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Encantos poéticos: a poesia potiguar pede licença...

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS PROFLETRAS CAMPUS DE CURRAIS NOVOS - RN. ENCANTOS POÉTICOS: A POESIA POTIGUAR PEDE LICENÇA.... Luciana Maria Carvalho Medeiros dos Santos. CURRAIS NOVOS - RN 2015.

(2) LUCIANA MARIA CARVALHO MEDEIROS DOS SANTOS. ENCANTOS POÉTICOS: A POESIA POTIGUAR PEDE LICENÇA.... Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, para obtenção do título de Mestre em Letras, junto ao Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Letras – PROFLETRAS - Campus de Currais Novos – RN. Orientadora: Profa. Dra. Valdenides Cabral de Araújo Dias.. CURRAIS NOVOS - RN 2015.

(3) Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial de Currais Novos. Santos, Luciana Maria Carvalho Medeiros dos. Encantos Poéticos: A Poesia Potiguar pede licença... / Luciana Maria Carvalho Medeiros dos Santos. - Currais Novos, RN, 2015. 90 f. : il. color. Orientadora: Dra. Valdenides Cabral de Araújo Dias. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Pós-Graduação em Mestrado Profissional em Letras. Centro de Ensino Superior do Seridó. Departamento de Ciências Sociais e Humanas. 1. Poesia Potiguar – Dissertação. 2. Poesia. – Sala de aula – Dissertação – 3. Estratégia de ensino – Dissertação. I. Dias, Valdenides Cabral de Araújo. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BSCN. CDU 37:82-1.

(4) ENCANTOS POÉTICOS: A POESIA POTIGUAR PEDE LICENÇA.... Esta dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Letras e aprovada em sua forma final pelo Programa Pós-Graduação Mestrado Profissional em Letras – PROFLETRAS, nível de mestrado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, em 14 de julho de 2015.. BANCA EXAMINADORA. _____________________________________________________________________ DRA. VALDENIDES CABRAL DE ARAÚJO DIAS Presidente ______________________________________________________________________ DR. DERIVALDO DOS SANTOS Membro Interno ______________________________________________________________________ DRA. FRANCISCA ZULEIDE DUARTE Membro Externo. CURRAIS NOVOS - RN 2015.

(5) DEDICATÓRIA Dedico cada palavra aqui impressa a duas poesias-bigodudas que amei, amo, amarei : José Medeiros dos Santos Meu pai. Com quem aprendi A apertar a mão do outro bem firme e olhando nos olhos. A respeitar os mais velhos. A sonhar. A amar a Literatura de Cordel. A cultivar essa mania “doida e doída de sonhar”. : José Bezerra Gomes Meu poeta. Com quem aprendi A olhar para minha terra com outros olhos. A pisar neste chão seridoense com pés descalços e reverenciar suas pedras e frestas. Que almas se ligam para além do tempo e da carne..

(6) AGRADECIMENTOS Ao meu amor, Edson Neto, por toda a dedicação e compreensão aos meus momentos de silêncio, ausência e solidão, necessários à escrita deste trabalho. À minha mãe, pelo apoio, carinho e atenção tantas vezes a mim dedicados. Às minhas irmãs, por tanto acreditarem em mim e me impulsionarem para voos cada vez mais altos. Aos meus filhos lindos, Icaro, Cauã e Henrique, simplesmente por existirem e me dizerem a cada instante da magia da vida, da importância de acreditar no amanhã, da delícia de sonhar e acreditar no sonho. À minha orientadora, professora Valdenides, por saber abraçar essa missão sempre tão cheia de carinhos e cuidados. À Carlos Alberto Galvão (Júnior Caçarola) e Eric Amorim, pelo cuidado e profissionalismo com os quais trataram a construção do site www.poesiapotiguar.com.br. À Edilson (Edw Tyler) pelo belo trabalho artístico das caricaturas dos poetas que ilustram o site. Aos professores e colegas do PROFLETRAS, por todas as experiências compartilhadas, os votos de confiança, as palavras de força. Ao Casarão de Poesia por fazer parte de minha vida como uma segunda casa, uma segunda família. À Escola Estadual Tristão de Barros, pelo incentivo, apoio e confiança, sempre. Aos meus alunos, os de hoje, de ontem e de sempre, por me permitirem com eles aprender a cada dia..

(7) POESIA O seu sabor do almoço vó tem sabor de flores tem sabor de lembranças tem sabor de amor. Eu gosto muito do seu sabor do almoço. Cauã Carvalho (06 anos) (Meu farelinho de gente, Meu menino marrom, Meu vendaval).

(8) RESUMO É certo que muitas discussões acerca da abordagem da Poesia em sala de aula têm sido promovidas e publicadas, entretanto qual a razão para a Poesia ainda não ter encontrado de fato o seu caminho na escola? Um dos possíveis caminhos para desvendar esse mistério que inquieta principalmente aqueles que sabem da importância do contato com leituras dessa natureza, em especial na escola, é o de que é preciso ser leitor de Poesia, ainda que minimamente, para formar leitores de Poesia. Assim, torna-se necessário ampliar e ressignificar essas discussões de modo a promover efetivas transformações quanto a abordagem do texto poético no espaço escolar. Uma outra lacuna também identificada nas práticas de sala de aula é a mínima escolha pela Poesia produzida por autores locais como objeto de estudo. Por essa razão, a presente pesquisa de natureza qualitativa, propõe-se a apresentar uma proposta voltada à abordagem da Poesia Potiguar na sala de aula, considerando, sobretudo, a escassez de material dessa natureza. Dessa forma, o objetivo maior da pesquisa aqui apresentada é ressignificar os conceitos e a abordagem dessa Poesia Potiguar no contexto da sala de aula, a partir de sua importância como artefato artístico, histórico e cultural, para além dos limites geográficos, por meio da construção de um site inteiramente dedicado à divulgação, discussão e projeção dessa Poesia, dedicado acima de tudo à sugestão de propostas didáticas centradas na Poesia Potiguar. Para esta pesquisa, assumem-se como norte os pressupostos teóricos a respeito de literatura e Poesia de CANDIDO (2013), PINHEIRO (2002), COMPAGNON (2009) e PAZ (1982), as orientações acerca do letramento literário de COSSON (2014), assim como os escritos de GURGEL (2001), MACEDO e DUARTE (2001) (2013) e ONOFRE JR (2000) a respeito de literatura Potiguar. Assim, a referida pesquisa assume o caráter de enfrentamento diante da necessidade de impregnar nos professores a certeza de que é preciso dar voz e vez à Poesia na sala de aula, assim como de conhecer a Poesia produzida por artistas locais, com vistas a valorizar e disseminar suas obras para, enfim, possibilitar atividades significativas de construção, desconstrução e reconstrução de paradigmas no campo da literatura, da Poesia. Palavras-chave: Poesia Potiguar. Sala de Aula. Ensino Fundamental. Propostas Didáticas. Site..

(9) ABSTRACT It is true that many discussions about the Poetry approach in the classroom have been promoted and published, however the reason for Poetry has not yet found its way indeed in school? One of the possible ways to solve this mystery that mainly worried those who know the importance of contact with readings of this nature, especially in school, is that you have to be Poetry player, even minimally, to form readers of poetry. Thus, it is necessary to broaden and reframe these discussions in order to promote effective changes as the approach of the poetic text at school. Another gap also identified in classroom practices is the minimum choice for Poetry produced by local authors as subject matter. Therefore, the present study of a qualitative nature, it is proposed to present a proposal aimed to approach the Potiguar Poetry in the classroom, considering above all the material shortages that nature. Thus, the ultimate goal of the research presented here is reframing the concepts and the approach that Potiguar Poetry in the context of the classroom, from its importance as an artistic artifact, historical and cultural, beyond the geographical limits, by building a website entirely dedicated to dissemination, discussion and projection of this Poetry, dedicated above all the suggestion educational proposals centered on Potiguar Poetry. For this research, are assumed to north the theoretical assumptions about literature and CANDIDO Poetry (2013), Pinheiro (2002), COMPAGNON (2009) and PEACE (1982), the guidelines on the literary literacy COSSON (2014) as well as the writings of GURGEL (2001), and MACEDO and DUARTE (2001) (2013) and ONOFRE JR (2000) about Potiguar literature. As such, the research takes the coping character on the need to impregnate the teachers to make sure that it takes time to give voice and Poetry in the classroom, as well as to know the poetry produced by local artists, in order to enhance and disseminate their works to finally allow meaningful activities of construction, deconstruction and reconstruction of paradigms in the field of literature, Poetry.. Keywords: Potiguar Poetry. Classroom. Elementary School. Teaching proposals. Site..

(10) SUMÁRIO Introdução .................................................................................... 12. I. Mas, Literatura para quê? ............................................................. 18. 1.1. A literatura empoeirada dos bancos escolares ............................ 20. 1.2.. A poeira secular das bibliotecas escolares .................................. 27. II. A Poesia quando chega não respeita nada... ............................... 34. 2.1. (Na sala de aula) Poesia... Presente?! .......................................... 37. III. Investigações poéticas ................................................................... 44. 3.1. Universo das curiosidades poéticas ............................................. 44. 3.2. Conjecturas... Confabulações... .................................................... 46. IV. Eis que nasce a Literatura Potiguar... ............................................ 54. 4.1.. Mas, e santo de casa faz milagre? ................................................ 56. 4.2.. A Poesia Potiguar pede licença... .................................................. 59. V. Educação e as Novas Tecnologias: aparando as frestas e apontando caminhos ....................................................... 62. VI. Um sítio verdadeiramente poético... ............................................. 67. 6.1.. As partes desse todo ................................................................... 68. 6.1.1.. O Projeto ..................................................................................... 68. 6.1.2.. Sala de Aula ................................................................................ 70. 6.1.3.. Biblioteca ..................................................................................... 73. 6.1.4.. Cordel .......................................................................................... 75. 6.1.5. EnCantos ..................................................................................... 77. 6.1.6.. Cinemapoético ............................................................................. 79. 6.1.7.. Balaio ........................................................................................... 80. Considerações finais .................................................................... 85. Referências ................................................................................... 88. Anexos.

(11) MULTIPLICAÇÃO Deem-me minhas mãos, que eu quero semear a terra. Com elas, alumiarei o cego, afagarei a face do leproso e enxugarei o suor do moribundo... Violarei o cofre do usuário e saciarei a fome do necessitado... Eu quero minhas mãos, para aliviar o laço do enforcado, para guiar os passos do ébrio, para estancar o sangue do esfaqueado... Eu preciso das minhas mãos, para libertar o detento, para socorrer o fugitivo, para salvar o afogado... .................................................................... Deem-me minhas mãos, que eu quero colher flores, para o leito da noiva, para o berço do recém-nascido... Eu quero minhas mãos, eu preciso das minhas mãos para com elas milagres propagar. José Bezerra Gomes (Currais Novos – RN).

(12) 1. INTRODUÇÃO. Falar de Poesia é submeter-se ao risco de falar, falar, e perder-se nos desvãos das palavras, tão arrebatadoras são todas elas. É adentrar em um universo permeado de subjetividades múltiplas e inquietantes. É ausentar-se do mundo real e, tal qual uma criança, entrelaçar-se nos sons, nas imagens e nos sentidos da palavra poética, estabelecendo um jogo com ela de entrega absoluta e verdadeira. Falar de Poesia é assim, tarefa de amantes incondicionais, curiosos pelos sentidos diversos que cada palavra assume na linguagem poética, independente de estilo literário, nacionalidade, tempo, entre outros aspectos, pois, como afirma Paz: A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Súplica ao vazio, diálogo com a ausência, é alimentada pelo tédio, pela angústia e pelo desespero. Oração, litania, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes. [...] (1982, p. 15).. A Poesia transcende aos limites da arte, da beleza, visto que é também uma manifestação cultural, ética, política, posto que seja humana. O homem é um animal simbólico, carece de símbolos para se expressar e a poesia (como a arte) é uma forma não só natural, mas cultural de expressar aquilo que a linguagem convencional e prosaica não consegue. [...] A poesia “tem”, é verdade, algumas funções, mas, mais do que isto, mais do que “ter”, ela “é”, em si mesma, uma função do espírito humano. E essa mudança do verbo “ter” para o verbo “ser” é essencial. (SANT’ANNA, 2009, p.13). E se assim é a Poesia, os poetas, seus feitores/ benfeitores, são uma espécie de condutores, reveladores da palavra poética. A respeito dos poetas e seus objetivos, diz Hamburger: O objetivo dos poetas, pois, é “dizer verdades”, mas de maneiras necessariamente complicadas pelo “paradoxo da palavra”. [...] e uma vez que a escrita da poesia é um “feito” – um processo de exploração e descoberta – as verdades ditas são de um tipo especial. [...] Por outras palavras, é o poema que diz ao poeta o que ele pensa, não o contrário. (2007, p. 56).

(13) É sobre Poesia que as palavras grafadas neste artefato acadêmico pretendem falar. É em nome da Poesia que esta pesquisa pede licença para falar, pede licença para tentar poetizar o ensino de literatura nas nossas escolas. E falamos de poetizar o ensino de literatura, sobretudo o “ensino” de Poesia, a abordagem da Poesia na sala de aula. Primeiro porque não há razão para negar sua entrada nesse espaço; segundo porque é papel da escola proporcionar aos alunos o contato com as manifestações literárias, as orientações de como lidar com o texto literário, quais as suas especificidades tão necessárias para a real compreensão do seu sentido e sua função, seu caráter estético e político. É preciso preparar o aluno para as linhas e entrelinhas do texto poético, para os saltos e as quedas que a Poesia pode proporcionar, e alertá-los dos cuidados com ela, pois como alerta Glória Kirinus: A poesia irrompe o cotidiano, e mesmo que precise de uma intenção e ordenação estética, ela não se sujeita aos rigores do tempo e do espaço. A poesia canta uma canção eterna nutrida em cantos e preces antigas que até sabiam alegrar e curar. (2011, p: 26). Ainda a respeito da importância da literatura para o indivíduo, Antonio Candido afirma: A literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e, portanto nos humaniza. Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade. (2013, p. 188). Além de ser uma proposta de investigação e apontamentos para estas questões tão pertinentes e relevantes em relação ao espaço que a literatura, sobretudo a Poesia, tem merecido nas escolas brasileiras, esta pesquisa dialoga diretamente com professores do Estado do Rio Grande do Norte, pois se materializa em um site totalmente voltado para a divulgação e valorização da Poesia Potiguar, sobretudo a abordagem dessa Poesia no espaço escolar. A delimitação da Poesia Potiguar para a referida proposta dá-se em virtude da escassez de material dessa natureza. Ora, se a Poesia produzida por grandes autores brasileiros, conhecidos por suas obras publicadas e difundidas nos mais diversos espaços, inclusive nas bibliotecas escolares, ainda encontra obstáculos na adesão por parte de alguns professores, como fica a Poesia produzida por autores locais, nem sempre publicada em livros e pouquíssimo difundida nas escolas?.

(14) Dessa forma, o objetivo maior desse projeto de pesquisa é ressignificar os conceitos e a abordagem da Poesia Potiguar no contexto da sala de aula, considerando sua importância como artefato artístico, histórico e cultural. Partindo então da necessidade de impregnar nos professores a certeza de que é preciso dar voz e vez à Poesia na sala de aula, e que é necessário conhecer a Poesia produzida por artistas locais, para enfim valorizar e disseminar suas obras, é que o projeto de pesquisa Encantos poéticos: A Poesia Potiguar pede licença... encontra sua justificativa, pois se propõe a trazer para o centro das atenções a Poesia produzida no Rio Grande do Norte e discutir a pertinência e a relevância de incluir essa Poesia no ambiente escolar. Dessa forma, a referida pesquisa se configura como uma proposta de enfretamento a essa problemática e para tal fim propõe a criação de um site totalmente voltado à divulgação e discussão dessa Poesia Potiguar, oferecendo, sobretudo, possibilidades de abordagem do texto poético de autoria Potiguar no espaço da sala de aula, por meio de planejamentos voltados ao Ensino Fundamental. Para tanto, distribuímos nossa proposta da seguinte maneira: O primeiro capítulo intitulado “Mas, Literatura para quê?” trata das inúmeras questões no que se refere à literatura: a sua natureza, assim como de sua linguagem, suas especificidades, sua função e importância. Para isso, o capítulo coloca em xeque diversas dicotomias que orientam grande parte dos estudos sobre literatura, e materializa-se em um diálogo entre vozes amantes e conhecedoras da literatura, e em sua defesa. Ainda no mesmo capítulo, são discutidas questões relacionadas à necessidade da permanência da literatura no espaço escolar, porém de maneira mais efetiva e responsável, visto que no próprio capítulo são apontados alguns descaminhos quanto à abordagem do texto literário na sala de aula e as implicações dos mesmos na real compreensão da função e da importância da literatura. As discussões desse capítulo são norteadas pelas concepções de literatura, assim como sua relação com a escola, concepções estas assumidas por Antoine Compagnon (2009), Antonio Candido (2004), Rildo Cosson (2014), entre outros. “A Poesia quando chega não respeita nada...” é o título do segundo capítulo, cuja preocupação, inicialmente, é abordar a natureza da Poesia, assim como suas particularidades. Para isso, traz alguns olhares de teóricos e afins da Poesia como forma de reafirmar o caráter ao mesmo tempo singular e plural que esse gênero abarca. Poesia – singular, por considerar sua maneira tão peculiar de usar a palavra e conferir a esta sentidos tão outros, tão amplos, tão múltiplos. Poesia – plural, por considerar sua potência criadora, inventiva, capaz de falar ao homem de qualquer tempo, espaço, cultura, condição social, do próprio homem, do mundo, de.

(15) si e provocar laços e rupturas, afinidades e aversões, tudo em um instante, embora rápido às vezes, de intensidades e êxtases. O capítulo também se propõe a discutir erros e acertos quando o assunto é a Poesia na sala de aula. Para tanto, traz para essa discussão vozes consagradas nos estudos da abordagem da Poesia no espaço escolar, como Hélder Pinheiro (2002), Neusa Sorrenti (2009), Octávio Paz (1982), Rildo Cosson (2014), Holanda (2004) e mais alguns outros. O terceiro capítulo “Investigações poéticas...” dá conta de parte da metodologia assumida para a pesquisa e os métodos utilizados. Nesse capítulo são apresentados alguns dados coletados junto a alguns professores do Ensino Fundamental de escolas diferentes do Rio Grande do Norte, por meio de um questionário. Alguns desses dados são apresentados em forma de gráfico e muitos deles colaboram para melhor compreender a problemática da abordagem da Poesia na sala de aula e, mais especificamente, a Poesia produzida por autores locais, ou seja, a Poesia Potiguar, protagonista dessa pesquisa. Os dados coletados e analisados também servem para justificar a importância de elucidar as implicações da abordagem da Poesia Potiguar no espaço escolar, assim como a necessidade de pensar em estratégias de enfrentamento a essas lacunas. Para a produção desse capítulo, são tomados como referência os aportes de Sorrenti (2009) e Candido (2004). “Eis que nasce a Literatura Potiguar...” título escolhido para batizar o quarto capítulo e é inteiramente voltado a tratar da Poesia produzida por autores potiguares. O capítulo se organiza em torno de um breve percurso histórico dessa Poesia Potiguar e apresenta logo no início uma discussão a respeito de o que de fato consagra alguém como escritor potiguar. Neste espaço também é discutido o embate histórico e clássico do poeta “canônico”, nacionalmente conhecido, versus o poeta local, “desconhecido”, assim como a necessidade de inserir na sala de aula a Poesia Potiguar como objeto de leitura, estudo e fruição, como forma de valorização e ressignificação da identidade Potiguar. Para este capítulo foram considerados os estudos de Tarcísio Gurgel (2001), Diva Cunha e Constância Lima Duarte (2001) (2013) e Manoel Onofre Jr (2000). “Educação e as Novas Tecnologias: aparando as frestas e apontando caminhos” é o título do quinto capítulo e como o próprio nome sugere traz para a discussão a necessidade do ser humano por tecnologias que dinamizem o cotidiano e as relações. Aqui é discutido como a escola vem compreendendo e se adaptando às novas formas de interação e aprendizagem e qual a necessidade de que essas transformações sejam aproveitadas no espaço escolar de.

(16) forma a contribuir e potencializar o aprendizado. Para tanto, traz as discussões de Kenski (2007) e Lévy (2010). O sexto capítulo é intitulado “Um Sítio verdadeiramente poético...” e apresenta ao leitor toda a proposta que orienta o site www.poesiapotiguar.com.br. O capítulo é todo organizado em torno das ideias que perpassam a criação do site, desde informações mais técnicas sobre o processo de construção do mesmo como o layout escolhido, título, personagens, etc. Considerando o caráter dinâmico e cada vez mais acessível da internet como ferramenta para a educação, o site agrega valores e potenciais quando abarca propostas didáticas direcionadas ao Ensino Fundamental, como forma de facilitar e incentivar a abordagem do texto poético de autoria Potiguar na sala de aula. O trabalho encerra com algumas considerações finais acerca da importância de se pensar a literatura, em especial a Poesia, como um artefato artístico e cultural vivo, plural, criativo, dinâmico, político, mas acima de tudo, humano e que, por todas essas razões, precisa, deve e merece fazer parte da dinâmica escolar, visto que a escola é o espaço legitimado para formação humana dos sujeitos..

(17) CAMINHO DO SERTÃO A meu irmão João Cancio Tão longe a casa!... Nem sequer alcanço Vê-la, através da mata. Nos caminhos, A sombra desce; e, sem achar descanso, Vamos, nós dois, meu pobre irmão, sozinhos! É noite, já! Como em feliz remanso, Dormem as aves nos pequenos ninhos ... Vamos mais devagar... de manso e manso, Para não assustar os passarinhos. Brilham estrelas. Todo o céu parece Rezar de joelhos a chorosa prece, Que a Noite ensina ao desespero e à dor ... Ao longe, a Lua vem dourando a treva ... Turíbulo imenso para Deus eleva O incenso agreste da jurema em flor. Auta de Souza (Macaíba – RN).

(18) I – MAS, LITERATURA PARA QUÊ? Caminhando pelos textos que tratam das concepções de literatura, ao longo da história, é possível perceber que são diversas as vozes que dialogam sobre o que é, como é e para que serve a literatura. Diversas também são as orientações que norteiam as respostas para estas questões. É possível perceber que conforme mudam os tempos, assim como as formas de estar e pensar no mundo, a ideia sobre literatura e sua real importância para a humanidade vai se modificando. Para além dos limites e dissabores que perpassam o embate das dicotomias quanto aos estudos sobre literatura – história e teoria, forma e conteúdo, texto e contexto, autor e leitor – a literatura permanece viva, e mesmo que insistam alguns em afirmar que esta não serve para nada, sua permanência é a prova de sua importância. Em defesa da literatura, alguns críticos e estudiosos apresentam as seguintes reflexões sobre a natureza, a função e a importância desta para o homem de qualquer tempo, espaço e condição social, como é o caso de Antonio Candido, quando diz: A literatura aparece claramente como manifestação universal de todos os homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem que possa viver sem ela, isto é, sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de fabulação. Assim como todos sonham todas as noites, ninguém é capaz de passar as vinte e quatro horas do dia sem alguns momentos de entrega ao universo fabulado. [...].Ora, se ninguém pode passar vinte e quatro horas sem mergulhar no universo da ficção e da poesia, a literatura concebida no sentido amplo a que me referi parece corresponder a uma necessidade universal que precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito. (2013, p. 176 – 177). Antonio Candido, um dos maiores estudiosos da literatura brasileira, sociólogo, professor e crítico literário, revela em seu ensaio O direito à literatura uma visão tanto quanto ampla e profunda sobre a importância da literatura para a humanidade, visto que a concebe como um direito “incompressível”, ou seja, indispensável, portanto, que não pode ser negado. Em todo o ensaio, Candido segue em defesa da literatura, de forma a afastá-la dos impasses dicotômicos. O mundo não mais se orienta pela dicotomia do eu versus o outro, mas sim pela conexão do eu e do outro. Assim então é a literatura defendida por ele: um espaço de conhecimento em que estrutura e significado, embora autônomos, permitem a experiência da identificação com o(s) outro(s) e consigo mesmo, bem como a reconstrução da visão de mundo por meio da emoção..

(19) Um outro nome importante da crítica literária é o de Antoine Compagnon. Este crítico literário possui uma vasta obra sobre teoria, história e crítica literária. A respeito da literatura e em sua defesa, Compagnon percebe que a literatura desconcerta, incomoda, desorienta, desnorteia mais que os discursos filosófico, sociológico ou psicológico porque ela faz apelo às emoções e à empatia. Assim, ela percorre regiões da experiência que os outros discursos negligenciam, mas que a ficção reconhece em seus detalhes. [...] A literatura nos liberta de nossas maneiras convencionais de pensar a vida – a nossa e a dos outros –, ela arruína a consciência limpa e a má fé. (2009, p. 50). É nítida a adesão do autor a toda e qualquer luta em defesa da literatura, visto que a considera uma construção discursiva, transformadora, portanto, política. Compagnon aponta para esse poder de transformação pelo texto literário, comparando-o a outros discursos também transformadores, como a filosofia, a sociologia e a psicologia. Entretanto, o autor potencializa essa capacidade transformadora da literatura em detrimento dos outros discursos, por acreditar no poder da emoção. Assim, experienciar um texto, e consequentemente seu discurso, por meio da emoção torna-se mais significativo do que experienciar esse mesmo discurso pelo viés da razão. Uma outra acepção a respeito da importância da literatura aqui apresentada é a da escritora, professora, tradutora brasileira e colunista Lya Luft. A escritora, que já publicou diversos livros, dentre estes livros de poesia, conto, romance, crônica, ensaio, além de livros infantis, relata sua experiência de leitora literária e a importância da mesma para sua formação humana e cidadã, de forma a defender a necessidade e a importância do acesso à literatura para todos: Desde criança, a leitura me dá imenso prazer, exercendo em mim o fascínio de algo mágico, intenso, estético. É a janela por onde o mundo entra na minha casa, na minha vida. A literatura dirigiu meu pensamento, minha forma de ver o mundo. Eu vivo e respiro literatura o tempo inteiro [...] (LUFT, 2005, p. 24). Ao metaforizar o contato com a literatura como a janela que traz o mundo e todas as suas cores, barulhos, sabores e dissabores para dentro da casa e da vida do leitor, Lya Luft amplia a natureza estética da literatura, conferindo a esta também o caráter da aprendizagem. Dessa forma, é possível compreender a defesa em favor da literatura também norteada pela ideia de que o texto literário é capaz de promover aprendizagens. Mesmo a.

(20) literatura não carregando em sua essência a função de ensinar, de promover aprendizagens múltiplas, ela ensina, porque promove a experimentação de outras vidas, outras crenças, outras formas de significar o mundo por meio da emoção. Por isso, conforme justifica Compagnon, Ensinando-nos a não sermos enganados pela língua, a literatura nos torna mais inteligentes, ou diferentemente inteligentes. O dilema da arte social e da arte pela arte se torna caduco face a uma arte que cobiça uma inteligência do mundo liberta das limitações da língua. (2009, p. 39). Ainda sobre essa particularidade da literatura, e também em sua defesa, o estudioso do letramento, Rildo Cosson, assegura: A literatura nos diz o que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é uma experiência a ser realizada. É mais que um conhecimento a ser reelaborado, ela é a incorporação do outro em mim sem renúncia da minha própria identidade. No exercício da literatura, podemos ser outros, podemos viver como os outros, podemos romper os limites do tempo e do espaço de nossa experiência e, ainda assim, sermos nós mesmos. É por isso que interiorizamos com mais intensidade as verdades dadas pela poesia e pela ficção. (2014, p. 17). Considerando as concepções de literatura aqui apresentadas, além das inúmeras outras tão conhecidas e divulgadas sobre a natureza, a função e a importância da literatura para a formação dos sujeitos, assim como para a [re]construção e o fortalecimento das mais diversas identidades, é que se faz imprescindível garantir a permanência e a valorização da literatura na escola. 1.1. A literatura empoeirada dos bancos escolares Que a literatura é parte integrante da escola, seja como disciplina, objeto de ensino, ou mesmo como mero instrumento para o deleite e a diversão, disso ninguém ousa duvidar. Entretanto, é mais que sabida e constantemente discutida na academia, dissertações e teses, congressos, palestras, entre outros espaços e suportes, que a simples inclusão da literatura na escola não garante a sua efetivação, isto é, permitir que o texto literário faça parte do planejamento do professor, ou mesmo que a literatura seja concebida como disciplina, não garante que esta seja abordada e, consequentemente compreendida, em sua natureza multifacetada, inventiva, criativa, enfim, estética:.

(21) Não é possível aceitar que a simples atividade de leitura seja considerada a atividade escolar de leitura literária. Na verdade, apenas ler é a face mais visível da resistência ao processo de letramento literário na escola. Por trás dele encontram-se pressuposições sobre leitura e literatura que, por pertencerem ao senso comum, não são sequer verbalizadas. (COSSON, 2014, p. 26). Um dos primeiros e possivelmente o maior equívoco da escola frente às concepções e, consequentemente, abordagens do texto literário diz respeito à incompreensão da função da literatura. Dentro dessa problemática, há uma concepção assumida por muitos professores de que a função da literatura é simplesmente emocionar o leitor, no sentido mais superficial que a palavra emocionar possa assumir. A literatura para o mero deleite, a diversão gratuita do ler por ler. Compreendidos dessa forma, os textos literários passam a ocupar lugares cada vez menos prestigiados na escola, sobretudo na sala de aula, quando a ordem é não perder tempo com conteúdos “menos importantes”, que não serão cobrados dos alunos nas avaliações externas, e que tão pouco servirão para a formação dos mesmos como futuros integrantes do mercado de trabalho. [...] vivemos nas escolas uma situação difícil com os alunos, os professores de outras disciplinas, os dirigentes educacionais e a sociedade, quando a matéria é literatura. Alguns acreditam que se trata de um saber desnecessário. Para esses, a literatura é apenas um verniz burguês de um tempo passado, que já deveria ter sido abolido das escolas. [...] Essa postura arrogante com relação ao saber literário leva a literatura a ser tratada como apêndice da disciplina de Língua Portuguesa, quer pela sobreposição à simples leitura no ensino fundamental, quer pela redução da literatura à história literária no ensino médio. (COSSON, 2014, p. 10). Essa confusão gerada e mantida pela escola quanto à função da literatura assume caminhos diferentes no Ensino Fundamental e no Ensino Médio: Tem sido assim com o ensino da literatura em nossas escolas, que, no Ensino Fundamental, tem a função de sustentar a formação do leitor e, no Ensino Médio, integra esse leitor à cultura literária brasileira, constituindo-se, em alguns currículos, uma disciplina à parte da Língua Portuguesa. (COSSON, 2014, p. 20). Folheando alguns livros didáticos do Ensino Fundamental é nítida a diferença de espaço, abordagem e relevância que os textos literários recebem se comparados aos textos e conteúdos voltados ao ensino da língua..

(22) Os textos literários quando abordados em livros didáticos são, em sua maioria, textos em prosa, seguidos de questões muitas vezes cerceadoras da natureza imagética e lúdica da literatura, priorizando a interpretação do que há de mais superficial no texto, como: Quem são os personagens? Onde eles vivem? Qual é o acontecimento principal? Como é o desfecho da história? Qual a temática abordada? Em poucos casos se percebe uma proposta de leitura, interpretação e compreensão de um texto literário que permita ao aluno um passeio pelas linhas e entrelinhas do texto, isto é, pelo dito, mas também pelo não dito, pelas impressões, imagens e sensações provocadas. Somente um professor crente na face múltipla da literatura e na sua capacidade de promover aprendizagens, será capaz de transgredir a ordem normal do be-á-bá prontinho e acabado do livro didático, para imprimir um outro caminho no trato com o mesmo texto literário. No entanto, isso demanda tempo, dedicação e bem mais trabalho. Além do mais, realinhar essa abordagem requer sensibilidade e, consequentemente afinidade com a literatura, além do conhecimento das mais diversas habilidades e competências necessárias a um efetivo letramento literário. O letramento literário, conforme o concebemos, possui uma configuração especial. Pela própria condição de existência da escrita literária, [...] o processo de letramento que se faz via textos literários compreende não apenas uma dimensão diferenciada do uso social da escrita, mas também, e sobretudo, uma forma de assegurar seu efetivo domínio. Daí sua importância na escola, ou melhor, sua importância em qualquer processo de letramento, seja aquele oferecido pela escola, seja aquele que se encontra difuso na sociedade. (COSSON, 2014, p. 12). Apesar de todos esses desacertos, é ainda no Ensino Fundamental que o texto literário pode ser utilizado com mais liberdade pelo professor, considerando claro o interesse, a afinidade e a competência desse professor para tal atividade, visto que nesse nível de ensino a literatura ainda não faz parte do componente curricular como uma disciplina, como acontece no Ensino Médio. Ao ingressar no Ensino Médio, o aluno passa a ter contato com a literatura com mais frequência, decerto, visto que a mesma aparece nesse momento como disciplina. Porém, é aí que surgem outros problemas. Nesse nível de ensino a literatura funciona como uma disciplina de apoio à Língua Portuguesa, ou seja, mesmo ocupando a grade curricular, atua como uma coadjuvante para auxiliar no ensino de língua. Prioriza-se o ensino da história da literatura, compartimentando a.

(23) mesma em escolas e estilos literários, e o texto literário então não passa de um suporte ilustrativo dessas características. Além disso, é a história das literaturas brasileiras e portuguesas que quase sempre são propostas para o ensino, isso em virtude de uma visão limitada e eurocêntrica que considera a identidade do povo brasileiro constituída da influência direta da colonização portuguesa, em detrimento de toda a influência exercida pelos povos indígenas que aqui já existiam muito antes de o branco português chegar sem pedir licença, além da influência dos povos africanos trazidos à força para serem a força do trabalho na construção do território brasileiro. Já é possível perceber em alguns livros didáticos a presença da literatura africana, por meio da abordagem de textos de autores mais consagrados como Mia Couto1 e José Craveirinha2, dentre outros. Talvez em virtude de uma atuação mais antiga e significativamente mais forte do movimento negro no Brasil, as literaturas africanas tenham inaugurado o espaço da sala de aula se comparadas às literaturas indígenas. Um dos efeitos mais claros e importantes da institucionalização do tema da diversidade no âmbito educacional foi a criação de uma legislação específica, obrigando escolas públicas e privadas a adotarem em seus currículos a história da África e dos/as descendentes de africanos e africanas no Brasil, o que inclui a cultura negra em geral (Lei 10.639/ 2003), agora ampliada para contemplar também a introdução da história indígena e da cultura destes povos no currículo escolar nacional (Lei 11.465/ 2005). (GDE, 2009, p. 213). Embora esses novos olhares na escola para as outras literaturas que constituem as identidades da literatura e do povo brasileiro, ainda sejam tímidas, as propostas oferecidas pelos livros didáticos, e nem sempre aderidas pelo professor, que para inserir essas novas literaturas em suas aulas, precisariam de mais conhecimento a respeito, logo, mais tempo para estudar, ler e planejar suas aulas. Um outro equívoco identificado na abordagem da literatura na escola é considerar esta vinculada tão somente à disciplina de Língua Portuguesa, isso em virtude de a matéria prima do texto literário ser a palavra que, por sua vez, se materializa em uma língua.. 1. Mia Couto é um escritor moçambicano, nascido em Beira, em 1955. É biólogo, jornalista, membro correspondente da Academia Brasileira de Letras e escritor. Possui mais de trinta livros publicados, entre prosa e poesia. (COUTO, Mia. O fio das missangas. 2009) 2. José Craveirinha é um dos poetas contemporâneos de Moçambique, país africano que conquistou sua independência política de Portugal somente em 1975. (CEREJA & MAGALHÃES, 2005, p. 111).

(24) É preciso transpor esses limites que cerceiam o trato com o texto literário, como se o mesmo fosse tão somente um carregador de palavras facilmente traduzidas quando o leitor detém os seus respectivos significados. Ora, se é esta mesma literatura que tantas vezes destrói e reconstrói os significados da palavra para transformar vidas, como pode ser a mesma vista dessa forma tão simplificadora da sua potência criadora? Conforme Cabral, em seu livro, Metodologia de ensino da literatura, ao se interrogar para que serve a literatura, responde que a literatura, enquanto portadora de um amplo conhecimento que abarca valores, crenças e anseios de uma dada sociedade, coloca o leitor frente ao entendimento da alma humana, ou seja, há a necessidade de uma abordagem da literatura em sala de aula, uma vez que A abordagem dos textos literários deve permitir, também, que relacionemos questões humanas, sociais e ideológicas ao contexto de hoje, às vivências que os leitores tem e aos valores culturais e políticos que seu grupo social prestigia. (2013, p. 51). Entendido dessa forma é preciso desempoeirar os bancos escolares, enquanto professores e fornecer aos alunos o acesso a uma literatura de fato significativa, para que seja possível, processualmente, formar leitores literários aptos a verem o mundo de forma crítica e, ao mesmo tempo, prazerosa. É ainda Cabral que afirma o papel relevante que tem o professor que, ao trabalhar com a literatura, sente a necessidade de uma orientação teórica para melhor realizar seu trabalho, aliando ao referencial teórico as ferramentas metodológicas necessárias para a condução do aprendizado de seus alunos. Ensinar literatura é, portanto, um processo de aprendizado mútuo: exige do professor que ele esteja preparado para exigir, dos alunos, as habilidades e competências necessárias para um leitor literário. Quanto de história, geografia, matemática, ciências, filosofia, arte e sociologia pode haver na literatura, sobretudo, quanto de humanidade pode haver na literatura. De forma a exemplificar esse caráter plural e humanizador da literatura, segue o poema Surpresa, do escritor potiguar José Bezerra Gomes3. Este poema faz parte da sua única obra desse gênero – Antologia Poética – e que foi publicada em 1974. 3. José Bezerra Gomes nasceu em Currais Novos-RN em 09 de Março de 1911. Sendo filho de uma tradicional família seridoense, teve a oportunidade de dedicar-se aos estudos. Estudou no Atheneu em Natal-RN e, em seguida, formou-se em Direito pela Universidade de Direito de Minas Gerais. Publicou os romances Os Brutos (1938), Por que não se casa, Doutor? (1944) e A Porta e o Vento (1974), Antologia Poética (1974), Teatro de João Redondo e Sinopse da história de Currais Novos além da biografia Retrato de Ferreira de Itajubá. Morreu em Natal, em 26 de maio de 1982. (GURGEL, 2001, p. 197).

(25) SURPRESA Vi minha casa Olhei-a olhando Olhei olhando para mim (GOMES, 1974, p. 45). O poema recebe um título que sugere a novidade, o abismar-se diante de algo novo. No caso do poema, a novidade que toma o eu poético é a sensação de identificação entre o eu e sua casa. É como se ao olhar a casa, o eu poético se transportasse para um outro universo, o das suas memórias, um universo feito de devaneios e vivências que tanto se confundem ao passo que se fundem, como afirma Bachelard, em A poética do espaço: “[...] a casa não vive somente no dia-a-dia, no curso de uma história, na narrativa de nossa história. Pelos sonhos as diversas moradas de nossa vida se interpenetram e guardam os tesouros dos dias antigos.” (2008, p. 25) A casa, no poema, é apresentada sob dois aspectos: a casa enquanto espaço físico, abrigo, morada, e a casa enquanto espaço metafísico, circundado de sonhos e lembranças. É essa casa que abriga o eu poético do poema Surpresa. Uma casa que guarda por entre paredes, chão, teto e cantos as experiências vividas na infância e tantas vezes confundidas com as imagens projetadas nas histórias contadas pelos mais velhos, por exemplo. A casa se lhe reconhece. Por mais local que um texto literário possa parecer, a depender de sua natureza e riqueza estética, o global será atingido, porque este estará para todos, pelo simples fato de falar de humanidade. Quantos olhares e diálogos possíveis, mágicos e transformadores a escola e seus componentes curriculares poderiam dar a este poema de José Bezerra Gomes... Promover reflexões sobre as memórias dos alunos que estão atadas à casa em que nasceram e cresceram; identificar traços representativos das casas da localidade dos alunos, como a arquitetura, as fachadas, etc, de modo a reconhecer traços da identidade daquele lugar, assim como relacionar os elementos que se perderam ou que se transformaram ao longo dos tempos, comparando casas antigas que preservam sua estrutura primeira a casas recém construídas..

(26) Um outro olhar possível para a abordagem do poema Surpresa em sala de aula, seria estabelecer diálogos com outros textos literários, inclusive de autores, lugares e tempos distintos, textos estes que também tenham a casa como protagonista. Assim, o aluno teria a possibilidade de ressignificar sua ideia de casa, para além de suas experiências pessoais. Por todas essas possibilidades de leitura e abordagem é que se torna possível afirmar que o sujeito, seja este de qualquer espaço físico, inserido em tempos outros, é capaz de identificar-se com o poema Surpresa, visto que este traz à tona o sentimento de identificação provocado pela lembrança da casa de cada um. Assim, para cada leitor este poema poderá ser único, porque são as experiências de vida de cada um que permite ao leitor construir a seu modo suas impressões de um determinado texto. São as noções de tempo, espaço, ambiente e sujeito que permitem cada leitor, no ato da leitura, criar conjecturas, projeções, representações. Entretanto, não é bem assim que o texto poético geralmente é trabalhado em sala de aula. Afora aquela pequena parcela de professores mais dados à Poesia, textos dessa natureza de longe são abordados por professores de disciplinas outras que não Língua Portuguesa, e vez por outra Artes, menos ainda são chamados para o diálogo com outros componentes curriculares. Portanto, “não basta selecionar bons textos e despejá-los sobre as crianças e deixar tudo por conta da magia das palavras. O professor e/ ou mediador torna-se o dinamizador imprescindível para a criação da atmosfera de uma legítima oficina poética.” (SORRENTI, 2009, p. 20) Uma outra lacuna que perpassa essa problemática da abordagem significativa do texto literário em sala de aula é o fato de nem sempre o professor ser um leitor de literatura e, por essa razão, cabem aqui alguns questionamentos: . Como fazer o aluno acreditar no prazer e na importância da literatura, quando o próprio professor, mediador dessa tarefa, não acredita no potencial lúdico e transformador desta?. . É possível então encantar o aluno na leitura literária sem também se permitir a esse encantamento?. . Como fazer o aluno transpor os limites da leitura decodificada diante de um texto literário para uma leitura fruitiva, estética, se o próprio professor nunca transpôs esse limite para visitar o outro lado da literatura?.

(27) . Preencher essa lacuna do professor não leitor não é fácil, visto que criar novos gostos e hábitos depois de cristalizados certos estereótipos e posturas diante da leitura literária é bem mais difícil, porém, “pau que nasce torto”, precisa morrer torto?. Claro que não. E é exatamente para preencher as diversas lacunas que, ao longo do tempo, vão sendo identificadas e reforçadas na prática cotidiana de todo profissional que justifica a necessidade da constante formação. E com o professor não é diferente. As formações continuadas são excelentes oportunidades de fazer este professor refletir sobre sua prática, de que forma é possível inovar, transpor barreiras, limites, desvencilhar-se de ideias e atitudes que ao longo dos tempos não mais correspondem às necessidades dos sujeitos, posto que o mundo e o homem modificam-se mutuamente e o tempo todo. Como forma de atender a um dos objetivos das Diretrizes Curriculares Nacionais, “orientar os cursos de formação inicial e continuada de profissionais – docentes, técnicos, funcionários – da Educação Básica (LDB, 2013, p. 8), são proposições do MEC de Formação Continuada para Professores do Ensino Fundamental: Formação no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, ProInfantil, Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – ParFor, Proinfo integrado, e-Proinfo, Pró-letramento, Gestar II, Rede Nacional de Formação Continuada de Professores. Um outro problema relacionado à literatura no espaço escolar diz respeito ao material dessa natureza disponível na escola, tanto para professores quanto para alunos. Na maioria das escolas, os livros de literatura ficam expostos para os olhos curiosos dos alunos apenas na biblioteca, e infelizmente esta, a bliblioteca, é uma senhora tantas vezes já caduca e carrancuda... 1.2. A poeira secular das bibliotecas escolares Um dos maiores problemas ainda enfretado pelas escolas brasileiras e motivo de insucessos escolares, tanto nas avaliações internas, considerando o número de aprovados e/ ou promovidos para os anos sequentes, quanto nas avaliações externas, como os indicadores de qualidade da educação, em especial o IDEB, está diretamente relacionado às habilidades de leitura..

(28) É fato que o aluno que apresenta maiores dificuldades no que diz respeito à compreensão da leitura, está fadado a desafios muito maiores ao longo de sua vida escolar, desafios estes muitas vezes não superados e continuamente potencializados, o que costuma gerar desânimo, descrença e, consequentemente, a evasão escolar. Um dos caminhos apontados como solução para essa problemática é o trabalho intensivo e significativo com a leitura, seja este trabalho realizado pelo professor em sala de aula ou não. Assim, a Biblioteca passa a ocupar um papel fundamental de enfrentamento às dificuldades de leitura junto a estes sujeitos. Entretanto, qual a real situação das bibliotecas escolares? Espaços pequenos, com pouca ventilação e iluminação, mobiliário inadequado, muitas vezes herdado de algum outro espaço da escola para o qual não mais servia, paredes envelhecidas, chão acinzentado, enfim, um lugar caduco, saído de um conto de suspense e onde poucos sentem vontade de estar. Benditas e salvas as exceções, este é o retrato quase fiel de grande parte das bibliotecas escolares brasileiras. Um retrato em preto e branco, carcomido pelo tempo, pelas traças e pelo mofo, entregue ao abandono e à solidão das estantes empoeiradas e das histórias quase nunca lidas, conforme ratifica Rildo Cosson quando aborda a problemática da seleção dos textos literários: Infelizmente, na maioria das escolas brasileiras, a biblioteca, quando existe, é sinônimo de sala do livro didático, não tem funcionários preparados para incentivar a leitura e apresenta coleções tão reduzidas e antigas que um leitor desavisado poderia pensar que se trata de obras raras. (2014, p. 32). Na tentativa de concretizar essa discussão a respeito da situação das bibliotecas escolares, foi aplicado um questionário com 15 perguntas junto a bibliotecários das cinco maiores escolas públicas do município de Curais Novos-RN, sendo 03 destas escolas vinculadas à rede estadual de educação – Escola Estadual Capitão-Mór Galvão, Escola Estadual Tristão de Barros e Instituto Vivaldo Pereira – e 02 destas vinculadas a rede municipal – Escola Municipal Professor Humberto Gama e Escola Municipal Professora Trindade Campelo. O questionário buscava investigar as características e as ações da biblioteca considerando os aspectos físicos, o acervo bibliográfico, a condição/ situação dos profissionais que atuam nesse espaço, assim como os aspectos pedagógicos e administrativos diretamente relacionados ao trabalho desenvolvido pela Biblioteca..

(29) Quanto às condições físicas das Bibliotecas escolares visitadas, é possível afirmar que a infraestrutura das mesmas não pode ser considerada das piores, tendo em vista se tratar de bibliotecas situadas nas maiores escolas da cidade, porém em algumas é impossível imaginar um aluno se sentindo à vontade para permanecer naquele espaço por mais tempo. Espaços pequenos, com pouca ventilação, ou mesmo nenhuma, mal iluminados, entretanto bem organizados e limpos, assim são de um modo geral a “cara” das bibliotecas visitadas. Questionados sobre as condições físicas da Biblioteca em que atuam assim as descreveram os bibliotecários responsáveis, conforme dados apresentados na tabela abaixo: Excelente. Muito bom. Bom. Regular. Péssimo. Espaço físico. 01. 01. 01. 01. 01. Ventilação. -. -. 02. 02. 01. Iluminação. -. 02. 02. 01. -. Mobília. 01. 01. 03. -. -. Acessibilidade. -. 01. 02. 01. 01. Quadro 1 Avaliando as condições físicas da Biblioteca de sua escola. Como afirmado anteriormente, por se tratar de bibliotecas que fazem parte das maiores escolas do município de Currais Novos-RN, as mesmas apresentam de um modo geral uma infraestrutura minimamente razoável, principalmente no que diz respeito à limpeza e à organização. Entretanto, alguns detalhes chamam a atenção. Das 05 bibliotecas visitadas, somente 02 têm um espaço realmente apropriado: amplas o suficiente para distribuir de forma adequada e agradável as estantes e as mesas com as cadeiras. Porém, embora o espaço físico seja bem apropriado, a iluminação e a ventilação são bem precárias, provocando a falta de estímulo em permanecer no espaço. Um outro detalhe que salta aos olhos de qualquer usuário ou visitante dessas bibliotecas é a ausência parcial ou mesmo total de acessibilidade. Bibliotecas situadas em áreas mais altas, que exigem a subida de degraus, portas estreitas e mesas muito próximas umas das outras, impedem o livre acesso e trânsito de alunos portadores de necessidades educacionais especiais, sobretudo os cadeirantes e deficientes visuais. Como a escola, a instituição-mãe carregadora da bandeira da inclusão, mantém em seus espaços obstáculos tão cruéis para efetivação dessa mesma inclusão? Por que a insistência em obstruir essa passagem tão sagrada que leva o aluno ao contato com a leitura,.

(30) seja na sala de aula, com atividades que não despertam o interesse pela leitura, seja na biblioteca, com caminhos tortuosos que atrapalham ou mesmo impedem a criação de laços de entrega? A respeito das inúmeras problemáticas que estão atreladas ao processo de inclusão escolar, é interessante destacar: As leis de inclusão e obrigatoriedade da matrícula não vieram acompanhadas de formação adequada aos educadores nem de condições de trabalho. [...] Segundo o Censo Escolar 2011, apenas 10% das escolas de Ensino Fundamental têm sala de AEE, sendo que só em 9% há profissionais alocados para esses espaços. Falta também infraestrutura mínima. Apenas 19% têm sanitários adequados e 17% contam com dependências e vias adaptadas. (NOVA ESCOLA, 2014, p. 90). Sobre o acervo bibliográfico das bibliotecas visitadas, a tabela abaixo ajuda a entender melhor a situação: Excelente. Muito bom. Bom. Regular. Péssimo. 01. 03. 01. -. -. 01. 02. 02. -. -. -. 01. 04. -. -. Quantidade de obras disponíveis Variedade. de. obras. disponíveis Atualidade conservação do acervo. e. Quadro 2 Avaliando o acervo da Bibliotecas de sua escola. De fato, as bibliotecas visitadas apresentam um acervo bibliográfico bem interessante, incluindo livros didáticos, revistas, dicionários, enciclopédias, atlas, além das obras literárias. Grande parte deste acervo encontra-se disponível para empréstimo, entretanto outros são considerados como obras para consulta, assim permanecem na biblioteca para serem utilizados conforme surjam necessidades. No que diz respeito ao acervo específico de obras de literatura, estrangeira e nacional, todas estas bibliotecas são abarcadas pelo Programa Nacional de Biblioteca da Escola (PNBE)4 e, por essa razão, recebem frequentemente novos títulos para enriquecer e 4. PNBE O Programa Nacional Biblioteca da Escola tem o objetivo de promover o acesso à cultura e o incentivo à leitura nos alunos e professores por meio da distribuição de acervos de obras de literatura, de pesquisa e de.

(31) diversificar o acervo disponível. No entanto, os próprios bibliotecários ainda consideram este acervo carente de variedade, visto que os alunos são bem diversos em afinidades e interesses. Questionados sobre como avaliam o acervo específico das obras literárias, 04 dos cinco bibliotecários entrevistados declararam considerar este acervo bom, mas que precisa melhorar. Sobre esta lacuna, os bibliotecários destacaram a necessidade de títulos mais atuais, os tão procurados pelos adolescentes e que ainda não encontraram espaço nas estantes das bibliotecas, porque “muitas escolas torcem o nariz para livros de sucesso. [...] Isso provoca uma cisão entre o que os alunos demonstram ter interesse e até mesmo leem em casa e o tipo de leitura cobrado pelos educadores”. (NOVA ESCOLA, 2015, p. 48) Obras como A culpa é das estrelas5, Diário de um Banana6, as sagas de Harry Potter7 e Percy Jackson e os Olimpianos8, ainda não tiveram permissão para entrar na maioria das escolas brasileiras e ocupar lugar de destaque ao lado dos clássicos, sem embates nem comparações. Outro ponto apontado no questionário como lacuna a ser preenchida é a necessidade da informatização das bibliotecas, pois segundo os próprios profissionais entrevistados a informatização desses espaços interfere diretamente na prestação de um serviço mais dinâmico, portanto, de melhor qualidade. Quanto ao trabalho realizado na biblioteca, os dados levantados são os seguintes: em todas as bibliotecas visitadas há pelo menos 01 profissional em cada turno, sendo todos estes de formação distinta, como licenciados em matemática, pedagogos, ou apenas com o Ensino Médio completo, na modalidade Magistério.. referência. o PNBE atende de forma universal e gratuita todas as escolas públicas de educação básica cadastradas no Censo Escolar. O programa ainda supre as bibliotecas escolares de periódicos (PNBE Periódicos) e obras de referência para os professores da educação básica (PNBE Professores), além do PNBE Temático, com obras elaboradas com base no reconhecimento e na valorização da diversidade humana, voltadas para estudantes e professores dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio. 5. A culpa é das estrelas é um romance do escritor John Green publicado em janeiro de 2012 e em junho do mesmo ano ocupou o primeiro lugar na lista dos best-sellers. 6. Diário de um Banana é uma coleção de autoria de Jeff Kinney. A obra é produzida por meio de ilustrações e textos verbais e tornou-se um best-seller internacional. 7. Harry Potter é uma série literária da escritora J. K. Rowling, composta de 07 títulos, e que alcançou imensa popularidade no mundo inteiro, em especial com o público jovem. 8. Percy Jackson e os Olimpianos é uma série de livros que também entrou para lista dos mais vendidos e que dialoga diretamente com o público juvenil..

(32) Ainda avaliando este aspecto das bibliotecas um dado é bastante intrigante e inquietador: 03 dos 05 bibliotecários entrevistados declararam atuar na biblioteca em razão de problemas de saúde que o impediam de estar em sala de aula. Esse é um quadro lamentavelmente bastante conhecido nas escolas brasileiras. Como não há concurso público para o cargo de bibliotecário, essa função acaba sendo ocupada por profissionais readaptados a funções específicas para as quais não tiveram formação. Então, por que não afirmar que os descaminhos com a leitura, em especial a leitura literária, comece nessa postura medíocre para com a biblioteca e seus agentes? Se o próprio Estado assim compreende a função da biblioteca e dos profissionais que nela trabalham, como cobrar atitudes mais coerentes, verdadeiras, significativas dentro deste espaço? Como alimentar o sonho de ver bibliotecas mais coloridas, mais vivas, se o próprio sistema as condena ao ócio, ao abandono? A solução para toda essa poeira que impede a qualidade do trabalho realizado pelas bibliotecas escolares não é tão simples e depende de diversas ações, internas e externas, pois trata-se de uma rede de ações que precisam ser pensadas e repensadas coletivamente, considerando sempre em primeiro lugar o bem estar e o crescimento do aluno..

(33) REBOLIÇO Menina me arresponda, Sem se ri e sem chorá: Pruque você se remexe Quando vê home passa? Fica toda balançando, Remexendo, remexendo... Pensa tarvez, qui nós véio, Nem tem ôio e nem tá vendo? Mas, se eu fosse turidade, Se eu tivesse argum valô, Eu botava na cadeia Êsse teu remexedô... E adespois dele tá preso, Num lugá, bem amarrado, Eu pedia: - Minha nêga, Remexe pro delegado. Renato Caldas (Assu – RN).

(34) II – A POESIA QUANDO CHEGA NÃO RESPEITA NADA... “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” (BÍBLIA, 2000 p. 03) Assim é a metáfora da criação do mundo, tão conhecida e disseminada. E se assim proclamam os dizeres sagrados, mitificando e sacralizando o Verbo, isto é, a palavra, pelo seu poder de criar mundos, como não bendizer a Poesia que por meio da palavra cria e recria tantos mundos? O homem se expressa poeticamente talvez antes mesmo de usar a palavra, se considerarmos o sentido mais humano que a Poesia possa assumir, como expressão, extensão, compreensão e explicação da vida. São tantos e tantas que se aventuraram na Poesia na tentativa de [re]construir mundos. Homens e mulheres que absortos em ideias, sentimentos, devaneios, aflições, permitiram-se estender-se para além de suas vivencias concretas Sobre esse poder da criação que a palavra poética abarca, Manoel de Barros escreve no poema VII de O Livro das Ignorãças: No descomeço era o verbo. Só depois é que veio o delírio do verbo. O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos. A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para cor, mas para som. Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira. E pois. Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer nascimentos – O verbo tem que pegar delírio. (BARROS, 1997, p. 17) O poema dialoga claramente com o texto bíblico “No descomeço era o verbo”, porém pelo caminho da negação, ou mesmo da ressignificação, pois o verbo, ou seja, a palavra, como dito no poema, está para além do começo de tudo, visto que ela é o antes de tudo, “é a voz de fazer nascimentos”, como tão poeticamente fala o crítico Octavio Paz: “O homem é homem graças à linguagem, graças à metáfora original que o fez ser outro e o.

(35) separou do mundo natural. O homem é um ser que se criou ao criar uma linguagem. Pela palavra, o homem é uma metáfora de si mesmo.” (1982, p. 41 - 42) Assim, a palavra poética, segundo o eu-poético, está para além dos limites temporais, do tempo cronológico, da ordem natural de todas as coisas: começo, meio e fim, e o poeta está como um Deus, visto que é um criador de sentidos. Toda a poética de Manoel de Barros é por excelência uma transgressão da norma, um avessamento da língua. Metaforicamente carregada, sua Poesia parece engendrar uma máquina de fazer, desfazer e refazer palavras. Ainda sobre o que é a Poesia e em seu louvor, outros poetas brasileiros assim explicam as nuances e facetas da palavra poética, e bendizem suas maravilhas: CONVITE Poesia é brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pião. Só que bola, papagaio, pião de tanto brincar se gastam. As palavras não: quanto mais se brinca com elas mais novas ficam. Como a água do rio que é água sempre nova. Como cada dia que é sempre um novo dia. Vamos brincar de poesia? (PAES, 2002, p. 96) O poema Convite, de José Paulo Paes, é um meta-poema imensamente criativo, pois explica ao leitor o que é a Poesia apelando para o lúdico, para o jogo, uma vez que compara o fazer poético a uma brincadeira com as palavras. E o jogo não para aí, pois o eu-poético incrementa sua explicação garantindo que diferente das outras brincadeiras, essa em que se brinca com as palavras tem um sabor especial: o sabor da novidade, pois as palavras se renovam a cada vez que são manuseadas. O poema é arrematado convidando o leitor para jogar com as palavras, para brincar de poesia..

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