UNIVERSIDADE DE
ÉVORA
Curso de Mestrado em Sociologia
Recursos Humanos e Desenvolvimento Sustentável
"
Estranheza entre
dois
mundos: o
mundo da escola
eo
mundo da
vida.
Fundamentos de um
Ensino
lnclusivo:
um
estudo
de
caso
".
I
)Á\
Ytt
o
Dissertagão realizada por:
Fátima Ramos Gorga
DisseÉação orientada por:
Prof. Doutor Rogério Roque Amaro
UE
164 740
ESTRANHEZA ENTRE Dols MUNDOS: o MUND1 DA EscotÁ E o MUND1 DA vtDA
À
SOfn,
projecto da minha felicidade.ESTRANHEZA ENTRE DOIS MUruDO§: O MUNDO DA ESCOI;/. E O MUNDO DA VIDA
Agradecimentos
A conclusão
-
deste trabalho não teria sido possível sem o contributo demuitas outras pessoas. Não
seria
por
issojusto não
lhes
fazer qualquer referência, sabendoque
esta
fica
aquémda
importânciaque
tiveram na realizaçáo do presente estudo.Ao
professor Doutor Rogério Roque Amaro, orientador deste trabalho,agradeço
a
disponibilidadepelo
esclarecimentode
numerosasdúúdas
e questões que surgem aquando da realizarÉo de um trabalho como o que aquiapresento.
Aos meus mestres de ontem e de sempre.
À minha famÍlia, ora pelo apoio incondicionalquando dete neessÍtei, ora pela vontrade de simplesmente existirem.
À minha cotega Angélica pela força e ao meu especiat amigo Francisco por me aturar.
À capacidade de amar e cuidar...
A
eles em especial porque a tomaTampossível, dedico esfa dr.sserfagão Fátima Ramos Corga
ESTRANHEZA ENIRE DOIS MUNDOS: O MUNDA DA ESCOT./ E O MUNDO DA V\DA
Resumo:
Embora não possamos afirmar que em Portugal
a
oferta educativa se apresentra apenas aos destinatários da grande Lisboae
do grande Porto, naverdade
é
que, com menos visibilidade na tomada de decisões políticas, os pequenos centrose
meios
rurais-
nas suas
múltiplas especificidades-apresentam problemas que se observados permanentemente nos dariam conta do que se poderá chamar de ««catástrofe educativa».
Se
nos
anos sessentae
mesmo setentase
poderia falarde
'inviabilidade económíca e social destes meios', os movimentos localizados de agricultores dos paÍses centrais conseguiram impor, junto das comunidades europeias, umaoutra perspectiva de desenvolvimento em que agora o nosso país se insere. A
desertifica$o
fica
mais cara
ecológicae
socialmentedo que
apostar namanutenção e reinstalação humana nas zonas rurais dÍtas deprimidas. Tratia-se
de, em quadros de desenvolvimento endógeno, transformar estrangulamentos em potencialidades, oferecer qualidade ambiental e cultura local. À aHeia mais isolada são oferecidos meios de globalizerfio como contra partida da defesa da
sua
localizafio.
<«contudo, a globalização tem o seu reverso, está na origemdo aparecimento de novas formas de manÍfestação do fenómeno da pobreza, visíveis até nas economias mais desenvolvidas»».
Esta nova pobreza
não
se
cingeà
escassezde
recursos materiais, podendo traduzir-se pela não participação no padrão da vida dominante devidoa
factores Gomoa
escolaridade,a
idade,a
faltade
afectos,o
domínio das novas tecnologias. (A Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social: 2003).DisserÍaçáo de Mestmdo: Fátima Ramos Corga
ESTRANHEZA ENTRE DOIS MUNDOS: O MUNDO DA ESCOI:/. E O MUNDO DA VIDA
Até
aqui
a
consciênciadesta
sÍtua@otem
sido ténue,
apenas visibilizadaem
embrionários movimentosde
defesae
combateà
exclusão social.A
Escola, estrutura fortemente centralizada, determinante na vida das crianças e jovens não pode ser menosprezada. AcredÍtiamos gueé
possívelmudar,
localizara
educação,tomá-la
de
"mal
menof
em
bem
maior.Esta pesquisa consiste num esfudo
de
caso,
ondese
analisam as práticas e estratégias educativas aplicadas numaEsola
do Ensino Básico do Concelho de Beja, no combate à exclusão escolar. Pretende a autora fomeceralgumas
pi§as
para ajudaros
professoresa
melhoraro
seu
processo de ensino-aprendizagem.O
conceitode
escola
inclusivae
perspectivas de inclusão.Palavras-chave:
Escola; Desigualdade; Exclusão Social; lnclusão; Pobreza; Práticas educativas ; Estratégias educativas,V
STRTWGEruESS BETWEEN TWOWORLDS: IHE WORLD OF SCHOOL AND THEWàRLD oF LIFE
Abstract:
Although
one
cannot statethat
educational offerin
Portugalis
only availablefor
the
reeivers
in
the
cities
of
Lisbonand
Porto,the truth
isthat,
havingless
insightwhen
making political decisions,the
small townsand
rural
areas-
in
their
multiplespecificness
present problemsthat
if permanently observed, would prove what could be appointed as "educationalcalamity
lf
in
the
sixties,and
even
in
the
seventiesyou
couldspeak
ofeconomica
and social
impracticabilityof
those
areas,
the
farmerc
localmovement
in
central countrieswere
able
to
impose uponthe
European Communities, another peÍspective of development in which our country is now getting set in.Desertification proves to be more expensive, both ecologically andsocially,than keeping and settling people in the so called depressed rural areas. Itis all about changing depressed areas into great housing centres, as well as
offering environmental quality
and
local
culture.The
most isolated villageis
given
mêans
of
globalizationas
a
compensationfor
its
localization."However, globalizaüon
has
Íts
rêverse
side, being
responsiblefor
the appearance of new ways of displaying the poverty phenomenon, visible even inthe most developed economies. This new poverty does not restrict itself to the
scarcifi of material resources, it can also be related to the fact that it does not
take part in the
dominant standardof
living dueto
schooling,age, lack
of affection sandthe
domainof
new technologies (Fight Against Poverty and SocialExclusion :2003).Dissedaçiío de Mestrado: Fátima Ramos Corga
STRAruGEruESS BETWEEN TWO WORLDS: IHE WORLD OF SCHOOL AND THE WARLD OF LIFE
So
fai
there has been little awareness of such situation, which has onlybeen observed
in
starting movementsof
defence against social exclusion.School,
a
strongly
centralized structure,
indispensablein
the
life
of children and young people, cannotbe
underestimated. We believethat
it
is possibleto
change,to
assign educationto
a
particular place,to
change ítfrom minor misery into major benefit.
This research consists of a casualstudy in which the educational practice
and strategies applied
to a
basic education school (secondary school) in thesubdÍvision
of
Beja?s
district
are
being
compared,in
the
fight
agaínst educational exclusion. The autho/s aim is to provide a few clues so as to helpteachers improve
their
teaching-leaming process,the
conceptof
inclusive education and perspec.tive of inclusion,Key-words: school; Poverty; Social Exclusion; lnclusion; lnequality; Educational p ractice; Ed ucation al strateg ies.
DÍsserfaçáo de Mestmdo: Fátima Ramos Corga
ESTRANHEZA ENTRE DOIS MUNDOSi O MUNDO DA ESCAIÁ E O MUNDO DAVIDA
íNorcr
cERAL
índÍce Geral...Indice de Quadros e
Tabelas
..-r.,....;.!
lndice de Siglas
I PATIE - ENQUADRAMENTO TEÓRICO-CONCEPTUAL
vm
Página 1xl
xvt
lntrodução-Capítulo I BREVES PARTICULARIDADES DO OBJECTO DE ESTUDO
r.1-
T..?-
r.3-
II.t.-Sobre a inclusão
Reflexões sobre a escola e a educação...,... Abordagem metodoló9ica,... 6 7
í3
253í
capírulo
llAPRoxIMAçÃo
AcoNcEtTos.
TT.2-Aproximação a conceitos de: pobreza, exclusão Socia!
Desigualdade e slstema educativo. Pobreza e exclusão social
na sue génese e evolução
PolÍticas educativas no combate à pobreza e
exclusão social
Breve nota sobre as polfticas educativas em Portugal... lnclusão;diferenciação pedagógica...,
iíludar a escola
Desenvolvlmento Local - rcflexões em torno de um..,.,... Conceito. A educação e o desenvolvÍmento 1oca1,.,..,...
Breve nota,...
A perspectÍva ««F uncional ista»» do desenvolvimento.. .. .... TT-2.l TT.2.? tÍ..2.3
TT3-rr.3.1. rr.3.2. 326
45 53 54 58 58 58 60vilt
ESTRANHEZAENTRE DOIS MUNDOS: O MUNDO DA ESCOIÁ E O MUNDO DA VIDA
[.3.3.
1t.3.4
il.3.5
A perspectiva «Territorialista» do desenvolvimento
A educação e o desenvolvimento local. Que
relação?""""""
Actuações de desenvolvimento local no
combate---à pobreza 63 69 71 71 76 78 80 86 Capítulo
lll
O SISTEMA EDUCATIVO E A INGLUSÃOlll.í-
A Escolado
Século )O(I ...'..lll.í,í-
A nova questãosocial.-.'.-Itl.2-
A Escola tem futuro?...Capítulo lV (DES)IGUALDADES NA EDUCAçÃO
M.í-
Escola-Família lV.2- Classe social',.!V"3- Explieações eulturais".
ll
Parteõ"prt
rlov
TRATAMENTO EANÁL§E
DE INFORMAçÃOv.í
-
lulEToDoLoGlA...V,2
ABORDAGEM QUALITATIVA...'V.2.1- Entrevistas a informantes -chavb da comunidade"""'
V.3
-
ABORDAGEM QUANTITATIVAV.3.í
-
Garacterização do instrumento.... -. -. - -.'V.3.2- Caracterização da amostra...
V.3.3.- EstatÍsüca descritiva V.3.4- Estatísüca bivariada
V.3.5- Análise correlacional entre as variáveis: idade, sexo, ano
de escolaridade e sucesso escolar..-,
88 94 97 102
í06
107í09
í09
íí5
115 115íí5
128í33
í33
lx
Disserfação de Mestndo: Fálima Ramos @rga
ESTRANHEZAENTRE DO'S MUNDOS: O MIJNDO DA ESCOIA E O MUNDO DA VIDA
Gapítulo
vl-
INTERPRETAçÃO DOS RESULTADOS.í38
vI
.í.
ALGUMAS CONGLUSÕES."....
vr
.2-
coNslDERAçÕES p1nrus...Vl.2.1- Escola : estratégias de adequação e sucesso ou de exclusão social?....'
Alguma pesquisa bibliográfica sobre o quadro teórico que identifiquei:
Autores Recomendados :Anüónio Nóvoa; Belmiro Cabrito; Rui Canário; Stephen Stoer.
ANEXOS
í.
Enfuevistas a informantes- chave da comunidade 2. lnquérito por o'Questionário" aos alunos e alunas 3. Trahmento da informação -qualihtiva
4. Tratamento da infotmação - quantitativa
í39
143 143 149 B|BL|OGRAFIA...
147x
ESTRANHEZAENTRE DO'S MUNDOSJ O MUNDO DA ESCOLA E O MUNDO DA VIDA
ír,rorce DE ctuADRos
Página
TABELA Noí
:
"Escola EB.1 da Salvada"TABELA
No2:
Caracterização da amostra pelavariável"género""""
116 TABELANo3:
Caracterização da amostra pelavariável'idade"""""'
116 TABELA No 4:
Caracterização da amostra pelo.ano de escolaridade".-117TABELA No
5:
Frequência da variável "ano de escolaridade dopai'"'
"'117
TABELA
No6:
Frequência da variável "ano de escolaridade da mãe"--. 118 QUADRONoí:
"Duas formas de mobilização revolucionária"íttotce DE TABELAS
TABELA
No7:
Frequência da variável 'profissão do pai'TABELA
No8:
Frequência da variável "profissão da mãe"TABELA
No9:
Frequência da variável "local de residência'... TABELANoí0:
Frequência da variável " com quem vives?" TABELANoíí:
Frequência da variável " faltas à escola?'...Dissertação de Mestrado.' FáÍfuna Ranos Corga
... 115 95 118 119 119 120 ...119 -1'
xt
ESTRANHEZA ENIRE DA/,S MUNDOS; O MUNDO DA ESCOI.A E O MUNDO DA VIDA
TABELA No í2:Frequência da variável" quantas vezes faltasteT 120
TABELA No í3:Frequência da variável "porque faltaste?'. 121
TABELA Noí4:Frequência da variável"gostas de ir à escola" ....121
TABELA Noí5:Frequência da variável "porque gostas de ir à
escola?"
121TABELA
NoíG:Frequência da variável' importância" 122TABELA
Noí7: Frequência da variável"porque é importante?"...122TABELA
Noí8: Frequência da variável"o que pensas?" 123TABELA Noí9: Frequência da variável" o que mais te agrada na escola?" 123
TABELA No20: Frequência da variável" o que menos te agrada na escola" 124
TABELA
No2í:
Frequência da variável u tens imtãos?" 124TABELA No22: Freguência da variável"escolaridade dos innãos" 125
DÍsserÍaçáo de Mestrado: Fálima Ramos Corga
ESTRANHEZA ENTRE DOIS MUNDOS: O MUNDO DA ESCOLA E O MUNDO DAVIDA
TABELA No23: Frequência da variável"os teus pais foram à
escola?'...
125TABELA
No24: Frequênciada
variável"osteus pais
andaramna
mesmaescola?"
126TABETA
No25: Frequênciada
variável"os teus
pais
em
casafalam
daescota?"
126TABELA
No26:
Frequênciada
variáveloo que falam
os
teus pais
daescola?" 127
Frequência
da
variável
oa
escola
tem um
aspecto 127 TABELA N%7:bonito?"...
TABELA
No28:
Frequência da variável "fazes o mesmo na escola do que emcasa?"
128TABELA
No29: Sumário:Análise
estatística bÍvariadaentre
as
variáveis "situação.Social e su@sso escolar" 128TABELA
No30:
Relaçãoentre
as
variáveis "sÍtuaçãosocial
e
sucessoescolaf...
......
129DisserÍagão de Mestrudo: Fátima Ramos Cotga
ESTRANHEZA ENTRE DO'S MUNDOS: O MIJNDO DA ESCOIJ4- E O MUNDO DA VIDA
TABELA No3í: Qui Quadrado
-
associação entre'situação sociale
sucesso 129 escolar....TABELA
No32: Sumário: situação sociale integração 130TABELA
No33:Relaçãoentre
as
duas
variáveis
"situaçãosocial
comintegração'...
130TABELA No34: Qui Quadrado
-
associação entre as variáveis:"situação social...í31
e integração...
TABELA No35:Sumário: Rela@o entre as variáveis
"o
que mais gostasete
agrada'... 131
TABELA NoÍ16: Relação entre as variáveis" gostas e agrada" 132
TABELA
No37:QuiQuadrado
associaçãoentre
as
variáveis"gostas eagrada"...
...132
TABELA No38: Conelação das variáveis: "sexo, sucesso, integração e
1U
agrada'...
TABELA No39: Conelação das variáveis: "idade, suce§so, integração e
.... 135
agrada'.
Dissertação de Mestndo: FátÍma Ramos Corga
ESTRANHEZA ENTRE DOIS MWDOS: O MUNDO DA ESCOLA E O MUNDO DA WDA
TABELA
No40:
ConetaçãodaS
variáveis
"ano,
sucesso, integração e 136TABELANo4í:Conetação
das
variáveis "sucesso escolar, situação social eagrada'....,... 137
Disseúaçáo de Mestndo: Fátima Ramos Corga
ESTRANHü.A ENTRE DOIS MUNDOS; O MUNDO DA ESCOLA E O MUNDO DA VIDA
índice de siglas
CEE
Comunidade Económica EuropeiaEFTA
European Free Trade Association (Associa@o Europeia de Comércio LiweISCTE
lnstituto Superior de Ciências do Trabalho e da EmpresaOCDE
Organiza@o para a Cooperação e o Desenvolvimento EconómicoOIT
Organ2açãolntemacionaldoTrabalhoONU
Organização das Nações UnidasPNLCP Programa Nacionalde Luta Contra a Pobreza
PIB
Produto lntemo BrutoPPC
Paridades de Poder de CompraPNUD
Programa das Nações Unidas pare o Desenvolvimento (cf. UNDP)PQZD
Professor do Quadro de Escola de Nomea@o DefinitivaPQZP
Professor do Quadro de Zona PedagógicaRMG
Rendimento Mínimo GarantidoDisserfagáo de Mestmdo: FátÍma Ramos Corya
ESTRANHEZA ENTRE DOIS MUNDOSJ O MUNDO DA ESCO'-A E O MUNDO DAVIDA
R.S.t
RendimentoSocialdelnserçãoTEIP
Territórios Educativos de lntervenção PrioritáriaUNICEF UnÍted Nation Ghildren's Fund (Fundo das Naçóes Unidas para
a
lnfânciaDíssertaçiío de Mestroda: F&imaRarnos Corga
ESTRANHEZA ENTRE DO,S MUNDOSJ O MUNDO DA ESCOI;4. E O MUNDO DA VIDA
I PARTE
ENQUADRAMENTO TEÓRCOCONCEPTUAL
0
ESTRANHEZA ENTRE DOIS MUNDOSi O MUNDO DA ESCOLA E A MUNDA DA VIDA
"(.) E explicava:
-9í existe justiça numa compefição se fodos partiren de
condições iguaí tllas ral nío etciste, jó se tube. € sê todos
fossen igua\ como poderemosficc um à frente do outro? Mtma competiçdo u pessoas acaban setnpre como cone§zrram
conclu'n o senhor
valérYj
o.senhor r/oréry-ccmiúo, p. 6t
6OMÂLO í1Â.TAVÁRE5
1.
lntroduçãoEntender
a
convivênciaentre
sociedadepoúuguesa,
direitas de igualdade e es6?ra paru todos foi a forma por nós encontrada de entrarmos na análise de uma temática que pela sua delicadeza exige muitos cuidados na investigação.Mvemos numa época em que, diariamente, somos confrontados com o rttmo acelerado de transformações socíais que fazem mudar, de modo por
vezes quase imperceptível,
os
comportamentos,as
rnentalidadese
as próprias necessidades dos agentese
das
instituições. Umdos
reflexos negativos da evolução das sociedades dos nossos dias prende-se com umproblema atê hâ pouco tempo remetido para um plano bem menos central
e
que disputa, hoie, direitos de prioridade nas agendas políticas: trata-se da pobreza e da exclusão social. Com essa transformação profunda querao
níveldo
contexto socioeconómico culturale
cientÍfico-
tecnológico,urge
dar
uma
maior
importânciaaos
agentese
nomeadamente às instituições. Assim por incumbência legal ou em resultado de um crescente1
ESTRANHEZAENTRE DO'S MUNDOS: O MUNDO DA ESCOIJ. E A MUNDO DA VIDA
protagonismo, envoMmento
e
participação de alguns cidadãos, algumas instituições têm vindoa
constituir-se como interlocutores prtvilegiados no retacionamento com os indivÍduos, as famílias ou os grupos em situaçãode
pobrezae
exclusão social.É a
essas instituiçÕes que de um modo estratégico, cabe o papel fundamental de perceber as caracter[sticas e as necessidades da comunidade local a fim de potenciar os recursos que daÍ possam adür. Daí que seia de grande interesse estudar e perceber o papelde instituíções como
a
escola enquanto instituição@pú
de promover o desenvolvimento sociale
cuttural do indivÍduo. Daía
grande importânciaque
hoje
apresentao
estudo
da
escola,
das
suas
estratégias deadequação assim como a sua articulação com o desenvolvimento
local-O tema central deste nosso trabalho conduziu à formula@o de três hipóteses.
A
primeira hipótese sustentaa
ideia de quea
escola hoie é@pe
de contrariare
inverter as sÍtuações de exclusão social existentesnas
suas
comunidades.A
segunda hipótese assentana
ideiaque
asituação social é factor condicionador do sucesso/insu@sso escolar e por último a terceira hipótese parte do pressuposto que a escola
pde
inverterestra
situação,
mas
precisa
de
recursos
pedagógicoscomo:
maÍsprofessores
que
possam
proporcionar
apoio
individualizado; umainteruenção
atempada
entre
família-escola.Está, assim,
traçado
o objectivo fundamental que norteia este trabalho: vertficar sea
escola hoie é capaz de contrariare
invefter as sÍfuaçõesde
exclusão socialexÍsÍenfes nas suas comunidades.A
escolhado
nosso obiectode
investigação resultade
que, sendo embora já numerosos os estudos realizados sobre a temática, tais estudos acabarampor se
debruçar tendenciatmentesobre uma
das
possíveÍs dimensõesda
pobrezalexclusão social,a
sua
dimensão objectiva. lsto significa que,de
algum modo, eles vierama
privilegiara
identificação2
ESTRANHEZ/ ENTRE DAIS MUruDOS; O MUNDO DA ESCOLA E O MUNDO DA VIDA
quantitativa das características que configuram as situações de prtvação materiat
e
exclusão Socioeconómica, realçando apenasa
dimensão mais mensurávelda
pobrezae
exclusão social, bem comoas
manifestações específicas em que ela se traduz.Não recusando tal dimensão, no contexto do presente trabalho e para
aquilo
que nos
propomos evidenciar, procuramosuma
outra postura. Pretendemos, assim, quea
questãoda
pobrezae
exclusão social seja entrecruzada coma
actuação estratégica de todo um lequede
actoressociais enquanto elementos constituintes
e
participativosda
instituição escola e envolvidos em determinados proiectos de base local. Procuramos, deste modo, avaliar as condições e as possibilidades de envolvimento daescola
(como entidade
mais
próxima
da
crianp),
em
trarefas dereconshução
do
seu tecido
social,
a
partir
da
análisede
algumas esúatégias e práticas eduetivas concretizadas em contexto escolar.Neste sentido,
e
atendendoà
impoúância globalque hoje
sereconhece
à
educa$o
na
forma@o/integraSodo
indivíduo
e
no desempenho do seu papel na sociedade, analisam-se os procedimentos eas respostas desencadeadas por instituições como a escola e Comissões Sociais
de
Freguesia num estudo de caso-
uma Escolado
1o ciclo do Ensino Básico do Concelho de Beja.Sem a pretensão de apresentar uma perspectiva abrangente sobre os contomos gerais do papel que estas instituições e em colabora$o com
outras desempenham
na luta
contraa
exclusão social, desenvolvemos uma descri@o do trabalho levado a cabo por estes nÚcleos.Um incentivo muito especial foi o facto de
o
estudo em questão se centrar na perspectiva da escola como entidade promotora no combate à exclusão socialcom
particular relevo paraa
problemáticada
inclusão, tema que nos últimos anos tem vindo atazer parte dos nossos interesses em termos de invesügação.3 Dissertação de Mestrado: Fátrma Ramos Corga
E9TRANHETA ENTRE DOIS MUNDOS: O MIINDO DA ESCO|,I. E O MUNDO DA VIDA
Deste modo, escrever sobre a escola, inclusão, direitos de igualdade, pressupõe que
se
identifiquem algumas das fungõesque
a
escola, ao tongo dos tempos, tem desempenhado na sociedade contextualizando-a em épocas bem situadas.Apresento
os
oonceitos estudados apenasdo
pontode
vista
de atguns autores que, de forma mais crÍtica, têm procurado rever o conteÚdo dos mesmos, que deerto
modo, se tomaram tema de estudo e análise nas últimas décadas (ver por exemplo, as análises produzidas por António Nóvoa; Belmiro Cabrito; RuiCanário e Stephen Stoer.)Consciente das múltiplas manifesta@es desta problemáticul, o nosso objectivo é investigá-la através de um estudo de caso.
Pretendemos assim com esta investigação repensar o que tem sido a escota nas últimas décadas, se se trata de uma escola inclusiva, focando alguns aspectos essenciais do dia a dÍa de uma Escola do Ensino Básico.
Do ponto de vista da estrutura, o trabalho esta subdMdido em duas
grandes partes.
Uma
primeiraparte
incidesobre
o
quadro teórico e conceptualfundamental para o tratamento do tema.Esta primeira parte foidividida em quatro capítulos, sendo o primeiro
de
âmbitomais geral
e
entrado
sobrea
questÍioda
inclusão. Aqui procurou-se tratar o tema da inclusão, @nvocando simultaneamente vários conceitos sob várÍas dÍmensõesde
análise (do desenvolvimento local e regional, etc). Esta opção foÍ um enorme desafio ao c.onvocannos vários autores com habalhos publicados com objectivose
objectosde
análise também muito diferentes. Nesta primeira parte,a
unidadeteórie
foi
a nossa maior preocupa@o.No
segundo capítulo procurou-se desenvolvercom
profundidade a§uns dos aspectos relacionadas com a problemática da inclusâo, e tendo4
ESTRANHEZA ENTRE DOIS MUNDOS: O MUNDO DA ESCOIÁ E O MUNDO DA VIDA
em
contaos
nossos obiectivos,a
perspectivada
escola oomo entidade promotora no oombate à exclusão social.No
último capítuÍo desta primeira partedo
trabalho, centramos anossa atenção na problemática
da
relação escola-
famíliae
no
papel fundamental que a famÍlia e sua origem assume neste processo dinâmim de transformaçáo sócio - educativo.A
segunda parte do trabalho diz respeÍto ao tratamentoe
análise da informação e compreende dois capÍtulos.+
O
primeiro inteiramente dedicadoà
abordagem metodológica, tratiamento e análise da informação;+
No
segundoe
úÍtimo capítuloda
segunda parte apresentamosalgumas
conclusões,as
estratégiasou
possíveis soluçõesque
os professores de classes problemáticasa
níveis: económico; social, podemusar nos seus planos de aula, em especial estratégias que encorajam a
participa$o
do
aluno.
Este
epítulo
não
pretende
apresentar conhecimentos básicos relacionados com as matérias, Ílo âmbito de toda aescota
e
no saber gerira
salade
aula. Há muitos excelentes testes e vÍdeos didácücos para os professores que receberam pouoo treino formal em desenvolvimento de sala de aula.5
ESTRANH% ENTRE DOIS MUNDOS: O MUNDO DA ESCOIÁ E O MUNDO DA VIDA
CAPíTULO I
BREVE§ PARTICULARIDADES DO OBIECTO DE ESTUDO
6
ESTRANHilA ENTRE DOíS MUÀIDOS: A MUNDO DA ESCO|,A E O MUNDO DA VIDA
l.í.
Sobre a lnclusãoA
problemâtia da
inclusão escolaré
identificada, hoie, como umtema predominante no contexto educativo
e
tem vindoa
transformar-se,numa
das
questÕes centraisdos
disculsos polÍticoe
pedagógico, aos conceitos, até há pouco preponderantes, de'igualdade de oportunidades"e
de
"insucessoescolaf.
Esteé
um dos
aspectosque
abordarei no deconerda
nossa análise. Esta análise pretende evidenciaro
papel da escola inclusiva no sistema edusativo, papel esse queé
desempenhado,quer pelos docentes na escola quer por todos os outros que pretendem influenciar os desígnios do sistema educativo. Neste senüdo, erúendo por inclusão um cún@ito, antes de ser uma prátic? e os conceitos têm que ser ínteriorizados, isto significa que teráo que estiar na cabeça das pessoas antes de serem usados. Os conceitos interiorizados tomam-se tÍio naturais
que
a
práücasurge
espontânea.E
é
aqui quê surge
a
principal preocupação orientadorada
nossa
investigação:Será que
a
nossa sociedadetem
verdadeiramente interiorizadoos
valoresda
inclusão? Como mudar a escola? Para melhor entender este fenómeno no sistema educativo considero-o de acordo com alterações profundas oconidas aolongo
da
segunda
metadedo
século
)O(
no
campo
da
educa@o, particularmente, no que se refere à sua dimensão polítim e social.Se por um
lado,em
todos
os
níveisde
ensino, Gom especial oconência no ensino básicoe
secundário, a democrat2a@o do ensino e ftequência escolar, provo@u, e no âmbito da investiga@o sobre igualdadede
oportunidades cÍtamos (Dubete
Duru-Bellat; 2000:112)a
"panne do ascensor social o em que a ideologia meritocÉüca transformara a escola;por
outro
lado,a
designada "esco/apara
Íodos" (Stoer;20ü2:73)e
a indiferenciaçãodos
percursos escolares(ao
nívelda
escolaridade doensino
básico)
vieram
contraditoriamente,reduzir
o
efeÍto
de democratizaSo que a "luta contra as desigualdades escolares visava".7 DÍsserÍação de Mestmdo: Fátima Ramos Corga
ESTRANHEZA ENTRE DO'§ MUNDOS; O MUNDO DA ESCOLA E O MUNDO DA VIDA
Mais acrescentarn Dubet e Duru-Bellat : <<MesmÔ se esfa funçãolde ascensor sociall
foi
sobreavaliada,o
cefto
,éque
a
escolaa
cumprÍu efectivamente, sobrefitdo,até
aos anos 70, na coniuntura muitoprópia
dOs Trinta
Glonbsos[anos]
em
que
se
coniugavao
crescimento econômico,a
multipticação dos empregos qualifrcados e o prolongamentoêspêetaculâr
das
escolarizagões. Contudo, hoie, este perÍodo acabou»-(ibid.:74).Efectivamente,
a
desvalonza$o dos diplomasfaz
incidirde
novosobre
a
origem social,o
seu valorde
usO no mercadode
trabalho, ao mesmo tempo que transporta para nÍveis mais elevados de escolaridade, a desigualdade social dos percursos escolares. Em Portugal,os
esforços desenvolvidos duranteos
anos
90
para
fazer cumprira
escolaridade obrigatória de nove anos confrontam-se com os resuttados da investiga@osociológica,
segundo
os
quais
o
diploma terminal
da
escolaridade obrigatóriaé
aqueleque
conhe@u uma desvaloriza@o mais rápida e acentuada (Grácio; I 997 :M).
Deste modo, a perda de consenso sobre os valores da escola e da sua uülidade, bem como a democratizaçáo do seu acesso (pelo menos ao nível da
educa6o
de base) e as transforma@es deconentes da alteraçãodo seu público, (a escola tem úndo a ser invadida por todos aqueles que,
há pouco tempo atrás, não se aproximavam sequer da entrada) os quais contribuíram
para
que
a
escola perdessea
sua
coerênciae
eficácia enquanto instrumentode
reproduçãoe
dominação social. Tal como está organizada hoje,a
esoola,tem
dificuldadeem
cumpriro
seu
mandato inicial de transmissão de valores, de selecção (tendo em vista a divisão do trabalho), de imposição de uma ordem social. Neste sentido, R. Canário &Natalia
Alves
(2001:15)no seu
artigo 'Escolae
Exclusão SociaL das promessasàs
inceftezas" (ibid.), salientam: «O iníciode
uma recessão durável, a partirde
meados dos anos 7O, que sucedeu ao <ccÍtculo virtuosodo
fordismo»» (quea
sociedade poftttguesa não chegou vetdadeÍramente a8
ESTRANHEZA ENIREDOTS MUÍVDOS; O MUNDO DA ESCOIJ4. E O MUNDO DA V|DA
conhecer) conduz
a
que,
relatÍvamenteà
escola,à
eufoia
sucruda odesencanto»», e acrescentam ainda: parad»xalmente, a demacratização do
acesso
à
esco/a comprometeu-acom
a
praduçãodas
desigualdades socrars e como referem (Bourdieuê
Passeron;1970: 67), sem,ao
mesmotempo,
the
permítir eumpríras
suas
promessas impossÍvem (Boudon; 1973:107).A tendência de hoje é que a fun@o da escola seja simplesmente a
de determinar os que "esfão dentro"
e
os que "estão fara ". Como tal,m
chamados "excluÍdos da escola", (e estiamos a fatar de exclusão escolar), isto é, os que não sâo admitidos, os que abandonam ou são abandonados, ou tão simplesmente os que não são reconhecidos pelo sistema, porque não têm "sucesso" ou são "especiais', constituem hoje as principais vítimas
do
insucesso escolare
da
falênciadas
diversas estratégiasda
suademocratizafio (Alves e Canário; 1999: 33).
Segundo estes autores, hoje em
dia
são diversas as formas de exclusãoque
a
escola opera.Num
primeiro sentido,a
exclusão está relacionada, principalmente, @m a "desigualdade de oportunídades" (íÔrd.)e
realiza-se através de mecanismos demasiadamente conhecidos, como sejam:a
influência das diferentes origens sociais dos alunos nos seus percursos escolares,a
estruturaçãoda
oferta educativaem
função de factores económicos, culturais e sociais; a falta de apoios diferenciados; a hierarquização dos graus.É neste contexto das
"
questões sociais, económicas, cu[turais" edos
efeitos
cruzadosdo
acréscimode
qualificações, acréscimo de desigualdade,que
é
necessárioinserir
e
aompreendera
criação daexclusão relativa
pelo
sistema escolar
como
algo
que
lhe
é necessariamente inerente. Tendencialmente,é
estacriaÉo
de exclusão, constitutÍva da instituição escolar e distinta dos fenómenos de "reproduçãodas
desigualdades" assinaladosnos
anos
60
e
70
que
permÍte9 DÍsserfação de Mestndo: Fálima Rarnos Corgta
ESTRANHEZI ENTRE DOts MUNDOSi o MUNDO DA ESCOLA E O MUNDO DA VIDA
compreender
os
laçosde
causalidade circularque
unema
exclusáo escolar e a exclusão social.No
âmbitodo
conceitode
Exclusão Social,e
referimos FrançoisDubetl
"Quanto maisa
escola escolariza massivamente, mais ela exclui os alunos de forma relativa e a exclusão escolar, no seio da própria escola, toma-sea
experiência psicológica mais banal"e
acrescenta ainda:"
(...)observa-se
nas
fileiras
desqualificadasum
verdadeiro sentimento dealienação,
uma
imagem negativade
si,
uma
impressãode
desprezo, porque aí os alunos são definidos menos pelas suas possibilidades do quepelas suas
incapacidades. Frequentemente,estes
alunos
excluÍdos reieitam o estigma que se lhes impõe e escolhem ürar asitua$o
atravésda violência. É aí que se forma uma parte da raiva e de
fuio
das zonassubuúanas' (í996:51Q).
Num
segundo
sentido,
a
exclusáo
estárelacionada, fundamentalmente,
com
as
questões
de
insucesso
e abandono escotares.Se,
e
cite-se: (Magalhãese
Stoer
2OCÉ:)2 «nosúltimos
30
anos,a
pÍomessade
escola para todosfoi
maisou
menos cumprida,o
compromissode
ensinar todos estápor
realizar.Se
todos estão na escola, muitos estão lá apenas a mar@r presença: os níveis de insucesso são dos mais altos da União Europeia».Ainda no campo da Exclusão Social, Magathães
e
Stoer (2OM)a-têm procurado repensar as questões de exclusão escolar relacionada com
O insucesso
e
abandono, afirmam deste modoo
seguinte: «o abandono,ainda antes
de
terminada
a
escolaridade
obr§atória,
diminuiu, signiftetivamente, na úlüma década. Dos quaseí3%
dos alunos que não frequentavama
esola
antesde
atingidosos
15
anos, pa§sou-se, êffi 2A01, para apenas 2,7o/o (cerca de 18 mil. Vertfica-se que, o fenÓmeno daexclusão
é
mais
persistenteem
zonasdo
PaÍs
ondese
concentramt Cf,
E. Dubet, Théories de la socíalisúíon a d$nüíons socialogíques de
f
ecole. Rewe F?ançoise de Socíologie, )OO(VII, ppS I I -535.2
Cf. António I\dagalhfles & Stephen Stoer, A Escola
pra
Todos e a Excelêncía Ácadémica (2002),ProHiçôes.
'Cf. António lúagalhEÍes & Stephen Sto€r(2005) inVísão, no49, Fevereiro.
ESTRANHEZAENTRE DOIS MUNDOSi O MUNDO DA ESCOIÁ E O MUNDO DA VIDA
indústrias que recoÍrem a
mãde-obra
intensiva e pouco especializada: os alunos abandonam o ensino para ingressar, precocemente no mercado de trabalho.Porém, o mais subtil fenómeno de exclusão,
é
o caso da "exclusãopela inclusâo", aqui
o
que está em causa, sobretudo,é a
imposição de modelos de organização pedagôgica e padrÕes culturais uniformes, o que agrava o desfasamento entre a oferta e a procura escolares. Por último, a"exclusâo
pelo
sentido",
no
qual
se
assiste
aos
efeitos
de
lógícas heterogéneas de "@nsumo" escolar em que muitos alunos não encontram na escola um sentido para a sua frequência a diversos níveis: quer ao n[vel do saber partilhado, quer ao nível da sua úilidade social, quer ainda como perspectivade
üda.
Deste
modo, aindaque
todasestas
formas de exctusão sejam determinadas por muttos factores exteriores à escola, tais como: polÍticas educativas, economiae
organizafio
social, existem por outro lado factores endógenos que contribuem grandemente paraa
sua existência ou para o agravamento dos Seus efeÍtos. São de destacar, não só os que estão relacionados especifiemente com o trabalho pedagógico,mas
tambémos que
estruturama
escolano
seu
conjunto, enquantoorganiza$o,
e
ditam
as
relaçÕesentre
os
seus
diferentes agentes:administra6o, professores, alunos
e
suas famílias. Nesta conjuntura, a estrufura escolar de educação ea
ordem burocrática de organização quetemos,
constituemhoje os
factores estnrturaismais elpressivos
que contribuempara
o
mal que
se
vive nas
nossas escolase
para
um crescente sentimentode
ineficáciae
injusüp
no
seu funcionamento-A
inclusão
de
todos
os
alunos numa
mesma
tnatrizf
pedagógica é responsável por muitos fenómenos de exclusão.A
escola massificou-sesem
se
democratizar,isto
é,
sem criar
estruturas adequadas aoalargamento
e
renovação da sua popula@oe
sem disporde
recursos e modos de acçãoneessários e
suficientes para gerir os anseios de uma escola paratdos,
com todose
de todos. Entrea
"procura"e a
ooferta"ESTRANHüA ENTRE DOIS MUMOS: O MUNDO DA ESCOIJ4' E O MUNDO DA VIDA
escolares, vertfi@-se uma grande discrepância, resultiante da persistência, nas circunstâncias actuais, de uma organizaçáo pedagógica criada para públicos homogéneos, previamente seleccionados.
NesÍe sentido
e
para reforçaro
que foi dito anteiormenÍe, cite-se Madureira Pinto (1997: 481 "lna existência de umalmntndição
estruturalentre
condições, socialmente diferenciadas,de
acumulaçãode
capitalcultural
e
de
lógicas, tendencialmente uniformizadoras,de
difusão e ceftifrcaçáode
saberespropiamente
esooíarcs".Após
estra citação, importa reafirmar que este paradoxo hoje presente no sistema educativo, éo
responsávelpela
perdade
sentÍdodo
trabalho pedagogico (entre o prazeÍ de instruiç a necessidade de educar e a utilidade de estudar), querpara
alunos,
quer para
professores, traduzindo-seno
fenómeno de inclusão que na presente investiga@o,é
objecto de estudo. Uma escola dita inclusiva êinepaz
de ensinar todos. (Magalhães e Stoen2004:76).Como podemos verificar,
a
exclusão escolartem
eracterÍsticasmúttiplas
e
raÍzes diferentes que dependem de cada contexto particular. Onão
ir à
escola,o
acessoa
serviços educacionais pobres,o
fracassoescolar,
a
educação
em
contextos
segregados,a
discriminação educacionale
as baneiras para ter acesso aos conteúdos curiculares, a evasãoe
o
absentismo traduzem-se nalgumasdas
mracterísticas dos sistemas educativosa
nível mundial,os
quais excluemas
crianps
de oportunidades educacionais e violam os seus direitos de serem sistemáücae formalmente educados.
Certamente
euê,
qualquer pessoa
que
experimente exclusão educacional, encontrará menos oportunidades para participar de algumas dinâmicasda
sociedade, assim oomoas
probabilidadesde
sofrer de situações de discrimina$o serão maiores.Neste estudo, salientamos
a
importância que o levantamento das componentes que Ínfluenciam a dinamização do sistema educativo tem noaerto de
respostas eficazesàs
exigênciasque
constantemente seESTRANH% ENTRE DOIS MUruDOS: O MIJNDO DA ESCOIJ4. E A MUNDO DA VIDA
formulam. Daqui
decone
a
importânciade
saberque
apoio aufere osistema educativo,
quais
os
recursosque
o
sistemapode
aiustar àsatisfação
das
necessidades.Só
após
saber
o
posicionamento dosdiversos agentes
eduetivos,
se
pode Íazer
um
u§o
especificamente dírigido das estratégias e técnicas do sistema educativo, como a inclusão.Perspectivamos
teoricamente
a
análise
de
inclusão
escolar recoÍTendo ao mntributo de vários autores como: António Nóvoa; Belmiro Gabrito; Rui Canário e Stephen Stoer).Pretendemos
também
delimitar conceitose
pensar
o
sistemaeducativo delimitando-o .
no
espaçoe
no
tempo.A
presente análiseprocurará situar-se na conjuntura edumtiva portuguesa acfual.
r.2. REFLEXÕES SOBRE A ESCOLA E A EDUCÀçÃO.
No
séculoXVl, Luís de
Camões escreveu, numdos
seus
mais conhecidos sonetos,que
tudo
muda,até
mesmoos
modos como as mudanças se operamf
(.,.)
E afora este mudar-se em cada dia /,Outramudança
faz
de
mor espanto/
Que não
se
muda mais como soÍa).Passados mais de 400 anos, talvez seja esta a nossa leitura do panorama
da
educaSo:
não só mudam os aspectos mais sensíveíse
eüdentes da educa@o, mas mudam também os processos,os
determinantes destasmudanças.
Num
mundo
que
se
globaliza, encobertopor uma
certrahomogeneiza@o, mas
que ao
mesmo tempose
toma
cadavez
mais complexo, toma-se necessáriauma
análisemais
profundade
toda
a complexidade que diz respeÍto a esta temática. Neste sentido os autores,S.
Stoere
L.Cortesão referem: <<só situandoa
escola tanto no contextohistórico
e
global do tempo actual como no contextoloel,
só tenhndo compreendercomo
ela
está
enquadradapor
acontecimentos, porESTRANHÜA ENTRE DO,íS MUNDOS: O MUNDO DA ESCOIÁE O MUNDO DAVIDA
situações
que
a
transendem
e
constrangem,será talvez
possívelcompreend&la
melhor
ê
encontrarformas
de
a
escola
e
os
seu§ professores alcançarem algumas conquistas no âmbito da sua actividade profissional».Há algumas décadas atrás, não oferecia dwidas qual
o
papel que aescola deveria ter na sociedade. A escola ajudava à integra@o no tecido
sócio
-
laboral,a
escola promoüa socialmenteao
mesmo tempo que preparava paraa
üda
acüva. Neste sentido, cite-se,A.
Magalhães e S.Stoer (2AA2:73) <<eraa
estratégia preferencial da classe média para garantira
sua
reproduçãoe
mobilidade sociais»», Em Portugal, entre a implantaçãoda
Repúblie
e
a
reforna Veiga
Simão,a
escola foi-se tomando mais ou menos inclusiva, mais ou meno§ exdusiva, mas sempre essencialmente a única fonte da infornação e do saber.A
escola da primeira metiade deste séculoé
a
escoladas
certezas, segundoR.
Canário (2001:14). Ela pôde funcionar nesse período comouma
verdadeira instÍtui@oque,
a
partir
de
um
conjuntode
valoresintrínsecqs
e
estáveis, produzia indivíduos
com
comportamentosconformes
com
um mdelo
c[üco
previamente estabelecido. Ela @Írespondeu bem, nesse período, ao rebato que dela fraçou E. Durkheim(í966:í23),
enquanto promotorada
integração social, atravésde
uma "sociatizaçãometódim"
da
geraçáojovem
(Canário;2OAt14).
Nesse contexto,a
escola além de funcionar como uma "máquinade fabrielJ
cidadãos, a escola oferecia uma insúu@o de base e percuͧos esmlares sociatmente muÍto diferenciados beneficiando ainser$o
na diúsão social do trabalho. Actuando assim segundo um modelo assumidamente elitista,a
escola ünha que apare@r como promotora dasigualdade
sociais, ao mesmo tempo que podia, de uma forma parcial, acfuar como um meio deascensão
social
(ibid.:1í\.
Duranteeste
período,a
escola
apesar de manifestar um carácter elitista, não aparecia identificada com a criação deESTRANHEZA ENTRE DO'S MUNDOS.' O MUNDA DA ESCOLA E O MUNDO DA VIDA
injustiças sociais, favorecendo alguma as@nsão social
em
função do mérito.Deste modo,
o
período quese
segueà
segunda gueffa (os "trintagloriosos)
marcao
grande crescimentoda
oferta educativae
es@lar,como
resultadoda
adequaçãoentre
o
aumentoda
oferta
(polÍücas públicas)e
do
aumentoda
procura(conida
à
escola).
Deste contexto, Surge o fenómeno de "explosão escolar'que marca a passagem de uma escola elitista para uma escola de massas.À
expansão quantttativa dos sistemas escolares, está associada uma atifudede
euforiae
optimismo relativamenteà
escola, baseadana
associaçáo entre mat§ esco/ae
asseguintes promessas; desenvolvimento; mobilidade social
e
igualdade-Citamosa
este propósÍtoR.
Canário que afirma: uma outra maneira de analisara
escota e tentar compreender as sua§ mutações conesponde a adoptar uma perspectiva diacrónica que permite identificar três períodos distintos: o período da "escola dasertezas"
que marca o período forte da instÍtuição,tendo como
referênciao
designado "EstadoEducadof;
o perÍodo da "escola das promessas" que, a partir de meados do século XX,é
concomítanbcom
a
constução
de
um
Estado-Providênciaque
se assume como "Estado DesenvoMmenüsta"; e, finalmente, a enhada na erade
uma
"escoladas
incertezas", duranteo
últimoquarto
de
século,coÍrespondendo
à
erosâo
do
Estado-ProÚdência,à
sua
perda
delegitimidade
e
consequente emergênciade
um
Estado "m[nimo" ou modesto, tambrám designadopor
"Estado Reguladof. Afinmamos destemodo que
os
designados modemos sistemas escolares nascem noprocesso
de
transiçãodas
sociedadesde
Antigo
Regime
para
as modemassocidades
industriais, fundadas no capitalismo liberale
numsistema
de
estados-Nação, representandoa
escola,não
apenas uma "invençãohistórie",
mas Uma inven@o recente que coÍresponde a "uma revolução nos modos de soCializasto", ou seja, a uma forma diferente de "fabricar o ser social'.ESTRANHFZA ENIRE DOIS MUNDOS: O MUNDO DA ESCOIJ4. E O MUNDO DA VIDA
Neste sentido, os autores S. Stoer e H. Araújo salientam que, falar da
escola
de
massas implica falarda
especificidade portuguesa. Num dos seus artigos Educaçãoe
Democmcia num País Semiperiféico no Conbrto Europeu (Stoer;1986:72), um
dos seus
primeiros obiectivosfoi
o
deestabeleer
a
especificidade portuguesa educativanum
perÍodo de importante mudança social, Numa sociedade oomo Portugal, S. Stoer H.Araúio
defendemque,
a
educaçãoe
a
culfurade
um
modo geral desempenhamum
papel fundamentalna
construçãoe
preservação deuma sociedade democnitica.
A
relevância dadaao
papelda educa$o
fundamenta-se
no
pressupostode
que, num paÍs
que
sofreu
umdesenvolvimento desigual e onde as relações de produção de
erto
modoinstáveis, obrigaram
o
Estado
a
desempenharum
papel central
naregula$o
económica,
onde
.os
bens
simbólicosse
tomam
mais importantesque
habitualmente pernitindoa
realização das funçües do Estado, tanto de controlo social comode
legitimação.A
este respeito S.Stoer
(1992:141refere
o
sociólogo
BoaventuraSousa
Santos
que carac,terizoua
especificidade portuguesa«cotno
uma
desadequaçãoarticulada
entre
relações
capttalistasde
produção
e
rela@s
dereproduSo
smial»
(Santqs;1985: 8721. Poroúras
palavras, segundo B.Sousa Santos existe «um atraso nas rela@es de produção capÍtalista, mas paradigmas de consumo equivalentes aos países dominantes do cenfro» (ibid.r- Como efeÍto importante desta «desadequa$o articulada» surge o papel do Estado, ou seja, apesar de ser <<intemamente forte (.,.) a força do
Estado não
se
transforma facilmentena
legitimidadedo
Estado». Por exemplo, naformulaÉo da
política educativa,o
apeloàs
organizações intemacionais (Banco Mundial C.E.E, O.C.D.E.), tem sido uma constante.Outro
aspecto relevante,foi
a
contribuiçãoda
escolae
da
extensão obrigatória para a designada mutação simbólim dos grupos @mponesesa. Estes com atÍtudes de resistência perante a escolaridade obrigatória, nos4
Cf, §. Stoer: 1991
ESTRANHEZ:/ ENIRE DOIS MLJND?S: O MIINDO DA ESCOLA E O MUNDO DA vlDA
últimos anos, têm, crescentemente vindo
a
percepcionara
esoola como fomecendo diplomas que pelrnÍtemo
a@s§oà
condiçáo salarial (Stoeç19il:7n.
Já
em
estudos
anterioresos
autoresS.
Stoer
e
H.
Araújo intenogaram-se a@rca do modo como procuraria a polÍticaducativa
em Portugal contribuir para consolidara
escolade
massas perante grupos sociais cujos filhos e filhas eram "reservistas" de mão de obra na esfera da famÍlia. (ibid.:77).A
este nível, parece não ter exisüdo uma reflexão que permitisse à política educativa responder aos desafios colocados por estesgrupos
à
escolade
massas.As
escolase
oS seus agentes afirmaram sustentar-se no pressuposto de que todos eram tratados de igualforma, na base da cidadania que a todos era idêntica. Confudo, em muÍtas escolas, tratou-se dos grupos mais atingidos pelasele@o
escolar, com índices de reprovação,mas
sobretudode
abandono escolar assinaláveis,e
de entrada preco@ no mercado de trabalho, que em muÍtos c€lsos, trata-se deum
trabalho
subtenâneo, clandestino
(Stoec148)5.Pode-se
pois, argumentarque
com
a
expansâoda
escola parao
campo,uma
pré condi@o materiat da reprodução capitalista estava assegurada, ou seja, a escolaridade obrigatória tomou-se condiçãosÍne
qua
nonda
forg
do trabalho entrar no mercado de trabalho.Neste contexto, A. Magalhães e S. Stoer (2002:8)
aentuam
que pela primeira vez, asociedade portuguesa se confrontou com o fenómeno de a quase totalidade das suas criançase
grande parte dos seus iovens severem
envolüdos
no
sistema
eduativo. Não sendo
um
fenómeno especificamente português,no
nosso paÍsele
assumiu uma relevância muito especÍfica, dadoo amso
que o§ nossosÍndies
de scolarizaçãoapresentraram nas três últimos séculos. (Desde que o Marquês de Pombal lançou as raízes do sistema educativo português na parte final do século
)Ultl
até
aos diasde
hoje, passando pela fase, fortemente retórica, das Cf,
.S. Stoer &IL Araújo, Escola e Aprendizagem püra o Traballn msn País da (Semi)Perferia
Etrop e i a (lgYZ), Btiçiio: Escher
ESTRANHr':A ENTRE DOI§ MUNDOS; O MIJNDO DA ESCO,4- E O MUNDO DA VIDA
República,
a
escotarização sistemáticafoi
mais uma metado
que uma realidade. Os quarenta e oito anos de salazarismo-
marcelismo' por Suavez, vieram não só estagnar
o
desenvolvimentodo
processo cgmo, em muitos aspe6to5, o fizeram regredir). Actualmente, esta meta, pelo menosem
termos formais,foi
atingidae,
apesarde ser
aindafrágil
e
pouco consolidada,paree
desafiaras
estratégiasque as
diferentes classes assumem, de forma mais ou rnenos explícita, acerca daescolanzafio'
Na
verdade,
a
massificaçãoda
escola
é
eracterzada
comoconstituindo simultanêamentê
a
própria crisê
da
escola,a
sua
crise históricae
António Magalhâese
S. Stoer (2002:8) Gitam: Samuel Johsua (1999: 19): o compromisso cultural que fundou afunso
daesola ("')
está hoje desfeito. Nes.se sentido, esta crise tem uma importância enorme nãosó para o
futrro
da Escola, ma§ também paraa
sociedade êuropeia em geral. Podemos afirnar que este Compromisso es@lar, de matriz modema' desenvolveu-se sobretrdo no sráculo XX e consistia no equilíbrio conflitualentre
as
neressidadesdo
patronatode
disporde
umamão
de
obra relativamente qualificada e os anseios das classes populares de aumenhro
seu
nível
educaüvoe
de
certificaçâoescolar'
Foi
solidificadopoliücamente pelos estados
no
assumir da dependência causal entre o aumento do nÍvel educacional e desenvolvimentoeonómico'
DesfeÍtas as ilusõesacer€
desta conexão e com a transfonnação da própria natureza do trabalho nos presentes contextos pós-fordistas, é a própria legitimidade da escola, enquanto instituição pública, que parece estar em @u§a.A importância da escola para as vidas de muÍtosiovens estava longe
de
ser evidente. tsto era ainda mais problemático para os seu§ pais (ou encanegados deedueção).
Assim, a escola (de massas) como agência legitimadora do estado democrático encontrava-se, ou abertamente postaem
quesEo,
com
a
consequente
desvaloriza$o
da
democracia representativa ("deram-nos escolas que não nos servem para nada')' ou manipulada pelas estratégiasdos
paise
dos
alunos que tinham comoDrlsserÍação de Mestndo: Fálina Ramas Corga
ESTRANHEZA ENTRE DOIS MUÂIDOS: O MUNDO DA ESCOLA E CI MUNDO DA VIDA
objectivos outros que não aqueles que eram claramente determinadas pela escola, ou pelo sistema educativo em geral (como, por exemplo: "obter um diploma, controlar as crianças, escapar ao trabalho dos campos").
O framsso das promessas acima referidas foi a causa quê justificou a
passagem
de
uma
atitudede
euforiaa
uma
atitudede
desencanto, constatrada desdeos
anos setenta (ver Rui Canário, Clara Rolo, Natâlia Alves, 2OO1:15). Deste modo,a'Crise
da escola'tomou-se, desde o final dos anos sessenta uma expressão vulgar que exprimia um general2ado edÍfuso
senümentode
insaüsfa$o).
Escondendoinsaüsfa@e
muitodiversas
e,
até,
contraditórias,no que
r§peita
à
escola,o
uso
desta expressãotem um
inconveniente. Supõe apenasa
existênciade
ummodelo único
de
escota cuias condiçõesde
funcionamentose
teriam deteriorado a partir de uma certa época, coincidente com a construção da esçola de massas. Deste modo, a expressãO "crise da escola" designaria, essencialmente, um conjunto de disfuncionamentos da instÍtuição escolar, aos quais seria possíveldar uma resposta de natureza técnica, susceptívelde devotver
à
escola todaa
sua eftcácia.O
que estava completamente enado.Antes
de
ser
uma crise
técnim, era
essencialmenteuma
crise política,que
se deveua
mutagões quea
escolafoi
sofrendoao
longodesse
sráculoe
que
a
conduzirama
uma crise.
PermÍtiuque
se reConhecesse desse modo, nâo um problemade
efraácia, massim
umproblema
de
legitimidadeda
instituiçãoescolar
(cf. por
exemplo, R' Canárioe
outros, 2AA1:14).A
compreensão dessas muta@es pode-se sintetizálas numa fórmula breve a qual a escola passou de um contexto decertezas para um contexto de promessas (rôtd-).
No essencial, a escola hierarquizada criada nos anos trintra
manteve-se intacrta até 1974, embora
a
partir dos anos sessenta o contexto social tivesse mudado bastantee
os Seus esÚangulamentos fossem carda vezmais
visÍveis.Na
décadade
setenta,em
Portugal, quandoo
regimeESTRANHEZA ENTRE DOIS á,íUNDOS; O MIhNDO DA ESCOIJ4 E O $IUNDO DA VIDA
salazarista expirou
e
um fôlegode
transformação foi desencadeado no sentido da construção de uma sociedade socialista, tomou-se possível um relatÍvo entendimentoentre
o
discurso político sobrea
educa@oe
o discurso pedagógico, visto que ambos concebiam â educação corno parte integranteda
mobilização revotucionária.No
entanto, quandoa
nova constituiçáofoi
aprovada,em
1976,e à
medidaque Portrgal
se
foi procurando integrar na dMsão intemacional do Úabalho (Stoeç2002:78), começoua
s,er construída uma barreira entreo
discurso políüco sobre educâção em que a sua preocupação era a normalização dos processos e estruturase
6gmo
recuperarda
escola meritocráti@que
consistia na igualdade de oportunidades de acesso, A. Magalhães e S- Stoer QOO2:23)e
o
discurso pedagogicoque
engrandeciaas
mnquistasda
revolu$o
através
da
promoçãoda
escola democrática (baseada na{igualdade de oportunidades desuesso).
Por outro lado,
é
de
referira
rela@o que se estabeleeu entre aeducaSo
e
a
e@nomia nesse período. SegundoS.
Stoer (1992; 83)' depois do 25 de Abril,a
esquerda em Portugal estava muito preocupada com a conservação dos objec.tivos da educaçáo e as necessidades duma economia capitalista, devidoaos
eÍeitosda
recessão intemacionale
à"crise
do
mpitalismo",os
quaisforam
em
certo
sentido resultado demudanças
no
métodode
fiabalhoque
levoua
indÚstriaà
procura de fabalhadores com habilitações mais generalizadas (impossibilitando desse modoa
entrada dos iovens no mercÉdo de trabalho como mão de obrabarata). Neste sentido,
a
edueção
era
vista
como
responsável da prepara@o de alunos para o mercado de trabalho, satisfazendo assim as necessidadesda
indústria. Argumentou-seque
essefacto
constituiu, reatmente, a degradação da educação deüdo emerta
parte ao disfarce da ligaçãopolÍtie
com a explora$o. Era completamente errado identificaros
objec.tivosda
educação, oomas
ne@ssidades da indústria, com as necessidades do capÍtal. Averdadeira educa$o, seria portanto, a nega@oESTRANHruENTRE DO'S MUNDOS: O IITUNDO DA ESCOTA E O MUNDO DA VIDA
do capitalismo industrial com os indivíduos alienados e a sua "alta cultura" (rbid.:S3).
A
esquerdaem
Portugal depoisdo 25
de Abril tentou, com sucesso, desarticular a ideologia salazarista em determinados sectores do sistema de ensino através duma forma deedueção
centrada na criança, tigada a uma pedagogia radical, qÚe e4primiu, em grande parte, a aliançada
primeira coma
ideologia socialista. Na pelspectivade S.
Sloer essa forma deedueso
surgiu por razões históricas e porque era adequada àprocura
duma
cone@o
da educa$o que
separa§Seas
esferas deedueção
e
produção. Neste sêntido,S.
Stoer refere-seao
papel doprofessor
com
uma
complexidadecada
vez
maior,à
importância de condicionamentos estruturais sobre o processo de ensino, e à neessidade de prever a separa@o da divisão do trabalho intelectual/
manual nâo sóem termos económicos, mas também em termos polÍücos
e
ideolfuicos. Assim, a concepçâo missionária do professor, aliada à ideologia socialista, não foi suficiente para uma transforma@o básica da sociedade portuguesae foi
ineaqz
de
contribuirde
modo
satisfatóriopara
umateoria
de mudança social nos paÍses capitalistas.Nos anos 1980,
a
discrepância cresceuà
medidaque um
novo mandato foiestabelecido com base na relevância económica da educa@o, em oposi@o aos pedagogos que insistiam na relativa autonomia da escola face às necessidades da indústia.Por sua vez nos primeiros anos