1Acadêmico do Curso de Ciências Biológicas da PUC Goiás e Bolsistas de IC – CNPq 2Dra. em Química Analítica e Professora Adjunta PUC Goiás e IF/GO
Cleiton Santos1
Sandra Regina Longihn2
Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Semana Nacional de Ciência e Tecnologia
Este trabalho apresenta um levantamento
das
cooperativas
de
catadores
de
materiais
recicláveis no município de Goiânia as quais
realizam
coleta
e
manejo
de
Resíduos
de
Equipamentos
Eletroeletrônicos
–
REEE,
analisando
os
procedimentos
de
manejo
dispensados aos REEE para avaliar os riscos de
possíveis contaminação ocupacional e ambiental.
O volume de REEE tem aumentado em ritmo acelerado.
Essa categoria de resíduo apresenta grande potencial tóxico
devido sua composição química (metais tóxicos), que está
relacionada a diversos danos aos organismos e ao meio
ambiente.
Gerais:
Identificar
os
REEE
presentes
nas
cooperativas de catadores de materiais recicláveis
em
Goiânia,
avaliar
os
compostos
químicos
presentes
nos
componentes
destes
resíduos
apontando
as
consequências
do
manejo
inadequado, bem como os efeitos de uma possível
contaminação por metais tóxicos presentes nestes
resíduos.
Específicos:
•
Identificar os REEE armazenados em
depósitos das cooperativas;
•
Diagnosticas a toxicidade dos compostos
presentes nos REEE;
•
Avaliar os riscos ocupacionais e ambientais;
•
Elaborar material instrucional para manejo de
REEE;
•
Realizar uma oficina de capacitação para
Revisão bibliográfica;
Levantamento e localização das cooperativas
devidamente registradas em Goiânia;
Visita in loco para aplicação de questionário nas
cooperativas visando identificação dos tipos de
REEE armazenados nas cooperativas e origem
e destinação dos mesmo;
Análise de riscos químicos através de Ficha de
Informações Sobre Produtos Químicos – FISPQ;
Uso da NBR 16156:2013 para elaboração de
material instrucional para manejo de REEE
Cooperativas devidamente registradas junto a
Companhia Municipal de Urbanização: 14
•
Cooperativas visitadas: 10
•
Cooperativas não localizadas: 04
•
Recebem REEE: 10
•
Responderam ao Questionário: 04
•
Quantificam o REEE recebidos: 00
•
Origem dos REEE: Programa “Cata-Treco”,
comunidade
local
e
parcerias
com
Figura 1 - Mapa de distribuição geográfica de doze cooperativas relacionando-as com a topografia e hidrografia do município de
Goiânia. Fontes: Cartas topográficas – IBGE 2010 (Datum: SIRGAS2000) Topografia SRTM 90m; Hidrografia: Agência Nacional de Águas – ANA; Cooperativas: Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia – AMMA. Elaboração do Mapa: Cleiton Santos.
Figura 2 - Acondicionamento de monitores de TV (CRT) em Cooperativa de Catadores de Materiais
Figura 3 - Acondicionamento de gabinetes monitores (CRT) de computador em Cooperativa de Catadores
Figura 4 - Acondicionamento de geladeira Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis II em Goiânia
– Foto: C. Santos
Figura 5 - Aspecto visual geral do espaço destinado para segregação de materiais não perigosos
Local Tipo de REEE Frequência de
recebimento Tratamento Armazenamento
ACOP Celulares, monitores de TV e computador (tubo, plasma e LCD), ventiladores, condicionador de ar, geladeiras, lâmpadas, liquidificadores, pilhas e baterias. Média de 05 equipamentos por caminhão Desmontam os REE
para retirada do cobre.
São armazenados em bags dentro do galpão ao abrigo de luz e calor forte. COOPER - MAS Monitores de TV e computadores (tubo, plasma e LCD), ventiladores, condicionador de ar, geladeiras. Esporadicamente Realizam retirada de PCI (placas de circuito
impresso) dos computadores e retirada do cobre de outros REE. São armazenados em bags dentro do galpão ao abrigo de luz e calor forte devidamente separados dos demais materiais.
Tabela 1 - Relação de Cooperativas que responderam ao questionário informando os tipos de resíduos
COOPER-RAMA Celulares, monitores de TV e computador (tubo, plasma e LCD), ventiladores, condicionador de ar, geladeiras, lâmpadas, liquidificadores, pilhas e baterias. Esporadicamente Possui 02 cooperados treinados para o desmonte de equipamentos de informática, elétricos e
eletrônicos que são
responsáveis pelo
manejo deste tipo de
material. Realizam separação de peças para reuso ou reciclagem. Mantém os REE armazenados sob mesas em baixo de tenda ao abrigo de luz e calor forte. A AMBIENTAL Monitores de TV e computadores (tubo, plasma e LCD), ventiladores, condicionador de ar, geladeiras. Esporadicamente
Recebem apenas REE montados apenas para
armazenamento e
posterior venda, não
fazem desmonte dos
equipamentos para
retirada de
componentes.
Armazenam os
equipamentos em local coberto com solo
impermeabilizado, sob proteção de luz e calor forte.
Continuação da Tabela 1 - Relação de Cooperativas que responderam ao questionário informando os tipos
de resíduos recebidos, frequência de recebimento, tratamento dado ao REEE e condições de armazenamento.
Quadro 2 - Elementos/compostos químicos presentes em REEE e seus potenciais efeitos ao meio ambiente
(adaptado)
Metal Presente em Comportamento no meio ambiente
Cobre (Cu) Cabos, fios e
conectores
O cobre elementar não se degrada no ambiente. Pode ser
encontrados em animais (ostras e mexilhões), plantas, alimentos e bebidas. As partículas, dependendo do tamanho, sofrem
deposição seca ou são arrastadas pela água da chuva.
Chumbo
(Pb) Soldas, PCI
A contaminação da água ocorre principalmente por efluentes industriais, sobretudo de siderúrgicas. O Pb pode estar presente na água de torneira como resultado de sua dissolução a partir de fontes naturais, principalmente por tubulações, soldas, acessórios e conexões contendo chumbo.
Cádmio (Cd) Recobrimento de ferrosos, baterias recarregáveis, estabilizadores de produtos de PVC e soldas
Ocorre no ambiente na forma particulada suspensa, pode ser
volátil e ser transformado em vapor em temperaturas
extremamente altas, em processos de incineração é liberado na forma de sal: cloreto de cádmio que tem maior mobilidade na água (CETESB, 2012).
Manganês
(Mn) Pilhas e baterias.
No meio ambiente tem maior exposição organismos como algas, moluscos e alguns peixes pela biomagnificação na cadeia alimentar.
Fonte: Adaptado de UNEP, 2009; CETESB, 2012 (Ficha de Informações Toxicológicas - FIT) e International Agency for Research
A exposição direta ou por cadeia de bioacumulação
a substâncias como os metais tóxicos presentes nos
REEE, tem sido objeto de grande discussão entre
pesquisadores que avaliam processos de trabalhos que
expõe os trabalhadores a fatores de vulnerabilidade pelas
condições de trabalho assim como o desencadeamento de
contaminação por lixiviação pelo manejo inadequado de
REEE.
UNEP (2009) apresenta resultados surpreendentes
sobre a geração de REEE em países emergentes. Em um
caso específico da quantidade de CO
2emitido para
produção
de
metais
usados
na
fabricação
de
equipamentos eletroeletrônicos sob a demanda do ano de
2006, os resultados registram a marca de 23,4 toneladas
de CO
2. Percebendo-se assim
que a problemática discutida inicia-se na produção dos
equipamentos e ampliam-se com o descarte pós-consumo.
O alto valor agregado aos componentes de REEE o
destaca entre outros demais recicláveis que em geral
possuem
baixo
valor
de
mercado.
Isso
reforça
a
necessidade
de
políticas
públicas
destinadas
a
estruturação e qualificação de grupos de catadores de
materiais recicláveis organizados em cooperativas ou
associações, minimizando a exposição destes a fatores de
vulnerabilidade ocupacional.
Conclui-se
que
há
uma
ineficiência
no
gerenciamento
de
REEE
no
município
de
Goiânia,
apontada
pela
incoerência
de
alguns
equipamentos
eletroeletrônicos serem destinados, pelo serviço de coleta
seletiva,
às
cooperativas
que
ainda
não
possuem
estruturas físicas e legais para dispensar o tratamento
adequado a esta categoria de material, embora, uma vez
que de posse desses equipamentos, o máximo que as
mesmas podem fazer é armazená-los ao abrigo de luz,
calor forte e umidade.
A segregação dos equipamentos praticada pelas
cooperativas que forneceram os dados, não aponta riscos
ocupacionais e/ou ambientais desde que não se realize o
desmonte.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS: NBR 10004:2004. Resíduos Sólidos- Classificação, ABNT 2004, Brasil.
____ NBR 16156:2013. Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos – Requisitos para atividades de manufatura reversa, ABNT 2013, Brasil.
BRASIL, Decreto 7.404 de 23 de dezembro de 2010. Regulamenta a Lei no
12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa,
e dá outras providências. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/Decreto/D7404.htm>, acesso em 15 de março de 2014.
BRASIL, Lei 12.305 de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá
outras providências. Disponível em
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