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Acesso à atenção básica em saúde nas regiões nordeste e sudeste segundo raça/cor

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Academic year: 2021

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TÍTULO: ACESSO À ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE NAS REGIÕES NORDESTE E SUDESTE SEGUNDO RAÇA/COR

Autores: Daisy Maria Xavier de Abreu1, Érica Araújo Silva Lopes1, Angela Maria de Lourdes Dayrell de Lima1, Alaneir de Fátima Santos2 Hugo André Rocha1, Délcio Fonseca Sobrinho2, Isabela Cristina Cavalcante1, Sarah Coelho Nunes1, Felipe de Freitas Limp Almeida1, Gislene Pereira Souza1, Antônio Thomaz Gonzaga Matta Machado2

¹ Núcleo de Educação em Saúde Coletiva – Nescon/FM/UFMG ² Departamento de Medicina Preventiva e Social/UFMG

Apoio financeiro do Ministério da Saúde: Nº do projeto: 25000.183474/2011-70 Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG: Nº 28.804

Resumo

No âmbito da atenção básica, o Ministério da Saúde iniciou, a partir de 2011, uma política de monitoramento e avaliação dos serviços de saúde ofertados pela rede nacional de Atenção Básica - o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica - PMAQ-AB (Brasil, 2011). Uma das dimensões consideradas nesta avaliação refere-se a aspectos da percepção do usuário sobre o acesso e qualidade da atenção prestada, que pode apresentar diferenças entre as regiões e condições sócio-demográficas. O objetivo do estudo foi comparar a percepção dos usuários entrevistados no PMAQ-AB sobre acesso à atenção básica em saúde a partir do quesito raça/cor nas regiões Nordeste e Sudeste.

Foram entrevistados quatro usuários de cada equipe de atenção básica presentes na unidade básica de saúde (UBS) no momento da realização da avaliação das equipes de atenção básica. As questões selecionadas foram relativas à percepção dos usuários, segundo raça/cor sobre: horário de funcionamento da UBS, facilidade para chegar à UBS, formas de marcação de consulta, atendimento após marcação de consulta e respeito por parte dos profissionais de saúde aos hábitos culturais, costumes e religião dos usuários.

Não foram observadas grandes diferenças na percepção sobre acesso à atenção básica entre pessoas autodeclaradas brancas, pardas ou negras. O horário de funcionamento das UBS atendia as necessidades para aproximadamente 85% dos

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usuários independente da raça/cor, tanto no Sudeste quanto no Nordeste. Cerca de 80% dos usuários consideraram como muito fácil/fácil chegar à unidade em ambas regiões analisadas, sem variações em relação à condição de raça/cor. A variável raça/cor não interferiu diretamente na forma de marcação da consulta, nas duas regiões. Aproximadamente 95% do total dos usuários do Nordeste e Sudeste, independentes de raça/cor, se consideraram respeitados nos seus hábitos culturais, costumes e religião.

Os resultados indicam que a percepção dos usuários sobre acesso pode estar mais relacionada às diferenças de oferta da atenção básica entre as regiões do que às diferenças raciais entre os usuários. Entretanto, no Brasil, o quesito raça/cor pode ser considerado como proxy da desigualdade social e deve ser considerado nas análises sobre acesso e qualidade da atenção prestada.

INTRODUÇÃO

As mudanças ocorridas na utilização dos serviços de saúde no Brasil nas últimas décadas indicam avanços na organização do sistema público de saúde. Entretanto, ainda persistem desigualdades no acesso e na qualidade da atenção para a população mais pobre e em regiões mais carentes (Nunes, et al, 2014).

Para analisar a desigualdade em saúde é preciso considerar a sua expressão nas mais diversas dimensões: classes sociais, frações de classe, gênero, etnias/raças (Cunha, 2005). É importante incorporar a variável “raça/cor” em estudos específicos sobre acesso à atenção à saúde, visto que no Brasil persiste um forte condicionante de discrepâncias socioeconômicas, associadas à condição de raça/cor, resultando em desvantagem de populações negras e pardas. Este aspecto torna-se mais ressaltado ao analisar as diferenças regionais que espelham, muitas vezes, as desigualdades socioeconômicas existentes no país.

No âmbito da atenção básica, o Ministério da Saúde iniciou, a partir de 2011, uma política de monitoramento e avaliação dos serviços de saúde ofertados pela rede nacional de Atenção Básica - o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica - PMAQ-AB (Brasil, 2011). Uma das fases deste programa é a avaliação externa das equipes de atenção básica (EAB) com o objetivo de verificar in-loco as condições de acessibilidade e de qualidade da atenção oferecida pelas EAB que aderiram ao Programa, a partir da observação direta e de entrevistas realizadas com as próprias equipes e seus usuários.

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Uma das dimensões consideradas nesta avaliação refere-se a aspectos da percepção do usuário sobre o acesso e qualidade da atenção prestada. Assim, o objetivo do presente estudo foi comparar a percepção dos usuários entrevistados no PMAQ-AB sobre acesso à atenção básica em saúde a partir do quesito raça/cor nas regiões Nordeste e Sudeste, considerando as diferenças sócioeconômicas entre as duas regiões.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal com base em dados obtidos da avaliação externa das equipes aderidas ao PMAQ-AB – 2º ciclo, realizada entre 2013 e 2014. Neste 2º ciclo, foram entrevistados 114.615 usuários, em 5.077 municípios brasileiros. Foram analisadas informações do módulo III da avaliação externa do Programa, obtidas por meio de questionário estruturado aplicado por equipes de entrevistadores devidamente capacitadas para este fim pelas instituições de ensino e pesquisa responsáveis pela avaliação externa do PMAQ-AB. O objetivo dessas questões foi avaliar na visão do usuário, as condições de acessibilidade, utilização de serviços de saúde e percepção sobre o cuidado recebido. Esse módulo foi aplicado a quatro usuários de cada EAB avaliada, presentes na UBS no dia da avaliação. A amostra intencional foi obtida a partir da aceitação de convite verbal. Os usuários que aceitaram participar da entrevista assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE. Como critérios de inclusão para seleção dos entrevistados, foram considerados: utilização do serviço nos últimos 12 meses; e entrevista de, no mínimo, uma mãe ou responsável por crianças menores de dois anos e um (a) idoso(a).

As variáveis selecionadas para o presente estudo foram aquelas referentes à percepção dos usuários, segundo raça/cor, sobre o acesso à atenção básica, a saber: horário de funcionamento da UBS, facilidade para chegar à UBS, formas de marcação de consulta, atendimento após marcação de consulta e respeito dos profissionais de saúde aos hábitos culturais, costume e religião dos usuários.

RESULTADOS

Do total de 114.615 usuários entrevistados no Brasil, 45,3% se declararam pardos/mestiços, 35,9% brancos e 13,1% negros e 3,1% amarelos e 0,8% indígenas. A distribuição por raça/cor diferiu nas regiões analisadas: no Nordeste, do total de 40.292 usuários entrevistados, 56,9% se consideraram pardos/mestiços, 22,5% brancos e 13,9% negros e 3,7% como amarelos e 0,8% indígenas. Já no

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Sudeste, a distribuição foi: do total de 39.551, 40,3% pardos/mestiços, 39,9% brancos e 15,4% negros e 2,6% amarelos e 0,5% indígenas.

Não foram observadas grandes diferenças na percepção sobre acesso à atenção básica entre pessoas declaradas brancas, pardas ou negras e reduzida diferença entre as regiões Nordeste e Sudeste. Os usuários informaram que o horário de funcionamento da UBS atendia às suas necessidades, para aproximadamente 85% dos usuários independente da raça/cor, tanto no Sudeste quanto no Nordeste. A avaliação positiva dos usuários em relação à facilidade de chegar até a UBS não variou considerando a condição de raça/cor. Cerca de 80% dos usuários consideraram como muito fácil/fácil chegar à unidade tanto na região Nordeste quanto na Sudeste.

A variável raça/cor não interferiu diretamente na forma de marcação da consulta, em ambas as regiões. Mas houve diferenças entre as regiões segundo formas de marcação de consulta. No Sudeste, para os entrevistados, independente da raça/cor, a forma de marcação de consulta mais presente foi “vai a unidade e marca atendimento a qualquer hora”. Mas no Nordeste, há três situações mais frequentes: “vai a unidade e marca atendimento a qualquer hora”; “vai à unidade, mas tem que pegar ficha sem ficar na fila”; “vai à unidade e fica na fila para pegar ficha”, nesta ordem de importância. Nos casos em que o usuário consegue marcar a consulta, ela foi marcada por ordem de chegada para mais de 90% dos usuários da região Nordeste, sem grandes diferenças segundo raça/cor. Já no Sudeste, as situações mais frequentes foram por ordem de chegada ou com hora marcada, também sem diferenças entre os usuários segundo raça/cor.

Os usuários do Nordeste e Sudeste se consideraram respeitados nos quesitos hábitos culturais, costume e religião, sempre e na maioria das vezes em aproximadamente 95% do total. Este percentual é praticamente o mesmo para todas as categorias de raça/cor.

DISCUSSÃO

Os resultados indicam que a percepção dos usuários sobre acesso pode estar mais relacionada às diferenças de oferta da atenção básica entre as regiões do que às diferenças raciais entre os usuários. Entretanto, no Brasil, o quesito raça/cor é um indicador de desigualdade social e deve ser considerado nas análises sobre acesso e qualidade da atenção prestada. Nessa direção, raça/cor deve ser compreendida

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como variável social que representa um importante indicador da falta de equidade em saúde entre grupos sociais/raciais (Araújo, et al, 2009).

A questão imperativa da equidade no acesso da assistência à saúde deve trazer à discussão a necessidade de adequação da oferta às necessidades de saúde e ampliação do acesso de populações em situação de desigualdade por fatores genéticos, por condicionantes de exclusão social e por desigualdades étnicas e raciais (Silva, et al, 2017).

Estudos que incorporem a variável raça/cor na produção de diferenciais em saúde poderão subsidiar a elaboração de políticas destinadas a reduzir desigualdades em saúde.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Araújo, E.M. et al. A utilização da variável raça/cor em Saúde Pública: possibilidades e limites. Interface, vol.13, n.31, pp.383-394, 2009.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB): manual instrutivo. Brasília: Ministério da Saúde; 2011.

Cunha, E.M.G.P. Mortalidade infantil por raça/cor. In: Batista LE, Kalckmann S organizadores (eds). Seminário Saúde da População Negra Estado de São Paulo 2004, São Paulo: Instituto de Saúde, 2005.

Nunes, B.P., et al. Desigualdades socioeconômicas no acesso e qualidade da atenção nos serviços de saúde. Rev. Saúde Pública, vol.48, n.6, p.968-976, 2014. Silva, N.G. et al. O quesito raça/cor nos estudos de caracterização de usuários de Centro de Atenção Psicossocial. Saúde soc., vol.26, n.1, pp.100-114, 2017.

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