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Humilhação e exaltação de Jesus Cristo

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Academic year: 2021

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Humilhação e exaltação de Jesus Cristo

No início das explanações relacionadas com a humilhação e exaltação de Je-sus Cristo, é tratada a verdadeira encarnação de Deus em JeJe-sus Cristo. Esta verdadeira encarnação está fundamentada na auto-humilhação (servilismo) do Filho de Deus que prescindiu de todo o seu poder e glória, assumindo uma existência humana e terrestre. O tema do servilismo e da exaltação de Cristo é abordado na Epístola aos Filipenses 2,6–11. Podemos verificar o servilismo na obediência incessante de Jesus à vontade de Deus. A realização da humil-hação culmina no sofrimento e na morte na cruz. Através da ressurreição e da ascensão, dá-se a exaltação de Jesus Cristo, cuja natureza humana e divina glorificadas se tornam claramente visíveis.

A verdadeira encarnação de Deus em Jesus Cristo

Uma das afirmações fundamentais do Novo Testamento e da fé cristã é que Deus se tornou Homem em Jesus Cristo. Esta encarnação de Deus traz consigo consequên-cias decisivas. Deus, o Filho, assume a existência terrestre e temporária na forma de Jesus Cristo. Ele entra na história humana; Ele nasceu e morreu. Este acontecimento é mencionado em João 1,14: «E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós». As pessoas podiam lidar com o Filho de Deus personificado, ou seja, com Jesus Cristo, como com qualquer outra pessoa. De facto, é enfatizado nos Evangelhos que muitas pessoas daquela época não faziam distinção entre Jesus e outros pregadores itine-rantes e milagreiros. Por outro lado, também se verificou que Jesus se manifestou, com a pretensão de estar num relacionamento íntimo com Deus. Por exemplo, quando Jesus apareceu majestosamente em Nazaré, a Sua cidade natal, os habitantes que já o conheciam rejeitaram-No com as seguintes palavras: «Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? E não estão aqui connosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele» (Marcos 6,3).

À primeira vista, o Filho de Deus, que se mostra às pessoas na forma de Jesus Cristo, apresenta as características comuns, que os outros seres humanos também têm: Ele tem emprego, é filho e irmão. Para além disso, os Evangelhos mostram que Jesus come com as pessoas, que festeja com elas e que sofre com elas. Portanto, podemos

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verificar n‘Ele o espetro total do ser humano. Dado isto, não teria sido fácil assumir que Jesus era uma pessoa comum com capacidades extraordinárias?

O Novo Testamento contradiz claramente estas teorias, que estão constantemente a ser expressas. O Novo Testamento interpreta a encarnação do Filho de Deus como servilismo. Assim sendo, todas as características humanas que podemos verificar no ser de Jesus Cristo são sinais de que Deus se rebaixou ao nível da humanidade.

Encarnação como servilismo de Deus

Retomemos o seguinte pensamento: no Novo Testamento, a encarnação do Filho de Deus é interpretada como forma de servilismo. Podemos encontrar uma descrição mais explícita desta interpretação no chamado Hino Cristológico da Carta Aos Filipenses (2,6-11). Trata-se de um hino, um cântico de louvor, que era cantado ou falado pela comunidade.

Na Epístola aos Filipenses 2,6.7, é descrito o ser celestial ou supraterrestre do Filho de Deus, ou seja, o Seu estado enaltecido ou glorificado: «Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens.»

A afirmação que Ele estava «em forma de Deus», indica que Ele é superior a tudo. Ele é «igual a Deus», porém sem ser idêntico a Ele. No hino da Epístola aos Filipenses, a referência a «Deus» remete, em primeiro lugar, para o «Pai». Existe, portanto, uma distinção clara entre Pai e Filho. No entanto, a «forma» – que pode apenas remeter ou para a natureza ou para o ser - do Filho é «de Deus». Porém, a unicidade e igualdade da natureza do Filho e do Pai, é destacada, criando assim o fundamento para futuras afirmações dogmáticas, que falam da igualdade no ser do Pai e do Filho. Os cristãos creem que Jesus é verdadeiro Homem e verdadeiro Deus. Como verdadeiro Homem, Jesus partilhava com os homens todo o espetro das emoções corporais e espirituais. Manifestou-se como verdadeiro Deus através do pleno poder do perdão dos peca-dos, dos milagres que fazia e da proclamação da vontade divina. A natureza divina de Jesus é evidenciada em João 10,30: «Eu e o Pai somos um.» A Sua autoridade divina está descrita nas palavras de João 14,6: «Ninguém vem ao Pai senão por mim.» (cf. Catecismo da Igreja Nova Apostólica, 3.4.3).

Apesar desta unicidade da natureza entre o Pai e o Filho, faz-se uma distinção. Esta distinção manifesta-se no ato de vontade do Filho, que «não teve por usurpação ser igual a Deus» (versículo 6). Tanto a formulação como o significado desta afirmação são polémicos, pois não se encontra outro texto bíblico parecido, nem no Antigo nem no Novo Testamento. A frase pode ser interpretada no sentido de não existir a „ganância“ de permanecer na esfera divina. O Filho de Deus não se prendeu de forma egoísta ao esplendor, à omnipotência divina, à omnisciência, etc.; Ele prescindiu de tudo isso e

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passou para um nível que se poderá designar como sendo inadequado para Ele e, por conseguinte, uma situação totalmente indigna.

A encarnação de Deus em Jesus Cristo é um „manifesto“ da glória divina e da aceitação da «forma de servo» (no sentido literal significa a „forma de escravo“). A expressão «forma de servo» encontra-se em antagonismo direto com a «forma de Deus», como diz no início, na qual o Filho de Deus se encontrava no Seu ser celestial. Ao mesmo tempo, o termo remete para a forma veterotestamentária do servo de Deus, que é referido em Isaías 53. A aceitação da forma de servo tem ainda outra consequência decisiva, nomeadamente o facto de o Filho de Deus ter sido «semelhante aos homens; e, achado na forma de homem». O Filho de Deus abandona a realidade divina e entra no mundo seres humanos, passando a ser reconhecido como um Homem entre os Homens.

Os Evangelhos retratam de formas diversas esta encarnação e os problemas a ela associados (cf. Mateus 8,20). O Filho de Deus que se tornara Homem encontra-se na terra num estado para Ele desconhecido. Isto também se evidencia em João 1,11: «Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.» Além disso, os Evangelhos falam de sentimentos expressos por Jesus Cristo, que remetem para a Sua humani-dade: Ele sente fome e sede, sono, medo e dor (cf. João 4,6; 12,27).

Tendo nascido Homem, o Filho de Deus prescindiu, desde logo, da sua posição enal-tecida e adotou uma natureza humana. Sofria, de forma empática, com as pessoas que tinham mágoas e preocupações a suportar.

A obediência como manifestação do servilismo

O servilismo do Filho de Deus, que O acompanha durante toda a Sua existência hu-mana e se manifesta, pela primeira, vez no nascimento num estábulo, atinge o seu objetivo ao aceitar de forma obediente o sofrimento e a morte.

Que o Filho de Deus era obediente ao Seu Pai torna-se evidente, por exemplo, na oração de Jesus em Getesêmane: „Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálix; todavia, não seja feito como eu quero, mas como tu queres!“ (Mateus 26,39). A im-portância da obediência é sublinhada na Epístola aos Romanos. Jesus Cristo é o novo Adão; através d‘Ele são criadas justiça e vida; isto deve-se ao facto de Ele ter sido obediente (cf. Romanos 5,19). Em Hebreus 5,8–9, também se evidencia a dimensão salvífica da obediência de Jesus: «Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. E, sendo ele aperfeiçoado, veio a ser a causa de eterna salvação para todos os que lhe obedecem.»

Ao mencionar a «morte de cruz» em Filipenses 2,8, o conceito da humilhação é ampliado. A morte do Filho de Deus não é uma morte comum, como a que nos espera

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a todos, mas sim uma morte deveras vergonhosa. Pois, «Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro» (Gálatas 3,13). A dimensão da humilhação evidencia-se, particularmente, na morte na cruz.

A obediência justifica a exaltação de Jesus Cristo

Mas o servilismo e a morte na cruz não são o fim do caminho do Filho de Deus. Pelo contrário, são a razão pela qual Jesus Cristo voltou a ser instituído nos Seus direitos divinos: «Pelo que, também, Deus o exaltou soberanamente» (Filipenses 2,9). Enquanto a humilhação voluntária foi uma decisão tomada pela vontade do Filho de Deus pré-existente, a exaltação é um ato de Deus, o Pai, feito para Ele.

O motivo da exaltação tem vários aspetos no Novo Testamento. Por exemplo, o facto de Jesus ter ressuscitado dos mortos é considerado uma forma de exaltação (cf. Romanos 1,4). A morte e a ressurreição são o único fundamento para a salvação do homem, e apenas a ressurreição legitima Jesus Cristo como Redentor, como Salvador (cf. 1.º Coríntios). A exaltação ocorre, finalmente, através da Ascensão de Cristo (cf. Actos 2,33).

Na Carta Aos Filipenses, a exaltação de Jesus Cristo, após a Sua ascensão, é relaci-onada com um nome que Lhe é atribuído por Deus. Segundo a interpretação antiga, o nome não é um nome qualquer, mas remete para a natureza da pessoa (ou coisa) portadora de tal nome. O relevo do nome também se encontra, por exemplo, em He-breus 1:4. O nome, «que é sobre todo o nome» (Filipenses 2,9), evidencia que o seu portador é uma divindade e que a sua natureza é idêntica à de Deus. O nome que Deus concede é «Senhor» (grego = kyrios). (Versículo 11).

No versículo 10 exige-se que «se dobre todo o joelho». A formulação assemelha-se à de Isaías 45,23: «que diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua.» No livro de Isaías, Deus fala de si próprio, enquanto na Carta Aos Filipenses, se trata de Jesus Cristo. Isto remete para a existência humana do Filho de Deus, su-blinhando, assim, a ligação existente entre glória celestial, humilhação e exaltação. As potestades da criação visível e invisível estão agora sob o poder do Filho de Deus. O hino termina com a confissão de fé em Jesus como Senhor e Regente de toda a criação e exorta que «toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus, o Pai» (Filipenses 2,11).

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Jesus Cristo – verdadeiro Homem e verdadeiro Deus

As afirmações, relativas à humilhação e exaltação de Jesus Cristo, fazem parte do contexto da doutrina de ambas as Suas naturezas, a humana e a divina. A natureza humana está relacionada com a humilhação do Filho de Deus, enquanto a Sua natu-reza divina remete para o estado de exaltação, que possuía antes de ter nascido da virgem Maria, e após a Sua ressurreição e ascensão.

O servilismo impõe a questão da seriedade com a qual se encara a humanidade do Filho de Deus. Esta questão foi tratada, sobretudo na teologia luterana, recorrendo a Filipenses 2,6-11. Deste modo, foi possível formular a doutrina de ambos os estados de Cristo: o estado da humilhação e o estado da exaltação. O estado do servilismo ou kenosis durou desde a conceção de Jesus até à Sua morte.

Durante o Seu tempo na Terra, Jesus Cristo não expressou a totalidade da Sua natureza divina – por exemplo, prescindiu da omnipotência, omnipresença, bem como da omnisciência. Todavia, existem indícios de omnisciência nos atos e nas palavras de Jesus: Ele foi ao encontro dos discípulos, no lago, quando surgiu uma tempestade – João 6,16 ss. – e Ele sabia quais eram os pensamentos das pessoas ao Seu redor. O Filho de Deus impôs uma restrição de certa dimensão a Si mesmo. O Verbo encarnado, ou seja Jesus Cristo, partilhava o espetro das sensações humanas, tanto físicas como espirituais (fome, sede, medo, efemeridade, limitação, etc.).

Jesus tinha, portanto, um corpo com as respetivas necessidades. Em Lucas 2,52 está escrito que Jesus crescia em sabedoria, idade e em graça para com Deus e os homens. Ele festejou com os convidados, no casamento em Canaã. Ele entristeceu-se com a morte de Lázaro. Ele sentiu fome, durante o tempo que passou no deserto. Ele tinha sede quando se deparou com a mulher na fonte de Jacob. Para além disso, os golpes dos soldados magoaram-No e, ao defrontar-se com a morte na cruz, confessou: «A minha alma está cheia de tristeza, até à morte» (Mateus 26,38).

A doutrina do servilismo do Filho de Deus permite que percebamos, mais facilmente, certos comportamentos da pessoa de Jesus Cristo. A existência divina de Jesus Cristo é, frequentemente, posta em causa, pois, embora adorasse o Pai, respondeu, com desprezo, ao mancebo rico: «Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus» (Marcos 10,18).

Com estas afirmações, é evidente que Jesus, como verdadeiro Homem, fazia apenas referência à glória e majestade de Deus, sem ambicionar honra ou veneração. Ele apresentava-se às pessoas na Sua baixeza e indigência. Como Filho de Deus num estado de baixeza, Jesus mostrou às pessoas qual a atitude que devemos tomar perante Deus e o nosso próximo, dando, Ele mesmo, o exemplo.

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Para além da baixeza, na qual o Filho de Deus se encontrava, existia ainda a impotência perante a violência e a brutalidade à qual estava exposto. Jesus suportou tudo isto para alertar para a injustiça da humanidade e para mostrar que Deus é o Regente justo e que, no fundo, é Ele que domina o mundo. A ressurreição de Jesus, dos mortos, é uma prova evidente do poder soberano de Deus. Jesus, como homem no Seu estado de baixeza e indigência, é glorificado. Este acontecimento, tal como descrito na 1.ª aos Coríntios 15, justifica a ressurreição de todos aqueles que pertencem a Jesus Cristo. Eles também serão enaltecidos da baixeza à glória de Deus, à vida divina.

A humilhação do Filho de Deus termina com a Sua ressurreição, embora ambas as naturezas (tanto a natureza humana glorificada como a natureza divina) permaneçam n‘Ele, mesmo depois da ressurreição e da ascensão.

O estado da exaltação, que ocorre a seguir ao estado da humilhação, engloba a ressurreição, a ascensão e o lugar de Cristo à direita do Pai. Através da vitória sobre a morte, Jesus Cristo abandonou todas as facetas negativas da natureza terrestre (medo, desespero, etc.). Graças a isto, a Sua natureza humana passa a ser vista como sendo perfeita. Desta forma, o Filho de Deus mostra, de forma abrangente, a Sua existência divina, pois agora torna a apresentar-se como sendo perfeito, omnisciente, eterno e omnipresente. Na revinda de Jesus Cristo, as primícias que forem arrebatadas poderão ver Deus, o Filho, tal como Ele é: o Homem glorificado e o verdadeiro Deus.

Referências

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