Dissertação de Mestrado - Sergei Kalupniek
Programa de Pós-Graduação em Ciências Genômicas e Biotecnologia - UCB
RESUMO
Polimorfismos de DNA no cromossomo Y em humanos têm sido utilizados de
forma crescente para estudos evolucionários e na identificação individual. Locos
microssatélites, também comumente denominados STRs (Seqüências Curtas em Tandem
do inglês "Short Tandem Repeats") no cromossomo Y apresentam níveis moderados de
polimorfismo e distribuições mais heterogêneas de freqüências alélicas quando comparados
com locos STR autossômicos. Entretanto, a herança patrilínea da porção não recombinante
do cromossomo Y resulta na conservação completa de polimorfismos ligados. Quando
tomados conjuntamente, estes polimorfismos fornecem haplótipos altamente
discriminatórios para a investigação forense de casos de estupro quando misturas de fluidos
biológicos masculinos e femininos devem ser analisados, bem como uma poderosa
ferramenta complementar em investigação de paternidade post mortem quando um
descendente masculino está em questão. Neste trabalho foi implementada a resolução
simultânea, em uma única pista de eletroforese, de um haplótipo do cromossomo Y
extremamente informativo recomendado internacionalmente para utilização forense
composto por nove locos STRs em duas reações de PCR: DYS19, DYS389I, DYS389II,
DYS390, DYS391, DYS392, DYS393, DYS385I/II. Um banco de dados de freqüências
alélicas e haplotípicas foi construído com base na tipagem de aproximadamente 250
indivíduos brasileiros geneticamente não relacionados, sendo aproximadamente 50 de cada
uma das cinco regiões geopolíticas do país. Os alelos foram declarados com base em
padrões internos de tamanho e amostras referência de exercícios de tipagem da ISFG
(International Society of Forensic Genetics) com haplótipo conhecido. A diversidade
gênica média que corresponde ao poder de exclusão de paternidade (PE) foi de 63,7%. Os
locos DYS385I/II, e DYS389II foram os mais informativos com PE acima de 70% e os
locos DYS391 e DYS393 os menos informativos, abaixo de 55%. Uma diversidade
haplotípica notável de 99,8% foi verificada quando os dados das 5 regiões foram analisados
conjuntamente, resultando em uma estimativa de poder combinado de discriminação
individual de 87%. Os haplótipos mais freqüentes observados no Brasil indicam uma
participação predominante de indivíduos europeus do sexo masculino na formação da
ii população brasileira atual, corroborando estudos anteriores que utilizaram polimorfismos
bialélicos de evolução mais lenta. Não foi detectada uma diferenciação significativa entre
as cinco regiões geopolíticas brasileiras para o haplótipo de nove locos STR com base em
um teste exato e reamostragem por bootstrapping (Fst=0,00031 , valor p=0,43326). Na
AMOVA, 99,97% da variabilidade haplotípica está contida dentro de regiões e apenas
0,03% entre regiões. Este resultado, conseqüência da heterogeneidade genética e formação
relativamente recente da população brasileira atual, indica que um banco de dados nacional
único de freqüências haplotípicas de STR no cromossomo Y pode ser utilizado com
segurança para a avaliação quantitativa de identidades em casuística forense em populações