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Decomposição dos diferenciais salariais no mercado de trabalho: uma análise gênero-racial para a Região Metropolitana de Salvador no período de 2002 até 2014

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DECOMPOSIÇÃO DOS DIFERENCIAIS SALARIAIS NO MERCADO DE TRABALHO: UMA ANÁLISE GÊNERO-RACIAL PARA A REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR NO PERÍODO DE 2002 ATÉ 20141

Kecia Cristina Miranda da Silva2 Vinícius de Araújo Mendes3 Diana Lúcia Gonzaga4

INTRODUÇÃO

Os diferenciais salariais presentes no mercado de trabalho podem ser fruto de diferenças nas características observadas dos indivíduos ou discriminação. Para os defensores da Teoria do Capital Humano a desigualdade nos rendimentos individuais é resultado dos distintos níveis de escolaridade, treinamento, experiência, entre outras características que impactam na produtividade e, consequentemente, nos seus retornos salariais. Há presença de discriminação no mercado de trabalho, segundo a literatura, quando dois grupos distintos com os mesmos atributos produtivos são remunerados de forma diferente devido a aspectos não correlacionados com a produtividade, como físico, religioso, social entre outros. Na ausência de discriminação os trabalhadores seriam substitutos perfeitos entre si (BECKER, 1971; EHRENBERG; SMITH, 2000; CRESPO, 2004; CACCIAMALI; HIRATA, 2005).

Ainda que seja possível perceber a existência de grandes diferenciais de rendimentos no mercado de trabalho, seja entre os gêneros, cor ou raça, as fontes desse diferencial é algo muito difícil de ser compreendido (EHRENBERG; SMITH, 2000). Existem muitos trabalhos desenvolvidos que buscam captar a parte do diferencial salarial como resultado de discriminação contra um grupo, os pioneiros

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Trabalho apresentado no Encontro Nacional sobre População, Trabalho, Gênero e Políticas Públicas, realizado na Universidade Estadual de Campinas, em Campinas, SP, entre os dias 27 a 29 de novembro de 2019.

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Mestre pelo Programa em Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal da Bahia, PPGE-UFBa. Pesquisadora do Programa de Economia da Saúde (PECS-UFBa). E-mail: keciamiranda@gmail.com

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Doutor em Teoria Econômica FEA-USP. Professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFBa (PPGE-UFBa). Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Economia Aplicada – UFBa. Email: vdmendes@ufba.br

4

Doutora em Teoria Econômica FEA-USP. Professora do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFBa (PPGE-UFBa). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Economia Aplicada – UFBa. Email: dlgsilva@ufba.br

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foram Oaxaca (1973) e Blinder (1973) que contribuíram para a literatura desenvolvendo metodologias que permitiram decompor o salário.

Oaxaca (1973) analisou a magnitude média da discriminação contra as mulheres trabalhadoras no Estados Unidos com a finalidade de fornecer as possíveis fontes das diferenças salarias entre os gêneros. Para tal finalidade o autor propôs um conceito de coeficiente de discriminação para atuar como uma medida discriminatória. A metodologia propôs partir da diferença de uma equação de salários – expressa na forma de logaritmos naturais entre homens e mulheres. Os dados foram extraídos da Survey of Economic Opportunity para o ano de 1967. Entre os principais resultados encontrados destaca-se o fato de haver um grande diferencial entre os grupos nos EUA. Adicionalmente, constatou que a grande concentração das mulheres em empregos com menores remunerações é uma das explicações para tais diferenciais, mas boa parte desse gap se deve aos efeitos da discriminação.

Blinder (1973) buscou analisar a discriminação no mercado de trabalho dos Estados Unidos contra o gênero e raça. Os dados para a pesquisa foram baseados Michigan Survey Research Centers “Panel Study of Income Dynamics” e possibilitaram que o autor desenvolvesse uma metodologia com base em um sistema de equações simultâneas. Esse sistema permitiu inferir que todo o diferencial entre os gêneros é atribuído à discriminação no mercado de trabalho, para a raça esse percentual é setenta por cento.

A metodologia desenvolvida por esses autores ficou conhecida como decomposição de Blinder-Oaxaca (1973) e desde então é amplamente utilizada por pesquisadores para captar a presença de discriminação no mercado de trabalho. Ela decompor os diferenciais salariais em duas partes: explicada – fruto de diferenças nas características produtivas observadas – e não explicada – utilizada como uma medida da discriminação (JANN, 2008; MARIANO et al., 2018).

Um dos trabalhos desenvolvidos Brasil que utiliza a decomposição de Blinder-Oaxaca (1973) é o de Soares (2000). O autor buscou decompor o diferencial de rendimentos utilizando os homens brancos como comparação com os negros, mulheres brancas e negras. Os dados utilizados foram extraídos da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) para o período de 1985 até 1999. Os resultados indicam que os diferenciais salariais das mulheres brancas são explicados por um diferencial salarial puro, dos homens negros por diferenças nas

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qualificações e eles também sofrem com dificuldade de inserção. Já as mulheres negras absorvem ambos os efeitos.

Crespo e Reis (2004) também utilizaram a decomposição de Blinder-Oaxaca (1973) para analisar como os efeitos associados às características das coortes de nascimento, do ciclo da vida e do período foram capazes de influenciar a parte do diferencial salarial entre as raças que se deve ao termo de discriminação. Os dados que deram base à pesquisa foram extraídos da PNAD para o período de 1987 até 2002. Os resultados obtidos indicam que o efeito coorte é menor para as gerações mais novas e o efeito idade é maior para os mais jovens. Em suma, apesar da grande desigualdade de rendimentos entre os grupos raciais no mercado de trabalho, foi percebida uma tendência de redução para a geração mais jovem.

Existem diversos trabalhos sobre desigualdade no mercado de trabalho que usam outras metodologias além da decomposição de Blinder-Oaxaca (1973), como no caso de Almeida de Besarria (2014). Os autores buscaram investigar a discriminação no mercado de trabalho nordestino contra as mulheres e os negros. Os dados utilizados foram extraídos da PNAD para o ano de 2012. Como procedimentos metodológicos foram estimadas equações salariais através de uma regressão de mínimos quadrados ordinários (MQO) e Regressões Quantílicas. Também foi realizada uma decomposição dos rendimentos por raça e gênero conforme proposta de Blinder-Oaxaca (1973). Dentre os resultados encontrados destaca-se a presença de discriminação racial e de gênero na região.

Meireles (2014) analisou os diferenciais por gênero no Brasil, em quatro anos distintos: 1976, 1987, 1996 e 2009. Os dados utilizados foram extraídos PNAD para os referidos anos. As metodologias usadas foram a decomposição do índice de Theil-T e uma decomposição do hiato de renda proposta por Firpo et al. (2007). Ela consiste em uma extensão das Decomposições de Oaxaca e Blinder mais detalhada por propor um procedimento de dois estágios para decompor as mudanças ou diferenças nas distribuições de salários. Isso gera resultados que vão além da média por permitir verificar como os efeitos composição e estrutura salarial afetam os rendimentos de homens e mulheres. Dentre os principais achados destaca-se o fato de a desigualdade de renda entre os gêneros ter apresentado uma tendência de queda ao longo do período de análise, embora permaneça elevada.

Mariano et al. (2018) buscaram analisar os diferenciais de rendimentos entre os gêneros e as raças nas regiões metropolitanas (RM) e Distrito Federal,

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considerando categorias ocupacionais distintas. Para tanto foram utilizados dados da PNAD correspondente ao ano de 2014. Considerando a grande desigualdade de renda entre as regiões foi realizada uma correção através do índice de custo de vida desenvolvido por Azzoni e Almeida (2016). Utilizou-se o pareamento de Nopo (2008) e a decomposição de Oaxaca-Blinder (1973) para captar os diferenciais de rendimentos. Observou-se que existe um diferencial salarial que atinge as mulheres e os negros nas RM’s. Ao desagregar as ocupações e dividi-las por grupos de trabalhos constatou-se que os profissionais das ciências e das artes detêm os maiores diferenciais de rendimentos por gênero no Brasil metropolitano. No que tange as raças os maiores gap’s foram encontrados para os grupos de dirigentes e profissionais das ciências e das artes.

Esta pesquisa busca decompor os diferenciais salariais avaliar a evolução do gap e dos coeficientes de discriminação entre os grupos raciais, gênero bem como a interação entre eles na Região Metropolitana de Salvador no período de 2002 até 2014 e como base de comparação utiliza-se o Brasil e mais quatro regiões metropolitanas. Para tal foram extraídos microdados da PNAD do período de 2002 até 2014, com exceção de 2010 ano de realização do CENSO. Com a finalidade de mensurar o comportamento do diferencial de rendimento foi utilizado o método de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) e para decompor os salários a metodologia de Blinder-Oaxaca (1973).

A principal contribuição desse trabalho é avaliar o comportamento do gap e coeficiente de discriminação no período através de uma análise transversal de idade-período-coorte para os grupos raciais, de gênero bem como a interação entre ambos (raça*gênero).

A hipótese levantada é de que houve uma queda dos diferenciais salariais e do coeficiente de discriminação entre os grupos raciais, principalmente para os mais jovens. O mesmo não é esperado para os grupos de gênero. Mas a expectativa é de que a redução entre os grupos raciais tenha sido capaz de puxar para baixo o gap e o componente discriminatório na interação entre a cor ou raça e o gênero.

A justificativa se deve ao fato de terem sido implementadas muitas políticas públicas durante o período de interesse cuja finalidade era ampliar o acesso de grupos que, até então, tinham dificuldade de adentrar o ensino superior e elevar seu nível educacional criando condições para alcançar melhores colocações no mercado de trabalho e, consequentemente, retornos maiores. E a maior parte delas

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beneficiaram, principalmente, os grupos mais jovens e negros. Com relação ao gap salarial entre os gêneros existem indicadores na literatura de que as mulheres possuem uma escolaridade média mais elevada do que os homens e que elas estão cada vez mais aumentando sua oferta de trabalho. Mas não existem evidências de como o coeficiente de discriminação estatístico está evoluindo dada essa transformação no mercado de trabalho.

A pesquisa foi dividida em quatro seções. Nessa primeira foi feita uma introdução contendo uma revisão de trabalhos empíricos desenvolvidos no país com uma linha semelhante. Na segunda, é apresentada estratégia de análise empírica contendo a descrição dos dados e metodologias que deram base para a realização do trabalho. Na terceira a análise dos resultados obtidos. E por último as considerações finais.

ESTRATÉGIA DE ANÁLISE EMPÍRICA Dados

Os dados que dão base à essa pesquisa foram extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram levantados microdados da Região Metropolitana de Salvador (RMS) e, como base para comparação, de outras quatro regiões que são as Regiões Metropolitanas do Recife (RME), Belo Horizonte (RMBH), Rio de Janeiro (RMRJ), São Paulo (RMSP) e Porto Alegre (RMPOA) referente aos anos de 2002 até 2014, exceto 2010 por se tratar do ano de realização do Censo Demográfico, período que a PNAD é suspensa para que ele seja viabilizado.

Todos os dados foram compatibilizados – através do Data Zoom – para década de noventa5, com a finalidade de eliminar quaisquer distorções neles ao longo dos anos decorrente de alterações na metodologia da Pesquisa bem como deflacionar os valores monetários e possibilitar a construção de uma base transversal. Dentre as variáveis utilizadas nessa pesquisa que sofreram mudanças no decorrer dos anos de análise, destaca-se anos de estudos, ocupação, ocupados na semana de referência e posição na ocupação. As que se referem a idade, experiência, cor ou raça e gênero, tamanho da família não sofreram alterações.

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O pacote permite realizar as compatibilizações das bases para as décadas de oitenta e noventa. Foi escolhida essa última por se tratar de um período mais recente.

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Também foram utilizados pesos amostrais nas estatísticas descritivas e regressões com a finalidade de se obter resultados representativos da população.

A escolha das regiões foi feita não apenas considerando suas respetivas importâncias econômicas-financeiras para o Brasil, mas também a proporção de negros – por se tratar de uma análise para as raças, gênero, bem como a interação entre ambas. Tendo em vista que a Região Metropolitana de Salvador possui uma alta proporção de negros6 o objetivo era compará-la com outras regiões semelhantes, bem como as que possuem percentuais menores desse grupo em sua composição. Com isso é possível avaliar o comportamento da discriminação levando em consideração a diversidade racial de cada localidade.

EQUAÇÃO MINCERIANA E DECOMPOSIÇÃO DE BLINDER-OAXACA (1973) Para analisar os diferenciais salariais entre os grupos é necessário partir de estimativas baseadas em alguma regressão econométrica. Nesse caso, no primeiro momento, será utilizada uma Regressão de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO). Desse modo, parte-se de uma equação minceriana de salários (MINCER, 1974):

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Onde é o logaritmo natural do salário dividido pelo número de horas

trabalhadas para cada indivíduo observado, é um vetor que representa as

variáveis de controle (conjunto de características individuais observadas) que afetam e representa um termo de erro com todas variáveis não observadas que afetam

o salário. As variáveis de controle são educação, experiência7 e seu valor quadrático, posição na ocupação8, grupos ocupacionais9, meses de trabalho10,

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De acordo com Silva (2019).

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Considera-se experiência contínua. A variável foi obtida através da diferença entre a idade do morador do domicílio menos a idade em que começou a trabalhar.

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Empregado com carteira assinada, militar, funcionário público, outro empregado sem carteira assinada, trabalhador doméstico com carteira assinada, conta própria.

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Dirigentes em geral, profissionais das ciências e artes, técnicos de nível médio, trabalhadores de serviços, vendedores e prestadores de serviços do comércio, trabalhadores agrícolas e da produção, reparação e manutenção, membros da forças armadas e auxiliares, ocupações mal definidas.

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Total de meses contínuo no atual trabalho, foi obtido através da soma dos números de anos no trabalho principal da semana de referência e meses no trabalho principal na semana de referência (contados até a data de referência).

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Efeito dotação Efeito discriminação

tamanho da família, ocupação (agregada e desagregada) 11, localidade e chefe de família/domicílio (pessoa de referência na família/domicilio) e chefe de família mulher para as análises de gênero. Também foram utilizados pesos amostrais com o objetivo de obter uma amostra representativa da população. Realizou-se uma correção de Heckman para corrigir o viés de seleção onde foram inseridas mais duas variáveis – idade e seu valor quadrático12. No último momento utilizou-se filtros de faixas de idade para a análise de coorte.

O método de decomposição de Blinder-Oaxaca (1973) é utilizado para medir o resultado por grupos no mercado de trabalho através da decomposição da diferença média em log salarial com base em modelos de regressão linear de uma maneira contra factual. Ele divide o diferencial salarial entre dois grupos: uma parte que é “explicada” por diferenças nas características de produtividade, tal como experiência, educação e outra parte residual que não pode ser explicada por tal diferença nos determinantes salariais. A parte “não explicada” é utilizada como uma medida para a discriminação, mas isso também inclui os efeitos de diferenças de grupo em variáveis não observadas (JANN, 2008). O procedimento consiste em dividir a equação minceriana de salários em dois grupos A e B:

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Tira-se a diferença média entre as duas equações. Organiza-se a equação conforme o procedimento realizado por Mariano et al (2018):

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O primeiro termo da equação é à parte do diferencial que pode ser explicada pelas características produtivas observadas dos dois grupos, , ou seja,

o “efeito dotação” visto do ponto de vista de B. A segunda parte mede a contribuição das diferenças nos parâmetros, inclusive o intercepto, , o “efeito discriminação”. Esse termo representa a parte do diferencial salarial devido à

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Composta por 506 tipos de ocupações agregada e desagregada (decomposta).

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Para eliminar diferenças no tempo em que os indivíduos passam investindo em capital humano e tarda sua inserção no mercado trabalho.

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valorização distinta de um mesmo atributo. Se tal diferença for positiva, isso significa que dado atributo é mais valorizado no grupo A do que no Grupo B. Com a finalidade calcular os diferenciais salariais entre os grupos através da decomposição de Blinder-Oaxaca (1973) serão estimadas equações para os grupos de interesse:

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Os subscritos representam brancos (B), negros (N), masculino (M), feminino (F), masculino branco (MB) e feminino negro (FM).

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Resultados das Estimações da Equação Minceriana por MQO

Nessa etapa da pesquisa foram estimadas regressões de mínimos quadrados ordinários com correção de Heckman apenas para e a Região Metropolitana de Salvador e como base de comparação utilizou-se o Brasil. Utilizou-se como controle as variáveis mencionadas no capítulo anterior13. Todas as regressões apresentaram resultados significantes com um nível de confiança de 95%. No Gráfico 1 é possível verificar os resultados para o caso do Brasil segundo a ocupação. Observa-se que ambas apresentam uma redução no diferencial de rendimentos entre os grupos raciais ao longo dos anos. No entanto, as ocupações desagregadas conseguem reduzir ainda mais esses diferenciais, no início da série ela apresentou uma diferença de 12% e ao final 9% contra 14% e 13% nas ocupações agregadas, considerando o mesmo período.

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Cor ou raça, gênero e interação (raça*gênero), experiência e seu valor quadrático, meses de trabalho, chefe de família, ocupação (agregada e desagregada), posição na ocupação, grupos ocupacionais, chefe de família e do domicílio, chefe de família mulher (chefe*feminino) para estimações por gênero.

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GRÁFICO 1 – Diferenciais salariais por cor ou raça segundo ocupação no Brasil

Fonte: Elaboração própria, a partir de microdados da PNAD/IBGE, ano a ano14.

GRÁFICO 2 – Diferenciais de rendimentos por cor ou raça segundo ocupação na RMS

Fonte: Elaboração própria, a partir de microdados da PNAD/IBGE, ano a ano15.

No Gráfico 2 é possível verificar o caso da Região Metropolitana de Salvador. Apesar de não ter um comportamento linear ao longo da série ambas as curvas apresentam uma trajetória de queda no diferencial salarial, mas com as ocupações desagregadas os diferenciais salarias entre os grupos raciais são menores. Observando-se a série temporal é possível verificar que no ano de 2011 ela atinge o seu menor percentual, com os brancos ganhando 9% a mais que os negros para o caso das ocupações desagregadas e 17% com ocupações agregadas.

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Obs.: controlado por anos de anos de estudos, experiência, experiência ao quadrado, meses de trabalho (número de meses no trabalho principal da semana de referência), chefe de família (pessoa de referência na família/domicílio) e cor ou raça (branco=1) e com correção de Heckman.

15

Obs.: controlado por anos de anos de estudos, experiência, experiência ao quadrado, meses de trabalho de trabalho, chefe de família (pessoa de referência na família/domicílio), cor ou raça (branco=1), com filtro para localidade e com correção de Heckman.

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No que tange aos diferenciais salariais entre os gêneros no Gráfico 3 é possível verificar os resultados para o caso do Brasil segundo a ocupação. Observa-se que, diferente do que aconteceu para o caso dos grupos raciais, ambas as ocupações apresentam uma elevação no diferencial de rendimentos entre os gêneros ao longo dos anos. No entanto, com as ocupações desagregadas esses diferenciais são menores. Nesse último caso, em 2002 os homens ganhavam em média 10,80% a mais que as mulheres contra 18,38% com ocupação agregada, no último período da série esses percentuais chegaram a 13,40% e 20,26%, respectivamente.

GRÁFICO 3 – Diferenciais salariais por gênero segundo ocupação no Brasil

Fonte: Elaboração própria, a partir de microdados da PNAD/IBGE, ano a ano16.

GRÁFICO 4 – Diferenciais salariais por gênero segundo ocupação na RMS

Fonte: Elaboração própria, a partir de microdados da PNAD/IBGE, ano a ano17.

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Obs.: controlado por anos de anos de estudos, experiência, experiência ao quadrado, meses de trabalho de trabalho, chefe de família (pessoa de referência na família/domicílio), gênero (homem=1) e com correção de Heckman.

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Obs.: controlado por anos de anos de estudos, experiência, experiência ao quadrado, meses de trabalho de trabalho, chefe de família (pessoa de referência na família/domicílio), gênero (homem=1), localidade e com correção de Heckman.

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Na Região metropolitana de Salvador ocorre algo semelhante com o que acontece no Brasil. Apesar das curvas não apresentarem um comportamento linear, os diferenciais salariais entre os grupos estão se elevando ao longo da série, mas continuam crescendo menos com as ocupações desagregadas. Nesse último caso, é possível observar que os homens ganhavam em média 14,90% a mais do que as mulheres já com as ocupações agregadas esse diferencial era de 19,79%. Em 2014 esses/ diferenciais em termos percentuais foram de 17,90% e 25,11%, respectivamente (ver Gráfico 4).

No tocante aos diferenciais na interação entre cor ou raça e gênero os maiores diferenciais salariais são entre homens brancos e mulheres negras (linha vermelha). No caso do Brasil esse gap era de 31% em 2002, ele sofre pequenas variações ao longo da série e fecha com um percentual de 29%. Algo semelhante ocorre ao se observar o comportamento do diferencial salarial na decomposição por raça (linha amarela). As mulheres brancas ganham em média 19% a mais do que as negras no início da série e ao final essa diferença cai para 17%. Esse mesmo percentual é alcançado quando comparados homens e mulheres de mesma cor ou raça, ou seja, negros, um aumento considerável comparado aos10% do início da série. O que evidencia uma tendência de elevação nos diferenciais salariais entre os gêneros (ver Gráfico 5).

GRÁFICO 5 – Diferenciais salariais interação entre cor ou raça e gênero com ocupação

desagregada no Brasil

Fonte: Elaboração própria, a partir de microdados da PNAD/IBGE, ano a ano18.

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Obs.: controlado por anos de anos de estudos, experiência, experiência ao quadrado, meses de trabalho de trabalho, chefe de família (pessoa de referência na família/domicílio), grupos

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Na Região Metropolitana de Salvador os maiores diferenciais salariais também são entre o homem branco e a mulher negra, mas eles são ainda maiores do que a média do Brasil. Em 2002 o homem branco ganhava em média 34% a mais do que a mulher negra com os mesmos atributos produtivos. Houve uma grande variação desse diferencial entre os grupos ao longo da série com alguns momentos de queda e elevação. A série encerra com uma taxa de 27%. A distância entre os rendimentos das mulheres brancas e negras também seguem uma trajetória de queda, atingindo um percentual de aproximadamente 17% em 2014 contra os 19% de 2002. Já quando se compara os homens negros e mulheres de mesma cor ou raça percebe-se que há um aumento da desigualdade nos ganhos médios entre os dois. Em 2002 esse percentual era de 15% e chega 19% em 2014 (ver Gráfico 6).

GRÁFICO 6 – Diferenciais salariais interação entre cor ou raça e gênero com ocupação

desagregada na RMS

Fonte: Elaboração própria, a partir de microdados da PNAD/IBGE, ano a ano19.

Como foi visto o maior diferencial salarial se dá entre as mulheres negras homens brancos, tanto para a RMS quanto para o Brasil. Esses resultados para os grupos vão na mesma linha dos encontrados por Soares (2000) que defendeu que

ocupacionais, ocupações desagregadas, gênero, raça e interação, localidade e com correção de Heckman.

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Obs.: controlado por anos de anos de estudos, experiência, experiência ao quadrado, meses de trabalho de trabalho, chefe de família (pessoa de referência na família/domicílio), grupos ocupacionais, ocupações desagregadas, gênero, raça e interação, localidade e com correção de Heckman.

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as mulheres negras absorvem os efeitos da discriminação contra as mulheres e negros.

Também foi verificado que os diferenciais salariais são menores ao desagregar as ocupações, assim como em trabalhos desenvolvidos por Menezes (2013)20; Guimarães (2013)21; Gomes; Souza (2016)22 e Mariano et al. (2018) que buscaram avaliar a presença de discriminação no mercado de trabalho no Brasil entre grupos de raça e gênero realizando a decomposição a partir desagregando ocupação.

Resultados da decomposição de Blinder-Oaxaca (1973)

A parte dos diferenciais salariais não explicada pelas características produtivas é representada por um coeficiente de discriminação obtido através da decomposição dos rendimentos através do método de Blinder-Oaxaca (1973). O gráfico 7 denota a evolução desse coeficiente considerando os grupos raciais no Brasil e em suas principais regiões metropolitanas. É possível verificar que no País e na maioria das regiões metropolitanas houve uma redução do coeficiente de discriminação contra os negros ao longo dos anos, com exceção de Recife. Em 2002 a RME apresenta um coeficiente de discriminação de 9,9%, ao longo da série ele teve momentos de queda e elevação, fechando com um percentual de 11%.

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Desagregou a ocupação e dividiu em grupos ocupacionais para analisar os diferenciais salariais entre os gêneros, raça e localidade (região) do mercado de trabalho brasileiro.

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Analisou as diferenças salariais entre os gêneros considerando níveis ocupacionais e regionais.

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Avaliaram as diferenças salariais por gênero na região nordeste do Brasil em 2013 considerando as classes de emprego.

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GRÁFICO 7 – Evolução do coeficiente de discriminação por grupos raciais no Brasil e

nas principais Regiões Metropolitanas

Fonte: Elaboração própria, a partir de microdados da PNAD/IBGE, ano a ano23.

Na Região Metropolitana de Salvador o coeficiente de discriminação apresentou uma queda considerável, saindo de 15,80% em 2002 para aproximadamente 9,66% em 2014. Esses resultados dialogam com os das estimações equação minceriana pelo método de mínimos quadrados que apresentou queda nos diferenciais salariais, tanto com ocupações desagregadas quanto com desagregadas.

No Brasil essa queda foi ainda maior, saindo de 18,20% no primeiro ano da série para 12,30% no último ano. As Regiões de São Paulo e Porto Alegre também apresentaram grandes variações ao longo da série, mas quando comparado o primeiro e último é possível verificar uma pequena queda do parâmetro, saindo de 13,10% e 9,06%, respectivamente, para 8,51% e 6,09%, nessa ordem. Belo horizonte e Rio de Janeiro alcançaram coeficientes de 6,30% e 6,25 no último ano da série, contra 8,73% e 6,89%, de modo respectivo (ver Gráfico 7).

No que tange a discriminação entre os grupos de gênero é possível verificar que está havendo uma elevação do coeficiente de discriminação contra as mulheres na maioria das regiões metropolitanas analisadas, com exceção de São Paulo, Belo Horizonte e Brasil. Na Região metropolitana de São Paulo o percentual era de

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Controlando por anos de estudos, experiência e idade com seus valores quadráticos, tamanho da família, chefe de família e chefe do domicílio (pessoas de referência da família/domicílio), meses de trabalho, grupos ocupacionais, ocupações desagregadas e localidade e cor ou raça como grupovar (grupos de comparação).

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16,40% no ano de 2002 variou bastante ao longo da série apresentando alguns momentos de queda e outros de elevação, fechando com o menor coeficiente entre as regiões, 11,10%. A Região Metropolitana de Belo Horizonte reduziu menos alcançando um coeficiente de 16,80% em 2014 contra os 17,30 no primeiro ano da série. No Brasil houve pequenas variações com momentos de redução e elevação, mas a série foi encerrada com o mesmo percentual do início 14,30% (ver Gráfico 8).

GRÁFICO 8 – Evolução do coeficiente de discriminação por grupos de gênero no

Brasil e nas principais Regiões Metropolitanas

Fonte: Elaboração própria, a partir de microdados da PNAD/IBGE, ano a ano24.

A Região Metropolitana de Salvador foi a que apresentou o maior coeficiente de discriminação contra as mulheres no último ano da série, um percentual 19,30%, em 2002 esse coeficiente era de 15,57%. Outra região metropolitana que apresentou uma elevação significativa foi Recife onde em 2014 esse percentual chegou a 18,16% contra os 13,76% do início da série. As regiões metropolitanas de Porto Alegre e Rio de Janeiro apresentaram grandes variações ao longo da série atingindo coeficientes elevados – 16,40% e 14,90%, respectivamente –, em seu último ano contra os 11,27 e 11,10%, nessa ordem, do primeiro ano da série (ver Gráfico 8).

Ao interagir raça e gênero comparando mulheres negras com homens brancos é possível observar que houve uma grande variação do coeficiente de

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Controlando por anos de estudos, experiência e idade com seus valores quadráticos, tamanho da família, chefe de família e chefe do domicílio (pessoas de referência da família/domicílio), meses de trabalho, grupos ocupacionais, ocupações desagregadas, localidade e gênero como grupovar (grupos comparados).

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discriminação no Brasil e nas RM’s, mas quando se compara o primeiro e último ano da série esse comportamento se difere a depender da região. No caso do Brasil houve uma queda no coeficiente em 2014 que atingiu um percentual de 17,30% contra 20,30% em 2002. O mesmo aconteceu com as regiões de São Paulo e Porto Alegre que possuíam coeficiente de 18,10% e 12,50%, respectivamente, no primeiro ano da série e alcançaram 12,70% e 10,5%, nessa ordem, no último ano (ver Gráfico 9).

Na Região Metropolitana de Salvador houve grandes variações ao longo da série com alguns momentos de queda e outros de crescimento do coeficiente de discriminação entre as mulheres negras e homens brancos, mas quando se compara o primeiro e último ano é possível observar que houve um aumento desse percentual. Em 2002 esse coeficiente era de 17,50% e em 2014 chegou a 19,20%. As regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife também elevaram os seus coeficientes saindo de 8,19%, 12,50% e 13,30%, respectivamente, e atingindo 12,50%, 13,57% e 14,44%, nessa ordem (ver Gráfico 9).

GRÁFICO 9 – Evolução do coeficiente de discriminação da interação etnia e gênero no

Brasil e nas principais Regiões Metropolitanas

Fonte: Elaboração própria, a partir de microdados da PNAD/IBGE, ano a ano25.

Em suma, no que tange a evolução do coeficiente de discriminação entre raças foi apresentada uma tendência de queda ao longo dos anos não apenas na Região Metropolitana de Salvador, mas na maioria das regiões e no País. Esses

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Controlando por anos de estudos, experiência e idade com seus valores quadráticos, tamanho da família, chefe de família e chefe do domicílio (pessoas de referência da família/domicílio), meses de trabalho, grupos ocupacionais, ocupações desagregadas, localidade e a interação entre raça e gênero (raça*gênero) como grupovar (grupos de comparação).

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resultados dialogam com a trajetória negativa do gap encontrada através das estimações por MQO, seja com ocupações agregadas ou desagregadas. O mesmo ocorreu ao analisar os grupos de gênero. Mas ao observar a interação (raça*gênero) os movimentos se diferem, o diferencial salarial entre a mulher branca e o homem negro caminha no sentido decrescente, mas o coeficiente vai no sentido ascendente.

Resultados para as coortes (idade-período-coorte)

Nessa etapa, foram realizadas estimações das Equações Mincerianas pelos métodos de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) e Decomposições de Blinder-Oaxaca (1973) por coortes de idade (idade-período-coorte) com o objetivo de captar a evolução nos diferenciais salariais bem como dos coeficientes de discriminação entre os grupos raciais e de gênero. Nesse sentido, filtrou-se indivíduos entre 25 a 30 anos de idade e à nível de comparação utilizou-se pessoas entre 46 e 50 anos de idade. Os demais controles são os mesmos utilizados nas regressões das etapas anteriores e, novamente, foi feita uma correção de Heckman para corrigir o viés de seleção.

Os resultados das estimações das Equações Mincerianas por MQO para os grupos raciais sugerem que está havendo uma redução dos diferenciais salariais para a coorte mais jovem na RMS. Em 2002 os brancos ganhavam aproximadamente 21% a mais do que os negros e no último ano da série esse diferencial se reduziu para 14%. A coorte mais velha também segue uma trajetória de queda, apesar de não ser muito linear, mas reduziu menos. No primeiro ano da série o gap salarial era de 20% e em 2014 foi de 15% (ver Gráfico 10). Foram traçadas linhas de tendências lineares para ambos gap’s que denota a trajetória negativa de ambos26. No entanto a variação é maior para os mais jovens.

No que tange a evolução do coeficiente de discriminação entre os grupos raciais – obtido através da decomposição de Blinder-Oaxaca (1973) – é possível observar que esses resultados também sofreram uma tendência de queda ao longo dos anos e assim como nas regressões por MQO ela é mais acentuada para os mais jovens. No início da série o coeficiente de discriminação é mais elevado para pessoas que têm entre 25 e 30 anos de idade em comparação ao que possuem de 46 a 50 anos, mas ao longo dessa série há uma grande variação. Em 2002 os mais

26

Variando: -0,0051 com um R² de 0,6223 (25 a 30 anos) e -0,0036 com um R² de 0,2521 (46 a 50 anos).

(18)

os mais novos possuíam um coeficiente de 20 % contra 18% dos mais velhos. Entre 2004 e 2005 ocorre uma inversão nesses valores. No ano de 2014 o grupo mais novo alcançou o menor coeficiente de discriminação da série, 11%. Enquanto o mais antigo ficou com um percentual negativo, -0,006527. Foi traçada uma linha de tendência28 linear que confirmou uma trajetória negativa para ambos os grupos, mas mais intensa e linear para os mais jovens (ver Gráfico 11).

Fonte: Elaboração própria, a partir de microdados da PNAD/IBGE, ano a ano29.

GRÁFICO 11 – Evolução do coeficiente de discriminação entre os grupos raciais por

coortes de idade na Região Metropolitana de Salvador

Fonte: Elaboração própria, a partir de microdados da PNAD/IBGE, ano a ano30.

27

Não significativo a um nível de confiança de 95%.

28

Variando: -0,0117 com um R² 0,4719 (25 a 30 anos) e -0,0022 com um R² 0,0038 (46 a 50 anos).

29

Obs.: controlado por anos de anos de estudos, experiência, experiência ao quadrado, meses de trabalho de trabalho, chefe de família (pessoa de referência na família/domicílio), gênero (homem=1) e cor ou raça e com correção de Heckman.

30

Controlando por anos de estudos, experiência e seu valor quadrático idade – entre 25 e 30 anos e 46 e 50 -, tamanho da família, chefe de família e chefe do domicílio (pessoas de referência da família/domicílio), meses de trabalho, grupos ocupacionais, ocupações agregadas e localidade e raça como grupovar (grupos de comparação).

GRÁFICO 10 – Evolução dos diferenciais salariais por raça segundo coortes de idade

(19)

Quando se analise os grupos de gênero é possível observar que os diferenciais salariais – obtido pelo MQO – entre eles seguem uma tendência de elevação. No entanto, o gap é maior para o caso das pessoas entre 46 e 50 anos de idade, com exceção de 2005 que caiu para 9,2% contra 15,41% do ano anterior, mas volta a crescer no ano seguinte fechando a série em 15,85%. Considerando as coortes entre 25 e 30 anos de idade, no início da série homens ganham em média 11,40% a mais do que as mulheres e ao final da série esse percentual atinge os mesmos 15,85% da coorte mais velha (ver Gráfico 12). Foram traçadas linhas de tendência linear para verificar a trajetória dos diferenciais para ambas as coortes e para os dois casos a inclinação é positiva, mas a variação é maior para a coorte mais velha31.

GRÁFICO 12 – Evolução dos diferenciais salariais por gênero segundo coortes de idade na

RMS

Fonte: Elaboração própria, a partir de microdados da PNAD/IBGE, ano a ano32.

31

Variando: 0,0011 com um R² de 0,0338 (25 a 30 anos) e 0,0067 com um R² de 0,2953 (46 a 50 anos).

32

Obs.: controlado por anos de anos de estudos, experiência, experiência ao quadrado, meses de trabalho de trabalho, chefe de família (pessoa de referência na família/domicílio), gênero (homem=1) e cor ou raça e com correção de Heckman.

(20)

GRÁFICO 13 – Evolução do coeficiente de discriminação entre os gêneros por coortes de

idade na Região Metropolitana de Salvador

Fonte: Elaboração própria, a partir de microdados da PNAD/IBGE, ano a ano33.

No Gráfico 13 é possível verificar esses resultados para os grupos de gênero através do método da decomposição de Blinder-Oaxaca (1973). Observa-se que, para ambas as coortes de idade, está havendo uma grande variação dos coeficientes de discriminação com alguns momentos de queda e outros de elevação. Mas, diferente do ocorrido na comparação entre os grupos raciais, as tendências se diferem conforme as coortes. Em 2002 o coeficiente de discriminação contra as mulheres de 25 a 30 anos e 46 a 50 anos eram 7% e 24%, respectivamente. O ano de 2013 apresentou o menor coeficiente ao longo da série para ambas as coortes com um percentual negativo para a mais jovem (não significativo a um nível de confiança de 95%). No ano de 2014 esses coeficientes encerram a série com percentuais de 13% – o mais jovem – e 23% – o mais velho. Foi traçada uma linha de tendência linear que indica uma trajetória negativa para a coorte mais jovem e positiva para a mais velha34.

Em suma, a tendência de queda ao longo dos anos tanto dos diferenciais salariais quanto coeficiente de discriminação entre os grupos raciais dialogam com os resultados encontrados em Crespo e Reis (2004). Os autores constaram que apesar da grande desigualdade de rendimentos entre brancos e negros, houve uma tendência de redução entre 1987 e 2002 para os mais jovens. No que tange os

33

Controlando por anos de estudos, experiência e idade com seus valores quadráticos, tamanho da família, chefe de família e chefe do domicílio (pessoas de referência da família/domicílio), meses de trabalho, grupos ocupacionais, ocupações desagregadas e localidade e gênero como grupovar (grupos de comparação).

34

Variando: -0,0105 com um R² de 0,1756 (25 a 30 anos) e 0,0044 com um R² de 0,0349 (46 a 50 anos).

(21)

grupos de gênero as tendências das coortes mais jovem e mais velha divergiram nas duas metodologias utilizadas. Para o grupo entre 46 e 50 anos há uma trajetória de aumento da distância entre os homens e mulheres nas estimações das Equações Mincerianas pelas Regressões de Mínimos Ordinários e na decomposições de Blinder-Oaxaca (1973). Para os que têm entre 25 e 30 anos a direção também é positiva na primeira metodologia e negativa na segunda.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar da grande diferença salarial presente no mercado de trabalho da Região Metropolitana de Salvador entre os grupos raciais está havendo uma queda da desigualdade entre eles ao longo dos anos e ela é ainda mais intensa considerando as ocupações desagregadas e para as gerações mais novas (pessoas entre 25 e 30 anos). O mesmo não é verificado ao se comparar homens e mulheres, está havendo um aumento da distância entre eles, mas ela é menor ao desagregar os níveis ocupacionais e chega até a ser negativa (cair) para coorte mais jovem. No que tange a interação foi observada uma trajetória de queda nos diferenciais entre a mulher negra e o homem branco, mas, em contrapartida, uma elevação do coeficiente de discriminação estatística.

Apesar da limitação de controle de todas as características não observáveis os resultados encontrados aqui denotam que os efeitos ocupação, especialmente desagregada, e coorte contribuíram para a redução do componente de discriminação entre brancos e negros, nas gerações mais novas, mas tiveram impactos diferentes para os grupos de gênero bem como a interação entre eles e a cor ou raça.

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