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PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE IDOSOS PORTADORES DE HIV/AIDS ATENDIDOS NO HOSPITAL DE DOENÇAS TROPICAIS (HDT), EM GOIÂNIA

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Resumo: esta pesquisa apresentou como objetivo traçar o

per-fil epidemiológico, no período de 1999 a 2006, de idosos portadores do vírus HIV/Aids atendidos no Hospital de Doenças Tropicais (HDT) de Goiânia (GO). Com base nos dados obtidos, sugere-se a implantação de medidas efetivas e imediatas para proteger, contro-lar, promover e prevenir problemas como o HIV/Aids, associados ao processo de envelhecimento.

Palavras-chave: pesquisa epidemiológica, HIV/Aids, idosos Ruth Losada de Menezes, Bárbara Stival Gonçalves,

Camila do Carmo Castro

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE IDOSOS PORTADORES DE HIV/AIDS ATENDIDOS

Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) é uma doença que se manifesta após a infecção do organismo humano pelo vírus da imunodefi-ciência humana, mais conhecido como Human Immunodeficiency Vírus (HIV). Os pacientes infectados pelo HIV apresentam um espectro de ma-nifestações que vai desde a ausência de sintomas até a Aids, ou seja, pacientes que apenas portam o vírus até pacientes que já desenvolveram a imunode-ficiência (GOLDMAN; AUSIELLO, 2002).

O HIV age no interior das principais células do sistema imunológico, os linfócitos (células responsáveis pela defesa do nosso organismo). Ao en-trar nessa célula, o HIV se integra ao seu código genético. Entre os linfócitos, o tipo mais atingido pelo vírus é o chamado linfócito TCD4, usado pelo HIV para gerar cópias de si. As células infectadas pelo vírus começam a fun-cionar com menos eficiência até serem destruídas. Dessa forma, com o pas-sar do tempo, a habilidade do organismo para combater doenças comuns diminui, permitindo, então, o aparecimento de doenças oportunistas,

cha-NO HOSPITAL DE DOENÇAS TROPICAIS (HDT), EM GOIÂNIA

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madas assim por surgirem nos momentos em que o sistema imunológico do indivíduo está enfraquecido (MS, 2006).

O período de incubação é o intervalo de tempo entre a exposição ao vírus até o surgimento de alguns sintomas, como febre e mal-estar (fase ini-cial). O período médio de incubação do vírus é estimado em três a seis se-manas. A produção de anticorpos inicia-se de 8 a 12 semanas após a infecção (MS, 2006).

A fase assintomática é o estágio em que a pessoa infectada não apre-senta qualquer sintoma. Esse período de latência do vírus é marcado pela forte interação entre o sistema imune e as constantes e rápidas mutações do vírus. Durante essa fase, os vírus amadurecem e morrem de forma equilibra-da (MS, 2006).

A fase final corresponde à redução crítica de células T, tipo CD4, que chegam abaixo de 200 unidades por mm³ de sangue (adultos saudáveis pos-suem de 800 a 1.200 unidades). Nessa fase, surgem os sintomas típicos da Aids, como diarréia persistente, dores de cabeça, contrações abdominais, fe-bre, falta de coordenação, náuseas, vômitos, fadiga extrema, perda de peso, câncer (MS, 2006).

Os primeiros casos foram descobertos e definidos como Aids em 1982, nos EUA e no Brasil (São Paulo), sendo neste mesmo ano temporariamente adotado o nome de 5H – Homossexuais, Hemofílicos, Haitianos, Heroinômanos (usuários de heroína injetável) e Hookers (profissionais do sexo em inglês). Depois, foram descobertos casos em crianças e mulheres: em 1984, a equipe de Luc Montagner, do Instituto Pasteur, na França, iso-lou e caracterizou um retrovírus (vírus mutante que se transforma conforme o meio em que vive) como causador da Aids (MS, 2006).

Em 1987, o total de casos notificados no Brasil eram 2.775. Em 1991, iniciou-se o processo para a aquisição e distribuição gratuita de anti-retrovirais (medicamentos que dificultam a multiplicação do HIV) (MS, 2006).

Dez anos depois de a Aids ser identificada, o total de pessoas infectadas de acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS) contabilizava dez milhões em todo o mundo (MS, 2006).

Em 1996, notificou-se que a infecção aumentara entre as mulheres (feminização), dirigia-se para os municípios do interior dos estados brasilei-ros (interiorização) e aumentava significativamente na população de baixa escolaridade e baixa renda (pauperização). O total de casos notificados no Brasil nesse ano foi 22.343 (MS, 2006).

Em 1999, Marylin, um chimpanzé fêmea, ajuda a confirmar que o Simian Immunodeficiency Virus ou Vírus da Imunodeficiência dos Símios

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(SIV) foi transmitido para seres humanos e sofreu mutações, transforman-do-se no HIV, mediante testes genéticos que mostram que o HIV é bas-tante similar ao SIV, que infecta os chimpanzés, mas não os deixa doentes. O total de casos notificados no Brasil em 1998-1999 (até agosto) foi de 22.102 (MS, 2006).

Em 2000, a XIII Conferência Internacional sobre Aids, em Durban, na África do Sul, denunciou ao mundo a mortandade na África. Dezessete milhões de pessoas morreram de Aids no continente, das quais 3,7 milhões eram crianças. A partir do acordo promovido pelas Nações Unidas, cinco grandes companhias farmacêuticas concordaram em diminuir o preço dos remédios usados no tratamento da Aids para os países em desenvolvimento (MS, 2006). Assim, receber diagnóstico de Aids há alguns anos atrás era con-siderado quase uma sentença de morte. Atualmente, porém, a Aids já pode ser considerada uma doença crônica. Isto significa que uma pessoa infectada pelo HIV pode viver com o vírus, por um longo período, sem apresentar nenhum sintoma ou sinal. Isso tem sido possível graças aos avanços tecnológicos e às pesquisas, que propiciam o desenvolvimento de medica-mentos cada vez mais eficazes e com efeitos colaterais minimizados. Deve-se, também, à experiência obtida ao longo dos anos por profissionais de saúde. Todos estes fatores possibilitam aos portadores do vírus ter uma sobrevida cada vez maior e de melhor qualidade.

A epidemia do HIV/Aids constitui fenômeno global, dinâmico e ins-tável, revela-se de múltiplas dimensões e vem sofrendo transformações epidemiológicas significativas (BRITO; CASTILHO; SZWARCWALD, 2001). Essas mudanças no perfil epidemiológico no Brasil são reflexos das grandes diferenças sociais. A epidemia, que inicialmente era ‘restrita’ a ho-mossexuais, hemofílicos e usuários de drogas injetáveis dos grandes centros urbanos, agora se propaga entre as mulheres e heterossexuais, pessoas de baixa renda e aos pequenos centros urbanos. Isso ocorre pelo fato de que a baixa escolaridade e o não conhecimento sobre a doença e sua prevenção, o cres-cente número de usuários de drogas nas pequenas cidades do interior do país e o aumento do número de transmissão entre casais heterossexuais ali-ado a não utilização de preservativos entre pessoas casadas proporcionaram a mudança no perfil epidemiológico da doença.

É notória, também, a mudança nas incidências da Aids por faixa etária: em todas as faixas etárias, ocorreram estabilização, com exceção das pessoas entre cinqüenta e setenta anos. Tais mudanças podem ser resultados do au-mento das relações sexuais mantidas pelos adultos maiores de cinqüenta anos que, provavelmente por questões educativas, culturais, econômicas, entre

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outras, deixam de usar preservativos. Portanto, em pouco tempo a tendên-cia é de que haverá um grande número de idosos com Aids (BRITO; CASTILHO; SZWARCWALD, 2001).

Surgem, então, questionamentos sobre a epidemia da Aids entre os idosos que têm sexualidade ativa e, portanto não deixam de praticar sexo por causa da idade, e os infectados pelo HIV na faixa etária de 35-50 anos que, apesar de não desenvolver a doença pelo uso de antiretrovirais, que aumentam sua sobrevida, em pouco tempo, ficarão idosos com Aids (FEITOZA; SOUZA; ARAÚJO, 2004).

Vale a pena lembrar que, pela Constituição da República Federativa do Brasil, os portadores do HIV, assim como todo e qualquer cidadão bra-sileiro, têm obrigações e direitos garantidos, tais como dignidade humana e acesso à saúde pública e, por isso, estão amparados pela lei (MS, 2006).

Quanto ao interesse pelo tema, justifica-se que surgiu após a leitura de várias reportagens, artigos e outras fontes sobre o crescimento de tal doença nessa faixa etária. Raros são os dados sobre os aspectos epidemiológicos desse grupo portador de HIV/Aids, as informações são escassas e o debate na sociedade civil sobre o assunto é quase inexistente.

Segundo dados do Ministério da Saúde, 2% da população acima de sessenta anos são portadores do vírus HIV, o que significa que 5.500 idosos têm a doença (JORNAL DO BRASIL, 2006).

A falta de campanhas de orientação e prevenção da AIDS destinadas à população idosa faz com que fiquem menos informados sobre o HIV que os jovens e menos conscientes de como se proteger da infecção.

Considerando, portanto, o aumento da prevalência de infecção pelo HIV em idosos, bem como a escassez de estudos sobre tal assunto, foi pro-posto este estudo no sentido de não só compreender melhor tal assunto, como também conhecer a prevalência desta infecção na população aten-dida no HDT, na capital e cidades goianas e em outros estados. O presente estudo teve como objetivo traçar o perfil epidemiológico do período de 1999 a 2006 de idosos portadores do vírus HIV/Aids atendidos no HDT, Goiânia (GO).

Os resultados obtidos poderão auxiliar no desenvolvimento de estra-tégias de conscientização geral, com destaque aos profissionais da área da saúde, para atuarem com maior rigor na realização de campanhas de preven-ção da Aids e para alertarem aos idosos sobre a importância da prevenpreven-ção quanto a esta doença, quando esses se apresentarem aos consultórios para consultas de rotina, e, com tais medidas, espera-se diminuir relativamente o número de casos de idosos com Aids.

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MÉTODOS

Tratou-se de um estudo descritivo transversal e retrospectivo, medi-ante a análise de prontuários de pacientes idosos portadores de HIV/Aids. A pesquisa foi realizada no HDT de Goiânia (GO), que é referência no tratamento de portadores do vírus HIV/Aids da região Centro-Oeste.

O projeto foi encaminhado à direção do hospital e ao Comitê de Ética em Pesquisa Humana e Animal do Hospital Geral de Goiânia, onde se obteve autorização para sua execução e parecer ético favorável para sua realização. Participaram do estudo pacientes que atenderam aos seguintes crité-rios de inclusão: ambos os sexos, ter idade igual ou maior a sessenta anos; ter estado ou estar atualmente em acompanhamento no serviço, infectados pelo vírus HIV com ou sem a sintomatologia da doença desenvolvida e que te-nha dado entrada no hospital no período de 1999 a 2006. Os critérios de exclusão foram os prontuários com dados incompletos.

Foram agendados data e horário para o desenvolvimento dos procedi-mentos de coleta de dados. Para a coleta de dados nos prontuários, foi elaborado um questionário, empregado pelas pesquisadoras, onde constaram: identifica-ção – número do prontuário, data de nascimento, idade, sexo, estado civil, es-colaridade, cidade e estado de origem; história clínica e comportamental; via de contaminação; paciente assintomático e sintomático; usuário de terapia antiretroviral; ano do diagnóstico; doenças oportunistas; ocorrência de óbito.

Os dados foram tratados como privilegiados e foi garantido sigilo quanto à identidade dos pacientes.

Para a análise dos dados, utilizamos os testes Qui-Quadrado e teste Exato de Fisher. Os resultados foram considerados significativos no nível de significância de 5% (p = < 0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram investigados 32 prontuários do ano de 1999 a 2006. Quanto ao ano de atendimento, 16 pacientes foram atendidos no ano de 2004, se-guidos de 9 atendidos no ano de 2003, 3 nos anos de 2002 e 2006 e 1 aten-dido no ano de 1999. Quanto ao local de atendimento, 19 pacientes foram atendidos no ambulatório e 13 pacientes foram internados.

Quanto à faixa etária, a pesquisa mostrou uma distribuição de 15 (46,0%) idosos na faixa etária de 60 a 65 anos, seguida de 13 (41,0%) na faixa etária de 65 a 70 anos e 4 (13,0%) na faixa etária de 70 a 75 anos, como podemos observar na Figura 1.

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Os resultados mostraram que a maioria dos idosos portadores de HIV/ Aids do presente estudo (46,0%) entrou na terceira idade há pouco tempo (faixa etária de 60 a 65 anos). Considerando-se uma média de dez anos para a manifestação dos primeiros sintomas do HIV/Aids, em razão do período de latência da doença, é de se supor que a maioria desses idosos tenha sido contaminada pelo HIV na fase adulta (MAIA, 2006). Essa situação alerta para a necessidade de prevenção primária, ou seja, para uma maior divulga-ção de informações e elaboradivulga-ção de programas de prevendivulga-ção voltados a adultos com a faixa etária de 45 a 50 anos para evitar que os mesmos futuramente tornem-se idosos portadores do vírus HIV/Aids.

Quanto ao sexo, obteve-se a seguinte distribuição: 22 casos (68,8%) do sexo masculino e 10 casos (31,3%) do sexo feminino. Tal fato veio ao encontro dos dados do Ministério da Saúde (2006), em que a infecção pelo vírus nos homens continua crescendo, o índice percentual passou de 5,9 para 8,8 e nas mulheres, cresceu de 1,7 para 4,6.

A categoria em relação ao estado civil, em ambos os sexos, caracteri-zou uma distribuição com a proporção de 10 solteiros (31,3%), seguida de 9 separados/divorciados (28,1%), 8 de viúvos (25,0%) e 5 (15,6%) casados. Isso demonstra que a crença de que idosos mantêm relações monogâmicas por longos anos está se desfazendo e que, mesmo casados ou separados, eles estão sujeitos a se contaminarem pelo vírus HIV, sendo assim, os conside-rados solteiros têm seu risco mais agravado, pois não existem campanhas de prevenção destinadas a esse público-alvo.

Quanto ao grau de escolaridade, obteve-se como resultado a propor-ção de 18 indivíduos (56,3%) que cursaram até o ensino fundamental,

se-Figura 1: Distribuição de Idosos por Faixa Etária – HDT, Goiânia (GO), 2007. Legenda: 60 a 65 anos 65 a 70 anos 70 a 75 anos. 46% 41% 13%

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guida de 8 indivíduos (25,0%) que não informaram a escolaridade e de igual proporção, os ensinos médio e superior (3 – 9,4%), conforme a Tabela 1.

Tabela 1: Grau de Escolaridade entre Idosos – HDT, Goiânia (GO), 2007

Escolaridade N. % Não informado 8 25,0 Fundamental 18 56,3 Médio 3 9,4 Superior 3 9,4 Total 32 100,0

Diante dos resultados obtidos, constatou-se que mais de 50% dos idosos da pesquisa são alfabetizados. Nesse sentido, estima-se que mínimas informações sobre forma de contágio e outras informações preventivas es-tivessem disponíveis a eles. Mas é importante salientar que, apesar de serem ‘estudados’, as pessoas com grau de escolaridade mais avançado tendem a assimilar melhor as informações, têm maior facilidade de acesso aos serviços de saúde e de aquisição de preservativos. Infelizmente, os idosos que têm nível de escolaridade inferior tendem a contrair mais o vírus (SILVA; PAIVA; SANTIAGO, 2006).

Um estudo realizado por Fonseca et al. (2000) apresenta dados que vão em direção aos encontrados nesta pesquisa. Esses autores consideraram a exis-tência da tendência ao acometimento de indivíduos com menor grau de ins-trução, o que indica que a epidemia de Aids segue em direção às camadas menos favorecidas da população, ou seja, com menor escolaridade, usualmente asso-ciado a um processo de pauperização dos atores da epidemia.

Quanto à variável localidade, observou-se que o número de pacientes que reside no interior foi 19 (59,0%), seguido de pacientes da própria ca-pital, 12 (38,0%), e de outros estados, 1 (3,0%), como podemos observar na Figura 2.

Esses resultados confirmaram o fato de que o HDT é uma unidade de referência em doenças infectocontagiosas no Centro-Oeste, pois conta com o apoio de uma equipe multidisciplinar preparada para este tipo de atendimento, tem uma complexidade técnica de atenção terciária e integra o Sistema Único de Saúde como unidade especializada de Referência Nacio-nal. O HDT presta inúmeros serviços à população, pois a unidade conta com serviço de UTI, laboratório, RX, odontologia e outros; além de atender casos de doenças infecciosas e dermatológicas como hanseníase, pênfigo,

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vitiligo, tuberculose, meningite, e prestar atendimento a acidentes ofídicos, rábicos e tetânicos (SES/GO, 2007).

Quanto ao tipo de contaminação, 15 idosos (46,87%) tiveram múl-tiplas vias de contaminação (mais de um item respondido no questionário); 12 (37,50%), a forma de contaminação encontrou-se ignorada; dois (6,25%) foram considerados contaminados por relações com múltiplos parceiros; um contaminou-se por relação heterossexual (3,12%), um, com relação homos-sexual (3,12%), e um, parceiro contaminado (3,12%).

Com este resultado, cabe o questionamento sobre como as fichas dos pacientes têm sido preenchidas, pois este dado é muito relevante para poder traçar o perfil epidemiológico deles e assim determinar a conduta mais ade-quada de prevenção. Outro fator importante que podemos concluir é tam-bém descrito em uma pesquisa realizada nos EUA: a percepção do risco de se contaminar decai com a idade (MACK; BLAND, 1999). Assim, o não uso de preservativos por essa faixa etária favorece a contaminação pelo vírus HIV seja por qualquer tipo de relação sexual.

O número de pacientes sintomáticos foi da proporção de 28 (87,5%) e não sintomáticos, de 4 (12,5%), conforme a Tabela 2.

Esse resultado é relevante, pois demonstrou que os pacientes que de-ram entrada no HDT só procurade-ram a instituição quando apresentade-ram a sintomatologia, confirmando o fato de que até mesmo o diagnóstico dessa doença nos idosos torna-se um pouco mais complexo, primeiro pelo fato de os profissionais de saúde raramente considerarem as doenças sexualmente transmissíveis na velhice, segundo, pela sintomatologia, que pode ser

facil-Figura 2: Localidade de Origem dos Idosos – HDT, Goiânia (GO), 2007 Legenda: Goiânia Interior Outro estado. 38% 3% 59%

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mente confundida por outras patologias que ocorrem nessa faixa etária, como pneumonia bacteriana, má nutrição, e, por último, pelo próprio desgaste do organismo na velhice (PROVINCIALI, 2005). Esse fato vai ao encontro dos resultados encontrados em relação aos óbitos – foram no total de 9 (28,1%), sendo que, deles, 4 (44,4%) faleceram em 2003, 4 (44,4%) em 2004, seguidos de 1 (11,1%) em 2006 –, pois estes pacientes deram entrada no hospital com a sintomatologia exacerbada, provavelmente por não sabe-rem que tinham a doença, dificultando assim o tratamento específico.

Tabela 2: Presença de Sintomatologia entre Idosos – HDT, Goiânia (GO), 2007

Sintomático N. %

Não 4 12,5

Sim 28 87,5

Total 32 100,0

Em relação às doenças oportunistas, 26 pacientes (81,3%) apresen-taram alguma manifestação, confirmando o fato de que o vírus HIV causa uma imunodeficiência, levando, então, a uma maior susceptibilidade do corpo à ação de agentes infecciosos. Na terceira idade, isso é ainda mais preocupante, uma vez que o corpo encontra-se ‘mais frágil’ e ainda mais vulnerável a essas ações, com aparecimento de doenças oportunistas, levan-do até mesmo ao óbito precoce desses pacientes.

Quanto ao ano do diagnóstico, obteve-se a proporção de 14 (43,8%) no ano de 2004, seguidos de 9 (28,1%) no ano de 2003, 3 (9,4%), em 2002, 3 (9,4%), em 2006, 1 (3,1%), no ano de 1996, 1 (3,1%), em 1998 e 1, (3,1%) em 1999. Não foi encontrada nenhuma relação que explique por que o ano de 2004 tenha ocorrido maior número de diagnósticos.

A terapia antiretroviral foi um dado encontrado nesse estudo, em razão da ocorrência de uma adesão pontual de 25 (78,1 %) usuários, mostrando que os idosos podem garantir um controle significativo da manifestação da síndrome e, ao mesmo tempo, prolongar sua longevidade, como portador do HIV, como podemos observar na Figura 3.

Essa adesão à terapia antiretroviral mostra uma margem de credibilidade dos pacientes em relação às ofertas de tratamento como uma possibilidade de melhorar a qualidade da sua saúde, como portador do HIV (CRUZ, 2004), como demonstra a Tabela 3, em que se pode observar uma relação estatisticamente signi-ficativa entre utilizar terapia antiretroviral e não ter doença oportunista (p = 0,001).

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Tabela 3: Número de Portadores de Acordo com a Terapia Antiretroviral e Doença Oportu-nista, HDT – Goiânia (GO), 2007(1)

Nota: (1) p = 0,001 (Teste Exato de Fisher).

Doença oportunista

Não tem Tem

Terapia antiretroviral N. % N. % Não 1 4,3 6 66,7 Sim 22 95,7 3 33,3 Total 23 100,0 9 100,0 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0 Sim Não Númer

o de usuários de terapia antir

etr

oviral (%)

Tem doença oportunista

Figura 4: Distribuição dos Portadores Quanto ao Uso de Antiretroviral e Ter Doença Opor-tunista – HDT, Goiânia (GO), 2007

Legenda: Não Sim.

22%

78%

Figura 3: Uso de Terapia Antiretroviral entre Idosos, HDT – Goiânia (GO), 2007 Legenda: Não

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CONCLUSÃO

Os resultados alcançados nesta pesquisa não podem ser entendidos como imutáveis, em razão da dinâmica da epidemia de HIV/Aids, que passa por modificações, tanto em seus aspectos epidemiológicos, quanto em seus aspectos psicossociais.

Pode-se dizer que o objetivo do estudo foi alcançado, pois possibili-tou a análise do perfil epidemiológico dos idosos portadores de HIV/Aids atendidos no HDT, Goiânia (GO).

Percebemos que vários resultados vêm ao encontro aos de outros estudos, como os fatos de a maioria dos idosos pertencerem ao sexo mascu-lino, terem um certo nível de escolaridade, não aceitarem a utilização do preservativo como meio de prevenção, entre outros.

As dificuldades para a realização deste estudo decorreram da escassez de materiais literários, visto que o crescimento da Aids nesse grupo etário é um dado evidenciado nos últimos cinco anos, e do não preenchimento da ficha de avaliação social que o próprio paciente responde, contendo dados importan-tes como a via de contaminação: heterossexualidade, promiscuidade, entre outros. Isso dificultou a obtenção de dados epidemiológicos, vários prontuá-rios foram descartados pela falta desses dados fundamentais ao nosso estudo. Acredita-se que o estudo possa servir como referência para outras pes-quisas sobre o perfil epidemiológico de idosos portadores de tal doença nos atendidos no HDT, Goiânia (GO), visando a um entendimento cada vez maior e a adoção de melhores medidas de prevenção destinadas a essa faixa etária.

Então, vê-se a real necessidade de implementação de adequados ser-viços de saúde que contemplem as especificidades da população pesquisada, considerando os fatores que a tornam vulnerável à infecção pelo HIV.

Referências

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GOLDMAN, L.; AUSIELLO, D. Cecil: tratado de Medicina Interna. 22. ed. Rio de Janeiro: G. Koogan, 2002.

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Abstract: this research presented as objective to trace the epidemiologic profile

of period between 1999 and 2006, of aged carriers of virus HIV/Aids taken care of in the Hospital de Doenças Tropicais (HDT), Goiânia-Goiás. From the gotten data it is suggested implantation of measures effective and immediate to protect, to control, to promote and to prevent problems as HIV/AIDS associated with the aging process.

Key words: research epidemiology, HIV/Aids, aged

RUTH LOSADA DE MENEZES

Doutoranda em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Goiás. Professora no Departamento de Enfermagem, Nutrição e Fisioterapia e na Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati) da Univer-sidade Católica de Goiás (UCG). Fisioterapeuta.

BÁRBARA STIVAL GONÇALVES Fisioterapeuta graduada pela UCG. CAMILA DO CARMO CASTRO Fisioterapeuta graduada pela UCG.

Referências

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