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Como os varejistas podem contribuir para a redução das perdas de alimentos? Um estudo no pequeno varejo alimentar

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Academic year: 2021

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(1)Revista de Ciências Gerenciais Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011. COMO OS VAREJISTAS PODEM CONTRIBUIR PARA A REDUÇÃO DAS PERDAS DE ALIMENTOS? UM ESTUDO NO PEQUENO VAREJO ALIMENTAR. Lucas Sciencia do Prado Universidade de São Paulo - FEARP/USP. RESUMO. ls.doprado@usp.br. Harrison Bachion Ceribeli Universidade de São Paulo - FEARP/USP harrisonbceribeli@yahoo.com.br. Edgard Monforte Merlo Universidade de São Paulo - FEARP/USP edgardmm@usp.br. O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo sobre as principais causas das perdas de alimentos nos pequenos varejistas, buscando identificar as principais ações que podem ser realizadas para tentar reduzir o volume dessas perdas e, consequentemente, diminuir o desperdício de alimentos. Foi realizado um estudo exploratório com cinco pequenos varejistas brasileiros. Para a análise dos resultados utilizou-se o modelo dos 3 'Rs' da sustentabilidade-reduzir, reutilizar e reciclar. O resultados mostraram que existe uma grande quantidade de desperdício e perdas nos supermercados devido a diversas razões, como a deterioração de produtos, danificação de embalagens, entre outros. Com base nos resultados e buscando contribuir com a teoria existente foi proposto nesse trabalho uma agenda de ações que os varejistas podem realizar para reduzir, reutilizar e reciclar suas perdas e excedente de alimentos. Palavras-Chave: prevenção de perdas; varejo de alimentos; pequeno varejo.. ABSTRACT This paper aimed to conduct a study about the major causes of food losses in small retailers and identify key actions that can be done in order to reduce the volume of these losses and consequently reduce food waste. The authors conducted a preliminary exploratory study based in a case study methodology with five small Brazilian retailers. To analyze the results we used the 3 “Rs” approach – Reduce, Reuse, and Recycle. The findings showed that there is a lot of food surplus in supermarkets due to many reasons (e.g. deterioration of the products, damage in packages, like others). In the end of this paper we point out an agenda of actions that retailers can use as a benchmarking to reduce, reuse and recycle their losses and food surplus. This paper was presented in IAMA’s 20th Annual Forum and Symposium, Boston, EUA, 2010. Keywords: loss prevention; food retail; small retail. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 4266 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@aesapar.com Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 27/08/2010 Avaliado em: 22/07/2011 Publicação: 15 de outubro de 2012. 45.

(2) 46. Como os varejistas podem contribuir para a redução das perdas de alimentos? Um estudo no pequeno varejo alimentar. 1.. INTRODUÇÃO Uma das preocupações atuais da população mundial é o número de pessoas que passam fome. De acordo com Castro (2002), a fome pode ser vista como um fenômeno social generalizado, que atinge todos os continentes no mundo. Monteiro (2003) destaca que a fome é um problema cuja definição é controversa, sendo necessário diferenciar a fome aguda da crônica. A primeira é caracterizada por ser momentânea, diferentemente da segunda, vista como mais grave e que tem como característica o não suprimento das energias básicas diárias por meio da alimentação. Em documento divulgado pela FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - (2002), o número de pessoas que passavam fome no mundo em 2002, deveria cair de 840 milhões para 400 milhões até em 2015. Porém, em 2007, esse número havia caído apenas para 815 milhões (MACHADO, 2007), o que evidencia que o problema da fome ainda está longe de ser resolvido. De acordo com Monteiro (2007), a fome é um problema que pode ocorrer devido à pobreza, quando a pessoa não consegue ter acesso à comida por não ter dinheiro suficiente, ou devido a fatores temporários como guerras e catástrofes naturais. Além destes, outros fatores que podem dificultar o acesso das pessoas aos alimentos são as perdas nos processos de produção, transporte e armazenamento e a falta de organização dos mercados (AKATU, 2003). Finalmente, deve-se citar também o desperdício de alimentos proveniente do consumo não consciente, que pode ser considerado como um dos principais agravantes desse problema. Em matéria publicada pelo jornal Folha de São Paulo, de acordo com a FAO (2008), cerca de 70 mil toneladas de alimentos são desperdiçadas anualmente no Brasil. O relatório divulgado pelo Instituto Akatu (2003) destaca que 64% dos alimentos plantados no Brasil são desperdiçados, sendo 20% na fase da colheita, 8% no armazenamento e transporte, 16% no processamento industrial e no varejo e 20% no preparo para o consumo e hábitos alimentares. Desta forma, sabendo que 20% dos alimentos produzidos são desperdiçados na etapa do consumo, pode-se dizer que o lixo gerado por esse desperdício também é grande, o qual, além de gerar perdas econômicas, gera também custos de processamento de lixo e impactos para o meio ambiente devido à formação do chorume, líquido formado durante o processo de degradação biológica da massa orgânica do lixo (NASCIMENTO FILHO; VON MÜHLEN; CARAMÃO, 2001) O desperdício pode ocorrer em todas as etapas da cadeia dos alimentos, desde a produção/colheita até a mesa do consumidor final, sendo o varejo de alimentos um dos. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(3) Lucas Sciencia do Prado, Harrison Bachion Ceribeli, Edgard Monforte Merlo. 47. grandes responsáveis por essas perdas. Diariamente, toneladas de alimentos que estão bons para o consumo humano, mas que não servem mais para a venda ao público, são descartados e o principal destino é o lixo (ALIMENTOS, 2009). De acordo com Piotto, Fávero e Angelo (2004), os varejistas brasileiros estão cada vez mais preocupados com as perdas, o que faz com que o número de estudos para identificação dessas perdas aumente. No entanto, parte dessas perdas ocorre de forma natural, uma vez que os FLV (Frutas, Legumes e Verduras) são decompostos naturalmente após um período da data da colheita e os alimentos acabam sendo descartados. Fehr e Romão (2002) destacam que as perdas de frutas e hortaliças nos supermercados correspondem a uma média de 8,76 % do total adquirido. Desta forma, a justificativa desse estudo está na importância e atualidade do tema. Além disso, a falta de estudos sobre o tema também deve ser destacada. Depois de realizada uma pesquisa em importantes bases de dados (p.e. Emerald, Science Direct e Scielo), banco de teses da USP, anais de congressos (ANPAD 2006, 2007 e 2008), além de sites de grupos de pesquisas (PROVAR – Programa de Administração de Varejo) e associações setoriais do varejo (ABRAS – Associação Brasileira de Supermercados e APAS – Associação Paulista de Supermercados), pode-se perceber uma pequena quantidade de trabalhos sobre perdas no varejo. Complementarmente, notou-se que, quando são analisadas as perdas de alimentos, são escolhidas categorias específicas de produtos, além de não serem analisados os processos utilizados para tentar reduzir as perdas nos varejistas (LANA et al., 2002; SILVA et al., 2003;. TOFANELLI et al., 2007; ALEXANDER; SMAJE, 2008). Desta forma, a escolha deste tema pode contribuir para o preenchimento de uma lacuna no estudo das perdas no varejo, visto que os trabalhos publicados não têm a amplitude e profundidade proposta nessa pesquisa. Deve-se ressaltar que este trabalho busca contribuir para o conhecimento das pessoas ligadas ao varejo que têm interesse em melhorar a efetividade de suas operações, reduzindo assim suas perdas. Dado esse contexto, o objetivo deste trabalho foi realizar um estudo sobre as principais causas das perdas de alimentos nos pequenos varejistas, buscando identificar as principais ações que podem ser realizadas para tentar reduzir o volume dessas perdas e, consequentemente, diminuir o desperdício de alimentos no Brasil.. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(4) 48. Como os varejistas podem contribuir para a redução das perdas de alimentos? Um estudo no pequeno varejo alimentar. 2.. PREVENÇÃO DE PERDAS NO VAREJO De acordo com Kotler (2000), uma organização pode ser considerada como um varejista se a maior parte de seu faturamento for proveniente da venda de pequenos lotes para o consumidor final. Parente (2007, p.22) destaca que o “varejo consiste em todas as atividades que englobam o processo de venda de produtos e serviços para atender a uma necessidade pessoal do consumidor final”. A prevenção de perdas no varejo não é um assunto incomum para muitos varejistas, uma vez que o bom controle daquelas pode gerar ganhos significativos relacionados ao lucro líquido dos supermercados, que seria maximizado caso as perdas fossem reduzidas, tornando-se assim uma decisão estratégica (PIOTTO; FÁVERO; ANGELO, 2004; JARNYK, 2008). De acordo com Hilário (2009), o lucro líquido médio do varejo em 2008 foi de 2,1%, sendo que, antes deste ano, o último valor que alcançou a casa dos 2% aconteceu em 2001. Complementarmente, os dados divulgados em pesquisa do Panorama 2009 mostram que as perdas representaram 2,15% do faturamento dos supermercados brasileiros em 2007, superando o valor do lucro líquido alcançado pelo setor. Neste sentido, considerando que em 2007 o autosserviço faturou R$ 136,3 bilhões (HILÁRIO, 2009), o valor das perdas superou o valor de R$ 2,9 bilhões. Piotto, Fávero e Angelo, (2004) ainda destacam que os fatores que justificam a preocupação dos varejistas com a Gestão de Perdas são: (1) as margens de lucro menores e o aumento da concorrência; (2) a instabilidade da economia e (3) o caráter preventivo e não reativo que a Prevenção de Perdas adquiriu nas empresas para garantir sua vantagem competitiva. As perdas no varejo podem ser divididas em cinco categorias (ECR, 2002; PIOTTO; FÁVERO; ANGELO, 2004), as quais, segundo Jarnik (2008), podem ser explicadas da seguinte forma: š. Furto Interno: ações praticadas dentro da loja por fornecedores ou funcionários, que omitem o registro da mercadoria.. š. Furto Externo: ações praticadas dentro da loja por clientes, que omitem o registro da mercadoria.. š. Quebra Operacional: dano causado pela má gestão dos estoques da empresa.. š. Erro Administrativo: divergência gerada nos controles de estoques.. š. Fornecedor: erro cometido pelo varejista por meio da influência de ações dos fornecedores.. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(5) Lucas Sciencia do Prado, Harrison Bachion Ceribeli, Edgard Monforte Merlo. 49. No ano de 2007, as quebras operacionais foram as mais representativas, chegando a representar 43,2% das causas das perdas. Em seguida foram os furtos internos (21,4%), furtos externos (15,9%), erros administrativos (12%), fornecedores (6%) e 1% de outros ajustes não especificados (PANORAMA, 2009) Sumita et al. (2003, p. 8) definem perdas como “aquelas resultantes do mau gerenciamento dos ativos da empresa, especialmente os estoques, quer na área de vendas, quer na área de estocagem”. Jarnyk. (2008). destaca. o. resultado. apresentado. pela. 8ª. Avaliação. Provar/Abras/Nilsen “Perdas no Varejo Brasileiro em 2008”, mostrando que 43,30% das perdas que ocorrem no varejo são quebras e metade desse número acontece com os perecíveis. Silva et al. (2003) ressaltam que as perdas que ocorrem durante a Cadeia Produtiva são repassadas ao consumidor nos supermercados, o que pode comprometer o consumo. Além disso, este repasse pode reduzir o valor percebido pelos clientes bem como a percepção de qualidade, comprometer os investimentos no setor e também afetar os retornos auferidos. Nesse momento, é necessário destacar que existe uma diferença entre os conceitos das quebras que vão para o lixo e do excedente que ocorre nos varejistas. Os primeiros são alimentos que não estão próprios para o consumo humano. Já o segundo são os alimentos que não estão bons para serem vendidos, porém são classificados como itens que ainda estão bons para o consumo humano (BETTS; BURNETT, 2007; ALEXANDER; SMAJE, 2008). Deve-se ressaltar que, embora exista certa confusão na diferenciação desses termos, as quebras estão mais relacionadas à falta da condição de consumo,. e. podem. incluir. alimentos. vencidos,. danificados. ou. deteriorados.. (ALEXANDER; SMAJE, 2008; FARESHARE’S INTERNAL REPORT, 2005; AUBREY, 2004). Finalmente, entre as principais causas de perdas de alimentos e produtos podemse destacar: pedidos sazonais, compras em excesso, teste de novos produtos, erros de fabricação, mudanças climáticas repentinas, falta de controle e padrões de qualidade, volatilidade do mercado, danos no transporte, manuseio impróprio dos alimentos, má qualidade da embalagem dos produtos e tempo prolongado de exposição no varejo (ALEXANDER; SMAJE, 2008; CAIXETA FILHO, 1999; VILELA et al., 2003; LADANIYA, 2008; LANA et al., 2002).. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(6) 50. Como os varejistas podem contribuir para a redução das perdas de alimentos? Um estudo no pequeno varejo alimentar. 3.. METODOLOGIA Baseado nas afirmações de Hair Junior et al. (2006, p. 84), que defendem que “quando bem conduzida, a pesquisa exploratória abre uma janela para as percepções, comportamentos e necessidades”, escolheu-se fazer uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório. O modelo adotado nesse trabalho foi o de estudos de caso (EISENHARDT 1989; YIN, 2005), sendo que, para isso, foram selecionadas cinco pequenas empresas, que fazem parte de uma rede de varejistas de alimentos, localizada no estado de São Paulo, Brasil. Para coleta de dados, além da observação dos procedimentos adotados pelos varejistas, também foram realizadas entrevistas em profundidade com os responsáveis pelas áreas de perdas dos supermercados. Desta forma, foi possível conhecer melhor a realidade das empresas selecionadas, entender como é feita a gestão de perdas no varejo e, assim, destacar quais são os principais destinos e ações realizadas para redução. O estudo da prevenção de perdas focou-se nos FLV, lácteos e laticínios, carnes e embutidos, produtos de padaria e outros produtos, analisados de forma conjunta. Estes departamentos foram utilizados como base para a mensuração das perdas e análises desenvolvidas neste trabalho. Para preservar o sigilo das informações, as lojas foram identificadas por letras (A, B, C, D, E etc.), não existindo qualquer relação com as empresas participantes. Os dados foram coletados por meio de um roteiro semi-estruturado, para que as entrevistas pudessem seguir a mesma ordem lógica e cobrir os mesmos assuntos, possibilitando uma posterior análise comparativa entre cada resposta e o entendimento acerca de como cada varejista trata as suas perdas. O roteiro de entrevista foi dividido em quatro seções, sendo elas: (1) Identificação do supermercado participante; (2) Identificação do entrevistado; (3) Planejamento e controle das perdas no varejo; (4) Principais destinos das perdas e ações para redução. Os dados obtidos foram analisados e comparados em termos de práticas de gestão adotadas.. 4.. RESULTADOS Nesta etapa do trabalho, foram discutidos os principais resultados encontrados nas pesquisas. Deve-se citar que, em busca de melhor organizar a exposição dos resultados, a apresentação dos resultados seguiu a ordem adotada na coleta de dados nas entrevistas.. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(7) Lucas Sciencia do Prado, Harrison Bachion Ceribeli, Edgard Monforte Merlo. 51. 4.1. Seção 1: identificação dos supermercados participantes Supermercado A A marca dessa rede de supermercados existe há dez anos no mercado; entretanto, a loja objeto de estudo foi fundada há apenas três anos. Atualmente, a rede é composta por quatro lojas, todas de atuação local, mais especificamente no bairro onde estão localizadas. A loja escolhida para o estudo foi a indicada pelo entrevistado e pode ser classificada como um supermercado compacto, de acordo com Parente, (2009). O número de check outs das lojas desta rede varia entre três e cinco e a área de cada loja varia de 300 a 500 m².. Supermercado B A empresa B é um supermercado de pequeno porte, pertencente a uma rede que possui dois supermercados, localizados no interior do estado de São Paulo. O entrevistado que colaborou para a realização desse caso é o proprietário da empresa, a qual já existe há aproximadamente 36 anos. A loja varejista estudada possui cinco check outs, podendo-se afirmar que este supermercado tem como zona primária de influência o próprio bairro no qual está localizado, sendo que o entrevistado estima que o raio de atuação da loja seja de aproximadamente três quilômetros.. Supermercado C A empresa C foi fundada há nove anos, inicialmente com uma única loja. Nos últimos cinco anos, entretanto, foram construídas mais duas lojas, todas de atuação bairrista. Atualmente, a rede tem 60 funcionários nas três lojas, e a loja estudada possui quatro check outs. O entrevistado é o diretor que coordena todas as lojas, porém, há gerentes responsáveis pelas perdas em cada uma delas.. Supermercado D A empresa D foi criada na década de 60, mais especificamente no ano de 1965, pelo pai do atual dono da loja, no formato de um empório, que, em 1994, tornou-se um supermercado. Diferentemente dos outros casos, essa empresa é composta somente por uma loja de atuação local, tem atualmente quatro check outs e aproximadamente 400 m².. Supermercado E Fundada há 56 anos como um empório localizado no mesmo bairro no qual atua até hoje, a empresa E conta com duas lojas localizadas na mesma cidade, sendo ambas de. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(8) 52. Como os varejistas podem contribuir para a redução das perdas de alimentos? Um estudo no pequeno varejo alimentar. atuação local. A administração da rede está na terceira geração, sendo o gestor a pessoa responsável por boa parte das atividades administrativas da empresa. A loja estudada tem cinco check outs e 34 funcionários. Somando-se os funcionários das duas lojas, a rede possui 45 funcionários.. 4.2. Seção 2: identificação dos entrevistados Nos cinco casos, os entrevistados foram os diretores dos supermercados selecionados. Deve-se destacar que, em três dos casos, as empresas foram fundadas por gerações anteriores e passaram para o controle dos atuais diretores. Todos os cinco entrevistados apresentaram conhecimento da atividade na qual atuam e destacaram que a gestão de perdas é muito importante, pois garante que a lucratividade do supermercado não fique comprometida. Os entrevistados são responsáveis por diversas áreas dentro do supermercado, desde negociação e compras, até precificação dos produtos e atendimento aos consumidores. Durante as entrevistas, pode-se observar que os diretores administrativos são também gerentes de outras áreas, mostrando que o poder é muito centralizado, tornando a tomada de decisão muito dependente de uma única pessoa.. 4.3. Seções 3 e 4: planejamento e controle das perdas no varejo - principais destinos das perdas e ações para redução A gestão das perdas na empresa A é feita pelos gerentes de cada loja, que, ao final de cada semana, enviam relatórios com os percentuais de perdas para os proprietários da rede, que tomam as ações necessárias caso ocorra um aumento significativo. Na empresa B, a gestão de perdas é feita de forma descentralizada, de modo que não existe um gerente que cuide somente de perdas. Cada responsável de área é encarregado de fazer o controle e mandar para a rotisserie qualquer item que se encontre sem condições de venda, porém que possua condições de consumo. O responsável pela gestão das perdas na loja C é o próprio entrevistado, que recebe os relatórios de diferenças ocorridas de entrada e saída de mercadorias e toma ações para minimizar as perdas. Na empresa C, deve-se destacar também que existe um controle bem definido para o shelf life dos produtos expostos no supermercado, sendo realizadas ações de preço ou processamento dos produtos que estão próximos à data de vencimento. Além disso, em alguns casos, quando o vencimento está muito próximo, o varejista faz ofertas dos produtos com um preço abaixo do custo de compra. Esses exemplos também são características do supermercado D e E, onde as pessoas responsáveis pela gestão das perdas também são os entrevistados. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(9) Lucas Sciencia do Prado, Harrison Bachion Ceribeli, Edgard Monforte Merlo. 53. Para os entrevistados das empresas A e B, perda é “tudo aquilo que a empresa adquire e que não passa pelos check outs”, ou seja, aquilo que a empresa compra e não consegue repassar para seus consumidores. Os entrevistados da empresa A consideram essas perdas como algo intrínseco ao varejo, ou seja, como um fenômeno que está “dentro do contexto dos supermercados”. Já os entrevistados das empresas C, D e E destacaram que as perdas são percebidas pela diferença contábil ao final de cada período, uma vez que esses não têm mecanismos para mensuração das mesmas. Quadro 1. Principais causas das perdas no varejo. Principais causas das perdas nos varejistas Furtos internos Furtos externos Deterioração dos produtos Danificação das embalagens Aquisição de produtos danificados ou próximos da data de vencimento Falta de qualidade dos produtos adquiridos Vencimento dos produtos Má manipulação dos produtos Erro de precificação (mercadorias etiquetadas erradas) Cheques sem fundo Dificuldade da gestão de compras e estoques. Pode-se perceber (Quadro 1) que entre as principais causas das perdas apontadas têm-se os furtos internos e externos, bem como a deterioração dos alimentos e danificação de embalagens. Pode-se destacar também a dificuldade de gestão de compras e estoques, que, segundo os entrevistados das lojas B e E, demanda uma estrutura grande e cara. Comparando as causas levantadas pelos autores deste trabalho com as principais causas apresentadas na teoria, destaca-se que as perdas que ocorrem nas lojas estudadas estão dentro das categorias definidas no referencial teórico desta pesquisa. Alguns erros de gestão foram apontados pelos entrevistados como as principais razões das perdas. Dentre eles, destaca-se a falta de planejamento de compras; muitas vezes, são comprados produtos em quantidades elevadas e que não são vendidas. Outro ponto destacado foi a falta de controle no recebimento da mercadoria, já que algumas categorias de produtos poderiam ser trocadas caso fosse constatada, no momento da entrega, alguma irregularidade na mercadoria recebida, o que não ocorre na maioria das vezes. Ainda no controle de recebimento, pode ocorrer a entrega de uma quantidade menor do que a quantidade descrita na nota, o que mostra que o controle sobre o recebimento é muito importante.. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(10) 54. Como os varejistas podem contribuir para a redução das perdas de alimentos? Um estudo no pequeno varejo alimentar. Alguns supermercados estudados possuíam uma ferramenta de gestão e controle de perdas no sistema de informática da loja, porém o mesmo não era utilizado, uma vez que para isso seria necessária a formação de uma equipe, o que acarretaria custos para os varejistas. Deve-se citar também que nenhum entrevistado trabalhava com consultorias especializadas na gestão de perdas. Em relação ao comportamento das perdas, foi explicado em um dos casos que, apesar do volume de perdas ter aumentado, devido ao aumento nas compras de produtos, a porcentagem que aquelas representam sobre o faturamento ou sobre o total comprado manteve-se constante, ressaltando um padrão no percentual de perdas. Em dois dos casos observados, foram criadas rotinas ou seções dentro do supermercado para reaproveitamento e diminuição dessas perdas. Em um desses, foi criada uma rotisserie interna que reaproveita mercadorias que, ou iriam vencer, ou foram visualmente danificadas (amassadas, por exemplo), apesar de não estarem sem condições de consumo. Em outra entrevista, ocorreu o aumento nos preços em aproximadamente 3%, para compensar as perdas das categorias mais significantes, ressaltando-se aqui o problema destacado inicialmente de repasse das perdas para o consumidor final. Para um melhor entendimento das perdas nos supermercados estudados, bem como as principais destinações dos produtos, foram utilizadas as categorias definidas em uma pré-entrevista com um diretor de uma rede varejista de porte similar ao das empresas estudadas. Os principais departamentos definidos como mais representativos foram: FLV (frutas, legumes e vegetais), Lácteos e Laticínios, Carnes e Embutidos, Padaria e Outros. Abaixo é apresentada uma análise detalhada de cada categoria analisada em cada supermercado do estudo. O primeiro departamento estudado foi o departamento de FLV. Durante as entrevistas, identificou-se que essa é a categoria que mais demanda cuidado e controle para reduzir as perdas. Entre as principais causas para esta categoria de produtos estavam a falta de cuidado com o manuseio, armazenagem, oscilações da temperatura, além da qualidade dos produtos adquiridos. Como mostra o Quadro 2, a porcentagem de perdas nessa categoria varia de 3% a 30%, respectivamente supermercados E e D, sendo que esse último apresentou pouco planejamento e controle em sua gestão de perdas, mesmo os proprietários reconhecendo a importância e o impacto financeiro destas. Os demais supermercados apresentaram índices que são tidos como médios na gestão de perdas desse departamento, como destacam Fehr e Romão (2002). Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(11) Lucas Sciencia do Prado, Harrison Bachion Ceribeli, Edgard Monforte Merlo. 55. O Quadro 2 também mostra quais são os principais produtos que mais se perdem nos varejos participantes do trabalho, sendo possível destacar três que apareceram em mais de uma entrevista: tomate, batata e pêra. O volume perdido por loja varia de acordo com a porcentagem de perdas e também em função da quantidade comprada. Os supermercados C e E foram os que apresentaram maiores volumes de perdas, porém o último mostrou-se mais eficiente no controle e redução das mesmas. Quadro 2. Perdas de FLV (frutas, legumes e vegetais). Empresa. % de perda. Produtos que mais se perdem. Volume perdido/ semana (em kg). Principais destinos. Supermercado A. 5%. ---. 30. Reaproveitamento interno, doações e descarte para criadores de suínos. Supermercado B. 10%. Frutas sensíveis a mudanças climáticas. ---. Reaproveitamento interno e descarte. Supermercado C. 10%. Tomate, batata, cebola, chuchu, abobrinha e pêra. 150 - 200. Doação, descarte e troca. Supermercado D. 30%. Tomate, batata, uva, pêra e laranja. 50. Doação, troca e descarte para criadores de suínos. Supermercado E. 3%. Mamão, Banana, Cenoura, Mandioquinha. 150. Doação, troca e descarte para criadores de suínos. Entre os principais destinos dessas perdas tem-se o reaproveitamento interno, as doações, o descarte para os criadores de suínos, o descarte e a troca. O primeiro e o segundo destino acontecem com os produtos que ainda estão bons para o consumo, porém já não estão mais em condições de venda. Muitas vezes, frutas ou legumes que estão com pequenos amassados ou com uma pequena parte estragada ainda podem ser reaproveitados para o consumo humano, uma vez que mantém suas características de nutrição. Nestes casos, esses FLVs são aproveitados na preparação de refeições internas ou que são vendidas, de sucos ou de doces. O segundo destino são as doações. Dos cinco supermercados participantes, somente o B não realiza essas práticas por motivos que ainda serão explorados no trabalho. Os demais doam esses alimentos para instituições próximas ao supermercado e que geralmente são conhecidas pelos donos das empresas doadoras. Os principais destinos dessas perdas são creches, asilos e entidades que fazem refeições para distribuição gratuita. As entidades beneficiadas pelas doações geralmente buscam esses. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(12) 56. Como os varejistas podem contribuir para a redução das perdas de alimentos? Um estudo no pequeno varejo alimentar. alimentos, que são separados pelos varejistas para que somente produtos que realmente estão bons para o consumo humano sejam doados. O terceiro e quarto destino acontecem com os produtos que estão impróprios para o consumo humano. Quando os produtos são destinados para os criadores de suínos, eles são retirados pelos próprios criadores, que não pagam por estes produtos. Os demais, que não são retirados, são descartados para o lixo. Por fim, o último destino destacado foram as trocas, que são aplicadas somente para as verduras e laticínios. De acordo com o fornecedor das verduras, estas são trocadas por outras frescas quando estragam, ou o supermercado paga somente metade do valor de uma nova. É importante ressaltar que esses produtos que são trocados têm um preço mais elevado, comparando-se com os produtos que não têm troca. Finalmente, vale destacar que as perdas de verduras são pequenas, devido à distribuição diária dos produtos. O segundo departamento analisado é o de Lácteos e Laticínios, cujas principais perdas são os itens da categoria dos iogurtes, bebidas lácteas e queijos. De acordo com a análise do Quadro 3 , percebe-se a baixa representatividade dessas perdas no total das compras desse departamento, sendo que esses baixos percentuais não estão relacionados aos controles de perdas e sim aos principais destinos das mesmas. Cabe citar que a maioria dos fornecedores desses produtos tem políticas de troca que podem variar de acordo com a empresa, discutidas a seguir. Vale destacar, entretanto, que as troca geralmente ocorre quando o produto não está danificado, mas cujo prazo de validade já passou. Durante as entrevistas, foram identificadas três políticas de trocas distintas. A primeira ocorre quando o varejista troca a mercadoria vencida por outra mercadoria nova e assim não ocorre perda alguma para o varejista. Os varejistas que destacaram essa modalidade pontuaram a demora dos fornecedores em retirar as mercadorias vencidas. A segunda modalidade de troca apresentada é a devolução do valor integral da mercadoria via depósito bancário, o que também retira o ônus da perda do varejista. Por fim, foi ressaltada a existência de uma política de troca que gera perdas para o varejista, na qual o fornecedor dá um desconto pré-fixado no valor das próximas compras do varejista, porém esse valor é bem baixo, se comparado ao valor da mercadoria vencida. Os produtos deste departamento sofrem ações de preço quando estão próximos ao vencimento, para que possam ser consumidos e não se transformem em perdas, pois mesmo o modelo de trocas um a um apresentado por alguns fornecedores gera um problema para a loja (demora na substituição da mercadoria vencida). Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(13) Lucas Sciencia do Prado, Harrison Bachion Ceribeli, Edgard Monforte Merlo. 57. Quadro 3. Perdas de Lácteos e Laticínios. % total perda física. Empresa. Produtos que mais se perdem. Principais destinos. Supermercado A. ---. ---. Troca com fornecedores. Supermercado B. 3%. Produtos que a troca não é integral. Troca com fornecedores e descarte. Supermercado C. 5%. Iogurtes, leite longa vida. Troca com fornecedores e descarte. Supermercado D. 1,5-2%. Iogurtes e bebidas lácteas. Troca com fornecedores e descarte. Supermercado E. 2%. Iogurtes e queijos. Troca com fornecedores e descarte. No departamento de carnes e embutidos (terceiro departamento estudado), foi identificado um grande volume de perdas, variando entre 5% e 25% (Quadro 4). De acordo com os entrevistados, grande parte dessas perdas ocorre no descongelamento e processamento das carnes, uma vez que o gelo e os pedaços de carne que são tirados durantes os cortes não são comercializados. Outro motivo destacado pelo entrevistado do supermercado C foi que, algumas vezes, carnes que teriam que ser vendidas por um determinado preço são vendidas como cortes mais baratos ou ainda em formato de carne moída, para evitar perda integral do item. Assim, quando é feito o balanço de tudo que foi comprado e o que foi vendido, a diferença que aparece é relevante. Entre os produtos que mais geram perdas para os supermercados nesta categoria específica, destaca-se a carne bovina. Alguns detalhes interessantes que surgiram durante a pesquisa foram a presença das carnes sazonais e das carnes temperadas já embaladas pela indústria. De acordo com o entrevistado do supermercado C, a previsão da demanda das carnes sazonais é difícil, sendo preferível comprar o produto em maiores quantidades para atender aos consumidores. Assim, passado o período das festas de final de ano no qual essas perdas são mais frequentes, o supermercado realiza ações de preço, uma vez que os fornecedores não realizam trocas. Já as carnes temperadas apareceram como mais perdidas também, e segundo o entrevistado da empresa E, isso ocorre devido à falta de costume dos consumidores da loja de comprarem esse tipo de produto, que acaba estragando. Além disso, a conservação das carnes é algo muito importante. As geladeiras e freezers devem estar sempre bem reguladas, para que as carnes não sofram perda da qualidade devido à oscilação da temperatura recomendada para armazenagem.. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(14) 58. Como os varejistas podem contribuir para a redução das perdas de alimentos? Um estudo no pequeno varejo alimentar. Quadro 4. Perdas de Carnes e Embutidos. Empresa Supermercado A. Supermercado B. % total perda física --15% (carnes) 5% (embutidos). Produtos que mais se perdem. Principais destinos. Carnes em geral. Descarte. Carne bovina. Troca com fornecedores, processamento, reaproveitamento interno e descarte. Supermercado C. 5-10%. Carne bovina, produtos sazonais. Descarte e processamento. Supermercado D. 20-25%. Carnes embaladas (temperados). Descarte. Supermercado E. 20%. Carne bovina, carne de frango e embutidos. Venda para empresa de ração e reaproveitamento interno. Como principais destinos dessas perdas têm-se o descarte, o reaproveitamento interno, o processamento, a venda para empresas de ração e a troca. O descarte ocorre com os produtos que não estão mais em condição para o consumo. O reaproveitamento interno ocorre com carnes ou embutidos que ainda estão bons para consumo, porém não podem mais ser cortados devido ao tamanho (geralmente final de peça); esses são usados para preparo de refeições internas ou de refeições que serão comercializadas. O processamento é a transformação em novos cortes para que o produto possa ser vendido. Já a venda para empresas de fabricantes de ração é a mais interessante, pois a indústria faz um contrato com o supermercado comprometendo-se a retirar as perdas de carnes e embutidos e pagarem um valor médio de R$ 0,03 por quilo retirado. Segundo o entrevistado, esta pratica é interessante, uma vez que os produtos que já passaram do prazo de validade necessariamente têm que ser descartados. E, por fim, as trocas, que são mais raras de acontecer, e geralmente são feitas quando as carnes estragam antes do prazo de validade. Já as perdas na padaria dos supermercados entrevistados (quarto departamento estudado) são bem variadas em porcentagens. Conforme o Quadro 5, os principais produtos perdidos são os pães, as roscas e os doces. Segundo os entrevistados dos supermercados C, D e E, as perdas na padaria podem ser mais bem controladas do que nos outros departamentos, uma vez que a previsão da demanda é mais fácil de ser feita e, em casos de superestimação desta, as massas que não são assadas podem ser aproveitadas em outro dia. Desta forma, é preciso que a pessoa responsável por essa seção saiba analisar o movimento e a necessidade de assar novos pães e roscas.. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(15) Lucas Sciencia do Prado, Harrison Bachion Ceribeli, Edgard Monforte Merlo. 59. Quadro 5. Perdas de Padaria. % total perda física. Empresa. Produtos que mais se perdem. Principais destinos. Supermercado A. ---. Pães e roscas. Processamento e descarte. Supermercado B. 20%. Doces e confeitados. Reaproveitamento interno, processamento e descarte. Supermercado C. 5-10%. Pães e roscas. Doação e descarte. Supermercado D. 5%. Doces. Descarte. Supermercado E. 0,5%. Pães e roscas. Descarte. Como principais destinos para as perdas de produtos de padaria destacam-se o processamento, o reaproveitamento interno, a doação e os descartes, lembrando-se sempre que os produtos que são aproveitados, processados ou doados estão em condições para o consumo humano. Quadro 6. Perdas de Outros departamentos. Empresa. Produtos que mais se perdem. Principais destinos. Supermercado A. ---. ---. Supermercado B. Pratos da rotisserie. Descarte. Supermercado C. Produtos sazonais, macarrão, arroz, feijão, açúcar, latarias e refrigerantes. Doação, reaproveitamento interno, troca e descarte. Supermercado D. Macarrão, arroz, açúcar, latarias e biscoitos. Doação, reaproveitamento interno e descarte. Supermercado E. Macarrão, arroz, sal, açúcar, feijão e enlatados. Doação, reaproveitamento interno e descarte. Finalmente, no setor classificado como “outros”, os entrevistados foram questionados para refletirem sobre quais eram as outras perdas mais representativas dentro das suas lojas e quais eram os principais destinos para cada uma delas. A porcentagem dessas perdas não foi fornecida pelos entrevistados por falta de dados precisos para cada categoria. Produtos como arroz, feijão, açúcar e macarrão foram comuns em três entrevistas, conforme destacado na tabela acima. Segundo os entrevistados, esses produtos têm um nível elevado de perdas devido à embalagem na qual estes são acondicionados. Por serem na maioria das vezes plásticas, sofrem facilmente danos que prejudicam a venda do produto. Deve-se destacar que o próprio manuseio e estocagem são motivos para que isso aconteça. Assim, esses produtos, por estarem em plenas condições de consumo, são reaproveitados pela empresa para o preparo de refeições ou, no caso do açúcar, para preparação de doces na padaria.. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(16) 60. Como os varejistas podem contribuir para a redução das perdas de alimentos? Um estudo no pequeno varejo alimentar. Outro destino comum para estes alimentos são as entidades de caridade. Assim como os FLVs, estes produtos muitas vezes não são vendidos por pequenos danos na embalagem, que não prejudicam a qualidade do alimento, porém os consumidores não estão dispostos a comprar. O mesmo acontece com os enlatados que sofrem pequenos amassados e não são vendidos, mas ainda não passaram do prazo de validade e consequentemente estão bons para o consumo humano. Entretanto, produtos muito danificados ou que passaram da data de validade são descartados.. 5.. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após analisar a gestão de perdas nos pequenos varejistas estudados, pode-se perceber que a gestão de perdas ainda é feita de maneira rudimentar, sem ferramentas formais de controle para mensuração e ações para sua redução. Apesar disso, os participantes apresentaram consciência de que uma boa gestão de perdas é fundamental para o bom desempenho econômico do varejo, sendo um diferencial para conseguir margens de lucro melhores. Entre os departamentos definidos para a pesquisa, os que mais apresentaram perdas foram FLV e Carnes e Embutidos, notando-se que existe uma faixa de variação muito ampla, 3-30% e 5-25% respectivamente. Nos dois casos, aspectos ligados à qualidade do produto e manuseio foram as principais causas destacadas. Perceberam-se também práticas importantes realizadas pelos varejistas quanto à destinação destes alimentos. Um ponto importante destacado foram as doações dos alimentos que ainda estão em condições para o consumo humano. É importante perceber que as doações feitas pelos varejistas não são divulgadas, devido ao risco de terem sua imagem comprometida por algum processo judicial, caso os alimentos doados causem problemas aos beneficiados. Assim, fica aqui evidenciada a necessidade de uma proteção maior a quem doa os alimentos, para que, desta forma, estes possam utilizar a doação como uma estratégia de marketing social que está totalmente ligada à sua atividade e estratégia corporativa. Um ponto apontado como uma barreira para as doações foi a dificuldade logística de entregar esses alimentos para o banco de alimentos da cidade, que é um importante destino de perdas que vão ser convertidas em doações, o que evidencia a necessidade de políticas governamentais que retirem qualquer ônus dos varejistas.. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(17) Lucas Sciencia do Prado, Harrison Bachion Ceribeli, Edgard Monforte Merlo. 61. Deve-se destacar que as perdas no varejo estão diretamente ligadas ao conceito dos 3R da sustentabilidade – reduzir, reutilizar e reciclar. As empresas devem se envolver com essas causas, buscando alinhar suas práticas com os resultados sustentáveis. Baseado nas análises realizadas com os varejistas, percebeu-se que os motivos das perdas nos supermercados poderiam ser mitigados por meio de algumas ações. Assim, como forma de contribuir para o avanço da teoria sobre a gestão de perdas no varejo, sugere-se uma série de ações listadas a partir dos resultados encontrados no Quadro 1 (Principais causas das perdas no varejo). Quadro 7. Ações para redução das perdas. Principais motivos de perdas. Reduzir - O que fazer para reduzir as perdas?. Furtos internos. Conscientização dos colaboradores; Investimentos em equipamentos de segurança; Realocação dos produtos de alto risco; Envolver os grupos de gestão de pessoas; Minimizar as oportunidades.. Furtos externos. Investimentos em equipamentos de segurança; Realocação dos produtos de alto risco; Minimizar as oportunidades.. Deterioração dos produtos. Planejar melhor as compras; Melhorar a armazenagem dos produtos (ambientes climatizados, caixas e embalagens adequadas); Cuidados na exposição dos produtos; Campanhas com os clientes (manipulação dos produtos); Climatizar a loja; Regular as geladeiras e freezers.. Danificação das embalagens. Cuidados no descarregamento e manuseio dos produtos; Melhorar a armazenagem; Treinamento dos colaboradores; Cuidado na exposição dos produtos.. Aquisição de produtos danificados ou próximos da data de vencimento. Planejamento e gestão de compras; Aumentar fiscalização no recebimento de mercadorias; Verificar a possibilidade de devolução para o fabricante.. Falta de qualidade dos produtos adquiridos. Triagem de fornecedores qualificados; Planejamento e gestão de compras; Fiscalização no recebimento de mercadorias.. Vencimento dos produtos. Realizar ações de vendas antes que os produtos vençam.. Má manipulação dos produtos. Treinamento e capacitação dos colaboradores; Exposição dos produtos de modo a facilitar o manuseio por parte dos clientes.. Erro de precificação (mercadorias etiquetadas erradas). Treinamento e capacitação dos colaboradores; Auditar periodicamente a precificação.. Dificuldade da gestão de compras e estoques. Capacitação dos colaboradores; Melhoria nos processos dos estoques; Utilizar técnicas de previsão de demanda e sazonalidade.. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(18) 62. Como os varejistas podem contribuir para a redução das perdas de alimentos? Um estudo no pequeno varejo alimentar. Nota-se, pelo Quadro 7, que as ações de redução estão ligadas às práticas de gestão das empresas varejistas. Após destacar as principais ações para reduzir as perdas no varejo, os autores apontam algumas sugestões para a reutilização dos produtos dentro dos padrões de segurança sanitária, buscando evitar que os produtos sejam perdidos. Neste sentido, destaca-se que as perdas podem ocorrer devido ao vencimento dos produtos, deterioração dos produtos ou danificação das embalagens. Assim, além dos aspectos de gestão já destacados para a redução das perdas, pode-se apontar algumas ações que os varejistas podem realizar para reutilizar esse produtos antes que se tornem perdas (dimensão do reuso). O Quadro 8 resume algumas das ações sugeridas. Quadro 8. Ações de reutilização. Causa da perda. Ações de reutilização. - Perda do valor comercial (pequenas manchas, amassados, que normalmente levam a perda do valor comercial, por isso os produtos estragam). - Processar as frutas (garrafas de sucos naturais, cortes em porções menores com mais variedades para o consumo da fruta in natura). - Prazo de vencimento curto - Danificação de embalagens. - Utilizar na preparação de refeições internas. - Antes que os produtos vençam, utilizá-los em outros departamentos da loja. Uma sugestão pode ser o uso desses produtos em refeições feitas pelo próprio varejista. As pizzas e massas são pratos que normalmente têm uma saída mais rápida e assim os produtos que estariam para vencer são consumidos dentro do seu prazo de validade e o produto não se perdeu.. Por fim, a terceira ação dos 3 Rs é a reciclagem. Essa deve ser vista mais como uma forma de minimizar os resíduos gerados pelas perdas, que aconteceram mesmo após a implementação de ações para redução e reutilização. Assim, os varejistas podem incentivar a reciclagem das embalagens dos produtos, a utilização dos produtos orgânicos como fertilizantes, entre outras ações.. REFERENCIAS AKATU, Instituto. Caderno temático: a nutrição e o consumo consciente (2003). Disponível em: <http://www.akatu.org.br/akatu_acao/publicacoes/alimentos/a-nutricao-e-o-consumoconsciente?searchterm=caderno+tem%C3%A1tico+>. Acesso em: 01 mar. 2009. ALEXANDER, C.; SMAJE, C. Surplus retail food redistribution: an analysis of a third sector model. Resources, Conservation and Recycling, n. 52, 2008. ALIMENTOS, Banco de - ONG. Disponível em: <http://www.bancodealimentos.org.br/>. Acesso em: 06 jan. 2009. AUBREY, R. Myth or reality: is there surplus food for redistribution? Nottingham: Nottingham TrentUniversity, Institute for Sustainable Development in Business, 2004. BETTS, M.; BURNETT, M. Study on the economic benefits of waste minimisation in the food sector. Final Report, Evolve EB Ltd, 2007.. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

(19) Lucas Sciencia do Prado, Harrison Bachion Ceribeli, Edgard Monforte Merlo. 63. CAIXETA FILHO, J.V. Transporte de produtos agrícolas sobre a questão de perdas. Revista da economia e Sociologia Rural, v.39, n.3/4, p.173-199, 1996. CASTRO, J. Geografia da Fome - O dilema brasileiro: pão ou aço. 5.ed. São Paulo: Civilização Brasileira, 2005. ECR BRASIL. Faturamento não depende só das vendas. São Paulo, 2002. EISENHARDT, K.M. Building Theories from Case Study Research. The Academy Of Management Review, v. 14, n. 4, p.532-550, out. 1989. FAO. Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Disponível em: <http://www.fao.org.br>. Acesso em: 10 fev. 2009. FARESHARE, Community Food Network. National Impact Survey Summary. Disponível em: <http://www.fareshare.org.uk/pdf/impact_survey_05.pdf; 2005>. Acesso em: 22 mar. 2009. FEHR, M.; ROMÃO, D.C. Frutas e Hortaliças: Um diagnóstico das perdas na. Brasil Alimentos, São Paulo, n. 14, p.25-30, Bimestral, 2002. FOLHA DE SÃO PAULO. FAO pede à América Latina que não desperdice comida. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u428714.shtml>. Acesso em: 01 mar. 2009. HAIR JUNIOR, et al. Fundamentos de métodos de pesquisa em administração. Porto Alegre: Bookman, 2006. 471 p. HILÁRIO, W. O melhor desempenho dos últimos 13 anos. Revista Superhiper, Ano 35, n. 396, abr. 2009. JARNYK, Ronaldo. Gestão Perdas e Quebras Operacionais. In: FCN, 4., 2008, Espaço APAS. Palestra. São Paulo, 2008. KOTLER, P. Administração de marketing: a edição do novo milênio. 10. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000. LADANIYA, M. Citrus Fruit: Biology, Technology and Evaluation. San Diego: Elsevier, 2008. 576p. LANA, M.M.; MOITA, A.W.; NASCIMENTO, E.F.; SOUZA, G.S.; MELO, M.F. Identificação das causas de perdas pós-colheita de cenoura no varejo, Brasília/DF. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 20, n. 2, p.241-245, jun. 2002. MONTEIRO, C.A. A dimensão da pobreza, da desnutrição e da fome no Brasil. Estudos Avançados, São Paulo, v. 9, n. 24, p. 195-207, 1995. NASCIMENTO FILHO, I.; VON MÜHLEN, C.; CARAMÃO, E.B. Estudo de compostos orgânicos em lixiviado de aterros sanitários por EFS e CG/EM. Quím. Nova., v.24, n.4, p. 554-556, 2001. PANORAMA, Superhiper 2009. Ano 3, São Paulo : Abras, 2009. PARENTE, J. Varejo no Brasil: gestão e estratégia. São Paulo: Atlas, 2007. PIOTTO, R.L.; FÁVERO, L.P.L.; ANGELO, C.F. O Perfil das Perdas no Varejo no Brasil e nos EUA: Estratégias e Implicações. VII SEMEAD – FEA USP. São Paulo: 2004. 13 p. PROVAR. Programa de Administração de Varejo. Disponível em: <http://www.provar.org/>. Acesso em: 05 fev. 2009. SILVA, C.S. et al. Avaliação econômica das perdas de banana no mercado varejista: um estudo de caso. Revista Brasileira Fruticultura, v.25, n.2, 2003. SUMITA, E.T. et al. A prevenção de perdas no pequeno e médio varejo supermercadista. 2003. 47f. Monografia (Especialização em Administração) - Curso de MBA / Varejo, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. TOFANELLI, M.B.D.; FERNANDES, M.S.; MARTINS FILHO, O.B.; CARRIJO, N.S. Perdas de frutas frescas no comércio varejista de Mineiros-GO: um estudo de caso. Revista Brasileira Fruticultura, v.29, n.3, p. 513-517, 2007.. Revista de Ciências Gerenciais š Vol. 15, Nº. 21, Ano 2011 š p. 45-64.

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