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A cooperação jurídica penal internacional à luz do garantismo penal

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(1)

Radam Nakai Nunes

A COOPERAÇÃO JURÍDICA PENAL INTERNACIONAL

À LUZ DO GARANTISMO PENAL

(2)

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA - UCB

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM DIREITO

A COOPERAÇÃO JURÍDICA PENAL NTERNACIONAL

À LUZ DO GARANTISMO PENAL

RADAM NAKAI NUNES

(3)

TERMO DE APROVAÇÃO

Dissertação de autoria de

Radam Nakai Nunes

, requisito parcial para

obtenção do grau de Mestre do Programa de Pós-graduação

Strito Sensu

em

Direito, defendida e aprovada, em

14 de dezembro de 2006

, pela banca

examinadora constituída por:

__________________________________

Prof.ª Dr.ª

Arinda Fernandes

Orientadora

___________________________________

Prof. Dr.

João Rezende Almeida Oliveira

Membro Interno

_______________________________________

Prof. Dr.

José Rossini Campos do Couto Corrêa

Membro Externo

(4)

RADAM NAKAI NUNES

A COOPERAÇÃO JURÍDICA PENAL NTERNACIONAL

À LUZ DO GARANTISMO PENAL

Dissertação apresentada ao programa de

Pós-graduação em Direito, da Universidade

Católica de Brasília, como exigência para

obtenção do Título de Mestre em Direito.

Orientadora:

Prof.ª Dr.ª Arinda Fernandes.

(5)
(6)
(7)

RESUMO

O presente trabalho visa demonstrar as razões jurídicas da existência dos direitos e

garantias fundamentais previstos na Constituição Federal e o dever do Estado

punitivo de aplicar, no decorrer do processo penal - especialmente nos casos que

ensejam cooperação jurídica internacional - os direitos e as garantias fundamentais

de proteção à pessoa e o fortalecimento da dignidade humana, que se concretizam

com o exercício da ampla defesa, contraditório, devido processo legal, princípio da

inocência, bem como com a vedação de provas ilícitas e ilegítimas. Tais princípios e

garantias são meios jurídicos de proteção ao cidadão acusado ou indiciado. A razão

desses princípios é a instrumentalidade do processo penal para equilibrar os valores

do poder punitivo do Estado e a liberdade e proteção ao acusado ou indiciado. As

garantias constitucionais processuais-penais alicerçam o garantismo penal tão

preconizado por Ferrajoli. Elas estão a serviço do cidadão com a finalidade de

resistir à acusação inconstitucional. E’ nesse contexto que a cooperação jurídica

penal internacional deve obedecer as normas fundamentais do processo penal

brasileiro objetivando impedir a supressão ou desrespeito a esse garantismo penal

previsto na Carta Magna.

(8)

ABSTRACT

This paper aims to demonstrate the juridical causes for the rights and the basic

guarantees in the 1988 Federal Constitution of Brazil, and the punitive State's duty to

apply, even before international criminal juridical cooperation, such rights and

guarantees along the criminal process and the strengthening of man's dignity, by

means of the practice of legal defense, contradictory, the due process of law, the

innocence presumption principle and the prohibition to illegal evidence. The basic

principles and guarantees are juridical ways to protect the accused. Their reason is

the instrumentality of the penal process, in order to balance the contrasting values of

the State's power to punish and the protection to the accused. Such constitutional

criminal processual guarantees are the penal garantism referred to by Ferrajoli, given

that those guarantees are on the accused's side as to resist inconstitutional charges.

Therefore, the international criminal juridical cooperation must comply the

fundamental rules concerning the Brazilian criminal process so as not to suppress ou

disrespect the penal garantism established in the 1988 Federal Constitution.

(9)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO _____________________________________________________10

1. O GARANTISMO PENAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL

______15

1.1 Evolução Histórica dos Direitos Fundamentais ___________________15

1.2 Direito Processual Brasileiro _________________________________24

1.3 Princípios Constitucionais do Direito Processual Penal ____________ 28

1.3.1 A Tutela Jurisdicional e o Devido Processo Legal _________28

1.3.2 Juiz e o Promotor Natural ___________________________ 33

1.3.3

Legalidade

_______________________________________36

1.3.4 Presunção de Inocência ou não culpabilidade ___________ 37

1.3.5 Vedação de Identificação Criminal ____________________ 39

1.3.6 Indenização por Erro Judiciário _______________________41

1.3.7 Ordem de Prisão por Autoridade Judiciária competente ____42

1.3.8 Prisão comunicada imediatamente ao Juiz, à família, direito de

permanecer calado e a assistência de advogado __________________________44

1.3.9 Relaxamento de Prisão Ilegal e Liberdade Provisória ______45

1.3.10 Contraditório e a Ampla Defesa ______________________47

1.3.11 Identificação dos responsáveis pela prisão _____________53

1.3.12 Vedação às Provas ilícitas ou ilegítimas _______________55

1.3.13

Habeas Corpus

, Mandado de Segurança e a Ação Penal

Privada Subsidiária _________________________________________________ 56

2.TEORIA DO GARANTISMO PENAL

IDEALIZADO POR LUIGI FERRAJOLI

___59

(10)

4. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO ________________________________85

4.1 Noções Gerais ____________________________________________85

4.2 Fontes do Direito Internacional Privado_________________________86

4.3 Direito Internacional Privado e o Direito Interno no Brasil ___________88

4.4 Direito Penal Internacional e Internacional Penal _________________90

5. COOPERAÇÃO JURÍDICA PENAL INTERNACIONAL __________________100

5.1 Noções Gerais ___________________________________________100

5.2 Formas de Cooperação Jurídica Penal Internacional _____________101

CONCLUSÃO

_____________________________________________________122

BIBLIOGRAFIA

___________________________________________________126

REFERÊNCIAS

___________________________________________________132

ANEXO

__________________________________________________________133

(11)

INTRODUÇÃO

O estudo tem por objetivo conciliar a ambição do Estado em punir os

acusados em crimes transnacionais em qualquer modalidade, praticado em atividade

de organização criminosa ou não, sem violar direitos e garantias individuais, contidos

em princípios e valores da Constituição Federal, quando necessária a utilização da

cooperação jurídica penal internacional.

Os direitos e as garantias fundamentais previstos na Constituição Federal de

1988 e aplicável ao processo penal é o resultado de uma conquista, originada nos

estudos de doutrinadores franceses e italianos, os quais queriam demonstrar que o

processo penal acusatório deve ser equilibrado para ambas às partes, seja em

crimes nacionais ou globalizados.

Neste sentido, a obediência aos princípios e valores catalogados como

direitos fundamentais, nem sempre prevalecem contra a avidez do Estado em querer

punir os acusados ou indiciados. São corriqueiras as violações dos direitos e das

garantias conquistadas ao longo de anos de luta, sendo inutilizados e ineficientes

diante da perseguição dos resultados estatísticos do Poder Judiciário, Executivo e

Organismos Internacionais e da forma mecanicamente trabalhada pelos operadores

do direito.

A relevância do tema pode ser justificada pela necessidade de trocas de

informações judiciais e extrajudiciais penais transnacionais, a fim de formar a

instrução processual penal de um procedimento acusatório.

(12)

Razão: teoria do garantismo penal, fazendo um cotejo entre os Direitos e Garantias

Constitucionais Brasileiros e a instrumentalidade do processo penal garantista.

A sociedade brasileira, através dos Poderes constituídos pelo Estado, busca

explicação para o crescimento vertiginoso da violência transnacional e suas formas

de solução para reprimir ou prevenir os conflitos penais. O Poder Judiciário deve

evoluir suas formas de busca da verdade real, no processo penal, a fim de satisfazer

o poder jurisdicional aos cidadãos com transparência e clareza de acusação, no

combate às novas modalidades de crimes transnacionais com efeitos que

extrapolam as fronteiras e a criatividade humana, pois, muitas supressões de direitos

são constatadas durante o processo penal acusatório, seja policial ou judicial.

Os operadores de direito são capazes de elaborar alternativas de solução

com sabedoria para o Estado exercer o

jus puniendi,

ponderando os direitos

fundamentais dos acusados tais quais o direito de segurança pública e o bem estar

social. Portanto, o jurista é o profissional habilitado para verificar os critérios de

ponderações de dois direitos fundamentais previstos na Constituição Federal e em

rota de colisão. Devendo impedir as supressões das garantias constitucionais

quando o estado punitivo atua contra o acusado a pretexto de empreender a lei e o

terror no combate a criminalidade organizada.

(13)

crimes transnacionais, sem suprimir as garantias fundamentais do acusado ou

indiciado expressos na ampla defesa e o contraditório.

Por fim, proporemos conciliar os direitos fundamentais relativos ao processo

penal dos acusados em crimes transnacionais e o direito do estado de segurança

pública nos crimes transnacionais, sugerindo soluções que equilibrem garantias

entre às partes - autor e réu -harmonicamente.

O estudo monográfico está relacionado com as Disciplinas: Direito

Constitucional, Direito Administrativo, Direito Processual Penal, Direito Penal, Direito

Processual Civil, Direito Internacional Público, Direito Internacional Privado e Direito

Econômico.

O tema tem como base o referencial teórico da prevalência dos Direitos e

Garantias Fundamentais relacionados ao Direito Processual Penal previstos na

Constituição Federal do Brasil diante da Cooperação Jurídica Internacional Penal

aplicadas nos crimes transnacionais praticado em atividade organizada.

Ao se fazer o histórico da origem dos direitos fundamentais, há que

conceituá-lo e demonstrar sua natureza jurídica e sua importância para o processo

penal.

Robert Alexy, conceitua os Direitos e Garantias Fundamentais como:

“Uma teoria de los derechos fundamentales de la Ley Fundamental es una teoria de determinados derechos fundamentales positivamente válidos. Esto la distingue de Las teorías de los derechos fundamentales que han tenido vigencia en el pasado (teorías histórico-jurídicas) como así también de las teorías sobre derechos fundamentales que no son los de la Ley Fundamental, por ejemplo, teorías sobre los derechos fundamentales de otros Estados o teorías de los derechos fundamentales de los Estados federados que integram la República Federal de Alemanha.” 1

(14)

processo-penal-constitucional - dos acusados ou indiciados. O crime transnacional possui

características de extraterritorialidade penal, carecendo de cooperação jurídica

administrativa, policial e judiciária entre os países.

Os constitucionalistas brasileiros não excluem as normas de direito

internacional e consuetudinário da obediência da Carta Constitucional, conforme

assevera Alexandre de Moraes:

“O importante é realçar que os direitos humanos fundamentais relacionam-se diretamente com a garantia de não-ingerência do Estado na esfera individual e a consagração da dignidade humana, tendo um universal reconhecimento por parte da maioria dos Estados, seja em nível constitucional, infraconstitucional, seja em nível de direito consuetudinário ou mesmo por tratados e convenções internacionais.” 2

A finalidade dos Direitos e das Garantias Individuais Fundamentais não é

mera catalogação de princípios, mas uma positivação - no sentido do dever-ser -

sendo que qualquer indivíduo poderá exigir sua tutela perante o Poder Judiciário.

Ao correlacionar os direitos fundamentais e os tratados internacionais,

observa-se que “o objetivo precípuo da consagração, pela nossa carta, do princípio

da não-tipicidade na esfera dos direitos fundamentais certamente não é o de

restringir.”

3

José Afonso da Silva, demonstra claramente quais os limites de cada

instituto. Veja-se: “Os direitos são bens e vantagens conferidos pela norma,

enquanto as garantias, são meios destinados a fazer valer esses direitos, são

instrumentos pelos quais se asseguram o exercício e gozo daqueles bens e

vantagem.”

4

1 ALEXIS, Robert. Teoria de Los Derechos Fundamentais, Centro de Estudios Constitucionales:

Madrid, 1997, p. 29.

2 MORAES, Alexandre, Constituição do Brasil Interpretada e legislação constitucional, São Paulo: Atlas, 2002, pág 163.

3 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais, Porto Alegre: Livraria do Advogado:

1998, pág. 126.

(15)

O jurista alemão Robert Alexy afirma sobre os direitos fundamentais: “entre

el concepto de norma de derecho fundamental y el del derecho fundamental existen

estrechas conexione.”

5

O conceito de norma de direitos fundamentais, confunde-se com os direitos

fundamentais em si. Por outro lado, há doutrinadores que apontam as diferenças,

que são percebidas na polêmica do conceito, da validade e a sistemática de norma e

suas imposições constitucionais.

O jurista Brasileiro Ingo Wolfgang Sarlet, escreveu na sua obra que: “nosso

objetivo, contudo, é bem mais modesto, sendo nossa intenção apenas referir alguns

aspectos relevantes a respeito desta temática, de modo especial para propiciar uma

adequada compreensão da importância e da função dos direitos fundamentais.”

6

Ademais, pretende-se fazer uma análise entre a teoria do garantismo penal,

tendo como precursor o jurista italiano Luigi Ferrajoli, os princípios processuais

penais previstos na Constituição Federal, e os Direitos e as Garantias

Fundamentais, aplicados na cooperação jurídica penal internacional.

Por fim, destacar-se-á o poder punitivo entre a verificação e valoração, a

epistemologia, a axiologia e as razões do Direito Penal frente aos princípios

incluídos no ordenamento jurídico do processo penal-constitucional a luz do

garantismo penal.

5

ALEXIS, Robert. Teoria de Los Derechos Fundamentais, Centro de Estudios Constitucionales: Madrid, 1997, p. 29.

(16)

1. GARANTISMO PENAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL

1.1. A Evolução Histórica dos Direitos Fundamentais

O Direito Constitucional é o ramo do Direito Público, sendo um direito

fundamental e essencial na vida em sociedade, e a base para a organização e o

funcionamento do Estado, idealizado historicamente na Teoria Política do Estado e

de Separação de Poderes, de Aristóteles. “O Direito Constitucional se manifesta

como um tronco do qual se separam os demais ramos do Direito, que nele

encontram sua

‘têtes de chapitre’”.

7

José Afonso da Silva, define como “o ramo do Direito Público que expõe,

interpreta e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado.”

8

A Constituição da República Federativa do Brasil dispõem as normas da

organização e estrutura do Estado, forma de governo, procedimentos, atuação e os

limites para exercer tal poder; também, prevê o regramento da ordem econômica,

social, tributária, meio ambiente, cultura, esporte, lazer e comunicação social. Além

de que, há previsão dos direitos fundamentais do homem, as suas garantias e, por

isso a Constituição ser a base teórica para o estudo do Garantismo Penal.

A constituição é um código de normas gerais com as seguintes

características: escrita, formal, dogmática, popular, rígida, para o fim de harmonizar

as relações humanas e alcançar o fim do Estado que é o bem-estar social,

econômico e político. É a lei fundamental e suprema do Estado Brasileiro,

representado pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,

tendo delimitada as funções nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

7 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 20. ed., São Paulo: Malheiros, 2002, p. 34.

(17)

Estão também expressos os Direitos Fundamentais do homem incluindo os

direitos individuais, políticos, econômicos e sociais. As origens dos direitos

fundamentais datam da idade média, por volta do ano de 1200, tendo como um

marco histórico a Magna Carta Inglesa de 1215 e, posteriormente, sucessivos

documentos regulamentando direitos e liberdade nas colônias inglesas na América.

A Inglaterra como pioneira na declaração dos direitos e das liberdades

fundamentais, registram vários documentos neste sentido: sendo: a Magna Carta

(1215-1225), a Petition of rights (1628), o Habeas Corpus Amendment Act (1679) e o

Bill of Rights (1688)

9

, Declaração dos Direitos da Virgínia (EUA, 1776), Declaração

dos Estados Unidos da América (1787), Declaração de Direitos do Homem e

Cidadão (França, 1789) e a Declaração de Direitos do Povo Trabalhador e

Explorado (Rússia, 1918).

A Magna Carta foi um texto elaborado pelos governantes que pertenciam

aos feudos para proteger reis e barões, assinada pelo João Sem Terra. Para a

época foi um grande avanço, vez que, era o embrião da minuta das expressões de

liberdade. Pode-se mencionar os seguintes documentos precursores das liberdade:

a) A Petição de Direitos,

documento dirigido ao monarca em que membros do

Parlamento de então pediram o reconhecimento de diversos direitos e liberdades

para os súditos de sua majestade.

10

, b) O

Habeas Corpus Act uma afirmação de

liberdade introduzida na magna carta, reforçada na petição de direitos. A origem do

instituto do Habeas Corpus remonta desta época em que eram atos de

reivindicações de pessoas presas ilegalmente, e c) A declaração de direitos – Bill of

Rights - foi o resultado da revolução de 1688, a qual afirmou o Poder do Parlamento

no reinado dos monarcas da época, cujos poderes não eram como antigamente,

(18)

irrestritos. Desta forma, surgiu a monarquia constitucional, prevalecendo a

separação de poderes delineada por John Locke e as inspirações para a formação

ideológica democrática dos Estados Europeus.

A declaração de Virgínia foi a primeira demonstração moderna e clara de

direitos fundamentais, fora do eixo europeu. Virgínia era uma das treze colônias

inglesas na América, que se rebelou para declarar-se independente. As bases dos

direitos dos homens eram: 1) todos os homens são iguais, livres e independentes, 2)

todo o poder está investido pelo povo, eleito democraticamente, 3) o governo é para

o povo e por ele constituído, 4) os cargos ou funções não serão hereditários, 5)

haverá três poderes harmônicos e independentes, 6) é assegurado o direito de

defesa em processo criminal, 7) obediência ao devido processo legal e a legalidade

e 8) a liberdade de imprensa e religião devem ser exercidas livremente. Estes são

apenas alguns exemplos, não se esgotando o seu total.

Na Constituição dos Estados Unidos da América, de 1787, não estava

prevista a declaração dos direitos do homem, porém, sua entrada em vigor dependia

das treze colônias, sendo que, uma delas já possuía em suas constituições, exemplo

Virgínia, a carta de direitos fundamentais.

Na Europa, surgia a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,

constituindo-se como marco na história dos direitos fundamentais, a Revolução

Industrial Francesa, que historicamente foi um momento de transição do mundo

antigo para o moderno.

A Europa desfrutava dos ensinamentos dos melhores jusfilósofos

disponíveis na academia jurídica, tais como: o inglês John Locke, o francês

Jean-Jacques Rousseau, o alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Charles de Secondat

Baron de Montesquieu. Logo, a Declaração dos Direitos do Homem junto com a

Idem, p. 152.

(19)

Revolução Francesa, foi resultado do pensamento político, moral, filosófico, jurídico

e social destes intelectuais.

O cerne do conteúdo das declarações do direito do homem e do cidadão é a

valorização dos direitos transindividuais, superando o indivíduo para alcançar o

bem-estar universal.

José Afonso da Silva, leciona que:

O texto da declaração de 1789 é de estilo lapidar, elegante, sintético, preciso e escorreito, que, em dezessete artigos, proclama os princípios da liberdade, da igualdade, da propriedade e da legalidade e as garantias individuais liberais que ainda se encontram nas declarações contemporâneas, salvas as liberdades de reunião e de associação que ela desconhecera, firmado que estava numa rigorosa concepção individualista.11

Antes de entrar na época contemporânea dos direitos do homem, deve

ressaltar a importância dos pensamentos dos filósofos socialistas, tais como: Marx,

Engels e Lênin. O manifesto comunista, foi uma importante expressão de mudança

na ideologia política. No período contemporâneo destacou-se a declaração de dois

países: o México e a Alemanha de Weimar, sendo ambas influenciadas pelo término

da primeira guerra mundial.

Em 1945, criou-se na Organização das Nações Unidas – ONU - uma

comissão com o fim de elaborar um projeto para codificar um estatuto da Declaração

Universal dos Direitos do Homem, sendo que, em 10 de dezembro de 1948, na

assembléia-geral da ONU em Paris foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos

Humanos.

No mesmo sentido foi elaborada a Convenção Americana sobre os Direitos

Humanos, Pacto de São José da Costa Rica, de 22 de novembro de 1969, em vigor

no Brasil, por meio do Decreto 678 de 06 de novembro de 1992. Quando foi criada a

11SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 20.ª ed., São Paulo: Malheiros,

(20)

Corte Interamericana de Direitos Humanos, com sede em São José da Costa Rica,

sendo o Brasil signatário desde 1992. Merece destaque o empenho do jurista

Antonio Augusto Cançado Trindade, quando afirma em seu livro: A proteção

Internacional dos Direitos Humanos, “sobre a importância da uniformidade de

direitos fundamentais para os latinos americanos”.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos é uma regra geral sendo as

normas descritas no Pacto de São José da Costa Rica, mais detalhadas e com

maior aprofundamento em relação aos direitos humanos. Entretanto, são

semelhantes à Declaração Universal dos Direitos Humanos.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem possuem 30 artigos,

contendo, no primeiro, a base para os demais: a preservação da dignidade da

pessoa humana, com liberdade, justiça e paz.

A prevalência da democracia foi elevada a uma categoria de direitos

fundamentais humanos, visto que no seu preâmbulo contém:

A Assembléia Geral das Nações Unidas proclama a presente "Declaração Universal dos Direitos do Homem" como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. Disponível em: [http://www.dhnet.org.br]. acessado em 30/07/2005.

Passadas as fases de codificações internacionais dos Direitos Humanos,

inicia-se a inserção dos direitos fundamentais do homem nas codificações previstas

nas Constituições dos Países signatários das Normas emanadas da ONU e do Pacto

de São José da Costa Rica. Dentre estes países, destaca-se a Constituição da

República Federativa do Brasil, de 1988, Constituição Cidadã, o que para o Brasil foi

(21)

uma conquista incomensurável no campo dos direitos fundamentais, possuindo uma

abrangência nunca antes garantida em categoria de lei constitucional.

Nas constituições do Brasil, anteriores a de 1988, já haviam sido previstos

alguns direitos fundamentais, tais como: Habeas Corpus e a propriedade.

Assim como Paulo Bonavides, temos que esclarecer as expressões usadas

indiscriminadamente, tais como: direitos fundamentais, direitos do homem e direitos

humanos. Existem diferenças? Direitos Fundamentais são aqueles direitos que o

direito vigente qualifica como tais.

12

Direitos Fundamentais são todos os direitos ou garantias nomeados e especificados no instrumento constitucional. Ainda, Os Direitos Fundamentais são aqueles direitos que receberam da Constituição um grau mais elevado de garantia ou e segurança; ou são imutáveis (unabaenderliche) ou pelo menos de mudança dificultada (erschwert), a saber, direitos unicamente alteráveis mediante lei de emenda à Constituição. 13

No entanto, os Direitos Fundamentais, que são os propriamente ditos e

previstos na Constituição, correspondem a uma concepção de direitos absolutos. A

relação principal dos direitos fundamentais conduz à liberdade e à dignidade

humana, enquanto valores históricos e filosóficos, o que nos levará a uma

interpretação de sentido universal e direcionado ao ideal da pessoa humana.

Quanto às expressões Direitos Humanos e do Homem, estas são espécies

do gênero dos Direitos Fundamentais. Direitos Humanos e do Homem são

sinônimas.

Todavia, quando uma pessoa se refere à terminologia Direitos Humanos

pode ter sentido derivado dos direitos fundamentais da constituição, mas não quer

dizer absolutamente que está descrito literalmente, apesar de estar previsto na

12 Konrad Hesse, apud, BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 11.ed., São Paulo: Malheiros, 2001, p. 514.

(22)

Constituição, por exemplo: no art. 5.º, inciso XLI, da CRFB: a lei punirá qualquer

discriminação atentatória dos direitos e liberdade fundamentais. Segundo o estatuto

o idoso, Lei 10.741/03, há fatos típicos legais, reprimindo qualquer forma de

discriminação contra idoso. O que é uma ofensa aos direitos humanos derivado dos

direitos fundamentais, e está previsto constitucionalmente, porém em outro campo

da Constituição, no título da ordem social, art. 230.

A expressão Direitos do Homem, têm origem na Declaração Universal dos

Direitos do Homem de 1948, emanada pela ONU e pela Convenção Americana de

Direitos do Homem, pacto de São José da Costa Rica de 1969, Decreto 678/92, a

palavra homem usada indiscriminadamente.

Portanto, quando se falar em direitos fundamentais, humanos e ou do

homem, o jurista deve atentar para as diferenças teleológicas e semânticas das

palavras.

O professor José Cirilo de Vargas, destaca algumas terminologias usadas

em outros países:

1) direitos fundamentais; 2) direitos e deveres dos cidadãos; 3) direitos e deveres do povo; 4) das liberdades, dos direitos e dos deveres do homem e do cidadão; 5) das garantias individuais; 6) direitos e deveres dos cidadãos; 7) dos deveres, direitos e garantias; 8) das liberdades fundamentais e dos direitos do homem e do cidadão; 9) dos direitos, liberdades, garantias e deveres fundamentais dos cidadãos; 10) garantias fundamentais das liberdades públicas etc..14

A terminologia Direitos Humanos é bastante usada no meio das

organizações não-governamentais (ONGs), tais como: Tortura Nunca Mais, Anistia

Internacional e a Human Rights.

Deve-se esclarecer, também, a expressão direito natural, que se refere aos

direitos que nascem com o homem, independente de qualquer manifestação estatal.

(23)

Os Direitos Fundamentais são classificados em gerações de direitos, sendo

os direitos fundamentais de primeira geração, marcados pela liberdade, fraternidade

e igualdade. As liberdades públicas e os direitos políticos foram afirmados como

princípios fundamentais.

Os direitos de primeira geração ocorreram durante as fases: Magna Carta

(1215);

Habeas Coprus Act (1679); Bill of Rights (1688); Revolução Americana

(1776) e Revolução Francesa (1789).

Os direitos da primeira geração ou direitos da liberdade têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao Estado, traduzem-se como faculdade ou atributos da pessoas e ostentam uma subjetividade que é seu traço mais característico; enfim, são direitos de resistência ou de oposição perante o Estado.15

Os Direitos Fundamentais de segunda geração são as afirmações dos

direitos sociais, culturais e econômicos, o que dominou o século XX. O marco

histórico da época foi a Constituição de Weimar (1919). A ideologia

social-democracia é enfatizada na segunda geração. Além do que, o século XX foi

marcado pela primeira guerra mundial e pela concretização dos direitos sociais.

Todos os princípios da Constituição Alemã de Weimar foram garantias

institucionais sociais, revalorizando todos os princípios de primeira geração, em

especial as liberdades políticas.

Os direitos fundamentais de segunda geração foram impulsionados pela

Revolução Industrial que ocorria na Europa, destacando as reivindicações

trabalhistas contra as grandes corporações, que nasciam com intensidade de

desenvolvimento bastante elevado.

(24)

Portanto, a segunda geração é:

A concepção de objetividade e de valores relativamente aos direitos fundamentais fez que o princípio da igualdade tanto quanto o da liberdade, tomasse também um sentido novo, deixando de ser mero direito individual que demanda tratamento e uniforme para assumir, conforme demonstra a doutrina e a jurisprudência do constitucionalismo alemão, uma dimensão objetiva de garantia contra atos de arbítrio do estado.16

Os Direitos Fundamentais de terceira geração dizem respeito à

conscientização da população, especialmente entre as nações em desenvolvimento

para a proteção ao meio ambiente, direito à paz, o direito ao desenvolvimento e o

direito de solidariedade com o próximo.

A preservação do meio ambiente ganhou grande destaque no mundo

globalizado devido ao desenvolvimento das grandes empresas, com investimentos

no setor tecnológico e científico a qualquer custo, resultando na destruição da fauna

e da flora do planeta.

Atualmente, o Brasil possui uma lei de combate aos crimes ambientais,

considerada pelos juristas internacionais a mais avançada no mundo, destacando

seu objetivo de restaurar e restituir o meio ambiente poluído, ou seja, aplicando uma

pena criminal, administrativa e civil de recuperação da natureza destruída atribuindo

responsabilidade à pessoa jurídica. Na Lei de Crime Ambiental, 9.605/98, ressalta-se

a teoria de imputação à pessoa jurídica, isto é, uma revolução doutrinária na teoria

do crime, sobre a responsabilização da pessoa criminosa.

Alguns constitucionalistas mencionam a proteção ao consumidor como

terceira geração, lembrando que outrora os consumidores foram esquecidos, ou

seja, estavam à margem da proteção legal. Destaca-se, no Brasil, a lei de defesa do

Consumidor, Lei 8.078/90, que é uma lei muito moderna entre os países

desenvolvidos.

(25)

Para os Brasileiros, as Leis do consumidor, do meio ambiente, a ação civil

pública, a ação popular, foram conquistas de grande impacto em suas vidas, diante

da desproteção até então vivida. Estas leis, de impacto de proteção social dos

interesses individuais, coletivos e os homogêneos, foram derivadas da Constituição

da República do Brasil, promulgada em 1988.

Por último, alguns estudiosos classificam os direitos fundamentais de quarta

geração, que é a afirmação da democracia mundial e da globalização econômica

(blocos econômicos multilaterais). Paulo Bonavides, leciona que: “os direitos de

quarta geração compendiam o futuro da cidadania e o porvir da liberdade de todos

os povos. Tão-somente com eles será legítima e possível a globalização política”

.

17

Norberto Bobbio, filosófo italiano, falecido recentemente, afirma que:

Os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todos. 18

Os destinatários das regras de direitos fundamentais não são somente os

cidadãos, mas o Estado que as editou devem cumpri-las efetivamente. Daí a

importância do processo-penal-constitucional para o Estado não gerar o processo

penal inconstitucional e para o cidadão utiliza-lo como mecanismo de resistência e

afastamento de ilegalidades diante das ações penais. Bobbio deixa claro em sua

obra

era dos direitos

, que os direitos fundamentais têm eficácia plena para o cidadão

utilizá-las em qualquer processo judicial, especialmente no processo penal, em que

tutela os bens jurídicos mais valiosos das pessoas, tais como: vida, patrimônio e

integridade física e mental.

16 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 11.ed., São Paulo: Malheiros, 2001, p. 522. 17 Idem, p. 526.

(26)

Paulo Dourado de Gusmão, assegura que:

achamos que se deve distinguir o destinatário imediato do destinatário mediato das normas jurídicas. No primeiro caso, todas as pessoas (capazes e incapazes) são destinatárias de norma jurídica, porque se não há problemas quanto aos capazes, quanto aos incapazes, em certos caos, o seu patrimônio responde pelas obrigações..., São destinatários mediatos os tribunais, órgãos estatais e organismos internacionais, somente quando provocados por petição ou por ação judicial ou quando a norma é transgredida.19

1.2 Direito Processual Brasileiro

A Constituição Federal, no seu primeiro artigo, já indica para o leitor que as

regras constitucionais são cogentes, imperativas ou de ordem pública, descrevendo

que constitui-se em Estado Democrático de Direito. E, no quinto artigo, descreve os

direitos e as garantias fundamentais.

Como disse Pontes de Miranda, “o estado democrático de direito pois é da

essência da democracia o princípio da legalidade”. O estado de direito significa

qualquer forma de repúdio às violações das liberdades públicas fundamentais contra

o cidadão.

A dissertação privilegiará os direitos fundamentais, voltados para o processo

penal diante da cooperação jurídica penal internacional, isto é, os direitos

fundamentais que norteiam o intercâmbio processual, seja administrativo ou judicial,

entre os países. Devendo ser assegurado ao indiciado, investigado ou acusado as

mínimas garantias previstas na Constituição Federal Brasileira diante dos processos

e julgamentos de crimes transnacionais, pois, os direitos fundamentais estão em pé

de igualdade com as garantias relacionadas na Constituição Federal.

(27)

José Cirilo de Vargas, leciona que:

No plano do Direito Administrativo, ou Penal, ou onde exista hierarquia funcional baseada em Direito Público, ordem ilegal, emanada de superior hierárquico, não se impõe à obediência; bem assim qualquer regra jurídica contratando o texto constitucional é regra não válida, cuja observância não obriga; nenhum juiz, para ficarmos apenas no campo judiciário, deve aplicar ao caso concreto uma norma inconstitucional, ainda naqueles casos em que foi editada respeitando o processo legislativo (argüição de inconstitucionalidade a tramitação de uma demanda – controle difuso ou concreto).20

A realização de justiça está comprometida com o Estado político-ideológico

no ordenamento jurídico. Portanto, a importância do utilitarismo do processo penal

garantista é o fundamento de sua existência, mas com a especial característica de

que é o instrumento de proteção dos direitos e garantias individuais.

A Constituição da República Federativa do Brasil enumera os pressupostos

processuais-constitucionais para todos os ramos do Direito. O Direito Processual é o

caminho ou procedimento imprescindível a qualquer resolução de conflito de

interesses, ou seja, o direito material sem o direito processual não tem utilidade nas

relações sociais e jurídicas, ou vice-versa.

As normas existentes na Constituição Federal são voltadas para orientar e

impor a instrumentalidade destas garantias fundamentais, recebe o nome de Direito

Processual Constitucional. O estudo demonstra que a cooperação jurídica penal

internacional não deve suprimir os fundamentos e as garantias constitucionais, sob

pena de produzir um processo penal inconstitucional, que, no afã de exercer a

repressão ao crime transnacional, despreza o equilíbrio entre o Poder do Estado e a

Liberdade do cidadão.

Dentre as normas constitucionais vigentes, dispostas no capítulo da

Organização do Poder Judiciário, destaca-se a prestação jurisdicional, que evidencia

(28)

à prestação jurisdicional, que é delimitada na competência de cada justiça,

obedecidos as garantias fundamentais, que são diretrizes para o estado e a

sociedade conviverem harmonicamente.

O direito de ação está previsto na Constituição Federal, art. 5.º, XXXV: a lei

não excluirá da apreciação do Poder Judiciário, lesão ou ameaça a direito. Logo, a

Carta Magna foi previdente e abrangente ao incluir a ameaça de direito como uma

violação a um direito fundamental. A Carta Magna não descreveu somente os

direitos fundamentais, porém, o meio de buscá-los e exercê-los, que são as

garantias processuais disponíveis, tais como: a) Habeas Corpus; b) Mandado de

segurança; c) ação popular e d) Mandado de Injunção.

Há alguns princípios processuais constantes na Constituição que são afetos

ao Direito Processual Civil, que, também, são norteadores ao Processo Penal. Ada

Pelegrini Grinover, diz que: “a análise da Constituição brasileira em vigor aponta

vários dispositivos a caracterizar a tutela constitucional da ação e do processo”,

21

isto é, são princípios comuns ao Direito Processual Penal e Civil.

As regras de cunho garantistas, que impõem ao Estado e à própria

sociedade o respeito aos direitos individuais, inseridas na Constituição, constitui uma

iniciativa pioneira no Brasil, embora, desde a Constituição de 1824 já se contemplam

normas de direitos fundamentais.

A garantia da igualdade, também é um fator preponderante, e em dois

momentos aparece em forma de princípios: contraditório e a ampla defesa, que nada

mais são que idênticas oportunidades e impedindo que seja atribuído maior direito,

maior poder ou maiores deveres ou maiôs ônus a um do que a outro. Enfim, a

igualdade entre acusação e defesa é a regra constitucional processual. Há, ainda, a

21 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria Geral do Processo. 15. ed., São Paulo: Malheiros,

(29)

íntima ligação entre o princípio da proporcionalidade e o princípio da isonomia,

embora possuam finalidades próprias.

A contribuição do estudo dos pressupostos e requisitos do princípio da

proporcionalidade na aplicação da cooperação jurídica penal internacional é de

grande importância, visto que, o Estado punitivo utiliza o grande aparato da prisão e

do seqüestro de bens sob o pretexto de garantir a futura aplicação da lei penal ou da

ordem pública para depois dela não resultar a privação de liberdade, mas sim a

suspensão processual em virtude do crime praticado. Portanto, na atuação do

princípio da proporcionalidade verifica-se no caso concreto, que a restrição ao

acusado é adequada, necessária e se justifica em face de valor maior a ser

protegido. Suzana Toledo de Barros ensina que a verificação da aplicação da

proporcionalidade deve ser aferida sob três etapas: “1. constatação de que se trata

de uma autêntica restrição; 2. verificação dos requisitos de admissibilidade

constitucional de restrição e 3. feita a comprovação de que a restrição atende ao

princípio da proporcionalidade.”

22

1.3 Os Princípios

Constitucionais do Direito Processual Penal

1.3.1 A Tutela Jurisdicional e o Devido Processo Legal

A Constituição Federal, art. 5.º, XXXV, descreve que: a lei não excluirá da

apreciação do Poder Judiciário, lesão ou ameaça a direito, isso significa que a

atividade de prestação jurisdicional, somente deve ser prestada pelo Estado, através

do Poder Judiciário, ou seja, é uma atividade exclusiva do Estado. Isto quer dizer,

que o Poder Judiciário não poderá se esquivar de qualquer provocação ou pleito

(30)

requerido pelo cidadão, mesmo que seja uma ameaça ou uma prevenção de uma

futura ilegalidade.

A terminologia

jurisdição possui vários sentidos gramaticais. Segundo o

Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, há descrição de dez significados, sendo o

sentido jurídico mais importante e determinador, “poder de um Estado, decorrente de

sua soberania, para editar leis e ministrar justiça”. A jurisdição é obrigação e função

do Estado, e os exercícios destas funções são definidos pela Constituição e

exercidos pelos Poderes Constituídos: 1) Executivo; 2) Legislativo e 3) Judiciário.

Os outros significados relacionam-se com a delimitação, atribuição, domínio

ou influência. Logo, o termo é empregado muitas vezes equivocadamente, por

exemplo:

escola sob a jurisdição, tendo neste caso, um significado de atribuição,

responsabilidade, circunscrição.

O termo jurisdição, abrange também, o campo político para aplicar a justiça,

nos casos de competência exclusiva do Congresso Nacional, art. 52 da Constituição

Federal.

A atual Constituição destacou a titularidade exclusiva do Ministério Público

sendo este titular da ação penal pública, art. 129, isto é, a persecutio criminis diante

do opino delicti perante a justiça cabe privativamente ao órgão do Estado incumbido

para tal mister, afirmando o princípio do promotor natural, sendo este um dos

princípios processuais-constitucionais.

(31)

admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no

prazo legal. Ressalta-se que, poderá haver a denúncia substitutiva, sendo aquela

elaborada pelo Ministério Público que substitui a ação penal subsidiária da pública

elaborada pela vítima, em caso de ser inepta.

Somente é cabível a ação penal privada subsidiária da pública no caso de

inércia do Ministério Público, destacando a impossibilidade na hipótese de

arquivamento. Não devendo o leitor confundir o arquivamento no caso requerido

pelo Ministério Público, por falta de provas, atipicidade do delito ou ausência de

autor de crime. O que é diferente do arquivamento dos autos por negligência ou

omissão do representante do Ministério Público, sendo neste último caso, autorizado

pela constituição a legitimação processual extra do próprio ofendido ou vítima do

crime. Contudo, caso seja arquivado por falta de provas, qualquer autos de processo

poderá ser reavivado ou desarquivado em caso de novas provas, a requerimento do

Ministério Público.

O instituto jurídico do Habeas Corpus, previsto no inciso LXVIII, diz que:

conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de

sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso

de poder, sendo ação constitucional apta a coibir qualquer lesão ou ameaça de

violência ou coação a sua liberdade.

(32)

O Mandado de Segurança previsto no inciso LXIX esclarece: conceder-se-á

mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por

"habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso

de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de

atribuições do Poder Público. É um privilégio dos brasileiros ter à disposição tais

remédios constitucionais eficazes contra o forte poder de repressão do estado.

A Constituição Federal descreve três incisos, referentes aos princípios do

devido processo legal que complementam a prestação da tutela jurisdicional:

LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

Os dois primeiros incisos são comuns ao direito penal e ao direito processual

penal. O primeiro trata da proibição de extradição para o brasileiro, excetuando o

brasileiro naturalizado, que praticou crime comum ou envolveu-se em tráfico de

droga, antes da naturalização. O segundo inciso trata da proibição de extradição de

estrangeiro por motivo político ou de opinião.

(33)

do contraditório. Tem a finalidade de preservar três bens fundamentais para a

sobrevivência humana: vida, liberdade e propriedade.

Paulo Rangel leciona que: “a tramitação regular e legal de um processo é a

garantia dada ao cidadão de que seus direitos serão respeitados, não sendo

admissível nenhuma restrição aos mesmos que não prevista em lei.”

23

A Constituição impõe a liberdade como regra e a restrição a liberdade

(prisão, seja de qualquer espécie), uma exceção a regra. As normas que garantem o

direito não podem restringí-lo ao mesmo tempo. Portanto, “o devido processo legal é

o princípio reitor de todo o arcabouço jurídico processual. Todos os outros derivam

dele.”

24

É o princípio processual-penal-constitucional, previsto na Constituição

Federal de 1988 - CF/88, o norteador da tramitação do processo administrativo ou

judicial, dentre eles o processo penal. "Ninguém será privado da liberdade ou de

seus bens sem o devido processo legal". Em resumo, o princípio tem a finalidade

de assegurar a toda pessoa sua defesa em juízo ou “em não ser privado da vida,

liberdade ou propriedade, sem a garantia que pressupõe a tramitação de um

processo, segundo a forma estabelecida em lei.”

25

Desta forma, o princípio significa

dizer que a todo cidadão é assegurado uma garantia de que seus direitos de

liberdade e a restrição de seus bens serão respeitados de acordo com as normas

previstas em lei, isto é, a tramitação regular do processo penal deverá seguir todas

as formalidades legais.

O princípio do due process of law é um pressuposto genérico do devido

processo legal derivado da Constituição Norte-americana, que originou da Magna

23 RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 7. ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, 2. 24 Idem, p. 3

(34)

Carta Inglesa, e sua caracterização se divide em duas espécies: substantive due

process e o procedural due process.

O substantive due process - o devido processo legal em sentido material -

manifesta-se em todos os campos do Direito, em seu aspecto material, ou seja, no

Direito Penal, podemos citar:1) legalidade; 2) irretroatividade e 3) anterioridade.

Logo, este princípio nada mais é do que o devido processo legal que pode ser

derivado também, de direito material - direito penal - e não unicamente de processo

penal.

O procedural due process - o devido processo legal em sentido processual

- é a expressão que alcança outro significado, que, no Processo Judicial Brasileiro,

significa propiciar a todo cidadão o devido processo legal, quando houver restrição

de sua liberdade ou de seus bens. Entretanto, o presente princípio visa resguardar

as garantias processual-penal-constitucional aos litigantes. Resumindo: “que a

cláusula procedural due process of law nada mais é do que a possibilidade efetiva

de a parte ter acesso à justiça, deduzindo pretensão e defendendo-se do modo mais

amplo possível, isto é, de ter his day in court, na denominação genérica da Suprema

Corte dos Estados Unidos.”

26

Complementando o devido processo legal, merece destaque o princípio da

restrição dos atos judiciais, previsto no inciso LX - a lei só poderá restringir a

publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse

social o exigirem, isto quer dizer que os atos proferidos pelo juiz poderão ser

restritos as partes quando estas o exigirem para preservarem as pessoas

envolvidas, como por exemplo, crime de estupro, atentado violento ao pudor,

homicídio entre parentes e crimes de drogas.

26 NERY JÚNIOR, Nelson, Princípios do Processo Civil na Constituição Federal, Revista dos

(35)

1.3.2 Juiz e o Promotor Natural

De acordo com art. 5.º, LIII, da Constituição Federal: ninguém será

processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. Destacando que,o

juiz é o representante do Estado, através do Poder Judiciário, investido de jurisdição

e imparcial para resolver os conflitos entre as pessoas.

A Constituição Federal delimitou e distribuiu harmonicamente as

competências de jurisdição na medida da efetivação possível da especialidade, ou

seja, em ratione materiae, ratione funcionae, ratione loci ou funcional a qual deverá

ser julgada por cada tribunal, sendo a justiça distribuída por assunto. Há um capítulo

na Constituição descrevendo detalhadamente a organização judiciária da justiça

brasileira. Um exemplo é a competência do Supremo Tribunal Federal com poder

jurisdicional natural para processar e julgar Deputados Federais e Senadores.

O juiz natural nada mais é que, aquele juiz preestabelecido previamente no

local do fato, de acordo com as regras de competência para julgamento do crime

ocorrido e a organização judiciária aplicada. Além das garantias exigidas, tais como,

independência, imparcialidade, vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade, art.

95, I, II e III, da Constituição Federal.

Ressalta-se, que a emenda constitucional 45/04, atualizou o art. 93, VII,

impondo ao juiz titular para residir na comarca em que atuar, salvo autorizado pelo

Tribunal, respectivo. Logo, é a reafirmação do princípio do Juiz Natural.

(36)

encontra-se no modelo constitucional republicano de organização da Justiça, como

uma descrição pormenorizada.

Em relação à competência da jurisdição penal, a Constituição fixou alguns

critérios: primeiro, de especialização quanto à matéria a ser processada e julgada;

segundo em razão da pessoa a ser julgada, que são os foros por prerrogativa de

função e terceiro e último, em razão do local, isto é, a justiça pode ser determinada

pelo local em que se consumou o crime.

A principal espécie de competência, que deve ser destacada para o estudo é

em

ratione materiae e a ratione personae. A competência em razão da matéria, é

verificada primeiramente pela justiça federal comum, da justiça militar (estadual e

federal), da justiça eleitoral e da justiça estadual comum. Salientando a garantia do

tribunal do Júri para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, art. 5.º, XXXVIII,

da CF.

A competência em razão da pessoa está prevista nos artigos 102, do

Supremo Tribunal Federal, 105, do Superior Tribunal de Justiça, 108, do Tribunal

Regional Federal e 96, do Tribunal de Justiça dos Estados. E ainda, a competência

dos órgãos políticos, tais como: Senado, Assembléia e Câmara de Vereadores.

O princípio do juiz natural é reafirmado com o inciso XXXVII, não haverá

juízo ou tribunal de exceção que proíbe a investidura de juiz ou tribunal sem

competência preestabelecida em lei anterior.

(37)

O promotor natural deve exercer seu ofício na comarca em foi lotado, diante

do imperativo do art. 93, VII, da Constituição Federal, que impôs ao Juiz residir na

comarca em que é titular. Entendemos, que se estende ao Membro do Ministério

Público também, desde que exerça o cargo na condição de titularidade,isto é,

necessita residir no mesmo local, sob pena de ferir o princípio do promotor natural.

Não é permitido a nomeação ou designação de promotor de segunda

instância para exercer função de atribuição de promotor de primeira instância. Além

de violar o princípio do promotor natural, existe uma proibição na lei complementar

75/93, a Lei Orgânica do Ministério Público da União, de procurador de justiça ser

atribuído função de promotor moderno. O Supremo Tribunal Federal manifestou seu

entendimento no acórdão do RE 387.974/2003-DF, impedindo tal procedimento do

Procurador-geral de Justiça.

1.3.3 Legalidade

O art. 5.º, II, diz que: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer

alguma coisa senão em virtude de lei. O presente princípio é comum ao direito penal

e processual penal, isto é, todo cidadão, incluindo o Estado, deve obedecer às

diretrizes das leis, ou seja, todos são obrigados a fazer ou deixar de fazer, somente

aquilo que está previsto em lei.

(38)

Noutro diapasão, destacam-se os princípios da reserva legal e da

anterioridade (art. 5.º, XXXIX, da CF e art. 1.º, do CP), considerados sinônimos para

o Direito Penal. A lei penal vigora para os fatos típicos acontecidos posteriormente a

publicação da lei, isto é, a lei penal não retroage, exceto para beneficiar o réu, para

fatos reais acontecidos antes da sua entrada em vigor, nulla poena sine lege.

Há tempos não muito distantes, quando vigorava no Estado o governo

brasileiro de exceção, expediam-se decretos-leis com descrição de fato típico e a

pena, sem qualquer critério de procedimento de elaboração e aprovação de lei.

Atualmente, de acordo com a nova ordem constitucional, é terminantemente

proibido, elaborar lei sem o devido processo legislativo, incluindo a proibição prevista

nas medidas provisórias, art. 62 da Constituição Federal.

Quando uma pessoa pratica um crime de ação penal pública, nasce para o

estado o poder-dever de exercer o direito de punir,

ius puniendi.

O princípio da legalidade é o da reserva de lei. “Primeiro significa a

submissão e o respeito à lei, ou a atuação dentro da esfera estabelecida pelo

legislador. O segundo consiste em estatuir que a regulamentação de determinadas

matérias há de fazer-se necessariamente por lei formal,”

27

e a doutrina não raro

confunde ou não distingue suficientemente, por isso a irrelevância para os

criminalistas.

Consequentemente, para os penalistas, não há diferença ontológica entre

legalidade e a reserva legal, a diferença registra para os constitucionalistas, logo a

ciência processual penal e penal, a garantia determina que nenhum cidadão será

apanhado de surpresa na aplicação da norma, sendo que toda conduta

corresponderá a um tipo penal preexistente criado, sob pena de ser conduta atípica.

(39)

Exemplo real da falta de legislação penal punitiva de condutas, que ocorre

atualmente, é seqüestro relâmpago; fraude em concurso público e crimes praticados

mediante utilização da informática.

1.3.4 Presunção de Inocência ou não-culpabilidade

O art. 5.º, inciso LVII, diz que: ninguém será considerado culpado até o

trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

Primeiro deve esclarecer o significado de sentença transitada em julgado,

quer dizer que não cabe mais recurso. É a coisa julgada material pode até ser

modificada, via Habeas Corpus ou Revisão Criminal, entretanto, somente para

beneficiar o condenado.

O princípio da inocência é o corolário da origem dos direitos fundamentais,

isto é, o acusado ou denunciado é considerado inocente durante o processo penal,

sendo declarado culpado (sentido genérico) após o trânsito em julgado de sentença

condenatória irrecorrível.

O princípio da inocência deve ser aplicado em qualquer tipo de prisão, seja

em flagrante, provisória, preventiva, cautelar e temporária, exceto a sentença

condenatória irrecorrível. A presunção da inocência é relativa –

juris tantum.

Lembrando que a presunção absoluta, é denominada

juris et de jure.

O Supremo Tribunal Federal já se pronunciou sobre o conflito entre a

presunção de inocência e a prisão provisória. Entendeu que é possível decretar

prisão cautelar de qualquer pessoa, mesmo presumindo sua culpabilidade.

(40)

absolutória. Há alguns respeitados autores que chamam de à não consideração

prévia de culpabilidade. Este princípio foi consagrado por força das normas e idéias

contidas na Declaração Universal do Direitos os Homem (1948) e do Pacto de São

José da Costa Rica (1992), sendo proibido um juízo prévio de condenação, sem o

julgamento final ou resultado jurídico imodificável.

Rogério Lauria Tucci, leciona que: “consiste na asseguração, ao imputado,

do direito de ser considerado inocente até que sentença penal condenatória venha a

transitar formalmente em julgado, sobrevindo, então, a coisa julgada de autoridade

relativa.”

28

Na aplicação do princípio da presunção da inocência, deve ser levado em

conta o favor libertatis, regramento determinante de que, sem a certeza de que o

autor do crime cuja acusação lhe é imputada, apenas poderá ter validade após o

trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Do contrário, não há como

antecipar o resultado por uma conduta ainda não comprovada.

Diante dos argumentos anteriores, conclui-se que os arts. 393, I, 408, § 1.º,

do Código de Processo Penal, art. 35 da Lei 6.368/76, art. 3.º da Lei 9.613/98, art.

31 da Lei 7.492/86, art. 2.º, § 2.º, da Lei 8.072/90, são anti-garantistas.

Quanto ao art. 3.º da Lei de Lavagem de Dinheiro não há um entendimento

formado em razão da lei ser razoavelmente nova e ainda não chegou recursos nos

tribunais. Contudo, entende-se, que já nasceu sem eficácia neste ponto, por

contrariar a Constituição Federal, em especial, o princípio da inocência.

1.3.5 Vedação de Identificação Criminal

28 TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e Garantias Individuais no Processo Penal Brasileiro. 2. ed., São

(41)

É um princípio que determina a não identificação criminal de qualquer

pessoa indiciada, se já identificada civilmente, conforme o art. 5.º, inciso LVIII:

o

civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas

hipóteses previstas em lei

.

Civilmente identificado significa que o indiciado possui um registro civil,

consubstanciado em uma Carteira de Identidade expedida pela Secretaria de

Segurança Pública Estadual ou qualquer órgão equiparado com o RG, exemplo:

OAB, CRECI, CREA, CRMVZ, CRA etc., ou seja, órgão que possui atribuição para

catalogar o registro geral das pessoas, neles inscritos.

No princípio da proibição da identificação criminal está previsto a exceção

aos casos em que o indiciado deverá ou será obrigado a ser identificado

criminalmente, mesmo sendo identificado civilmente, sendo uma norma de eficácia

contida, que foi regulamentado pela Lei 10.054/00., a qual descreve os crimes e as

condições em que o indiciado é obrigado a submeter-se à identificação criminal,

sendo vedado à autoridade policial expor o indiciado a uma condição vexatória ou

promover a identificação criminal fora das hipóteses descritas na lei.

O procedimento de identificação criminal ocorre com o sistema datiloscópico

e fotográfico, isto é, coletando as digitais dos dedos dos indiciados e registrado no

prontuário civil e em relação às fotos não há dúvida.

O art. 3.º, da Lei 10.054/00 descreve os crimes e as condições que serão

identificados criminalmente:

1) homicídio doloso;

(42)

4) crime contra a liberdade sexual;

5) crime de falsificação de documento público;

6) houver fundada suspeita de falsificação ou adulteração de documento de

identidade;

7) o estado de conservação ou a distância temporal da expedição da

identidade apresentada impossibilite a completa identificação;

8) constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes

qualificações;

9) houver registro de extravio de documento de identidade;

10) o indiciado ou acusado não comprovar, em quarenta oito horas, sua

identificação civil.

1.3.6 Indenização por Erro Judiciário

O princípio da indenização por erro judiciário está no art. 5.º, LXXV: o Estado

indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do

tempo fixado na sentença. Assim, este princípio descreve dois tipos de indenização:

por erro judiciário e pelo excesso de prisão legal.

O erro judiciário para ser declarado e reconhecido na esfera penal, deve ser

ajuizado por meio de uma ação de revisão criminal, prevista no Código de Processo

Penal, art. 621 e seguintes, sendo que este acórdão é o título executivo judicial

ilíquido para futura execução no juízo cível.

(43)

O procedimento da revisão criminal tramita nos Tribunais de segunda

instância, tais como: Tribunais Regionais Federais, Estaduais ou Tribunais

superiores, dependendo da competência do julgado impugnado na revisão criminal,

art. 624 do Código de Processo Penal.

O Estado Federal ou Estadual responderá pela indenização cível proposta

pelo requerente e vítima do erro judiciário ou excesso de prisão, dependendo de

qual foi à justiça que provocou o erro. Atualmente, há entendimento de que os juízes

podem responder por via regressiva, promovido pelo Estado que indenizar o

condenado ou preso. A indenização poderá ser por danos materiais e morais. A

indenização por erro judiciário foi uma significativa conquista na Constituição

Federal, pois há muitos casos na literatura jurídica de erros judiciários. Um exemplo

clássico é caso dos Irmãos Naves que ocorreu em Uberlândia - MG, no qual dois

irmãos foram condenados por homicídio e tempos depois constatou-se que os

condenados não foram autores do crime.

1.3.7 Ordem de Prisão por Autoridade Judiciária Competente

Referências

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