Universidade
de
Évora
Escola
de
Ciências Sociais
Departamento
de Gestão
A
Responsabilidade Social
como
Variável
Antecedente
dos
Climas
Autentizóticos,
da Satisfação
e
do
Empenhamento
Afectivo:
Um
Estudo Aplicado
a
alguns
Institutos
Politécnicos
Portugueses
Dissertação apresentada
para
aobtenção do grau
de
Mestre em
Gestão
-Especialização em Recursos Humanos
Ana
Marta
Aleixo
Figueiras
dos Santos
Orientadores:
Prof.u
Doutora Fátima Jorge
Mestre
Susana
Leal
ffi
Universidade
de
Évora
Escola de Ciências Sociais
Departamento de
Gestão
A
Responsabilidade social
como
variável
Antecedente
dos
climas
Autentizóticos,
da Satisfação
e
do
Empenhamento
Afectivo:
Um
Estudo
Aplicado
a
alguns
Institutos
Politécnicos Portugueses
Dissertação apresentada para aobtenção do grau
de
Mestre em
Gestão
-Especialização em Recursos Humanos
Ana
Marta
Aleixo
Figueiras
dos
Santos
tro
F
Orientadores:
Prof.u
Doutora Fátima
Jorge
Mestre
Susana
Leal
,l
866
t{
Evora,20l0
Agradecimentos
Em primeiro lugar quero agradecer à Prof.u Susana Leal, co-orientadora desta investigação,
que
foi
incansável desdeo
início
desteprojecto,
principalmentepela
sua
dedicação,disponibilidade e procura de referências científicas que estimularam toda esta investigação
e
ainda,
pela
perseverança,empeúo
e
amizadecom
que
transmitiu todos
os
seusconhecimentos,
e
fundamentalmente,
pela
motivação
nos
momentos
de
maiordesmotivação e dificuldades neste longo caminho.
Também
à
Prof.u Doutora Fátima Jorgepelo
interesse e dedicaçãocom
que recebeu esteprojecto e tornou possível esta concretizaçáo, que mais do que minha orientadora
foi
umaverdadeira
mentora,
pela
confiança
em
mim
depositadapara
a
materialização deste trabalho.Às
professorasEulália
Santose
Susana Mendespelos
ensinamentos,disponibilidade
econtributo no ensino da análise estatística.
Aos
representantesdos
varios institutos politécnicos
por
permitirem
que
os
seuscolaboradores participassem
no inquérito. Quero
ainda
agradecera
todos os
colegas,funcionários
dos vários
institutos politécnicos, que
prontamentese disponibilizaram
aresponder e desta forma, ajudaram na concretizaçáo deste projecto.
A
minha mãe e à minha irmã, pelo apoio e incentivo, que mesmo nas alturas mais dificeisestimularam a prossecução deste trabalho.
E
a
todos
os
que
participaram neste estudo,e
que
directae
indirectamente perderamminutos e até horas
do
seu tempo a ajudar, colegas de trabalho e amigos que prontamentemelhoraram e deram o seu contributo e a sua opinião neste trabalho.
A
todos
os
meus
amigos
quero ainda
agradecer
por
desculparem
a
minhaindisponibilidade.
Quero dedicar este trabalho às minhas duas avós, Gertrudes e Augusta.
A
todos vós,A
Responsabilidade Social comoVariável
Antecedente dosClimas Autentizóticos,
da Satisfação e do EmpenhamentoAfectivo:
Um
EstudoAplicado
a algunsInstitutos
Politécnicos PoÉugueses
Resumo
O
estudo da responsabilidade socialtem,
suscitado acrescido interesse, na perspectiva decompreender o
desempeúo
das organizações (Peterson, 2004), como variável que permitecompreender organizações mais autentizóticas (Kets de
Vries,
2001; Rego e Souto, 2004) eas atitudes dos colaboradores perante o trabalho (Gavin e
Maynard,1975;
peterson, 2004:Rego e/ a1.,2009).
O
presente trabalhotem por
objectivo investigar como
as práticasde
responsabilidadesocial
e
as
percepçõesdos
colaboradores sobreas
mesmas,podem
favoreceras
suaspercepções de clima autentizótico e influenciar as atitudes com o trabalho (a satisfação e o
empeúamento afectivo).
Através de um inquérito
por
questionário distribuído a uma amostrade
239 colaboradoresapurou-se que:
(i)
As
práticas de RSO influenciam positivamente percepções de RSO;(ii)
As
percepções de RSO explicam grande parte das percepções declima
autentizótico, doempenhamento
afectivo
e
da
satisfação;(iii)
As
percepçõesde clima
autentizótico medeiamo
efeito
das
percepçõesde RSO
sobre
o
empeúamento
afectivo,
sobre
a satisfaçãocom
o
trabalho
e
colegase
sobrea
satisfaçãocom
os
superiores;(iv)
Aspercepções de clima autentizótico não influenciam a satisfação com o salilrio e promoções
e não
medeiamo
efeito
das
percepçõesde RSO
sobrea
satisfaçãocom
o
saliírio
e promoções.Palavras-chave: Responsabilidade Social das Organizações, Organizações Autentizóticas,
Social
Responsibility
as anAntecedent Variable
ofAuthentizotic
Climates,
Satisfaction and Affective Commitment:
A
Study Applied
to PolytechnicsInstitutes
Abstract
The study
of
social responsibility has received increased interest,from
the perspectiveof
understanding organizations performance (Peterson,2004), has
a
variable
that
allowscomprehending more authentizotic organizations (Kets de Vries; Rego e Souto, 2004) and
also the
employee's attitudes towardswork
(Gavin
&
Maynard,
1975; Peterson, 2004;Rego eÍ a1.,2009).
The present
work
has the objectiveof
investigatehow
social responsibility practices andthe employee's perceptions about
it,
can favour their authentizotic climate perceptions andinfluence the
work
attitudes (satisfaction and affective commitment).Trough an
inquiry by
questionnaire distributedto
a sampleof
239 employeesit
was found that:(i)
CSR practicespositively
influence CSR perceptions;(ii)
CSR perceptions explaina
great
part
of
authentizotic climate
perceptions,
affective commitment and job
satisfaction;
(iii)
Authentizotic climate
perceptions mediateCSR
perceptions effects onaffective commitment and on
job
satisfaction, satisfactionwith
co-workers and satisfactionwith
superiors;
(iv)
Authentizotic
climate
perceptionsdo not
influence
wages
andpromotions satisfaction
and
do not
mediate
CSR
perceptionseffects
on
wages
andpromotions satisfaction.
Keywords:
Corporate Social Responsibility, Authentizotic
Organizations, Satisfaction,ÍNorcr
Agradecimentos
...iii
ResumoI
CapÍtuloI-Introdução
iv
11 16 .162
Capítulo
II
-
Enquadramento Teórico....
2.1
Responsabilidade Social das Organizações2.1.1
Responsabilidade Social das Organizações: PrincipaisConceitos
...162.1.2
A Responsabilidade Social em Portugal t92.1.3
A Responsabilidade Social na Administração Pública... 2l2.1
.4
As práticas e as percepções de Responsabilidade Social das Organizações. 222.1
.5
O empenhamento afectivo, a satisfação com o trabalho e as percepções de clima autentizótico como consequências das percepções de RSO2.2.2
Principais modelos e dimensões.2.2
ClimasOrganizacionaisAutentizóticos2.2.1
Origem do conceito2.2.2.1
Modelo de Kets de Vries.2.2.2.2
Modelo de Arménio Rego2.2.3
As consequências das percepções de clima autentizótico2.3
Satisfação com o trabalho2.3.1
Conceitos e abordagens2.3.2
Antecedentes da satisfação2.3.3
Consequências da satisfação2.4
Empenhamento Afectivo2.4.1
Conceitos. 24 26 26 27 28 29 30 3l 3l 32 34 36 362.4.2
O Empenhamento e a Administração Pública .372.4.3
Antecedentes do Empenhamento Afectivo .372.4.4
Consequências do EmpenhamentoAfectivo...
...393
Capítulo
III
-
Instituições
deEnsino Superior
em Poúugal... 403.1
Enquadramento e legislação relevante 404
Capítulo
IV
-
O
modeloteórico
e hipóteses do estudo.... 4450
5.1 5.2 5.3 5.3.1 5.3.2 5.3.3 5.4 5.4.1 5.5 5.6 50 50 52 52 53 54 55 57 60 6t Tipo de estudo...
Instrumento de recolha dos dados
Procedimentos adoptados..
Procedimentos desenvolvidos para a construção do inquérito
Aplicação do questionário...
População e amostra... Caracterização da amostra..
Análise e tratamento dos dados
Resultados da análise factorial e estudo da consistência interna das escalas utilizadas
6
Capítulo
VI
-
Resultados...
...67
6.1
As práticas de RSO identificadas 676.2
Médias, desvios-padrão e correlações 686.3
Como as práticas de RSO explicam as percepções de RSO? 726.4
Como as percepções de RSO explicam as percepções de clima autentizótico? 736.5
Como as percepções de RSO e percepções de clima autentizótico explicam o empenhamentoafectivo? 74
6.5.1
O efeito mediador das percepções de climaautentizótico
...756.6
Como as percepções de RSO e de clima autentizótico explicam a satisfação?6.6.1
Como as percepções de RSO e de clima autentizótico explicam a satisfação com os salários epromoções? 77
6.6.2
Como as percepções de RSO e de clima autentizótico explicam a satisfação com o trabalho ecolegas? 79
6.6.3
Como as percepções de RSO e de clima autentizótico explicam a satisfação com os superiores? ...816.7
Análise de resultados diferenciais 846.7.1
Diferenças devido ao género 846.7.5
Diferenças devido ao estado civil. 886.7.6
Diferenças devido à carreira profissional 896.7.7
Diferenças devido ao vínculo profissional 906.7.8
Diferenças entre institutospolitécnicos...
...91 ...77 6.7.2 6.7.3 6.7.4 7 7.1 1','Capítulo
VII
-
Conclusão, limitações do estudo e investigaçãofutura...
94Principais conclusões e contributos do estudo 94
Limitações do
estudo...
...1008
Anexo 1
-
Questionário ilAnexo 3
-
Modelo de oficio enviado via e-mail aos funcionários nâo docentes dos Institutos PolitécnicosAnexo 4
-
Constructos ...xiv...xvi
Anexo 5
-
Dados demográficos dos inquiridosAnexo 6
-
Testes de aderência à NormalidadeAnexo
I -
Outputs dos modelos de regressão linear múltipla.8.1
Resultados da regressão linear para as percepções de RSO8.2
Resultados da regressão linear para o clima autentizótico.,8.3
Resultados da regressão linear para o empenhamentoafectivo..
...xxix8.4
Resultados da regressão linear para a satisfação com salários epromoções
...xxxii8.5
Resultados da regressão linear para a satisfação com trabalho ecolegas...
...xxxv8.6
Resultados da regressão linear para a satisfação com superioresAnexo 9 - Testes referentes às análises diferenciais.. xlii
9.1.
Género... ... xliii ,..xix xxiii ,xxiv ...,...xxv11 ...xxxIx9.2.
1dade... xliv .xlv xlvi9.3.
Habilitações.9.4.
Antiguidade.9.5.
Estado Civil.9.6.
CarreiraProfissional.. xlvii xlviii . xlix9.7.
VínculoProfissional9.8.
lnstitutos PolitécnicosÍndice
deFiguras
e TabelasFigura 1: Modelo concePtual.. 44
Figura 3
-
Percepções deRSO...
""""""
IiiiFigura 4
-
Percepções de Clima Autentizótico livFigura 5
-
Satisfação com os salários epromoções
""""""""""""'
livFigura 6
-
Satisfação com o trabalho e colegas lvFigura 7
-
Satisfação com ossuperiores
"""""""""""'lv
Tabela I
-
População em estudoTabela 2
-
Distribuição da população inquiridaTabela 3
-
Caracteri zaçáo da amostra (género, estado civil, idade e escolaridade) Tabela 4-
Dados descritivos da amostra (idade e antiguidade)'...56
58 ...58 Tabela 5
-
Caracterizaçãoprofissional...'.
""""""59
Tabela 6-
Grau de satisfação com a função e com a instituiçãoTabela 7
-
Descrição do processo desenvolvido na análise factorial de componentes principais..--.--...""'62 Tabela 8 - KMO e Teste de Bartleu das variáveis em estudo 63 Tabela 9-
Total da variância explicada ,,.,...64Tabela l0
-
Matriz das componentes após rotaçãoTabela I I
-
Variância explicada pelos factores e olpha deCronbach
"""""""""'65
Tabela l2
-
Distribuição da percentagem das respostas às questões relativas às práticas de RSO... ..."67Tabela 13
-
Medias eDesvios-Padrão..'...'..
""""""69
Tabela l4
-
CorrelaçÕes entre as variáveis (coeficientes de correlação dePearson)"
""""""""71
Tabela l5 - Resultados da regressão linear múltipla para as percepções de responsabilidade social
(coefi cientes beta estandardizados)
Tabela l6 - Resultados da regressão linear múltipla para as percepções de clima autentizótico (valores de beta
estandardizados) 74
Tabela l7 - Resultados da regressão linear múltipla para o empenhamento afectivo (valores de beta
Tabela lg - Efeito de mediação para o empenhamento afectivo (coeÍicientes beta não estandardizados)...76
Tabela l9
-
Resultados da regressão linear múltipla para a satisfação com salário e promoções (valores deTabela 20 - Efeito de mediação para a satisfação com salário e promoções 79 Tabela 2l
-
Resultados da regressão linear múltipla para a satisfação com o trabalho e com os colegas (valores de betaestandardizados)..'.'...'...
"""""""'80
Tabela 22 -Efeitode mediação para a satisfação com o trabalho ecolegas
...81 Tabela 23 - Resultados da regressão linear múltipla para a satisfação com os superiores (valores de beta83
Tabela 25
-
Medidas descritivas e Anova para ogénero
"""""""""85
Tabela 26-
Medidas descritivas e Anova para aidade.
""""""""""86
Tabela 27-
Medidas descritivas e Anova para ashabilitações..
"""'87
Tabela 28
-
Medidas descritivas e Anova para aantiguidade...'."'
""""""""""88
Tabela 29-
Medidas descritivas e Teste de Kruskal-I{qllis para o estado civil 89 Tabela 30-
Medidas descritivas e Teste de Kruskal-Wallis para a carreira profissional 90 Tabela3l
- Medidas descritivas e ANovA para o vínculo proÍissional...
...-...91 Tabela 32-
Medidas descritivas e Anova para as percepções de clima autentizótico 92Tabela 33
-
Teste de Kruskql-Waltis...
""""""93
Tabela 34
-
Constructo ....xvTabela 35 - Distribuição da amostra por género
Tabela 36 - Distribuição da amostra por estado civil...'... xvll
Tabela 37 - Distribuição da amostra por habilitações literárias xvu Tabela 38 - Dishibuição da amostra por idades '..'.'... xvll Tabela 39 - Distribuição da amostra por
antiguidade...'...
""
xvii... xvll
Tabela 40
-
Distribuição da amostra por vínculo profissionalTabela 4l
-
Distribuição da amostra por carreira profissionalTabela 42 - Gostaria de continuar a desempenhar a sua função
actual?"""""
"' xYlllTabela 43 - Gostaria de continuar a trabalhar no mesmo tipo de instituição? xvlll
xvlll
... xviii
Tabela 44- Qual o Instituto Politécnico onde desempenha funções? Tabela 45
-
Testes de aderência à normalidade...'... Tabela 46 - Coeficientes de correlação de Pearson...Tabela 47 - Coefiçientes de correlação Ró de Spearman...".."""
Tabela 48 - Teste da normalidade entre os grupos Tabela 49 - Teste à homocedasticidade das variâncias
... xvlll .xx ... xxlt ... xxll xliii xliii xliv
Tabela 50 - Teste da normalidade entre os grupos
Tabela 5l - Teste à homocedasticidade das variâncias ... xliv Tabela 52 - Teste da normalidade entre os grupos xlv Tabela 53 - Teste à homocedasticidade das
variâncias..."....'...
"""""""""""'xlv
Tabela 54 - Teste da normalidade entre osgrupos...
""""""""""
xlvi Tabela 55 - Teste à homocedasticidade das variâncias..'.'...'...
""""""""""'
xlvi Tabela 56-
Teste da normalidade entre osgrupos
"""""""""""'
xlvii Tabela 57 - Teste à homocedasticidade dasvariâncias.'...'.'
""""""""""
xlvii Tabela 58 - Teste da normalidade entre osgrupos...
"""""""""
xlviii Tabela 59 - Teste à homocedasticidade das variâncias...'
"""""""""'
xlviii Tabela 60 - Teste da normalidade entre osgrupos
""
xlix Tabela6l
- Teste à homocedasticidade das variâncias.'...'...
""""""""""'
xlix Tabela 62 - Teste da normalidade entre os grupos...'...Tabela 63 - Teste à homocedasticidade das variâncias (lnstitutos Politécnicos).
I
Capítulo
I
-
Introdução
A
realidade actualdo
mundo
laboraltem
suscitado grandes preocupaçõespor
todos os investigadoresque
exploram
a
temática
do
comportamentoe
da
qualidade
de
vida
organizacional.Com
a
globalizaçãoe
crescentecompetitividade
no
trabalho
surgemproblemas organizacionais que afectam a
vida
dos colaboradores e consequentemente daorganizaçáo. O stresse
-
conotado como a doença do séculoXXI
-,
o excesso de trabalho'a falta
deequilíbrio
entrea
vida família
e
profissional, os problemasde
liderançae
decomunicação, as fracas oportunidades
de
aprendizageme
de desenvolvimento dentro daorganizaçáo são características da actual realidade laboral.
A
motivação pessoal para analisar o que faz de uma organizaçáo uma boa otganizaçáo paratrabalhar conduziu-me
à
investigaçãodas
percepçõesde
responsabilidadesocial
nasorganizações (RSO), das percepções dos climas psicológicos autentizóticos, da satisfação
no trabalho e do empenhamento afectivo'
A
responsabilidade social das organizações corresponde à integração voluntaria de práticase
objectivos que contemplem as dimensões sociaise
ambientaisna visão
estratégica daorganizaçáo.
tendo em
consideraçãoos
interesses das partes interessadas (sejam elas oscolaboradores, os accionistas, a comunidade envolvente ou outros)
(Moura'
2005; Rego e/al.,
2003; comissão
Europeia,
2001).
Isto
implica que, para além dos
objectivoseconómico-financeiros e das suas responsabilidades legais, as organizações passem a ter de
ir
mais além
e
a incluir,
também, obrigaçõesde
carácterético,
social e
ambiental, sedesejarem serem vistas como socialmente responsáveis'
De
acordocom
o
Livro
Verde,
a RSO
abarca duas dimensões:a
dimensão internae
aexterna (Comissão Europeia, 2001).
A
vertente internainclui
as questões relativas ao localde trabalho,
tais
como: gestão de recursos humanos, informação e comunicação' serviçossociais, gestão da mudanç
a
otgarizacional, empregabilidade e saúde, segurança e higieneno
trabalho,
abrangendo,ainda,
questõescomo
a
motivaçãoe
o
bem-estar'que
terãoinfluência na qualidade dos serviços, na produtividade e na inovação (Santos et
al',2006)'
No
que conceme à dimensão externa, estainclui
questões aplicadas aos agentes externosfornecedores, os clientes, as autoridades públicas
e
outros representantes da comunidadelocal e ambiente.
As
investigações realizadas pelos defensores da "humanizagáo das organizações"-
de quesão exemplo, as empresas vivas, as empresas amigas da
família,
a empresa humanizada eo
sentidopsicológico
da
comunidade detrabolho
-
sugeremo
estabelecimento de umarelação
de
confiança,entre
a
empresae
os
respectivos stakeholders,e
estimularam o aparecimento das organizações autentizóticas.As organizações autentizóticas, defendidas por Kets de Vries (2001), têm como objectivo a
promoção do
equilíbrio
entre o trabalho e a família, em quea
organização facultará váriosbeneficios que desenvolvem esta relação, através dos quais
o
trabalhador podegerir
a suavida particular e profissional de forma mais harmoniosa.
Estas organizações são, assim, consideradas, pelos seus trabalhadores, como bons locais
para trabalhar, onde predomina
um
sentimento de confiança, desencadeadopelo
prazer detrabalhar e consequentemente um elevado grau de satisfação dos trabalhadores' Tanto Kets
de Vries (2001) quanto Rego e Souto (2004a,2004b) defendem que este é o grande desafio
das
organizaçõesfuturas,
as
quais
devem
ser
espaçosrealmente
saudáveispara
osindivíduos
que nela
trabalham,
promovendo
a
sua
realizaçáo
pessoal,
teahzaçáopessoal/familiar e o seu desempenho organizacional.
Ao
relacionar as percepçõesde
RSOcom
as percepções de organizações autentizóticas,com a
satisfaçãono
trabalho ecom
o
empenhamento afectivo, pretende-se alertar para anecessidade
de olhar de uma forma
diferente para
o
indivíduo
enquanto trabalhador,nomeadamente no que
diz
respeito às suas atitudes perante o trabalho (e.g. satisfação como
trabalho
e
empenhamentoafectivo).
Já
existem
evidênciasque
corroboram
que
aspercepções
de
RSO dos
colaboradoresinfluenciam
as
suas atitudes, nomeadamente, asatisfação com o trabalho (Gavin e Maynard, 1975) e o empenhamento afectivo (Peterson,
2004; Rego eÍ aL.,2009), mas os estudos empíricos são escassos.
A
satisfação no trabalho tem sido objecto de viírios estudos, visto ser um estado emocionalresultado do trabalho e, muitas vezes, considerado como estando associado ao desempenho
individual.
Todavia, não se
conhecem estudosque
relacionem as percepçõesde
clima
autentizótico
com
a
satisfaçãocom
o
trabalho.
O
empenhamentoafectivo poderá
sertrabalhadores (Peterson, 2004), favorecendo
a
intenção dos trabalhadores pennaneceremna organização, entendido como uma relação positiva entre os indivíduos e aorganizaçáo.
Citando Rego (2004, p.13) "sendo as organizações fonte de sentido e de significado para o
trabalho
e
para
a
vida,
é
razoáwelsupor que as
pessoasdenotam
desejosde
nelaspermanecer
-
e não abandoná-las", sugerindo que as organizações autentizóticas explicamas intenções
de
abandonoe o
empenhamento organizacionalafectivo. Os
resultados doestudo mostram que
as
organizações autentizóticasexplicam
4lYo
do
empenhamentoafectivo.
Uns dos stakeholders mais citados como sendo os que mais contribuem para a performance
positiva
das organizações são os seus colaboradores. São inúmeros os autores que fazemalusão ao
bom
desempenho dos colaboradores quando os mesmos se sentem motivados pelas práticas sociais das organizações onde exercema
suaactividade (Kets
de
Vries,2001).
Face ao exposto, apresentam-se as principais questões de investigação desta dissertação:
l.
Como
as
práticas
e
percepçõesde
RSO explicam
as
percepçõesde
clima
autentizótico?
2.
Como as percepções declima
autentizótico explicam a satisfação com o trabalho eo empenhamento afectivo dos colaboradores?
3.
As
percepçõesde
clima
autentizótico medeiama
relação entre as percepções deRSO
e
as
atitudesdos
colaboradoresno
trabalho
(satisfaçãoe
empenhamentoafectivo)?
Destas questões
de
investigação decorreo
seguinteobjectivo geral
da
tese: investigarcomo
as práticas de responsabilidadesocial e
as percepções dos colaboradores sobre asmesmas,
podem
favoreceras
suas percepçõesde clima
autentizótico
e
influenciar
asatitudes com o trabalho (a satisfação e o empeúamento afectivo).
Do referido, decorreram os seguintes objectivos específicos
Avaliar
a
influência das práticas
de
responsabilidadesocial
existentes
nasorganizações nas percepções que os colaboradores têm das mesmas;
Avaliar
se as
percepções
dos
colaboradoresrelativamente
às
práticas
deresponsabilidade social influenciam as suas percepções de clima autentizótico;
a
Analisar
a
influência das
percepçõesde
clima
autentizótico
na
satisfação eempeúamento afectivo dos colaboradores;
Estudar
o
papel mediador das percepçõesde clima
autentizótico na relação entrepercepções
de RSO
e
as
atitudesdos
colaboradoresno
trabalho
(satisfação eempeúamento afectivo);
Estudar as diferenças ao nível das práticas de RSO, percepções de RSO, percepções
de
clima
autentizótico, satisfação
e
empenhamento
afectivo devido
àscaracterísticas
individuais
(e.g.
género,idade,
escolaridade)ou
organizacionais(e. g. organizaçáo de proveniência).
O
estudo
empírico
consideraráas
percepçõese
as
atitudes perante
o
trabalho
dosfuncionários não docentes de diversos institutos politécnicos portugueses. Como
tal,
aduz-se que
os
institutos politécnicos
que
desenvolvampráticas
socialmente responsáveis,favoreçam
uma
otganizaçáo
mais
"huÍnaÍtizada"
ou
seja,
preocupada
com
asnecessidades
individuais
dos
seus colaboradores-
desenvolvamum clima de
trabalhoautentizótico, possam
contribuir
parauma
maior
satisfaçãoe um maior
empenhamentoafectivo dos seus colaboradores.
Os resultados
do
estudo poderão ter uma aplicação importante nas instituições de ensinosuperior
politécnico
e constituir uma base de trabalho para os seus órgãos de gestão, poispermitirão:
(i)
aprofundaro
estudo da RSO no âmbito do ensino superior, área onde estesestudos são muito escassos;
(ii)
perceber como duas atitudes dos funcionários não docentes(a satisfação e
o
empenhamento afectivo) podem ser afectadaspor
aspectos da esfera daRSO e dos climas autentizóticos.
Os
trabalhosde
investigaçãoempírica
sobreas
percepçõesde RSO
e
sobreos
climas psicológicos autentizóticos são escassos (e.g. Rego et a1.,2009) o que revela a pertinênciadesta investigação sobre as práticas e percepções de RSO e
o
seu impacto nas percepçõesde
clima
autentizótico,na
satisfaçãocom
o
trabalho
e no
empenhamentoafectivo
dos colaboradores.Espera-se, deste
modo, contribuir
paraa
validação
de
quea
responsabilidadesocial
éantecedente
do
desenvolvimento
de
organizações autentizóticas,
da
satisfação
dotrabalhador e do empenhamento afectivo deste.
Um clima
organizacional que tenha comopreocupação
a
humanizaçãodos
seus recursos humanospoderá
ser
o
resultado
doo
a
investimento de práticas de responsabilidade social orientadas paÍa o trabalhador, que por
sua vez, resultará no seu maior envolvimento e identificação com a organizaçáo.
A
presente investigação está organizadaem cinco partes.A
primeira parte é composta pelarevisão
da
literatura
referenteà
responsabilidadesocial
das
organizações,aos
climasorganizacionais autentizóticos, à satisfação com o trabalho e ao empeúamento afectivo.
Na
segunda parte, apresenta-se sumariamenteo
panorama da Administração Pública emPortugal, em geral, e das instituições do ensino superior, em particular.
Na terceira parte, apresenta-se o modelo teórico em estudo e as hipóteses de investigação.
Na
quarta parte,a
metodologiado
estudoincluindo
o tipo
de
estudo,o
instrumento derecolha
de
dados,os
procedimentos adoptados,a
informação sobre
a
populaçãoe
aamostra, uma breve referência à análise e tratamento dos dados e, por
último,
os resultadosda análise factorial e estudo da fiabilidade das escalas utilizadas.
Na
quinta parte,
apresenta-see
analisa-seos
resultadosda
investigaçãoempírica.
Porúltimo,
apresenta-se a conclusão do estudo onde são, ainda, analisadas as implicações para as instituiçõesde
ensino superiore
apresentadas as limitaçõesda
pesquisa,bem
como, algumas sugestões para futuras investigações.2
Capítulo
II
-
Enquadramento Teórico
2.1
Responsabitidade Social
das
Organizações
podemos pensar na responsabilidade social como uma questão que chega a surgir antes dos
primeiros
industriaisfilantropos
coúecidos
(Carnegie, Rockefellerou
Ford
parareferir
apenas alguns nomes) iniciarem as suas acções e doações em prol da comunidade'Segundo a visão que Moura (2005) transmite, as ideias de Auguste Comte no século
XIX
ou mesmo a doutrina da Igreja Católica
já
chamavam a atenção para a chamada "funçãosocial" que os lucros provenientes de negócios poderiam ou deveriam ter.
No
séculoXX
ultrapassa-se a visão de dever unicamente moral em relação às pessoas, e aela se
acrescentaa
noção
de
que
as
organizaçõesdevem
responsabilizar-se pelasproblemáticas
que
têm
origem
no
mundo
empresarial. Começa-se, então,a
falar
dos,.ambientes": se por um lado nasce a consciência ecológica com as primeiras preocupações
ambientais, por outro lado eleva-se o papel das empresas nos contextos que aS rodeiam em
detrimento
da
primazia de responsabilidade por parte unicamente do Estado. Deste então,as questões em volta da responsabilidade social têm-se avolumado não só em importância,
como em termos de adesão e discussão.
2.1.1
Responsabilidade Social das Organizações: Principais ConceitosA
responsabilidadesocial,
emboranão
sejaum
tema
recentena
literatura, não
reúneunanimidade em torno do seu conceito. Com efeito, vários são os autores que lhe atribuem
def,rnições diversas, bem como graus de importância distintos.
Se, para uns, o termo signif,rca obrigação económica (garantir a sustentabilidade financeira
da
organização), para outros assenta no comportamento socialmente responsável em que seobserva
a
ética, ou em contribuições que a empresa deve fazer em função do impacto queproduz na sociedade. Estamos assim, perante um conceito aberto e em constante evolução.
Carroll
defendeque
a
responsabilidadesocial de
um
negócio"envolve as
expectativaseconómicas, legais, éticas e discricioniírias que a sociedade tem num determinado período
de
tempo"
(Carroll, lg7g,
p.500). Esta definição apresenta quatro componentes, onde seeconómica), que respeite
a
lei
(componentelegal), que
teúa
comportamentoséticos
erespeite as normas (componente ética) e que, de forma voluntaria, desempeúe papéis que
beneficiem
a
sociedade (componente discricionária/filantrópica).
Estes
quatrocomponentes não são mutuamente exclusivos. As responsabilidades são ordenadas da base
para
o
topo, em função da sua importância, e representam os vários níveis de obrigaçõesdas organizações para
com
todos os
seus stakeholders' Destaforma' as
empresas paraserem boas ..cidadãs" devem ser lucrativas, obedecer às leis,
ter
comportamentos éticos econtribuir para o bem-estar da sociedade através da filantropia
(Carroll'
1998' 1999)'Contudo, actualmente,
Carroll
entende quea
formatação verticaldo
seu anterior modelonão capta
a
inter-relação entreos
diferentesníveis
e
pode passaruma
noção errada de prioridade dodomínio
económico (que está na base da pirâmide) em relação aos demais(Carroll
e
Schwartz,2003).
Além
disso,
asseguraque
o
nível
discricionario pode
ser integrados nos restantes domínios.considerando que essa dimensão
já
está incluída nas orientações éticas,carroll
propõe umoutro modelo,
que emvezde
piramidal eincluir
quatro componentes, passa acircular (i'e'
diagrama de
Venn) e
inclui
apenas três componentes (económica,legal e ética)'
que secruzam
entre
si,
não
havendopredomínio
de
nenhum
sobreos
outros, mas
sim
umasobreposição
(Canoll
e Schwartz, 2003)'o
domínio económico engloba as actividades que têm um impacto económicopositivo
naorganizaçáo, seja ele directo ou indirecto. São consideradas como actividades com impacto
directo as acções que visem o aumento das vendas e como indirectas, as acções que visam
melhorar
o
moral dos
colaboradoresou
a
imagem pública
da
orgarrização(Carroll
e Schwartz,2003).O domínio
legal está relacionado com a receptividade da organizaçáo às expectativas dasociedade, ou através dos princípios legais presentes na
lei (carroll
e Schwartz, 2003)'O domínio ético refere-se às responsabilidades éticas das organizações
(Canoll
e Schwartz, 2003).Não só a publicação do
Livro
verde
como as viárias comunicações da comissão Europeia(2001, 2002,
20A6)permitiram
definir
a
concepçãode
responsabilidadesocial
dascomportamento voluntrírio
por
parte das organizações e, portanto, que transcende as suasobrigações legais;
(ii)
está associada à ideia de desenvolvimento sustentável (na medida emque
as
organizações consideramos
impactos económicos,sociais
e
ambientaisda
suagestão) e
(iii)
as suas práticas não são uma actividade adicionalda
org4nização mas simuma
filosofia
de gestão daprópria
organizaçáo reflectindo-se sobre o todo organizacional.O
Livro
Verde
defende
entusiasticamente
a
associação
entre
as
práticas
deresponsabilidade
social
e
a
competitividade
e
produtividadedas
organizações sendo oobjectivo "construir
uma
economia dinâmica, competitiva, coesiva
e
baseada noconhecimento" (Comissão Europeia,
200I, p.
5).
A
verdadeé
que,hoje
emdia e
nestecontexto, não
se perspectivauma
vantagemcompetitiva obtida
unicamente através doinvestimento
na
vertente económica
e
no
lucro
da
organização. Interessatambém
oinvestimento num modelo social
competitivo
ouo
aproveitamento das inovações e novastecnologias, resultando em lucro e benefícios para a orgarrizaçáo.
Na
prática,
a
responsabilidadesocial
correspondeà
integraçãovoluntaria de
práticas eobjectivos que
contemplemas
dimensões sociaise
ambientaisna
visão
estratégica daorganizaçáo, tendo
em
consideraçãoos
interesses das partes interessadas, sejam elas oscolaboradores,
os
accionistasou a
comunidade envolvente(Moura,
2005;
Regoet
al.,2003 ; Comissão Europeia, 200 I ).
As
práticasde
responsabilidadesocial incluem,
assim,uma
dimensão interna,ligada
àvalorizaçáo dos recursos humanos
da
organização,à
prevençãoe
saúdeno
ambiente detrabalho,
à
adaptaçãoà
mudança,e
ainda, uma dimensão externa envolvendo acções deapoio a causas sociais, a promoção dos direitos humanos ou a preocupação com o ambiente
global.
É
importante salientar queo
conceito de responsabilidade social não equivale, de modoalgum, às obrigações estipuladas pela legislação, nem na vertente de satisfação de regras
jurídicas, nem na de não
violar
o
quadronormativo.
Aliás,
pensarna
responsabilidadesocial
como
o
cumprimento de obrigações legaispor
parte das organizações é, além deredutor, completamente desajustado.
Assim
sendo,o
que este conceitoimplica
é que, paraalém
dos
objectivos
económico-financeiros
e
das
suas
responsabilidadeslegais,
associal e ambiental.
Tal
comoMoura
e Duarte (2004, citadopor Moura,
2005,p.
60) tão bem definem, uma organização socialmente responsável será capazde:"Contribuir para que os valores da comunidade onde se insere (tanto a nível local como a nível
nacional
e
internacional), em todos os domínios da vida humana (trabalho, ambiente, relaçõeshumanas, etc.), aproximem as sociedades e as pessoas num sentido e caminho comuns, pautados
por mais justiça e equidade social, promovendo o equilíbrio necessário à laboração e assegurando
uma legitimação social capaz de ultrapassar a relação conflitual típica da sociedade industrial."
Relacionar a responsabilidade social com
a
eticae
de extrema importância, em primeiro lugar, porque semética individual
não existe ética organizacionale,
em
segundo lugar,porque
sem ética
organizacional
não existe
responsabilidadesocial.
Em
suma,
umaorganizaçáo pode praticar certas actividades consideradas socialmente responsáveis, mas
se não
tiver
uma conduta ética naforma
comodirige o
seu negócio não pode reivindicaressa responsabilidade social.
2.1.2
A Responsabilidade Social em PortugalA
RSOtem
vindo
a
despertaro
interesse das organizações portuguesas, obtendo maiorenfoque
depois
da
publicação,
em
2001,
do Livro
Verde
da
Comissão
Europeia.Desenvolvendo, assim, nos últimos anos, um conjunto de iniciativas como a publicação de
relatórios de sustentabilidade, a formalização de codigos de ética e de conduta profissional
e a incorporação do tema nos planos estratégicos das organizações.
Nesse
âmbito,
Regoe/ al.
(2003)
realizaramum
estudo que pretendeu analisar diversosaspectos da responsabilidade social como os códigos de conduta, as relações com diversos
stakeholder.s, os mecanismos de avaliação ou o papel da União Europeia. Concluíram que
as
organizações portuguesas estão sensibilizadaspara as
questõesda
responsabilidadesocial e espelham a ideia de "haver lugar para a assunção de responsabilidades, seja porque
«é isso que deve ser feito», seja porque é estratégica e comercialmente vantajoso" (Rego eÍ
a|.,2003,
p.45).
Tambem
Moura
(2005)
apresenta
um
estudo realizado
em
Portugal acerca
decomportamentos de inovação em matérias de responsabilidade social, assim como de boas
seis grandes organizações), tendo o cuidado de assegurff a representatividade sectorial das
organizações por regiões do país.
Este estudo demonstra que nas orgarizações de menor dimensão a inovação em termos de
responsabilidade
social
é
ínfima,
sendoque as
inovaçõesque
efectivamente existemacabam
por
estar ligadasao facto
de
ser esseo
principal
negócioda
organização (emtermos sociais externos)
e
às pressõesa
que elas se encontram submetidas(em
termosambientais).
A
inovação ligada à dimensão social interna é detal
modo reduzida (4% daamostra) que praticamente se pode considerar nula,
o
queindicia
queo
amplo défice deinvestimento
portuguêsnos
recursos humanose
na
qualificação também provém
daspráticas
do tecido
empresarial. Estafalta
de
inovaçãoe
de desenvolvimento de atitudessocialmente responsáveis faz-se
sentir,
essencialmente, em pequenas organizaçóes comlocalizaçáo no
interior
do país.Acima
de tudo, estas temáticas parecem estar muito poucoincorporadas
na filosofia
da própria
gestãoda
organização,como seria
desejável num espírito de verdadeira responsabilidade social.No
entanto,no
que
diz
respeitoàs
grandes organizações,o
autor refere:
"as
grandesempresas perceberam as vantagens de uma atitude socialmente responsável, quer
no
querespeita a efeitos de imagem, quer no que se refere a resultados do negócio. O investimento
realizado nas três dimensões
é
considerável"(Moura,2005,
p.
68).
A
verdadeé
que asboas práticas das organizações
de maior
dimensão podem ser transmitidas às de menordimensão e, acima de tudo, podem mostrar que Portugal é um país com potencial no que
diz
respeito ao interesse e desenvolvimento das várias práticas de responsabilidade social(não só em
termos
ambientaise
sociais
externos,como também
na
dimensão socialinterna). Mesmo as pequenas empresas dão exemplos de boas práticas (ainda que numa
dimensão
e
proporçãomuito
mais reduzida)e
mostram interesse na temática, revelandoesse potencial latente.
Também
o
Instituto Politécnico de Setúbal desenvolveu uma investigação com ointuito
deprocurar
auscultar
a
sociedadeportuguesa,
sobre
os
domínios
da
qualidade
e
daresponsabilidade
social,
designado
de
"Barómetro
de
ResponsabilidadeSocial
dasOrganizações
e
Qualidade"
(Seabraet
a1.,2008). Numa primeira
fase, este estudo teveenfoque nos profissionais de gestão (economistas)
com o
intuito
deaferir
as percepçõesprocurando
contribuir
paraa
clariÍicação de conceitos, apartir
da investigaçãojunto
dediferentes públicos e entidades.
Os resultados deste estudo demonstraram que tanto a qualidade como
a
responsabilidadesocial
praticadase
assumidaspor
empresase
restantes organizaçõestêm
repercussõessignificativas ao nível da satisfação de um amplo leque de "partes interessadas".
Os dados da investigação sugerem que 49,46%0 dos inquiridos classifica
o desempeúo
dasua organização ao
nível
da responsabilidade social como forte, enquanto apenas 5,380á aclassificam como muito forte.
Entre as
conclusõesdo
estudo,
é
possível
evidenciar-sea
existência
de
um
elevadorecoúecimento
da assunção da responsabilidade social, bem como a sua incorporação aonível dos planos estratégicos da organizaçáo. Destacam-se as práticas de RSO dirigidas aos
seus
clientes
como
prioridade
ao
nível das
organizações,no
que
concerne
aodesenvolvimento
de
"práticas
comerciais cumpridoras dosdireitos dos
consumidores",associadas
à
pressão existente
por
parte
dos
clientes
na
procura
de
organizaçõessocialmente
responsáveis.Além
destas, destacam-seas práticas dirigidas aos
seuscolaboradores, através
do
desenvolvimentode 'Justiça na
relação contratual
com
ostrabalhadores" (Seabra et
al.,
2008).2.1.3
A Responsabilidade Social na Administração PúblicaIndependentemente dos
juízos
devalor
que se possam realizar quantoà
oportunidade eeficácia dos investimentos realizados
na
qualificação da população nosvários
governosconstitucionais, os recursos humanos são actualmente,
e
de forma raramente contestada,um
recurso estratégicocrítico
para as organizações.O
motivo
dessa mudança reside nanecessidade
de
ancorar
a
vantagemcompetitiva
no
coúecimento,
na
informação,
nainovação
e
na
criatividade. Estes
recursos
só
podem ser optimizados
através
dodesenvolvimento
de
novas ferramentasde
gestão. Transversala
toda
a
sociedade, estarevolução coloca sobre a Administração Pública
uma
agudização da pressão dos cidadãos,agora menos tidos por utentes e mais por clientes
§eves,
2002).O conceito de Responsabilidade Social, muito discutido nos últimos anos, tem sido alvo de
varias interpretações.
A
multiplicidade
de conceitose
consequentes definiçõestêm
sidoempresas, outras entidades
têm
vindo
a
interessar-se sobeos vários domínios da
RSO,entre as quais destaca-se os institutos públicos (Seabra et
a|.,2008).
Carapeto
e
Fonseca chegamà
conclusãoque
"o
capital
humanoé
o
principal
recursoestratégico
das
organizaçóes",o
que
transforma as
pessoasna "principal
riqueza
daadministração
pública"
(2005, p.267), sugerindo que a Administração Pública Portuguesadeve promover políticas de conciliação entre
o
trabalho e avida
privada, como forma dedesenvolver um ambiente saudável e assim promover o bem-estar dos seus colaboradores.
Nesse
sentido, podem ser
apresentadascomo iniciativas que
prosseguem estefim,
aspolíticas de
apoio à infância,
as licençasde
matemidade e de paternidade,a
gestão dostempos de trabalho
(flexibilidade
dos horários e diminuição do tempo de trabalho) e aindaas medidas
de
apoio ao cuidado
de
pessoas idosas dependentes (Carapetoe
Fonseca, 200s).Ao nível
da Administração
Pública,é
referido
por
Silva
(2010,p.4) a
importância dasInstituições de Ensino Superior
(IES) na
incorporação dos conceitos de responsabilidadesocial,
na
medida que 'oasIES são
orgarizações que cumprem uma missão específica eestratégica
na
sociedade; missão essaque
faz
partedo
seu legadohistórico
e
das suasmemórias enquanto
organizaçáo.Desde
sempre,pelo
menos desdeo
surgimento domodelo de aprendizagem baseado
no
conceito de Universidade, as instituições de ensinosuperior procuram ser um dos elementos estruturantes na criação do saber e na construção
da
civilização."
Referindo que só será possível a sustentabilidade no ensino superior, se asIES
conseguirem responder astrês
desafios organizacionaisda
responsabilidade social,designadamente:
(i) a
organizaçãointerna;
(ii)
os interfaces que se estabeleceme
(iii)
anatur eza das parcerias.
2.1.4
As práticas e as percepções de Responsabilidade Social das OrganizaçõesA
RSOtem
sido objecto de estudo, nomeadamente aonível
organizacional, sendo aindaescassos
os
estudosque
analisama
vertente
individual,
designadamenteao nível
daspercepções
dos
colaboradores das organizações (Peterson, 2004).O
"tema
merece umaatenção mais cuidada, pois as atitudes
e
os comportamentos dos colaboradores afectam odesempenho
individual
e organizacional e, por consequência, influenciam os interesses dosAs
percepções dos colaboradores quantoà
RSO são relevantes porque podem afectar aspercepções
que
estestêm
sobrea
identidade organízacionale
reputação externada
suaorgarizaçáo e influencia as suas atitudes perante o trabalho (Dutton et
al.,1994,
citado porLeal et a1.,2007).
Os resultados
do
estudode Leal et
al.
(2007)
sugerem queos
colaboradoresque
maisvalorizam
a
RSO
descrevemas
suas
organizaçõescomo mais
responsáveisno
queconcerne às dimensões legal/ética, filantrópica e económica.
Também a investigação de Rego e/
al.
(2009) mostra que as percepções da RSO explicam35%o da variância do empenhamento afectivo, sendo os melhores preditores, as percepções
da
responsabilidade
legal
e
da
responsabilidade
discricionária perante
os
seuscolaboradores.
Sugerem
que
os
colaboradores
são mais
sensíveis
às
práticas
deresponsabilidade social que os beneficie directamente.
Também
o
estudo de Duarte e Neves (2010) centra-se nas percepções e nas atitudes dosindivíduos face
à
RSO
das
organizações, procurando analisara
influência
da
posiçãohierárquica dos colaboradores face ao envolvimento das organizações
em
actividades deRSO. Sugerem que a posição hierarquica dos indivíduos não altera a sua atitude geral face
à RSO mas
influencia
a visão que têm da responsabilidade socialda
organização em quetrabalham.
Os
resultados
relativos
à
atitude
dos
colaboradoresface
à
RSO revelam
que
osparticipantes
são favoráveis
ao
envolvimento das
organizaçõesnas práticas
de
RSO,sugerindo
que
"os
trabalhadores concordam bastantecom
o
desempenhosocial
dasorganizações,
recoúecendo
que as mesmas devem alargar o âmbito das suas preocupaçõesintegrar
questõessociais
e
ambientaisnas
suas actividadese
estratégiasde
negócio"(Duarte e Neves, 2010,
p.
11). Em relação às dimensões de RSO, e no que se refere ao seuinvestimento,
recoúece-se
um
maior
investimento
em
práticas
de
cariz
económico,relativo à govemança e eficiência
da
orgarizaçáo, seguindo-se o investimento em práticasde RSO dirigidas
aos trabalhadores, atravésdo
investimentonuma
gestãode
recursoshumanos sustentável
e
promotora
de
bem-estar,e
por último,
em
práticasde apoio
àcomunidade e ao ambiente. As percepções dos colaboradores acerca da RSO têm
vindo
aindivíduo-organizaçáo.
ajudando
a
compreender comportamentose
atitudes
que
oS
indivíduosdesenvolvem no contexto de trabalho (Duarte e Neves, 2010).
2.1.5
o
empenhamento afectivo, a satisfação com o trabalho e as percepções de climaautentizótico como consequências das percepções de RSO
Apesar
do
crescente númerode
estudos sobre as varias dimensõesda
RSO,
são aindareduzidos os estudos sobre
o
impacto da RSO nos seus colaboradores, nomeadamente noque se refere às consequências das percepções de RSO
no
seu empenhamento afectivo'satisfação no trabalho e percepções de clima autentizótico.
O
empenhamento organizacional é determinado pelas percepções dos seus colaboradores(Peterson, 2OO4).
A
teoria
da
identidade
organizacional sugereque as
percepções dosmembros
da
organização são mais importantes na determinaçãodo
seu auto-conceito, doque de qualquer outra medida
objectiva
possíveldo
desempenhosocial
da organizaçáo,independentemente da precisão das percepções dos colaboradores (Peterson,2004).
Com o propósito de estudar o impacto da RSO sobre os seus colaboradores, Turker (2009)
desenvolveu
um
estudono
sentido
de
analisarcomo
a
RSO afecta
o
empenhamentoorganizacional
dos
colaboradores.As
conclusõesdo
estudorevelam que
a
RSO
é
umsignifi cativo preditor do empenhamento organizacional'
Também o trabalho desenvolvido
por
Leal et at. (2007), refere a importância da percepçãodos colaboradores quanto à RSO e como estas podem afectar as suas percepções acerca da
identidade
da
organizaçãoe
da sua reputação face ao exterior.A
situação será contráriaquando
o
colaborador percepciona quea
orgarização transmite uma imagem negativa, oque favorece a diminuição da sua satisfação, condicionando os laços afectivos para com a
organizaçáo. Neste caso,
o empeúamento
afectivodiminui,
dando origem ao aumento doempenhamento instrumental,
ou
seja,o
indivíduo
peÍmanecerâna
organizaçáo apenasporque não tem escolha, não encontra outro emprego e/ou sente que a sua saída resultará
em perdas ou sacrificios (Peterson,20o4;
o'Reilly
e chatman, 1986).Os resultados do estudo de Lee et
al.
(2009), que segue aliúa
de investigação de Peterson(2004),
sugeremque
a
reputaçãoda
organização sobre questõessociais influencia
asatitudes
dos
seus colaboradores.Sendo
o
empeúamento organizacional
associado adiminuição da rotatividade, tornando-se importante que
as
organizações transmitam umaimagem positiva da organização.
Em
síntese,as
evidênciaspermitem
afirmar que as
percepçõesde RSO
influenciam positivamenteo
empenhamento afectivo dos colaboradores (Peterson, 2004; Rego et al.,2009;
Turker,2009).
A
RSO
estáainda
associadaà
satisfaçãono
trabalho
(Duartee
Neves, 2010; Gavin
eMaynard, lg75). As
percepções de práticas de RSO dirigidas aos colaboradores têm umarelação
privilegiada com
a satisfação no trabalho.As
práticas internas podem melhorar asatisfação através
da
melhoria
das condiçõesde
trabalhoe
da
qualidade
de vida
doscolaboradores.
Os
melhores
locais
para
trabalharestão intimamente
relacionadoscom uma
elevadaqualidade de
vida,
onde as pessoas têm objectivos de vida significativos; os ambientes sãoabertos e onde se fomenta o diálogo, criam motivações positivas, encorajam a criatividade,
têm
padrõesde
comportamentos elevados(e.g. éticos)
e
fomentama
responsabilidade social.As
organizações autentizóticas procuram assim responder àtealizaçáo profissionaldo
indivíduo,
à
rcalizaçáo familiar/pessoal
e
desempeúo
organizacional,
onde
oscolaboradores adoptam uma postura caracterizada pelo empeúamento, pela lealdade e por
comportamentos de cidadania organizacional (Rego et o1.,2003; Rego, 2004).
Aduz-se que
as
organizaçõescuja
orientação paÍaa
RSO sejamais positiva
consigamdesenvolver percepções de
clima
autentizótico igualmente mais positivas.Tal
como Rego(2004) refere,
a
assunção de responsabilidades sociaisfacilita a
emergênciade
espaçosorganizacionais que vertem efeitos
positivos em
dois domínios:(a)
osindivíduos
podemdesenvolver
o
seu potencial e realizarem-sedo
ponto de vista pessoale familiar; (b)
asorganizações
podem
obter
os
beneficios oriundos
do
trabalho
de
pessoas
maisempenhadas/entusiasmadas
e
cujo
potencial
é
aproveitadoem
prol
da
melhoria
do2.2
Climas Organizacionais Autentizóticos
2.2.1
Origem do conceitoInspirado
nos
estudos realizadosno
âmbito
das "melhores
empresaspara
trabalhaÍ",identificadas
como
as
organizaçõesonde
elevados desempeúos
se
cfilrzamcom
arealizaçáo pessoal
dos
seus membros,Kets
de
Vries
(2001)
desenvolveo
conceito
de" or ganizações autenti zôticas" .
A
abordagemde Kets
de
Vries
(2001)
baseia-se nas mudançasque vivemos
hoje
nasorganizações e que
o
autor sintetiza da seguinte forma.A
quebra do contrato psicológicotorna o trabalho actual mais s/ress ante. O contrato psicológico que recompensa a lealdade
organizacional
com
emprego de longa duraçãotem
sido colocado em causa. Este era umpilar
de estabilidade tradicional.A
quebra do contrato psicológico enfraqueceu o processode identificação das pessoas às tarefas, fazendo
com
que as situações de trabalho sejammais s/ress antes.
A
quebrado
contrato psicológico não augura nada de bom para a saúdemental dos
trabalhadorese
contribui
para
o
sentimento crescentede
que
o
tempodespendido nas organizações perde significado. Assim, a questão que se coloca:
o
que osgestores
podem
fazer paratornar
as organizaçõesum melhor
lugar onde se trabalhar?A
resposta, de acordo com Kets de Vries (2001), é
criar
organizações autentizóticas.O
termo
autentizótico, neologismo resultante
da
conjugação
dos
termos
gregosauthenteekos (organização autêntica) e zoteekos
("vital
paraavida"
das pessoas), traduz-seno
estabelecimentode um
equilíbrio entre
a
vida
pessoale
profissional dos
seuscolaboradores.
As
organizações autentizóticas sãoo
novo
desafiodas
orgarizações deelevado
desempenhodo
século
XXI
-
uma
comunidadede
satisfação,através
dosignificado dado ao trabalho das pessoas favorecendo melhores prestações (Rego, 2004).
Nos últimos
anos
é
crescenteeste
conflito, devido
nomeadamenteà/ao:
aumento dacompetitividade
devido
à
globalizaçãodos
mercados, aumentoda
monoparentalidade,maior participação das mulheres no mundo do trabalho e participação em caÍgos de grande
responsabilidade, alterações nas condições de emprego, expectativas quanto ao papel da