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Televisão: As etapas de um acontecimento notícia até chegar ao Pivot

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Academic year: 2021

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Relatório de Estágio apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Jornalismo realizado sob a orientação científica de António Granado.

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DECLARAÇÕES

Declaro que este Relatório é o resultado da minha investigação pessoal e independente. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia.

O candidato,

____________________

Lisboa, de Março de 2013

Declaro que este Relatório se encontra em condições de ser apreciado pelo júri a designar.

O(A) orientador(a),

____________________

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"Há sem dúvida quem ame o infinito, há sem dúvida quem deseje o impossível, há sem dúvida quem não queira nada - Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, porque eu desejo impossivelmente o possível, porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, ou até se não puder ser..." Álvaro de Campos

Dedicatória pessoal À minha mãe, pelo amor e apoio incondicionais, por me incentivar, sempre, a ser maior e melhor.

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AGRADECIMENTOS

Começo por agradecer ao Professor António Granado. Sem ele, o meu estágio não se teria realizado. Sem o seu apoio não teria chegado até aqui.

Às jornalistas Cláudia Viana, Isabel Venceslau e Joana Ramalhão por todo o carinho e apoio. À Joana Martins pela ajuda apesar de nunca termos saído em reportagem juntas. Ao jornalista Luís Miguel Loureiro, Hélder Silva, Paulo Jerónimo por todas as dicas diárias, por como professores, me terem sempre ensinado a ser e fazer mais e melhor. A todos os operadores de câmara pelas constantes palavras de apoio e motivação, Rui César, Pedro Amanajás, Pedro Rodrigues, Rui Castro Alves, Paulo Gomes, Pedro Rothes e especialmente ao Luís Flores pela constante boa disposição. Um muito obrigado ao Freitas Ribeiro por estar sempre disponível a ajudar e a ouvir. A todos os jornalistas e operadores de câmara que não enunciei, ao realizador Vasco que me ajudou imenso na apresentação do jornal, projeto final de estágio. Aos editores Sérgio Tomás, Rui Magalhães, Dores Queirós e Marcelo Sá Carvalho pela simpatia, pela preocupação, pelo apoio e por me ajudarem em pequenas lutas. E a todos os outros que ficam aqui anónimos mas que sem eles e o seu fantástico trabalho não seria possível fazer televisão e o estágio não teria o mesmo valor.

Mas principalmente a ti, Cláudia Viana, pela paciência, pela companhia, por me teres ensinado como funciona este mundo. Obrigada por tantas vezes me dares a confiança que precisava.

Á também estagiária Renata Moniz pela simpatia, pela amizade e pelo incentivo. Aos outros, o meu obrigado por me moldarem como pessoa e como jornalista. A quem sempre me incentivou a dar o passo em frente, a quem nunca desistiu de mim, mesmo quando eu pensei em fazê-lo. À minha mãe, Paula Nogueira, que sabe quem sou, que acredita em mim, e que me manteve de pé durante as dúvidas e incertezas.

À minha irmã, que lutou a meu lado numa luta que não a dela. Que permaneceu firme nas alturas em que mais ninguém permaneceria. A ti, Patrícia, muito obrigada.

A todos os meus amigos que lutaram a par comigo, que me incentivaram e motivaram, que tiveram sempre um sorriso guardado para mim. Que choraram comigo e

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se alegraram comigo. O meu muito obrigado, João Tavares, Marcelo Araújo, Pedro Bandeira, Hugo Telha, Ana Daniela Soares, Rodrigo Marques e a todos aqueles que não estão aqui enunciados mas que estarão sempre no meu coração.

Com este relatório, termina mais uma fase da minha vida. Advinha-se agora uma nova luta.

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TELEVISÃO: AS ETAPAS DE UM ACONTECIMENTO NOTÍCIA

ATÉ CHEGAR AO PIVOT

Relatório de Estágio de Mestrado em Jornalismo Sílvia Sofia Nogueira Gomes

PALAVRAS-CHAVE: Notícia, televisão, jornalismo, RTP, reportagem.

RESUMO

Este relatório descreve a minha experiência enquanto estagiária na redacção da RTP, Rádio e Televisão Portuguesa, situada no Monte da Virgem, em Gaia, Porto.

O meu estágio teve a duração de 3 meses, com início a 17 de Setembro de 2012, e término a 14 de Dezembro de 2012. A sua realização teve como principal objectivo terminar o Mestrado em Jornalismo, na Universidade Nova de Lisboa.

Durante os 3 meses de estágio, o meu local de trabalho foi alternado entre a redacção e os serviços na rua. A redação do Porto está responsável pelo Jornal da Tarde e pelos jornais da RTP Informação.

Durante o período de estágio tive oportunidade de aperfeiçoar as técnicas gerais do jornalismo para televisão, bem como todo o processo de produção de reportagem a que está ligado.

KEYWORDS: News, television, journalism, RTP, report.

ABSTRACT

This report outlines my experience as an intern in the drafting of RTP, Portuguese Radio and Television, located on Monte da Virgiem in Gaia, Porto.

My internship lasted three months, beginning on September 17, 2012, and ending on 14 December 2012. Their achievement has as main goal to finish a Masters in Journalism at the University of Lisbon.

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During the 3 month internship, my workplace was alternated between the wording and services on the street. The wording of the Port is responsible for the Jornal da Tarde and the newspapers of the RTP information.

During the internship I had the opportunity to improve the general techniques of journalism to television as well as the entire process of producing a report which is attached.

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ÍNDICE

Introdução………...1

Parte I………. ………..….2

I. 1. O Poder da Televisão………..2

I. 2. Critérios de noticiabilidade e processo de seleção ...7

I.2.1. Os valores-notícia de seleção e de construção ……….……13

I. 3. 1.3.Agenda-setting………17

Parte II: A entidade de acolhimento: Rádio e Telivisão Portuguesa …………..20

II. 1. Integração na RTP………21

II. 2. 3 Meses………22

Parte III: A organização das notícias na RTP até chegar ao Pivot ……….27

III.1 A falta de meios como condicionante………..28

Conclusão……….……...34

Bibliografia………....37

Anexos: Anexo 1: Orçamento de Estado 2013………..42

Anexo 2: Encerramento Maternidades………...43

Anexo 3: Manifestação Restaurantes...45

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Anexo 5: Operação Nariz Vermelho ……….…..47

Anexo 6: Greve Petrogal ………..48

Anexo 7: Descida do preço dps combustiveis ………...……….….…..49

Anexo 8: Programa 5 ao Dia ………...50

Anexo 9: Dia nacional de Prevenção do Cancro da Mama………….….…...…51

Anexo 10: “Sexualidade: Tudo o que querias saber mas não ousavas perguntar”………..52

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INTRODUÇÃO

O presente relatório de estágio tem como objetivo descrever em pormenor o trabalho prático realizado na RTP - Rádio e Televisão de Portugal, o qual teve início no dia 17 de Setembro tendo terminado no dia 14 de Dezembro.

Embora o Mestrado em Jornalismo não esteja direcionado para televisão, a minha escolha recaiu sobre este meio por vários fatores. Em primeiro lugar, pelo mistério e consequente curiosidade que o mundo da televisão produz. Em segundo lugar porque a televisão é o meio que desperta mais sentidos. A meu ver, a televisão é o meio mais completo para quem quer trabalhar em informação. Neste suporte trabalhamos, em simultâneo, a escrita, a voz e a locução, e ainda convivemos de perto com o nosso suporte principal, a imagem. Em terceiro lugar, a RTP porque é o único canal ainda público e com maior rigor na informação que presta.

Durante os três meses de estágio instalei-me junto à equipa de operadores de câmara. Ao longo do estágio, desenvolvi a escrita jornalística diária, bem como saída para o terreno com um repórter de imagem, escrita e edição de imagem, até o resultado final estar pronto para ir para o ar. Todo este processo era repetido diariamente. A rotina de um jornalista, de qualquer suporte, é gerida pela pressão do tempo.

Na parte inicial do meu relatório procurarei fazer uma abordagem teórica alternada com pesquisas e eventuais questões sobre o tema por mim escolhido para o presente relatório: “Televisão – As etapas de um acontecimento notícia até chegar ao pivot”. Após alguma leitura, procurarei esclarecer o que leva um acontecimento a tornar-se notícia, como funcionam as redacções, a teoria do agendamento e quais os valores-notícia segundo alguns autores. Em seguida, explicarei como foi o meu estágio na RTP e como são escolhidas as notícias neste caso específico, acompanhado de alguns exemplos que achei relevante apresentar.

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PARTE I

“Jornalismo é separar o joio do trigo. E publicar o joio”. Mark Twain

I.1. O PODER DA TELEVISÃO

A televisão surgiu no século XX e mudou completamente o desenvolvimento da imprensa. Basta ligar a televisão, muitas vezes ao final do dia, numa fase de descanso após o dia de trabalho, para ter acesso a tudo aquilo que se passou no país e no mundo. A televisão tornou as distâncias mais curtas, aproximou as pessoas, apresentou-se como um tema de conversa nos momentos de sociabilização com amigos, família ou no trabalho. Dominique Wolton (2004) (1) aponta a televisão como um “vínculo social”

entre as pessoas que a vêem simultaneamente permitindo uma certa identificação e relação entre essas mesmas pessoas. Wolton defende que a televisão não é apenas a imagem, mas também laço social. Por mais que a imagem seja a marca da televisão, não se pode ignorar a dimensão social deste veículo. No momento em que as pessoas comentam o que viram no pequeno grande ecrã, elas estão a integrar-se socialmente. A televisão é uma forma de abertura para o mundo. E, muitas vezes, é a principal forma que as pessoas têm de se informar. A televisão agenda os assuntos que são discutidos no dia a dia, seja no bar, no trabalho, ou nas instituições de ensino, por exemplo.

Penso que estamos de acordo quando referimos que a televisão desempenha um papel de extrema importância na nossa sociedade, nomeadamente no que se refere à construção de opiniões. A forma como uma história é contada influencia inevitavelmente a opinião que vamos ter sobre essa mesma história ou os seus intervenientes. No entanto, é importante referir a responsabilidade que daqui advém uma vez que a televisão continua a ser a fonte de informação procurada pela maioria.

Por outro lado, são cada vez menos as pessoas que lêem jornais e menos ainda aquelas que procuram comparar a mesma história em diversos suportes. Entre dirigir-se ______________________

(1) Wolton, Dominique. Pensar a Comunicação. Tradução de Zélia Leal Adghirni. Brasília, Editora Universidade de Brasília, 2004

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a um qualquer local de venda de jornais ou simplesmente acender a televisão e ir ouvindo enquanto se desempenha outra qualquer tarefa, esta última é muito mais fácil e prática. Para Bourdieu (1997: 23-4) (2), “há uma proporção muito importante de pessoas

que não lêem nenhum jornal, que estão devotadas de corpo e alma à televisão como fonte única de informações”. Numa altura em que as pessoas correm contra o tempo, é bom poder desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo, em que uma delas passa por atualizar-se sobre o que se passa no mundo.

Vários são os autores que sublinham a influência da televisão e do jornalismo na população. Dominique Wolton (2006) alerta, contudo, que não deve ser esquecida a livre interpretação dos espectadores. Como veremos mais à frente neste relatório, vários autores referem que o jornalismo dá às pessoas temas em que pensar. Não é por acaso que neste momento, o tema de eleição nas conversas de café, nos encontros no metro ou na mesa de jantar é a crise do nosso país. Se não fosse o elevado número de notícias sobre este tema, talvez não houvesse tanto burburinho à volta disto mesmo. Aliás, penso que o número de manifestações que se tem vindo a desenrolar se prende, precisamente, com as notícias à volta das manifestações em Madrid, Espanha, que acabaram por nos influenciar a fazer o mesmo na tentativa de nos fazermos, também, ouvir.

A televisão é um meio que não permite interatividade. Aparece pronto a ser consumido, rápido, imediato e sem qualquer esforço por parte do consumidor. Assim, os critérios editoriais apresentam um elevado nível de responsabilidade. As pessoas não duvidam do que vêem na televisão, pura e simplesmente o absorvem. Apenas uma minoria é capaz de criticar aquilo que ouve e vê.

Como refere Silvino Évora (3), no dia 11 de Setembro de 2001, a televisão

mostrou todo o seu poder. Com o desvio de quatro aviões das duas maiores companhias aéreas norte-americanas (American Airlines e a United Airlines) e o choque contra as torres gémeas de Nova Iorque, o edifício do Pentágono em Washington e um descampado na Pensilvânia, a televisão esteve presente para dar todos os pormenores. Fez aquilo que nenhum outro meio de comunicação de massa consegue fazer – transportar o público para dentro do acontecimento, mostrando-lhe o que está a

______________________

(2) Bordieu, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

(3) Évora, Silvino Lopes. O Jornalismo em Directo – Reflexão da Semana, categoria Media & Jornalismo. 2004.

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acontecer no preciso momento em que a emissão é posta no ar. É esta capacidade da televisão, que deu um outro rumo à comunicação humana. Proporcionou aquilo a que podemos chamar de comunicação global. Neste sentido, a televisão consegue eliminar todas as fronteiras geográficas, reduzindo o mundo à dimensão de uma aldeia, a que o teórico canadiano Marshall McLuhan resolveu apelidar de “aldeia global”.

É importante, também, referir que o direto desempenha um papel extremamente importante no domínio da televisão, sendo que se trata de uma estratégia de eliminar qualquer possibilidade do público desconfiar da veracidade dos acontecimentos. No entanto, aqui também se levantam problemas. Muitas cadeias de televisão começaram a usar o directo de forma imprópria. Acontecimentos que poderiam ser explicados através de uma simples narração numa notícia são apresentados em directo.

Como dito por Diana Costa (2011), actualmente, deparamo-nos com uma multiplicação de cadeias de televisão devido ao surgimento da televisão por cabo, o que acaba por se traduzir numa crescente monotonia de programas. A modernidade leva à produção em massa e ao consumo que gera lucro. Por sua vez, o lucro gera mais produção, que gera mais consumo e assim sucessivamente, formando um ciclo entre produção, consumo e lucratividade. A função da televisão é informar, distrair e cultivar. No entanto, cada vez mais, se nota uma enorme preocupação com as audiências e o lucro em vez destas três funções que deveria desempenhar. Não será isto, a longo prazo, uma ameaça ao verdadeiro papel do jornalista? Claro que não haverá futuro numa empresa jornalística se esta não tiver audiências e por consequência lucros, mas deixar que isto influencie o carácter do que é transmitido talvez não seja o melhor caminho. Os programas de entretenimento poderão contribuir para uma maior audiência e, desta forma, maiores lucros para um canal, mas os programas de informação deverão ser fiéis aos valores-notícia de forma a desempenhar as suas funções de informar a população.

O papel do jornalista passa por transmitir a informação sobre um acontecimento de forma clara e verdadeira, objectiva, transparente. Nelson Traquina (1999:167) defende que “as notícias são o resultado de um processo de produção, definido como perceção, seleção e transformação de uma matéria-prima (os acontecimentos) num produto (as notícias).” Como ser humano, e portanto portador de crenças e valores, a história será sempre contada através de um determinado ângulo. Já Sousa (2000:21) afirma que “as notícias são um artefacto construído perla interacção de várias forças,

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que podemos citar o estrato social das pessoas, o sistema social, a ideologia, a cultura, o meio tecnológico e a história”.

Nelson Traquina (1999:167) descreve que os “jornalistas não são observadores passivos, mas participantes ativos no processo de construção da realidade. E as notícias não podem ser vistas como emergindo dos acontecimentos do mundo real; as notícias acontecem na conjugação de acontecimentos e de textos. Enquanto o acontecimento cria a notícia, a notícia cria o acontecimento”. Um acontecimento é um acontecimento para os intervenientes mas quando é noticiado por um jornalista torna-se um acontecimento público, torna-se, muitas vezes, um “problema” da população e não apenas dos intervenientes. Exemplo disso é quando é noticiado o caso de alguém que precisa de um transplante ou precisa de dinheiro para fazer determinado tratamento. Surgem muitas vezes soluções que não teriam aparecido se o acontecimento não se tivesse tornado público por meio de notícia. É muito usual, quando as pessoas estão descontentes com determinada situação, ouvir-se dizer “vamos chamar a televisão”. A televisão aparece como solucionadora de problemas, isto porque quando o acontecimento se torna público surgem muitas vezes soluções e as pessoas se movimentam em prol de resoluções.

Goulart (2004: online http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/precisamos-definir-esse-termo) reitera a característica de a notícia ser um produto construído. O autor argumenta que “notícia pode ser entendida como o resultado do processo produtivo de informações, tendo, inclusive, natureza semelhante à da informação, implicando veracidade, objetividade, honestidade, exatidão e credibilidade. Nesse sentido, o jornalismo seria a apuração, seleção e organização de informações transformadas em notícia num processo recheado de critérios e procedimentos padrão. Assim, a notícia contém informação. Por outro lado, nem toda a informação pode ser notícia. A notícia é pensada para um público que poderá utilizá-la para tomar decisões e se inserir na vida social.”

A maioria dos consumidores absorve a informação da forma como a ouve sem sequer fazer uma visão crítica, sem se questionar, sem reiterar, simplesmente aceita aquilo que acabou de ouvir. Segundo Rodrigues (1999), o discurso jornalístico passa a ser a nova maneira das pessoas compreenderem a realidade. Tendo o jornalista a função de transformar um acontecimento numa notícia recorrendo á objetividade e veracidade, o jornalista torna-se um contador de estórias, estas estórias são a realidade do mundo.

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Em televisão, aquilo que foi escrito pelo jornalista e que é ouvido ganha ainda mais destaque com as imagens que o acompanham. O discurso claro e conciso do jornalista leva a uma clara interpretação por parte do público e portanto uma maior facilidade em compreender aquilo que se passa. Em Portugal, muitas eram as pessoas que diziam não entender nada de política. No entanto, isto alterou-se bastante e, neste momento, são as pessoas que procuram informação sobre a crise e as medidas que estão constantemente a ser implementadas. Aqui, parece-me que o papel do jornalismo foi crucial.

É normal, o jornalismo de televisão fazer-se acompanhar de gráficos quando a notícia tem muitos dados podendo levar a que o telespectador se perca. Por exemplo, a subida do preço dos combustíveis, a descida das pensões, o corte no subsídio de desemprego, o IRS são temas normalmente acompanhados de gráfico para facilitar o entendimento da população. Lembro-me que quando a dívida pública começou a dar que falar, houve um canal de televisão que passou uma peça explicativa do que era a dívida, o que implicava, o que estava a ser feito, bastante simples e percetível por todas as pessoas.

Mais uma vez refiro a responsabilidade da televisão quando comparada com outras plataformas devido ao uso da imagem como forma de complementar a informação transmitida, de mostrar aquilo que aconteceu. Aquilo que nós vemos, normalmente não é reiterado. Já se começa a ouvir, no caso de fotos, “é montagem”. Mas no caso do vídeo, as pessoas acreditam piamente naquilo que os seus olhos vêem.

Mas, é da imagem que vive esta plataforma. Segundo Luciana Bistane e Luciane Bacellar (2005: 41-84) a “imagem é uma representação do real. Ao transmiti-la, a televisão transforma o espectador em testemunha”: “A imagem tem um valor imensurável. O jornalista bem pode fazer passar a mensagem de um facto, mas se ele não tiver uma imagem “apelativa” que sirva de suporte para montar uma reportagem que fidelize o público, a notícia provavelmente nunca chegará a acontecer”. As imagens possuem a força de anunciar os acontecimentos e provar aos olhos de quem está a ver que aquilo realmente aconteceu. Imagens que sejam de conhecimento universal como, por exemplo, o ataque ao World Trade Center são reconhecidas facilmente quando exibidas, pois foram muito noticiadas pela comunicação social.

A imagem é um forte complemento que permite transmitir a mensagem de forma mais rápida e eficaz. Contudo, François Jost (2004: 84) tem uma opinião diferente

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referindo que “o telejornal, embora pretenda falar da realidade, observa-se que frequentemente ele a reduziu ao visível, ao ponto de, às vezes, a existência dos acontecimentos depender da sua capacidade de ser visualizado”. Beat Münch (1992) defende que as imagens, para além de informar têm função de estimular (sensorial e emocionalmente) o espectador. As imagens não se impõem por si só como factos: elas são produzidas e organizadas de forma a se integrarem às necessidades da empresa jornalística. Não é de hoje, aliás, que muitos indicam a televisão como produtora de uma realidade peculiar. “Nesta perspetiva, questões delicadas e fundamentais, como verdade, informatividade, e referencialidade, adquirem novos e instigantes contornos”. (Leal: 11) (4)

É importante salientar que uma peça televisiva engloba um trabalho de vários profissionais, o jornalista propriamente dito, o pivot que vai transmitir a notícia aos telespectadores, os chefes de redação, os editores de imagem e os repórteres de imagem. A qualidade da peça irá depender do trabalho em conjunto de todas estas pessoas.

Em televisão o tempo é um fator importantíssimo, cinco minutos têm a duração de uma eternidade. As notícias devem, em poucos segundos, ser capazes de dar todos os tópicos daquilo que aconteceu e ter a preocupação de manter o interesse dos consumidores do início ao fim da mesma.

I.2. CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E PROCESSO DE SELEÇÃO

A notícia é apresentada ao público como um produto acabado embora, por vezes, sejam feitas alterações para que a mesma notícia volte a entrar no jornal da noite ou no dia seguinte. Muitas vezes, com uma informação mais completa ou com uma nova informação. Contudo, são várias as fases de seleção pelas quais passa uma notícia, o que acaba por alterar o produto final.

Na televisão, a notícia é uma escolha unicamente dos jornalistas. O público não pode escolher outros acontecimentos de que gostaria de tomar conhecimento. O que é apresentado nos telejornais é uma escolha exclusiva da equipa envolvida na produção ______________________

(4) Leal, Bruno Souza. Reflexões sobre a imagem: um estudo de caso. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação

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do mesmo. O público pode até pautar alguma discussão mas, ainda assim, é escolha do profissional dar espaço à informação identificada. Nos jornais impressos podem existir participações por meio de cartas publicadas no jornal. Na rádio, o carácter comunitário está mais incorporado do que na televisão, como refere Weaver citado por Nelson Traquina (1999), principalmente ao se falar dos programas locais, em que a rádio passa a ser um veículo de aproximação e intimidade entre os ouvintes.

Independentemente da forma como chega ao jornal, ou pelas agências noticiosas como a Lusa, ou por fontes, trazida por um jornalista, enviada através de e-mail por um cidadão comum, ou de qualquer outra forma, a notícia começa por ser selecionada pela direção, chefia, editores e depois encaminhada para a agenda ou deixada de parte.

Em seguida, a agenda ficará encarregada de fazer as marcações necessárias e distribuir os serviços pelos redactores disponíveis. É também nesta fase que se define o ângulo de abordagem, o espaço que lhe será dado e se é necessário ir acompanhado de repórter de imagem ou se as imagens de arquivo serão suficientes para cobrir a história. Assim que o jornalista e o repórter tomam conhecimento dos serviços agendados começam a preparar-se. Pesquisa, leitura, recolha de dados e saída para o local do acontecimento. Quando regressa à redação, o jornalista escreve e imagina já o produto final podendo mesmo cortar desde logo as entrevistas, as citações que considera que devem entrar na peça e podendo levar já as imagens que vão “pintar a peça” pensadas. Daqui, a notícia passará para a edição, onde serão colocadas as imagens, ajustadas falas, volume dos sons, colocados gráficos, etc.

A dificuldade em definir notícia foi discutida por Sigal (in Vizuete e Marcet, 2003: 55) (5): “Ninguém sabe o que são [as notícias]. O outro problema é que ninguém sabe o que significam”. Desta forma, nota-se a “ausência de um critério compartilhado universalmente para distinguir o que as notícias são do que elas não são”. “As notícias são o que os jornalistas definem como tal. Essa tese raramente é explicitada, visto que parte do modus operandi dos jornalistas é que os eventos ocorrem ‘fora’, e os primeiros limitam-se, simplesmente, a relatá-los.” (Altheide in Wolf: 196).

Deparamo-nos com vários acontecimentos diariamente e é preciso selecionar e escolher quais os acontecimentos que devem ser noticiados. Schudson (in CORREIA, ______________________

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1997: 133) (6) refere que “… a criação das notícias é sempre uma interacção de repórter, diretor, editor, constrangimentos da organização da sala de redação, necessidade de manter os laços com as fontes, os desejos da audiência, as poderosas convenções culturais e literárias dentro das quais os jornalistas frequentemente operam se as pensar”. Penso que esta frase de Schudson é bastante representativa das coisas que um diretor tem de “pesar” antes de decidir noticiar ou negligenciar determinada informação. Assim, podemos concluir que são vários os fatores que os editores têm de ter conta para decidir se colocam determinado acontecimento no alinhamento do dia ou não.

Surge, então, o conceito de noticiabilidade e a necessidade de o definir. Esta definição complementa o pensamento de Schudson. Noticiabilidade apresenta-se, segundo Gislene Silva (2005: 96) como “todo e qualquer fator capaz de agir no processo de produção da notícia, desde características do facto, julgamentos pessoais do jornalista, cultura profissional da categoria, condições favorecedoras ou limitantes da empresa de mídia, qualidade do material, relação com as fontes e com o público, fatores éticos e ainda circunstâncias históricas, políticas, económicas e sociais”. Wolf (1994: 166) defende que “as exigências organizativas e estruturais e as características técnico-expressivas próprias de cada meio de comunicação de massa são elementos fundamentais para a determinação da reprodução da realidade social fornecida pelos mass media”.

Ao longo dos tempos, vários foram os autores que discutiram e pesquisaram sobre os fatores que influenciam o processo de elaboração das notícias. Surgiram, mesmo, teorias, nomeadamente as teorias Organizacional, da Ação Política, Estruturalista e Etnoconstrucionista. Estas teorias não se excluem umas às outras, acabam até por se influenciarem. Cada uma delas, na sua época, acrescentou fatores importantes a considerar no processo de elaboração das notícias. Graças a elas, temos hoje uma teoria mais completa que aborda tanto elementos internos (individuo e organização jornalística) quanto externos (interesses de ordem económica, politica, social, etc). As perspetivas mais recentes apresentam o processo de elaboração e produção de notícias como algo que se contrói, incluindo o indivíduo, a organização e a comunidade profissional. A relação existente dentro da organização jornalística, entre os

______________________

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profissionais e entre os jornalistas e a sociedade também têm a sua quota parte de importância. Nelson Traquina (2001: 158) refere que “o jornalismo é também um negócio”, o que leva a certas aspirações políticas, económicas e sociais quer internas quer externas à organização jornalística e que acabam por interferir na produção do conteúdo noticioso.

O autor português defende que as notícias passam por um processo que transforma a matéria-prima num produto a ser apresentado publicamente. Robert Hackett (7) defende que esse produto irá resultar de “características tecnológicas de cada meio noticioso, logísticas de produção jornalística, imperativos comerciais, retraimentos orçamentais, inibições legais, disponibilidade de informação das fontes, necessidade de narrar o facto de modo inteligível e atraente para um determinado público”.

A seleção de notícias pode estar, também, segundo vários autores, a cargo do chamado gatekeeper. Este termo surgiu nos estudos de Kurt Lewin (1947) e foi, posteriormente, referido por David Manning White, que publicou na revista Journalism Quartely, em 1950, o conceito que definia o jornalista como um selecionador de notícias, ou “gatekeeper”, na expressão inglesa. White (in Traquina, 1999, p.142) cita Lewin que diz que “os gatekeepers são regidos por regras imparciais ou por um grupo (no poder) de tomar a decisão de ‘deixar entrar’ ou ‘rejeitar’ uma notícia. A comunicação de [notícias] é extremamente subjetiva e dependente de juízos de valor baseados na experiência, atitudes e expectativas do gatekeeper”. Wolf refere Donohue, Tichenor e Olien (1972: p.43 in Wolf, 1992, p.161) que defendem que “o gatekeeping nos mass media inclui todas as formas de controle da informação, que podem estabelecer-se nas decisões acerca da codificação das mensagens, da seleção, da formação da mensagem ou das componentes”.

É importante falar aqui dos valores-notícia como parte do processo a par com o formato do produto, qualidade da imagem, linha editorial, etc. Os valores-notícia são os “óculos” que os jornalistas usam “para ver o mundo e para o construir”. Valores-notícia são as características de um acontecimento, a sua origem. Os valores-notícia ajudam e orientam os jornalistas na escolha daquilo que deve ser noticiado. Wolf (8) defende que ______________________

(7) Hackett, 1984/1993 apud Traquina, 2011: 63.

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os valores-notícia são critérios relevantes que estão presentes em todo o processo de produção e portanto estão presentes tanto na seleção das notícias como nos procedimentos posteriores. Assim, “os valores-notícia são usados de duas maneiras. São critérios para selecionar, do material disponível para a redação, os elementos dignos de serem incluídos no produto final. Em segundo lugar, eles funcionam como linhas-guia para a apresentação do material, sugerindo que deve ser enfatizado, o que deve ser omitido, onde dar prioridade na preparação das notícias a serem apresentadas ao público. (…) os valores-notícia são a qualidade dos eventos ou da sua construção jornalística, cuja ausência ou presença relativa os indica para a inclusão num produto informativo. Quanto mais um acontecimento exibe essas qualidades, maiores são as suas chances de ser incluídos” (Golding e Elliot in Wolf: 203).

Como refere Amaral (1982: 40), “se um cão morde um homem, não é notícia, mas se um homem morde um cão, aí então é notícia, e sensacional.”. Bonner (2004: 105) explica que “a abrangência de um facto, a gravidade de suas implicações, o seu carácter histórico e o contexto em que se dá (seu peso relativo, em comparação com os demais daquele dia) são critérios de seleção primários. Servem para separar aquilo que será publicado daquilo que provavelmente não será”.

Guerra (9) faz a distinção entre valor-notícia e valor-notícia de referência. Os valores-notícia caracterizam as expectativas da sociedade. Os valores-notícia de referência são aqueles que orientam o jornalismo de uma determinada organização jornalística, dizem respeito ao modo como se organizam as questões institucionais com as exigências da sua audiência. Segundo o autor “o primeiro consiste na capacidade de justificação dos valores-notícia de referência perante as esferas de validação dos valores-notícia, isto é, as expectativas da audiência e o interesse público. O segundo consiste na capacidade de implementação dos valores-notícia de referência pela organização. Na primeira está em jogo a qualidade jornalística do produto da organização; na segunda está em jogo a eficiência da própria organização” (Guerra, 2003: p. 199).

Já Bond (10) enumera doze situações que considera valores jornalísticos das ______________________

(9) Guerra, Josenildo Luiz. O percurso interpretativo na produção da notícia, Salvador, UFA, 2003 (tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA);

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notícias e são eles referentes à pessoa de destaque ou personagem pública (proeminência); incomum (raridade); referente ao governo (interesse nacional); que afeta o bolso (interesse pessoal/económico); injustiça que provoca indignação (injustiça); grandes perdas de vidas ou bens (catástrofe); consequências universais (interesse universal); que provoca emoção (drama); de interesse a um grande número de pessoas (número de pessoas afectadas); grandes quantias de dinheiro; descoberta de qualquer sector (descobertas/invenções) e assassinato (crime/violência).

No entanto, os valores-notícia não são estáticos. Ao longo do tempo, a visão dos jornalistas sobre o que é notícia alterou-se. Isto porque os valores-notícia são delimitados consoante a visão do mundo e a época em que se vive. Por exemplo, Nelson Traquina (2008) afirma que no século XV e XVI, as notícias prendiam-se com coisas insólitas como feitiçarias e milagres e também com figuras importantes, por exemplo, a viagem de uma rainha. Contudo, ainda citando Traquina, na década de 1970, a importância de certas figuras permanecia um fator importante que constituía notícia. Podemos concluir, que passados tantos anos, o valor-notícia usado foi o mesmo. Relativamente a isto, Stephens (1988) afirma que “é surpreendente que a essência das notícias pareça ter mudado tão pouco? A que outros assuntos se poderiam as notícias ter dedicado? Podemos imaginar um sistema de notícias que desdenhasse o insólito em favor do típico, que ignorasse o proeminente, que dedicasse tanta atenção ao datado como ao actual, ao legal como ao ilegal, à paz como à guerra, ao bem estar como à calamidade e à morte?” (in Traquina, 2002: p.178).

Traquina (2008), com uma visão muito próxima à de Mauro Wolf, fala dos valores-notícia, incluídos na cultura jornalística, divididos em dois: os valores-notícia de seleção e os valores-notícia de construção. Wolf define os valores-notícia de seleção como aqueles que são escolhidos pelos jornalistas no momento de selecionar um acontecimento para noticiar. Relativamente aos valores-notícia de seleção, Traquina (2002: p.86) refere ainda a divisão feita por Wolf: os critérios substantivos que dizem respeito à “avaliação direta do acontecimento em termos da sua importância e ou interesse como notícia (…) e os valores contextuais que dizem respeito ao contexto de produção das notícias”.

Os valores-notícia de construção, segundo Wolf, têm a ver com o momento de elaboração, de produção da notícia.

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I.2.1 OS VALORES-NOTÍCIA DE SELECÇÃO E DE CONSTRUÇÃO

Nelson Traquina considera dois tipos de valor-notícia de seleção: valores-notícia substantivos e valores-notícia contextuais. Os valores-notícia substantivos são a morte, a notoriedade, a proximidade, a relevância, a novidade, o fator tempo, a notabilidade, o inesperado, o conflito/controvérsia e a infração.

A morte, elemento de noticiabilidade que contribui, segundo Traquina, para o negativismo dos jornais tem a ver com o interesse que normalmente demonstramos por cadáveres e quantos mais melhor. Não é por acaso que estas notícias normalmente começam, precisamente, com a palavra “morte” mas sim para captar desde logo a atenção do público. “As diferentes formas dos impérios, as mudanças, os movimentos, os afazeres da guerra e da paz, as causas das guerras, os planos, as batalhas, as derrotas, as estratégias, as novas leis, os julgamentos, os cargos políticos, os dignatários, os nascimentos e mortes dos príncipes, as sucessões em um reino, as inaugurações e cerimónias públicas que parecem se instituir novamente ou que parecem mudar ou que são abolidas, o óbito de varões ilustres, o fim de pessoas ímpias” (Tobias Peucer, 2004: 28 e sgts).

Já no que se refere à proximidade tem a ver com a proximidade geográfica, quanto mais próximas as pessoas se sentirem da situação mais esta lhes interessa.

Outro valor-notícia definido por Traquina é a relevância. Este valor refere-se à preocupação em informar as pessoas sobre acontecimentos que tenham impacto na sua vida. Quanto mais tocar sentimentalmente o público, melhor.

A novidade é um valor-notícia quase inconsciente. Para se noticiar algo é preciso que seja algo que acabou de acontecer ou, no caso de já ter sido noticiado, que tenham surgido aspetos novos e relevantes que voltem a captar o interesse dos telespectadores.

Relativamente ao tempo, Nelson Traquina defende vários factores. Podemos falar de tempo em termos de atualidade. “A existência de um acontecimento na atualidade já transformada em notícia pode servir de ‘news peg’, ou gancho (…) para outro acontecimento ligado a esse assunto” (Traquina, 2008: 81). Podemos também falar do tempo aquando das comemorações de determinados dias (efemérides), o Dia da Criança, o Dia da implantação da República, etc., que não sendo novidades podem ser renovados muitas vezes referindo os festejos de comemoração do dito dia. Por fim, o

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tempo pode estender-se a assuntos que, tendo em conta o impacto causado, continuam a dar que falar, por exemplo, o 11 de Setembro.

Segundo Meditsch (1999) os jornalistas são, assim, duplamente pressionados pelo relógio, o que os obriga a trabalhar depressa para cumprir as deadlines constantes e a contar a notícia num curto espaço de tempo. Os jornalistas definem estratégias e rotinas que os ajudam a correr contra o tempo: hierarquizam os espaços noticiosos, dividem-se em equipas que lhes permitem dar o “máximo rendimento” nos momentos principais, monitorizam entidades e instituições que originem notícias com frequência, acompanham o que se faz na imprensa e nas outras televisões, seguindo no seu encalço quando têm uma informação interessante, contratam os serviços de agências noticiosas, comentadores, correspondentes e jornalistas especializados, com conhecimentos e contactos privilegiados em certas áreas, planeiam a cobertura de acontecimentos previsíveis, distribuindo os recursos técnicos e humanos disponíveis e reunindo informações complementares de contextualização.

A notabilidade relaciona-se com a qualidade de ser visível e tangível.

Outro valor-notícia é o inesperado, acontecimentos que surpreendam. O 11 de Setembro é considerado um acontecimento inesperado, tal como o tsunami do Oceano Índico no dia a seguir ao Natal de 2004. São tragédias em grande escala, podem não ter impacto no nosso dia-a-dia diretamente, mas pelo seu carácter inesperado e trágico ganham interesse. Muitos de nós ficámos “colados” à televisão na altura que estes acontecimentos foram noticiados.

O conflito/controvérsia, que pode ser traduzido em violência quer física quer verbal, também gera notícia. Desde coisas mais distantes como conflitos entre políticos, guerras, desentendimentos em discotecas que geram mortes ou feridos até às mais próximas como manifestações, violência doméstica, etc.

A infração, ou seja, tudo o que viole as regras, tal como crimes, gera notícia. Os escândalos estão, também, segundo Traquina, relacionados com este tipo de valor-notícia.

Conforme explica Wolf os valores-notícia contextuais relacionam-se com o processo de produção das notícias e Traquina define cinco valores-notícia contextuais. São eles a disponibilidade, o equilíbrio, a visualidade, a concorrência e o dia noticioso.

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A disponibilidade prende-se com os custos que terá cobrir determinado acontecimento e a proximidade que tem o acontecimento com os recursos humanos (jornalistas). Quanto mais próximo, mais fácil será cobrir a situação e menos gastos terá.

O equilíbrio tem a ver com o facto de um acontecimento já ter sido noticiado, isto é, se recentemente tal acontecimento já foi noticiado, não faz sentido voltar a fazê-lo. O público não se interessa por histórias repetidas e, a menos que se tenha um facto novo sobre determinado acontecimento, o preferível é não noticiar. Às vezes basta uma pequena falha para se perder audiências. É neste sentido que as empresas noticiosas estão sempre a “vigiar” as empresas concorrentes no sentido de perceber o alinhamento das mesmas e para que uma falha possa ser facilmente rectificada na medida de não perder público.

A visualidade como o próprio nome diz tem a ver com a imagem, quanto mais impacto tiver a imagem, mais hipótese terá de ser noticiada. Uma imagem vale mais do que mil palavras.

Há vários jornais, rádios, televisões e sites noticiosos no mundo inteiro, pelo que a concorrência neste mundo como em muitos outros é imensa. Assim, a concorrência dita muitas vezes aquilo que se noticia. Existe uma clara tentativa de noticiar um acontecimento primeiro ou de ter a exclusividade de algum assunto. Cada televisão constrói o seu alinhamento segundo aquilo que acha ser o correto de forma a manter a atenção e interesse da audiência e, às vezes, pode ser necessário mudar o alinhamento à última hora ou por um acontecimento de última hora ou porque as outras televisões ganharam destaque com outro tema que a nossa televisão tinha deixado mais para o fim. Há dias em que os acontecimentos se multiplicam e portanto é preciso noticiar os mais importantes e relevantes. Mas, também há dias com menos acontecimentos, levando a que um acontecimento que anteriormente não teria tanta importância tenha mais notoriedade. Isto entra no valor-notícia do dia noticioso, segundo Nelson Traquina. Quanto aos valores-notícia de construção têm a ver precisamente com o processo de construção da notícia e quanto mais clara e menos ambígua for, melhor será entendida pelo público. Aliás, em televisão, quer o texto da peça, o texto do pivot, a ajuda de gráficos, tudo serve para simplificar ao máximo a notícia para que chegue a um maior número de pessoas e para que o maior número de pessoas possível a perceba. Isto

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vai de encontro a um dos valores-notícia contextual defendido por Traquina, a simplificação.

Também a amplificação é referida pelo autor português. Quanto mais amplitude tiver um acontecimento, mais a hipótese de chegar às pessoas. A amplificação pode ter a ver com o acontecimento em si, com os intervenientes ou com possíveis consequências do acontecimento.

Outro valor-notícia de construção é a relevância. Nelson Traquina afirma que quanto mais sentido tem uma notícia, mais as hipóteses de esta ser notada. No entanto, o autor responsabiliza o jornalista porque é este que torna o acontecimento relevante para o público.

A personalização é outro dos valores-notícia da construção. Traquina defende que quanto mais personalizado for um acontecimento, ou seja, quanto mais valoriza as pessoas que fazem parte do acontecimento, mais a notícia será notada.

Como já referi anteriormente, os lados emocionais captam a atenção das pessoas. Desta forma, a dramatização também faz parte dos valores-notícia de construção. Quanto mais tocar o lado emocional, quanto mais apelar à crítica, mais a notícia será interessante para os telespectadores.

Por fim, mas não menos importante, temos a consonância. Uma notícia colocada num contexto já conhecido pelos telespectadores será mais bem aceite. Se colocarmos uma notícia nova num contexto já conhecido pelas pessoas, “com mobilização de ‘estórias’ que os leitores já conhecem” melhor ela será aceite.

Não podemos descurar a importância das fontes e a relação destas com os jornalistas no processo de produção das notícias. Quando existe uma fonte oficial, esta prevalece uma vez que a sua credibilidade não será ameaçada. Os jornalistas prezam a independência apoiada na visão quase mítica do jornalista como cão de guarda, capaz de proteger os cidadãos dos abusos do poder. Paradoxalmente, várias investigações empíricas têm demonstrado que o jornalismo é particularmente permeável às fontes organizadas e sofisticadas de informação, em particular às fontes detentoras de poder, poder este que lhes é conferido pela seu carácter institucional e/ou pela sua representatividade. Estas fontes são, frequentemente, denominadas de fontes oficiais, embora autores como Schlesinger (1992) ou Santos (1997) critiquem esta classificação,

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por a considerarem redutora, já que há organismos que apesar de beneficiarem do sistema e nele se inserirem, mantêm uma esfera de liberdade crítica.

I.3. AGENDA SETTING

O agenda setting ou agendamento foi definido pela primeira vez em 1970, defendendo que os jornalistas tinham um poder reduzido e efeitos limitados sobre a audiência. No entanto, vários são os autores que discordam deste ideia, como é o caso de Nelson Traquina, que considera que esta análise é limitada. Donald Shaw (1979 in Wolf, 2001: 144) afirma que "em consequência da ação dos jornais, da televisão e dos outros meios de informação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou descura, realça ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos. As pessoas têm tendência para incluir ou excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou excluem do seu próprio conteúdo”. A diversidade e a diferença de telespectadores obrigam a uma seleção heterogénea e geral dos conteúdos noticiosos.

O agendamento atua entre os veículos jornalísticos e o público. O conceito envolve a escolha dos assuntos que serão notícia. Como já vimos, há temas que são considerados de maior importância em determinado momento. Desta forma, pode-se dizer que, embora o jornalismo possa não dizer exatamente à opinião pública o que deve pensar sobre isto ou aquilo seguramente dita os temas em que essa mesma opinião se deve focar. Manuel Piedrahita (1996: p.162-3) (11) afirma que “a maioria dos cidadãos bebe a informação exclusivamente no chamado topicamente ‘pequeno ecrã’, o qual, no entanto, eu denominaria ‘grande’ pela influência que exerce. A torneira que regula e doseia a informação atua como manipulador com uma precisão assustadora, mesmo para quem se considere imune a qualquer espanto”. Pode-se, ainda, dizer que o agenda setting é uma consequência da concorrência entre as empresas.

Nelson Traquina (2001

)

refere Rogers, Dearing e Bregman (1988) na medida em que apontam três componentes no estudo do agendamento: a agenda mediática, a ______________________

(11) Piedrahita, Manuel de, Jornalismo Moderno, Histórias, perspectivas e tendências rumo ao ano 2000, Lisboa: Plátano, 1996.

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agenda pública e a agenda das políticas governamentais. Traquina entende a agenda mediática como agenda jornalística. Sendo o processo de agendamento um processo interativo, a influência da agenda pública sobre a agenda jornalística é um processo gradual através do qual, a longo prazo, se criam critérios de noticiabilidade, enquanto a influência da agenda jornalística sobre a agenda pública é direta e imediata, principalmente quando envolve questões que o público não tem uma experiência direta. Assim, para melhor definir as três componentes de agendamento, o autor português cita Molotch e Lester (1974/1993). Segundo os dois autores, existem três tipos de pessoas: os promotores da notícia, os news assemblers e os consumidores de notícias.

Os promotores de notícia são aqueles que, cito Nelson Traquina (in Skrotzky, 2009: p.27), “identificam e tornam observável uma ocorrência como especial”. Estão ligados à agenda das políticas governamentais, sendo os próprios a propor este tipo de agenda.

Os news assemblers são os profissionais que “transformam um percetível conjunto finito de ocorrências promovidas em acontecimentos públicos através de publicação radiodifusão” (Molotch e Lester, 1974/1993). Assim, estão ligados à agenda jornalística.

Os consumidores de notícia são a audiência e estão ligados à agenda pública. Molotch e Lester (in Traquina, 2001: 22) defendem que as pessoas têm interesses diferentes, reflexo de “culturas, origens sociais e situações específicas” diferentes. Desta forma, têm necessidades de acontecimentos, de notícias diferentes.

A agenda política e os promotores de notícias influenciam a agenda jornalística e a agenda jornalística, por sua vez, influencia a agenda pública. Também as relações entre as pessoas nas diversas relações que se tem com o outro acabam por influenciar a agenda pessoal.

Nelson Traquina (2001) afirma que a notícia cria a notícia e a notícia cria o acontecimento numa relação de troca e influência mútua. McCombs e Shaw (1972, in Traquina, 2003: 33) redefinem agendamento dizendo que este conceito “é consideravelmente mais que a clássica asserção que as notícias nos dizem sobre o que pensar. As notícias também nos dizem como pensar nisso. Tanto a seleção de objetos que despertam a atenção como a seleção de enquadramentos para pensar esses objetos

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são poderosos papéis de agendamento”. Bernard Cohen e McCombs (Cohen, 1963, in McCombs, 2009: 19) referem que “os veículos noticiosos podem não ser bem sucedidos em dizer às audiências o que dizer, mas são surpreendentemente bem-sucedidos em dizer às audiências sobre o que pensar”.

Contudo, vinte anos após os primeiros artigos sobre este tema, McCombs 1992 (in Traquina (2001, 43) resume o efeito do agendamento como “os atributos enfatizados pelo campo jornalístico podem influenciar diretamente a direção da opinião pública. Tanto a seleção das ocorrências e/ou das questões que constituirão a agenda, como a seleção dos enquadramentos para interpretar essas ocorrências e/ou questões são poderes importantes que o conceito de agendamento agora identifica de mais de vinte anos de vida intelectual”.

Concluindo, a teoria do agendamento diz-nos que as notícias influenciam o nosso dia a dia, as nossas conversas e isso acontece com o poder da comunicação social de selecionar o mais importante e fazê-lo chegar até nós. Às vezes, o poder de influência do jornalismo pode parecer manipulação, mas não é, os jornalistas simplesmente expõem as notícias que julgam importantes e o público, tradicionalmente, acredita sem questionar.

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PARTE II:

A ENTIDADE DE ACOLHIMENTO: RÁDIO E TELEVISÃO PORTUGUESA

Quando surgiu o meu gosto pelo Jornalismo, a intenção foi sempre imprensa escrita. O gosto pela escrita, aliado ao poder contar a todo o mundo aquilo que aconteceu em determinado sítio, sempre me fascinou. No entanto, devo confessar que também o mundo da televisão desperta a curiosidade. Todo o trabalho por trás das câmaras e tudo o que é feito até a notícia chegar ao telespectador são também muito interessantes.

Claro que neste meio é a figura do pivot que mais se destaca. Quase ninguém repara no nome do jornalista que aparece em pequeno no oráculo, mas todos vêem o pivot. Entre muitos jornalistas que foram tendo destaque na minha vida, e que de certa forma tento seguir como forma de enriquecimento, existia o José Rodrigues dos Santos, jornalista da RTP, e foi ele um dos fatores que me levou a escolher esta estação. Um órgão de comunicação com a grandeza e história da RTP tem muito a oferecer a um estagiário. O próprio dia-a-dia com as pessoas que vemos como exemplos a seguir influencia o perfil de alguém que está agora a começar a carreira.

A RTP sempre foi uma das minhas estações televisivas portuguesas favoritas, quer porque os jornalistas que sempre admirei serem maioritariamente da RTP, quer pelo carácter mais dito de referência dos conteúdos que transmite, quer mesmo pelo facto de a RTP ter um registo mais informativo mesmo nos seus programas de entretenimento do que as outras televisões.

Foi já no final de 1955 que se constituiu a RTP – Rádio Televisão Portuguesa por iniciativa do governo sendo que as emissões experimentais decorreram na Feira popular, em Lisboa. Contudo, só cerca de dois anos depois se iniciaram as emissões regulares. Os anos 60 do século XX foram marcados pela transmissão da RTP para todo o país. Também a RTP2 surgiu como que uma prenda do Pai Natal, no final do ano de 1968.

Mais tarde, na década de 70 surgiram dois canais regionais nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, primeiro a RTP Madeira e três anos depois a RTP Açores. Após a

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Revolução dos cravos, a RTP foi nacionalizada, transformando-se na empresa pública Radiotelevisão Portuguesa.

Em 2004 foi criado o canal noticioso RTPN que, em 2011, passou a ser denominado RTP Informação. Também em 2004 surgiu um espaço dedicado aos programas que fizeram história na RTP, a RTP Memória.

Esperei alguns meses até me chamarem para o estágio. Cheguei mesmo a pensar que não seria aceite tendo em conta a instabilidade que se gerou devido à escolha de uma nova administração. Fiquei muito feliz quando soube que teria estágio na RTP.

II.1. INTEGRAÇÃO NA RTP

O meu estágio na RTP começou no dia 17 de Setembro. Acabada de chegar às instalações senti-me num verdadeiro labirinto. Multiplicavam-se os corredores e escadas. Cada vez que tinha de me dirigir a algum local pensava que me iria perder.

Ao entrar na zona destinada à redação da RTP vi várias secretárias agrupadas, do género de ilhas: umas destinado aos jornalistas de rádio, outras aos jornalistas de televisão, umas maiores destinadas a pivots e coordenadores. Mais ao fundo as secções destinadas ao desporto quer de rádio quer de televisão. E ainda o espaço destinado a operadores de câmara, outro à agenda e por fim à produção.

Às dez, hora de entrada, fui levada ao meu orientador de estágio, João Fernando Ramos. A sua simpatia e descontração deixaram-me rapidamente à vontade, numa situação em que os nervos tomavam conta de mim.

O meu orientador explicou, desde logo, que seria um estágio de observação e que a menos que acontecesse uma tragédia, nenhuma das minhas peças iria para o ar. Apesar de já o saber, fiquei algo desiludida e com muita vontade que a tal tragédia acontecesse.

Inicialmente, fiquei no ajuntamento de secretárias dos jornalistas de televisão, onde podia utilizar um computador pertencente a uma jornalista que estava de férias. Mais tarde, e por consequência do regresso dessa mesma jornalista, mudei-me para junto dos operadores de câmara.

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O meu coordenador, João Fernando Ramos, pivot e jornalista, não tinha muito tempo para mim, mas ia-me entregando a outros jornalistas que saíam para o terreno e me iam ensinando as suas técnicas. A minha hora de entrada era definida consoante as saídas que tivesse no dia seguinte e, portanto, iam variando, sendo definidas sempre na véspera.

II.2. 3 MESES

No primeiro dia, após me serem apresentados os cantos à casa e me ser apresentado o meu orientador, fiquei entregue à jornalista Ana Fernandes, a quem estava incumbida a tarefa de escrever e “pintar” com imagens uma peça sobre a rutura na coligação entre CDS e PSD. Uma peça feita sem qualquer saída para o terreno, apenas com pesquisa e com informação das fontes, nomeadamente a Lusa. Desde logo me apercebi que a diferença entre as palavras usadas para escrever uma notícia em modo papel e em modo televisão são muito diferentes. Fui também, observando o modo de trabalhar quer com o programa ENPS como com o QCut. Neste dia a minha tarefa foi unicamente de observação.

Após a notícia pronta e a visualização da mesma no Jornal da Tarde, foram as jornalistas Fátima Araújo e Madalena Mendes que me ajudaram a ambientar-me com todo o processo pelo qual passa a notícia e também a tudo aquilo que nos rodeia e que vai acontecendo ao mesmo tempo. Em poucas palavras descrevo o primeiro dia como um dia de observação e de tentativa de absorção de informação que chegava de todos os lados.

Antes de ir embora foi-me dita a hora a que devia estar na redação no dia seguinte para sair, pela primeira vez, em reportagem. Confesso que fiquei ansiosa. Sair para o terreno com um jornalista, fazer aquilo que gosto. Correu muito bem, tanto o jornalista como o operador de câmara foram muito acessíveis. Responderam a todas as minhas dúvidas, deram-me dicas, colocaram-me completamente à vontade. A notícia era a greve dos trabalhadores da GALP, Petrogal, em Matosinhos. A greve contou com a presença de Arménio Carlos, da CGTP.

Os meus dias na RTP foram muito idênticos: saía em reportagem a acompanhar um(a) jornalista e repórter de imagem, chegava à redação, escrevia a minha peça e escolhia as imagens que achava que deviam “pintá-la”. Depois, fazia a comparação com

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a peça escrita pela/o jornalista. Inicialmente, as desilusões e desmotivação foram muitas vezes minhas companheiras.

Após a azáfama do Jornal da tarde, procurava sempre apoio por parte de algum jornalista para que pudesse ir melhorando quer a minha escrita quer a montagem das imagens. Passei muito tempo a ver o jornal na televisão, no site da RTP, a ver peças anteriores tentando adaptar-me à linguagem de televisão, clara, simplificada, frases curtas. Habituada à escrita de jornal, foi algo que tive que estudar e a que tive de me habituar.

Poucos dias depois de ter começado o estágio pedi para visitar o estúdio e a régie enquanto o Jornal da Tarde estava a ser transmitido. Começando pela régie, confesso que pensei que fosse algo maior. No entanto, são muitas as pessoas a trabalhar em simultâneo. É importante controlar a figura do pivot, o tempo de duração das peças, o alinhamento, os oráculos a serem inseridos, o alinhamento de outras estações que pode obrigar a uma mudança do nosso alinhamento, enfim uma série de coisas a ter em conta e uma série de profissionais a trabalhar em prol de um noticiário que agrade aos telespectadores. Quanto ao estúdio, e porque já tinha entrado noutros estúdios não causou grande surpresa. Várias câmaras, o teleponto, uma azáfama de pessoas de um lado para o outro, informações que chegam de todos os lados, o normal.

As reportagens com cerca de três minutos são exceções e normalmente passam ao fim de semana quando o telespectador tem mais tempo para assistir. Uma das peças que mais gostei de fazer foi precisamente uma reportagem com maior duração, que exigiu pesquisa, respostas, ir à procura de. Esta reportagem referia-se à nova proposta da Carta Materno Infantil e previa o encerramento de mais maternidades. Foi uma notícia RTP e portanto era fundamental ser-se discreto. Esta reportagem demorou quatro dias a ser terminada.

Uma vez que a maternidade do Centro Hospitalar da Póvoa do Varzim/Vila do Conde era uma das propostas para encerrar, o primeiro passo foi falar com a diretora do serviço de obstetrícia deste hospital. Em seguida, fomos falar com Mário de Almeida, presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde para saber a sua opinião. Fomos ainda ao próprio hospital saber a opinião de funcionárias e pais recentes. Por fim, entrevistamos o Dr. Bilhota Xavier, Presidente da Comissão Nacional de Saúde Materna. Após reunido o material, era altura de fazer nascer a reportagem. O jornalista

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Rui Sá, jornalista que construiu toda esta reportagem, optou pelo uso de gráficos em várias situações e o produto final ficou, no meu ponto de vista, muito bom.

Foram vários os momentos que me marcaram de forma mais profunda… Cerca de uma semana após ter iniciado o estágio saí com a jornalista Sónia Silva e o operador de câmara Pedro Miguel Gomes Rodrigues fazer a edição deste ano do Porto.come. Vinte e quatro restaurantes com pratos tipicamente portugueses a 50 por cento de desconto durante uma semana. Foi a primeira vez que entrevistei uma pessoa, neste caso uma cliente que estava num dos restaurantes aderentes. Correu muito mal, desde eu estar mais acima que a pessoa e, desta forma, o microfone não ter ficado como deveria, aos nervos que me cercaram, às palavras que saíram mais ou menos atabalhoadas, etc.

Logo no dia seguinte, voltei a sair com a Sónia Silva, desta vez fazer um falso direto sobre o evento Piratas em Leça da Palmeira. Mais tarde, em conversa com o jornalista Paulo Jerónimo, ele dizia-me que prefere os diretos aos falsos diretos porque no falso direto podemos regravar as vezes que quisermos e isso acaba por fazer com que nos desleixemos um pouco. No meu ponto de vista, ambos são assustadores. Nada que a experiência não ajude a moldar. Voltando aos Piratas, a Sónia sugeriu-me que aproveitasse o momento para também eu fazer uma falso direto. Aceitei. Confesso que ter alguém para entrevistar e que o fato de a câmara ir filmando o ambiente à volta e não estar focada em mim ajudou imenso.

À exceção de alguns casos, em que o jornalista pesquisa, faz contactos e combina entrevistas, visitas, este é um trabalho destinado à agenda. A agenda é quem pesquisa, faz contactos e quando tudo está pronto passa a informação ao jornalista que se dirige ao local. Ao longo destes três meses, assisti a algumas situações em que este processo correu menos bem. A primeira aconteceu passado um mês de estar a estagiar. Fomos para Aveiro porque os trabalhadores da MoveAveiro iriam fazer uma vigília em frente à Camara Municipal de Aveiro. Vigília que não aconteceu, tendo nós de regressar a Gaia sem matéria.

Foi também, passado um mês de estar a estagiar que tive formação sobre o QCut com a jornalista Isabel Venceslau. Montei a minha primeira peça com imagens, com a minha voz off, com entrevistas, com tudo a que uma peça tem direito. A partir daqui, sempre que saía em reportagem montava a peça completa. Uma das maiores dificuldades que tive, e onde não foi possível ter muita ajuda, foi na dicção, projeção da voz e sotaque. Mais uma vez tenho de mostrar o meu agradecimento aos editores

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Dolores e Marcelo por me deixarem gravar uma e outra vez, pela paciência, por me darem dicas que melhorassem na minha dicção.

O jornalista e professor Luís Miguel Loureiro foi fundamental no meu crescimento enquanto estagiária. Sempre muito paciente, sempre me explicou tudo, sempre esteve presente. Quando saí com ele para fazer a descida do preço dos combustíveis, informou-me que seria eu a fazer todas as entrevistas aos consumidores. Apesar de algo ansiosa, rapidamente me senti à vontade. Além disto, o Luís Miguel Loureiro achou por bem aproveitar a oportunidade e o facto de termos tempo para eu gravar um vivo. Mais uma vez fui atacada pela sensação de pânico. Lá rabisquei umas ideias num papel. O operador de câmara Paulo Gomes foi, também, excecional. Fez de tudo por me pôr à vontade, corrigiu-me e teve uma paciência gigante ao gravar várias vezes até ficar menos mal.

Ao longo destes três meses, foram algumas as semanas em que o meu orientador esteve de férias, pelo que foi com o Freitas Ribeiro que acertei as minhas saídas. Devido também à ausência do meu orientador, foi o Hélder Silva, jornalista, pivot, coordenador e professor, quem muitas vezes me ajudou, me deu dicas, me corrigiu textos, me ajudou a ser melhor. Como ele me dizia “escrever é cortar palavras”.

Já na fase final do estágio e a propósito das comemorações dos 32 anos da morte de Francisco Sá Carneiro, fui incumbida de fazer um falso direto. O operador de câmara, Pedro Rothes quis aproveitar enquanto estavam a ser feitos discursos para gravar o meu falso direto mas, à custa de muitos nervos e pressão, as palavras não saíam. Sendo uma peça para o Jornal da Tarde, fomos levar a jornalista Sandra Machado Soares à redação para fazer a peça e voltámos ao local. Após várias tentativas, lá consegui. No entanto, funcionou mal. O operador de câmara tentou não focar a câmara em mim para me colocar mais à vontade, mas a alternativa era um jardim vazio com a estátua de Sá Carneiro e uns ramos de flores.

O estágio acabou com a apresentação de um jornal que contempla várias peças feitas por mim. As últimas duas semanas do estágio foram precisamente a escolher quais seriam as peças, a melhorá-las e remelhorá-las depois de corrigidas e a acertar os toques finais. Chegado o grande dia, lá fui eu para a maquilhagem e cabeleireiro, revi o alinhamento umas vinte vezes e lá fui para o estúdio. Para facilitar, tinha apenas uma câmara com teleponto. Fui-me ambientando com o pedal do teleponto, o auricular, microfone, “arranja o cabelo”, “olha a gola”, os vários ecrãs, enfim… No geral, apesar

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dos nervos, acho que correu bem e fiquei orgulhosa quando vi o resultado final. Mais uma vez refiro os problemas de dicção, projeção da voz, rosto demasiado expressivo, mas no geral, acho que correu bem. Ser pivot nunca fez parte das minhas ambições mas confesso que ficou guardado um “bichinho”.

Após a apresentação do meu mini jornal, ainda tive a oportunidade de fazer um falso direto. Desta vez sobre o caso face oculta com o jornalista Paulo Jerónimo e o operador de câmara Rui César, dois grandes profissionais. As dicas que ambos me deram foram fundamentais e, este sim, correu muito melhor que os anteriores e sem a necessidade de muitas repetições. Foi um dos trabalhos que mais gostei de fazer, quer pelo que aprendi, quer por nunca ter estado num tribunal nem lidado com o ambiente, regras e formalidade de um julgamento, neste caso, audição de testemunhas. Talvez não tenha correspondido às expectativas mas, eventualmente, foi melhor ainda do que o que tinha esperado.

Referências

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