GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA: DA IDEALIZAÇÃO
TEÓRICA À LUZ DA REALIDADE REFLETIDA
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA: DA IDEALIZAÇÃO
TEÓRICA À LUZ DA REALIDADE REFLETIDA
Autor: Ana Cláudia de Andrade Chamone
Orientadores:
Professor Doutor Armando Paulo Loureiro - UTAD
Professor Doutor Márcio Antônio Silva-Unimontes
Este trabalho foi expressamente elaborado como dissertação original para efeito de obtenção do grau de Mestre em Gestão, sendo apresentado na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
A Deus por ser refugio seguro e por ter me dado forças para concretizar mais um objetivo de vida.
Ao meu orientador, Prof. Doutor Armado Loureiro (UTAD) por ter, de maneira competente, sábia e cordial, oportunizado meu aprendizado, bem como pela exigência na condução deste processo de orientação, pelo exemplo de educador a ser abraçado e pela serenidade nas observações, tão pertinentes à consolidação do meu trabalho.
Ao co-orientador, Prof. Doutor Márcio Antônio Silva (UNIMONTES), pela excelência em tudo que faz, pelo incentivo e relevante cooperação nesse longo processo de formação, por ter me acolhido quando precisei e por ter contribuído sobremaneira para a minha formação ao longo dos anos, não apenas como professor, mas como exemplo de conduta ética e humana a ser seguido.
À Prof.ª Doutora Carla Marques (UTAD), coordenadora do Mestrado em Gestão, pela competência e por ter-me recebido na UTAD, bem como pela cordialidade no tratamento a mim dispensado nos momentos de minha estada em Portugal, no esclarecimento às minhas dúvidas e no gentil atendimento às minhas solicitações.
Aos professores do Mestrado pela competência e atenção na condução das aulas e trabalhos.
À Secretária de Educação de Pirapora, Arlete de Souza Alves Costa, e à educadora Maria Lúcia Diniz por terem permitido que eu desenvolvesse a pesquisa na Rede Municipal de Ensino.
À Irisleide Pereira Silveira, diretora da Escola Municipal Maria Coeli Ribas Andrade e Silva, por ter-me recebido com tanta afetividade e disponibilidade para a realização do presente estudo e a todos que compõem os quadros docente e administrativo do educandário, bem como aos
findar os meus estudos.
Ao corpo docente e administrativo do Colégio Cenecista de Pirapora pela paciência e pelas contribuições à minha função de gestora durante a minha ausência. Em especial ao Alvimar, à Gisele, ao Samuel, à Noely, à Luciene, à Roseli, à Tânia, à Laiane, ao Piageth e ao Sérgio pelas palavras, pelos acolhimentos e por torcerem e vivenciarem comigo esse grande desafio.
Ao meu amor e marido Marco Antônio Chamone pelo apoio incondicional, pelo cuidado comigo nos momentos de estudo, por suportar minhas ausências e por me fortalecer nas ocasiões de ansiedade.
Aos meus adoráveis familiares, em especial à minha mãe por sempre acreditar em mim e incentivar meus projetos, pela entrega e dedicação ao nos educar. Ao meu pai pelo exemplo de vida, amor fraterno e carinho. À minha tia Priscila pelo cuidado com todos nós e pelo particular afeto.
À minha adorável irmã Shirley pelos conselhos, pelo apoio e pelo exemplo de luta e perseverança a ser seguido, e, sobretudo, pelo amor demonstrado a mim.
Aos meus irmãos Eduardo, Rogério e Carlos pelo incentivo e por sempre trazerem alegria à minha vida.
Às minhas afilhadas Tatiane e Sara e aos meus sobrinhos Andrade e Chamone pelo sentimento que potencializam em mim.
A presente pesquisa analisa a Gestão Democrática como possibilidade de constituição da escola como espaço público de direito que ofereça uma educação mais igualitária, eficaz, socializadora e comprometida com a formação humana. O objetivo foi aprofundar os estudos acerca do tema, interpretando a prática educativa dos atores educacionais da Rede Municipal de Ensino de Pirapora, bem como analisando a contribuição que esta pode oferecer para o desenvolvimento da autonomia coletiva e da emancipação social. A presente investigação realizou extensa revisão bibliográfica, na qual estudos de natureza teórica e empírica foram identificados. Procedeu-se também, a análise de textos legais que dispõem sobre a Gestão da Educação Básica no Brasil em âmbitos federal, estadual e municipal, além de documentos técnicos referentes ao tema da presente tese. Com a finalidade de identificar e analisar práticas gestoras desenvolvidas na Rede Municipal de Ensino de Pirapora, uma escola foi escolhida para a realização do estudo de caso em parceria com a Secretaria Municipal de Educação. Como recursos metodológicos foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os atores sociais que apresentam relação significativa com o objeto de estudo e que compõem o Conselho Escolar da célula educativa pesquisada: diretora, vice-diretor, professores, funcionários administrativos e representantes dos familiares. Recorreu-se também ao questionário, com intuito de coletar dados mais precisos sobre o contexto educacional estudado. Os resultados da pesquisa indicam que a Secretaria Municipal de Educação, por meio do Plano Decenal Municipal de Educação, implantou os Conselhos Escolares nas unidades educativas da citada rede, promovendo assim, a participação da comunidade na gestão escolar. Apontam que a comunidade educativa pesquisada vem buscando a consolidação de espaços reflexivos rumo às soluções dos problemas educacionais que enfrentam, todavia as decisões deliberadas pelo Conselho ainda ficam na superficialidade do contexto educacional. Em que pese a conjuntura de dificuldades da escola para implantação do modelo democrático de gestão, ele existe, contudo, ainda precisa ser melhor ressignificado pelos atores educacionais que compõem o lócus educativo, o saber-fazer democrático ainda não é legitimado.
Palavras-chave: Gestão Democrática; autonomia; poder; descentralização; participação; qualidade,
The present research analyzes the Democratic Administration as a possibility of school constitution as a public space of right that offers a more equitable, efficient, socializing and committed to human development education. The aim was to deepen the studies on the subject, interpreting the Teaching Municipal Net of Pirapora actors educational practice, as well as analyzing the contribution it can offer to the collective autonomy development and the social emancipation. The investigation accomplished an extensive literature review, in which theoretical and empirical studies were identified. It was also proceeded, the analysis of legal texts that dispose about the Brazil basic Management in the federal, state and municipal ambits, as well as technical documents related to this thesis theme. In order to identify and analyze management practices developed in the Teaching Municipal Net of Pirapora, one school was chosen to carry out a study case in partnership with the Education Municipal Secretary. As a methodological resource were performed semi-structured interviews with social actors that present a significant relationship with the object of study and that compose the School Council that comprise the searched educational cell: principal, vice-principal, teachers, administrative employees and familiar representatives relatives. It was also fallen back upon the questionnaire, aiming to collect more accurate data on the studied educational context. The research results indicate that the Education Municipal Secretary, through the Education Municipal Decade Plan implanted the School Council in the educational units of the mentioned network, promoting community participation in school management, Indicate that the researched educational community has been seeking the consolidation of reflexive spaces towards the solution of educational problems they face, but deliberate decisions by the Council are still in the superficiality of the educational context. Despite the difficult environment of the school to implement the democratic model of management, it exists, however, and still has to be reframed by the educational actors that make up the educative locus, the democratic know-how is not legitimate yet.
Key words:Democratic Management, autonomy, power, decentralization, participation, quality
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ... 1
CAPÍTULO I – HORIZONTES METODOLÓGICOS ... 7
CAPÍTULO II – GESTÃO DEMOCRÁTICA E SEUS DESAFIOS
NA DEMOCRATIZAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO ... 12
CAPÍTULO III – A GESTÃO DEMOCRÁTICA À LUZ DA
LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA ... 17
CAPÍTULO IV – GESTÃO DEMOCRÁTICA: UMA ANÁLISE E
DISCUSSÃO DOS DADOS ... 30
4.1 – Gestão Democrática no contexto do Sistema Municipal de Ensino e da Escola:
a visão dos representantes do Conselho Escolar ... 30
4.2 – A contraditória participação como instrumento de democratização do espaço público . 40
4.4 – A organização do trabalho coletivo e a qualidade do ensino: impasses e
desafios ... 52
CAPÍTULO V – CONSELHO ESCOLAR: UMA VISÃO PANORÂMICA DA
ESCOLA ... 67
5.1 – Características e qualificação dos membros conselheiros da escola pesquisada ... 67
5.2 – A visão dos inquiridos sobre o modelo de gestão adotado pelo educandário ... 68
CAPÍTULO VI –DOS RESULTADOS DO ESTUDO: ALGUNS APONTAMENTOS DE SÍNTESE ... 75
CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 79
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 87
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – Procedimento de Gestão I, II e III ... 72
QUADRO 2 –·Opinião dos Inquiridos Quanto ao Modelo de Gestão ... 74
LISTA DE SIGLAS
CF - Constituição Federal
LBB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional PPP - Projeto Político Pedagógico
MEC - Ministério de Educação PNE - Plano Nacional de Educação
PDME - Plano Decenal Municipal de Educação
SEE/MG - Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais UNDINE - União Nacional dos Dirigentes Municipais
SEMED - Secretaria Municipal de Educação
SIMAVE - Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública CONAE - Conferência Nacional de Educação
INTRODUÇÃO
Atribui-se à Gestão Democrática da Educação uma possibilidade de transformação da realidade escolar, com acento na cidadania, na participação e poder de escolha da comunidade educacional.
Assim, pensar a gestão democrática implica compreender a possibilidade de autogoverno das instituições, a liberdade de pensamento, a implantação de órgãos colegiados e a ampla participação da comunidade nos assuntos escolares. Porém, essa experiência educativa de descentralização do poder é apenas parte das políticas públicas para a construção da qualidade do ensino, que ainda demanda necessidade de aprofundamento para maior legitimidade e eficiência no dia a dia do contexto educacional.
O desafio dessa prática definiu-se como a consolidação de um modelo de gestão que se quer mais autônomo, descentralizador e participativo. Uma transformação cujo objetivo é a universalização do ensino e a melhoria de sua qualidade solicita, como marco, a reflexão dos sistemas de organização e administração escolar. Nesse sentido, importa realizara revisão e discussão das diferentes experiências vivenciadas nos órgãos colegiados e a análise das teorias implícitas que os atores educacionais utilizam como guia e fundamentação para suas tomadas de decisões face à gestão democrática como princípio.
Nos últimos vinte anos, o modelo de gestão participativa escolar tem sido amplamente discutido na área da Educação. Outro aspecto que merece destaque, nos debates referentes à escola pública e nos bastidores dos estabelecimentos de ensino,são as reformas educacionais em vários países a partir dos anos 90. Dessa forma, tornou-se lugar comum o reconhecimento da necessidade de colocar a participação dos atores nos assuntos que se referem à esfera pedagógica da escola, bem como, na abordagem das competências administrativas e econômicas do contexto escolar.
Diante dessa constatação, a prática da gestão democrática é tema que vem mobilizando minha atenção desde o período da graduação. No curso de Pedagogia presenciei aulas que discutiam o tema, sem, entretanto, o devido aprofundamento.
Posteriormente tive oportunidade de trabalhar como pedagoga da 30ª Superintendência de Ensino, por ocasião do último concurso público. Diante de tal situação, deparei-me com algumas contradições que me levaram a refletir acerca dos resultados de ações educativas divulgadas com base no coletivo e na participação. Na verdade, não conseguia perceber articulação entre o discurso e a prática democrática com base nesses dois pilares. Na condição de pedagoga da rede estadual de ensino de Minas Gerais tive oportunidade de acompanhar a gestão de doze escolas, bem como de realizar e acompanhar atividades educativas voltadas para o planejamento, elaboração e execução de Projetos Políticos Pedagógicos em parceria com a rede municipal de ensino de Pirapora.
Todavia, pude perceber alguns fatores que dificultavam a eficácia da ação coletiva e consequentemente, indagações internas aguçaram minha capacidade investigativa e dúvidas se tornaram inevitáveis. O trabalho idealizado em torno da ação/reflexão/ação modificada não atingia seus objetivos: por pouca disponibilidade de tempo por parte dos agentes educacionais para (re)pensar a escola ou o problema estava localizado na resistência dos mesmos às políticas públicas? Ou ainda, será que por motivo de base teórica superficial o conceito de participação era entendido, eminentemente, como algo normativo e pragmático sem ser levado em consideração o caráter emancipador que a participação pode favorecer?
Embora os discursos dos dirigentes e técnicos da educação municipal estivessem revestidos da necessidade de uma postura crítica diante da realidade das unidades de ensino, a incoerência entre a teoria e a prática fazia-se presente.
Por meio do contato com diretores, especialistas e professores da rede pública, pude perceber ainda uma dificuldade para mobilizar a comunidade a participar das decisões escolares. Quando isso era possível, a proposta de planejamento participativo reduzia-se a um plano que registrava ações futuras, sem um processo de pesquisa que
diagnóstico acerca da realidade existente. Nesse sentido, boa parte do que estava previsto no plano ficava comprometida devido à distância presente entre as características da realidade e o ideal traçado e desejado como meta.
Dessa forma e em decorrência dessa distância entre o real e o ideal, não ficava claro se os atores envolvidos no planejamento educacional o faziam por um comprometimento profissional, buscando a efetivação de uma educação que se quer de qualidade ou por cumprimento a uma determinação hierarquizada para apenas cumprir um ritual da escola.
Diante de tais considerações, alguns questionamentos balizaram os rumos desse
estudo. Quais seriam os referenciais que orientam a prática da gestão democrática e do planejamento participativo na Secretaria Municipal de Educação de Pirapora e nas escolas da referida rede com destaque para a unidade de ensino pesquisada? Qual tem sido o conceito de participação que perpassa as representações dos agentes envolvidos na organização do trabalho coletivo nas unidades de ensino? A participação de fato acontece? Ela é um agente de mudança em relação à qualidade do ensino e no processo de democratização escolar?
Não obstante, a pesquisa justificou-se pela possibilidade de perceber o objeto de estudo por meio de uma análise investigativa, como também à medida que buscou compreender os conceitos de autonomia, descentralização, democratização, gestão, participação e qualidade com os quais uma parcela dos profissionais da educação norte mineira tem se comprometido.
Assim, o objetivo geral da pesquisa foi o de aprofundar os estudos acerca da Gestão Democrática na Educação, interpretando junto com os atores educacionais de uma escola da Rede Pública Municipal de Pirapora, o sentido de sua prática educativa, bem como a contribuição que esta pode oferecer para o desenvolvimento da autonomia coletiva e da emancipação social.
Seguindo essa linha de pensamento, delineamos como objeto de estudo o modelo de gestão adotado em uma escola periférica da rede municipal de ensino de Pirapora e estabelecemos como objetivos de nossa pesquisa:
Investigar os fundamentos da gestão democrática como forma de organização e administração das políticas públicas educacionais;
Conhecer as experiências e as ideias que orientam o conceito de participação dos profissionais da educação de uma escola do município de Pirapora;
Desvelar o processo de articulação e condução das ações com vista à democratização das unidades de ensino pela Secretaria Municipal de Pirapora e as escolas da rede;
Avaliar quais são os atores educacionais envolvidos diretamente com os princípios da gestão democrática na unidade de ensino pesquisada.
Diante disso, trazemos algumas problematizações norteadoras desse estudo: Até que ponto a Gestão Democrática anunciada na legislação federal e municipal tem sido cumprida, interpretada e aplicada no contexto educacional da Rede Municipal de Ensino de Pirapora? Ela de fato tem contribuído para o desenvolvimento da autonomia das unidades escolares da rede e dos atores envolvidos, criando as bases para uma ação que permita enfrentar criticamente os desafios para construção da cidadania e da qualidade do ensino?
Esses foram os caminhos motivadores da nossa investigação cuja análise das propostas da política educacional em gestão escolar proporcionou o perfilamento de pontos de convergência e divergência entre a teoria projetada como ideal e a prática exercida na escola, bem como a análise da coerência existente entre o que acontece na rede e a gestão democrática na unidade de ensino.
Por tudo isso, comecei a problematizar a forma pela qual a Gestão Democrática vem sendo entendida e praticada no âmbito educacional, uma vez que o fato de ela estar prevista em lei e ser delegada sua prática aos sistemas de ensino, isso não assegura que os mesmos consigam cumprir seu papel. Portanto, esta pesquisa tentará desvelar, nesse processo aberto pelas determinações da lei, a concretude ou não de modelos mais participativos de gestão.
O estudo está organizado em seis capítulos. O primeiro capítulo, apresenta a metodologia cuja característica de investigação adotada é de natureza qualitativa pela
possibilidade descritiva do fenômeno pesquisado. A opção de iniciar por meio da metodologia objetivou oportunizar ao leitor uma visão geral do caminho percorrido pela pesquisadora.
O segundo capítulo, à luz das reflexões teórico-conceituais dos autores Bordenave (1994) que trata a participação como necessidade humana e política; Paro (2003) que aborda o fato da educação escolar não se fazer separada dos interesses de uma determinada situação histórica; Lück (2005) que alude sobre a importância dos gestores trocarem experiências para solucionar problemas; Libâneo, Oliveira e Toschi (2008) que refletem sobre o fato de na escola prevalecer o elemento humano e por isso precisam ser democraticamente administradas, acentuando-se a gestão participativa e a gestão da participação e Warde (1992) que por fim argumenta acerca da defesa da autonomia escolar como fonte de melhoria para a qualidade do ensino; expõe os contextos históricos e político da origem da Gestão Democrática no ensino, com intuito de desvendar e apreender sobre o tema: postulados, contradições, crises e desafios. O terceiro capítulo apresenta uma retrospectiva da legislação brasileira que estrutura as políticas públicas para a Educação e apresenta os princípios democráticos previstos na letra da lei, expondo suas dificuldades, entraves e desafios perpassando pela Constituição Federal de 1988, pela a Lei de Diretrizes e Bases Nacional - LDBEN 9.394/96, pelo Plano Nacional de Educação e Plano Decenal Municipal de Educação de Pirapora, bem como pelo Regimento da unidade escolar pesquisada.
O quarto capítulo analisa e discute os dados levantados pela pesquisa delineando a visão dos representantes do Conselho Escolar no que tange a Gestão Democrática, a participação no espaço público, os impasses e desafios da organização do trabalho escolar e a tentativa de afinar a relação existente entre escola, família e gestão.
O quinto capítulo apresenta uma visão panorâmica em relação às percepções dos membros do Conselho Escolar diante do modelo de gestão desenvolvido na escola. Sob a mesma perspectiva, o sexto capítulo, delineia os resultados da pesquisa com base nos depoimentos dos entrevistados, bem como do processo de observação
vivenciado pela pesquisadora, analisando o grau de concretude dos princípios democráticos na ação educativa praticada pela escola.
Por fim, nas considerações finais são apontados os avanços e as contradições no processo de operacionalização da Gestão Democrática na unidade estudada e, por conseguinte, na Rede Municipal de Ensino de Pirapora MG.
CAPÍTULO I - HORIZONTES METODOLÓGICOS
De acordo com o pensamento de Bogdan e Biklen (1999) a abordagem qualitativa favorece a descrição de processos, sendo o ambiente natural à fonte direta dos dados e o sujeito que investiga o instrumento principal de observação e interpretação. Nesse estudo procuramos conjugar vários instrumentos de coleta de dados que vão desde a análise documental e a observação até a entrevista semi-estruturada e o questionário. Entendemos que é na construção da relação dessas informações que poderemos tentar encontrar alguns nexos que nos permitam desvelar a lógica de organização de uma unidade escolar com o sistema de ensino municipal.
Consoante com esse pensamento buscou-se analisar o modelo gestacional de uma dada célula educativa por meio da pesquisa qualitativa, caracterizada como estudo de caso. Diante do desejo de se compreender melhor o fenômeno social chamado Gestão Escolar, a adoção do estudo de caso fez sentido como método investigativo, por se tratar de uma estratégia de pesquisa mais abrangente e que preserva características significativas dos eventos da vida real.
Nesse sentido, do universo de nove escolas da rede, que atendem ao Ensino Fundamental, a escola Maria Coeli Ribas Andrade e Silva foi apontada, pelos técnicos da Secretaria Municipal de Educação de Pirapora, como fonte a ser estudada por ser considerada uma escola que está localizada num bairro de alto risco social. A escolha do citado universo levou em consideração a necessidade de pesquisa da região, e por isso, foi realizada em parceria com o órgão gestor da Educação no município.
Visando entender as práticas educativas exercidas na escola examinada, buscou-se uma investigação empírica sobre o processo de construção da gestão democrática, objeto de estudo da presente pesquisa.
Com objetivo de extrapolar a análise expositiva acerca do assunto citado, o estudo pretendeu identificar traços culturais da organização escolar escolhida pela Secretaria Municipal de Educação de Pirapora que aparentemente vem potencializando a contextualização de um modelo mais participativo de gestão.
No primeiro momento foi realizada uma análise documental do Plano Municipal de Educação. A leitura foi efetuada tentando compreender para além do escrito, os pressupostos subjacentes que orientam a organização, administração e concepção de gestão das escolas municipais, bem como os princípios norteadores da ação político-educativa em curso. Para contextualizar a conjuntura das políticas públicas de gestão democrática foram analisados marcos legais da Educação Brasileira, a saber: Constituição Federal de 1988; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB 9.394/96 e o documento Referência do CONAE 2010 (Conferência Nacional de Educação) – Construindo o Sistema Nacional Articulado de Educação: O Plano Nacional de Educação, Diretrizes e Estratégias de Ação.
Ainda nessa direção foram analisados os cadernos que tratam do modelo de gestão pretendido pela reforma educacional mineira cujas bases estão documentadas no Progestão - Programa de Capacitação a Distância para Gestores Escolares. Analisou-se também, algumas ações educativas realizadas no município de Pirapora, foram estudados materiais técnicos como o Plano Decenal Municipal de Educação 2006/2015, regimentos e registros de reuniões disponibilizados pela Secretaria Municipal de Educação de Pirapora e pela unidade de ensino pesquisada que nos possibilitaram a construção de um capítulo, abordando a gestão democrática contida no ordenamento jurídico educacional.
Tendo em vista que toda pesquisa implica em levantamento de dados de variadas fontes considerou-se a observação direta e intensiva como técnica. Conforme, Lakatos e Marconi (2005) o citado processo é realizado por meio de duas técnicas: a observação e a entrevista.
A observação ajuda o pesquisador a identificar e a obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam o seu comportamento. Desempenha papel importante nos
processos observacionais, no contexto da descoberta, e obriga o investigador um contato mais direto com a realidade (p.193).
Nesse sentido, utilizou-se a técnica da observação por um ano e meio em que tivemos a oportunidade de participar de diversas situações do cotidiano da escola: reuniões mensais do conselho escolar; reuniões de conselho de classe; planejamento pedagógico dos professores; palestras; eventos festivos e culturais.
Por outro lado, em conformidade com o pensamento de Bogdan e Biklen (1999, p.48) “para o investigador qualitativo divorciar o acto, a palavra ou o gesto do seu contexto é perder de vista o significado”, o estudo oportunizou ainda, a participação da pesquisadora em alguns momentos informais de reflexões com alunos, direção e vice-direção da unidade escolar.
Nessa perspectiva, o diário de campo foi utilizado como instrumento de registro, para análises e confronto com outros dados coletados no decorrer da pesquisa. Os apontamentos das observações permitiram obter algumas informações tais como:necessidade de criar situações que envolvam mais as famílias nos assuntos escolares, buscar uma participação mais efetiva por parte da comunidade escolar e dinamizar o processo de informação acerca das ações desenvolvidas pelo Conselho.
Objetivando maior consistência nas informações, utilizou-se também a entrevista semi-estruturada, buscando compreender o que pensam e dizem os profissionais da educação a respeito de alguns aspectos que envolvem a organização e gestão da escola. Nessa direção onze atores educacionais foram selecionados para serem entrevistados. Destes, dez são membros do Conselho Escolar: duas representantes dos pais dos alunos, sendo uma delas funcionária administrativa da escola; quatro professoras; uma diretora; uma secretária; duas supervisoras; e mais o vice-diretor que, mesmo não sendo conselheiro, também fez parte do processo por estar intimamente ligado às situações administrativas e pedagógicas da escola.
No intuito de oferecer maior liberdade e espontaneidade dos sujeitos ao se
membros conselheiros representantes do corpo docente e administrativo do educandário e o outro orientou as perguntas com relação aos representantes das famílias.
Procurou-se não limitar o tempo e nem a fala dos interlocutores para que as entrevistas não se restringissem às questões pré-estabelecidas no roteiro inicial e, dessa forma, permitir o enriquecimento das informações. Por meio das mesmas buscou-se conhecer os conceitos de autonomia, democracia, descentralização, gestão, participação e qualidade de ensino que subjazem a prática dos atores educacionais selecionados para o escopo da pesquisa.
Posteriormente, foi criado um quadro analítico que permitiu visualizar e analisar as respostas individuais de cada entrevistado, bem como as respostas de cada um relativo à mesma questão para que se pudesse ter uma visão geral do que os sujeitos pesquisados pensam sobre a mesma questão abordada. Ainda com base nesse quadro foram criadas categorias de análise a partir dos pontos convergentes e divergentes das respostas. As mesmas foram organizadas em quatro temas que orientam o capítulo IV: Gestão Democrática no contexto do Sistema Municipal de Ensino e da Escola- a visão dos representantes do Conselho Escolar. A contraditória participação como instrumento de democratização do espaço público. A organização do trabalho coletivo e a qualidade do ensino: impasses e desafios. Escola, Família e Gestão: uma busca para afinar as relações.
Considerando que “o questionário pode ser aplicado em diversos tipos de pesquisa, ou mesmo quando precisamos fazer uma pequena pesquisa de opinião em departamento de uma organização e que ele constitui hoje uma das mais importantes técnicas disponíveis para a obtenção de dados em pesquisas sociais" fez-se necessária a aplicabilidade do mesmo a todos os sujeitos participantes do estudo, com o objetivo de compreender melhor possíveis elementos e fatores contribuintes para a análise da aplicabilidade ou não, da gestão democrática na prática educativa (Labes, 1998, p.16).
Para análise dos dados coletados por meio dos onze questionários aplicados aos membros do Conselho Escolar da Escola Municipal Coeli Ribas, da cidade de Pirapora, foi realizada a tabulação no programa SPSS, que permitiu o cruzamento das informações. Optou-se por utilizar a profissão dos entrevistados como referência para análise de todas as
tabelas apresentam dados, números, bem como o percentual de incidência das respostas. Tendo em vista que o contexto escolar é marcado por uma dialeticidade cuja previsibilidade dos procedimentos é difícil de ser mensurada, entendemos que a metodologia supracitada possibilitou uma melhor compreensão acerca da complexidade de se colocar em prática uma gestão que se quer democrática.
CAPÍTULO II - GESTÃO DEMOCRÁTICA E SEUS
DESAFIOS NA DEMOCRATIZAÇÃO DO ESPAÇO
PÚBLICO
Atribui-se à gestão democrática uma possibilidade de rompimento com o poder centralizador e hierárquico que sempre se manifestou hegemônico na história da educação brasileira. Todavia, com as novas exigências e transformações no sistema produtivo e nas relações de trabalho em nível mundial, novas formas de atuação do estado com as instituições públicas estatais e não-governamentais têm sido modificadas. É nesse contexto de superação ao controle burocratizante do estado, que se busca alcançar a melhoria nas organizações escolares implantando uma nova cultura no ambiente relacional tecida na trama da construção de valores coletivos e concepções críticas da realidade social. Cabe destacar, que o presente estudo não nega que processos educativos devam ser avaliados e monitorados, ou seja, que não haja um controle. O que se propõe nessa discussão é a interferência autoritária e descontextualizada de órgãos da administração pública em suas unidades de ensino. Ao longo do tempo a ideia de burocracia tomou um sentido coloquial contrapondo-se a formas gerenciais de empenho ágil e eficiente. Todavia, se uma sociedade, com seus contextos complexos, se quer democrática, um mínimo de burocracia organizacional se faz necessária. Dito isso, destaca-se o imperativo de se potencializar a edificação de uma escola democrática, que exercite a tomada consciente de iniciativas autônomas, adotadas por membros coletivamente organizados e eticamente voltados para uma postura crítica e cidadã.
Assim, se há-de tomar cuidado com o reducionismo dos conceitos e processos, pois a gestão democrática não se limita à eleição de diretores escolares, como também a democracia na escola não se restringe a voto e tomada de decisões, pressupõe, antes de tudo, transformação recíproca da realidade e do contexto escolar. Na medida em que a escola se fortalece na construção da democracia, a sociedade transforma seus agentes
sociais por meio da participação engajada e comprometida com a construção do melhor projeto possível para um novo tempo e uma nova época.
Nesse sentido, houve um período em que regimes totalitários triunfaram na forma de organizar as políticas públicas, porém, atualmente a palavra participação tem revelado o desejo da população em tomar decisões sobre seu próprio destino, haja vista o aumento do número de instituições nas diversas esferas sociais que conclamam a participação popular por meio da democracia. Logo, democracia não é apenas um modelo de governo, mas sim uma construção e conquista no processo educacional cuja meta final é permitir a participação dos cidadãos.
A participação está vinculada à ação humana, uma vez que o homem vive congregado com seus iguais, caso contrário, o homem que não participa entra em um processo de marginalização social. Consoante com o pensamento de Bordenave (1994) a participação “facilita o crescimento da consciência crítica da população, fortalece seu poder de reivindicação e a prepara para atingir mais poder na sociedade” (p.12). Sendo assim, a participação surge não apenas como uma necessidade humana, mas também como uma necessidade política.
Tendo em vista essa consideração, um olhar retrospectivo vai-nos apontar que a partir da década de oitenta o tema democracia na educação passou a ser amplamente difundido como um procedimento de gestão em que a participação assume um papel político que busca legitimar a relação dos atores educacionais com a sociedade como elemento de mudança na organização do trabalho escolar.
A democracia na condição de princípio funciona então, como reguladora da emancipação social, pois favorece a participação. O conceito de democracia introduziu na política o reconhecimento de iguais. Ao longo do século XX as ações pelo reconhecimento tornaram-se palco para conflitos políticos sob a denominação de luta contra injustiças sociais.
Conforme Bordenave (1994), a “participação está na ordem do dia devido ao descontentamento geral com a marginalização do povo dos assuntos que interessam a todos e que são decididos por poucos” (p.12).
A atividade administrativa sofre influência de condicionantes históricos e visa atender a necessidade de pessoas e grupos. Sendo assim, embora ainda predomine grupos e dirigentes nas instituições que pensem em restringir a participação dos cidadãos, a maioria da população, engajada nos movimentos sociais, luta em prol da democracia como forma de governo. Diante dessa perspectiva, Paro (2003) afirma que da mesma forma “a educação escolar não se faz separada de interesses e forças sociais presentes em uma determinada situação histórica” (p.32).
É por isso, que vários estudos a respeito do tema apontam que tanto setores progressistas como setores tradicionais têm o interesse em defender a participação, embora com objetivos bastante distintos. Nessa perspectiva, Bordenave (1994) nos alerta que a participação “[...] pode se implantar tanto com objetivos de liberação e igualdade como para manutenção de uma situação de controle de muitos por alguns” (p.12).
Numa breve retomada histórica, iremos identificar no final do séc. XX a origem de algumas mudanças e interpretações no pensamento administrativo, pois o mundo atual “é marcado pela emergência de novas estruturas organizacionais que são significativamente, mais democráticas, criativas e potencialmente mais produtivas do que foram em qualquer parte da história anterior” (Lück, 2005, p.33).
Entretanto, apenas com o advento da reconstrução democrática que a gestão escolar foi pauta do debate político-educacional. Durante as ditaduras a gestão da escola era marcada por uma estrutura administrativa centralizada e burocratizada. Nas décadas de 50 e 60, ganhou espaço o conceito de autonomia escolar primando-se pela valorização da liberdade dos educadores em face de currículos e projetos alheios à realidade educacional.
Nessa direção, no final da década de 70, do século passado, estudiosos da gestão participativa começaram a analisar a eficácia dessa forma de gerir instituições de ensino. Segundo Lück (2005) os “gestores observaram que não podiam resolver todos os seus problemas sozinhos, então, passaram a buscar conhecimentos e experiências em seus colegas de trabalho” (p.20).
princípios assegurado pela Constituição Federal de 1988 em seu artigo 206. Por sua vez, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira nº9394/96 repassou aos sistemas de ensino as definições da gestão democrática, conforme inciso VIII do artigo 3º, explicitando alguns princípios desse modelo de gestão, tais como: a participação dos profissionais da educação na elaboração do Projeto Político Pedagógico das escolas e a participação da comunidade escolar e do entorno nas instâncias colegiadas.
É nesse contexto, que a ideia de gestão democrática ganha destaque no discurso de educadores, empresários, movimentos sociais e órgãos públicos, uma vez que a gestão democrática da educação passa a ser um dos princípios constitucionais do ensino público brasileiro preconizado no artigo 206 da Constituição Federal de 1988(CF/88), bem como da LDBEN em seu inciso VIII do artigo 3º. É importante ressaltar também que o Plano Nacional de Educação Lei nº 10.172/2001 aponta a gestão democrática e participativa como uma política pública educacional a ser concretizada.
Assim, o movimento em prol da implementação do modelo participativo de gestão
escolar fundamenta-se em três princípios basilares: a) escolha dos gestores com participação da comunidade escolar; b)constituição de um colegiado/conselho que tenha autoridade deliberativa e poder decisório; c) repasse de recursos financeiros às escolas, e, consequentemente, aumento da autonomia.
Doravante, o discurso da descentralização e autonomia das escolas; a participação vai ser destacada como a possibilidade da construção da democracia no contexto escolar. De acordo com Warde (1992), o argumento para se defender a necessidade de autonomia escolar coloca o estabelecimento de ensino na condição de locus para a melhoria da qualidade educacional. Para a autora é na escola que podem ser realizadas experiências pedagógicas alternativas promotoras da universalização da qualidade do ensino.
Nesse sentido, para que isso ocorra são necessárias ações coerentes entre as deliberações coletivas e as prioridades institucionais. A fundamentação da gestão democrática localiza-se na necessidade de consolidação do espaço público de direito capaz de promover condições de igualdade e a garantia da oferta de educação de qualidade como ferramenta de superação de um sistema de ensino excludente.
Seguindo esse pensamento, a escola na condição de organização, entendida como uma das unidades sociais existentes tem seus objetivos, resultados, meios e processos voltados para a formação humana, portanto, nela ganha relevância o fortalecimento das relações sociais, servindo de ferramenta para a superação do autoritarismo, do individualismo e das desigualdades sociais. Para Libâneo, Oliveira e Toschi (2008), “a organização e a gestão constituem o conjunto das condições e dos meios para assegurar o bom funcionamento da instituição escolar, de modo que alcance os objetivos educacionais esperados” (p.293).
Podemos dizer que com o exercício da prática da gestão compartilhada espera-se que a escola seja capaz de exprimir uma orientação educativa condizente com o pensamento da sua comunidade, no sentido de favorecer o protagonismo de seus intérpretes e consequentemente a emancipação e empoderamento social.
CAPÍTULO III - A GESTÃO DEMOCRÁTICA À
LUZDALEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA
A questão da Gestão Democrática da Educação exige reflexões acerca de
seus fundamentos, significados, dimensões e características. Desta forma, este capítulo tem por objetivo apresentar uma visão panorâmica do tema buscando as bases legais que fundamentam tal concepção.
Sendo assim, nossa proposta é apresentar os princípios democráticos contidos na Constituição Federal que condicionam o contexto da Educação Brasileira. Posteriormente, será analisado o ideário de gestão educacional brasileiro tendo como referência a Lei de Diretrizes e Bases Nacional - LDBEN 9.394/96. Ainda na perspectiva analítica, serão identificadas as tendências de gestão educacional previstas no Plano Nacional de Educação e Plano Decenal Municipal de Educação de Pirapora, bem como no Regimento da unidade escolar pesquisada.
De acordo com o preâmbulo da Constituição da República Federativa do Brasil o povo brasileiro reuniu-se em Assembleia Nacional Constituinte para instituir o Estado Democrático de Direito que tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e a livre iniciativa e o pluralismo político. Com intuito de concretizar seus objetivos, ao dispor sobre questões educacionais em seu capítulo III, artigo 205, a Constituição determina que:
A Educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho (Constituição Federal, 2008, p.7).
Assim, ao estabelecer o regime de colaboração entre os entes federados:
Estados, Municípios e União, a Carta Constitucional propõe outra forma de relação do Estado Brasileiro para com o ensino público, diferente da realizada antes da Constituição. Podemos dizer que no final da década de 80 o Brasil vinha passando por um período de transição do contexto militar para a conjuntura democrática. Nesse período o país inicia um processo de abertura de forma lenta e gradativa após duas décadas de governos ditatoriais, vislumbrando vivenciar relações mais transparentes e democráticas com a sociedade, como afirma Furtado (2005):
O caráter autoritário e centralizador do Estado Brasileiro durante o regime militar (1964 – 1985) passou a ser questionado por setores progressistas que reivindicavam a implantação de procedimentos mais transparentes e de maior participação no controle público: na verdade era a gestão do próprio estado que estava em pauta. Os partidos de oposição ao regime militar, que disputaram as eleições de 1982, incorporaram nas suas plataformas de governo perspectivas participativas e democráticas (p. 60).
Na verdade o modelo autoritário de um Estado centralizador e autoritário até então em voga, começa a dar sinais de esgotamento. Nesse sentido, a mobilização da sociedade civil, movimentos sociais, intelectuais e movimento estudantil, representado pela União Nacional dos Estudantes contribuíram para uma abertura democrática no país. Contudo, em que pese a articulação das forças conservadoras no sentido de não aprovar as eleições diretas no país, culminando com a Nova República, a nação não seria mais a mesma. É nesse ambiente que temos a assembleia constituinte e aprovação da nova constituição, com conquistas sociais relevantes para a sociedade brasileira. O instituído passa então a ter função de eixo básico de uma sociedade que se quer mais democrática, socialmente harmônica e comprometida com a mudança, assim, destaca-se uma importante conquista na área da educação preconizada pela carta constitucional.
Em seu artigo 206, a Constituição define ainda, em quais princípios o ensino será ministrado:
[...]
III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e, coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
[...]
VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII – garantia de padrão de qualidade
[...]
Cabe ressaltar que além do pluralismo de ideias e a qualidade do ensino, a gestão democrática é assegurada na Constituição como princípio norteador da Educação, na forma da lei. Com a promulgação da Constituição, em 1988, tornou-se obrigatório o ajustamento das Constituições Estaduais e das Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos Municípios às novas exigências.
Ao instituir legalmente o pluralismo de ideias e concepções, a gestão democrática e a qualidade de ensino, a Constituição destaca a Educação e o ensino público como um espaço democrático e de formação para a cidadania.
Isso posto, grandes desafios são colocados para os educadores no sentido de encontrar caminhos alternativos que viabilizem, através da participação dos segmentos ligados a Educação, a garantia do exercício democrático e dos princípios previstos em lei com vistas a construção de uma nova escola.
Todavia,o texto da Constituição Federal não conseguiu assegurar o princípio da
gestão democrática em todas as redes de ensino uma vez que, de acordo Adrião e Camargo (2001, p.73), todo processo legislativo é permeado por diferentes tipos de interesses, sendo o seu resultado uma síntese dos conflitos gerados por esses embates retratados na correlação de forças políticas e poder local, no caso dos estados e municípios. Na verdade, a redação final do texto da carta magna é o resultado de
embates entre grupos conservadores e progressistas no Congresso Nacional. Os primeiros defendendo a lógica mercantil do campo educacional, deixando claro que o princípio da gestão democrática é uma obrigatoriedade apenas no ensino público, não determinando o seu conceito, favorecendo margem para diferentes interpretações. A esse respeito Oliveira (1997) ressalta que:
O processo de regulamentação do art. 206 da Constituição Federal vem se transformando numa arena onde diferentes projetos disputam sua mais adequada interpretação. Por isso, a garantia de um artigo constitucional que estabelece a gestão democrática não é suficiente para sua efetivação. A leitura que se faz dos termos gestão e democracia e, ainda mais, da combinação de ambos, varia conforme os projetos (p.95).
Nessa perspectiva, é esse emaranhado de interpretações subjetivas do conceito de gestão e democracia que será assegurado como um direito na lei. Contudo, é com a nova carta magna que a sociedade civil vislumbra a participação dos cidadãos na esfera pública. Esse sentimento do povo brasileiro foi traduzido por meio da luta da sociedade civil e dos educadores no sentido da edificação de uma sociedade mais democrática.
No que diz respeito à expectativa de uma educação voltada para os princípios democráticos, a redação do artigo 206 da Constituição ao tratar da questão da gestão, sinaliza uma utopia para os educadores. É nessa direção, que o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública indicava a gestão democrática em todos os níveis educacionais e colocava acento na participação de todos os segmentos na gestão da escola. Em contrapartida, a parte vencedora, composta por grupos conservadores do Congresso Nacional que representavam os interesses privatistas, sugeria como proposta a possibilidade de colaboração da comunidade escolar no processo gestacional. A partir daí, a formulação da lei constitucional, em seu artigo 206, cita apenas o ensino público, deixando de fora a obrigatoriedade da adoção desse modelo de gestão nas instituições particulares. A esse respeito Paro (2001) argumenta que “numa sociedade que se quer democrática, é possível, a pretexto de se garantir liberdade à iniciativa privada,
pensar-se que a educação [...] possa fazer-pensar-se pensar-sem levar em conta os princípios democráticos?” (p. 80).
Dessa forma, embora haja limitações no modelo constitucional de 1988 no que tange a gestão escolar, não se pode negar que o caráter democrático seja impetrado na rede pública e que o seu valor ético não paire sobre todos os sistemas de ensino.
GESTÃO DEMOCRÁTICA E LDBEN
O princípio da gestão democrática foi posto na Constituição Federal de1988 (CF), tornando lei no Brasil a organização dos sistemas educacionais em regime de colaboração entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Por sua vez, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDBEN 9394/96) ratificou em seu art. 3º que “o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: [...] VIII - gestão democrática do ensino público na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; [...].”.
Considerou também, outros princípios no processo de implantação da gestão democrática, a saber:
Artigo 12 - Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
...
VI- articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola;
...
Artigo 14 - Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I-participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;
II - participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (Lei de Diretrizes e Bases, 1997, p.11).
Em que pese o fato da LDBEN ratificar o princípio da gestão democrática
delegando aos sistemas de ensino a definição da forma de participação da comunidade nas decisões da escola e no projeto político pedagógico, ainda temos um longo caminho a percorrer. Na realidade, muitos municípios brasileiros ainda não conseguiram, do ponto de vista legal, transformarem-se em sistemas de ensino com autonomia para legislar sobre si mesmo. Ao analisarmos o que a constituição preconiza para os municípios na área da educação, identificamos que a citada esfera governamental aparece ineditamente, no artigo 211 da Constituição de 1998 como instância administrativa. Posteriormente, a LDB, em seu artigo 11, inciso III, refere-se aos sistemas municipais de ensino e, possibilita ainda que, os mesmos baixem normas complementares para seu sistema. No entanto, muitas redes de ensino municipal ainda são regidas pelas orientações normativas de seus Estados. Sendo assim, ora o município tem autonomia para realizar algumas ações ora, em determinados momentos, isso não é possível.
A Constituição Federal também estabelece o regime de colaboração na educação com os municípios, todavia as definições de competência dos entes federados derivam, de maneira mais específica, da LDB. A citada lei, ao atribuir maior autonomia às instâncias governamentais representadas pela União, Estados, Municípios e Distrito Federal, confere às mesmas inúmeros desafios.
Ainda à luz da legislação o Plano Nacional da Educação (PNE) - Lei 10.172 de 09 de janeiro de 2001 em seu artigo 2º determina que “ a partir da vigência desta Lei, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão, com base no Plano Nacional de Educação, elaborar planos decenais correspondentes”. Logo, a gestão democrática por estar relacionada a um universo imenso de escolas e seus respectivos sistemas se coloca
como um desafio de construção de novas relações democráticas não apenas em unidades escolares, mas entre os sistemas e seus agentes.
Nos objetivos e prioridades do PNE, novamente há uma reprodução dos textos legais da CF e da LDB. A redação reforça a democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. A partir da determinação do PNE os sistemas de ensino municipais elaboraram seus Planos Decenais de Educação, objeto de reflexão e análise a ser versado.
O Plano Municipal de Educação (PME) de Pirapora foi construído de maneira a atender a legislação vigente, como também, aos anseios da sociedade que participou do processo de planejamento por meio da representatividade de todos os segmentos da Educação e da sociedade civil. Em conformidade com o documento, o município acredita que “todo planejamento é um processo que deve ser democrático, baseado no diálogo e na troca de experiências, a partir de dados da realidade” (PME, 2006, p.8).
Ao analisar o citado documento percebe-se na letra da lei, a intencionalidade democrática do mesmo. Ainda no texto de abertura foi apontada a necessidade de a Educação estar voltada para a autonomia, para a ética, para a valorização da diversidade humana e para a busca da identidade cultural.
Por meio das diretrizes fixadas pela Lei 10.172 (PNE), tornou-se base para os objetivos da Educação Municipal a elevação do nível de escolaridade da população; a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis e modalidades; a redução das desigualdades sociais e regionais e a democratização da gestão do ensino, foco do presente estudo.
A legalidade do texto posta em tela no PME foi fundamentada nas bases da Constituição Federal de 1988, a partir do artigo 214 que impõe “fixação por lei de um PNE de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do poder público”. Pautou-se ainda no
artigo 9º da LDBEN 9.394/96 que delega a União de “elaborar o PNE, em colaboração com Estados, Distrito Federal e os Municípios”; e no artigo 10 que encarrega o Estado de elaborar e executar políticas e planos educacionais de maneira integrada e coordenada coma as ações dos Municípios.
É possível notar o reforço da visão colaborativa por meio de um pacto entre os entes federados na elaboração e execução das políticas públicas, faz-se necessário refletir acerca da materialidade e dos avanços atingidos ou não, por esse regime de colaboração.
O PME orientou-se também pelo artigo 11 da LDB que preconiza por parte dos Municípios a responsabilidade de organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos Educacionais da União e dos Estados.
Dessa forma o estado de Minas Gerais lança o desafio para a construção do Plano Decenal de Educação para a década 2006/2015 em bases pactuadas com seus 853 Municípios, apresentando propósitos de uma metodologia democrática de planejamento que pressupõe uma ação concentrada e articulada entre SEE/ MG (Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais), UNDINE/MG (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) e SME (Secretaria Municipal de Educação) junto com os segmentos organizados da sociedade (PME, p.11).
A intenção do PME foi a de identificar as especificidades singulares do município de Pirapora em um contexto macro representado pelo Estado. Por estarem em consonância com o PNE/2001 as características da maneira de planejamento foram mantidas, sendo elas: visão e compromisso em longo prazo; integração das ações segundo o princípio de colaboração entre os entes federados; a participação democrática na sua elaboração, execução, acompanhamento e no controle da execução do plano; abrangência de todas as modalidades de ensino e respeito às particularidades de cada Município.
Segundo a equipe de elaboração do mencionado plano, houve a tentativa de se viabilizar a consistência e exequibilidade uma vez que, foram organizadas ações de curto, médio e longo prazo em parceria com a comunidade educacional, sociedade civil e vontade política da atual administração, com vista a um planejamento democrático. As informações registradas aqui representam os marcos extraídos do PME.O presente estudo limitou-se a analisar a documentação que pauta o trabalho realizado na escola escolhida como escopo para a pesquisa. Dessa forma, não é possível estabelecer juízo de valor quanto aos fatores motivacionais ou impeditivos do exercício democrático durante o processo de reflexão, idealização e sedimentação do citado plano.
Dentre os objetivos e metas previstos no documento municipal faz-se importante salientar os que apresentam relação com o princípio democrático da gestão da escola pública, tema nuclear do presente estudo. Consta no plano do município:
A promoção da participação da comunidade na gestão das escolas, universalizando, conselhos escolares ou órgãos equivalentes;
A criação de grêmios estudantis, a partir da aprovação do documento, como espaço de participação e exercício da cidadania;
O compartilhamento da comunidade na gestão da escola, na eleição de diretores e vice-diretores, universalizando, conselhos e colegiados escolares no prazo de dois anos a contar da vigência do plano.
No que tange ao financiamento e gestão do PME busca-se a promoção da autonomia administrativa e pedagógica das escolas, ampliando, após o primeiro ano de aprovação do plano, a autonomia financeira pelo repasse mensal de recursos, diretamente às escolas, para pequenas despesas de manutenção e cumprimento de suas propostas pedagógicas. Contempla ainda, o fortalecimento do Conselho Municipal de Educação e assegura-se que todas as escolas contenham diretores formados em nível superior e vice-diretor, superior ou cursando, reforçando o processo de eleição dos dirigentes pela comunidade escolar.
Recorrendo aos aspectos legais que regem o fazer da escola foi realizado levantamento de fonte documental para análise das bases da Gestão Democrática do
educandário que pauta-se pelas diretrizes da Secretaria Municipal de Educação de Pirapora. Consta em seu regimento o Projeto de Gestão Democrática, fruto do PME, elaborado pela Secretaria como parte das metas e prioridades estabelecidas pela atual gestão.
Segundo o documento a fundamentação legal para o Projeto encontra-se na Constituição Brasileira de 1988, cap. II da Educação, art. 215, inciso V; na LDB 9394/96 Art. 14º e na Lei Municipal 1783/2005, que define:
[...]
Art. II- A afirmação da autonomia da escola;
Art. III- O exercício de práticas democráticas que possibilitem a participação de toda a comunidade escolar e a descentralização do poder;
§ 1º a atuação coletiva, crítica e consciente do docente e dos demais trabalhadores da educação buscada, participativamente, pelos seguintes órgãos:
a. Conselho Municipal de Acompanhamento e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de valorização do magistério;
b. Conselho Municipal da Educação c. Colegiado das Escolas
d. Direção Escolar e. Corpo Docente
§ 2º Os órgãos a que se refere o parágrafo anterior atuarão de maneira integrada, garantindo a participação de todos os segmentos direta ou indiretamente, tanto no planejamento quanto na execução do processo educacional e sua constante avaliação.
Diante do exposto, em janeiro de 2007 foi implantado o Projeto de Gestão Democrática pela Prefeitura Municipal de Pirapora com objetivo de efetivar a implantação dos Conselhos Escolares em todos os estabelecimentos de ensino da rede
municipal. A prefeitura reconhece, conforme registrado na apresentação do projeto, a Gestão Democrática como “instrumento eficaz para o funcionamento das Instituições de Ensino em sua reorganização, contribuindo para a democratização das relações de poder no âmbito escolar, garantindo o acesso às informações e o direito de participar das decisões e responsabilidades junto à direção da escola, visando à melhoria da qualidade da educação”.
De acordo com os registros constantes no Projeto de Gestão Democrática o mesmo foi implantado no Município de Pirapora considerando que a atual prática gestionária das escolas acaba exigindo dos diretores uma dedicação maior, e às vezes exclusiva, levando-os a aterem-se às questões administrativas, secundarizando as questões pedagógicas e propriamente educativas, aspecto relevante de suas atribuições.
Dessa forma, a Secretaria Municipal de Educação (SEMED), com a perspectiva de superar os atuais conflitos e melhorar a qualidade do trabalho, das relações entre os diversos segmentos e, fundamentalmente da qualidade do processo de ensino-aprendizagem, implantou o referido projeto que tem como objetivo geral:
Desenvolver um trabalho educacional único e solidário, tendo como essência a cooperação e fazendo-se cumprir a função específica da escola que é a formação do cidadão participativo, responsável, crítico e criativo.
Recorremos aos itens do projeto para ilustrar o caminho que a escola, e SMED, vêm tentando percorrer. Os objetivos específicos apontam a dimensão das questões a serem atingidas pelo município e unidades escolares:
Oportunizar a participação de representantes dos diversos segmentos da comunidade escolar nas decisões junto aos dirigentes da escola, atingindo os objetivos educacionais com mais eficácia;
Produzir e difundir materiais educativos que contribuam para a formação do diretor-articulador;
Viabilizar oportunidades para reflexão, compreensão e discussão das propostas educativas a serem concretizadas;
Garantir a participação da comunidade escolar na prática democrática de decisões, a fim de que assumam o papel de co-responsáveis no projeto educativo da escola;
Proporcionar aos alunos além do saber sistematizado, o efetivo exercício democrático de participação nas decisões da vida escolar;
Possibilitar ao diretor a liderança do processo educativo, reorganizando as funções que lhe compete uma responsabilidade diferenciada, de maneira a afirmar que, antes de ser um administrador, ele deve ser por excelência, um educador (Projeto de Gestão Democrática, 2007).
Outros pontos relevantes a serem abordados são a linhas de ações previstas no projeto. Em conformidade com o documento, algumas ações são previstas: oportunizar a capacitação de recursos humanos; viabilizar oportunidades de reflexão; compreensão e discussão sobre a citada proposta; capacitar diretores e especialistas direcionando o trabalho da gestão democrática; capacitar os conselheiros eleitos e estimular o desenvolvimento de oficinas e momentos de estudos do tema.
A produção e difusão do conhecimento em relação ao tema da gestão estão previstas por meio da promoção e divulgação da legislação do Conselho Escolar junto ao corpo docente, discente e a sociedade em geral, da elaboração e divulgação de materiais educativos baseados nos estudos e pesquisas relativos à prática de Gestão Democrática, bem como da realização de fóruns, seminários, encontros e outros eventos que possibilitem o intercâmbio de conhecimentos e práticas de Gestão Democrática. Por fim, como estratégias operacionais, a SME pretende viabilizar a aplicação da já mencionada proposta nas instituições de Ensino, iniciando com a sensibilização da comunidade e a eleição dos membros do conselho de acordo com o decreto nº. 04/2007 da Prefeitura Municipal de Pirapora, bem como com a elaboração de planos de trabalho em gestão democrática com periodicidade a ser decidida. O acompanhamento e a avaliação do projeto serão realizados pelo Conselho Escolar.
Conforme o exposto, o desafio de implantação da gestão democrática foi lançado de maneira a contemplar os entes federados, bem como suas estruturas de gestão
educacional; contudo, faz-se necessária a consolidação de estratégias exequíveis que venham sedimentar os textos legais apresentados. Com base no ordenamento jurídico as instituições políticas definiram diretrizes para o exercício democrático na Educação. Cabe aos atores educacionais criar mecanismos que reduzam a distância existente entre as políticas postuladas documentalmente e as ações executadas em prol da garantia da participação social.
CAPÍTULO IV - GESTÃO DEMOCRÁTICA: UMA
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
O capítulo em questão constitui um esforço para compreender como o princípio da Gestão Democrática, previsto na LDBEN, tem sido entendido a partir da visão dos atores educacionais que compõem o Conselho Escolar da escola municipal elencada como objeto de estudo da presente pesquisa. Para efeito didático, o capítulo foi dividido em quatro partes e utilizou como referencial de análise obras de autores, que discutem o tema da gestão, bem como os dados coletados por meio da investigação empírica realizada através de entrevista semi-estruturada e observação in loco da prática educativa da escola.
4.1. Gestão Democrática no contexto do Sistema Municipal de Ensino e da Escola: a visão dos representantes do Conselho Escolar
Nas últimas décadas tem ocorrido o crescimento de movimentos mundiais no sentido da descentralização da gestão educacional. As mudanças no contexto sócio-político que perpassam pelo âmbito escolar articulam-se com as mudanças ocorridas no modelo capitalista em voga. As transformações nos processos produtivos potencializaram novas formas de gerenciamento nas indústrias, promovendo maior participação dos trabalhadores a fim de se obter melhorias no desempenho econômico. Segundo Motta (1998):
Surgem conselhos de representantes, comitês de empresas, comissão de fábrica, etc. Embora essas formas de participação estejam frequentemente associadas à ideia de autonomia e de democratização das relações do trabalho, do ponto de vista administrativo elas desempenham um papel de mecanismo de ligação entre a base e a cúpula, além de agirem como mecanismo de coesão e formação de consenso (p.91).