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Tempo de Viver!

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Academic year: 2021

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Editorial

Tempo de Viver!

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Se perguntassem a uma criança qualquer o que entende por qualidade de vida, ela diria: a possibilidade e o tempo para brincar e para estar junto daqueles que amamos. Muito pouco e muito simples, mas certamente fundamental. (Izquierdo, I. 2002:17) É necessário hoje, como vivemos mais anos, termos, na realidade, mais tempo para ser nós mesmos. Não devemos permitir que fatos e fatores alheios à nossa vontade ocupem esse tempo [...] É necessário parar para pensar, amar e trocar ideias e sentimentos com os demais. Só assim seremos donos de nós mesmos.

(Idem:44)

(2)

empo de VIVER...Todos os tempos, da infância à velhice.

Viver com a alegria e no amor, sermos donos de nossa vida, nosso tempo, nossa história.

Este é um projeto de um viver e longeviver com qualidade, que não pode ser só idealizado - um modelo –, com normas e regras. Apropriar-se da vida, tomá-la

nas próprias mãos, como nos propõe Burkhard (2004)2.

Mas como fazer isso?

A autora, médica antroposófica,3 indica como caminho o trabalho biográfico de

autoconhecimento, que integra as sombras e luzes que nos constituem. Afirma que cada um de nós “traz dentro de si uma questão biográfica”, e lança a questão - você sabe qual é a sua pergunta? (idem:15)

Na sociedade atual temos tempo para responder a esta simples pergunta? Para a criança pequena a pergunta não se impõe, porque nessa fase do desenvolvimento ela quer brincar, sentir-se amada e protegida. Mas, já na adolescência, as perguntas “O que vou ser? O que quero ser? Qual caminho seguir?” se colocam conscientemente para uns, ou de modo aparentemente inconsciente para outros, por meio da rebeldia e recusa dos modelos socialmente impostos. Demonstram nesses casos o que “não quero ser”.

Mas buscam ser amados, aceitos, protegidos mesmo, e talvez de modo mais acentuado, aqueles com comportamentos ditos “problemáticos”, que recusam aparentemente a aproximação.

Assim, ao longo da vida, todos querem brincar, real e metaforicamente, amar e ser amados, e sempre proteger e ser protegidos.

E, na angústia de afirmação do ser, a vida passa e chega a velhice, sem saber a pergunta, mas ainda a buscar respostas.

Esta é a questão de fundo desta edição da Revista Portal de Divulgação, do mês de setembro. O que nos fez chegar a ela foi igualmente uma pergunta da Editoria: qual a pergunta que os autores que conosco colaboram buscam responder por meio de seus trabalhos, que aqui se mostram como indícios? Respostas? Não temos, mas sim mais perguntas...

2 Burkhard, G. Tomar a vida nas próprias mãos (2004). Antroposófica, São Paulo.

3

Antroposofia significa “sabedoria acerca do ser humano”, e considera o homem com entidade integrada aos reinos mineral, animal e ao próprio Cosmo. Um de seus pressupostos é que as organizações, formadas basicamente por indivíduos, são também entidades vivas, com pensamentos, sentimentos, vontade e pessoas, que têm a possibilidade de crescer, desenvolver-se e realizar seus potenciais. Essa “ciência humanística” foi elaborada por Rudolf Steiner, cientista, pensador e educador austríaco, que faleceu em 1925. Aponta para uma visão integrada entre o ser humano e a natureza; com a família (o povo) e amigos; com o mundo espiritual (nota de Brandão, V.).

(3)

Convidamos nossos colaboradores e leitores a responder: Qual é a sua pergunta?

Alegrias são dádivas do destino Que comprovam seu valor no presente. Pesares, ao contrário, são fontes de conhecimento Cujo significado se revela no futuro.

Rudolf Steiner4

Na edição nº 36 há assuntos temáticos e modos de apresentação variados: artigos; relato de experiência; reflexões; entrevista e crônica. Em cada um deles o interesse no tema envelhecimento e longevidade em suas muitas faces.

O cuidado preventivo surge em Avaliação da percepção da saúde bucal e qualidade de vida de idosos do Projeto de Extensão da Universidade Católica de Brasília (UCB) - Centro de Convivência de Idosos (CCI), a partir da utilização do instrumento GOHAI, reflexão teórico-prática fundamental na área de odontogeriatria, que afeta a saúde em geral, a autoestima e o bem-estar. O mesmo bem-estar e a mesma autoestima influenciados por fatores sociais e econômicos, como indica o artigo Envelhecimento, trajetória profissional e aposentadoria.

Quem é o aposentado? Quem está por trás desse nome genérico que se impõe como “carimbo” de exclusão? Novamente, uma abordagem complementar teórico-prática indica possibilidades de revalorização social desses sujeitos, por meio de uma atividade que uniu reflexão e lazer.

A perspectiva de exclusão, socialmente imposta, levaria à solidão, passo inicial para a grave depressão na velhice. A solidão, de certo modo, faz parte de nossa vida: nascemos sós e morremos sós, mesmo que cercados, nos dois extremos, de carinho e afeto.

A solidão se justifica nos extremos como experiência única, vivida corporal, psicológica e existencialmente apenas pelo indivíduo. A solidão pode ser criativa e apaziguadora, se vivida como momentos de reflexão sobre o sentido da vida, especialmente em idades mais avançadas.

Mas para muitos ela deve ser evitada a todo custo, mesmo quando o “remédio” seja amargo e mesmo doloroso, como indica Solidão na velhice: a culpa é do gato.

O artigo Envelhecimento e saúde pública no Brasil indica uma das questões a serem resolvidas no contexto social do envelhecimento populacional. Outra

4 Extraído da obra Poemas, pensamentos (coletânea de vários autores) (1998). 2ª ed.

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solidão, vivida como “ausência” de parâmetros internos que balizam a vida em grupo - os doentes mentais que envelhecem, sem suporte para eles e sua família. Afirmam as autoras, após revisão histórica no Brasil:

Há indícios do despreparo dos profissionais, do sistema de saúde e da sociedade para lidar com os idosos e para lidar com doentes mentais. Os programas existentes ainda são poucos e deficientes, para atender à atual demanda, mas com o investimento necessário auxiliariam essa missão sem precedentes.

Envelhecimento e doença mental é igualmente o tema do artigo Impactos da institucionalização na saúde mental do idoso, abordada em perspectiva complementar. Unindo reflexões teóricas e pesquisa de campo em duas ILPIs, de cidades do interior paulista, os autores indicam a reflexão resultante do estudo. Afirmam:

Na discussão, o trabalho demonstra que a institucionalização tem efeitos danosos para o idoso em sua saúde mental, e a partir disto propõe uma perspectiva multidisciplinar do processo.

A institucionalização é considerada, por muitos pesquisadores, como possibilidade futura real para a sociedade com crescente número de idosos, que convive com mudanças no perfil das famílias e esgarçamento de vínculos afetivos, que poderiam garantir longeviver no ambiente familiar, com cuidado e respeito.

No entanto, restam ainda vários preconceitos em relação a ela, e uma transformação da realidade será possível somente com políticas públicas adequadas, profissionais capacitados e oferecimento de formas alternativas no cuidar, como centros-dia ou suporte para cuidar em domicílio. Assim, ainda prevalece o conceito de instituição como abandono e prisão, conforme as palavras ditas por uma senhora participante deste estudo:

Aqui parece uma clínica, mas não é clínica. É assim [...] pode-se dizer que ao mesmo tempo em que eles atendem, eles prendem [...] porque tem uns aí que já tão assim. [...] aí tem de prender, né? É uma clínica em forma de prisão (risos).

Um dos graves quadros decorrentes do envelhecimento, e que exige um cuidar intensivo, sem possibilidade de cura, é a doença de Alzheimer. Com seu avanço, o indivíduo vai “se perdendo de si”, e não existe mais para ele a possibilidade de resposta para: qual é a minha pergunta? Pois não pode mais responder ao “quem sou?”.

O cuidado em domicilio é desgastante e oneroso para os familiares. Os que podem contratar cuidadores não encontram profissionais adequadamente capacitados e sensíveis, e em grande parte das ILPIs o cuidado resume-se a higiene, medicação e alimentação.

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O relato de experiência Memória musical na demência tipo Alzheimer apresenta abordagem adequada e simples, a ser utilizada por cuidadores formais e informais. No relato evidenciam-se a criatividade do profissional e seu envolvimento com o cuidar, que sai da zona de conforto do saber específico, em busca de atividades integrativas de atuação, com resultados surpreendentes.

Duas instigantes reflexões completam o percurso com temas relevantes: Ortotanásia: humanização da dor, que aborda uma das mais angustiantes temas existenciais do ser humano - a finitude; e O que ficou calado, mas deve ser lembrado... que fala do silêncio como morte em vida, e a necessidade de responder a outra pergunta que fazemos a cada nova tragédia: por quê?

A entrevista José Luiz Ribeiro: 50 anos de teatro, apresenta outra realidade, uma das muitas faces do envelhecimento, e nos desvela uma figura dinâmica, como indicam as palavras iniciais:

São 71 anos de vida, 47 anos do Grupo Divulgação, mais de 200 espetáculos, uma mulher e 2 filhos. E um núcleo de teatro da terceira idade que existe há 18 anos (“muito mais de idosas, os homens não as enfrentam”). Esse é José Luiz Ribeiro, autor, ator e diretor (e professor), de Juiz de Fora, Minas Gerais.

Finalizamos com a sensível crônicaOvo que retoma, metaforicamente, ao tema

inicial: qual é a minha pergunta?

a função maior de um ovo é gerar. no caso desse encontro novo, palavra que não por acaso

contém ovo dentro de si. Você sabe qual é a sua pergunta?

Boa leitura...!

Beltrina Côrte Vera Brandão Editoras

Referências

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