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Fatores de Vulnerabilidade que Influenciam a Conduta Infracional na Adolescência: uma Revisão

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Academic year: 2021

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Natasha Gouveia Studzinskia*

Resumo

A fase da adolescência mostra-se particularmente importante no que se refere à formação de hábitos e padrões comportamentais. Devido à intensa busca de identidade, o adolescente torna-se mais vulnerável as influências do meio, podendo colocar-se em situações de risco ao experimentar comportamentos diversos, incluindo os antissociais. Nos últimos anos, o número de adolescentes envolvidos em atos infracionais tem aumentado significativamente no país, o que traz à tona a necessidade de melhor entender o fenômeno para que seja possível criar estratégias viáveis à prevenção e atenuação dessa alta incidência. O presente trabalho apresenta uma revisão da literatura acerca dos fatores de risco que influenciam o cometimento de atos infracionais na adolescência. As variáveis encontradas podem ser divididas em quatro grandes fatores: sociais, familiares, escolares e pessoais. A situação socioeconômica tem influência direta no aumento da ocorrência de atos infracionais na adolescência, não por causa da pobreza em si, mas por um conjunto de fatores que são associados a sta condição. Já no que se refere à situação familiar, observa-se que a vulnerabilidade familiar pode afetar, negativamente, a construção de identidade do indivíduo, esta que é um elemento-chave do desenvolvimento humano. A escola, neste contexto, acaba entrando como mais um dispositivo segregador, que alimenta uma sequência de exclusões na vida do indivíduo. Por fim, os fatores supracitados, quando compilados a determinadas características individuais (como impulsividade, baixa tolerância à frustração, insensibilidade, falta de empatia), predispõe o adolescente ao envolvimento em condutas infracionais. Salienta-se que os fatores de vulnerabilidade devem ser entendidos de forma interdependente.

Palavras-chave: Ato Infracional. Adolescência. Vulnerabilidade. Fatores de Risco. Abstract

Adolescence is a particularly important phase regarding the habits and patterns behaviors formation. Due to the intense pursuit for identity, the teenager becomes more vulnerable to environmental influences and he or shecan put himself or herselfat risk by trying different behaviors, including the antisocial ones. In recent years, the number of teenagers involved in illegal acts has significantly increased in the country, which brings up the need to better understand the phenomenon so that it can be possible to create viable strategies to prevent and reduce this high incidence. The current paper presents a literature review about the risk factors that influence the performing ofof illegal acts during adolescence. The variables found can be divided into four major factors: social, family, school and personal. Socioeconomic status has a direct influence on the increased occurrence of illegal acts in adolescence, not because of poverty itself, but by a set of factors that are associated with it. In what concerns the family situation, it is observed that family vulnerability can negatively affect the individual’s identity construction, which is a key element of human development. The school, in this context, is regarded as an additional segregating device which feeds a sequence of exclusion in the individual’s life. Finally, the factors aforementioned when compiled to certain individuals’ characteristics (such as impulsiveness, low frustration tolerance, insensitivity and lack of empathy), predisposes the teenage’sr involvement in infractionalconduct. It is noted that vulnerability factors must be understood independently.

Keywords: Infractional Conduct. Adolescence. Vulnerability. Risk Factors.

Fatores de Vulnerabilidade que Influenciam a Conduta Infracional na Adolescência: uma

Revisão

Vulnerability Factors that Influence the Infractional Conduct in Adolescence: a Review

aAVM Faculdade Integrada, Pós-Graduação Lato Sensu em Psicologia Forense e Jurídica, RJ, Brasil. *E-mail: psico.natasha@gmail.com

1 Introdução

O desenvolvimento humano é um contínuo processo biopsicológico, influenciado diretamente pelo contexto sócio-histórico-cultural no qual o indivíduo está inserido. A adolescência, uma das fases mais intensas do ser humano, é acompanhada por mudanças físicas, cognitivas e psicossociais significativas, as quais propiciam a formação de hábitos e padrões de comportamento (CID; GARCIA; SILVA, 2014; SILVA et al., 2013; SILVEIRA; MARUSCHI; BAZON, 2012).

Erick Erikson (1976 apud SILVA et al., 2013), estudioso na área de Psicologia do Desenvolvimento, entende a adolescência como uma etapa na qual o indivíduo apresenta

intensa confusão de papéis e dificuldades para estabelecer uma identidade própria. Faz-se necessário, nesta fase, que o indivíduo sintetize identificações anteriores em uma nova estrutura psicológica, adotando valores que o nortearão em sua vida.

Na busca pela nova identidade, o adolescente costuma amparar-se naquilo que mais lhe favorece, lhe traz segurança e estima no momento. Por isso, é importante o acesso a papéis diversificados para que o adolescente tenha possibilidade de conhecer e escolher quais entre estes ele desempenhará. Nesse cenário, as relações interpessoais (familiares e sociais) são fundamentais, uma vez que auxiliam na construção e definição de um senso de si mesmo (CID; GARCIA; SILVA,

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2014; SILVA et al., 2013).

Observa-se, nessa idade, que apesar da relação com os genitores ainda se estabelecer como referência, os adolescentes estão mais influenciáveis ao meio, estimando seus pares consideravelmente e explorando novas e diferentes situações (muitas vezes com as quais não sabe lidar muito bem) (CID; GARCIA; SILVA, 2014; SILVEIRA; MARUSCHI; BAZON, 2012).

A adolescência compreende um período em que se experimentam comportamentos diversos, o que pode incluir os antissociais, que tendem a diminuir ao longo do curso da vida. Tais comportamentos correspondem, nesta idade, ao processo de construção da identidadena própria da fase, em uma tentativa de oposição ao outro e de testar os limites e regras sociais. Por outro lado, podem também camuflar uma possível depressão decorrente de um histórico de desamparo afetivo, emocional e familiar (KOMATSU; BAZON, 2015; TOLEDO et al., 2014; NARDI; DELL’AGLIO, 2014).

Salienta-se que a adolescência compõe o segmento de maior vulnerabilidade aos impasses sociais, o que expõe os jovens à violência, envolvendo-os como vítimas e/ou agressores (SILVEIRA; MARUSCHI; BAZON, 2012).

Os chamados “atos infracionais” referem-se, de acordo com o artigo 103 do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, aos comportamentos praticados por menores de 18 anos análogos ao crime ou contravenção penal (BRASIL, 1990). Os adolescentes envolvidos em atos infracionais apresentam um desenvolvimento permeado por uma variedade de situações de vulnerabilidade, com as quais precisam aprender a lidar. Tais variáveis devem ser consideradas de forma complexa, interdependente e cumulativa (NARDI; JAHN; DELL’AGLIO; 2014; DIB; BAZON; SILVA, 2012).

A proposta geral do presente estudo foi tecer os fatores predisponentes às condutas infracionais na adolescência. Especificadamente, teve-se por objetivo: identificar os estudos relacionados ao tema publicados nos últimos cinco anos; conhecer os fatores de risco indicados nos estudos selecionados; e descrever os fatores de risco listados.

Tal estudo faz-se necessário, tendo em vista que os adolescentes compreendem, atualmente, uma parcela de 11% da população brasileira e que o número de adolescentes autores de atos infracionais tem aumentado no país (UNICEF, 2011; NEV/USP, 2010).

Entre os anos de 2009 e 2010, por exemplo, houve um aumento equivalente a 4,5% adolescentes em cumprimento de medida de restrição de liberdade (NUNES; ANDRADE; MORAIS, 2013).

Apesar da incidência, acentua-se que tal fenômeno ainda é pouco compreendido. Desta forma, é de suma importância que se conheçam as variáveis e possíveis motivações associadas ao engajamento infracional cada vez maior de adolescentes. Só assim, é possível respaldar políticas de prevenção e/ou atenuação de sua incidência.

2 Desenvolvimento 2.1 Metodologia

A pesquisa ocorreu na modalidade de revisão da literatura, utilizando estudos nacionais relacionados ao tema. A revisão foi realizada nas bases Lilacs, SciELO e BVS, usando-se descritores “fatores de risco”, “conduta infracional” e “adolescência”. Foram encontrados 75 resultados, dos quais foram selecionados apenas 22 artigos, publicados entre 2011 e 2015, de acordo com critérios de inclusão e exclusão.

Os critérios de inclusão foram: artigos nacionais, com acesso na íntegra, publicados no idioma português, que retratassem a temática referente aos objetivos da pesquisa. Os critérios de exclusão foram: teses, monografias, livros, artigos em outros idiomas que não o elegido ou que se desviassem do tema proposto.

2.2 Discussão

Nas últimas décadas, os atos infracionais de autoria de adolescentes vêm aumentando. Ao mesmo tempo, a idade dos mesmos também vem diminuindo (SILVEIRA; MARUSCHI; BAZON, 2012; DAVOGLIO; GAUER, 2011).

Observam-se muitas características em comum inerentes a esses adolescentes. Apesar de essas características serem pouco exploradas para fins de enfrentamento da problemática, é importante destacá-las neste momento (SILVA et al., 2015; DAVOGLIO; GAUER, 2011).

De forma categórica são, em maioria, adolescentes entre 16 e 17 anos, de baixa condição socioeconômica, com histórico de institucionalização e uso precoce de drogas lícitas e ilícitas. Grande parte se mostra com problemas de saúde mental, humor, depressão e até histórico de tentativas de suicídio. Estes adolescentes apresentam dificuldades na socialização e rejeição em seu círculo social, o que os estimula a se relacionarem com pares que também apresentem comportamento desviante (SILVA et al., 2015; DIB; BAZON; SILVA, 2012; DAVOGLIO; GAUER, 2011).

Quanto à conduta desses adolescentes, observam-se comportamentos desviantes com violação persistente das regras e das normas sociais, histórico de agressividade, participação em brigas, danos a patrimônios públicos, vandalismo, impulsividade, ausência de sentimento de culpa e hostilidade (SILVA et al., 2015; DAVOGLIO; GAUER, 2011).

Nas questões escolares, é alarmante a baixa escolaridade. A grande maioria não concluiu o Ensino Fundamental, mais da metade não frequenta a escola e quando frequentam, apresentam baixa escolaridade, baixo rendimento acadêmico e evasão escolar. A relação com professores e pares também estimula neles um sentimento de rejeição (SILVA et al., 2015; PASIAN, 2014; DAVOGLIO; GAUER, 2011).

A família desses adolescentes é perpassada pela frágil vinculação e apoio parental, práticas educativas inconsistentes, significativos conflitos e desavenças entre os membros,

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dissolução familiar, monoparentalidade, envolvimento criminal por parte de outros membros da família, baixa escolaridade dos pais (PASIAN, 2014; DIB; BAZON; SILVA, 2012).

Antes de se debruçar sobre cada esfera influenciadora do comportamento delituoso, é importante clarificar o que vem a ser fator de risco para a conduta infracional. Os chamados “fatores de risco” nada mais são que acontecimentos (genéticos ou ambientais) relacionados ao aumento de prejuízos emocionais e/ou comportamentais no desenvolvimento de determinada pessoa (SILVA et al., 2015; CID; GARCIA; SILVA, 2014).

Quando uma pessoa é exposta a alguma variável de risco, ao ser comparada com a população geral, apresenta maiores chances de desenvolver problemas comportamentais. Essa probabilidade aumenta, exponencialmente, a cada fator de risco adicional ao qual a mesma é exposta, podendo chegar ao nível de tornar-se extremamente elevada (SILVEIRA; MARUSCHI; BAZON, 2012).

No caso específico de adolescentes em conflito com a lei, os fatores de risco são características consideradas como preditoras do comportamento delituoso, situados em diferentes contextos (como o familiar, escolar e social) (BAZON; SILVA; FERRARI, 2013; DIB; BAZON; SILVA, 2012).

Entretanto, já é importante ressaltar que a realização de um ato infracional não pode ser explicada pela presença isolada de um único fator de risco, mas como um processo multideterminado pelo contexto e por uma série de eventos da história de vida do adolescente (PEREIRA et al., 2015; CASTRO; TEODORO, 2014; NUNES; ANDRADE; MORAIS, 2013).

Os fatores de risco apontados na bibliografia como precursores em potencial do cometimento de atos infracionais na adolescência podem ser divididos, resumidamente, da seguinte maneira: fatores econômicos e/ou dispositivos sociais; domínio familiar; fatores escolares; e características individuais.

2.2.1 Fatores socioeconômicos e/ou dispositivos sociais Quando se fala em adolescentes autores de atos infracionais, a discussão “se configura como um sintoma social contemporâneo” (CENCI; TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2014, p.36).

Estima-se que quarenta por cento dos brasileiros, que vivem na miséria, estão na faixa de zero a catorze anos (NUNES; ANDRADE; MORAIS, 2013). Essa incidência está associada a outros problemas sociais como: exclusão e falta de amparo social, desemprego juvenil, baixos níveis educacionais, grande número de integrantes na família, etc., que acabam por gerar um elevado nível de estresse na família, o que a fragiliza a responder de maneira adequada às necessidades dos filhos, acarretando prejuízos ao desenvolvimento dos mesmos (CASTRO; TEODORO, 2014;

NUNES; ANDRADE; MORAIS, 2013).

Grande parte da população de adolescentes em conflito com a lei cresce em comunidades pobres, classificadas com baixos índices de qualidade de vida urbana e com uma renda familiar de até dois salários mínimos. Isso aumentaria, em até duas vezes, a chance de envolvimento em atos ilícitos como roubo ou assalto, ao se comparar com adolescentes de classe média. A vulnerabilidade desses adolescentes estaria atrelada à falta de acesso a bens e serviços sociais considerados básicos (PEREIRA et al., 2015).

É claro que o fator pobreza não explica a incidência de ocorrências de comportamentos infracionais, mas sim um conjunto de fatores de risco associados. Apesar de os adolescentes, que experienciam a pobreza na infância, correrem maior risco de se envolverem em atos infracionais no futuro, a delinquência não deve ser entendida como restrita às camadas populacionais de baixo poder aquisitivo (PEREIRA et al., 2015; DIB; BAZON; SILVA, 2012).

Entretanto, a má distribuição de renda, ou contraste entre a pobreza e a riqueza, por exemplo, potencializa a revolta e a dificuldade na busca de reconhecimento social dos adolescentes de classes econômicas mais baixas. Lembrando que tal reconhecimento é essencial na construção da identidade nessa fase, isso explicaria, parcialmente, a preferência por objetos de grife (e símbolos de status) como alvos em roubos praticados por adolescentes, que se sentem excluídos socialmente. Nesses casos, os adolescentes infratores estariam sendo mais afetados pelos efeitos da concentração de renda do que pela pobreza em si (CASTRO; TEODORO, 2014; DAVOGLIO; GAUER, 2011).

Finalmente, a sociedade tem sua parcela de responsabilidade pelo adolescente que se utiliza da violência como uma forma de busca por reconhecimento, em um sistema, que até então não o havia incluído (SILVA et al., 2013).

2.2.2 Domínio familiar

Os adolescentes envolvidos com atos infracionais, em geral, apresentam vida caracterizada por uma sequência de faltas, não apenas no que tange o aspecto social, mas também por fragilidade nos referenciais familiares (SILVA et al., 2013).

Sabe-se que o sistema familiar é a estrutura social elementar de qualquer indivíduo, sendo considerado como um importante fator de proteção ou de risco para condutas infracionais, a depender de sua dinâmica. Por ser o primeiro agente de socialização de uma criança, transmite valores, regras e padrões de comportamentos sociais, de afeto e da cultura (CENCI; TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2014; CASTRO; TEODORO, 2014; SILVA et al., 2013; NARDI; DELL’AGLIO, 2012).

Quando a família não consegue oferecer proteção, suporte afetivo e regulação social, o adolescente busca suprir a falta em ambientes externos (como na escola e na própria sociedade); e caso tais dispositivos não satisfaçam suas expectativas, o

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CASTRO; TEODORO, 2014; CID; GARCIA; SILVA, 2014; NARDI; DELL’AGLIO, 2012).

Outra variável de risco ocorre em famílias numerosas, em que o número de filhos é superior ao número de cuidadores. Nesses casos, geralmente, observa-se um desfavorecimento econômico, assim como maior incidência de maus-tratos e negligência. A probabilidade de o adolescente cometer delitos cresce progressivamente ao número de irmãos que possui (de três a quatro vezes para a pessoa que tem cinco ou seis irmãos, e 15 vezes para a pessoa que tem 10 irmãos ou mais). Uma explicação para tal incidência é a associação entre grande número de membros familiares e pouca renda familiar, que reduz o nível econômico da família, bem como o monitoramento das atividades de seus membros (CASTRO; TEODORO, 2014; TOLEDO et al., 2014; SILVA et al., 2013; DIB; BAZON; SILVA, 2012).

Também não é raro encontrar, em tais famílias, uso abusivo de álcool e/ou outras drogas pelos cuidadores, ou até mesmo comercialização de tais substâncias. Esses, e outros fatores, como o desemprego, a violência intrafamiliar, negligência e abandono são considerados como potenciais para o uso de drogas pelos filhos e afastamento familiar (CENCI; TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2014; SILVA et al., 2013; SILVEIRA; MARUSCHI; BAZON, 2012).

Outro importante fator potencializador do comportamento infracional na adolescência é a presença de conduta antissocial em algum membro familiar, uma vez que acabam por treinar essas habilidades antissociais por meio de práticas educacionais negativas. Sabe-se, afinal, que valores e condutas (agressivas ou não) dos adultos, em especial dos genitores, servem como modelo a ser seguido e imitado pelos filhos desde a mais tenra idade (CENCI; TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2014; NARDI; JAHN; DELL’AGLIO, 2014; NARDI; DELL’AGLIO, 2012; DIB; BAZON; SILVA, 2012).

Cabe aí mencionar outra importante variável, que se refere a práticas educacionais ineficazes. Estilos Parentais (ou práticas educacionais) podem ser definidos como táticas disciplinares empregadas pelos genitores junto aos filhos, visando o desenvolvimento da socialização, valores e atitudes moralmente desejadas e, consequentemente, a redução dos comportamentos considerados inadequados. Quando os pais se deparam com dificuldades em estabelecer regras ou vínculo com os filhos, eles acabam por se utilizar de práticas negativas, em que predomina a disciplina severa com punições inconsistentes cumuladas à falta de carinho e de atenção. Em outro extremo pode ocorrer a chamada “disciplina relaxada”, com baixo monitoramento parental, em que os pais evitam estabelecer limites para comportamentos inadequados de seus filhos. Ambas as táticas são ineficazes e aumentam em até 10% a chance de os adolescentes apresentarem comportamentos infracionais (SILVA; BAZON, 2014; TOLEDO et al., 2014; CASTRO; TEODORO, 2014; DIB; BAZON; SILVA, 2012; NARDI; DELL’AGLIO, 2012; SILVEIRA; MARUSCHI; BAZON, 2012).

mesmo pode acabar por recorrer a instituições mais rigorosas, como a Justiça (CENCI; TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2014; NARDI; DELL’AGLIO, 2012).

Apesar de ser considerada uma referência afetiva, a fragilidade da estrutura familiar é evidente na grande maioria dos casos, especialmente, no que se refere à dificuldade de seus membros em assumir seus devidos papéis (ex. inexistência de uma figura de autoridade na família, que estabeleça limites), bem como a inconsistência de vínculos familiares. Nesse cenário, é comum, por exemplo, que tais adolescentes apresentem dificuldade em se abrir com familiares, falando sobre eventuais dificuldades ou mesmo solicitando auxílio, quando necessário (CID; GARCIA; SILVA, 2014; CENCI; TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2014; NUNES; ANDRADE; MORAIS, 2013; SILVA et al., 2013; NARDI; DELL’AGLIO, 2012).

Pela falta de consistência afetiva disposta por seus cuidadores, esses adolescentes não se percebem como pertencentes às próprias famílias e não desenvolvem intimidade com seus membros. Por não encontrar um lugar para si dentro do seio familiar, buscam alívio no grupo de pares, por meio do uso de substâncias psicoativas e pelo cometimento de atos infracionais. (NUNES; ANDRADE; MORAIS, 2013).

Apesar disso, é importante ressaltar que a genitora acaba se posicionando em um lugar central e supervalorizado na concepção dos adolescentes. Sendo tido como alguém insubstituível e que, apesar de tudo, não deixa de se preocupar com ele, é a primeira pessoa a quem os mesmos recorrem em momentos de dificuldades (CID; GARCIA; SILVA, 2014; TOLEDO et al., 2014; NUNES; ANDRADE; MORAIS, 2013; NARDI; DELL’AGLIO, 2012).

Atualmente, é muito comum encontrar famílias monoparentais, chefiadas especialmente pelas mães. A necessidade de conciliar o trabalho com a vida doméstica dificulta a participação eficaz na vida dos filhos, o que pode contribuir de forma indireta na produção de risco para a delinquência juvenil. Tal relação ocorre pelo estresse causado ao cuidador, que deve assumir sozinho a responsabilidade econômica e afetiva da criação dos filhos, juntamente com uma rede de apoio familiar e/ou comunitária ineficaz (PEREIRA et al., 2015; TOLEDO et al., 2014; DIB; BAZON; SILVA, 2012).

A separação dos pais envolve vários eventos estressores – desde discórdias conjugais antecedentes até a perda de um dos responsáveis (geralmente o pai) – o que pode acarretar sofrimento significativo na vida dos filhos (CASTRO; TEODORO, 2014; DIB; BAZON; SILVA, 2012).

O distanciamento ou até mesmo a ausência da figura paterna (que muitas vezes ocorre desde a infância) acaba por privar os adolescentes de um importante modelo na formação da sua identidade, ocasionando prejuízos ao desenvolvimento dos mesmos, como a dificuldade em reconhecer limites e aprender regras de convivência social (TOLEDO et al., 2014;

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se caracterizar como um fator de risco, quando oferece experiências educacionais negativas ao adolescente. A experiência escolar negativa, aliás, contribui como uma das mais importantes conexões com o advento de condutas infracionais graves na adolescência (SILVA; BAZON, 2014; BAZON; SILVA; FERRARI, 2013).

Isso é explicado, em parte, pela massificação do sistema educacional, que desconsidera importantes diferenças individuais e socioculturais dos alunos (SILVA; BAZON, 2014; BAZON; SILVA; FERRARI, 2013),

[...] colocando numa mesma sala de aula alunos com características variadas, que apresentam diferentes ritmos e capacidade para aprendizagem, para os quais é oferecido um ensino massificador. O sistema escolar, assim organizado, pode gerar falta de motivação e insucesso, quando os objetivos, estrutura e métodos pedagógicos conduzem à ausência ou à perda do sentido e valor da escolaridade (SILVA; BAZON, 2014, p.279).

A Educação Brasileira, nos moldes atuais, não se encontra preparada para absorver alunos diferentes dos padrões esperados, classificando-os como “problema” ou mesmo “incapaz”, potencializando espaço para a desistência dos estudos e para a construção de uma identidade pautada na incapacidade (PADOVANI; RISTUM, 2013).

O ato de estudar acaba sendo pouco valorizado por esses adolescentes, pois não encontram sentido para o conteúdo estudado, tampouco conseguem fazer uma relação disso com seu dia a dia. O desinteresse escolar é produzido por ações advindas da própria instituição escolar que, ao homogeneizar as características esperadas dos alunos, reproduz desigualdades e desvincula da aprendizagem os aspectos psicossociais dos seus respectivos estudantes (CID; GARCIA; SILVA, 2014; PADOVANI; RISTUM, 2013).

A atual conjuntura supracitada desponta diversas outras vulnerabilidades escolares, descritas a seguir.

A fraca vinculação escolar se verifica já na fase de adaptação ao novo ambiente, que traz significativas modificações na rotina diária do estudante. Este é compelido a executar atividades mais estruturadas, que exigem concentração, empenho e disciplina. O adolescente precisa respeitar horário e respeitar regras e hierarquia. Ao se imaginar um aluno, que já venha para a escola com problemas no âmbito social e familiar, especialmente, no que se refere às práticas educacionais ineficazes (como já citado anteriormente), entende-se que o mesmo, possivelmente, apresente insucesso frente a tais demandas. A escola, por sua vez, não estando preparada para ater-se ao aluno com um olhar diferenciado, se utiliza de estratégias também ineficazes (mediante estabelecimento de regras inapropriadas, controle excessivo, punições exageradas ou mesmo por meio de processos sutis de exclusão), o que compromete ainda mais o vínculo do aluno com o ambiente escolar (SILVA; BAZON, 2014; BAZON; SILVA; FERRARI, 2013).

A consequência direta disso é a baixa autoestima e o Uma das situações mais críticas do sistema familiar que

pode influenciar na prática delituosa se refere à violência familiar. A violência intrafamiliar pode ser compreendida como:

toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de outro membro da família. Pode ser cometida dentro ou fora de casa por algum membro da família (BRASIL, 2001, p.15).

Nas famílias em que predomina a violência, é comum que se entenda a mesma como algo natural e inevitável na vida (TOLEDO et al., 2014; PASIAN, 2014).

Um fator predisponente para a reprodução da violência no âmbito social é conviver com a mesma no ambiente doméstico desde a mais tenra idade e de forma cotidiana – situação essa encontrada na maioria das famílias de adolescentes em conflito com a lei. Observa-se que o fenômeno da parentalidade abusiva costuma manter-se como um ciclo ao longo das gerações. Além disso, pode fomentar comportamentos infracionais, quando o adolescente converte a culpabilidade a um terceiro (CASTRO; TEODORO, 2014; NUNES; ANDRADE; MORAIS, 2013; DAVOGLIO; GAUER, 2011).

Crianças e adolescentes, que sofrem algum tipo de violência (maus-tratos, negligência, abuso, etc.) no ambiente familiar, de forma crônica ou extensa são mais predispostos a desenvolverem problemas comportamentais e de aprendizagem. Como consequência, o problema pode acarretar na baixa autoestima, dificuldade nas relações sociais, sentimentos de desvalia e ser um facilitador para a manifestação da violência na adolescência (PASIAN, 2014).

A relação entre o papel de violador e violado é muito próxima, no sentido em que “[...] a frequência com que adolescentes realizam atos de violência física está diretamente relacionada à frequência na qual o adolescente foi vítima de violência quando criança” (CASTRO; TEODORO, 2014, p.6).

Certamente, apesar da inegável influência, não se pode afirmar que o fato de uma pessoa ter sofrido violência familiar única e exclusivamente vai determinar seu futuro comportamento delinquente (CASTRO; TEODORO, 2014). 2.2.3 Fatores escolares

Durante o período da adolescência ocorrem várias modificações comportamentais e emocionais, como a busca por identidade, liberdade e autonomia. Nesse contexto, a influência da família deixa de ocupar posição de destaque, passando a ser acentuada a importância de outras instâncias de socialização. A escola é entendida como parte essencial desse processo, especialmente, no que se refere à construção da identidade do adolescente, possibilitando-lhe ainda, maior aceitação da família e da sociedade (CID; GARCIA; SILVA; 2014; PADOVANI; RISTUM, 2013; BAZON; SILVA; FERRARI, 2013).

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fracasso acadêmico, sendo a escola, entendida por esses adolescentes, como um ambiente hostil e carregado de insucessos. O baixo desempenho em relação às exigências acadêmicas contribui para a frustração em relação à própria capacidade de aprendizagem e estimula sentimentos de rejeição e exclusão. Assim, não é de surpreender que a escolaridade dos adolescentes infratores seja baixa (SILVA et al., 2015; PASIAN, 2014; BAZON; SILVA; FERRARI, 2013).

É elevado o número de adolescentes infratores com histórico de reprovação escolar. A maioria dos casos ocorre por essa desmotivação em relação à própria escola, que é acentuada pela própria reprovação e da acentuada discrepância entre a idade cronológica e a série escolar estabelecida como a idade ideal para que se esteja inserido em determinado nível acadêmico (TOLEDO et al., 2014; PADOVANI; RISTUM, 2013).

A consequência mais gravosa desse processo é, sem dúvidas, a evasão escolar, identificada como um dos principais indicadores para o cometimento de ações infracionais como forma de reconhecimento e poder (TOLEDO et al., 2014; SILVA; BAZON, 2014; PASIAN, 2014; DAVOGLIO; GAUER, 2011).

A alta taxa de evasão escolar e repetência, vivenciada pela grande maioria desses adolescentes, ocorre entre oito e dezesseis anos de idade, especialmente, a partir do segundo ciclo do Ensino Fundamental, na sexta ou sétima série (PEREIRA et al., 2015; TOLEDO et al., 2014; CID; GARCIA; SILVA, 2014; PADOVANI; RISTUM, 2013).

O Conselho Nacional de Justiça divulgou, em 2012, dados alarmantes que revelam que 57% dos adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Privação de Liberdade (Internação) estariam evadidos do ambiente escolar antes da apreensão (SILVA; BAZON, 2014).

Esses dados confirmam a importância que a escola poderia ter enquanto fator protetivo, tendo em vista a possibilidade de favorecer o desenvolvimento de valores, que foram inibidos ou desestimulados pela experiência familiar inicial (habilidades sociais, respeito à autoridade, submissão às normas e aquisição de recursos intelectuais para solucionar problemas) (SILVA; BAZON, 2014; DAVOGLIO; GAUER, 2011).

A evasão escolar traz, também, sérias consequências sociais, como o aumento da vulnerabilidade do adolescente, especialmente, no que se refere a maior dificuldade na inserção satisfatória no mercado de trabalho, o que se torna provável devido a baixa escolarização (BAZON; SILVA; FERRARI, 2013).

Por fim, salienta-se que o comportamento infracional pode ser facilitado no próprio ambiente escolar, quando o aluno sofre uma sequência de rejeições de professores e colegas, seguido pelo fracasso acadêmico, o que pode levar este adolescente a se identificar com pares desviantes, que apresentam dificuldades semelhantes. Nesses casos, não

é incomum que os delitos sejam também praticados dentro da escola (TOLEDO et al., 2014; SILVA; BAZON, 2014; BAZON; SILVA; FERRARI, 2013).

2.2.4 Características individuais

A ocorrência de problemas comportamentais na adolescência pode também estar associada a características individuais do adolescente. Alguns fatores biológicos durante a gestação podem estar relacionados no desenvolvimento posterior da conduta infracional, como é o caso da exposição pré-natal à maconha, por exemplo. No entanto, poucos estudos debruçam-se sobre os fatores biológicos, mas sim focam em características de personalidade (CASTRO; TEODORO, 2014).

A personalidade pode ser considerada como a combinação entre características biológicas e ambientais e os adolescentes infratores apresentam, muitas vezes, traços em comum no que se refere a ela. Um deles é a carência de sentimentos morais, encontrando na violência e no delito uma forma de reconhecimento e de extravasar as frustrações. Pela falta do sentimento de pertencimento social, alguns desses adolescentes também não apresentam sentimento de culpa pelas infrações cometidas. Assumem uma postura de rebeldia ativa contra a sociedade e de insensibilidade aos outros. Tendem a agir impulsiva e irreflexivamente, buscando constantemente sensações intensas, que podem envolver comportamentos de risco (SILVA et al., 2013; MARUSCHI; BAZON, 2012).

Outro ponto importante se refere ao autoconceito baixo ou insatisfatório, tendo em vista que este é um forte construto afetivo emocional constituído por atributos profundamente pessoais. É a forma como a pessoa se descreve, desenvolvido no decorrer da vida e sendo influenciado pelas relações cotidianas desde a primeira infância. Tem influência direta no aspecto afetivo e é considerado preditor crítico do comportamento infracional (BERNARDT; SEHNEM, 2015).

Problemas de saúde mental também são comumente encontrados nesses adolescentes, especialmente, no que se refere a problemas de conduta (comportamentos antissociais), hiperatividade e problemas de relacionamento (SILVA et al., 2015).

Os comportamentos ditos antissociais são caracterizados por uma série de manifestações socialmente inaceitáveis, que se manifestam já em idades precoces, evoluindo progressivamente. Quando se tornam repetitivos e intensos, quase sempre se associam a transgressões da lei. Salienta-se, ainda, que quanto mais cedo ocorre a manifestação de comportamento antissocial, mais esse tende a ser frequente e duradouro (MARUSCHI; BAZON, 2012; DAVOGLIO; GAUER, 2011).

O repertório de habilidades sociais (que abrange autocontrole e expressividade emocional, civilidade, empatia, assertividade, solução de problemas interpessoais, estabelecimento de amizades e habilidades sociais acadêmicas) é considerado como um conjunto importante para o adequado

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desempenho social. Nos adolescentes em questão, essa classe de comportamento é geralmente empobrecida, trazendo como consequência a dificuldade na expressão e compreensão de sentimentos, o que contribui, por exemplo, para o desenvolvimento da impulsividade e da falta de empatia. Eles desenvolvem sérias dificuldades sociais, ficando muito vulneráveis à vontade de outras pessoas, com dificuldade na recusa de pedidos abusivos ou em resistir à pressão do grupo (BERNARDT; SEHNEM, 2015).

Dessa forma, compreende-se o quanto e o porquê o relacionamento social influencia a entrada e permanência no mundo infracional. Como visto anteriormente, o relacionamento entre pares tem importância central na adolescência, sendo que a busca por aceitação social é central nessa fase de desenvolvimento. A afiliação com os pares acaba ocorrendo pela semelhança sociodemográfica, comportamental e de identificação em interesses em comum (MARUSCHI; ESTEVÃO; BAZON, 2014; DIB; BAZON; SILVA, 2012; DAVOGLIO; GAUER, 2011).

Alguns fatores de riscos relacionados, especificadamente, aos pares são: ter amigos que apresentam comportamentos antissociais, recompensa grupal por cometimento antissocial (em grupos que aprovam ou admiram o engajamento na violência) e o isolamento social / rejeição afetiva pelos colegas (SILVEIRA; MARUSCHI; BAZON, 2012).

Ressalta-se, no entanto, que o problema não está apenas no envolvimento com pares divergentes, mas sim ao afastamento de pares pró-sociais (MARUSCHI; ESTEVÃO; BAZON, 2012).

Atitudes favoráveis ao uso de substâncias psicoativas também contribuem para o envolvimento precoce em práticas infracionais. Diversos estudos demonstram que os adolescentes infratores apresentam maior nível de consumo, quando comparados com a população jovem em geral. Além disso, ressalta-se que nessa população, o consumo é iniciado por volta dos treze aos quinze anos, faixa etária de maior vulnerabilidade (SILVA et al., 2015; PEREIRA et al., 2015; DAVOGLIO; GAUER, 2011).

Para muitos deles, o uso abusivo dessas substâncias funciona como um mecanismo de defesa frente a uma realidade social cruel e excludente, trazendo alívio de angústias e sofrimentos, bem como o afastamento de pensamentos negativos (CID; GARCIA; SILVA, 2014; NUNES; ANDRADE; MORAIS, 2013).

O consumo exacerbado de drogas acaba por favorecer o envolvimento em atos delituosos, como o tráfico de drogas. Observa-se, inclusive, uma retroalimentação entre esses fatores. Quando a dependência química se instala, a manutenção do uso exige dinheiro, sendo, muitas vezes, neste momento que o adolescente encontra no tráfico a solução para sustentar o vício, mantendo-o na trajetória delitiva (KOMATSU; BAZON, 2015; NARDI; DELL’AGLIO, 2014; CID; GARCIA; SILVA, 2014).

É importante clarificar que a maioria das infrações

praticadas por adolescentes são consideradas de natureza leve e que a minoria desses adolescentes se engaja em uma trajetória infracional persistente. Em geral, as infrações vão se intensificando em número e em gravidade com o tempo. O histórico infracional, por sua vez, reforça no próprio adolescente uma autoimagem negativa, que pode ser integrada na formação de sua identidade (MARUSCHI; ESTEVÃO; BAZON, 2012).

3 Conclusão

O presente estudo procurou arrolar fatores considerados como risco ao envolvimento da conduta infracional na adolescência, baseando-se em pesquisas recentes de cunho nacional, que versassem sobre a temática.

Os artigos analisados levantaram diversas variáveis, as quais puderam ser condensadas em quatro grandes fatores (sociais, familiares, escolares e pessoais). Observou-se que a situação econômica e os diversos dispositivos sociais influenciam diretamente na ocorrência e aumento da conduta infracional. Entretanto, ficou claro que, ao contrário do que se acredita, não é a pobreza o fator determinante dessa conduta, mas sim, o conjunto de fatores que a esta condição estão associados. Assim, o ato infracional deixa de ser entendido apenas como um problema relacionado ao indivíduo e passa a se configurar como um sintoma de uma problemática social muito mais ampla.

Para além da questão social, tem-se a vulnerabilidade familiar. Dada a importância da família na construção identitária do indivíduo, quando esta falha na sua missão, tem-se jovens desamparados afetivamente, com dificuldades de socialização, especialmente, pela falta de referenciais positivos.

A escola, que entraria nesse processo como um dispositivo reparador acaba por não olhar para o adolescente da forma individualizada como deveria. Ao uniformizar o sistema de ensino, a instituição escolar ao invés de realizar a inclusão social a que se propõe, reproduz a mesma exclusão já sentida fora de seus muros.

Ao vincular essas diversas vulnerabilidades com as características individuais (como por exemplo, a impulsividade, a baixa tolerância à frustração, a insensibilidade e a falta de empatia) tem-se a tendência propriamente dita ao envolvimento do adolescente na conduta infracional.

Em geral, a trajetória desses adolescentes é marcada por uma sequência de faltas e de exclusões, que fazem o ato infracional parecer uma forma de sobrevivência social, no sentido de sentir-se integrado com suas particularidades, de pertencer ao restante do mundo, ou mesmo de simplesmente existir.

Fica claro que a delinquência juvenil não deve ser interpretada de forma linear ou simplista, mas como um fenômeno complexo e multirreferencial, que abarque os aspectos da vida do adolescente como um todo.

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