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Assistência estudantil para quem? O direito de permanência da classe trabalhadora no ensino superior e suas contradições

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Academic year: 2021

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Política Social; Ensino Superior; Assistência Estudantil; Programa Nacional de Assistência Estudantil.

Bruna Gimenes Ferreira Arroyo Poggere1 UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

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Assistente Social, atualmente trabalha na Universidade Federal do Paraná (UFPR), setor Palotina-PR, mestranda em Serviço Social pela Universidade do Oeste do Paraná (UNIOESTE). contato: brunagimenes@ufpr.br.

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INTRODUÇÃO

Esse texto foi formulado a partir de inquietações a cerca da configuração da assistência estudantil no Brasil, trata-se de uma revisão bibliográfica, com o objetivo de apreender as contradições que estão expostas a política de assistência estudantil em nosso país. Para tanto, identificamos em bibliografias e legislações nacionais rico material que nos deu suporte para pesquisar sobre o tema.

O Direito à Educação é preconizado pela Constituição Federal de 1988, em seus artigos 205 e 206 e regulamentados pelo artigo 3º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96). Segundo os documentos oficiais, a educação visa garantir o pleno desenvolvimento do educando, no sentido de prepará-lo para o exercício da cidadania, para o mundo do trabalho e vida em sociedade. No que concerne os objetivos das legislações em vigor, a qualidade dos serviços prestados à população e ao estudante da rede pública de educação, nos níveis básico e superior, devem garantir seu desenvolvimento integral.

A democratização de oportunidades de acesso e permanência aos diversos níveis de ensino, principalmente à educação superior, contribui, ao mesmo tempo, para fomentar o sistema capitalista a partir da formação e qualificação profissional dos indivíduos para o mercado de trabalho, e também para redução das desigualdades sociais e regionais, tornando assim um instrumento de construção da cidadania e de consolidação da democracia. Neste cenário insere-se a assistência estudantil no Brasil, que foi expandida a partir da política social-democrata do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, ampliando o acesso e permanência de jovens de classe baixa e média ao ensino superior, e ao mesmo tempo, correspondendo ao mercado econômico com a ampliação do exército de reserva qualificado. Na tentativa de compreendermos as contradições demandadas pelo modo de produção capitalista de cunho neoliberal acerca da assistência estudantil no Brasil, discorremos essas breves linhas.

CONTRADIÇÕES ACERCA DA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

A política de assistência estudantil está inserida dentro da política de educação, a partir da proposta de democratização do ensino superior. Para aprofundar a discussão, faremos um breve percurso histórico da política de assistência estudantil no Brasil, e como se estabeleceu a política de educação nos governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC) do Partido da

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Social Democracia Brasileira (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores (PT), tendo como pano de fundo a compreensão da relação: Estado, Política Social e Educação. Obviamente, neste breve texto não tivemos a pretensão de esgotar esses temas, somente fizemos um breve aporte a cada um deles.

De acordo com Pereira (2011) o Estado se torna uma instituição verdadeiramente política a partir do século XVII quando adquire personalidade própria se desvinculando da pessoa do governante (monarquia) e das influências religiosas. Desde Nicolau Maquiavel (1469-1525); os contratualistas : Tomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704), e Jean Jacques Rousseau (1712-1778); os revolucionários: Wilheim Friedrich Hegel (1970-1831), Karl Heinrich Marx (1818-1883), Vladimir Ilitch Ulianov Lênin (1870-1924), Antonio Gramsci (1891-1937), até cientistas políticos e filósofos da atualidade, são vastas e divergentes as conceituações de Estado, mas diante de tantas contradições imposta pelo modo de produção capitalista, o Estado a partir de sua política econômica e social legitima o consenso de uma sociedade de classes, dessa forma, definimos Estado como um produto da sociedade, do conflito entre as classes com interesses colidentes, ou como disse Engels, “[...] a confissão de que a sociedade se enredou numa irremediável contradição com ela própria está dividida por antagonismos irreconciliáveis que não consegue conjurar” (ENGELS, 2002, p. 191).

O Estado é o regulador desses conflitos, mas ao mesmo tempo não se coloca na perspectiva de romper ou reconciliar as relações de classe e sim, simplesmente mantê-las, e para a manutenção da “ordem” e das relações antagônicas e de exploração de uma classe sobre a outra, o Estado é chamado a intervir nas relações sociais a partir das políticas sociais. Conforme nos esclarece Pereira (2011), o Estado apesar de possuir autonomia em relação a classe burguesa com quem possui maior identificação, tem que se relacionar com todas as classes sociais para se legitimar e fortalecer suas bases materiais de sustentação, pois nasceu da sociedade, que o engendra e o mantém e não ao contrario como propunha Hegel.

Na mesma perspectiva de Pereira (2011), Saviani (2007) nos esclarece que o Estado capitalista favorece os interesses privados mediante demandas coletivas, permite e confabula a exploração da força de trabalho, fortalecendo assim o sistema capitalista, caracterizado pela apropriação privada dos bens produzidos coletivamente. Como forma de legitimar e regular o sistema capitalista, o Estado estabelece normatizações, legislações, estruturas políticas e distribuição dos poderes, e para manutenção da ordem e relação harmônica entre as classes cria a Polícia e as Políticas Sociais.

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Nesse sentido, para Faleiros (1986), as políticas sociais conduzidas pelo Estado, surgem para enfretamento da "questão social", que representam os resultados das relações de classe e do complexo desenvolvimento das forças produtivas e sociais, ao mesmo tempo em que são resultado da luta de classes, contribuem para reprodução das classes e manutenção do sistema. As políticas sociais voltadas à educação garantem subsídios para manutenção da força de trabalho, ao capacitar o trabalhador através da educação formal e possibilitar sua inserção mais qualificada no mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que alavanca o sistema produtivo capitalista, fornecendo indivíduos que possam ser explorados e também garantindo um amplo exército reserva.

De acordo com Iamamoto,

O Estado assume paulatinamente uma organização corporativa, canalizando para sua órbita os interesses divergentes que emergem das contradições entre as diferentes frações dominantes e as reivindicações populares, para, em nome da harmonia social e desenvolvimento, da colaboração entre as classes, repolitizá-las e discipliná-las, no sentido de se transformar num poderoso instrumento de expansão e acumulação capitalista. IAMAMOTO (2000, p.151),

Desde o surgimento do capitalismo, o Estado vem assumindo algumas responsabilidades sociais, para manutenção da ordem. No entanto, Adam Smith (1983) um dos maiores pensadores do liberalismo, defende o princípio do trabalho como mercadoria e sua regulação pelo livre mercado, de maneira que o mercado deve ser a "mão invisível", assegurando o equilíbrio entre a oferta e a procura, cujo funcionamento deveria se dar sem intervenção do Estado que não deve executar as políticas sociais, mas sim regula-las. No que tange à educação, a perspectiva liberal prevê a “Pedagogia do Resultado” (SAVIANI, 2007), que preconiza a formação do trabalhador para o atendimento do mercado de trabalho de forma eficiente, sem se preocupar com a aquisição do conhecimento crítico-científico ou com a emancipação coletiva.

No decorrer da história educacional brasileira, alguns fatos merecem ser destacados. A década de 1930, marcada pelo desenvolvimentismo industrial, permitiu alguns avanços educacionais, mas não de cunho revolucionário, tendo a concepção escolanovista e racionalidade científica como marcos dessa época. Na década de 1940, com a necessidade de profissionalização, cria-se o sistema de aprendizagem: SENAI, SENAC SESI, SESC, formando assim, um sistema de formação profissional paralelo ao sistema oficial de ensino. Já na década de 1950 a educação é voltada aos ideais "desenvolvimentistas internacionalistas". A década de 60 teve um significado avanço histórico e, em 1961 é sancionada a LDB, no

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entanto com abertura para a relação público - privado. Após o golpe de 1964, a educação é utilizada para estimular o patriotismo e de forma tecnocrata combater as pressões dos movimentos contrários à ditadura. A década de 1980, foi marcada pelo pós-ditadura, buscou-se romper com o autoritarismo, a produção do conhecimento na perspectiva crítica foi latente. Frigotto (2011) destaca que a década de 1980 foi um marco na produção bibliográfica, pois tinha como desafio a redemocratização para romper com sistema coercitivo e de exploração, diferentemente da década de 1990 que se caracterizou pelo produtivismo, mercantilização do conhecimento, fragmentação e abandono da criticidade.

Com o fim da ditadura, tivemos eleições diretas para a presidência da república, sendo Fernando Collor de Melo (1990-1992) o primeiro presidente eleito pelo voto direto. Em seguida, tivemos a eleição de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que deixou explícita a adesão pela lógica neoliberal para política econômica e social no país a partir da “Reforma do Estado”, apresentada pelo então ministro Bresser Pereira, que propunha, dentre outras coisas, a disciplina fiscal, a privatização de empresas estatais e a liberação comercial. Neste contexto, as políticas sociais, principalmente as políticas de saúde e educação, poderiam ser contratadas e executadas por organizações não estatais. Mesmo com toda a luta política em torno da garantia de direitos sociais fundamentais, expressa em alguns artigos da Constituição Federal sancionada em 1988, a cultura gerencial e os ideários da Reforma do Estado, foram incorporadas nas legislações complementares à Constituição, especialmente no âmbito da seguridade social e educação, através de reformas constitucionais ou decretos que deixavam clara a opção pelo “Estado mínimo”.

Em relação a isso, Saviani (2007) destaca o governo de FHC como o propulsor da Política de Educação ao sistema privado. Em 1997 é sancionada a lei que admite instituições de ensino com fins lucrativos e também ocorre a distinção entre universidades e centros universitários, que não precisam ter necessariamente o tripé ensino, pesquisa e extensão. Além de que, a cultura gerencial apresenta alguns traços marcantes no ensino superior, principalmente nas universidades federais no que diz respeito à racionalização dos recursos, deixando o Estado de ser central na provisão das políticas sociais, passando a responsabilidade para o mercado, objetivando enxugar os gastos da máquina estatal. Outro ponto é o direcionamento para gestão dos resultados, deixando claro que a avaliação tem papel fundante para o credenciamento das instituições de ensino superior para ter sua autonomia e receber recursos, assim como rege o mercado econômico, o que é levado em consideração é a relação custo-benefício e não as dificuldades e a história das instituições.

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Avalia-se que diante da lógica neoliberal, a educação superior é um setor estratégico, pois cumpre sua função ideológica necessária à manutenção do sistema capitalista, além de que é uma área propulsora do aquecimento econômico, torna-se um novo nicho de investimento e uma importante mercadoria para o consumidor.

Saviani (2007) destaca que o Plano Nacional de Educação (PNE) de 1997, ainda no governo FHC, limitou-se a transferir a responsabilidade aos municípios e estados, ficando sobre o prisma da União a avaliação dos resultados e controle do plano, além de incentivar a abertura das escolas para trabalho voluntário, com programas como o "Acorda Brasil". O autor ressalta também que o governo FHC vetou o ponto principal que fazia do PNE um plano: o financiamento.

Em 2002, com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, havia a expectativa de que ocorreria um rompimento com as políticas neoliberais. No entanto, a política econômica adotada pelo então presidente e sua equipe de governo não tinha nada de novo, seguindo basicamente os mesmos modelos de seu antecessor. No campo educacional, especificamente na educação Superior, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) foi o propulsor da reforma da educação superior que se iniciou em 2003, com a implantação de programas, regulamentações e parcerias público-privado: PROUNI (Programa Universidade para Todos); SINAES (Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior); Lei de Inovações Tecnológicas (nº 10973/2004); Regulamentação do Ensino a Distância (decreto n. 5622/2005); Regulamentação da Educação tecnológica (Decreto n. 5154/2004); Regulamentação da parceria Público-Privado (lei nº 11079/2004).

Em 2007, para materializar as metas do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) para Educação Superior, o governo fortaleceu alguns programas já implantados e criou o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) pelo Decreto n.º 6096/2007. O REUNI, segundo os documentos oficiais, tinha como objetivo central a criação de condições para ampliar o acesso e permanência na educação superior, no nível de graduação, através do melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos, com pretensão de elevação da taxa de conclusão média dos cursos de graduação presenciais para noventa por cento, e ainda elevando a taxa de atendimento para um professor a cada 18 alunos. Com metas a cumprir e as pressões do FONAPRACE2, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva transforma a assistência estudantil em um programa governamental, cabendo às

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Instituições Federais de Ensino Superior regulamentá-las de acordo com suas necessidades e realidade.

Atento as novas configurações do ensino superior, Frigotto (2011) chama atenção para o desmonte neoliberal aparente na educação, mesmo com avanços acentuados no governo Lula em relação ao incentivo, acesso, permanência e inclusão, os objetivos estão atrelados à perspectiva mercadológica que legitima a hegemonia do sistema capitalista- neoliberal, o que Saviani (2007) chama de "Pedagogia do Resultado" ou "Pedagogia das Competências". Chauí, (apud Frigotto, 2011), acrescenta que a partir da década de 1990 houve um deslocamento da universidade pública republicana para organização social vinculada ao mercado e, com isso a discussão teórica-crítica tem sido gradativamente suprimida, relegada a um segundo plano nas pesquisas educacionais, sendo expandida a teoria do consenso e pragmática. Tecendo critica a essa lógica de gestionar a educação atrelada ao mercado econômico, Moraes (2003) visualiza que o objetivo principal é o consenso entre as classes, de maneira que entram em cena os atores, saem os sujeitos, o apaziguamento da sociedade expõe a diferença de classe como mera diversidade cultural e não no âmbito econômico e social.

No entanto mesmo com a política econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva estar atrelada aos ditames neoliberais, é notável que em relação às políticas públicas da educação superior houveram algumas mudanças fomentadas a partir da proposta “Educação Para Todos”. A expansão das universidades brasileiras fez com que a oferta de vagas aumentasse significativamente no ensino superior. Com a expansão do número de vagas, atrelada à política de cotas, houveram alterações do perfil sócio econômico, cultural e educacional dos alunos que ingressam no ensino superior e, conseqüentemente, a questão da permanência destes nas universidades públicas tornaram-se relevantes, haja visto que a democratização do ensino superior trouxe para as universidades públicas estudantes que antes não tinham acesso a este nível de ensino devido a sua situação social e econômica.

Na tabela abaixo demonstramos a comparação de matriculas no ensino superior de cada início de mandato dos presidentes Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Luiz Inácio Lula da Silva, nota-se o expressivo aumento de números de matriculas no início do segundo mandato do presidente do Partido dos Trabalhadores (PT).

Governo FHC FHC LULA LULA

Ano 1995 1999 2003 2007

Alunos 1.759.703 2.369.945 3.887.022 4.880.381

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Com o aumento da oferta de vagas e para que se efetive a democratização do ensino superior público se fez necessário a consolidação de programas voltados à permanência dos estudantes no sistema universitário. Dessa forma a Política de Assistência Estudantil tem se revelado uma estratégia para garantir tal permanência.

A legitimação da assistência estudantil no Brasil ocorreu a partir do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), com a portaria normativa n.º 39 de 12 de dezembro de 2007, do Ministério da Educação (MEC), instrumento transformado no Decreto Presidencial n.º 7234/2010.

O PNAES busca fornecer subsídios para permanência nos cursos de graduação de alunos com fragilidade econômica3, bem como estabelecer uma ligação entre as atividades de ensino, pesquisa, extensão e apoio ao estudante, visando o bom desempenho acadêmico do aluno atendido, evitando reprovação e evasão. Conforme o FONAPRACE (2001), a vinculação com pesquisa e extensão faz-se necessária para que os programas de assistência estudantil não incorram no mero assistencialismo, garantindo a qualificação profissional.

De acordo com FONAPRACE,

As propostas que mais uma vez encaminhamos dizem respeito a uma política que possa assegurar ao estudante sua permanência na universidade e com isso possibilitar melhor desempenho nas questões acadêmicas e por seguinte, qualificação melhor (FONAPRACE 2001, p. 161).

Essa preocupação, antes descrita, está nítida no primeiro parágrafo do artigo 3º e parágrafo único do artigo 4º do decreto nº 7234/2010.

Vale destacar que o PNAES prevê a liberação de recursos governamentais às instituições Federais de Ensino Superior (IFES), destinados à assistência estudantil. Conforme dados do MEC os recursos para o PNAES passaram de 125 milhões de reais em 2008 para aproximadamente R$600 milhões de reais em 20134.

Com aumento significativo no número de vagas nas IFES, grande parte das reivindicações dos movimentos estudantis diz respeito à ampliação ou melhorias nos programas de assistência estudantil5.

Consoante com as pressões necessárias do movimento estudantil, esforço do FONAPRACE para regulamentar a política de assistência estudantil e o que apresenta o PNAES, a meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE) 2011-2020, prevê a elevação da

3O Decreto n.º 72/34/2010 considera que famílias com fragilidade econômica são aquelas com renda per capta de

até um salário mínimo e meio.

4 Fonte: http://portalmec.gov.br. 5

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taxa bruta de matrícula no ensino superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população entre 18 e 24 anos, assegurando a qualidade da oferta (PNE/2012). Para atingir esse patamar o plano prevê algumas estratégias: ampliação da oferta de vagas; elevação da taxa de conclusão dos cursos de graduação presenciais para 90%; fomento da oferta de educação superior pública e gratuita; expansão do financiamento estudantil (FIES); ampliação da inclusão de indivíduos historicamente desfavorecidos da educação superior pública; expansão do financiamento estudantil com ampliação de programas especiais, de política de inclusão e assistência estudantil, nas instituições públicas de educação superior, de modo a ampliar as taxas de acesso de estudantes egressos de escola pública.

Com a democratização do ensino, a assistência estudantil assume um caráter fundamental, ao conceder estratégia de permanência na universidade àqueles que antes nunca imaginaram ter ao menos acesso ao vestibular.

No entanto não podemos perder de vista que um dos objetivos do PNAES é o combate à evasão escolar e a formação no período mínimo curricular. Dessa forma evidenciamos que o PNAES faz parte de uma estratégia governamental de intervenção nas relações sociais e de redistribuição de renda, sendo caracterizado como política social, uma vez que tem como principal papel a permanência e conclusão dos cursos pelos estudantes com fragilidade econômica.

Compreendendo as políticas sociais como instrumento de distribuição de renda e ao mesmo tempo, legitimação e manutenção da ordem capitalista, é que avaliamos o PNAES com duplo papel: ao mesmo tempo em que procura diminuir os altos gastos que a evasão do ensino superior causa aos cofres públicos, busca atender uma população que antes não tinha acesso e/ou permanência ao ensino superior por sua condição social e econômica.

CONSIDERAÇÕES.

A fase neoliberal da política econômica exerce sobre conquistas históricas o consenso entre as classes, neutralizando a classe trabalhadora, que para garantir sua sobrevivência deixa de lutar de forma coletiva, segmentando a luta por causas pontuais, por apenas garantias de permanência ao trabalho, conforme nos mostra Trindade,

A dinâmica da economia mundial nas últimas décadas tornou inquietante o futuro dos direitos Humanos. Longe de reduzir a desigualdade social, manteve-a e tende a aumentá-la, repondo a contradição entre uma 'igualdade' (meramente jurídica) reservada aos de baixo e a liberdade econômica (esta, real) das elites. A ciência, aplicada intensivamente à produção (informática,

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robotização, microeletrônica, química fina, novos materiais, etc.) aumentou a produtividade do trabalho. Mas, por falta de apropriação social desse processo, em vez de ampliar as horas de lazer para desfrute humano, ampliou o desemprego — agravado pela crise econômica. TRINDADE (s/a, p. 58)

Esse trecho de Trindade nos faz refletir sobre os direitos educacionais, à medida que, a partir de políticas sociais de cunho social-democrata houve uma expansão, no entanto trata-se de políticas compensatórias, pois há necessidade de estabelecer cotas, metas, programas para garantia da classe trabalhadora na universidade, outrossim, observamos que essas políticas podem sim ser uma estratégia de empoderamento da classe trabalhadora, desde que o acadêmico tenha acesso não somente ao conteúdo programático da formatação para o mercado de trabalho, tenha acesso a outras culturas, a discussão coletivas sobre o papel da universidade, acesso ao conhecimento e de criação de conhecimento, desde que o sujeito seja interpretado pela universidade e por ele mesmo como sujeito genérico agente de sua própria transformação.

Não podemos negar que a partir da década de 2000 a política educacional no ensino superior ganhou mais atenção, oportunizando acesso e permanência àqueles que nunca antes haviam cogitado o ingresso neste nível de ensino. Dessa forma concluímos que atrelada a uma política social, a assistência estudantil tem desempenhado duplo papel, garantindo ao mesmo tempo o acesso e a permanência dos estudantes, e estando vinculada à política econômica e também ao atendimento mais rápido ao mercado de trabalho, já que se pretende a conclusão do curso no menor tempo possível e atrela a disponibilização de recursos ao orçamento que é ditado pelas metas fiscais.

Não nos atrevemos, a partir desse sucinto texto, responder a questão que norteia esse breve estudo, no entanto diante da lógica neoliberal que o ensino superior está inserido, e por conseguinte a assistência estudantil, o mercado econômico tem se reportado com entusiasmo à educação, principalmente ao ensino superior. É fato que houve a expansão de número de vagas no ensino superior, por ventura do acesso, e para garantir que as camadas mais pobres da sociedade permaneçam, fez-se necessário estratégias para que os acadêmicos terminem o curso no prazo determinado pela instituição, e vinculem-se ao mercado de trabalho.

A pergunta que é a chave desse texto serve para refletirmos sobre o propósito da assistência estudantil. Embora esteja auxiliando alunos com fragilidade econômica no acesso e permanência no ensino superior, o Estado financiador e executor desse programa está atrelado a uma sociedade de classes, e seu principal objetivo é conciliá-las, para que a

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soberania de uma prevaleça sobre a outra, ou seja, a classe trabalhadora permanecerá a produtora da mais valia para hegemonia da classe burguesa. Dessa forma, a democratização do ensino superior se faz necessária nesse momento de acumulação capitalista, com o avanço da tecnologia digital, a ampliação do número de trabalhadores qualificados é urgente. Notavelmente, o papel das universidades tem se pautado na formação para o mercado, cabendo aos acadêmicos à formação especifica para uma área determinada, o conhecimento fica restrito, não permitindo a disseminação de saberes sobre as políticas econômicas, sociais e culturais, que podem fazer do homem um ser social genérico, com consciência de classe.

REFERÊNCIAS

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