n.º 1), sem prejuízo de regimes especiais no que toca às áreas marinhas protegidas para além do mar territorial (artigo 2.º, n.º 2).

Aliás, determina o artigo 11.º, n.º 5, que, “(…) sempre que uma área protegida, qualquer que seja a sua tipologia, seja delimitada exclusivamente em águas marítimas sob jurisdição nacional, deve ser acrescentado à tipologia usada a expressão “marinha””.

Ora, sendo a área de intervenção do Recife do Algarve exclusivamente localizada em águas marítimas sob jurisdição nacional, e pretendendo-se proceder à sua classificação como área protegida, a mesma deve ser designada por área marinha protegida, sendo acrescentada também tal expressão à sua tipologia, que adiante se analisa.

Muito embora o intuito basilar da classificação de uma área protegida seja a conservação da natureza, e daí assentar em vetores de proteção e de promoção da biodiversidade, certo é que não pode ignorar, como já se referiu – a não ser em casos que imponham um regime de proteção absoluta –, que o

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património natural é também fonte de recursos com valor económico, que na maioria dos casos são de importância vital para as comunidades locais, que deles depende. Por isso, o RJCNB assenta não só no princípio da proteção e da precaução, mas também no princípio da função social e pública do património natural, sendo este considerado como “(…) infraestrutura básica integradora dos recursos naturais indispensáveis ao desenvolvimento social e económico e à qualidade de vida dos cidadãos” [artigo 4.º, alínea a)]. Além disso, está também subjacente ao RJCNB o princípio da sustentabilidade, que impõe um aproveitamento racional dos recursos naturais, “(…) conciliando a conservação da natureza e da biodiversidade com a criação de oportunidades sociais e económicas e garantindo a sua disponibilidade para gerações futuras” [artigo 4.º, alínea b)].

É também nessa linha que se prevê que as ações de conservação ativa incluam “(…) medidas e ações de intervenção associadas a atividades socioeconómicas, tais como a (…) pesca, com implicações significativas no maneio de espécies, habitats, ecossistemas e geosítios, tendo em vista a sua manutenção ou recuperação para um estado favorável de conservação” [cfr. artigo 6.º, alínea a)].

Em conclusão, o Recife do Algarve poderá beneficiar do estatuto de proteção conferido pelo RJCNB, em concreto, com a criação de uma área marinha protegida.

4. O âmbito e a tipologia da classificação do Recife do Algarve como área marinha protegida: parque natural de âmbito nacional

O RJCNB identifica as características que devem estar reunidas para que determinada área deva ser classificada como área protegida, e, por conseguinte, integrada na Rede Nacional de Áreas Protegidas.

Em concreto, o DL 142/2008 refere que devem ser classificadas as áreas marinhas “(…) em que a biodiversidade ou outras ocorrências naturais

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apresentem, pela sua raridade, valor científico, ecológico, social ou cénico, uma relevância especial que exija medidas específicas de conservação e gestão, em ordem a promover a gestão racional dos recursos naturais e a valorização do património natural e cultural, regulamentando as intervenções artificiais suscetíveis de as degradar” (vd. artigo 10.º, n.º 2).

Verifica-se assim que devem estar presentes valores ou elementos que mereçam medidas específicas, sendo manifesto o equilíbrio que a lei confere aos objetivos dessa classificação – gerir racionalmente os recursos naturais mas com a valorização do património, através de medidas que são de conservação mas também de gestão, e através da regulamentação das intervenções humanas que podem degradar os recursos existentes.

Como se referiu, delimitar e classificar uma área marinha protegida não é, por isso, e à partida, estabelecer um quadro de proteção absoluta, uma proibição de qualquer aproveitamento. É, ao contrário, a determinação de um equilíbrio entre conservação e intervenção, entre salvaguarda e aproveitamento racional do capital natural e dos serviços dos ecossistemas.

É precisamente este o quadro em que se integra o Recife do Algarve. Por um lado, e tendo por base o estudo da Universidade do Algarve, que acima ficou resumido, é indiscutível que estamos na presença de uma área que manifestamente revela valores de biodiversidade e inúmeras outras ocorrências naturais. E, por outro lado, é também inegável que essa realidade exige, pelo que já resulta do estudo, medidas específicas de conservação e gestão.

Conservação porque os valores naturais existentes impõem ações concretas com vista à sua proteção. Gestão porque, mesmo tendo presentes tais valores – e também com vista à sua proteção futura –, urge parametrizar o modo como os mesmos são utilizados, o que também é uma forma de valorizar o património cultural e as tradições daquela área.

Verificando-se que se encontram reunidas as características necessárias para que o Recife do Algarve seja classificado como área protegida, é necessário saber qual o âmbito e a tipologia de área protegida mais adequada para alcançar os objetivos pretendidos.

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Nos termos do artigo 11.º, n.º 1, do RJCNB, as áreas protegidas podem ter âmbito nacional, regional ou local, dependendo tal âmbito dos interesses que se pretende salvaguardar. Ou seja, o âmbito da classificação não depende da área territorial que se pretende abranger, mas do tipo de interesses que estiver em causa. Se forem interesses de âmbito nacional, que tenham relevância nacional, a área protegida deverá ter âmbito nacional.

Ora, o Recife do Algarve, como resulta do estudo realizado pela Universidade do Algarve, apresenta características únicas que o tornam num local singular, tendo sido inclusivamente identificadas espécies que só se conhecem naquele local. Ou seja, não existem outros locais no resto do território nacional que apresentem características similares, ou que se possam considerar como sendo locais sucedâneos. A singularidade do Recife do Algarve, associada à existência de espécies únicas nesse local, permitem concluir que os interesses que ali se encontram presentes têm interesse nacional, no sentido de serem relevantes para o país e para a proteção do património nacional.

Nos termos do artigo 11.º, n.ºs 2 e 3, do RJCNB, as áreas protegidas de âmbito nacional podem ser classificadas de acordo com uma das seguintes tipologias: parque nacional, parque natural, reserva natural, paisagem protegida ou monumento nacional. Recorde-se também que sempre que uma área protegida seja delimitada exclusivamente em águas marítimas sob jurisdição nacional deve ser acrescentado à tipologia usada a expressão

“marinha” (artigo 11.º, n.º 5).

No caso do Recife do Algarve, a tipologia que melhor serve os interesses a prosseguir é, conforme se desenvolve adiante, a do parque natural. Nos termos do artigo 17.º, n.º 1, do RJCNB, um parque natural é uma área que contém “(…) predominantemente ecossistemas naturais ou seminaturais, onde a preservação da biodiversidade a longo prazo possa depender de atividade humana, assegurando um fluxo sustentável de produtos naturais e de serviços”.

É precisamente esse o caso do Recife do Algarve, pois, como resulta dos estudos já realizados, a preservação dos elementos de biodiversidade existentes depende da intervenção humana no sentido da sua conservação, articulada com

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a sua gestão sustentável. O Recife do Algarve é, por isso, uma manifestação clara de que “(…) a proteção do ambiente marinho tem valor económico, para além de todos os outros benefícios para o bem-estar humano, daí a importância de dar valor económico ao capital natural oceânico e aos respetivos serviços ecossistémicos”20.

Por outro lado, a classificação de uma área como parque natural tem como objetivo proteger os valores naturais existentes como forma de contribuição para o desenvolvimento regional e nacional, e a adoção de medidas que sejam compatíveis com os objetivos da sua classificação (artigo 17.º, n.º 2).

Ora, é esse o propósito subjacente à decisão de classificação do Recife do Algarve, uma vez que se pretende implementar medidas que sejam compatíveis com a proteção dos valores naturais a preservar. Tais medidas podem passar, por exemplo, pela “(…) promoção de práticas de maneio que assegurem a conservação dos elementos da biodiversidade”, pela “(…) criação de oportunidades para a promoção de atividades de recreio e lazer”, compatíveis com a proteção da área, e pela “(…) promoção de atividades que constituam vias alternativas de desenvolvimento local sustentável” (artigo 17.º, n.º 2). No caso do Recife do Algarve, essas são justamente as medidas certas para atingir os objetivos pretendidos, tendo subjacente a necessidade de equilíbrio entre a conservação e a gestão das atividades económicas a manter.

No que respeita as outras tipologias de área protegida, verifica-se que as mesmas não são tão adequadas como a tipologia de parque natural para o cumprimento dos objetivos definidos para o Recife do Algarve, seja a tipologia de parque nacional, de reserva natural, de paisagem protegida ou de monumento natural.

Por um lado, classificar uma área como parque nacional implica assumir a existência de amostras representativas, tanto de regiões naturais características, paisagens, elementos de biodiversidade e de geossítios (artigo 16.º, n.º 1). Ora, muito embora o Recife do Algarve apresente um elevado valor natural e cultural que justifica a proteção, certo é que a sua necessidade de

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proteção não decorre em primeira linha da circunstância de poder servir como área modelo, isto é, como área a preservar em função da representatividade dos elementos a preservar. O Recife do Algarve apresenta elementos singulares, que dificilmente se poderiam considerar como uma amostra representativa daquele tipo de ecossistemas a nível nacional, como forma de justificar este tipo de proteção. Além disso, a classificação como parque nacional visa a proteção dos valores naturais existentes (artigo 16.º, n.º 1) que, apesar de permitir adotar medidas compatíveis com essa proteção e a regulamentação de atividades, não confere o equilíbrio entre proteção e gestão que a classificação como parque natural permite alcançar. Por outras palavras, enquanto a classificação como parque natural assenta precisamente na dependência da preservação da biodiversidade em relação à atividade humana, “(…) assegurando um fluxo sustentável de produtos naturais e serviços” (artigo 17.º, n.º 1), a classificação como parque nacional assume a existência de atividades que sirvam as necessidades das populações locais de uma forma mais secundária, conforme resulta da conformação apresentada no artigo 16.º.

A tipologia reserva natural foi também concebida para acomodar outras realidades que não a realidade do Recife do Algarve. Em concreto, a reserva natural é uma tipologia orientada quase exclusivamente para a conservação, tendo em vista “(…) a proteção dos valores naturais existentes, assegurando que as gerações futuras terão oportunidade de desfrutar e compreender o valor das zonas que permaneceram pouco alteradas pela atividade humana durante um prolongado período de tempo” (artigo 18.º, n.º 2). Aliás, as medidas a adotar no âmbito da classificação de uma área como reserva natural passam, por exemplo, pela “(…) limitação da utilização dos recursos, assegurando a manutenção dos atributos e das qualidades naturais essenciais da área, e também pelo condicionamento da visitação a um regime que garanta níveis mínimos de perturbação do ambiente natural” [artigo 18.º, n.º 2, alíneas b) e c)]. A própria terminologia utilizada – reserva – indicia que se trata de uma tipologia destinada a assegurar níveis maiores de conservação com o mínimo de interferência humana, uma tipologia concebida para excluir e afastar atividades artificiais.

Ora, ainda que o Recife do Algarve apresente elementos naturais de muito

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elevado valor, o objetivo da sua classificação não é reservá-lo de toda e qualquer intervenção humana, mas sim equilibrar a necessidade da sua conservação com a possibilidade de aproveitamento económico dos seus recursos. Por essa razão, a tipologia de reserva natural não cumpriria os objetivos traçados para o Recife do Algarve.

As restantes duas tipologias também são desadequadas para a classificação do Recife do Algarve como área protegida, e por razões ainda mais evidentes, considerando desde logo a sua própria designação e o que ela pretende abarcar: paisagem protegida21 e monumento natural22.

De tudo isto resulta que a tipologia mais apropriada à classificação do Recife do Algarve é, efetivamente, a de parque natural, sendo o seu âmbito o nacional, em função dos interesses a proteger. Considerando o disposto no artigo 11.º, n.º 5, deve ser acrescentada à tipologia selecionada a expressão marinha, pelo que o Recife do Algarve seria classificado como parque natural marinho.

Em conclusão, e no quadro das várias categorias possíveis de proteção constantes do RJCBN, o Recife do Algarve deverá ser classificado como parque natural de âmbito nacional, considerando por um lado a necessidade de equilíbrio do estatuto de proteção com o aproveitamento económico e, por outro,

21Desde logo, a tipologia de paisagem protegida não seria suficiente para acautelar a proteção dos elementos naturais que se visa proteger no recife, pois não é apenas na perspetiva da paisagem que esta área merece proteção. Na realidade, a paisagem protegida visa a proteção dos valores naturais e culturais existentes (artigo 19.º, n.º 2), através, designadamente, da conservação dos elementos da biodiversidade, mas num contexto da valorização da paisagem [artigo 19.º, n.º 2, alínea a)]. Não sendo a paisagem o elemento identificador nem o elemento que impõe em primeira linha a classificação do Recife do Algarve como área protegida, não é tal tipologia adequada nem às características da área a classificar, nem aos objetivos que se pretendem atingir.

22 A tipologia de monumento natural também não é apropriada, pois o Recife do Algarve é constituído por uma multiplicidade de elementos naturais que não se reconduzem a uma única ocorrência natural (artigo 20.º, n.º 1). Classificar o Recife do Algarve enquanto monumento natural seria redutor, além de não permitir conjugar de forma articulada as possibilidades de aproveitamento económico dos seus recursos naturais. Na verdade, não só não existe uma única ocorrência natural ou um conjunto que apresente uma singularidade própria intrínseca, como a classificação como monumento natural pressupõe que seja necessária a sua conservação e a manutenção da sua integridade (artigo 20.º, n.º 1), através de medidas que limitem ou impeçam formas de exploração ou ocupação suscetíveis de alterar as suas características (artigo 20.º, n.º

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pela importância dos valores a salvaguardar, devendo identificar-se como Parque Natural Marinho do Recife do Algarve.

5. O Recife do Algarve enquanto Parque Natural Marinho

Apontada aquela que é a tipologia mais adequada para a classificação do Recife do Algarve como área marinha protegida, cumpre agora identificar quais as principais características que podem decorrer da sua classificação.

Desde logo, já foram identificadas aquelas que são as medidas características de um parque natural: “(…) a promoção de práticas de maneio, que assegurem a conservação dos elementos da biodiversidade, a criação de oportunidades para a promoção de atividades de recreio e lazer, que no seu caráter e magnitude estejam em consonância com a manutenção dos atributos e qualidades da área, e a promoção de atividades que constituam vias alternativas de desenvolvimento local sustentável” (artigo 17.º, n.º 2).

Além disso, quando a área protegida abrange meio marinho até ao limite do mar territorial, podem ser delimitadas reservas marinhas ou parques marinhos23 no âmbito da área protegida em causa, dependendo dos objetivos a prosseguir. Se for necessário adotar medidas para “(…) proteção das comunidades e dos habitats marinhos sensíveis, de forma a assegurar a biodiversidade marinha”, podem ser criadas reservas marinhas [artigo 22.º, n.º 4, alínea a)]. Se, por seu turno, forem necessárias “(…) medidas que visem a proteção, valorização e uso sustentado dos recursos marinhos, através da integração harmoniosa das atividades humanas”, podem ser delimitados parques marinhos [artigo 22.º, n.º 4, alínea b)].

Isto permite que, no quadro de uma única área protegida, possam existir níveis e abordagens diferentes de proteção e de intervenção, conforme os valores

23 Não confundir a tipologia de área protegida em causa – parque natural marinho – com a possibilidade de delimitar, em áreas protegidas que abranjam meio marinho, parques marinhos.

Assim, o parque natural marinho do Recife do Algarve pode conter parques marinhos.

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naturais em causa assim o exigirem, o que poderá ter toda a pertinência na conceção da área marinha protegida do Recife do Algarve.

Em conclusão, a adoção da figura do parque natural marinho para o Recife do Algarve permite aprofundar o modelo de ordenamento, desde logo com a delimitação de áreas específicas mais restritas – reservas marinhas ou parques marinhos – em função das medidas mais ou menos restritivas que for necessário adotar.

6. O procedimento de classificação da área marinha protegida do Recife do Algarve

O artigo 14.º do RJCNB descreve o procedimento de classificação das áreas protegidas de âmbito nacional.

Em concreto, a classificação da área marinha protegida do Recife do Algarve como parque natural marinho pode ser proposta ou pela autoridade nacional, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.P.

(doravante ICNF), nos termos do artigo 8.º, alínea a), ou por quaisquer entidades públicas ou privadas, desde logo autarquias locais e associações de defesa do ambiente, como identifica o artigo 14.º, n.º 1. Quando realizadas por outras entidades que não o ICNF, as propostas de classificação são, em princípio, apresentadas ao ICNF enquanto autoridade nacional, que realiza uma apreciação técnica. Caso o ICNF concorde com a proposta apresentada, a mesma é levada ao membro do Governo responsável pela área da conservação da natureza, isto é, ao Ministro do Ambiente, como proposta de classificação (artigo 14.º, n.º 2), para que este a leve a Conselho de Ministros.

Daqui se retira, no que respeita o Recife do Algarve, que as várias entidades interessadas públicas e privadas em atribuir-lhe um estatuto de proteção podem proceder à preparação de uma proposta de classificação e apresentá-la ao ICNF.

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Caso, porém, se venha a concluir que o modelo de cogestão da área protegida exige algum ato legislativo, então, uma vez que o poder legislativo não está ao alcance do ICNF, a proposta deverá ser apresentada diretamente ao Governo.

A proposta é obrigatoriamente apresentada com determinados elementos, desde logo, a “(…) caracterização da área sob os aspetos geológicos, geográficos, biofísicos, paisagísticos e socioeconómicos, a justificação da necessidade de classificação (…), que inclui obrigatoriamente uma avaliação científica qualitativa e quantitativa do património natural existente e as razões que impõem a sua conservação e proteção”, e, por fim, “(…) a tipologia de área protegida considerada mais adequada aos objetivos de conservação visados” (artigo 14.º, n.º 1).

A classificação é precedida de um período de discussão pública (não inferior a 20 nem superior a 30 dias, nos termos do artigo 14.º, n.º 8), durante o qual todos os interessados podem apresentar observações e sugestões sobre a classificação da área protegida, e durante o qual as autarquias locais envolvidas são ouvidas (artigo 14.º, n.º 6).

7. O ato de classificação da área marinha protegida do Recife do Algarve A classificação de uma área protegida de âmbito nacional é feita por resolução do Conselho de Ministros, nos termos do artigo 14.º, n.º 3, do RJCNB.

Também nos termos desse artigo, tal resolução do Conselho de Ministros irá definir:

a) O tipo de área protegida: neste caso, a área marinha protegida do Recife do Algarve seria, considerando o acima exposto, um parque natural marinho, de âmbito nacional;

b) A delimitação da área protegida: neste caso, a área a classificar é o Recife do Algarve, na área compreendida entre o Farol de Alfanzina (limite oeste) e a marina de Albufeira (limite este), estendendo-se até

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ao limite da batimétrica de cerca de 50m, totalizando uma área total de aproximadamente 156 km224;

c) Os objetivos específicos da área protegida: objetivos esses que, neste caso, serão em princípio muito aproximados àqueles em que a comissão constituída já se encontra a trabalhar, e que ficaram enunciados acima25;

d) Os recursos financeiros, materiais e humanos mínimos para a gestão da área protegida; e

e) As ações, atos e atividades interditas ou condicionadas a autorização do ICNF26, “(…) suscetíveis de prejudicar a biodiversidade, o património geológico ou outras características da área protegida”: que, neste caso, também serão muito aproximados àqueles em que a comissão constituída já se encontra a trabalhar, e que ficaram enunciados acima27.

Em conclusão, a resolução do Conselho de Ministros que incluirá o ato de classificação da área marinha protegida do Recife do Algarve deverá conter o tipo de área protegida, a sua delimitação e objetivos, os recursos financeiros, materiais e humanos e as ações, atos e atividades interditas ou condicionadas, sendo que tais conteúdos já estão a ser definidos e consolidados ao nível da comissão dinamizadora que pretende propor a classificação desta área.

8. O programa especial da área marinha protegida do Recife do Algarve Além do ato que procede à sua classificação, incluído na resolução do Conselho de Ministros prevista no artigo 14.º, n.º 3, do RJCNB, os parques

24 Note-se que para efeitos de delimitação da área protegida no âmbito da classificação será necessário recorrer a elementos mais precisos, como mapas e coordenadas geográficas.

25 E que constam também do Anexo ao presente Parecer.

26 Assumindo-se aqui a classificação típica de uma área protegida, em que a autoridade nacional é o ICNF, a quem competem as tarefas de gestão.

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