MESTRADO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
POLÍTICAS DE COPYRIGHT DE
PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS EM
REPOSITÓRIOS INSTITUCIONAIS:
O CASO DO INESC TEC
Soraia Teixeira Ramos
M
2019
UNIDADES ORGÂNICAS ENVOLVIDAS
FACULDADE DE ENGENHARIA
FACULDADE DE LETRAS
ii
iii
Políticas de copyright de publicações científicas em
repositórios institucionais: o caso do INESC TEC
Soraia Teixeira Ramos
Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Ciência da Informação, orientada
pelo Professor Doutor Gabriel David da Faculdade de Engenharia da Universidade do
Porto e pela Professora Doutora Maria Manuel Borges da Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra
Membros do Júri:
Presidente: Professor Doutor António Lucas Soares
Professor Associado da Faculdade de Engenharia da Universidade do
Porto
Coorientadora: Professora Doutora Maria Manuel Broges
Professora Associada da Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra
Arguente: Professora Doutora Maria Cristina Gonçalves Guardado
Professora Adjunta da Universidade de Aveiro
Faculdade de Engenharia e Faculdade de Letras
Universidade do Porto
iv
v
“Science is not finished until it's communicated”
Mark Walport
vi
vii
Agradecimentos
Dada por finalizada esta trajetória traçada por inúmeros desafios, não poderia deixar de
agradecer aos que muito contribuíram para que conseguisse trilhar este percurso:
Aos meus Pais, com um P maiúsculo, que me ensinaram o verdadeiro sentido da vida, que
trabalharam dias a fio para que conseguisse chegar onde cheguei, nunca serão finitas as
palavras de agradecimento que terei para lhes dar. À minha irmã, a quem espero que todo este
trabalho sirva de incentivo para concluir a etapa que lhe falta no seu percurso.
Ao Professor Doutor Gabriel David e à Professora Doutora Maria Manuel Borges que no seu
papel de orientadores me acompanharam e estímularam nesta investigação, onde pude contar
sempre com todo o apoio necessário para que conseguisse concluir este estudo.
Não poderia deixar de reservar uma palavra de reconhecimento à minha colega de trabalho, Dra.
Isabel Macedo, por todas as suas palavras de incentivo e pela sua sempre pronta ajuda. Se há
alguém que faz valer a palavra de coleguismo é, sem dúvida, a Isabel.
Aos restantes colaboradores do INESC TEC, em especial à Mafalda, ao Fábio e à Rita, aqueles
que mais contribuíram com o seu apoio diário para a realização deste trabalho.
À minha família, amigos e colegas que estiveram sempre presentes, que acreditaram e me
fizeram acreditar quando faltava motivação. Em especial à Ana Catarina que prescindiu do seu
tempo para toda uma revisão minuciosa a esta dissertação.
A todos os que, de algum modo, passaram pela minha vida durante estes cinco anos, tivessem
eles decidido permanecer ou não, o meu obrigada por me ensinarem que a plenitude da vida é
alcançada por aqueles que por ela lutam.
viii
ix
Resumo
A progressiva transformação das práticas científicas, impulsionada pelo
desenvolvimento das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), tem possibilitado
aumentar o acesso à informação, caminhando gradualmente para uma abertura do ciclo de
pesquisa. Isto permitirá resolver a longo prazo uma adversidade que se tem colocado aos
investigadores, que passa pela existência de barreiras que limitam as condições de acesso,
sejam estas geográficas ou financeiras.
Apesar da produção científica ser dominada, maioritariamente, por grandes editoras
comerciais, estando sujeita às regras por estas impostas, o Movimento do Acesso Aberto cuja
primeira declaração pública, a Declaração de Budapeste (BOAI), é de 2002, vem propor
alterações significativas que beneficiam os autores e os leitores. Este Movimento vem a ganhar
importância em Portugal desde 2003, com a constituição do primeiro repositório institucional a
nível nacional. Os repositórios institucionais surgiram como uma ferramenta de divulgação da
produção científica de uma instituição, com o intuito de permitir abrir aos resultados da
investigação, quer antes da publicação e do próprio processo de arbitragem (preprint), quer
depois (postprint), e, consequentemente, aumentar a visibilidade do trabalho desenvolvido por
um investigador e a respetiva instituição.
O estudo apresentado, que passou por uma análise das políticas de copyright das
publicações científicas mais relevantes do INESC TEC, permitiu não só perceber que as editoras
adotam cada vez mais políticas que possibilitam o auto-arquivo das publicações em repositórios
institucionais, como também que existe todo um trabalho de sensibilização a percorrer, não só
para os investigadores, como para a instituição e toda a sociedade. A produção de um conjunto
de recomendações, que passam pela implementação de uma política institucional que incentive
o auto-arquivo das publicações desenvolvidas no âmbito institucional no repositório, serve como
mote para uma maior valorização da produção científica do INESC TEC.
Palavras-chave: Acesso Aberto, Acesso Fechado, repositório institucional, publicação científica,
x
xi
Abstract
The progressive transformation of scientific practices, driven by the development of
new Information and Communication Technologies (ICT), which made it possible to increase
access to information, gradually moving towards an opening of the research cycle. This opening
makes it possible to resolve, in the long term, the adversity that has been placed on researchers,
which involves the existence of barriers that limit access conditions, whether geographical or
financial.
Although large commercial publishers predominantly dominate scientific production
and subject it to the rules imposed by them, the Open Access movement whose first public
declaration, the Budapest Declaration (BOAI), was in 2002, proposes significant changes that
benefit the authors and the readers. This Movement has gained importance in Portugal since
2003, with the constitution of the first institutional repository at the national level. Institutional
repositories have emerged as a tool for disseminating the scientific production of an institution to
open the results of the research, both before publication and the preprint process and postprint,
increase the visibility of work done by an investigator and his or her institution.
The present study, which underwent an analysis of the copyright policies of INESC TEC
most relevant scientific publications, allowed not only to realize that publishers are increasingly
adopting policies that make it possible to self-archive publications in institutional repositories, all
the work of raising awareness, not only for researchers but also for the institution and the whole
society. The production of a set of recommendations, which go through the implementation of an
institutional policy that encourages the self-archiving of the publications developed in the
institutional scope in the repository, serves as a motto for a greater appreciation of the scientific
production of INESC TEC.
Key-words: Open Access, Close Access, institutional repository, scientific publication,
xiii
Sumário
Agradecimentos ... vii
Resumo ... ix
Abstract ... xi
Sumário ... xiii
Lista de Figuras ... xv
Lista de Gráficos ... xvii
Lista de Tabelas ... xix
Lista de Acrónimos e Siglas ... xxi
Introdução ... 1
Contexto e Motivação ... 1
Problemática ... 2
Objetivos e resultados esperados ... 2
Estrutura da dissertação ... 4
Abordagem metodológica ... 6
Capítulo 1.
O Acesso Aberto ... 9
1.1.
Políticas de Acesso Aberto: os 3 B’s (Budapeste, Bethesda e Berlim) ... 15
1.2.
O contexto europeu ... 17
1.3.
O contexto nacional ... 20
Capítulo 2.
O contributo dos repositórios ... 25
2.1.
Repositórios institucionais ... 27
2.2.
A situação na Europa ... 29
2.3.
A situação em Portugal ... 32
Capítulo 3.
Evolução do conceito de copyright ... 39
3.1.
O copyright no passado e no presente ... 41
3.2.
Licenças Creative Commons ... 45
Capítulo 4.
Estudo de Caso ... 51
4.1.
Políticas de copyright e auto-arquivo ... 53
4.1.1.
Via Verde ... 57
Sumário
xiv
4.1.2. Via Dourada ... 61
4.1.3.
Conjugação de vias ... 62
4.1.4.
Custos de Acesso ... 64
4.2.
Recolha e análise de dados ... 65
4.2.1. Aplicação da lei de Bradford ... 67
4.2.1.1. Análise das políticas de copyright das publicações científicas do INESC TEC . 70
4.2.2. A atitude dos investigadores face ao Auto-Arquivo no repositório institucional ... 72
4.2.2.1. A atitude dos investigadores face ao depósito em Acesso Aberto ... 75
4.2.2.1.1. Categorização por áreas científicas do INESC TEC ... 78
4.3.
Produção de recomendações de apoio à publicação ... 80
Considerações finais ... 83
Referências Bibliográficas ... 87
Anexos ... 95
Anexo I. Listagem de repositórios agregados no RCAAP, por ano de criação. ... 95
Anexo II. Listagem de repositórios a nível nacional, por tipo e por software (Dados extraídos
do OpenDOAR). ... 97
Anexo III. Instituições com políticas de Acesso Aberto registadas no ROARMAP, em
Portugal. ... 100
Apêndices ... 101
Apêndice A. Aplicação da Lei de Bradford a revistas ... 101
Apêndice B. Aplicação da Lei de Bradford a conferências ... 104
Apêndice C. Tipologia documental de publicações presente no repositório institucional do
INESC TEC. ... 109
Apêndice D. Lista total de publicações ... 110
Apêndice E. Análise das políticas de copyright das revistas selecionados, segundo a lei de
Bradford. ... 449
Apêndice F. Análise das políticas de copyright das conferências selecionados, segundo a lei
de Bradford ... 450
xv
Lista de Figuras
Figura 1 - Árvore de objetivos. ... 4
Figura 2 - Facetas da Open Science. ... 14
Figura 3 - Fundamentos da Open Science para a Pesquisa e a Inovação. ... 15
Figura 4 - Evolução do repositórios institucionais em Portugal, agregados no RCAAP. ... 35
Figura 5 - Licenças em Três Camadas ... 46
Figura 6 - Níveis das licenças Creative Commons. ... 47
Figura 7 - Estrutura organizacional INESC TEC ... 51
Figura 8 - Localização dos pólos INESC TEC em Portugal. ... 52
Figura 9 - Etapas a seguir pelo autor para publicação. ... 56
Figura 10 - Repartição dos custos associados aos modelos de negócio do sistema de publicação.
... 64
xvii
Lista de Gráficos
Gráfico 1 - Crescimento do número de repositórios a nível mundial. ... 31
Gráfico 2 - Crescimento dos depósitos em repositórios, a nível mundial ... 31
Gráfico 3 - Evolução dos doutorados em Portugal, de 1967 a 2012. ... 32
Gráfico 4 - Evolução dos repositórios em Acesso Aberto em Portugal ... 36
Gráfico 5 - Evolução dos repositórios em Acesso Aberto em Portugal. ... 37
Gráfico 6 - Políticas de depósito em Acesso Aberto obrigatório em repositórios institucionais na
Europa, por trimestre. ... 54
Gráfico 7 - Crescimento das políticas de Acesso Aberto em Portugal. ... 55
Gráfico 8 - Evolução das publicações INESC TEC, por tipo de publicação (2013-2018) ... 66
Gráfico 9 - Políticas de copyright dos títulos em análise, segundo a aplicação da lei de Bradford.
... 71
Gráfico 10 - Políticas de copyright das conferências em análise, segundo a aplicação da lei de
Bradford. ... 72
Gráfico 11 - Publicações arquivadas no repositório institucional do INESC TEC. ... 73
Gráfico 12 - Política de copyright das editoras/sociedades científcas das publicações em análise.
... 74
Gráfico 13 - Publicações depositadas no repositório institucional do INESC TEC, por tipo de
acesso. ... 75
Gráfico 14 - Publicações arquivadas no repositório institucional do INESC TEC, por tipo de
acesso e por tipo de publicação. ... 76
Gráfico 15 - Análise das publicações em revistas que se encontram em Acesso Fechado no
repositório institucional do INESC TEC. ... 77
Gráfico 16 - Percentagem de publicações depositadas no repositório institucional do INESC
TEC, por área científica (2013-2018) ... 79
Gráfico 17 – Percentagem de publicações em Revistas e em Conferências por tipo de Acesso e
por áreas científicas do INESC TEC. ... 80
Gráfico 18 - Aplicação da lei de Bradford às revistas. ... 101
xix
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Estado dos repositórios institucionais em Portugal, em 2008. ... 33
Tabela 2 - Licenças Creative Commons (CC). Adaptado de Creative Commons Portugal. ... 48
Tabela 3 - Número de publicações INESC TEC (2013-2018) ... 66
Tabela 4 - Aplicação da Lei de Bradford às revistas científicas. ... 68
Tabela 5 - Aplicação da Lei de Bradford às conferências. ... 69
Tabela 6 - Política das editoras/sociedades científicas das revistas e conferências em análise
... 74
xxi
Lista de Acrónimos e Siglas
AA – Acesso Aberto
APC - Article Processing Charge
ARL - Association of Research Libraries
BOAI - Budapest Open Access Initiative
CA – Ciência Aberta
CC- Creative Commons
CC BY - Creative Commons Attribution License
CC BY ND - Creative Commons Attribution-No Derivative Works
CC BY NC - Creative Commons Attribution-Noncommercial
CC BY NC SA - Creative Commons Attribution-Noncommercial Share Alike
CC BY NC ND - Creative Commons Attribution-Noncommercial-No-Derivatives
CC BY SA- Creative Commons Attribution-Share Alike
CC0 – Public Domain
CDA - Códigos dos Direitos de Autor
CE – Comissão Europeia
CRUP – Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas
CTA - Copyright Transfer Agreement
DRIVER - Digital Repository Infrastructure Vision for European Research
DRM – Digital Rights Management
EEE - Espaço Económico Europeu
ERC - European Research Council
ERIC - Educational Resources Information Centre
H2020 – Horizonte 2020
IES – Instituições de Ensino Superior
INESC TEC- Instituto de Engenharia de Sistema e Computadores, Tecnologia e Ciência
NCBI - National Center for Biotechnology Information
NIH - National Institutes of Health
OA- Open Access
OAI - Open Archives Initiative
Lista de Acrónimos e Siglas
xxii
OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
OpenDOAR – Directory of Open Access Repositories
PLoS – Public Library of Science
RCAAP – Repositório Científico de Acesso Aberto em Portugal
RI – Repositório Institucional
ROAR - Registry of Open Access Repositories
ROI – Return on Investment
ROARMAP - Registry of Open Access Repositories Mandates and Policies
RoMEO - Rights Metadata for Open Archivin
SaaS - Software as a Service
SARC - Serviço de Alojamento de Revistas Científicas
SARI – Serviço de Alojamento de Repositórios institucionais
SC – Science Commons
SHERPA - Securing a Hybrid Environment for Research Preservation and Access
SPARC - Scholarly Publishing and Academic Resources Coalition
TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação
TRIPS -Trade-Related Aspects of Intelectual Property Rights
UE – União Europeia
1
Introdução
Contexto e Motivação
O desenvolvimento do Acesso Aberto em Portugal foi impulsionado pelas Instituições de
Ensino Superior (IES) que promoveram o acesso à produção científica através da implementação
de repositórios institucionais. Estas ações iniciaram-se em 2003 quando a Universidade do
Minho (UM) criou o primeiro repositório a nível nacional, seguindo-se, em 2005, a criação da
primeira plataforma que agrega revistas de livre acesso em Portugal – SciELO. A partir deste
momento foram surgindo inúmeras iniciativas semelhantes, alargando a criação dos repositórios
não só às IES, mas a outras instituições, contando, atualmente, com 61 repositórios institucionais
a nível nacional
1.
Neste contexto, o tema desta dissertação, intitulada “Políticas de copyright de
publicações científicas em repositórios institucionais: o caso do INESC TEC”, centra-se no
estudo comparativo das políticas de acesso às publicações por parte das principais editoras
presentes na produção científica agregada no repositório institucional do INESC TEC, das
políticas públicas e das agências financiadoras na área das publicações científicas.
Sendo o INESC TEC – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia
e Ciência – “uma instituição criada para constituir uma interface entre o mundo académico e o
mundo empresarial da indústria e dos serviços, bem como a administração pública, no âmbito
das tecnologias de informação, telecomunicações e eletrónica, dedicando-se a atividades de
investigação científica e desenvolvimento tecnológico, transferência de tecnologia, consultoria e
formação avançada” (INESC TEC 2017), a sua produção científica contém uma tipologia
documental diversa, desde artigos em revista e em conferência até livros e relatórios técnicos. O
seu repositório, um projeto desenvolvido no ano de 2016 e aberto oficialmente ao público em
2018, espelha essa diversidade.
1
Dados
extraídos
do
ROAR,
em
janeiro
de
2019.
Disponível
em
WWW:
http://roar.eprints.org/cgi/roar_search/advanced?location_country=pt&software=&type=&order=-
Introdução
2
Enquadramento do Projeto
Problemática
Para que fosse possível proceder à realização da presente dissertação foi necessário
entender o problema que se encontrava na génese do tema. Este, identificado de imediato,
decorre da ausência de uma base orientadora consistente que auxilie os investigadores no ato
de publicação dos resultados oriundos das suas pesquisas.
As orientações recebidas pelos investigadores relativamente à forma de publicarem os
resultados obtidos pelos seus trabalhos têm, atualmente, várias origens - financiadores,
empregadores, entre outras partes interessadas – o que dificulta a sua atuação. Deste modo,
este problema é transversal a todos os investigadores, não apenas aos investigadores do INESC
TEC, e merece uma urgente atenção, uma vez que, para que a ciência avance e sejam
alcançados progressos, os investigadores não podem deixar de publicar os resultados
alcançados através das suas pesquisas.
Para além disto, constatou-se ainda uma enorme dificuldade na obtenção de dados
precisos, seja por parte do investigador ou da própria instituição, através dos mecanismos
agregadores existentes adotados pela mesma. É caso do Authenticus
2, que arquiva publicações
indexadas por bases de dados de referência e agrega informações sobre publicações a partir de
diversas fontes como a Scopus, Web of Science, DBLP, ORCID e CrossRef, informações estas
nem sempre coincidentes.
Objetivos e resultados esperados
Os objetivos que fundamentam a realização deste estudo são diversos. Contudo, aquele
que se encontra na base de todos eles passa pela elaboração de um estudo comparativo das
políticas de copyright das publicações científicas do INESC TEC, que nos permitirá analisar as
políticas adotadas pelos vários títulos onde os investigadores publicam.
Através da identificação das publicações mais significativas dos investigadores do
INESC TEC presentes na Web of Science, na Scopus e no seu próprio repositório institucional,
bem como de uma posterior análise das suas políticas de copyright, comparativamente com a
2
O Authentichus (https://www.authenticus.pt/) - Autenticação de publicações científicas da autoria de
investigadores de instituições portuguesas - é uma plataforma que permite associar os autores às suas
publicações científicas, servindo, posteriormente, como mote para a crianção de um repositóio nacional de
publicações científicas (Authenticus 2019).
3
situação atual de acesso ao repositório, serão, como resultado do principal objetivo, produzidas
recomendações para apoiar os investigadores, tendo em conta as orientações da política
científica nacional, de forma a criar uma base sustentada para apoio à publicação. A produção
de recomendações para a publicação, bem como toda a análise comparativa que será realizada
ao longo da presente dissertação, constituirá uma oportunidade, não só para investigadores
como para instituições, de modo a entenderem todas as opções que lhes são disponibilizadas
no ato de publicação. Desta forma será facilitado e acelerado todo o processo de publicação e,
consequentemente, possibilitada a melhoria do seu impacto na ciência, através da
disponibilização das suas pesquisas, sendo que para os investigadores isso significa uma
evolução na carreira, e para as instituições, uma posição num ranking.
A fim de garantir que este objetivo principal é alcançado, existem várias tarefas a ser
cumpridas, todas elas associadas a objetivos específicos traduzidos na árvore de objetivos da
Figura 1. Assim, é necessário num primeiro nível realizar uma avaliação do acervo documental
agregado no repositório institucional do INESC TEC. Num segundo nível, e recaindo sobre este
último objetivo descrito, será necessária uma identificação dos canais de publicação, a fim de
garantir um conhecimento mais amplo da realidade da instituição. Ainda neste nível, um dos
objetivos preconizados passa pela identificação das publicações que se encontram em Acesso
Aberto e Fechado no repositório da instituição, que nos permitirá perceber aquilo que deveria
estar em Acesso Aberto e não está, através da realização de uma análise que cubra a produção
científica mais relevante do INESC TEC. Tudo isto traduzir-se-á, já num terceiro nível, num
levantamento e análise das políticas de copyright das publicações científicas do INESC TEC e,
adicionalmente, de uma segmentação das práticas de acesso por áreas de investigação no
âmbito da instituição.
Introdução
4
Todo o conjunto de objetivos, gerais e específicos, contribui para alcançar o principal
objetivo que serviu como mote à realização desta dissertação: o estudo comparativo das políticas
de copyright das publicações científicas, a partir do qual serão, consequentemente, produzidas
recomendações orientadoras para os investigadores das diversas áreas do INESC TEC.
Estrutura da dissertação
A fim de garantir uma estrutura organizada dos conteúdos abordados, a presente
dissertação apresenta uma estrutura composta por quatro capítulos distintos, além da
Introdução, Conclusão, referências bibliográficas, anexos e apêndices.
Figura 1 - Árvore de objetivos.
Fonte: elaboração própria
Estudo comparativo das políticas
de copyright das publicações
científicas do INESC TEC
Análise das políticas de copyright das publicações científicas do INESC TEC
Segmentação das práticas de Acesso Aberto, por área de investigação
Identificação dos principais canais de
publicação do INESC TEC encontram em Acesso Aberto e Acesso Fechado Identificação das publicações científicas que se no repositório institucional do INESC TEC
Avaliação do acervo documental do repositório institucional do INESC TEC
Co ntr ib u i Co ntr ib u i Co ntr ib u i Co ntribui Contribu i
5
Para que fosse possível entender o contexto do tema da dissertação foi necessária a
realização de uma revisão da literatura extensa, devido à complexidade do tema abordado. Esta
foi estruturada em três capítulos distintos, cada um deles com diferentes tópicos a abordar. Estes
tópicos agregam um conjunto de subtemas diretamente relacionados ao tema a desenvolver,
permitindo não só fazer uma contextualização do mesmo, como entender a problemática em
questão. Na elaboração desta etapa inicial, procurou-se não só introduzir alguns conceitos
essenciais para a compreensão da temática a abordar, tais como Acesso Aberto, copyright e
repositórios institucionais, mas também fazer uma contextualização histórica que permitisse
compreender a necessidade de desenvolver o tema.
Deste modo, no primeiro capítulo é abordada a questão do Acesso Aberto
considerando-o essencial à luz dconsiderando-o tema em questãconsiderando-o. Vistconsiderando-o que a dissertaçãconsiderando-o envconsiderando-olve as pconsiderando-olíticas de acessconsiderando-o às
publicações científicas, faria todo o sentido perceber a essência das práticas disciplinares
adotadas na atualidade, onde marcos como as convenções de Bethesda, Berlim e Budapeste
não poderiam deixar de ser referidos, onde o auto-arquivo foi tomado, finalmente, como uma das
medidas obrigatórias a realizar, promovendo assim uma abertura do ciclo de pesquisa,
fomentando a partilha do conhecimento. Adicionalmente, foram ainda desenvolvidos dois
subtópicos que delimitaram o espaço geográfico a nível europeu e num contexto nacional. Com
o desenvolvimento destes subtemas pretende-se entender as ações concretizadas ao longo do
tempo para promover uma abertura do ciclo de pesquisa não só a nível europeu, como a nível
nacional, no qual Portugal se tem distinguido pela política inovadora que apresenta relativamente
ao Acesso Aberto.
Como consequência do Acesso Aberto surge o desenvolvimento progressivo dos
repositórios, abordado então no segundo capítulo. Estes repositórios, distinguidos entre
repositórios temáticos e institucionais, vieram permitir, através da World Wide Web (WWW),
iniciar uma nova forma de divulgação mais acessível e mais rápida. No âmbito do tema em
desenvolvimento, através de um subtópico, acaba-se por dar maior enfoque aos repositórios
institucionais, referindo-se o papel do Directory of Open Access Repositories (OpenDOAR) e do
Registry of Open Access Repositories (ROAR) a nível europeu e do Repositório Científico de
Acesso Aberto em Portugal (RCAAP) e da Univerdiade do Minho (UM) a nível nacional,
salientando a sua importância para o desenvolvimento de inúmeros repositórios institucionais.
Esta abordagem teve de ser complementada por questões ligadas aos direitos de autor,
uma vez que na abertura do acesso às publicações científicas, a legislação sobre os direitos de
autor acaba por desempenhar um papel extremamente relevante, garantindo a “proteção dos
autores e dos outros criadores de obras intelectuais ou, por outras palavras, protege o trabalho
do espírito” e assegurando, simultaneamente, a criação de obras originais (UNESCO 1981). O
esforço para que os autores manifestassem o seu consentimento ao Acesso Aberto foi traduzido
através das licenças Creative Commons, abordadas como subtópico deste capítulo,
apresentando-as como uma solução eficaz para os autores, e garantindo, através de alguns
direitos, não só a proteção como a liberdade. Integrado nestas licenças, surgem as licenças
Introdução
6
Science Commons que acabaram por incluir as instituições às quais os investigadores estão
ligados e que apresentam um papel extremamente importante no ato de publicação. Através do
foco nos problemas advindos da comunidade científica como artigos inacessíveis e ferramentas
bloqueadas, este projeto pretendeu criar estratégias em três espaços distintos: a publicação
(coberta pelos direitos autorais), o licenciamento (coberto pelas patentes) e os dados.
No quarto e último capítulo é concretizado o estudo de caso onde, após uma breve
contextualização da instituição em estudo, serão apresentadas as políticas de copyright
existentes, que servirão como mote para a posterior análise da produção científica do INESC
TEC. Esta análise, onde será aplicada a lei de Bradford, permitir-nos-à perceber a atitude dos
investigadores da instituição face ao Acesso Aberto que, conforme as conclusões retiradas,
servirão como base à produção de recomendações para apoio à publicação para os mesmos.
Abordagem metodológica
No momento de início de qualquer projeto a definição das abordagens e metodologias a
utilizar é um marco fundamental para garantir que o trajeto necessário para atingir os objetivos é
realizado, assegurando o equilíbrio do mesmo. As abordagens e metodologias, que permitem
descodificar os fundamentos teóricos que se encontram por trás dos métodos, são, portanto, o
conjunto de procedimentos e ferramentas adotados no processo de investigação que ajudam,
posteriormente, à tomada de decisão.
No desenvolvimento desta dissertação será adotada uma abordagem mista, ou seja, a
conjugação de uma abordagem quantitativa, conjuntamente com uma abordagem qualitativa.
No âmbito da abordagem qualitativa, isto é, “any type of research that produces findings
not arrived at by statistical procedures or other means of quantification” que permitirá “taking one
piece of data and comparing it with all others that may be similar or different pieces of data”
(Strauss e Corbin 1998, 10; Pickard 2013, 269), para além da revisão da literatura, será utilizado
o estudo de caso, através da pesquisa exploratória. Esta tem como objetivo familiarizar o
investigador com o caso de estudo e permitirá realizar uma investigação preliminar, melhorando
a compreensão dos temas a tratar durante a elaboração da dissertação. Apesar do Acesso
Aberto ser um tema extremamente atual e que se econtra a ser implementado a nível mundial,
através da pesquisa exploratória objetiva-se que sejam criadas as condições necessárias para
que tanto os investigadores, como as próprias instituições percebam a importância de tornar o
AA uma obrigatoriedade institucional.
A abordagem quantitativa assenta na aplicação da lei de Bradford aos títulos onde os
investigadores publicam que possibilitou, posteriormente, reduzir a amostra e selecionar os
títulos mais relevantes. Após a identificação destes títulos fez-se o mapeamento dos mesmos
7
com recurso à base de dados SHERPA/RoMEO, que permitiu verificar as políticas de copyright
associadas às publicações científicas da instituição e, através da uma análise ao tipo de acesso
às publicações do repositorio institucional do INESC TEC, perceber a atitude dos investigadores
face ao AA..
9
Capítulo 1.
O Acesso Aberto
O Acesso Aberto
A partilha da informação estabeleceu desde cedo um legado radicado na comunicação
científica. O período de intensa transformação que se ultrapassava, intitulado pelo período do
‘Iluminismo’, que tinha como objetivo desafiar as ideologias baseadas na tradição e disseminar
o conhecimento, preconizou, em meados do século XVII, o lançamento das primeiras revistas
científicas: o Journal des Sçavan, na Europa e a Philosophical Transactions of the Royal Society
(Phil Trans)
3, na Inglaterra. Apesar destes desenvolvimentos terem na sua origem o mesmo
período de tempo do emergente sistema de copyright, desenvolveram uma relação problemática,
uma vez que o sucesso inicial de ambos os periódicos se deveu à presença de cópias piratas
que foram amplamente usadas e distribuídas na França e na Inglaterra (Borges 2006, 18–25;
Scheufen 2015, 57–58).
Durante muito tempo os direitos autorais não desempenharam um papel muito ativo
na relação entre editores e autores, apesar da iniciativa do Phil Trans para alentar os autores à
proteção da propriedade intelectual das suas obras. Contudo, o licenciamento tornou-se a
estrutura comum aquando da definição de regras, que apenas se evidenciaram com o
aparecimento das editoras no mercado nos anos 60 e 70 do século XX. Desde então, com o
aparecimento das primeiras revistas científicas, observou-se um aumento do número de
publicações, refletidas num incremento do número de revistas científicas (Scheufen 2015, 57–
58; Borges 2006, 21–22).
Já no século XVIII, a revista científica ganha outra dimensão “nomeadamente a de
registo de propriedade da descoberta científica e da sua inserção no arquivo público da ciência”,
já anteriormente preconizada pelo Phil Trans (Borges 2006, 22).
3
Publicado meses depois do Journal des Sçavans, o Phil Trans é uma iniciativa de Henry Oldenburg,
secretário da Royal Society, que formatou, em colaboração com Isaac Newton, o artigo científico (Borges
2006, 18–25).
1.O Acesso Aberto
10
Num momento em que, em pleno século XIX, o estatuto do investigador e,
consequentemente, das organizações a si interligadas
4é traduzido pelo número de publicações,
as de cariz científico assumem um papel extremamente relevante e competitivo no âmbito da
ciência (Borges 2006, 22). A tradição académica de escrever pelo impacto e não pela receita “it
frees researchers to challenge conventional wisdom and defend unpopular ideas, which are
essential to academic freedom.”, o que não garante que a pesquisa seja prejudicada pela procura
de lucros, no entanto, permite aos investigadores “to focus on what is likely to be true rather than
what is likely to sell.” (Suber 2012, 10–12).
Em meados do século XX, com o progressivo crescimento da literatura científica
5,
resultado, entre outros, do investimento acentuado na ciência e nas TIC, as sociedades
científicas, que publicavam as revistas, viram-se a ser substituídas pelas editoras especializadas
em publicações de conteúdos académicos por incapacidade de resposta face ao volume de
manuscritos para publicação.
O problema do acesso à informação, que se tem vindo a agravar desde a II Guerra
Mundial, mantém-se, levando as bibliotecas a entrar numa crise justificada pela incapacidade de
aquisição do número de títulos indispensável ao ensino e à investigação. Como resultado desta
mudança, em 1980, o preço das publicações científicas disparou, ao mesmo tempo que os
orçamentos das bibliotecas para aquisições decresceram, acarretando consigo um conjunto de
consequências entre as quais se conta a diminuição do número de revistas assinadas por
bibliotecas universitárias, bem como por outras instituições científicas, limitando o acesso à
informação publicada em revistas. As bibliotecas, com orçamentos que não permitiam
acompanhar o aumento da produção científica, viram-se impossibilitadas de manter as suas
coleções, iniciando-se assim uma crise de periódicos que acabou por afetar diretamente os
investigadores, acarretando consequências no impacto das suas publicações (Borges 2006, 99;
Suber 2012, 181).
A fim de solucionar a intitulada “scholarly crisis”
6, num período em que se passou da tinta
em papel para o texto digital e de um aglomerado de computadores isolados para uma rede
global de conexões estabelecidas através da ligação à Internet, surge a estratégia do que agora
conhecemos como Acesso Aberto (Open Access), com a implementação do Self-Archiving (ou
auto-arquivo)
7, que viu mais tarde as suas funcionalidades ampliadas com a introdução do
4
O estatuto pessoal do investigador é necessariamente refletido nas instituições a ele associadas, havendo
um duplo interesse: se por um lado os investigadores necessitam do financiamento das instituições para a
pesquisa, por outro as instituições precisam da produção científica para atingirem posições elevadas nos
rankings.
5
Crescimento este que se viria a iniciar em 1940, onde foram originalmente desenvolvidos os “automated
information retrieval systems” a fim de solucionar o enorme crescimento da literatura científica (Frakes
1992).
6
“
Isto é, a incapacidade de as bibliotecas garantirem o acesso aos títulos fundamentais para os seus
investigadores.” (Borges 2006, 140)
7
“When authors make their articles freely available in digital form on the Internet, they are said to be
"self-archiving" them. These articles can be either ‘pre-prints’ or ‘post-prints’." (Bailey, Jr. 2006).
11
-PMH (Open Archives Initiative Protocol for Metadata Harvesting)
8. No entanto, já em meados
dos anos de 1960 se começavam a preconizar os inícios deste Movimento, aquando do
lançamento do ERIC (Educational Resources Information Centre)
9em 1966 (Scheufen 2015, 68–
75; Suber 2012, 1).
Com o denso cancelamento das assinaturas das revistas científicas
10, provocado pelo
disparo de preços das mesmas, foi criado, em 1998, pela ARL (Association of Research
Libraries), o SPARC (Scholarly Publishing and Academic Resources Coalition), com o objetivo
de introduzir novos títulos capazes de concorrer contra os publicados pelas editoras. O SPARC
surge num período de fortes reações por parte dos investigadores que, através do cancelamento
das assinaturas, perdiam acesso à informação, com a finalidade de possibilitar a partilha aberta
de pesquisas e materiais educacionais, de modo a democratizar o acesso ao conhecimento,
acelerar a descoberta e aumentar o retorno sobre o investimento (ROI) realizado em pesquisa e
educação. Em conjunto com autores, editoras, bibliotecas, estudantes e entidades financiadoras,
o SPARC concentra-se em aproveitar as oportunidades surgidas na Internet para promover a
mudança, comprometendo-se assim a criar sistemas melhorados e mais rápidos na
disseminação do conhecimento.
Paralelamente, com o surgimento da Internet e a disseminação da tecnologia digital que
criou, segundo Suber (2012), a revolução do acesso, em pleno século XX surge, em 1991, o
primeiro arquivo científico, online e gratuito, intitulado ArXiv.org, na Los Alamos National Library.
Adicionalmente, em 1993 aparece pela primeira vez uma revista com revisão por pares em
Acesso Aberto (AA), estabelecida por Gene V. - “Education Policy Analysis Archive”. No entanto,
apesar destes primeiros lançamentos para o Movimento do AA, este apenas foi crescendo ao
longo dos anos de 1990 (Scheufen 2015, 68–75). Apesar da publicação eletrónica poder vir a
permitir o acesso gratuito aos artigos, esta acabou por piorar a crise, a partir do momento em
que passaram a ser disponibilizadas versões online dos artigos a um custo reduzido quando
adquirida a versão em papel (Borges 2006, 99–100).
Como consequência da Convenção de Santa Fé (Santa Fe Convention) surge, em 1999,
o OAI (Open Archives Initiative), que fornece “uma combinação de princípios organizacionais e
especificações técnicas para facilitar um nível mínimo, mas potencialmente funcional, de
interoperabilidade entre os arquivos eletrónicos académicos”. O principal objetivo desta
convenção, que contribuiu para dar maior visibilidade e encorajamento ao Movimento do Acesso
Aberto, passou pela criação de uma plataforma que permitisse solucionar problemas
8
“The Open Archives Initiative Protocol for Metadata Harvesting (OAI-PMH) is a low-barrier mechanism for
repository interoperability. Data Providers are repositories that expose structured metadata via
OAI-PMH. Service Providers then make OAI-PMH service requests to harvest that metadata. OAI-PMH is a set
of six verbs or services that are invoked within HTTP.”(Cornell University Library s.d. a).
9
Veja WWW: https://eric.ed.gov/.
10
Suber (2012, p.32) considera que “when libraries try to cancel individual titles that are low in quality or low
in local usage, publishers raise the price on the remaining titles. Bundling gives libraries little room to save
money with carefully targeted cancellations, and after a point forces them to cancel all or none.”
1.O Acesso Aberto
12
relacionados com a interoperabilidade entre arquivos em AA. O grande benefício desta
plataforma passa pela sua ampla capacidade de se comunicar de forma transparente
(interoperabilidade) entre arquivos, não só por recorrer a meta-dados, como ao próprio software
(Van de Sompel e Lagoze 2000).
Decorrente desta iniciativa nasceu o Open Archives Initiative Protocol for Metadata
Harvesting (OAI-PMH)
11e o padrão de meta-dados Dublin Core
12que permitiu realizar a
pesquisa automática e garantir a interoperabilidade entre repositórios
13.
Ainda no mesmo ano é manifestada a ideia de criação de um repositório focado em
publicações biomédicas, por Harold Varmus, intitulado por E-Biomed. Este projeto foi alvo de
críticas por aceitar a inserção de preprints
14, ao invés de postprints
15, e veio a ser apresentado
formalmente mais tarde, no ano de 2000, pela National Center for Biotechnology Information
(NCBI)
16, com o nome de PubMed Central. Este é um portal em Acesso Aberto que serve como
complemento à base de dados PubMed e que armazena artigos em texto integral na área de
ciências da vida e biomédicas, “considerando que esta se trata da melhor forma de assegurar a
durabilidade e utilidade do repositório, tendo em conta as próprias alterações tecnológicas.”
(Borges 2006).
Adicionalmente, iniciou-se a iniciativa PLoS Open Access onde foi distribuída pelos seus
fundadores - Harold Varmus, Patrick Brown e Michael Eisen - uma carta aberta
17assinada por
certa de 34.000 signatários de 180 nações distintas, onde foi solicitado aos editores científicos
que disponibilizassem as pesquisas publicadas para distribuição através de arquivos públicos
gratuitos tais como a PubMed Central. Apesar da resistência à mudança das práticas de negócio
para o AA, não deixa de ser notória a crescente necessidade de criação de títulos em Acesso
Aberto (Public Library of Science [PLoS] s.d.).
Sentindo a necessidade de fornecer publicações em AA como prometido e, sendo a
partilha do conhecimento uma condição necessária para garantir o progresso da ciência, em
11
Disponível em WWW: http://www.openarchives.org/organization/.
12
Disponível em WWW: http://dublincore.org/documents/
14
“The preprint is the author’s manuscript version of the publication that has been submitted to a journal for
consideration for publication. If published in a peerreviewed publication, the preprint does not reflect any
revisions made during the peer-review process. It also does not reflect any layout or copy editing done by
the publisher in preparation for publication. Because the preprint is produced by the author, it is typically a
DOC (or other word processing file format) or Tex format. “ (Inefuku 2013).
15
“The post-print is the author’s final manuscript of the publication, which is submitted to the publisher for
publication. If published in a peer reviewed publication, the post-print contains all revisions made during the
peer-review process. It does not, however, reflect any layout or copy editing done by the publisher in
preparation for publication. As such, proofs and offprints delivered to the author from the publisher are not
post-prints. Because the post-print is produced by the author, it is typically a DOC (or other word processing
file format) or Tex format.” (Inefuku 2013)
.
16
O National Center for Biotechnology Information (NCBI) diz respeito a um centro pertencente ao Nacional
Institute of Health, na National Library of Medicine (NLM).
13
2001 a PLoS tornou-se uma organização sem fins lucrativos que se viria a transformar numa
editora oficial, no ano de 2003, comprometida a transformar a literatura científica,
disponibilizando, sem restrições, artigos publicados online. Mais tarde a PLoS acabou por se
tornar financeiramente autossuficiente, baseada no modelo de taxa de processamento de artigos
(APC’s)
18. Neste momento as publicações em AA parecem ter provado ser exequíveis com
inovação, qualidade e excelência (Public Library of Science [PLoS] s.d.).
Seguindo-se a Harold Varmus, Vitek Tracz, considerando que a ciência biomédica não
poderá funcionar eficientemente sem o AA, apresenta a BioMed Central. Esta foi a primeira
grande editora a publicar em Acesso Aberto, que conta atualmente com mais de 300 periódicos
com revisão por pares (Poynder 2005; BioMed Central 2018).
Numa entrevista realizada no ano de 2005 por Richard Poynder a Vitek Tracz é
demonstrada a grande importância que o AA representa, considerando que o acesso a
descobertas anteriores é essencial para se fazer ciência, sendo, por este motivo, benéfico para
a própria sociedade. O auto-arquivo, apesar de ser encarado muitas das vezes como uma
solução, nem sempre é praticado. As editoras demonstram, de facto, a pretensão de o praticar,
contudo aquando da publicação as editoras apenas permitem que seja depositada a versão
original sem as correções e alterações realizadas pelas editoras (Poynder 2005).
Deste modo, o Movimento do AA preconizou o aumento da facilidade com que os leitores
acedem à produção científica possibilitando, consequentemente, um aumento da citação,
garantindo aos autores o potencial aumento do impacto de citação. Tal como afirma a Open
Archives Initiative e Brody (2004): “access is not a sufficient condition for citation, but it is a
necessary one”.
As iniciativas de AA, que se começaram a afirmar em inícios dos aos 2000, têm-se vindo
a avolumar mundialmente, principalmente no contexto universitário, contribuindo notoriamente
para o crescimento e disseminação da ciência e para uma progressiva mudança no âmbito da
publicação, traduzida por uma crescente circulação das publicações e pelo aumento dos direitos
sobre estas (Harnad 2005).
Com a progressiva transformação da prática científica caminha-se gradualmente para
uma abertura do ciclo de pesquisa, fomentando a partilha do conhecimento. A esta nova
abordagem dá-se o nome de Ciência Aberta (CA) (open science)
19. Esta refere-se ao fenómeno
disruptivo que se encontra em expansão, não só a nível europeu, como em todo o mundo, e que
acarreta consigo um conjunto de alterações a nível sociocultural baseadas no Acesso Aberto
20,
18
As APC, do inglês Article Processing Charge, utilizadas para diferenciar modelos de publicação em AA,
são taxas cobradas aos autores para a disponibilização imediata do seu trabalho em Acesso Aberto ou por
meio de uma revista híbrida. Estas taxas são geralmente financiadas pelas instituições do autor, ou por
financiamentos de pesquisa e não pelo próprio, não garantindo que o autor retenha os direitos autorais do
trabalho (Fonseca 2017, 42–43; Scheufen 2015, 80).
19
A Open Science passa por
“
to make the primary outputs of publicly funded research results – publications
and the research data – publicly accessible in digital format with no or minimal restriction”
(
OECD 2015,
7).
20
O Acesso Aberto diz respeito a um meio de disseminação das publicações científicas que concede
acesso gratuito, em qualquer meio ou formato de divulgação académica, sem qualquer custo adicional.
1.O Acesso Aberto
14
extremamente importantes para enfrentar os desafios colocados em pleno século XXI
(Vicente-Saez e Martinez-Fuentes 2018). A CA é um termo ‘guarda-chuva’ que inclui um conjunto de
movimentos que têm como objetivo remover as barreiras de acesso aos dados e à informação –
servem como exemplo as barreiras associada aos custos (assinaturas, licenças, pay-per-view),
extremamente significativas e muitas vezes insuperáveis, que prejudicam os autores ao limitar o
seu público e influenciando diretamente o impacto, e aos leitores ao limitar-lhes a sua pesquisa.
A remoção destas barreiras traduz-se no fim da dependência financeira dos leitores para que
consigam aceder às publicações, possibilitando a utilização da literatura para fins académicos,
incluindo “reading and searching, but also redistributing, translating, text mining, migrating to new
media long-term archiving, and innumerable new forms of research, analysis, and processing”
(Suber 2012).
No entanto, apesar do conjunto de preocupações que os autores apresentam no
processo de abertura do acesso e, considerando um aumento da facilidade da apropriação de
ideias, para que a ciência possa evoluir é fundamental que exista uma partilha de dados,
informação e conhecimento que só será efetivada através de uma abertura do acesso,
traduzindo-se no aumento da colaboração entre investigadores e, contrariamente a muitas
perspetivas que consideram que a facilidade de acesso às publicações poderá desgastá-las, no
aumento não só da sua visibilidade, como do seu prestígio. .
Contudo, apesar do aglomerado de “facetas” que a Open Science agrega (Gema Bueno
de la Fuete s.d.), e considerando sempre os fundamentos associados à abertura da ciência e
dos dados, o foco deste trabalho centrar-se-á no Movimento do Acesso Aberto às publicações
científicas.
21
21
Note-se a ausência do Open Design, um dos movimentos preconizados pela Open Science, que
compreende o desenvolvimento de produtos, máquinas e sistemas através do uso de informações
partilhadas publicamente.
Figura 2 - Facetas da Open Science.
Fonte: Gema Bueno de la Fuente, s.d., “Facetas da Open Science”,
https://www.fosteropenscience.eu/content/what-open-science-introduction
15
1.1. Políticas de Acesso Aberto: os 3 B’s (Budapeste,
Bethesda e Berlim)
Em dezembro de 2001 o Open Society Institute convocou uma reunião em Budapeste
que acabou por influenciar fortemente o nascimento do Movimento do AA. Na sequência desta
reunião foi publicada a Budapest Open Access Iniciative (BOAI) que definiu o Open Access
como:
“The literature that should be freely accessible online is that which scholars give to
the world without expectation of payment. Primarily, this category encompasses their
peer-reviewed journal articles, but it also includes any unreviewed preprints that they
might wish to put online for comment or to alert colleagues to important research
findings. There are many degrees and kinds of wider and easier access to this
literature. By "open access" to this literature, we mean its free availability on the public
internet, permitting any users to read, download, copy, distribute, print, search, or link
to the full texts of these articles, crawl them for indexing, pass them as data to
software, or use them for any other lawful purpose, without financial, legal, or
Figura 3 - Fundamentos da Open Science para a Pesquisa e a Inovação.
1.O Acesso Aberto
16
technical barriers other than those inseparable from gaining access to the internet
itself. The only constraint on reproduction and distribution, and the only role for
copyright in this domain, should be to give authors control over the integrity of their
work and the right to be properly acknowledged and cited.” (Bailey, Jr. ,Charles W.
2006).
Em abril de 2003 realizou-se outra das reuniões marcantes para o AA, no Howard
Hughes Medical Institute em Chevy Chase, de onde resultou a “Bethesda Statement on Open
Access Publishing” que redefiniu o conceito de AA indicando, ao contrário da BOAI, o modo
como os proprietários dos direitos autorais operacionalizarão o conceito de Acesso Aberto. Esta
declaração enfatiza os padrões comunitários de atribuição, em vez de controlar por meio de
direitos autorais, defendendo que os autores deverão poder escolher o tipo de acesso ao seu
trabalho (Lamb 2004; Fonseca 2017, 35).
Esta declaração identifica uma publicação em AA quando atende a dois fatores (Frosio
e Derclaye 2014):
1. Os autores e os detentores dos direitos autorais concedem a todos os utilizadores um
acesso irrevogável e gratuito e uma licença para copiar, usar, distribuir, transmitir e exibir
o trabalho publicamente, bem como o direito de fazer um pequeno número de cópias
para uso pessoal;
2. Quando uma versão completa do trabalho e todos os materiais complementares,
incluindo uma cópia da permissão num formato eletrônico padrão adequado é
depositado imediatamente após a publicação inicial em, pelo menos, um repositório
online que seja apoiado por uma organização.
Em outubro do mesmo ano foi lançada, na Conference on Open Access to Knowledge in
the Sciences and Humanities, a Declaração de Berlim
22, onde o auto-arquivo é considerado como
uma das medidas obrigatórias a tomar.
Ao implementar a Declaração de Berlim, a fim de efetivar o Acesso Aberto, as instituições
devem exigir que os investigadores publiquem uma cópia do seu trabalho em repositórios de
Acesso Aberto, encorajando o auto-arquivo, isto é, o autor é livre de depositar preprints,
postprints, bem como outros trabalhos, não só em repositórios institucionais como em páginas
pessoais
23. Devem ainda encorajar à publicação em títulos em AA, orientando para que o façam
nas duas vias existentes, resultadas do estudo “Rights Metadata for Open Archiving (RoMEO)”
conduzido no Reino Unido e, atualmente localizado no mais recente projeto “Securing a Hybrid
22
Já assinada por várias instituições ligadas à investigação, tais como o CNRS em França, o Max-Planck
Institute na Alemanha e o CERN em Portugal (Borges 2006, 453–55).
23
Contudo, o acesso a estas publicações poderá ter períodos de embargo extremamente longos, impostos
pelas editoras ou pelos próprios autores.
17
Environment for Research Preservation and Access (SHERPA)”
24: via Verde (Green Road)
25e
via Dourada (Gold Road)
26(Borges 2006, 453–60; Bailey, Jr. 2006; Guédon 2004). Contudo,
estas duas vias têm vindo a gerar alguma inconsistência por parte das editoras:
“Some new ones were born OA and some older ones have completely converted to
OA. Many provide OA to some of their work but not all of it. Some are experimenting
with OA, and some are watching the experiments of others. Most allow green OA
(through repositories) and a growing number offer at least some kind of gold OA
(through journals). Some are supportive, some undecided, some opposed. Among
the opposed, some have merely decided not to provide OA themselves, while others
lobby actively against policies to encourage or require OA. Some oppose gold but not
green OA, while others oppose green but not gold OA” (Suber 2012, 18).
No entanto, as três declarações defendem o Acesso Aberto através de definições
flexíveis no seu sentido livre que vão além da remoção de barreiras, considerando que, para um
trabalho ser identificado como Acesso Aberto, tanto o autor como o detentor dos direitos de autor
da obra, devem permitir aos utilizadores “to copy, use, distribute, transmit and display the work
publicly and to make and distribute derivative works, in any digital medium for any responsible
purpose, subject to proper attribution of authorship, as well as the right to make small numbers
of printed copies for their personal use”, apesar de todas elas atribuírem pelo menos um limite à
liberdade do utilizador, através da obrigação de atribuir o trabalho ao autor (BETHESDA 2003;
Suber 2012, 8).
1.2. O contexto europeu
Segundo Caruso et al., a maioria dos governos nacionais não propôs ou implementou
qualquer tipo de legislação direta sobre o AA, optando por vias menos formais, tais como a
24
Este projeto originou o portal SHERPA/RoMEO que reúne políticas de auto-arquivo de editoras e das
próprias revistas, utilizando um código de cores simplificado, variando entre verde (pode arquivar a versão
preprint e postprint ou Versão/PDF do editor), azul (pode arquivar a versão postprint i.e. o rascunho final
após o review) ou Versão/PDF do editor), amarelo (pode arquivar a versão preprint (i.e. antes do
peer-review)) e branco (o arquivo não é suportado formalmente). Disponível em WWW:
http://www.sherpa.ac.uk/romeo/index.php?la=pt.
25
“Chama-se a esta opção Acesso Aberto Verde, que determina que a versão eletrónica de uma
publicação, quer seja da versão aceite ou da versão publicada, seja depositada num Repositório Aberto e
fique disponível para leitura e reutilização por qualquer pessoa, sem qualquer custo. Porém, as publicações
depositadas podem estar sujeitas a períodos de embargo, de duração variável, consoante a política
editorial. (…) No entanto, os vários mandatos europeus relativos ao Acesso Aberto referem a via Verde
como sendo de depósito de artigos publicados e, portanto, exclui material que não foi sujeito a revisão ou
aceite para publicação (“preprints”).” (Fonseca 2017, 52).
26