PE
444
ARTHUR
KOERICH
D*Áv1LA
.MIELODISPLASIA
NA
INFÂNCIA;
As1›EcTos
URoLÓG1cos
Trabalho apresentado à Universidade
Federal de Santa Catarina, para a conclusão de Curso de Graduação
em
Medicina.
FLORIANÓPOLIS
1998
MIELODISPLASIA
NA
INFÂNCIA:
ASPECTOS
UROLÓGICOS
Coordenador do Curso: Edson José Cardoso Ofientador: Maurício J. L. Pereima
Co-Orientador: Edevard José de Araujo
Trabalho apresentado à Universidade
Federal de Santa Catarina, para a
conclusão de Curso de Graduação
em
Medicina.
FLORIANÓPOLIS
1998
d”Ávila, Arthur Koerich.
Mielodisplasia na infância: awectos urológicos. Florianópolis, 1998.
26 p.
Trabalho de conclusão no Curso de Graduação em Medicina ~ Universidade
Federal de Santa Catarina
A
Edevard
Joséde
Araujo, pela orientação, pelotempo
dedicado, pelas revisões e críticas, fundamentais para a realização deste trabalho.Aos meus
pais, pelo incentivo.Aos
meus
irmãos,Augusto
e Eduardo, pelo trabalho de digitação e ~diagramaçao.
ÍNDICE
1.INTRODUÇÃO
... ..1 2.OBJETIVOS
... ..4 3.MÉTODO
... ..5 4.RESULTADOS
... ..ó 5.DISCUSSÃO
... ._ 12 ó.OONCLUSOES
... .. 19 7.REFERÊNCIAS
... ..2oRESUMO
... ..23SUMMARY
... ..24APÊNDICE
... ..251.
INTRODUÇÃO
Mielodisplasia é
um
termo usado
para designarum
grupo heterogêneode
anormalidadesda
medula
espinhal e/ou suas meninges.Sua
incidência éde
121000 nascidos vivosl.Alguns
autores2”3 preferem otermo
espinhabífida
cística, por causa
da
protrusão semelhante aum
cistoque
está associadacom
essas malformações.
A
mielodisplasiapode
ocorrerem
qualquer nívelda
coluna espinhalz e,invariavelmente, está
acompanhada
deuma
falha ósseaque
se caracteriza pelaausência dos arcos vertebrais posteriores
no
localda
lesão nervosa3.A
essa falhase
dá
onome
de raquisquise4.Ainda não
se sabe ao certo, se a lesão mielodisplásica se faz porum
déficitmesodérmico
(ósseo) durante aembriogênese,
com
falhana formação
dos arcos vertebrais posterioresou
se,inversamente, decorre de
um
fechamento
insuficienteda
placa neuralembrionária e, a partir desse defeito inicial, se
produzem
secundaiiamente asalterações dos tecidos circunjacentes, tais
como,
a fusão incompletados
arcos vertebrais3°5_Há
duas formas anatomo-patologicamente distintas de mielodisplasia:meningocele
e mielomeningocele.Na
meningocele, apenas asmeninges
encontram-se protruídas atravésdo
defeito ósseo.
No
interiordo
saco herniadohá
apenas líquido cefalorraquidiano(LCR),
uma
vezque
amedula
e as raízes espinhais encontram-seem
suasposições normaisz.
A
meningocele
representa cerca de5%
de todos os casosde
mielodisplasia e raramente leva a déficits neurológicos3.
Na
mielomeningocele
nao
só asmeninges
mas também
amedula
espinhal,2
por
mais
de90%
dos casos de mielodisplasia e é potencialmente a suaforma
mais
grave, pois geralmente leva auma
paralisia a nívelda
lesão edistalmente”.
A
lipomeningocele éuma
variante infreqüentede
mielodisplasia3. Consisteem
um
tumor
lipomatosoque
seforma no
interiordo
canal medular.Geralmente
não
leva a transtornosno
neonato,mas
pode
determinar deficiência neurológicaprogressiva à
medida que
a criança cresce, devido àcompressão
e/ou estiramento das raízes nervosasz.Pacientes mielodisplásicos,
como
sãochamados
os portadoresde
mielodisplasia, são quase
sempre
acometidos poralgum
graude
déficitsensitivo-motor, cujo reflexo
no
aparelho urinário se faz através deuma
condiçãodenominada
bexiga neurogênica3'5. Trata-se deuma
disfunçãona
complexa
inervação vesico-esfincteriana.Não
há
uma
relação nítida entreo
nível
da
lesão espinhal e ocomprometimento
funcionalda
bexigas.A
mielomeningocele
é amaior
causade
bexiga neurogênicana
infâncias,representando
90%
dos casos.Antes
da década
de 50, o tratamento cirúrgico dos pacientes mielodisplásicos era infreqüente e a maioria deles falecia durante a infância.No
decorrer daquela
década
eda
seguinte, os avançosno
tratamentoda
paraplegia eo desenvolvimento de vários procedimentos de curto-circuito para
o
tratamentoda
hidrocefalia,geraram
uma
onda
de entusiasmoque
levou ao tratamento intensivoda
maioria dos neonatos,com
fechamento
precoceda
lesão espinhal e curto-circuitodo
LCR,
nos casosem
que
isso fosse necessário3.Com
os progressosno
tratamento neurocirúrgico, a expectativa de vidadestes pacientes
aumentou
expressivamente, fazendocom
que
as atenções sevoltassem para o tratamento urológico,
uma
vezque
um
número
cada vezmaior
de pacientes evoluía para insuficiência renal3,como
reflexo
das disfunçõesEstá
bem
estabelecido atualmente,que
pode
haverdano
significativo ao trato urinário superior(TUS)
decorrente das disfunções vesico-uretraisó.A
metade
dos pacientes mielodisplásicos encontra-se sob o risco de degeneração
do TUS7.
Desse
modo,
o objetivo primordialdo
manejo
urológico é preservar a funçãodo
TUS,
que
encontra-seameaçada
pela disfunçãodo
TUI.Além
disso, busca-seum
nível de continência urinária socialmente aceita e a prevenção das infecções urinárias. Muitas formasde
tratar a bexiga neurogênicaforam
tentadas previamente, incluindo expressão vesical(manobra
de Credê) e derivaçãoextema
(vesicostomia). Entretanto,nenhuma
delas haviamostrado
resultados satisfatórioscom
o seguimento dos pacientes a longo prazo7'8'9.A
introduçãodo
conceito de cateterismo intermitente (CI) por Lapides et allo
em
1971,determinou
uma
era de grande sucessono
tratamento desses pacientes,não
somente
pelos avançosno
campo
da
continênciau,mas
também,
pelo fatode
agir profilaticamente contra a degeneração
do
TUSIZI3.Alguns
estudostêm
z-.zdemonstrado
a resoluçaodo
refluxo vesico ureteral(RVU)
eda
hidronefrosecom
o CI,denotando
assim,também
o seu caráter curativo14'15°16. Atualmente,a
~associaçao
do CI
com
drogas anticolinérgicas, consisteno
tratamento aplicado àmaioria dos pacientes3.
Devido
aosnumerosos problemas
associadoscom
as mielodisplasias, éfundamental
um
enfoque deuma
equipe multidisciplinar para o tratamento destetipo paciente3 _
No
Hospital Infantil Joana deGusmão
(HIJG), desde 1991uma
equipe
composta
por pediatra, urologista, neurologista, neurocirurgião,ortopedista, enfermeira, assistente social, psicóloga e fisioterapeuta,
tem
trabalhado, conjuntamente, para tentar
promover
uma
melhor
qualidade de vida ao paciente portador de mielodisplasia. Esta equipe édenominada
Grupo
de
Atendimento
Multidisciplinar aos Mielodisplásicos(GAMM).
4
2.
OBJETIVOS
Analisar epidemiologicamente os pacientes mielodisplásicos atendidos
no
3.
MÉTODO
Foram
analisados, retrospectiva e descritivamente,dados
de 124 pacientes cadastradosno
GAMM.
A
coleta dedados
foi feita através de seus prontuários,arquivados
no
Serviço deArquivo
Médico
(SAME)
do HIJG,
em
Florianópolis,Santa Catarina.
Foram
coletadosdados
epidemiológicos de todos os 124 pacientes, a saber: sexo, procedência, tipo e localizaçãoda
mielodisplasia e anomalias associadas.Dentre os 124 prontuários,
foram
selecionados aqueles nos quais se poderiarealizar o estudo urológico a
que
se propunha. Para fazer parte deste estudo,o
paciente precisava ter
uma
avaliação urológica inicial euma
avaliação urológicafinal,
com
um
intervalo de pelomenos
um
ano
entre si. Caracterizou-secomo
sendo
uma
avaliação urológica, a presença deum
ou mais
dentre os seguintesexames
deimagem:
ultrassonografia de rins e vias urinárias (US),uretrocistografia miccional
(UCM)
eurografia
excretora (UE). Setenta eum
pacientes satisfizeram os critérios
de
inclusãoacima
descritos eforam
submetidos a
uma
análise comparativa entre os estados urológicos inicial e final.As
idadesem
que
os pacientesforam
submetidos às avaliações urológicasinicial e final
foram
consideradas.Foram
anotados os resultados dosexames
de
US,
UCM
eUE
realizados nessas avaliações.Os
resultadosda
cistomanometria,quando
realizadana
avaliação inicial,também
foram
anotados. Finalmente,foram
registrados os procedimentos urológicos realizados nesses pacientes.A
utilização de drogasnão
foi considerada.4.
RESULTADOS
Entre as 124 crianças estudadas, 55
(44,4%)
eram
do
sexo masculino e69
(5
5,6%) do
sexo feminino.O
tipo de mielodisplasia mais encontrado foi mielomeningocele,com
lló
casos (93,5%), seguido por meningocele,
com
6
casos (4,8%), elipomeningocele,
com
2
casos (l,6%).Em
41 (33,1%), dentre os 124 prontuários pesquisados, não havia referênciaquanto à localização
da
mielodisplasia.Dos
83 restantes,onde
a localização eraespecificada, a lombar,
com
37
casos (4-4,6%), e a lombosacra,com
32
casos(38,6%),
foram
asmais
descritas.Foram
ainda descritas as localizações toracolombar,com
7 casos (8,4%)_, sacral,com
4
casos (4,8°/o), e torácica,com
3 casos (3,6%).Não
foi encontradonenhum
caso de mielodisplasia de localizaçãocervical.
Quanto
à procedência,32
pacientes(25,8%)
eram
da
Grande
Florianópolis,87 (7l,9%)
eram
de outras cidades de Santa Catarina, l (O,8%) erado
Estadodo
Rio
de Janeiro, eem
4 (3,2%)
prontuários estedado não
era referido.Uma
ou
mais anomalias congênitas,além da
mielodisplasia,foram
descritasem
65
pacientes (52,4%).Nos
59
restantes (47,6%),não
haviamenção
a outras anomalias,além
da mielodisplasia. Ocorreram,em
ordem
decrescente defreqüência,
37
casos de pé torto congênito,22
de hidrocefalia congênita,9 de
luxação congênita
do
quadril, 5 dehémia
inguinal, 3 de criptorquia e 1 caso deprolapso uterino, extrofia de bexiga,
fimose,
lábio leporino, escoliose,Tabela I
-
Crianças mielodisplásicas atendidasno
HIJG,segundo
as idadesnas avaliações urológicas inicial e final,
em
número
de casos (n°) e percentual (%).Idade
do
paciente Avaliação urológica inicial Avaliação urológica final(em
anos) nO 0/0 no 0/Í)0-12
2_44
4-'16
6_l8
8"“l10
10-112
12_l14
14_l16
58*
O»-^l\)›--l>-›-^-lã 81,7 5,6 1,4 5,6 1,4 2,9 1,4 0 1124
ø-)O0\O|-'^ |-‹ I-'-Iš 15,5 33,8 15,5 12,7 11,3 4,2 5,6 1,4 Total 71100
71100
( * ) 49 pacientes foram avaliados no primeiro semestre de vida.
Tabela II
-
Crianças mielodisplásicas atendidasno
HIJG,segundo
0tempo
decorrido entre as avaliações urológicas inicial e final,
em
número
de casos (n°) e percentual (%).Tempo
decorrido n°%
0_*2
15 21,12
-14
24
33,84
-16
15 21,1 6 *-18 14 19,7 8_'
10 1 1,4 10-112
0 O 12-114
2
2,9 Total 7 1100
8
Tabela III
-
Crianças mielodisplásicas atendidasno
HIJG,segundo
osresultados dos
exames
deimagem
na
avaliação urológica inicial,em
número
de
casos (n°) e percentual (%).
Tipo
TUS
TUI
dfi Pacientes
Normal
Anormal
Nomial
Anormal
exame
11° (0/0) n°(%)
n° (0/0) 11°(%)
n°(%)
Us
óo
(s4,5)42
(70) 18 (30) 55 (9i,7) 5(as)
UCM
62 (873)
46
04,2)
ió (25,s)* 12 (19,3)50
(soy)
UE
28
(39,4) 17 (ó0,7) 11 (39,4)25
(s9,3) 3 (1o,7)(*) Todos os pacientes com anormalidades no TUS, visíveis através de UCM, possuíam algum grau de RVU.
Tabela
IV ~
Crianças mielodisplásicas atendidasno
HIJG,segundo
osresultados dos
exames
deimagem
na
avaliação urológica final,em
número
de
casos (n°) e percentual (%).
TUS
TUI
Pacientes
Normal
Anonnal
Normal
Anonnal
exame
11°(%)
11°(%)
11° (0/ó) 11°(%)
n°(%)
Tipo deUS
62
(87,3)43
(69,4) 19 (30,6) 55 (88,7)7
(l1,3)UCM
30
(p42,3)22
(73,3) 8 (26,7)* 5 (l6,7)25
(83,3)UE
7 (9,9) l (l4,3) 6 (85,7) 6 (85,7) 1 (l4,3)percentual (%).
Pressão de escape IlO
%
<
40
cm
HZO
2 40
cm H2O
Não
houve
escape20
9 66,730
3,3 Total30
100
Tabela
Vl
-
Crianças mielodisplásicas atendidasno
HIJG,segundo
asl"
TUS'd
”a teraçoes
no
cita as nos laudos deUS,
nas avaliaçocs urológicas inicial e final,em
número
de casos (n°) e percentual (%).US
inicial (60 pts)US
final (62 pts)n°
%
n°%
Dilatação
do
SPC
Dilatação e/ou tortuosidade ureteral
Atrofia do parênquima
renalHidronefrose
Não
identificação deum
rim Alteraçãoda
ecogenicidade renalRim
multicístico displásicoContorno
renal irregular15
25
3 5 5 5 3,3 1,6 1,6 0 O›-*›-*l\>b.›L›.> 1-'©l\)bJ-l>O'\O\\D 14,5 9,7 9,7 6,5 4,8 3,2 0 1,610
Tabela VII
-
Crianças mielodisplásicas atendidasno
HIJG,segundo
as alterações citadas nos laudos deUCM,
nas avaliações urológicas inicial e final,em
número
de
casos (n°) e percentual (%).UCM
inicial (62 pts)UCM
final (30 pts) On°
%
n
%
Alterações
da
morfologia vesical* 17 27,4 17 56,6Resíduo
pós-miccional 19 30,6 10 33,3Refluxo
vesico-ureteral 162
5,8 26,7Bexiga
hipotônicaou
flácida 15 24,2 10Micção
por transbordamento 1 0 16, 1 10
U)-§\l\lO\OO
UJO*-'CD'-“l\J-lã-§UJU.>O0
Bexiga
neurogênica 12,9 13,3Bexiga
com
capacidade diminuída 9,7 13,3Bexiga
com
capacidadeaumentada
11,3 6,6Bexiga
hipertônica 11,3 3,3Esfincter hipertônico 6,4
0
Esfincter parcialmente competente 4,8 3,3
Refluxo
de
contraste para a próstata 3 4,80
Sinais de ampliação cirúrgica vesical 0 0 10
(*) Descritas nos laudos como: bexiga com contomos irregulares, bexiga alongada, divertículos vesicais,
Tabela VIII
-
Crianças mielodisplásicas atendidasno
HIJG,segundo
osprocedimento urológicos a
que foram
submetidas,em
número
de casos (n°) epercentual (%). Procedimento urológico n°
%
Cateterismo intermitente 61 85,9 Cirurgia 1 5 21,1 Dilatação ureteral 8 11,3Nenhum
8 1 1,3Dos
124
pacientes analisados, 5foram
a óbito. Dois delesno
períodoneonatal, durante a internação
em
que foram
submetidos ao tratamento cirúrgicoda
mielodisplasia.Dos
três restantes,um
faleceu porbroncopneumonia do
12
5.
DISCUSSÃO
No
que
diz respeito à mielodisplasia,houve
uma
preponderância discretado
~ ~
sexo feminino sobre o masculino
numa
relaçao de l,25:l. Estesdados
sao compatíveiscom
os encontradosna
literatura pesquisadalms,que demonstra
um
discreto
predomínio
do
sexo feminino.A
procedência foi muito variável,havendo
pacientes de todas as regiõesdo
Estado. Issopode
ser atribuído ao fato de a mielodisplasia seruma
doença que
exige tratamento muito especializado,
provavelmente
não
disponível nos locaisem
que
as criançasmoravam. Outro
motivo, éque
oHIJG
éum
hospitalde
referência
em
Santa Catarina, oferecendo seus serviços gratuitamente àpopulação, através
do
SistemaÚnico
deSaúde
(SUS).Dentre os tipos de mielodisplasia,
houve
um
predomínio
acentuadode
mielomeningocele,que
foi evidenciadaem
93,5%
dos pacientes.A
maioriados
autores2'3'5”19 relata percentuais
em
torno de90%,
semelhantes ao encontrado neste estudo.A
meningocele foi encontradaem
cerca de5%
dos casos, omesmo
percentual encontrado na literatura3.
Alguns
autoresmoafirmam que
a regiãolombar
éo
localmais
freqüentemente afetado por mielodisplasias; outros”, entretanto,
apontam
aregião
lombossacra
como
amais
afetada. Neste estudo, essas duas localizaçõesforam
asmais comuns, respondendo
juntas por83,1%
dos casos.A
regiãolombar
foi a sedemais
freqüentedo
defeito neural, ocorrendoem
44,5%
dos
pacientes.
A
região lombossacra foiacometida
em
38,6%
dos casos.Curiosamente,
nenhum
caso de localização cervical foi descrito;na
literatura foiPouco
maisda metade
dos pacientes (52,4%), apresentouuma
ou mais
anomalias congênitas,além
da
mielodisplasia.Segundo
Kroovand3, cercade
um
quarto dos pacientes apresenta hidrocefalia ao nascer; neste estudo ela ocorreu
em
33,8%
dos pacientes.Foram
constatadas anomalias ortopédicas, taiscomo
pétorto congênito e luxação congênita
do
quadril,em
um
número
expressivo depacientes,
mas
essesdados
não foram
confrontadoscom
a literatura, por fugir aoobjetivo deste trabalho.
Dos
124
pacientes mielodisplásicos inicialmente estudados,foram
selecionados 71 nos quais se poderia realizar
o
estudo urológico proposto.A
avaliação urológica inicial,na
grande maioria dos casos, foi realizadano
período neonatal, durante a internação
em
que
o paciente foisubmetido
àcorreção cirúrgica
da
mielodisplasia. Isso explica o fatode
48
pacientes(69%)
terem realizado a avaliação urológica inicial durante o primeiro semestre
de
vida.
Em
alguns casos, entretanto, o paciente havia realizado o tratamentoneurocirúrgico
em
outro serviço,sendo
encaminhado
aoGAMM,
somente
meses ou
anos após.Apenas 18,3%
dos pacientes tinha mais de dois anosquando
realizou a avaliação urológica inicial.Em
68
pacientes (95,7%), otempo
de seguimento,ou
seja, o intervalo entreas avaliações urológicas inicial e a final, foi inferior a oito anos.
Uma
explicação para issopode
ser a própria idadedo
GAMM,
cujas atividades iniciaramem
meados
de
1991.Em
nenhum
dos casos estudados, esse intervalo foi inferior aum
ano, pois esses pacientesnão
satisfaziam os critérios de inclusão, sendo,portanto, excluídos
do grupo
submetido ao estudo urológico.Em
apenas
trêspacientes, o
tempo
de seguimento foi superior a oito anos.Os
pacientesque
eram
acompanhados
antes da criaçãodo
GAMM,
foram
a ele incorporados.A
maioria dos pacientes analisados foiencaminhada
para oHIJG
durante asprimeiras
24
horas de vida,sendo
submetida à correção cirúrgicada
14
contra-indicações,
como
por exemplo, infecçãona
lesão.Dessa
forma, o contatoda
equipecom
o paciente fazia-se jáno
periodo neonatal,onde
eram
solicitadosos
exames
para a avaliação urológica inicial. ~A
US,
aUCM
e a cistomanometria saoexames
de vital importânciana
avaliação urológica inicial
do
paciente portador de mielodisplasias.A
UE
não
érealizada de rotina, pois
em
geral, revela apenas anormalidades tardias3.Seu
usodeve ser restringido aqueles pacientes
que
já apresentam anormalidadesno
tratourinário.
A
US
é oexame
de eleição para avaliar as anormalidades morfológicasdo
trato urinário. Estuda as alteraçõesdo parênquima
renal edo
sistemapielocalicial e detecta resíduos pós-miccionais de
forma
confiávels.Tem
aindaa
vantagem
denão
ser invasivo.A
UCM
é omelhor
exame
deimagem
para avaliarprecocemente
asanormalidades funcionais
do
trato urinário. Encontra-se alteradoem
cercade
80%
dos neonatos portadores de mielodisplasia4'21°22'23_A
cistomanometria, avalia o risco de degeneraçãodo
trato urinário superior.Dessa
forma, é o únicoexame
que
forneceum
prognósticocom
relação aoTUS
desses pacientes.
E
através delaque
seconhece o
valorda
pressãoem
que
ocorre o escape
da
urina atravésda
uretra, conhecidacomo
pressãode
escape(leak point pressure).
McGuire
et al24'25,determinaram que
pressões de escape iguaisou
superiores a40
cm
H2O
estavam
associados auma
alta incidênciade
hidronefrose
(81%)
eRVU
(68%).Por
outro lado, pacientescom
pressõesde
escape inferiores a40
cm
HZO,
corriampouco
risco(10%)
de terem seusTUS
agredidos.Atualmente, o
melhor
exame
para avaliar as disfunções vesico-esfincterianas presentesnos
pacientes mielodisplasicos é o estudo urodinâmico. Por haver sidoincluído neste trabalho, devido ao
pequeno
número
de pacientes a ele submetidos.Apenas
5(7%)
dos 71 pacientes avaliados, realizaram esseexame.
O
protocolodo
GAMM
estabeleceque
a avaliação urológica inicial de todos os pacientes mielodisplásicos deve incluir osexames
deUS,
UCM
ecistomanometria.
Os
exames
deUS
eUCM
foram
realizadosem
84,5%
e87,3%
dos pacientes, respectivamente. Entretanto, só
foram
encontrados os resultadosda
cistomanometriaem
30
prontuários (42,2%).Há
duas hipóteses para explicar esse fato:ou
oexame
não
foi solicitado a todos os pacientes,ou
algunsresultados
não foram
registrados nos prontuários,ou
ocorreu o extraviode
alguns deles.A
UE
énormal
em
80%
a90%
dos neonatoscom
mielodisplasia3'4”5.Por
isso, foi considerada desnecessária
na
maioria dos pacientes durante ainvestigação urológica inicial.
Naqueles
pacientesque
seapresentavam
pela primeira vezcom
idades superiores a2
anos, aUE
foicomumente
solicitada.Apenas
28
dentre os 71 pacientes(39,4%)
realizaram aUE,
na
avaliação inicial.A
US,
como
já era esperado, foi omelhor
exame
para avaliar a condiçãodo
TUS.
Revelou
anormalidadesem
30%
dos pacientesna
avaliação inicial eem
30,6%
na final.Como
não
houve
alteração nos percentuais, pode-se concluirque
a condição
do
TUS
foi preservadano grupo
de pacientes estudado.A
alteraçãono
TUS
mais
comumente
citada nos laudos deUS
foi a dilataçãodo
sistemapielocalicial,
como
pode
ser vistona
tabela VI.O
exame
que mais
chamou
a atenção pelonúmero
de alterações apresentadas, foi aUCM.
Revelou
anormalidadesno
TUI
de
80,6%
dos
62
pacientes
que
a realizaram.Na
avaliação final, esse percentual manteve-sepraticamente inalterado (83,3%). Esses percentuais são compatíveis
com
osencontrados
na
literatura4'21”22,23. Dentre as anormalidadesdo
TUI
citadasnos
laudos de
UCM,
sobressaíram-se as alteraçõesda
morfologia vesical e a16
A UCM
revelou anormalidadesno
TUS
de25,8%
e26,7%
dos
pacientes,nas avaliações inicial e final, respectivamente.
Todos
esses pacientesapresentavam
algum
graude
RVU.
Aliás, as alteraçõesmais
comumente
evidenciadas
no
TUS,
foram
oRVU,
atravésda
UCM,
e a dilataçãodo
sistemapielocalicial, por
meio da US, conforme
já descrito.O
únicoexame
que
revelou alteração significativano
percentualde
alterações foi a
UE.
Com
relação aoTUS,
esteexame
revelou39,4%
de
anormalidadesna
avaliação inicial e85,7%
na
final. Isso provavelmente ocorreupelo fato de a
UE
só ser solicitadano
seguimento deum
paciente,quando
oTUS
já apresenta sinais de degeneração. Entretanto, considerando-se que
apenas
10%
dos
pacientes realizaram esteexame
na
avaliação final, esse percentualde
85,7%
deve ser vistocom
cautela,mesmo
porque
a rotinado
serviço é solicitar aUE
somente
quando
aUS
é anormal.Na
avaliação final, oexame
que predominou
foi aUS,
realizado por62
pacientes (87,3%), resultado já esperado, por ser este o
melhor
exame
parao
seguimento ambulatorial dos pacientes mielodisplásicos5.A
cistomanometria, realizadaem
30
pacientes(42,2%) na
avaliação inicial,mostrou que
em
66,7%
deles, a pressão de escape encontrava-se abaixo de40
cm
H2O.
Esses pacientesforam
considerados de baixo risco para degeneraçãodo
TUS,
de acordocom
os estudos anteriormente citados24'25. Entretanto, cercade
um
terço deles apresentou pressões de escape iguaisou
superiores a40
cm
HQO,
~ ~
caracterizando
um
pior prognósticoem
relaçao à degeneraçaodo
TUS.
Foi constatado
que
um
percentual expressivo de pacientes (85,9%),encontrava-se sob
um
programa
de cateterismo intermitente.É
importanteressaltar
que
aquelespoucos
pacientesque não
obedeceram
a indicaçãode
praticar
o
CI,não
estão incluídos neste percentual,que
poderia ser aindamais
~elevado se todos os pacientes tivessem seguido as orientaçoes. Esse
grande
proposto foi boa, e
que
ofuncionamento do
GAMM
como
grupo
estavacom
altopoder
de persuasão.A
importânciado CI
já foicomentada
anteriormenteneste trabalho e é reforçada aqui por
não
haver piorana
condiçãodo
TUS
na
avaliação final
em
relação a inicial.Pouco
mais de20%
dos pacientes avaliados urologicamente,foram
submetidos auma
ou mais
cirurgias urológicas.As
fmalidades e técnicasempregadas foram
as mais variadas.A
dilação uretralcom
velas de Hegar, foi realizadaem
oito pacientes(l1,2°/Ó). Esta técnica
tem
sido descritacomo
uma
alternativa,ao
invésde
vesicostomia, para aqueles pacientes
em
que
não
se consegueum
controle das disfunçõesdo
TUI
atravésdo CI
associado a drogas anticolinérgicaszó.Alguns
pacientesquando foram encaminhados
aoGAMM,
jáapresentavam
importantes alteraçõesno
TUS,
devido aos anosque haviam
passadosem
o
tratamento eficaz para as disfunções
do
TUI.Um
dos pacientes foi admitido jáem
franca insuficiência renal;como
não
haviamais
altemativas para reverter oquadro,
o
paciente iniciouum
programa
de diálise peritoneal.Dos
cinco pacientesque foram
a óbito, dois oforam no
período neonatal.Nesses
casos, é nítida a relaçãodo
óbitocom
adoença
de base (mielodisplasia).Nos
outros três pacientes, não sepode
afirmar,tampouco
negar, esta relação.Apesar de
váriosdados
terem sido apuradoscom
relação ao estado urológicodos 71 pacientes analisados,
pouca comparação pode
ser feitacom
a literaturaespecializada, devido à heterogeneidade
da
amostra.Todos
os pacientes atendidos porum
grupo(GAMM)
foram
alvo de estudo, independentementeda
idade, bastando para isso que possuíssem osexames
urológicos necessários.Em
contraste, os trabalhos internacionaistomados
para comparação,descriminam
os pacientesconforme
a faixa etária e a condição inicialdo
trato urinário. Sugere-18
selecionem
melhor
os pacientes, permitindo, desta forma,uma
melhor
confrontaçãocom
osdados
já publicados.ó.
coNcLUsÕEs
l.
A
mielodisplasiaacomete
mais o sexo feminino, o tipo maiscomum
éa
mielomeningocele, e pé torto e hidrocefalia são as anomalias associadas
mais
freqüentemente encontradas.2. Considerando-se as avaliações inicial e final,
não
há diferenças significativasno
percentual de anormalidades descritas.3.
A
US
e aUCM
foram
osexames
mais
realizados; a cistomanometriatem
valor profilático e oCI
éimplementado
em
85,9%
dos pacientes.20
7.
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bladder compliance in children withmyelomeningocele and
high leak pointRESUMO
A
mielodisplasia éuma
malformação
congênitaque
afeta amedula
espinhal e/ou suas meninges, geralmentecomprometendo
o trato urinário inferior,onde
produz
uma
disfunção sensitivo-motoradenominada
bexiga neurogênica.Visando
o estudo dessas afecções,foram
coletados, retrospectivamente,dados
de 124 pacientes mielodisplásicos atendidosno
Hospital InfantilJoana de
Gusmão,
e selecionados 71 parauma
análise urológica.Foram
comparadas,
baseadasem
exames
deimagem,
as condiçõesdo
trato urinário, verificadasna
primeira e
na
última avaliação.A
forma mais
comum
de mielodisplasia foi amielomeningocele,
respondendo
por93,5%
dos casos.A
maioria dos pacientes(69%), realizou a avaliação urológica inicial durante o primeiro semestre
de
vida.
Em
95,7%
dos casos, 0tempo
de seguimento foi inferior a oito anos.Não
houve
diferença significativa entreo
percentualde
anormalidades detectadasnos
exames
radiológicos, nas avaliações urológicas inicial e final.As
alteraçõesmais
freqüentemente encontradasno
trato urinário superiorforam
orefluxo
vesico-ureteral e a dilatação
do
sistema pielocalicial.No
trato urinário inferior,mais
comumente
foram
observadas, as alterações morfológicasda
bexiga e o resíduo pós-miccional.A
cistomanometria revelouque
30%
dos pacientes apresentavapressão de escape igual
ou
superior a40
cm
de água,o que
lhes conferiaum
prognóstico mais reservadoem
relação à degeneraçãodo
trato urinário superior.A
cateterização intermitente foiimplementada
em
85,9%
dos pacientes.Pouco
mais de
20%
dos pacientesforam
submetidos aalguma
cirurgia urológica.A
dilatação uretral foi realizadaem
11,2%
dos pacientes.24
SUMMARY
Myelodysplasia is a congenital
anomaly
that affects spinal cord and/or itsmeninges. Generally it
damages
lower urinary tract enervation, causing adysfunction
named
neurogenic bladder.To
study these entities, datafrom
124 patients assisted at Hospital InfantilJoana
deGusmão,
were
retrospectively collected, being selected 71 ofthem
foran
analysis of their urologic condition. Itwas
made
a comparison, basedon
radiologicexams, between
initialend
final urologic valuation.The
commonest
kind of myelodysplasiawas
myelomeningocele, responsible for935%
of cases.The
majorityof
patientsunderwent
the initial urologic valuation during first semester of life. In95.7%
of cases, the follow-up time
was
shorter than 8 years.There
was
no
significantdifference in percentage
of
abnormalitieswhen
results of initialand
finalurologic valuation
were compared.
When
itcomes
toupper
urinary tract,abnormalities
most
commonly
observedwere
vesicoureteralreflux and
pielocalicial system dilation.At
lower urinary tract,most
commonly
were
described bladder morphological changes
and
inefficient bladder evacuation.Cystomanometry
revealed that30%
of patientshad
leak point pressure equal orabove
40
cm
HZO, what imputed
abad
prognostic for theirupper
urinary tract. Intermittent catheterizationwas
beingmade
for859%
of patients.Around
20%
of
patientsunderwent
some
urologic surgery. Urethral dilationwas
made
in11.2%
of
patients.PROTOCOLO
I. IDENTIFICAÇÃO
Nome
RegDN
/ / Sexo ProcedênciaII.
ESTUDO
DASMALFORMAÇOES
CONGÊNITAS1. Tipo ( )Meningocele ( )Mielomeningocele ( )Lipomeningocele ( ) Outros
2. Loca1ização( )Torácica ( )Toracolombar
( )Lombossacra ( )Sacral
3. Anomalias associadas (
)Nenhuma
( )Luxação congênita do quadril ( )Outros
( )Lombar
( )
Dado
não disponível( )Pé torto congênito
( )Hidrocefalia
III.
AVALIAÇÃO
UROLÓO-ICA INICIAL ( )ReaIizada1. Idade ( )US: ( )Normal (
)UCM:
( )Normal ( )UE: ( )No1ma1 2. Exames ( )Não
realizada ( )Anormal ( )Anonnal ( )Anormal ( )Cistomanometria: ( ) Pressão de escape<
40cm HZO
IV. AVALIAÇÃO UROLÓGICA F1NAL 1. Idade 2. Exames ( )US: (
)UCM:
()UE:
( ) Realizada ( )Normal ( )Norma1 ( )Norma1 V. PROCEDIMENTOS UROLÓGICOS(
)Nenhum
( )Catererismo Intermitente ( )Ci1'urgia ( )Não
realizada ( ) Anormal ( )Anormal ( )Anormal ( )Dílatação ureteral ( ) Outros0444 Ex.I IIHIIIIIIIII IMIIIMIIIIII