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MAPEAMENTO DA EVOLUÇÃO DA ÁREA URBANIZADA NO MUNICÍPIO DE CHAPECÓ/SC 1

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MAPEAMENTO DA EVOLUÇÃO DA ÁREA URBANIZADA NO MUNICÍPIO DE CHAPECÓ/SC1 Ederson Nascimento2 Élida Vieira3 Cristiane Deimling4 RESUMO

Esta pesquisa realiza o mapeamento e análise da evolução do processo de expansão urbana no município de Chapecó/SC, utilizando-se de tecnologias de geoprocessamento. Examina-se a dinâmica de crescimento horizontal da cidade no período de 1960 a 2009 por meio da identificação e caracterização das áreas efetivamente urbanizadas no município, associada à análise dos principais fatores desencadeadores da dinâmica de crescimento verificada, apontados pela literatura. Com os resultados da pesquisa, os quais são aqui apresentados de modo resumido, procura-se caracterizar a dinâmica de expansão urbana empreendida no município em termos espacial e temporal, avaliando as direções e intensidades do crescimento urbano, bem como os padrões de ocupação da terra urbana em diferentes momentos, contribuindo assim para ampliar o conhecimento acerca do processo de urbanização no referido município.

Palavras-chave: urbanização, expansão urbana, área urbanizada, uso da terra, geotecnologias.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Considera-se como áreas urbanizadas as porções do território organizadas e utilizadas para a implantação de atividades eminentemente urbanas, seja para o desenvolvimento de atividades produtivas, seja para a implantação de áreas habitacionais e de lazer (IBGE, 2006). Também conhecidas como manchas urbanas, tais áreas estendem-se em direção a terras até então usadas para fins agropecuários à medida que a conversão de seu uso de rural para urbano atenda, de modo satisfatório, a uma gama de interesses diversos, muitas vezes conflituosos e contraditórios: a) do capital industrial e comercial, interessados no uso produtivo que a terra, através de sua localização, pode fornecer (SINGER, 1982); b) da população em geral, na condição de força de trabalho e de consumidores, interessados nos meios necessários ao desenvolvimento da vida (oferta de infraestrutura, acessibilidade a bens e serviços,

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As reflexões e dados apresentados neste ensaio constituem parte do projeto de pesquisa intitulado “Expansão urbana e segregação socioespacial: uma análise da cidade de Chapecó/SC”, realizado na Universidade Federal da Fronteira Sul e coordenado pelo primeiro autor.

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Professor no curso de Geografia – Licenciatura, da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus de Chapecó/SC. E-mail: ederson.nascimento@uffs.edu.br.

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Graduanda em Geografia – Licenciatura na Universidade Federal da Fronteira Sul, campus de Chapecó/SC, bolsista de iniciação científica (PIBIC/UFFS). E-mail: elidavieira01@hotmail.com.

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Graduanda em Geografia – Licenciatura na Universidade Federal da Fronteira Sul, campus de Chapecó/SC, bolsista (iniciação acadêmica/UFFS). E-mail: crisdeimling@hotmail.com.

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conforto, segurança etc.) (VILLAÇA, 1998) e; c) dos proprietários fundiários e do capital imobiliário, os quais veem nesta conversão de uso sua própria fonte de riqueza, através do parcelamento e da venda da terra na forma de lotes ou de empreendimentos habitacionais como conjuntos residenciais, condomínios exclusivos etc. (CORRÊA, 1995; RIBEIRO, 1997).

As condições que impulsionam essa expansão urbana dependem, porém, do processo geral de urbanização, resultante da configuração territorial da produção econômica, promovida pelo capital e mediada pelo Estado. Assim, destacam-se as áreas onde a dinâmica de industrialização é mais acentuada, já que a indústria acaba por acentuar a urbanização nos pontos do território onde esta se desenvolve (SANTOS, 1993), por meio da concentração de infraestrutura (vias de transporte, sistema de telecomunicações etc.), de atividades econômicas complementares (empresas fornecedoras de materiais, prestadoras de serviços, parceiras comerciais, financeiras, entre outras) e de população, na forma de força de trabalho e de mercado consumidor (CARLOS, 1988).

Neste sentido, a análise da expansão das áreas urbanizadas é importante para a compreensão da configuração atual de uma cidade à medida que fornece elementos que permitem caracterizar, entre outros aspectos, a evolução da diferenciação espacial interna, com a conformação dos diferentes espaços de produção econômica e de acumulação do capital, assim como avaliar a distribuição dos segmentos sociais e, por conseguinte, a própria reprodução das relações sociais na cidade (CORRÊA, 1995). Em relação ao município de Chapecó, a análise do processo de expansão urbana é relevante devido ao dinamismo do processo de urbanização vivenciado pelo mesmo nas últimas quatro décadas. Com aproximadamente 168,1 mil habitantes em sua área urbana, 91,6% da população total do município, Chapecó é o principal centro urbano e polo econômico do oeste catarinense, apresentando um importante setor industrial (com destaque para a presença de grandes empresas processadoras de carnes e derivados) e uma rede variada de serviços, de alcance regional (PERTILE, 2007).

A estrutura econômica fez também da cidade um centro polarizador de população, atraindo, de um lado, camadas de médio e alto poder aquisitivo interessadas em realizar investimentos imobiliários ou em determinadas atividades econômicas, e de outro – e principalmente –, contingentes de mão de obra migrante, provenientes em sua maioria de áreas rurais da própria região ou de municípios gaúchos, ou ainda de outras pequenas cidades, que chegam em busca de melhores oportunidades de emprego e

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melhor qualidade de vida. O resultado deste dinamismo econômico e demográfico se reflete na área urbanizada do município, que passa a ser significativamente expandida a partir da década de 1970 com a produção de diversos loteamentos, núcleos residenciais, áreas condominiais (mais recentemente), paralelamente à manutenção de glebas e áreas com baixa ocupação.

No item a seguir, apresenta-se uma breve revisão bibliográfica sobre as principais condicionantes histórico-geográficas do processo de expansão urbana em Chapecó. Por sua vez, nas duas seções seguintes, são apresentados, respectivamente, o encaminhamento metodológico seguido no presente estudo e seus principais resultados.

EVOLUÇÃO URBANA DE CHAPECÓ: PRINCIPAIS BASES HISTÓRICO-GEOGRÁFICAS

A evolução urbana de Chapecó apresenta uma relação bastante estreita com sua trajetória econômica. Até meados da década de 1950, a economia do município era sustentada pela comercialização de excedentes agrícolas e, sobretudo, pela extração e beneficiamento de madeira, havendo na área urbana, além de pequenos estabelecimentos comerciais para atendimento da população local, diversas serrarias, as quais consistiam numa das principais fontes de oferta de trabalho à população (ALBA, 2002). Neste contexto, desde 1931, ano da institucionalização do atual núcleo urbano (antiga vila Passo dos Índios) como sede do município de Chapecó, até a década de 1950, a área urbana do município se resumiu ao “punhado” de quadras retangulares, definidas pelo traçado urbano xadrez, correspondente ao atual centro urbano, e a densificação da ocupação se dava do marco central da cidade (atual praça Coronel Bertaso) em direção à periferia, com maior concentração ao longo da avenida principal (Av. Getulio Vargas).5

A partir da década de 1950, a economia do município passa a sofrer transformações, com o surgimento e ampliação dos frigoríficos, contribuindo para atrair um volume maior de população para a área urbana, além de firmar as bases da industrialização que viria a se processar anos mais tarde. Como afirma Pertile (2007, p. 159), “a fundação da Indústria e Comércio Chapecó (SAIC), em 1952 [...] foi o começo da agroindústria [na cidade], com a industrialização de suínos”. A consolidação do setor agroindustrial na cidade deu-se ao longo das duas décadas seguintes, impulsionando

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definitivamente o crescimento horizontal da cidade e levando a alterações em sua estrutura socioespacial interna. Entre 1967 e 1975, instalaram-se na cidade grandes unidades processadoras de carnes e cereais, como a Cooperativa Regional Alfa Ltda. (1967), Cooperativa Central Oeste Catarinense Ltda. (atual Aurora, 1969), Sadia Avícola S.A. (1973) e Ceval Agroindustrial (1975), favorecidas por políticas de incentivo à produção agropecuária e à instalação de agroindustriais no oeste do Estado (ESPÍNDOLA, 1996; ALBA, 2002).

Com o contínuo desenvolvimento das agroindústrias, deu-se também a ampliação do comércio, a instalação e desenvolvimento de empresas prestadoras de serviços e da implantação de instituições de pesquisa e de formação de mão de obra, além de intervenções urbanísticas como a criação de novos bairros, abertura de novas ruas e investimentos em iluminação pública e em pavimentação viária, sobretudo em áreas próximas ao centro. Estas alterações no perfil econômico e espacial da cidade reforçavam ainda mais sua centralidade no Oeste catarinense, tornando-a mais atrativa a segmentos populacionais em busca de oportunidades para realização de investimentos, bem como, e sobretudo, a camadas de menor renda em busca de opções de trabalho e melhores condições de vida.

O expressivo crescimento da população urbana em Chapecó é evidenciado pelos dados da tabela a seguir (Tabela 1). Entre 1960 e 1980, o acréscimo de população na área urbana foi superior a 11% ao ano, passando de 16,7 mil para cerca de 55,3 mil, isto é, mais do que triplicando em apenas vinte anos.

TABELA 1: EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO NO MUNICÍPIO DE CHAPECÓ

Ano População total Urbana % Rural %

1960 52.089 16.668 32 35.421 68 1970 49.865 20.275 40,7 29.590 59,3 1980 83.768 55.269 66 28.499 34 1991 123.050 96.751 78,6 26.299 21,4 2000 146.967 134.592 91,6 12.375 8,4 2010 183.530 168.113 91,6 15.417 8,4

Fonte: IBGE (censos demográficos 1960-2010)

O decréscimo da população total observado durante a década de 1970 se deve aos desmembramentos e criação de doze novos municípios.6 Entretanto, o número da população urbana de Chapecó não diminuiu, evidenciando a intensa urbanização do

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Coronel Freitas, Modelo, Quilombo, Saudades, Pinhalzinho, São Domingos, Galvão, Águas de Chapecó, Nova Erechim, Vargeão, Caibi e Caxambu do Sul.

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município nessa época. A origem desta população migrante é, em sua maioria, das áreas rurais de municípios próximos a Chapecó, sendo composta por pequenos agricultores expropriados do processo produtivo agroindustrial, em fase de expansão (PERTILE, 2007). A população urbana seguiu crescendo a taxas elevadas nas décadas seguintes, ainda que estas venham apresentando queda com o passar dos anos: acréscimo de 75% entre 1980 e 1991, 39% entre 1991 e 2000 e 25% no último decênio (Tabela 1).

No entanto, mais do que um crescimento espacial e demográfico, o processo de urbanização em Chapecó, impulsionado pelo crescimento agroindustrial, ocasiona uma expressiva expansão de seu tecido urbano, não só veloz em termos de incorporação de novas terras à área urbanizadas, mas também diferencial em termos espacial e social. A expressiva demanda por habitação, constituída pela população migrante recém-chegada, fez crescer o interesse dos proprietários de terras periféricas situadas nas proximidades das agroindústrias (em sua maioria, localizadas nos setores norte e noroeste da cidade) em promover o loteamento de suas glebas. A partir de então, surgem diversos loteamentos periféricos voltados às camadas de renda mais baixa, em sua maioria carentes em infraestrutura básica e com acessibilidade dificultada ao centro urbano. Ao mesmo tempo, amplia-se a concentração de segmentos populacionais de alta renda na porção central da cidade e em áreas adjacentes, instalando-se em bairros de alto padrão e em condomínios verticais (PERTILE, 2007; RECHE, 2008; WOLFF, 2008).

Em suma, tal como ocorrido em grande parcela das atuais cidades médias brasileiras, em Chapecó, juntamente com o processo de expansão urbana, vieram também:

os problemas da urbanização. Além dos problemas sociais e de infraestrutura urbana, a insuficiência da estruturação urbana resultou na ocorrência de problemas no transito e problemas relacionados à degradação do meio ambiente em função das atividades industriais. Os problemas de infraestrutura enfrentados são urbanização não planejada; habitações precárias [...] falta da rede de esgoto, de saneamento básico, de conservação de estradas; rios poluídos; e áreas ocupadas irregulares, insalubres, de risco, de preservação ambiental. (HASS; AIDANA; BADALOTTI, 2010, p. 67, 70)

METODOLOGIA DA PESQUISA

A metodologia adotada na pesquisa consistiu no estudo e revisão de bibliografia específica e no emprego de geotecnologias com vistas à realização do mapeamento da expansão horizontal da área urbanizada de Chapecó. Procedeu-se a compilação de diversos dados estatísticos e cartográficos e produtos de sensoriamento

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remoto, os quais foram estruturados na forma de uma base de dados georreferenciados, construída a partir do encaminhamento metodológico apresentado por Zeiler (1999).

Para efeitos de mapeamento e análise, foram consideradas como sendo áreas urbanizadas as terras nas quais podem ser identificadas: formas espaciais (SANTOS, 1985) tipicamente urbanas, tais como arruamentos, edificações ou outras construções; usos tipicamente urbanos, como parques e chácaras de lazer, ou ainda; áreas desocupadas, ou de ocupação rarefeita, utilizadas segundo uma lógica urbana de uso da terra, casos dos lotes sem construções e, principalmente, dos chamados “vazios urbanos”, glebas localizadas entre as formas urbanas e mantidas desocupadas.

Realizou-se o reconhecimento e caracterização, a partir dos padrões de uso da terra das áreas consideradas urbanizadas em cinco momentos históricos, os quais foram definidos – dentro das possibilidades fornecidas pelos materiais cartográficos e documentais disponíveis – visando retratar diferentes períodos da dinâmica socioespacial de urbanização (vide Tabela 2). As áreas foram registradas através da interpretação de produtos de sensoriamento remoto diretamente sobre a tela do computador, utilizando a técnica de vetorização manual, e quantificadas por procedimento automatizado via SIG.

TABELA 2: MATERIAIS CARTOGRÁFICOS UTILIZADOS NO MAPEAMENTO DAS ÁREAS URBANIZADAS

Ano Material Cartográfico Fonte

1960 Fotografias aéreas, escala aproximada 1:50.000 Prefeitura de

Chapecó 1979 Fotografias aéreas, escala aproximada 1:15.000

Carta topográfica (folha SG.22-Y-C-III-2), escala 1:50.000 DSG

1988 Fotografias aéreas, escala aproximada 1:10.000

Prefeitura de Chapecó 1996 Fotografias aéreas, escala aproximada 1:5.000

2009 Imagem multiespectral do satélite QuickBird, resolução espacial de 0,6 m.

A metodologia da pesquisa contou ainda com a elaboração de trabalhos de campo, realizados nos anos de 2011 e 2012, para registro fotográfico e documental, e observação in loco de aspectos da organização socioespacial urbana atual (especialmente das áreas de expansão urbana), tais como padrões de ocupação e uso da terra e divisão funcional do espaço urbano, bem como o perfil socioeconômico de áreas residenciais e impactos ambientais decorrentes da dinâmica de expansão urbana.

A EXPANSÃO URBANA EM CHAPECÓ: PRINCIPAIS RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Os resultados da pesquisa expressam a intensa dinâmica de urbanização e expansão urbana processada em Chapecó nas últimas cinco décadas. Em 1960, ano em que o percentual de população urbana do município era de apenas 32% (cf. Tabela 1), sua área urbanizada totalizava 5,86 km², havendo efetiva ocupação em um conjunto de aproximadamente trinta quarteirões da área que atualmente integram a zona central da cidade (Tabela 3). No entanto, já neste ano haviam várias áreas loteadas e não ocupadas, ou em processo de parcelamento, nas franjas da então área urbana consolidada – principalmente nos bairros São Cristóvão, Maria Goretti, Jd. Itália e Passo dos Fortes – e em algumas glebas afastadas desta, como nos bairros Esplanada, Palmital e Engenho Braun (Figura 1), revelando o expressivo processo de especulação fundiária existente.

TABELA 3 – DIMENSÕES DAS ÁREAS URBANIZADAS7

Ano Área urbanizada (km²)

1960 5,86

1979 20,26

1988 29,16

1996 33,7

2009 40,86

Ao longo das décadas de 1960 e, principalmente, da de 1970, no âmbito da implantação das grandes unidades agroindustriais e de atividades terciárias, ocorreu uma verdadeira “explosão” da urbanização no município. A área urbanizada sofre expressiva ampliação, ultrapassando a marca de 20 km² no fim dos anos 1970 (Tabela 3). A mancha urbana se expandiu para praticamente todas as direções, seguindo a lógica especulativa de uso da terra verificada para o período anterior, com implantação de novos loteamentos entremeados a glebas não parceladas, sobretudo nas porções sul (bairros Santo Antônio, Pres. Médici e Líder, respectivamente) (Figura 1).

Todavia, neste período, constata-se maior diferenciação nos padrões socioespaciais de ocupação e uso, processo este que viria a se acentuar nas décadas seguintes. Em primeiro lugar, cabe destacar a expressiva expansão do vetor oeste, estruturado pela av. Attílio Fontana. Com a demanda crescente por habitação popular, formada pela população migrante, cresceu o parcelamento de glebas próximas às duas principais unidades agroindustriais instaladas na cidade, a Sadia Alimentos e a Aurora,

7 A quantificação não inclui a área urbanizada do distrito de Marechal Bormann, a qual só pôde ser

mapeada para o ano de 2009 (0,73 km²) devido à indisponibilidade de fontes referentes aos demais anos. Entretanto, acredita-se que a ausência destes dados não traz prejuízos à análise do processo geral de expansão urbana no período considerado, pois sabe-se que a área urbanizada do distrito só passou a se expandir mais vigorosamente nos últimos quinze anos.

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ambas situadas na porção oeste da cidade. Desta dinâmica surgem, nesta porção da cidade, diversos loteamentos periféricos voltados às camadas de renda mais baixa (vários deles implantados clandestinamente), sendo a maioria carentes em infraestrutura básica e com acessibilidade dificultada ao centro da cidade (RECHE, 2008).

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No lado oposto da cidade, no extremo leste, surge, em 1967, o bairro São Pedro, o qual é considerado símbolo da segregação socioespacial na cidade. Criado pela Colonizadora Bertaso numa área isolada da malha urbana contínua, o mesmo foi concebido para que segmentos populacionais empobrecidos fossem lá alocados, separando-os das áreas mais centrais. Esta verdadeira “segregação programada” (LEFEBVRE, 2001) atendia os interesses de setores das elites locais e da própria empresa colonizadora, para quem os “expropriados”, presentes no entorno do centro, “[...] ameaçavam a ordem que proporcionaria progresso para o lugar” (HASS; ALDANA; BADALOTTI, 2010, p. 63).

Ainda no período 1960-1979 surge também o bairro Trevo, abrigando empresas instaladas em função da localização privilegiada (entrada norte da cidade, com acessibilidade facilitada ao restante do estado pela BR-282), somadas a um pequeno número de lotes para fins residências. Surgem também estabelecimentos comerciais e de serviços às margens da av. Fernando Machado, dando início à “vocação” comercial do eixo viário setentrional.

No período 1979-1988, a área urbanizada segue crescendo rapidamente, atingindo a marca de 29,16 km². Densifica-se a ocupação de áreas vazias do período anterior, bem como a implantação de novos loteamentos nas proximidades da área já urbanizada – especialmente nos bairros Alvorada, Cristo Rei e Eldorado (porção norte), Bom Pastor (leste), Esplanada (sudeste) e Pq. das palmeiras e Efapi (oeste) – e o surgimento de outros loteamentos dispersos, no Efapi e nos novos bairros Belvedere e Seminário. No eixo norte, prossegue a instalação de grandes estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços ao longo da av. Fernando Machado e também em seu prolongamento (av. Plínio de Nes), ocupando vastos terrenos. A instalação do Aeroporto Municipal Serafim Bertaso, em 1988, também contribuiu para a expansão da mancha urbana no referido período.

A partir de 1989, o ritmo da expansão da mancha urbana diminui em termos de área (chegando ao total de 40,86 km² em 2009) em face da edificação em áreas de ocupação rarefeita e da ampliação da diferenciação entre os padrões de padrões de ocupação e uso do espaço no âmbito da expansão horizontal, expansão esta permanece ocorrendo para todas as direções. Consolidam-se padrões espaciais anteriormente observados, tais como implantação de novos loteamentos precários na periferia (sobretudo nos bairros Efapi, a oeste, Bom Pastor a sudeste, e Universitário e Bom

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Pastor ao sul), bem como a concentração de empresas do setor terciário no eixo rodoviário norte. Prossegue também a manutenção de amplas glebas ociosas (especialmente nas porções oeste, sul e sudeste), mantidas vazias à espera de valorização.

Por outro lado, verifica-se o surgimento de outras formas de ocupação e uso do espaço, tais como chácaras de recreio (bairros Engenho Braun e Efapi), condomínios verticais de apartamentos, voltados para as classes médias (Jd. América, Pq. das Palmeiras, Passo dos Fortes, Pres. Médici e Maria Goretti), e, mais recentemente, loteamentos de alto padrão e condomínios horizontais exclusivos, nas porções noroeste e sul da área urbanizada. No contraponto a estas formas elitizadas de uso residencial do espaço, verifica-se também o crescimento do número de favelas e ocupações irregulares, as quais aparecem dispersas em várias áreas da cidade (notadamente nos bairros Líder, Passo dos Fortes, Pq. das Palmeiras, Bom Pastor e Esplanada), evidenciando o acirramento da segregação socioespacial no âmbito do processo de expansão urbana.

A estes usos da terra, acrescentam-se outros tipos, com destaque para a instalação de diversos estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços ao longo da av. Attílio Fontana, contribuindo para a consolidação de um subcentro no bairro Efapi, bem como a instalação de outras indústrias, especialmente ao longo dos principais eixos de acesso viário à cidade. Todos estes usos contribuíram para a ampliação da área urbanizada, bem como para a estruturação do espaço urbano chapecoense em termos social e funcional.

REFERÊNCIAS

ALBA, R. S. Espaço urbano: os agentes da produção em Chapecó. Chapecó: Argos, 2002.

CARLOS, A. F. A. Espaço e indústria. São Paulo: Contexto, 1988. CORRÊA, R. L. O espaço urbano. 3. ed. São Paulo: Ática, 1995.

ESPÍNDOLA, C. José. As Agroindústrias do Oeste Catarinense. O caso Sadia. Dissertação de Mestrado. USP, São Paulo, 1996.

HASS, M.; ALDANA, M.; BADALOTTI, R. M. A possibilidade de um pacto social à luz dos princípios do Estatuto da Cidade: o plano diretor de Chapecó (SC). In: ______; _______; ______ (Orgs.) Os planos diretores e os limites de uma gestão urbana democrática: as experiências de Chapecó, Xanxerê e Concórdia (SC). Chapecó: Argos, 2010. p. 59-120.

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técnico de uso da terra. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2006. LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001.

PERTILE, N. Espaço, técnica e tempo em Chapecó/SC. In: SCHEIBE, L. F.; DORFMAN, A. (Org.). Ensaios a partir de “A Natureza do Espaço”. Florianópolis: Boiteux, 2007, p. 153-178.

RECHE, D. Leis e planos urbanos na produção da cidade: o caso de Chapecó/SC. Florianópolis: UFSC, 2008 (Dissertação de mestrado).

RIBEIRO, L. C. Q. Dos cortiços aos condomínios fechados: as formas de produção da moradia na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira: 1997. SANTOS, M. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985.

______. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993.

SINGER, P. O uso do solo urbano na economia capitalista. In: MARICATO, E. (Org.). A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil industrial. 2. ed. São Paulo: Alfa-Ômega, 1982. p. 21-36.

VILLAÇA, F. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, FAPESP, Lincoln Institute, 1998.

WOLFF, J. N. Escritos sobre a cidade: “as mil portas” da modernização de Chapecó (1960/1970). In: NASCIMENTO, D.; BITTENCOURT, J. B. Org.). Dimensões do urbano: múltiplas facetas da cidade. Chapecó: Argos, 2008.

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