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Processo de ensino-aprendizagem na Era da Consciência

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Academic year: 2021

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(1)Revista de Educação Vol. 13, Nº. 16, Ano 2010. José Antonio Calastro Junior Faculdade Anhanguera de Taboão da Serra junior_calastro@ig.com.br. PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ERA DA CONSCIÊNCIA. RESUMO Esta pesquisa objetivou apresentar o perfil do estudante da Era da Consciência e as estratégias utilizadas pelo docente a fim de otimizar o processo de Ensino-Aprendizagem. Trata-se de uma revisão bibliográfica fundamentada principalmente por Freire, Libâneo e Perrenoud, além da LDB – Lei de Diretrizes e Bases. Constatou-se que o professor deve empregar estratégias que incentivem o discente a ser sujeito ativo da sua aprendizagem e que o docente deve assumir a função de facilitador deste processo. Desta maneira, além de formar profissionais capacitados, o Ensino Superior formará pesquisadores capazes de atuar com adversidades e encontrar soluções frente ao desconhecido. Palavras-Chave: perfil docente; estratégias de ensino; Era da Consciência.. ABSTRACT This research aimed to present the profile of the student at the socalled Age of Conscience and the strategies used by the Professor so as to optimize the teaching-learning process. It is a bibliography review based on authors such as Freire, Libaneo and Perrenoud, and also the LDB (Lei de Diretrizes e Bases, in Portuguese) Law of Guidelines and Bases. We assumed that the professor must employ strategies which motivate the student to become an active subject of his own learning and the professor must take the facilitator role of such process. Thus, besides forming capable professionals the Higher Education will also form researchers to act towards adversities e find solutions to the unknown. Keywords: professor profile; learning strategies; Consciousness Era.. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 4266 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@aesapar.com Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 06/02/2011 Avaliado em: 14/09/2011 Publicação: 2 de março de 2012. 105.

(2) 106. Processo de ensino-aprendizagem na Era da Consciência. 1.. INTRODUÇÃO Muito conhecimento foi produzido nos últimos tempos, período denominado Era do Conhecimento e hoje estamos adentrando a Era da Consciência, era na qual a discussão inicial é de que forma utilizar-se-á todo o conhecimento que já foi produzido. O acesso a informação, com destaque para a popularização da internet, contribuiu exponencialmente para que os indivíduos tenham acesso rapidamente a qualquer tipo de informação. Este público, mais informado e conseqüentemente mais exigente, ao adentrar a esfera do Ensino Superior, traz consigo um perfil diferente dos alunos que ocupavam os bancos escolares antigamente. Para Pimenta e Anastasiou (2002, p. 173) a Instituição de Ensino Superior deve “aprender a olhar em seu entorno, a compreender e assimilar fenômenos, a produzir respostas às demandas sociais, a preparar globalmente os estudantes para as complexidades que se avizinham”. Para Libâneo (2001), o que está em questão é uma formação que ajude o aluno a transformar-se num sujeito pensante de modo que aprenda a utilizar seu potencial de pensamento através de meios cognitivos de construção e reconstrução de conceitos, habilidade, atitudes, valores. Drucker (1995) corrobora com Libânio ao dizer que o importante é “aprender como aprender”. Apesar disso, verifica-se que o docente ainda adota o mesmo tipo de aula, ignorando a alteração de perfil do seu alunado. Dado que o processo de ensinoaprendizagem tem como atores o docente e o discente, realizou-se uma revisão bibliográfica a fim de verificar o perfil do estudante ingressante no Ensino Superior e as estratégias que podem ser empregadas pelo docente para otimizar o processo de ensinoaprendizagem.. 2.. DEFINIÇÃO DO TERMO AULA Antes de começar a discussão a respeito do tema proposto, cabe demonstrar de que forma a literatura aborda o tema Aula. Para Ferreira (1999) o termo aula é definido como sala em que leciona; sala de aula; lição ou exercício ministrado pelo professor num determinado espaço de tempo. Silva (2008, p. 36) aborda o termo aula de forma mais abrangente.. Revista de Educação š Vol. 13, Nº. 16, Ano 2010 š p. 105-117.

(3) José Antonio Calastro Junior. 107. [...] como a dimensão da organização do processo educativo, tempo e espaço de aprendizagem, de desconstrução e construção e não se veicula a um lugar específico, uma vez que a aula pode realizar-se em espaços não-convencionais, para além de uma sala retangular com cadeiras e mesas dispostas linearmente, com um quadro de giz na parede e um espaço central para o professor.. Nota-se, na citação anterior, que o enfoque é dado ao espaço em que o processo educacional acontece. Segundo Cordeiro (2008, p. 34) “a aula é o lugar de concretização do ensino. É o momento em que o professor executa os procedimentos que havia preparado.” Verifica-se aqui que para o autor uma aula deve ser planejada anteriormente. Veiga (2008, p. 267) vincula sua definição de aula ao processo de ensinoaprendizagem, definido como “[...] lugar privilegiado da vida pedagógica, refere-se às dimensões do processo didático – ensinar, aprender, pesquisar e avaliar – preparado e organizado pelo professor e seus alunos”. Continua ainda sua definição demonstrando como acontece este processo, associando-o a “[...] descrição, análise, compreensão e interpretação, se entende que ela é, planejada e operacionalmente, um todo que se revela pormenorizado em suas partes, ou seja, objetivo, finalidade, conteúdo, método, técnica, tecnologia e avaliação” (VEIGA, 2008, p. 48). A partir dos excertos acima, pode-se sugerir que aula é um processo de ensinoaprendizagem, anteriormente planejado, que acontece em um lugar no qual o professor, por meio de recursos didáticos estruturados, atua na desconstrução e construção do indivíduo. Para que a aula ocorra, é indispensável a presença de dois atores: O professor e o aluno. Entretanto, em todas as esferas do ensino, com destaque para o Ensino Superior, o processo de ensino-aprendizagem tem sido prejudicado por mudanças no perfil do aluno ingressante e por desvios de conduta por parte dos seus agentes. Na próxima seção será abordado o perfil do discente que ingressa no Ensino Superior.. 3.. PERFIL DO ALUNO INGRESSANTE NO ENSINO SUPERIOR Dentre os itens que definem o desenvolvimento de um país, mensurado pelo IDH – Índice de Desenvolvimento Humano encontra-se a educação. Entretanto, o Brasil, por um longo período, devido a interesses da classe dominante, relegou a educação e a pôs em um plano secundário. Desta forma, o Ensino Superior não é uma prática independente, é sim influenciada pelas condições sócio-econômicas e políticas, além de depender de legislações gerais e específicas estabelecidas pelo Governo Federal. Revista de Educação š Vol. 13, Nº. 16, Ano 2010 š p. 105-117.

(4) 108. Processo de ensino-aprendizagem na Era da Consciência. Verificava-se, até poucos anos atrás, altíssimas taxas de analfabetismo e baixo nível de escolaridade no Brasil. A educação promove o desenvolvimento do ser humano, pois permite que o homem escolha e decida, liberta-o em lugar de submetê-lo, de domesticá-lo, de adaptá-lo (FREIRE, 1987). Após o fim da ditadura, em 1985, iniciou-se a discussão para a aprovação da nova Constituição, a qual foi promulgada em 5 de outubro de 1988 e exigiu também uma nova lei relacionada a Educação. Esta, de autoria do Senador Darcy Ribeiro, deu origem ao projeto da atual LDB nº 9.394/96 a qual defendeu o fortalecimento da descentralização e a democratização do espaço escolar. Neste sentido, Paulo Renato Souza, ministro da Educação durante o Governo Fernando Henrique Cardoso, durante um de seus pronunciamentos, estabeleceu três pilares de sua política para a Reforma Universitária, são eles: 1) Avaliação Institucional e Exame Nacional de Cursos (Provão); 2) Autonomia Universitária; e 3) Melhoria do Ensino, através do Programa de Gratificação e estímulo à Docência/GED. Estes pilares apontam para a democratização do Ensino Superior por meio de incentivos dados para a abertura de novas Instituições, principalmente na esfera privada. Desde então, grandes desafios têm sido enfrentados com a finalidade de promover o acesso ao Ensino Superior. Segundo Brasil (2007), em 1996 o Ensino Superior oferecia 634.236 vagas para os egressos do Ensino Médio. Em 2007 este número subiu para 2.823.942 vagas, demonstrando assim avanços na democratização do Ensino Superior. O Ensino Superior está dividido entre Instituições Públicas e Privadas. Verifica-se que os alunos vindos de famílias de maior poder aquisitivo freqüentam as Instituições Públicas ao passo que os alunos mais pobres vão para as Instituições privadas. Além disso, cursos como o de medicina são muito mais elitizados que o de pedagogia, por exemplo (PNTO, 2004). Isto pode ser explicado ao comparar o salário médio de um médico que é de R$ 2.973 com o de um professor das séries iniciais do Ensino Fundamental que recebe R$ 462 e um professor do ensino médio que recebe R$ 866 mensais (IBGE, 2001). Polydoro (2000) assegura que, para uma série de autores, a entrada na universidade é um momento de transição significativo para o indivíduo, pois geralmente está sincronizado com adaptações da vida adolescente para a vida adulta. A autora argumenta que, neste momento, para a integração com o Ensino Superior, existe a influência de três grandes elementos: condições pessoais, características institucionais e grupos de interação.. Revista de Educação š Vol. 13, Nº. 16, Ano 2010 š p. 105-117.

(5) José Antonio Calastro Junior. 109. Observa-se também, segundo Franco (2001) que “os jovens depositam na escola e na educação a única esperança de conseguir um status social mais reconhecido e empregos mais qualificados, desejando freqüentemente continuar os estudos”. Sendo assim, fica claro que o Ensino Superior deixou de ser reduto da classe social mais abastada com a finalidade de manutenção do poder e hoje é lugar também das pessoas de classe social menos elevada, mas que buscam ascensão social.. 4.. FUNÇÃO DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR NA EDUCAÇÃO Discussões no universo acadêmico têm demonstrado que a realidade da educação brasileira apresenta duas linhas de raciocínio, são elas: a primeira está atrelada a formação do sujeito, de sua consciência e de ser humano para que possa atuar em diferentes ambientes. A segunda se refere a formação de profissionais que atendam as necessidades do mercado de trabalho preparados profissionalmente. Segundo Brito (1996, p. 24) “a função da universidade é formar profissionais, é ir além de uma formação técnica”. O profissional deve conhecer a teoria, ter senso crítico, saber trabalhar em grupo e, acima de tudo, ter conhecimento da realidade e consciência de que é um transformador dessa mesma realidade. Nota-se, nestes trechos, que os autores corroboram com a idéia de que a Instituição de Ensino deve extrapolar o campo técnico e atuar na formação do indivíduo como um todo.. 5.. FUNÇÃO DO GOVERNO NA EDUCAÇÃO A democratização do Ensino Superior foi um dos carros-chefe da campanha presidencial do atual Presidente da República a qual deu grande ênfase ao Programa Universidade para Todos (ProUni). Em suma, o ProUni promove o ingresso do estudante ao Ensino Superior privado, porém, não dá ênfase a permanência do discente (CATANI; HEY; GILIOLI, 2006). Os mesmos autores ainda criticam o ProUni alegando que O princípio do Prouni segue essa orientação: promove o acesso à educação superior com baixo custo para o governo, isto é, uma engenharia administrativa que equilibra impacto popular, atendimento às demandas do setor privado e regulagem das contas do Estado, cumprindo a meta do Plano Nacional de Educação (PNE – Lei nº 10.172/2001) de aumentar a proporção de jovens de 18 a 24 anos matriculados em curso superior para 30% até 2010. Pretende, ainda, atender ao aumento da demanda por acesso à educação superior, valendo-se da alta ociosidade do ensino superior privado [...]. Além do ProUni, a reforma universitária prevê a ampliação de vagas no Ensino Superior e a criação de cotas em Instituições de Ensino Superior públicas. Em relação a. Revista de Educação š Vol. 13, Nº. 16, Ano 2010 š p. 105-117.

(6) 110. Processo de ensino-aprendizagem na Era da Consciência. esta medida, muitos debates foram criados pela sociedade e um consenso ainda não foi estabelecido sobre o assunto. Quanto aquela, novas Universidades foram criadas, como a UniABC – Universidade do Grande ABC, mas o crescimento ainda é tímido frente a demanda existente. A partir do exposto anteriormente, vê-se que o Estado tem participado minimamente na Educação Superior e quando o faz, faz com intenções que vão além do desenvolvimento social.. 6.. DESVIOS DE CONDUTA DOCENTE E DISCENTE Para Zabalza (2002, p. 209), “a tendência de rotular os estudantes de acordo com critérios irregulares está bastante arraigada em nossa cultura profissional”. Este é um problema constante no dia-a-dia, o professor estigmatiza o aluno criando barreiras para o aprendizado. Masetto (2003, p. 35) revela um desvio comum na forma como os professores se relacionam com alunos: “É evidente que o que prevalece na atuação docente é um processo de ensino no qual o professor ‘ensina’ aos alunos que ‘não sabem’; e estes reproduzem as informações recebidas nas provas ou nos exames buscando sua aprovação”. De forma geral, este é o processo comum nas academias, o professor ensina e os alunos reproduzem aquilo que foi ensinado. Entretanto, nota-se que o estímulo por parte dos alunos quando isso acontece é irrisório porque não se sentem motivados a aprender. Por outro lado, no Ensino Superior, os alunos não podem ser vistos como meros expectadores. Neste cenário, é necessária uma mudança na percepção do professor de forma que ele passe a vê-los como “adultos que podem se co-responsabilizar por seu período de formação profissional” (MASETTO, 2003, p. 30). Zabalza (2002, p. 202) enfatiza que “o apoio dado pelo professor ao aluno é um aspecto crucial do processo de ensino-aprendizagem”. Depreende-se daqui que o professor deve apoiar o aluno e não ser um transmissor de informações. Este apoio ao qual foi referido no parágrafo anterior deve ser medido em seus pormenores. Segundo Zabalza (2002, p. 202) “nunca oferecer mais ou menos ajuda que a necessária”. Ou seja, o professor deve motivar a autonomia dos alunos para que possam construir seu próprio conhecimento, entretanto, não pode deixá-los a sua própria sorte, pois cairão no risco de copiar o que encontrarem em livros ou na Internet.. Revista de Educação š Vol. 13, Nº. 16, Ano 2010 š p. 105-117.

(7) José Antonio Calastro Junior. 111. Para Nogaro (2008, p.43), “O compromisso maior de quem desenvolve a docência é fazer com que seus alunos aprendam. Mas, no ensino superior, muitos professores não pensam e nem agem assim. Não se preocupam com o modo como os alunos aprendem e vêem o fracasso como resultante da falta de interesse, do pouco estudo, da ausência de capital intelectual de base e não se consideram como cúmplices por eles não serem bem sucedidos. Descentram para o aluno a responsabilidade da aprendizagem, depositam sua identidade na pesquisa e no conhecimento de sua especialidade, deixando como secundário o exercício da docência”.. Como dito anteriormente, o processo de ensino-aprendizagem é composto por dois agentes e ambos devem desenvolver ferramentas para que possam otimizar este processo. Professores que simplesmente “despejam” o conteúdo durante a aula não demonstram compromisso com a educação porque esta deve ser entendida como uma “via de mão dupla” na qual as duas partes são beneficiadas se estiver em sintonia. Por outro lado, é importante que se compreenda de que forma os alunos aprendem. Com relação a esse aspecto, Zabalza (2002) contribui com este estudo. Para o autor, os estudantes universitários podem apresentar quatro diferentes estratégias de aprendizagem: 1. superficial – sem reflexão sobre o objetivo a ser alcançado, o objetivo é ter um bom desempenho na prova ou completar a tarefa com o menor esforço possível; 2. profundo – dedicação à tarefa utilizando capacidades cognitivas de alto nível, no final atribuição de uma certa lógica pessoal ao que aprende; 3. estratégico – intenção de obter o máximo de rendimento pelo valor extrínseco à tarefa, o aluno fará tudo para obter uma boa classificação; 4. patológico – envolvimento de sentimentos e atitudes negativas em relação à aprendizagem que acaba por ser tornar uma forma de estresse. Do estudo de Zabalda apresentado anteriormente pode-se extrair que os estudantes, agentes ativos do processo de ensino-aprendizagem, apresentam níveis diferentes de interesse. Estes níveis podem ir de superficial, no qual o objetivo é obter simplesmente a aprovação até o nível patológico, no qual o ensino gera estresse ao estudante. Sendo assim, o professor detentor deste conhecimento, deve balizar suas estratégias de aula e ao propor atividades nas quais o aluno seja o desenvolvedor do seu conhecimento leve este fator em consideração. Godoy (1992, p. 77) desenvolveu um estudo detalhado quanto a preferência dos alunos em relação às atividades dos professores e sugere que eles “preferem professores que variam a forma de desenvolver suas aulas”. Apesar de ser importante que o professor conheça as expectativas dos alunos para poder desenvolver estratégias com base nelas e promover mudanças, não deve existir a visão de que o processo de ensino-aprendizagem. Revista de Educação š Vol. 13, Nº. 16, Ano 2010 š p. 105-117.

(8) 112. Processo de ensino-aprendizagem na Era da Consciência. deve ser organizado apenas para satisfazer as características e preferências dos discentes, ou seja, isso não deve ser feito com o mero objetivo de agradar os alunos (GODOY, 1992). Por vezes, o docente julga necessário um modelo de aula que não vai ao encontro dos anseios dos alunos, porém, o professor tem autonomia e deve adotar a metodologia que julgar mais adequada. Zabalza (2004), ao falar das necessidades oriundas ao professor universitário, mostra que a docência, para os que efetivamente valorizam seu trabalho em sala de aula e não o fazem apenas como uma atividade secundária, demanda uma série de preocupações antes e depois da aula que garantam seu sentido didático. Antes da aula o professor preocupa-se com o planejamento e depois de ministrar a aula reflete acerca dos métodos adotados como forma de melhorar as próximas abordagens. Antigamente acreditavam, como ainda hoje alguns acreditam, que “quem soubesse fazer, saberia automaticamente ensinar”. Desta forma, o preparo do docente na esfera pedagógica não era levado em consideração (MASSETO, 2003). Entretanto, Cunha (1994) concluiu que para os alunos, o bom professor é aquele que domina o conteúdo, tem bom relacionamento com o grupo e escolhe maneiras adequadas de apresentar a matéria. Neste ponto o aspecto “saber fazer” pode ser entendido como “dominar o conteúdo”, entretanto, de nada adianta ter o domínio do conteúdo se não houver um bom relacionamento com os alunos e não escolher maneiras adequadas de apresentar a matéria. Balzan (1988), em um estudo realizado com alunos de vários cursos, em fase de conclusão, detectou que a baixa qualidade do ensino superior recai, sobretudo, sobre os seguintes fatores: a) falta de didática do professor, apontada por todos os alunos que foram questionados; b) desintegração entre teoria e prática; c) ausência de projetos que tornassem o processo ensino-aprendizagem dinâmico e motivador. Mais uma vez nota-se que a didática é fator preponderante na qualidade das aulas.. 7.. ESTUDANTE DA ERA DA CONSCIÊNCIA A sociedade atual está vivendo um momento de transição, está deixando a Era do Conhecimento e está passando para a Era da Consciência (GUEVARA; DIB, 2007 apud BARDUCHI, 2008). Dentre outros fatores, a Era da Consciência busca definir onde aplicar todo o conhecimento que foi produzido até aqui. Além disso, surge também um aluno/profissional com características diferentes daquele que era recebido nos bancos da. Revista de Educação š Vol. 13, Nº. 16, Ano 2010 š p. 105-117.

(9) José Antonio Calastro Junior. 113. universidade antigamente. Hoje, o aluno tem a necessidade de ser o autor do seu próprio conhecimento de forma a poder aplicá-lo em sua vida profissional. Eboli (2003) fala a respeito da importância da educação para o desenvolvimento da competitividade empresarial. Ela defende que “é necessário formular sistemas educacionais competitivos que incorporem novos elementos, tais como recursos tecnológicos e de aprendizagem, promovendo, desta maneira, a transição de alunos que se comportam como aprendizes passivos em gestores ativos de negócios do cenário global”. Verifica-se hoje que os recursos didáticos adotados nas aulas são restritos a basicamente quadro, retroprojetor, data-show, seminário e vídeo. Pouco se tem desenvolvido como forma de levar para a sala de aula simulações da vida cotidiana como forma de desenvolver plenamente as habilidades e competências dos futuros profissionais. Segundo Perrenoud (1997), o professor deve ter em mente que não há prática pedagógica pronta e acabada, por meio de receitas estabelecidas ao longo da formação, e das experiências vivenciadas em sala de aula. Neste contexto, entende-se que cada momento vivenciado em classe trata-se de um novo olhar, que o professor deve ter em suas atividades docentes. Desta forma, o professor deve ter a sensibilidade de perceber o método a ser adotado em cada situação. Nota-se que cada vez mais os Currículos de Cursos Superiores tem se alterado de forma a satisfazer as exigências de mercado, já que a inserção dos formandos no mercado de trabalho é sinônimo de perpetuidade à Instituição de Ensino. Todavia, para operacionalizar esta nova diretriz, os professores estão separando docência e pesquisa e o aluno tem se tornado um fazedor de tarefas e não um sujeito pensante, que é o que se espera do Ensino Superior. O professor deve perceber que ele deve estimular tanto a perspectiva cognitiva do aluno quanto o campo de aquisição, elaboração e organização de informações a partir de diferentes pontos de vista. Brown e Atkins (1997) propõem o modelo representado na Figura 1, estabelecendo uma gradiente entre procedimentos de ensino e nível de participação e controle dos atores no processo educacional.. Revista de Educação š Vol. 13, Nº. 16, Ano 2010 š p. 105-117.

(10) 114. Processo de ensino-aprendizagem na Era da Consciência. Fonte: Brown e Atkins (1997, p.76). Figura 1. Gradiente de Participação e Controle.. Verifica-se na Figura 1 que com a prática de aula expositiva o professor é o detentor de todo o controle e o aluno assume a posição de expectador. Surgem outros tipos de atividades como Discussão em grupo, pesquisa supervisionada, trabalho em laboratório e Instrução Programa que diminuem o controle do professor e aumentam a participação do aluno. Finalmente tem-se o Estudo Privado, no qual o aluno detém todo o controle de seu aprendizado. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em seu artigo 43º, estabelece que a educação superior tem por finalidades: I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.. Vê-se, a partir do trecho extraído da LDB, que o modelo federal de educação propõe que o egresso do ensino superior não seja somente um executor de tarefas, mas. Revista de Educação š Vol. 13, Nº. 16, Ano 2010 š p. 105-117.

(11) José Antonio Calastro Junior. 115. tenha condições de atuar na sua área de formação, tenha pensamento reflexivo, participe ativamente da sociedade, faça pesquisa e divulgue novos conhecimentos, tenha a capacidade de discutir problemas complexos de sua região, interaja com a comunidade, entre outros. Para que estas finalidades sejam atingidas e levando em consideração o perfil do aluno que está ocupando os bancos escolares, constata-se que as estratégias de ensino empregadas pelo docente não podem continuar sendo as mesmas, pois já tornaram-se obsoletas. Por exemplo, no Inciso I a LDB fala sobre criação cultural, desenvolvimento do espírito científico e reflexivo. Quando o aluno assume posição ativa em sua aprendizagem terá maiores chances de alcançar esta finalidade. No Inciso II, ao visualizar o egresso do ensino superior como apto para a inserção em setores profissionais e um participante do desenvolvimento da sociedade brasileira, este não poderá ser apenas um coadjuvante de sua aprendizagem. Ao abordar o Inciso III, IV e V, os quais tratam da pesquisa científica e do desenvolvimento cultural, o envolvimento do aluno é inerente ao processo e o resultado da pesquisa depende da atuação do discente. Os Incisos VI e VII destacam o fomento da participação discente na comunidade. Para que esta participação ocorra, o processo de ensino-aprendizagem não poderá ser restrito a formação profissional e a conteúdos teóricos. Se o Ensino Superior for pensado como forma de fazer o indivíduo aprender a aprender, todas as finalidades expostas acima serão alcançadas, pois o indivíduo será formado em sua plenitude Cabe ressaltar que apesar do Ensino Superior possibilitar ascensão social ao formando já que lhe proporciona ferramentas para atuar conscientemente junto à sociedade, o Ensino Superior não é a única fonte de informação deste novo público. Atualmente, a informação está disponível a qualquer momento utilizando-se a Internet. Nota-se que o número de usuários da Internet tem aumentado significativamente, e este fato pode ser justificado pela implantação de políticas governamentais de incentivo. Portanto, o docente não deve ministrar aulas pensando ser o único detentor de todo o conhecimento já que esta está disponível na rede mundial de computadores. Diante desta contingência o docente pode utilizar esta ferramenta a seu favor, já que a educação hoje se apresenta sem fronteiras. Utilizando a informática como recurso para suas aulas o professor poderá contribuir indiretamente também na formação de cidadãos atuantes em atividades ligadas a informática.. Revista de Educação š Vol. 13, Nº. 16, Ano 2010 š p. 105-117.

(12) 116. Processo de ensino-aprendizagem na Era da Consciência. 8.. CONSIDERAÇÕES FINAIS Dado o exposto até aqui, é nítido que os autores convergem para a idéia de que uma boa aula está diretamente relacionada a estratégias diversificadas e um bom planejamento. O aluno da Era da Consciência apresenta-se pró-ativo, engajado a aprender e consciente de que o professor não deve ser a sua única fonte de informação. O estudante da Era da Consciência não se satisfaz sendo apenas um ouvinte, ou seja, sujeito passivo de sua aprendizagem. Métodos como lousa, giz, retroprojetor ou vídeo já não são suficientes para estimular a aprendizagem. O estudante de hoje quer conseguir ver a aplicação prática daquilo que ele está aprendendo. Surge então a necessidade de que o professor propicie esta ferramenta ao aluno de forma que possa conseguir aplicar o seu conhecimento ou buscar novos conhecimentos para a resolução de questões desconhecidas. O professor deve se preocupar em não formar apenas executores de tarefas. Os profissionais formados devem ser pesquisadores, capazes de buscar novas informações, além de sujeitos pensantes e capacitados para assumir uma posição consciente na sociedade. Quando o perfil discente for utilizado pelo professor para definir as suas estratégias de ensino, ele perceberá que o processo de ensino-aprendizagem ocorrerá de maneira mais agradável, pois o estudante estará engajado nesta causa e as finalidades propostas pela LDB serão possíveis de serem alcançadas visto que os alunos serão responsáveis por sua aprendizagem.. REFERÊNCIAS BALZAN, Newton César. A didática e a questão da qualidade do ensino superior. Cadernos Cedes. v.22. São Paulo: Cortez, 1988. BARDUCHI, Ana Lúcia Jankovic (Org). Desenvolvimento Pessoal e Profissional. 3.ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/superior/censosuperior/sinopse/>. Acesso em: 09 nov. 2009. BRITO, Maria do Socorro Taurino. Qualidade e profissionalização: o compromisso do ensino técnico e superior. In: QUELUZ, Ana Gracinda (org.). Educação sem fronteiras: em discussão o ensino superior. São Paulo: Pioneira, 1996. BROWN, George; ATKINS, M. Effective teaching in higher education. Londres: Routledge, 1997. CATANI, Afrânio Mendes; HEY, Ana Paula; GILIOLI, Renato de Sousa Porto. PROUNI: democratização do acesso às Instituições de Ensino Superior?. Educ. rev. [online], n.28, p. 125-140, 2006. ISSN 0104-4060. CORDEIRO, Jaime. Didática. São Paulo: Contexto, 2008. CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e a sua prática. Campinas: Papirus, 1994. DRUCKER, Peter. A administração na próxima sociedade. São Paulo: Nobel, 2003. Revista de Educação š Vol. 13, Nº. 16, Ano 2010 š p. 105-117.

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Referências

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