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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0000.19.104133-4/001

Número do Númeração

5003341-Des.(a) Estevão Lucchesi Relator:

Des.(a) Estevão Lucchesi Relator do Acordão:

01/11/2019 Data do Julgamento:

01/11/2019 Data da Publicação:

APELAÇÃO AÇÃO DE INDENIZAÇÃO AMBIENTE DE TRABALHO -OFENSAS - LESÃO A DIREITO DE PERSONALIDADE. Comprovada nos autos a ofensa realizada por superior hierárquico na presença dos demais funcionários, bem como o elevado constrangimento suportado pela demandante, deve ser reconhecida a existência de lesão a direito de personalidade. Doutrina e jurisprudência são uníssonas em reconhecer que a fixação do valor indenizatório deve-se dar com prudente arbítrio, para que não ocorra enriquecimento de uma parte, em detrimento da outra, bem como para que o valor arbitrado não seja irrisório, observados na situação fática os critérios da razoabilidade e proporcionalidade, tal como assentado pelo STJ. APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.19.1041334/001 COMARCA DE BETIM -APELANTE(S): MARIA ANGELICA DUARTE ANICIO - APELADO(A)(S): ERIKA ALESSANDRA MENEZES ROCHA

A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 14ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. ESTEVÃO LUCCHESI RELATOR.

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DES. ESTEVÃO LUCCHESI (RELATOR)

V O T O

Cuida-se de ação de indenização por danos morais ajuizada por MARIA ANGÉLICA DUARTE ANÍCIO contra ERIKA ALESSANDRA MENEZES ROCHA. Em sua inicial a demandante disse que "é servidora pública efetiva do Município de Betim, atuando como enfermeira (COREN/MG 217.728), Matrícula nº 09517, lotada na UBS Antônio Sabino (bairro Imbiruçu) desde o mês de Janeiro/2015, sendo certo que Ré, Sra. Érika Alessandra Rocha, é a gerente da Unidade de Saúde em questão". Informou que "a Autora e a mencionada gerente da Unidade de Saúde, integram um grupo de whatsapp, composto por mais 04 (quatro) colegas de trabalho, todas trabalham como enfermeiras e também lotadas na referida Unidade, sendo certo que o grupo em questão foi criado com o único propósito de discutir e aperfeiçoar o dia a dia do processo de trabalho da unidade". Aduziu que "em determinada data, entre o final do mês de janeiro e início do mês de fevereiro de 2017, a Autora e demais enfermeiras, participaram de uma reunião junto à Secretaria de Assistência Social do Município de Betim, ocasião em que a Ré estava ausente". Asseverou que "na referida reunião, a assistente social, Sra. Mônica Villas Boas, informou que o Município realizaria um curso de capacitação sobre medidas prevencionistas e de tratamento da Dengue, bem como que cada Unidade de Saúde deveria indicar um profissional qualificado como médico para participar da referida capacitação". Alegou que diante do silêncio das demais profissionais indicou o Dr. Rodolfo da Silva Paro para comparecimento no curso.

Disse que "ao notar que a Ré estava debatendo com as demais enfermeiras sobre qual profissional médico seria indicado para comparecer à capacitação, visando evitar conflitos de informações, a Autora informou no grupo de whatsapp, que na reunião realizada junto à assistente social, havia ficado acertado o comparecimento do Dr. Rodolfo da Silva Paro". Afirmou ter

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de mensagem de áudio pela ré no grupo das enfermeiras com o seguinte teor: "Pra mim tanto faz. Só que a gente tem que ficar de olho. Nós duas juntas temos que vencer aquela DESGRAÇA daquela Angélica. Entendeu. A gente pega os cursos, já faz o sorteio, já fala na hora. O chefe tem que fazer isso rápido pra essa VACA, eu já vou fazer isso rápido pra essa VACA não fica matando nós de raiva". Defendeu ter ficado "profundamente abalada com a atitude equivocada da Ré". Sustentou que "se sentido ofendida do ponto de vista ético e profissional diante das demais colegas de trabalho, abriu uma Reclamação junto à Ouvidora SUS Betim, Protocolo nº 0341/2017" e "solicitou a transferência de sua lotação para outra unidade de saúde do Município de Betim, considerando a dificuldade de bom relacionamento interpessoal junto à Ré em razão do ocorrido entre as duas partes". Afirmou que "ao saber do Procedimento aberto pela Autora junto à Ouvidoria do SUS Betim, a Ré, no dia 22/02/2017, realizou uma reunião geral junto aos servidores da Unidade de Saúde Imbiruçu, momento no qual, além de debater diversos outros assuntos relacionados à rotina de trabalho na Unidade de Saúde em questão, a Ré, com o objetivo de se retratar perante as colegas de trabalho da Autora, constou em ata que 'a gerente Érika Alessandra se retratou diante de todos os presentes quanto ao fato ocorrido com a Enfermeira Maria Angélica no grupo de whatsapp das enfermeiras ao se referir à servidora".

Aduziu que "os dizeres 'desgraçada' e 'vaca', ultrajantes por si só, foram proferidos com a clara intenção de macular a honra, a imagem, a tranqüilidade psicológica da Autora em seu ambiente trabalho, posto que, obviamente, tais termos, nem de longe, representam a forma de tratamento que deva ser dispensada por qualquer profissional em seu ambiente de trabalho, principalmente quando tais palavras, na espécie, foram direcionadas à Autora por sua Superior hierárquico dentro da Unidade de Saúde em que ambas estavam lotadas". Alegou que a "retratação" da demandada "deu publicidade à situação ao descrevê-la de forma genérica perante todos os demais funcionários da Unidade de Saúde, atitude essa que ao invés de atenuar os efeitos da conduta ilícita, acabou agravando-a, na medida em que gerou curiosidade e consequentes perguntas indiscretas por

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parte dos demais colaboradores da unidade, materializando verdadeira exposição da imagem e honra da Autora em seu local de trabalho". Desta forma, requereu a condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais.

O Juízo da 3ª Vara Cível da Comarca de Betim julgou improcedente o pedido inicial.

Em seu recurso de apelação a autora defende que "a r. sentença não ponderou o fato de que a Apelada não se utilizou da 'sensação de anonimato' para proferir as ofensas verbais em face da Apelante, vez que tais ofensas foram praticadas em um grupo de whatsapp integrado pelas partes e por mais 04 (quatro) pessoas colegas de trabalho". Sustenta que "a Apelada, agindo de maneira equivocada, em verdadeira intenção de ofender a ora Apelante, diante das demais colegas de trabalho de ambas as partes, proferiu palavras cujos dizeres agrediram a honra da Apelada, do ponto de vista ético profissional e principalmente do ponto de vista moral, em verdadeiro constrangimento que lhe trouxe profundos abalos emocionais no ambiente de trabalho". Diz que "a própria Apelada, ao longo da instrução processual, reconheceu a existência e autoria do áudio descrito acima, o que torna incontroverso o fato de que as palavras que constam na degravação foram por ela proferidas no grupo de whatsapp das enfermeiras lotadas na Unidade de Saúde Imbiruçu". Aduz que "não foi a Apelante quem deu publicidade à conduta ilícita praticada pela Apelada, posto que conforme restou demonstrado ao longo da instrução processual, foi a Apelada que de forma equivocada, convocou uma reunião com todos os servidores que atuavam na Unidade de saúde e dentre outros assuntos a serem tratados naquela oportunidade, deu publicidade ao ocorrido no referido grupo de whatsapp, registrando um 'pedido de retratação' em

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ata". Assevera que "os termos utilizados pela Apelada ao ser dirigir à Apelante, tais como 'desgraçada' e 'vaca', em um grupo de whatsapp integrado por outras pessoas que formavam a equipe de trabalho, grupo esse criado exclusivamente para tratativas referentes à rotina de trabalho, não podem ser tidos como 'corriqueiras no trato interpessoal".

Não foram apresentadas contrarrazões.

Conheço do recurso, pois presentes seus requisitos de admissibilidade.

Como se sabe, o dano moral tem origem na violação de direito de personalidade do ofendido. Nesse sentido é o magistério de SÉRGIO CAVALIERI, porquanto o renomado autor define o dano moral como: A lesão a bem integrante da personalidade, tal como a honra, a liberdade, a saúde, a integridade psicológica, causando dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação à vítima. (Sérgio Cavalieri. Programa de Responsabilidade Civil. 2ª edição. Editora Malheiros. página 74)

Chancelando a mencionada definição de dano moral, CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA nos ensina que:

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O fundamento da reparabilidade pelo dano moral está em que, a par do patrimônio em sentido técnico, o indivíduo é titular de direitos integrantes de sua personalidade, não podendo conformar-se a ordem jurídica em que sejam impunemente atingidos. ("Responsabilidade civil", 9. ed., Rio de Janeiro, Forense, 2.001, p. 54)

Nessa quadra, confira-se trecho de judicioso artigo elaborado por PAULO LUIZ NETTO LÔBO, no qual este demonstra a estreita relação existente entre os direitos de personalidade e a indenização por danos morais:

A interação entre danos morais e direitos da personalidade é tão estreita que se deve indagar da possibilidade da existência daqueles fora do âmbito destes. Ambos sofreram a resistência de grande parte da doutrina em c o n s i d e r á - l o s o b j e t o s a u t ô n o m o s d o d i r e i t o . A m b o s o b t i v e r a m reconhecimento expresso na Constituição brasileira de 1988, que os tratou em conjunto, principalmente no inciso X do artigo 5, que assim dispõe: "X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;" (...)

Os direitos da personalidade, nas vicissitudes por que passaram, sempre esbarraram na dificuldade de se encontrar um mecanismo viável de tutela jurídica, quando da ocorrência da lesão. Ante os fundamentos patrimonialistas que determinaram a concepção do direito subjetivo, nos dois últimos séculos, os direitos de personalidade restaram alheios à dogmática civilística. A recepção dos

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danos morais foi o elo que faltava, pois constituem a sanção adequada ao descumprimento do dever absoluto de abstenção".

O mencionado jurista ainda nos lembra que para existência de dano moral basta a lesão de direito da personalidade, não havendo necessidade de comprovação de prejuízo e tampouco de fatores psicológicos dificilmente verificáveis no caso concreto:

Do mesmo modo, os danos morais se ressentiam de parâmetros materiais seguros, para sua aplicação, propiciando a crítica mais dura que sempre receberam de serem deixados ao arbítrio judicial e à verificação de um fator psicológico de aferição problemática: a dor moral. (...)

De modo mais amplo, os direitos de personalidade oferecem um conjunto de situações definidas pelo sistema jurídico, inatas à pessoa, cuja lesão faz incidir diretamente a pretensão aos danos morais, de modo objetivo e controlável, sem qualquer necessidade de recurso à existência da dor ou do prejuízo. A responsabilidade opera-se pelo simples fato da violação (damnu in re ipsa); assim, verificada a lesão a direito da personalidade, surge a necessidade de reparação do dano moral, não sendo necessária a prova do prejuízo, bastando o nexo de causalidade. (...) (LÔBO, Paulo Luiz Netto. Danos morais e direitos da personalidade. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 119, 31 out. 2003. Disponível em: . Acesso em: 7 dez. 2011)

No caso em apreço, a conduta da demandada sem dúvida alguma ensejou lesão a direito de personalidade, pois fez com que a autora suportasse um constrangimento fora do comum em seu ambiente de trabalho.

Com efeito, o uso por parte da gerente das expressões "desgraçada" e "vaca" para se referir à autora perante as demais enfermeiras é circunstância extremamente ultrajante e que, por isso, data venia, não pode ser considerado um mero dissabor natural do

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cotidiano e muito menos um "algo corriqueiro no trato interpessoal" como constou na sentença.

Neste contexto, importante salientar que as ofensas foram realizadas por superior hierárquico, fato que sem dúvida alguma eleva as consequências advindas do dano causado ao direito de personalidade.

Além disso, o pedido de desculpas realizado em reunião concedeu ainda mais publicidade ao fato, aumentando em demasia o constrangimento suportado pela demandante, conforme demonstra o seguinte trecho do depoimento da Sra. Ana Raquel Paolinelli Silveira:

...depois que a ré mandou mensagem de whatsapp, ela fez uma reunião com todos os servidores da unidade e falou que estava ali para pedir desculpa para a Maria Angélica; eu acho que expôs ainda mais a autora, visto que ela pediu desculpa na frente de todos os servidores (...) que a ré não falou coisa alguma sobre os fatos; a ré simplesmente pediu desculpas à autora por sua conduta; isso teria intrigado os demais servidores da unidade de saúde, levando-se em conta que o grupo de whatsapp era composto somente pelas enfermeiras (...) o posto inteiro ficou sabendo dos fatos depois da reunião em que a Érika pediu desculpas à Maria Angélica; (Destaquei)

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Tavares afirmou em juízo que:

...ela pediu desculpas à autora perante todos os servidores do PSF que estavam presentes à reunião; houve um constrangimento, visto que as pessoas que não tinham conhecimento dos fatos, começaram a abordar a Angélica sobre o que tinha acontecido;(...) eu acredito que a orientação do pedido de desculpas tenha partido da ouvidoria da Secretaria da Saúde; mas foi uma forma que colocou a Angélica mais constrangida; o clima ficou muito ruim para a Angélica. (Destaquei)

Neste contexto, a despeito de qualquer orientação da ouvidoria, revela-se absolutamente correta a ponderação realizada pela demandante em seu recurso de apelação:

"tivesse a Apelada tido verdadeiro interesse em se retratar-se de forma adequada, teria agendado a referida reunião somente com as pessoas que tinham pleno conhecimento do acontecido, com o fim de retratar-se perante a Apelante e as demais colegas de trabalho que presenciaram o fato, evitando, pois, nova exposição desnecessária perante todos os demais funcionários do posto de saúde, que no caso, não tinham conhecimento da referida agressão verbal".

Outrossim, a nefasta repercussão dos fatos levou a demandante a pedir transferência e encontra-se devidamente demonstrada nos depoimentos colhidos:

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enfermeiras e pela chefe, que era a ré; eu escutei a mensagem na minha casa, quando eu chequei no serviço, encontrei a autora chocada, chocada no sentido de estar triste, humilhada, indignada.

Que Érika chegou na frente de todos os servidores do Posto de Saúde e falou eu vou aproveitar e pedir desculpas para a Angélica; ela falou só isso; a partir desse momento a autora já começou a solicitar a transferência da unidade, porque não queria mais ser gerenciada pela ré

Impõe-se, então, concluir que a sentença deve ser reformada para que seja reconhecida a existência de lesão a direito de personalidade. Deste Tribunal de Justiça, confira-se:

APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO - DANOS MORAIS - OFENSAS NO AMBIENTE DE TRABALHO - COMPROVAÇÃO - INDENIZAÇÃO DEVIDA. I - Ao dever de reparar impõe-se configuração de ato ilícito, nexo causal e dano, nos termos dos arts. 927, 186 e 187 do CC/02. II - Comprovadas nos autos as ofensas verbais (xingamentos e insultos) proferidas pelo réu, no ambiente de trabalho dos autores, e a situação vexatória decorrente da conduta, resta caracteriza a ofensa à honra dos autores, ao que deve ser f i x a d a r e p a r a ç ã o c o r r e s p o n d e n t e . ( T J M G - A p e l a ç ã o C í v e l 1.0430.15.000205-2/001, Relator(a): Des.(a) João Cancio , 18ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 12/09/2017, publicação da súmula em 15/09/2017) INDENIZAÇÃO - DANOS MORAIS - OFENSAS NO AMBIENTE DE TRABALHO - COMPROVAÇÃO - INDENIZAÇÃO DEVIDA - Ao dever de reparar impõe-se configuração de ato ilícito, nexo causal e dano, nos termos dos artigos, 927, 186 e 187 do Código Civil. II - Comprovadas nos autos as ofensas verbais (xingamentos e palavrões) proferidas pelas rés, no ambiente de trabalho da parte autora, e a situação vexatória, decorrente da conduta, resta caracteriza a ofensa à honra

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da autora, ao que deve ser fixada reparação correspondente. III - Ausentes parâmetros legais para fixação do dano moral, mas consignado, no artigo 944, do Código Civil, que a indenização mede-se pela extensão do dano, o valor fixado, a este título, deve assegurar reparação suficiente e adequada para compensação da ofensa suportada pela vítima e para desestimular-se a prática reiterada da conduta lesiva pelo ofensor. (TJMG - Apelação Cível 1.0525.13.007901-1/001, Relator(a): Des.(a) Newton Teixeira Carvalho , 13ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 24/11/2016, publicação da súmula em 02/12/2016)

Sob outro enfoque, sabe-se que a fixação do valor da indenização por danos morais é questão tormentosa e constitui tarefa extremamente difícil imposta ao magistrado. Sobre o dano moral, Sérgio Cavalieri leciona com maestria:

Em suma, a composição do dano moral realizarse através desse conceito -compensação - que, além de diverso do de ressarcimento, baseia-se naquilo que Ripert chamava ' substituição do prazer que desaparece, por um novo'. Por outro lado, não se pode ignorar a necessidade de se impor uma pena ao causador do dano moral, para não passar impune a infração e, assim, estimular novas agressões. (CAVALIEIRI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 2ª edição. Malheiros. página 76)

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Nesse diapasão, doutrina e jurisprudência convergem no sentido de que para a fixação do valor da compensação pelos danos morais deve-se considerar a extensão do dano experimentado pela vítima, a repercussão no meio social, a situação econômica da vítima e do agente causador do dano, para que se chegue a uma justa composição, evitando-se, sempre, que o ressarcimento se transforme numa fonte de enriquecimento injustificado ou seja inexpressivo a ponto de não retribuir o mal causado pela ofensa.

Em outras palavras, o valor fixado deve observar os critérios da razoabilidade e proporcionalidade, tal como assentado pelo STJ:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. HERDEIROS. LEGITIMIDADE. QUANTUM DA INDENIZAÇÃO FIXADO EM VALOR EXORBITANTE. NECESSIDADE DA REDUÇÃO. RESPEITO AOS PARÂMETROS E JURISPRUDÊNCIA DO STJ. PRECEDENTES. (...) 2. O critério que vem sendo utilizado por essa Corte Superior na fixação do valor da indenização por danos morais, considera as condições pessoais e econômicas das partes, devendo o arbitramento operar-se com moderação e razoabilidade, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de forma a não haver o enriquecimento indevido do ofendido, bem como que sirva para desestimular o ofensor a repetir o ato ilícito. (STJ, AgRg no Ag 850273 / BA, Quarta Turma, Relator Min. Honildo Amaral de Mello Castro, j. 03/08/2010)

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Nesse sentido é a lição de Sérgio Cavalieri, senão vejamos:

(...) não há valores fixos, nem tabelas preestabelecidas, para o arbitramento do dano moral. Esta tarefa cabe ao juiz no exame de cada caso concreto, atentando para os princípios aqui enunciados e, principalmente, para o seu bom senso prático e a justa medida das coisas. (ob. cit., p. 183)

E o magistério de Maria Helena Diniz e de Caio Mário da Silva não discrepa:

(...) na ausência de um padrão ou de uma contraprestação que dê o correspectivo da mágoa, o que prevalece é o critério de atribuir ao juiz o arbitramento da indenização (...). (Caio Mário, Instituições de Direito Civil", vol II, Forense, 7ª ed.., pág. 316)

Na reparação do dano moral, o magistrado deverá apelar para o que lhe parecer eqüitativo ou justo, agindo sempre com um prudente arbítrio, ouvindo as razões das partes, verificando os elementos probatórios, fixando moderadamente uma indenização. O valor do dano moral deve ser estabelecido com base em parâmetros razoáveis, não podendo ensejar uma fonte de enriquecimento nem mesmo ser irrisório ou simbólico. A reparação deve ser justa e digna. Portanto, ao fixar o quantum da indenização, o juiz não procederá a seu bel prazer, mas como um homem de responsabilidade, examinando as circunstâncias de cada caso, decidindo com fundamento e

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(DINIZ, Maria Helena. Revista Jurídica Consulex, n. 3, de 31.3.97).

Assim, considerando as particularidades do caso concreto, sobretudo as consequências das ofensas proferidas e o caráter pedagógico da condenação, fixo indenização por danos morais em R$ 12.000,00 (doze mil reais), valor que reputo justo e razoável.

A correção monetária deverá incidir a partir da publicação da decisão (súmula 362 do STJ) e os juros desde o evento danoso (súmula 54 do STJ)

Por todo o exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso para condenar a ré ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ 12.000,00 (doze mil reais), com correção monetária, pela tabela da Corregedoria de Justiça, desde a publicação desta decisão e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir do evento danoso (data de envio da mensagem no grupo).

Custas recursais, processuais e honorários de sucumbência, que fixo em 15% (quinze por cento) da condenação pela demandada, suspensa a exigibilidade, uma vez que lhe defiro os benefícios da justiça gratuita.

DES. MARCO AURELIO FERENZINI - De acordo com o(a) Relator(a). DES. VALDEZ LEITE MACHADO - De acordo com o(a) Relator(a).

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