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Saúde e saneamento: o Brasil dispõe de indicadores de acompanhamento da agenda 2030?

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SAÚDE E SANEAMENTO: O BRASIL DISPÕE DE INDICADORES

DE ACOMPANHAMENTO DA AGENDA 2030?

Paulo Gonzaga Mibielli de Carvalho* (IBGE e UNESA) paulo.mibielli@ibge.gov.br Frederico Cavadas Barcellos** (IBGE) fredcavadas@ibge.gov.br Jonathan Alonso Marques*** (IBGE) jonathakister@gmail.com Resumo

Na Agenda 2030 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - ODS, identificam-se pelo menos dois objetivos que tratam mais diretamente dos temas bem-estar, saúde e saneamento: são os ODS 3 e 6. Assim, como nos dezessete ODS, as metas propostas para esses temas são por demais ambiciosas e, de certo modo, inatingíveis pois propõem, num curto prazo de quinze anos, a partir de 2016, reduzir/acabar globalmente com problemas históricos tais como mortalidade materna, epidemias como AIDS e tuberculose, e promover bem-estar assegurando acesso universal aos serviços de saúde, água potável e saneamento. Observa-se ainda que o arcabouço dos ODS tem inconsistências, lacunas em áreas importantes e, principalmente, é de difícil monitoramento por falta de estatísticas e metadados. A ONU propôs um total de 38 indicadores de acompanhamento para os ODS 3 (saúde e bem-estar) e 6 (gestão da água e saneamento). No caso do Brasil, o país já dispõe de 77,8% de dados para o ODS 3 e apenas 54,5% para o ODS 6 o que o leva a duas realidades distintas. O artigo analisa, a partir do banco de dados da ONU, os dados disponíveis sobre os ODS em especial aqueles diretamente relacionados com a elaboração de indicadores de acompanhamento que tratam dos temas saúde, bem-estar, gestão sustentável da água e saneamento sendo que este último afeta metade da população do país.

Palavras-chave: ODS; desenvolvimento sustentável, saúde, saneamento.

Abstract

In Agenda 2030 of the Sustainable Development Objectives – SDG, at least two objectives are identified that deal more directly with the themes of well-being, health and sanitation: they are SDG 3 and 6. Thus, as in the seventeen SDG , the goals proposed for these themes are too ambitious and, in a way, unattainable because they propose, in a short period of 15 years, starting in 2016, to reduce / eliminate globally historical problems such as maternal mortality, epidemics such as AIDS and tuberculosis, ensuring universal access to health services, safe water and sanitation. It is also noted that the SDG framework has inconsistencies, gaps in

Trabalho apresentado no XXI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em

Poços de Caldas, MG – Brasil, de 22 a 28 de setembro de 2018.

O IBGE está isento de qualquer responsabilidade pelas opiniões, informações, dados e conceitos emitidos neste artigo, que são de exclusiva responsabilidade dos autores.

Os autores agradecem a Sonia Maria M. Oliveira pela leitura e sugestões a este artigo. * Analista do IBGE – Economista, Doutor em Economia.

** Analista do IBGE – Geógrafo, Mestre em Sistemas de Gestão do Meio Ambiente. *** Estagiário do IBGE – Graduando em Economia.

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important areas and, mainly, is difficult to monitor due to lack of statistics and metadata. The UN proposed a total of 38 monitoring indicators for SDG 3 (health and well-being) and 6 (water and sanitation management). In the case of Brazil, the country already has 77.8% of data for SDG 3 and only 54.5% for SDG 6, which leads to two different realities. The article analyzes, from the UN database, the available data on SDG especially those directly related to the elaboration of follow-up indicators that deal with health, well-being, sustainable water and sanitation, affects the half of the country's population.

Keywords: SDG; sustainable development, health, sanitation.

1) Introdução1

No documento final do encontro RIO+20 “O Futuro que Queremos” ficou definido a criação de um Grupo de Trabalho Aberto (Open Working Group - OWG) para elaborar uma proposta de objetivos de desenvolvimento sustentável a ser avaliada na 68a sessão da Assembleia Geral da ONU, em 2015. Estes objetivos deveriam estar integrados à agenda de desenvolvimento da ONU pós-2015, dado que os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) tinham 2015 como o ano final de cumprimento das metas.

A primeira proposta de formulação dos ODS deu-se em 2013, a partir de um trabalho do “High Level Panel of Eminent Persons” - HLP, através de um grupo de 27 gestores, técnicos e políticos de diferentes países. A proposta, apresentada como ilustrativa, do HLP tinha 12 objetivos e 54 metas. No ano seguinte foram divulgadas duas importantes contribuições. A primeira, do Open Working Group - OWG, cujo papel foi o de formular a proposta oficial da ONU. O OWG apresentou uma proposta, em 2014, com 17 objetivos e 169 metas (OWG 2014). Ainda em julho deste mesmo ano foi divulgada a proposta preliminar do Sustainable Development Solutions Network (SDSN), rede que engloba um grande leque de entidades e iniciativas. A proposta do SDSN, que tem como base a apresentada pelo OWG 2014, é a primeira a apresentar indicadores para as metas. São apresentados 100 indicadores (os ODM tinham 60).

No início de 2015, a ONU circulou para discussão, uma relação de 304 indicadores, que serviriam de base para a proposta do OWG. Fica evidente,

1 Este texto tomou como ponto de partida o artigo Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: muita

ambição para poucos dados apresentado, pelos dois primeiros autores, no XII Encontro Nacional da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica. Uberlândia, MG, entre 19 e 22 de setembro de 2017. Cabe esclarecer ainda que as estatísticas que aqui produzimos foram obtidas a partir do banco de dados da ONU e não dos Thiers que mostram o que, em tese, a ONU teria de metadados e dados.

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portanto, que a medida que se avançou nas discussões, aumentou o número de objetivos, metas e indicadores. Neste mesmo ano é criado pela Comissão de Estatística da ONU (46a sessão) o Grupo de Interagência e de Especialistas sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável com a tarefa de desenvolver e implementar o arcabouço global dos indicadores. Ainda em 2015 a proposta do OWG sobre os ODS com metas, ainda sem indicadores, é aprovada com algumas pequenas mudanças na redação e no conteúdo2, na Assembleia Geral da ONU em setembro de 2015 (UN 2015A). Posteriormente, em março de 2016, uma proposta inicial de indicadores foi apresentada e aprovada, “como um ponto de partida”, na Comissão de Estatística da ONU (UN Statistical Commission 2016)3 sendo revista, em 2017 (UN Statistical Commission 2017)4. Diferentemente dos ODM, onde todas as partes foram pensadas e divulgadas conjuntamente, nos ODS os objetivos e metas foram formulados primeiro e os indicadores depois. Isto, como se verá, gerou problemas de coerência e consistência.

O processo de elaboração dos ODS, diferentemente dos ODM, foi resultado de anos de ampla consulta e de delicados entendimentos multilaterais e, portanto, foi mais democrático com amplo espaço para discussão e participação de diferentes atores. Os ODS estão sendo elaborados sobre as bases estabelecidas pelos ODM, de maneira a completá-los e responder a outros desafios. O problema é que a proposta final, para atender a todas as demandas, acabou muito extensa e dispersa, com 17 objetivos, 169 metas e 232 indicadores de acompanhamento.

As diretrizes dos ODS têm como foco principal os três pilares da sustentabilidade: eixo social, ambiental e econômico; contempla ainda o pilar institucional, que diz respeito às capacidades de colocar em prática esses objetivos. Além disso, são mais globais que os ODM e focalizam, enfaticamente, as questões ambientais. Se antes o compromisso era com a erradicação da pobreza extrema, agora “não deixar ninguém para trás” passou a ser o lema e o grande desafio.

Ao contrário dos ODM, a Agenda 2030 reconhece a “enorme disparidade

2 Algumas metas não tinham ainda valores numéricos definidos e estes eram substituídos por um “x”

– ex.: meta 4.4 “até 2030, aumentar em x% o número de ...”. Com a nova redação, no caso da meta citada, o x foi suprimido ficando “até 2030, aumentar substancialmente o número de ...”.

3 Este documento apresenta tanto a versão preliminar (Anexo 3) como a final (Anexo 4) dos

indicadores dos ODS (230 indicadores). Considerando-se que alguns indicadores se repetem, sendo utilizados em mais de uma meta ou duas vezes na mesma meta, o total com repetição é de 241.

4 Este documento apresenta a versão revista dos indicadores (Anexo 3). No total são 232 indicadores,

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global de oportunidades, de riqueza e de poder” como imensos desafios para se atingir o desenvolvimento sustentável. Por outro lado, identifica-se um rearranjo de objetivos com perda de importância do tema saúde e ganho do tema ambiental.

Os ODS trazem a preocupação e o lema em não deixar ninguém para trás, mas deixam de lado temas importantes como obesidade, acessibilidade aos portadores de necessidades especiais, a questão dos refugiados e de não tratar, explicitamente, a questão do racismo. Focam excessivamente nos problemas globais do mundo subdesenvolvido, mas se distanciam das discussões de temas importantes nos quais estão inseridos. A proposta da ONU é que haja um encadeamento de tal forma que, ao longo de trinta anos, ODM e ODS sejam perseguidos.

O objetivo deste artigo é discutir, sob o ponto de vista da elaboração de indicadores de acompanhamento, a proposta da ONU para o período 2015-2030 em especial os ODS que tratam dos temas saúde, bem-estar, gestão sustentável da água e saneamento para todos.

Assim, além desta introdução, a abordagem aqui implementada está estruturada da seguinte forma: a segunda sessão apresenta os dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; a terceira, avalia criticamente os ODS propostos com relação aos objetivos, metas e indicadores. Avalia ainda, a factibilidade das metas, a adequação das metas aos indicadores e elabora estatísticas que mostram os baixos percentuais de indicadores com dados e metadados. A sessão quatro é dedicada a análise específica dos indicadores de acompanhamento dos ODS 3 e 6. Finalmente a sessão cinco é dedicada às considerações finais.

2) Os 17 ODS

1 - Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares;

2 - Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável;

3 - Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades;

4 - Assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos;

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6 - Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos;

7 - Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia, para todos;

8 - Promover o crescimento econômico, sustentável e inclusivo, o emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para todos;

9 - Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação;

10 - Reduzir a desigualdade entre os países e dentro deles;

11 - Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis;

12 - Assegurar padrões de produção e consumo sustentáveis;

13 - Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos;

14 - Conservação e uso sustentável dos oceanos, mares e dos recursos marinhos, para o desenvolvimento sustentável;

15 - Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra, e estancar a perda da biodiversidade;

16 - Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis;

17 - Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.

3) Avaliação dos ODS

O que mudou da passagem dos ODM para os ODS é, basicamente, que agora há mais objetivos, metas e, portanto, indicadores o que torna mais difícil sua gestão e gera uma enorme demanda por estatísticas para o monitoramento que, com certeza, ficará longe de ser atendida pela maior parte dos países. Os ODS propostos são excessivamente ambiciosos. Parecem querer agradar a todos e, com isso, perdem o foco que os ODM tinham na temática pobreza, e também o realismo e o pragmatismo.

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3.1) Objetivos

Em relação aos ODM5 foram introduzidos novos temas: energia (Objetivo 7); crescimento econômico (Objetivo 8); industrialização e inovação (Objetivo 9); e paz, justiça e instituições (Objetivo 16). Houve também um rearranjo de objetivos em relação aos ODM. Os ODS 1, 2 e 10, grosso modo, correspondem ao ODM 1 (acabar com a fome). O ODS 4 (educação) corresponde ao ODM 2 enquanto o ODS 5 (igualdade de gênero) ao ODM 3. O ODS 3 (saúde e bem-estar) corresponde aos ODM 4, 5 e 6. Ao tema ambiental foram reservados os ODS 6, 11, 12, 13, 14 e 15 e correspondem ao ODM 7. O ODS 17 (parcerias globais) corresponde ao ODM 8. Houve, portanto, uma perda de espaço do tema saúde e principalmente um grande ganho da temática ambiental.

Como o processo de discussão dos ODS foi mais amplo do que o dos ODM, era inevitável que o número de objetivos fosse aumentado. Ainda mais porque na avaliação da ONU os ODM, com seus 8 objetivos, foram um sucesso. Isso foi um estímulo para aumentar o número de ODS, embora de 8 para 17 seja um aumento de mais de 100%. Como ironizou a revista The Economist, se Moisés precisou de apenas 10 mandamentos, por que os ODS precisariam ter 17 objetivos e 169 metas?6. Faltou o que Vandermoortele (2014) chamou de gatekeeper7 para “colocar ordem na casa” e tornar os ODS efetivamente concisos e objetivos.

3.2) Metas8

“SDGs contain 169 items, but less than 30 genuine targets” (Vandemoortele, 2015) O caminho tomado está muito distante da resolução da RIO+20 que afirma, no parágrafo 247, “Destacamos também que as metas de desenvolvimento sustentável devem ser orientadas para a ação, concisas e fáceis de entender, em número limitado, ambiciosas, de natureza global, e universalmente aplicáveis a todos os países” (ONU 2012). Não há dúvida, os ODS são ambiciosos; quanto as

5 São oito os ODM: 1 – Erradicar a extrema pobreza e a fome; 2 – Universalizar a educação primária; 3

– Promover a igualdade entre os sexos e empoderar as mulheres; 4 – Reduzir a mortalidade infantil; 5

– Melhorar a saúde materna; 6 – Combater o HIV/AIDS, malária e outras doenças; 7 – Garantir a

sustentabilidade ambiental; e 8 – Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

6 Vide The Economist 2015. Os comentários dos leitores ao artigo foram majoritariamente críticos à

posição da revista e de defesa dos ODS e suas metas.

7 Uma tradução livre, mas apropriada ao contexto, de gatekeeper seria “leão de chácara”.

8 Por questão de espaço, não é possível relacionar as 169 metas dos ODS. No entanto, as 13 metas

do ODS 3 (Bem-estar e saúde), assim como as oito metas do ODS 6 (Gestão sustentável da água e saneamento) estão disponíveis ao final deste artigo nos Anexos 1 e 2.

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demais características desejadas temos outros questionamentos. O número de objetivos (dezessete) não é conciso e nem em número limitado.

Para Vandemoortele (2015) uma meta bem formulada necessita de quatro elementos: prazo para ser cumprida; clareza de objetivos que devem ser alcançados, ser factível e ter bons indicadores de monitoramento. Com relação a prazo de cumprimento, menos da metade (49,1%) das 169 metas as possuem, variando entre 2017, 2020, 2025 e 2030 não havendo explicações para essas diferenças (Tabela 1). O mais preocupante, no entanto, é a distribuição muito desigual por objetivo. Em seis ODS (5, 10, 12, 13, 16 e 17) mais da metade das metas não tem prazo definido (Tabela 1). No caso do ODS 5 (igualdade de gênero) não há prazo em nenhuma das metas. Qual será o motivo? Problemas com os países árabes e com as Conferências das Partes - COP?

A maior parte das metas (69,9%) tem o ano de 2030 como referência. Seguem, em termos de incidência, os anos de 2020 (25,3%), 2025 (3,6%) e 2017 (1,2%). Dentre às metas de 2020, há duas irrealistas: uma que trata de redução pela metade de mortos e feridos em acidentes em estradas (ODS 3) e outra que diz respeito a proteger e restaurar ecossistemas relacionados a água (ODS 6).

Há 21 metas (25,3% do total) que devem ser alcançadas até 2020. A meta 3.6 “Até 2020 reduzir pela metade as mortes e os ferimentos globais por acidentes em estradas” nos parece especialmente irrealista (ONU sd p.4). É uma meta orientada para a ação; concisa e fácil de entender, ambiciosa, de natureza global e universalmente aplicável a todos os países; o problema é que é ambiciosa demais e, por isso, dificilmente será cumprida.

Com relação ao prazo para o cumprimento, todas metas dos ODS 1 (pobreza), 7 (energia), 10 (desigualdade) e 16 (paz e justiça) são para 2030. Neste sentido seriam as menos ambiciosas. Isto nos parece paradoxal; se os ODM foram tão bem-sucedidos por que as metas de pobreza (ODS 1) ambicionam tão pouco? Nos ODS 14 (oceanos) e 15 (ecossistemas terrestres) a maior parte das metas é para 2020 e, por este critério, seriam os ODS mais ambiciosos, mostrando o peso do tema. Como se verá mais adiante, este é um caso de muita ambição para poucos dados, pois a disponibilidade de dados e metadados9 é baixa nestes dois ODS.

9 “Os metadados fornecem informações sobre a metodologia e, em certa medida, os processos e

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Tabela 1: Metas com e sem prazo de cumprimento, segundo Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

ODS

Metas

Quantidade %

Total Com prazo Sem prazo Com prazo Sem prazo

1 7 5 2 71,4 28,6 2 8 5 3 62,5 37,5 3 13 7 6 53,8 46,2 4 10 9 1 90,0 10,0 5 9 0 9 0,0 100,0 6 8 7 1 87,5 12,5 7 5 5 0 100,0 0,0 8 12 6 6 50,0 50,0 9 8 4 4 50,0 50,0 10 10 3 7 30,0 70,0 11 10 7 3 70,0 30,0 12 11 5 6 45,5 54,5 13 5 1 4 20,0 80,0 14 10 6 4 60,0 40,0 15 12 7 5 58,3 41,7 16 12 2 10 16,7 83,3 17 19 4 15 21,1 78,9 Total 169 83 86 49,1 50,9

Fonte: Elaboração dos autores com base nas metas dos ODS do Grupo de Especialistas (2017).

3.2.1) Factibilidade das metas

Classificamos as metas segundo uma tipologia10. Entendemos como muito ambiciosas ou taxativas e, portanto, em princípio, difíceis de serem alcançadas, as metas cujo objetivo tivesse em sua redação os termos acabar/erradicar, universalizar/alcançar para todos, garantir, assegurar, construir (com data), manter, eliminar, proteger, restaurar, minimizar, efetivamente regular, proibir (sem maiores qualificações), implementar plenamente, concretizar, fazer cumprir. Foram

consideradas possíveis as que tivessem como objetivo reduzir,

aumentar/ampliar/expandir, sustentar, alcançar e sustentar, conservar, implementar (com valor), garantir, sempre com taxas ou valores definidos. Considerou-se como imprecisas as que tivessem o propósito de aumento significativo (sem especificar de quanto) de criar, adotar, implementar, corrigir, reforçar, apoiar, promover, fortalecer, prevenir, construir (sem prazo), reconhecer, valorizar, empreender, melhorar, atingir

10 A versão dos ODS aqui utilizada é a proposta do OWG de 2014. Optamos por mantê-la para não

perder comparabilidade com as tabelas similares feitas por Vandemoortele (2015) e ISSC-ICSU na mesma época e que serão mencionados adiante neste trabalho.

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níveis elevados (sem especificar qual), tomar medidas, desenvolver, operacionalizar, modernizar, facilitar, empoderar, racionalizar, integrar, proporcionar, combater, aumentar/reduzir (sem taxa), ajudar.

É importante assinalar que a tipologia criada tem duas importantes limitações. A primeira é que a classificação, numa categoria ou outra, tem um componente subjetivo pois há metas como, p. ex. a 6.3, que mencionam tanto melhorar (a qualidade da água) quanto reduzir pela metade (a proporção de águas residuais não tratadas). Se o peso for dado ao “melhorar”, que é algo muito vago, a meta seria classificada como imprecisa; se for no “reduzir pela metade” seria classificada como possível. Em situações deste tipo, se optou pelo mais rígido e a meta 6.3, no caso, ficou classificada como imprecisa. Em segundo lugar, para se analisar se uma meta é factível, só conhecendo a realidade específica a que a mesma se refere. Por exemplo, dobrar a produtividade agrícola e a renda dos pequenos produtores de alimentos até 2030 (meta 2.3) é algo factível? Só um especialista pode avaliar isto.

Classificamos como factível apenas pelo fato de ser uma meta bem definida, no caso, por meio de uma taxa. No entanto, uma análise mais rigorosa poderia classificar como não factíveis algumas das metas que consideramos factíveis11. Nossa análise, portanto, é apenas um primeiro olhar “macro” sobre o objeto e que deve ser complementado (e revisto, se for o caso). Uma avaliação mais criteriosa provavelmente faria uma avaliação ainda mais severa das metas dos ODS.

Segundo a tipologia adotada (Tabela 2), 61,5% das metas são imprecisas, 30,8% muito ambiciosas e apenas 7,7% podem ser consideradas possíveis (ou não muito ambiciosas). As metas imprecisas predominam nos ODS 1 (pobreza), 6 (saneamento), 7 (energia), 8 (crescimento econômico), 9 (indústria e inovação), 11 (cidades), 12 (consumo e produção sustentáveis), 13 (mudanças climáticas), 16 (justiça e instituições) e 17 (parceria global). Portanto, em mais da metade (58,8%) dos ODS. Nos ODS 4 (educação), 5 (gênero), 15 (vida terrestre) predominam as muito ambiciosas. Nas demais não há predomínio absoluto de uma categoria, mas chega-se próximo disso pois, 50% das metas dos ODS 2 (fome) e 14 (vida marinha) são muito ambiciosas e 50% das do ODS 10 (desigualdades) e 46,2% do ODS 3 (saúde e bem-estar) são imprecisas.

11 Mas as metas imprecisas continuariam sendo imprecisas e dificilmente uma muito ambiciosa

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Tabela 2: Classificação das metas dos ODS, segundo tipologia de factibilidade (em %)

ODS

Tipologia de factibilidade das Metas Muito ambiciosas /

taxativas

De ambiciosas

a possíveis Imprecisas Total

1 28,6 14,3 57,1 100,0 2 50,0 12,5 37,5 100,0 3 30,8 23,1 46,2 100,0 4 60,0 0,0 40,0 100,0 5 55,6 0,0 44,4 100,0 6 37,5 0,0 62,5 100,0 7 20,0 20,0 60,0 100,0 8 16,7 8,3 75,0 100,0 9 0,0 0,0 100,0 100,0 10 30,0 20,0 50,0 100,0 11 30,0 0,0 70,0 100,0 12 27,3 9,1 63,6 100,0 13 0,0 20,0 80,0 100,0 14 50,0 10,0 40,0 100,0 15 58,3 0,0 41,7 100,0 16 25,0 0,0 75,0 100,0 17 5,3 5,3 89,5 100,0 Total 30,8 7,7 61,5 100,0

Fonte: Elaboração dos autores com base nas metas GT Aberto para os ODS.

Temos conhecimento de mais duas avaliações das metas dos ODS. A primeira foi a do International Council for Science (ICSU) em parceria com a International Social Science Council (ISSC) no documento “Review of Targets for Sustainable Development Goals: The Science Perspective” que são organizações não governamentais da área científica com ligações com a ONU12. Nesta avaliação, em termos de metas, estão bem desenvolvidas apenas 29% delas (Tabela 3).

Tabela 3: Avaliação das metas dos ODS (ISSC- ICSU)

Classificação %

Bem desenvolvidas 29,0

Requerem trabalho significativo 17,0 Devem ser mais específicas 54,0

Total 100,0

Fonte: ICSU - ISSC (2015) p.6.

12 Sobre a ICSU vide http://www.icsu.org/about-icsu/about-us e ISSC vide http://www.worldsocialscience.org/about/ acessos em 27 de setembro de 2015. A publicação citada está disponível em http://www.icsu.org/publications/reports-and-reviews/review-of-targets-for-the-sustainable-development-goals-the-science-perspective-2015/SDG-Report.pdf

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Vandemoortele (2015), que trabalhou na elaboração dos ODM, também efetuou avaliação, em post no site post2015.org (Tabela 4). O autor chama atenção a três pontos: i) há metas que não são globais e sim para todos os países individualmente (p.ex. redução da mortalidade de crianças de menos de 5 anos), o que é muito mais difícil de se obter; ii) quase todas as metas dos ODS têm valores absolutos a serem alcançados (absolute benchmarks), quando o mais razoável seria uma combinação de metas absolutas e relativas (metas de redução, por exemplo). Esta opção tornará difícil o atingimento das metas pelos países mais pobres; iii) muitas metas seriam irrealistas, como a que propõe desnutrição zero em 2030.

Tabela 4: Avaliação das metas dos ODS

Classificação %

Sem problemas 17,2

Sem conceitos claros 9,5

Sem prazo ou meta numérica 73,3

Total 100,0

Fonte: Vandemoortele 2015.

3.2.2) Adequação das metas aos indicadores

Enquanto objetivos e metas podem, grosso modo, serem definidos basicamente por critérios políticos, o mesmo não é possível com os indicadores, onde aspectos técnicos/metodológicos tem que ser considerados. É a passagem do sonho (metas) para a realidade (indicadores). Conforme mencionado anteriormente, objetivos e metas foram definidos antes dos indicadores, o que induz a este “descolamento”. De que adianta ter metas ambiciosas e progressistas se o indicador não mensurar ou refletir adequadamente essa ambição?

3.3) Distribuição de indicadores em relação às metas

A Tabela 5 mostra que a distribuição dos indicadores e metas por ODS não difere muito. Há, em média, 1,4 indicador por meta com o número variando de 1 (ODS 14 - vida marinha) a 2,1 (ODS 3 – saúde e bem-estar). O ODS 6 (gestão da água e saneamento) tem uma posição intermediária (1,4 indicador por meta). Considerando-se que as metas, de modo geral são muito abrangentes, há poucos indicadores por meta. É fácil explicar o motivo do ODS saúde e bem-estar ter muitos indicadores e o ODS 14 (vida marinha) tão poucos. Há muito mais estatísticas disponíveis sobre saúde do que sobre vida marinha.

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Tabela 5: Número de Metas e de Indicadores de acompanhamento dos ODS e a relação entre si

ODS Metas Indicadores Indicador/

Metas

Abs. % Abs. %

1 Erradicação da pobreza 7 4,1 14 5,7 2,0

2 Fome zero e agricultura sustentável 8 4,7 13 5,3 1,6 3 Saúde e Bem-estar 13 7,7 27 11,1 2,1

4 Educação de qualidade 10 5,9 11 4,5 1,1

5 Igualdade de gênero 9 5,3 14 5,7 1,6

6 Água potável e saneamento 8 4,7 11 4,5 1,4

7 Energia limpa e acessível 5 3,0 6 2,5 1,2

8 Trabalho decente e crescimento econômico 12 7,1 17 7,0 1,4 9 Indústria, inovação e infraestrutura. 8 4,7 12 4,9 1,5

10 Redução das desigualdades 10 5,9 11 4,5 1,1

11 Cidades e comunidades sustentáveis 10 5,9 15 6,1 1,5 12 Consumo e produção sustentáveis 11 6,5 13 5,3 1,2 13 Ação contra a mudança global do clima 5 3,0 8 3,3 1,6

14 Vida marinha 10 5,9 10 4,1 1,0

15 Vida terrestre 12 7,1 14 5,7 1,2

16 Paz, justiça e instituições eficazes 12 7,1 23 9,4 1,9 17 Parcerias e meios de implementação 19 11,2 25 10,2 1,3

Total 169 100,0 244 100,0 1,4

Fonte: Elaboração dos autores com base em UN - Statistical Commission (2017). Nota: Considerou-se o número total de indicadores, incluindo repetições.

3.4) Metadados e Dados

Dos 244 indicadores13 de acompanhamento dos ODS, 56,6% têm metadados e dados14 (Tabela 6). No entanto, 42,6% dos indicadores não têm metadado e dado. O ideal é a conjugação das condições de ter simultaneamente dado e metadado, ou seja, o dado estar disponível com informações sobre a sua elaboração. Ainda nesta tabela observamos que há 74,1% de indicadores do ODS 3 com metadados e dados. No entanto, no caso do ODS 6 pouco mais da metade dos indicadores (54,5%) têm metadados e dados. Isso é preocupante.

13 Número de indicadores incluindo repetições. Indicadores sem repetição são 232 dos quais 56,0%

têm dados, 56,9% têm metadados e 56,0% metadados e dados.

14 Considerou-se que existe dado, se este aparece em alguma série, sem levar em conta a extensão

(13)

Tabela 6: Percentual de indicadores com e sem metadados e dados, segundo ODS ODS Indicadores* (em %) Têm metadado ou dado Têm metadado e dado Sem metadado e sem dado Total 1 Erradicação da pobreza 0,0 42,9 57,1 100

2 Fome zero e agricultura sustentável 7,7 69,2 23,1 100

3 Saúde e Bem-Estar 0,0 74,1 25,9 100

4 Educação de qualidade 0,0 90,9 9,1 100

5 Igualdade de gênero 0,0 57,1 42,9 100

6 Água potável e saneamento 0,0 54,5 45,5 100 7 Energia limpa e acessível 0,0 66,7 33,3 100 8 Trabalho decente e crescimento econômico 0,0 76,5 23,5 100 9 Indústria, inovação e infraestrutura 0,0 75,0 25,0 100 10 Redução das desigualdades 0,0 54,5 45,5 100 11 Cidades e comunidades sustentáveis 0,0 40,0 60,0 100 12 Consumo e produção sustentáveis 0,0 23,1 76,9 100 13 Ação contra a mudança global do clima 0,0 25,0 75,0 100

14 Vida marinha 0,0 20,0 80,0 100

15 Vida terrestre 0,0 64,3 35,7 100

16 Paz, justiça e instituições eficazes 0,0 47,8 52,2 100 17 Parcerias e meios de implementação 4,0 56,0 40,0 100

Total 0,8 56,6 42,6 100

Fonte: Elaboração dos autores com base em https://unstats.un.org/sdgs/metadata/ e https://unstats.un.org/sdgs/indicators/database/

Notas:*Alguns indicadores se repetem.

Metadados e dados atualizados até julho de 2017. Acesso em agosto de 2017.

Não basta saber se o dado existe. É importante saber quantos países têm essa informação. Para avaliar esta questão selecionamos uma amostra de dez países, os de maior população no planeta, em 201515 (Tabelas 7). No conjunto dos ODS, nenhum dos países selecionados dispõe de dados para mais da metade dos 244 indicadores. O levantamento que efetuamos mostra que o país mais bem situado é o México (48,4% dos indicadores propostos dispõem de dados) e não os EUA, como era de se esperar (39,3%), ou Rússia (36,9%), já que são países mais desenvolvidos no grupo. No Brasil, há dados para 46,3% dos indicadores de acompanhamento, o que o coloca na terceira posição (junto com Indonésia) entre os países mais populosos. Esses dados sugerem que, na prática, a concepção dos ODS está mais voltada para a realidade dos países em desenvolvimento e isso se reflete na escassez de dados para a elaboração dos indicadores nos países mais desenvolvidos. É bem ilustrativo o fato do EUA ter menos dados para a elaboração de indicadores sobre pobreza (ODS 1) e fome (ODS 2) do que China ou Brasil. Portanto, os indicadores seriam menos universais do que se esperaria.

(14)

Tabela 7: Percentual (%) de indicadores1 que têm dados, segundo ODS e países2

ODS

País China Índia EUA

Indoné-sia Brasil

Paquis-tão Nigéria

Bangla-desh Rússia México 1 28,6 28,6 14,3 42,9 28,6 42,9 28,6 28,6 21,4 42,9 2 61,5 61,5 38,5 53,8 69,2 53,8 69,2 61,5 30,8 53,8 3 74,1 74,1 66,7 77,8 77,8 74,1 77,8 74,1 66,7 74,1 4 9,1 36,4 36,4 45,5 54,5 27,3 45,5 54,5 36,4 63,6 5 21,4 28,6 21,4 28,6 28,6 28,6 42,9 28,6 14,3 28,6 6 54,5 54,5 36,4 45,5 54,5 54,5 54,5 54,5 36,4 54,5 7 66,7 66,7 66,7 66,7 66,7 66,7 66,7 66,7 66,7 66,7 8 41,2 70,6 64,7 70,6 76,5 76,5 58,8 58,8 64,7 76,5 9 66,7 75,0 66,7 75,0 75,0 75,0 75,0 58,3 66,7 75,0 10 27,3 27,3 36,4 27,3 27,3 27,3 27,3 27,3 36,4 36,4 11 26,7 26,7 20,0 33,3 26,7 33,3 26,7 26,7 13,3 33,3 12 23,1 23,1 23,1 23,1 23,1 23,1 23,1 23,1 23,1 23,1 13 12,5 12,5 12,5 25,0 12,5 25,0 12,5 12,5 12,5 25,0 14 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0 70,0 10,0 15 64,3 64,3 64,3 64,3 64,3 64,3 64,3 57,1 57,1 64,3 16 26,1 39,1 30,4 34,8 34,8 34,8 47,8 39,1 30,4 43,5 17 44,0 36,0 36,0 36,0 32,0 36,0 36,0 44,0 12,0 32,0 Total 40,6 45,1 39,3 46,3 46,3 45,9 47,1 44,7 36,9 48,4

Fonte: Elaboração dos autores com base em: https://unstats.un.org/sdgs/indicators/database Notas: (1) Alguns indicadores se repetem em mais de uma meta.

(2) Países selecionados por serem os de maior população.

4) Indicadores de acompanhamento dos ODS 3 e 6

A ONU propôs para o ODS 3 (bem-estar e saúde), treze metas e 27 indicadores de acompanhamento (vide Quadro 1 e Anexo 1). O ODS 3 pode ser dividido em dois grandes subtemas: o que propõe vida saudável para todos, em todas as idades e o que trata do bem-estar. Difícil imaginar sua realização pois certas metas são muito subjetivas e/ou vagas e/ou impossíveis de serem atingidas no prazo estipulado, dada a ambição de algumas delas. Se por um lado apresenta metas com métrica bem definida (3.1: Até 2030, reduzir a taxa de mortalidade materna global para menos de 70 mortes por 100.000 nascidos vivos), em outras ela é por demais vaga (p. ex. 3.a: Fortalecer a implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco em todos os países, conforme apropriado). Ademais, meta como a 3.3 (Até 2030, acabar com as epidemias de AIDS, tuberculose, malária e doenças tropicais negligenciadas) é pouco realista. Vale pelo engajamento dos países em adotar políticas com medidas mais efetivas para a sua redução.

O Quadro 1 consolida o estágio atual de alguns países, com relação a existência de dados que propiciem a elaboração de indicadores de acompanhamento sobre bem-estar e saúde, segundo regiões selecionadas do

(15)

globo16. Em relação a outros ODS esse apresenta uma boa perspectiva na produção de indicadores, muito provavelmente porque, o tema saúde, além de importante, tem uma longa tradição na produção de estatísticas.

Quadro 1: Regiões cujos países têm ou não dados de acompanhamento sobre saúde e bem-estar

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da ONU: https://unstats.un.org/sdgs/indicators/database/

16 América Latina: Costa Rica, República Dominicana, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Suriname,

Haiti, México, Argentina, Bolívia, Guiana, Venezuela e Uruguai. O Brasil não foi incluído para não causar dupla contagem. Asiáticos / Oceania: China, Coréia do Sul, Japão, Singapura, Paquistão, Israel, Nova Zelândia, Austrália e Índia. Mais desenvolvidos: Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, Portugal, Inglaterra, Rússia, Canadá e Suécia.

(16)

O Quadro 3 agrupa os países, segundo percentual de disponibilidade de dados para a elaboração de indicadores de acompanhamento das metas dos ODS 3 e 6. São definidas três categorias de países: os com mais dados, os que estão em posição intermediária e aqueles com menos dados. Dentre os países que compõem as regiões América Latina e Ásia/Oceania, e o grupamento de países mais desenvolvidos, o Brasil ocupa, neste caso, uma situação confortável para o acompanhamento da evolução das metas pretendidas, pois dispõe de 77,8% de dados necessários para a elaboração de indicadores de acompanhamento do ODS 3. Cabe ressaltar que nenhum dos países selecionados no contexto dessas regiões, e mesmo entre o grupo de países mais desenvolvidos, ficou em situação melhor que a do Brasil. Chama a atenção o fato de que países como Austrália, EUA, França, Alemanha, Canadá e Reino Unido ocupam a categoria de países com menos dados.

Com relação ao ODS 6 (gestão da água e saneamento), a ONU propôs oito metas e 11 indicadores de acompanhamento, tendo em vista assegurar a disponibilidade da água, sua gestão sustentável e o saneamento básico para toda a população (vide Quadro 2 e Anexo 2).

Atingir as metas do ODS 6 é importante não só sob o ponto de vista da saúde da população, mas também sob o ponto de vista ambiental, na medida em que busca evitar o desperdício, reduzir a poluição, estimular a reciclagem, as tecnologias de reuso, e assegurar a disponibilidade de saneamento para todos, em especial o acesso a higiene adequada acabando com a defecação a céu aberto. É um compromisso amplo baseado na gestão pública, o que requer investimentos em infraestrutura. As estatísticas necessárias ao atingimento dessas metas são diferentes entre si, ao tratarem de problemas de caráter socioambiental. Dados da ONU, atualizados no início de 2018, mostram que, os países com mais dados sobre o ODS 6 (Quadro 3), têm apenas 54,5% dos indicadores com as estatísticas necessárias para a sua elaboração. São apenas treze países, incluindo o Brasil. Além disso, observa-se que nenhum dos indicadores de acompanhamento têm dados, simultaneamente, em todos os países analisados (mesma cor no Quadro 2).

Não deixa de ser um dado preocupante tendo em vista que, a Organização Mundial de Saúde estima que 3,5 milhões de pessoas morrem anualmente como decorrência da falta de saneamento adequado, principalmente crianças menores de cinco anos de idade. O tema requer, além de políticas focadas para o atingimento de metas estabelecidas, de indicadores que possam aferir sua evolução.

(17)

Quadro 2: Regiões cujos países têm ou não dados de acompanhamento sobre gestão da água e saneamento

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da ONU: https://unstats.un.org/sdgs/indicators/database/

Entre países da América Latina, Ásia/Oceania e mesmo dentre aqueles mais desenvolvidos, apenas doze deles, incluindo o Brasil (Quadro 3), já dispõem de pouco mais da metade dos dados necessários para a elaboração dos indicadores de acompanhamento do ODS 6. Universalizar os acessos a água potável e saneamento, até 2030, nos parece também uma missão surreal.

Quadro 3: Países da América Latina, Ásia, Oceania e grupamento de países mais desenvolvidos com e sem dados de acompanhamento dos ODS 3 e 6

(18)

5) Considerações finais

Os ODS têm uma tarefa difícil; substituir os ODM, que foram uma iniciativa tida pela ONU, como bem-sucedida. A questão vai além da mera substituição, pois se amplia o escopo dos objetivos incorporando novos temas e ampliando a abrangência dos já existentes.

Não há dúvida de que se avançou muito neste sentido, mas como mostramos, há problemas de formulação na maioria das metas. Além disso, apenas 56,6% dos indicadores tem metadados e dados, e 73,3% não tem prazo ou métrica numérica estipulados para o seu cumprimento. Não foi nosso propósito analisar a situação de cada indicador, mas cabe assinalar que há casos estranhos. Por exemplo: no banco de dados da ONU, consta que todos os países que pesquisamos têm dados sobre o uso nocivo de álcool (ODS 3, indicador 3.5.2) que é medido pelo consumo per capita dessa substância. A questão é que o metadado deste indicador não fornece parâmetro que defina o que seja consumo excessivo/nocivo. Como é possível que todos tenham uma estatística que está mal definida?

Os ODS que tratam dos temas saúde, bem-estar, gestão sustentável da água e saneamento apresentam uma realidade diferente e peculiar. O ODS 3 (bem-estar e saúde) já dispõe, no Brasil, de um conjunto de dados que atinge 77,8% daqueles requeridos pela ONU, o que dá ao país uma posição de destaque já que está no grupo daqueles que dispõem de mais dados. Em contrapartida, o ODS 6, que trata da gestão da água e saneamento, ainda se encontra em estágio em que pouco mais da metade dos dados (54,5%) estão disponíveis, estando o Brasil, também neste caso, ocupando a dianteira do ranking. Esse é um dado preocupante para o acompanhamento da evolução do tema, tendo em vista que a falta de saneamento afeta metade da população brasileira, e o prazo é o ano de 2030.

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(19)

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2014/pdf/publicacoes/1/introducao-a-proposta-do-grupo-de-trabalho-aberto-para-os-objetivos-do-desenvolvimento-sustentavel.pdf Acesso em 8 de setembro de 2017.

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Acesso em 8 de setembro de 2017.

Vandemoortele (2014) Post-2015 agenda: mission impossible? Disponível em:

http://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/21665095.2014.943415 Acesso em 8 de setembro

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Vandemoortele (2015) A dispassionate look at the Sustainable Development Goals; disponível em: http://deliver2030.org/?p=6218 Acesso em 8 de setembro de 2017.

Outras fontes de dados:

Metadados dos ODS: https://unstats.un.org/sdgs/metadata/ Acesso em 30 de jan. de 2018. Base de dados dos ODS: https://unstats.un.org/sdgs/indicators/database/ Acesso em 20 de fevereiro de 2018.

(20)

Metas

ANEXO 1

ODS 3: Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idades 3.1 Até 2030, reduzir a taxa de mortalidade materna global para menos de 70 mortes por 100.000 nascidos

vivos;

3.2 Até 2030, acabar com as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de 5 anos, com todos os

países objetivando reduzir a mortalidade neonatal para pelo menos 12 por 1.000 nascidos vivos e a mortalidade de crianças menores de 5 anos para pelo menos 25 por 1.000 nascidos vivos;

3.3 Até 2030, acabar com as epidemias de AIDS, tuberculose, malária e doenças tropicais negligenciadas, e

combater a hepatite, doenças transmitidas pela água, e outras doenças transmissíveis;

3.4 Até 2030, reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis via prevenção e

tratamento, e promover a saúde mental e o bem-estar;

3.5 Reforçar a prevenção e o tratamento do abuso de substâncias, incluindo o abuso de drogas entorpecentes e

uso nocivo do álcool;

3.6 Até 2020, reduzir pela metade as mortes e os ferimentos globais por acidentes em estradas;

3.7 Até 2030, assegurar o acesso universal aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, incluindo o planejamento

familiar, informação e educação, bem como a integração da saúde reprodutiva em estratégias e programas nacionais;

3.8 Atingir a cobertura universal de saúde, incluindo a proteção do risco financeiro, o acesso a serviços de saúde

essenciais de qualidade e o acesso a medicamentos e vacinas essenciais seguros, eficazes, de qualidade e a preços acessíveis para todos;

3.9 Até 2030, reduzir substancialmente o número de mortes e doenças por produtos químicos perigosos,

contaminação e poluição do ar e água do solo;

3.a Fortalecer a implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco em todos os países, conforme

apropriado;

3.b Apoiar a pesquisa e o desenvolvimento de vacinas e medicamentos para as doenças transmissíveis e não

transmissíveis, que afetam principalmente os países em desenvolvimento, proporcionar o acesso a medicamentos e vacinas essenciais a preços acessíveis, de acordo com a Declaração de Doha, que afirma o direito dos países em desenvolvimento de utilizarem plenamente as disposições do acordo TRIPS sobre flexibilidades para proteger a saúde pública e, em particular, proporcionar o acesso a medicamentos para todos;

3.c Aumentar substancialmente o financiamento da saúde e o recrutamento, desenvolvimento e formação, e

retenção do pessoal de saúde nos países em desenvolvimento, especialmente nos países menos desenvolvidos e nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento;

3.d Reforçar a capacidade de todos os países, particularmente os países em desenvolvimento, para o alerta

precoce, redução de riscos e gerenciamento de riscos nacionais e globais de saúde.

ANEXO 2

ODS 6: Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos 6.1 Até 2030, alcançar o acesso universal e equitativo a água potável e segura para todos;

6.2 Até 2030, alcançar o acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para todos, e acabar com a

defecação a céu aberto, com especial atenção para as necessidades das mulheres e meninas e daqueles em situação de vulnerabilidade;

6.3 Até 2030, melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando despejo e minimizando a liberação

de produtos químicos e materiais perigosos, reduzindo à metade a proporção de águas residuais não tratadas e aumentando substancialmente a reciclagem e reutilização segura globalmente;

6.4 Até 2030, aumentar substancialmente a eficiência do uso da água em todos os setores e assegurar retiradas

sustentáveis e o abastecimento de água doce para enfrentar a escassez de água, e reduzir substancialmente o número de pessoas que sofrem com a escassez de água;

6.5 Até 2030, implementar a gestão integrada dos recursos hídricos em todos os níveis, inclusive via cooperação

transfronteiriça, conforme apropriado;

6.6 Até 2020, proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a água, incluindo montanhas, florestas, zonas

úmidas, rios, aquíferos e lagos;

6.a Até 2030, ampliar a cooperação internacional e o apoio à capacitação para os países em desenvolvimento

em atividades e programas relacionados à água e saneamento, incluindo a coleta de água, a dessalinização, a eficiência no uso da água, o tratamento de efluentes, a reciclagem e as tecnologias de reuso.

6.b Apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais, para melhorar a gestão da água e do

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