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AS MEDIDAS CAUTELARES DE NATUREZA PESSOAL E SUA RECEPÇÃO PELO ATUAL SISTEMA PROCESSUAL PENAL

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AS MEDIDAS CAUTELARES DE NATUREZA PESSOAL E SUA RECEPÇÃO PELO ATUAL SISTEMA PROCESSUAL PENAL

Vanessa Duarte Guterres Figueira Nidal Khalil Ahmad Mohamad Mahmud RESUMO

O presente artigo tem como tema as Medidas Cautelares de Natureza Pessoal e sua recepção pelo atual sistema processual penal, as quais foram introduzidas em nosso ordenamento jurídico processual penal através da nova Lei nº 12.403/2011. De início abordam-se os aspectos históricos sobre a pena de prisão. Ainda, colaciona entendimentos doutrinários acerca das modalidades de prisão após a reforma processual penal. Por fim, aborda exemplificadamente o rol das medidas cautelares de natureza pessoal diversas da prisão, abordando aspectos pertinentes a esta matéria.

Palavras-chave: caráter, pessoal, prisão. ABSTRACT

This article focuses on the Preventive Measures of Personal Nature and its reception by the current criminal justice system, which were introduced in our legal criminal procedure through the new Law No. 12.403/2011. From beginning to address the historical aspects of the prison sentence. Still, colaciona doctrinal understandings about the modalities of prison after the reform of criminal procedure. Finally, approaches exemplified the role of the precautionary measures of various personal prison, addressing issues relevant to this matter. Key Words: character, personal, prison.

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Em uma visão geral, deve o Direto Penal funcionar como uma ferramenta de equilíbrio social, bem como estabelecer mínimas regras de convivência. Além disso, deve, também, acompanhar a evolução da sociedade, em sentido amplo, modernizando-se e adequando-se com as situações que no decorrer do tempo vão necessitando da maleabilidade da legislação.

Com a adaptação da legislação à evolução da sociedade e a necessidade de uma norma penal que busque a eficiência da persecução penal, surgiu a Lei 12.403/2011, trazendo várias inovações ao Código de Processo Penal.

A reforma do Código de Processo Penal veio com a intenção de não mais prender cautelarmente o indiciado sem que tal medida seja realmente necessária e adequada para assegurar a instrução policial. Assim, entra na esfera processual penal a aplicação do princípio da proporcionalidade.

Para tanto, a nova lei, além de outras inovações, prevê as espécies de prisões cautelares, bem como apresenta o rol de medidas cautelares, as quais buscam garantir a efetividade da tutela jurisdicional que se dará pela sentença penal condenatória ou absolutória.

Nesse contexto, levando-se em conta as inovações introduzidas pela Lei n.º 12.403/2011, pergunta-se: como o atual contexto do sistema processual brasileiro vem recepcionando as medidas cautelares diversas da prisão?

1 A PENA DE PRISÃO E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA E PROCESSUAL

1.1 Evolução histórica da pena de prisão

A origem da pena é tão antiga quanto a própria Humanidade. Na antiguidade, o encarceramento não tinha traços de pena, existindo somente para outros fins.

O doutrinador Bitencourt (2011, p. 25) explica que até fins do século XVIII, a prisão servia exclusivamente para fins de contenção e guarda de réus.

Passando para o período da Idade Média, Masson (2012, p. 59) refere que esta época compreende, principalmente, o direito penal germânico e o direito penal canônico.

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Em relação, ainda, à Idade Média, Mirabete (1995, p. 36) esclarece que entre a época dos direitos romano e germânico e do direito moderno, estendeu-se o direito canônico ou o direito penal da igreja, o qual era influenciado pelo cristianismo em sua legislação penal.

Para Lopes Junior (2010, p. 2), a prisão canônica é um importante antecedente da prisão moderna, pois tinha o objetivo de levar o pecador ao arrependimento, tendo a ideia de que a pena não deveria servir para a destruição do condenado e sim para seu melhoramento.

A partir do contexto histórico, expõe-se, pois, a evolução da história do direito penal brasileiro.

Mirabete (1995, p. 42) refere que com a proclamação da República, em 1890, foi editado um estatuto, denominado de Código Penal. Nele, instalou-se o regime penitenciário de caráter correcional.

Em 1937, foi apresentado por Alcântara Machado o projeto de um novo Código Penal, o qual foi sancionado em 1940, passando a vigorar em 1942 e está vigente até os dias atuais.

Indo em direção à área processual penal, no ano de 2011, foi aprovado o Projeto de Lei nº 4.208/2001, posteriormente transformado na Lei nº 12.403/2011, entrando em vigência em 04 de julho de 2011, alterando dispositivos do Código de Processo Penal relativos às medidas cautelares de natureza pessoal.

Gomes (2011 p.25) informa, outrossim, que, com o advento desta lei, além das novas medidas descarcerizadoras, nos termos da nova redação do artigo 283, passou-se a contar com duas situações de prisão cautelar: (a) temporária e (b) preventiva.

1.2 Distinção de prisão pena e prisão cautelar

Capez (2003, p. 215) refere que a prisão penal é a privação da liberdade com a finalidade de executar-se uma decisão judicial na qual houve a determinação de uma pena privativa de liberdade.

Outrossim, Lima (2011, p. 1195) explica que a prisão cautelar, chamada também por carcer ad custodiam, é aquela decretada antes do trânsito em

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julgado da sentença penal condenatória, com o fito de assegurar a eficácia das investigações ou do processo criminal.

Bonfim (2011, p. 57) traz outro termo para a prisão cautelar, qual seja, a prisão sem pena, pois não constitui pena no sentido técnico-jurídico.

1.3 Do princípio da presunção de inocência ao princípio da proporcionalidade

O Princípio da Presunção da Inocência está exteriorizado no artigo 283 do Código de Processo Penal.

Beccaria (1764, p. 37) já advertia que um homem não pode ser chamado réu antes da sentença do juiz, e a sociedade só lhe pode retirar a proteção pública após ter decidido que ele violou os pactos por meio dos quais ela lhe foi outorgada.

Lima (p. 1137, 2011) ensina que do princípio da presunção de inocência derivam-se duas regras: a probatória e a de tratamento. A regra probatória consiste no ônus da parte acusatória em provar a culpabilidade do acusado e não ele de provar sua inocência. Outrossim, em virtude da regra de tratamento, ninguém pode ser considerado culpado senão depois de sentença condenatória com trânsito em julgado.

Em relação ao princípio da proporcionalidade, Lopes Junior (2011, p. 26) refere ser este o principal sustentáculo das prisões cautelares. Jamais uma medida cautelar poderá se converter em uma pena antecipada, sob pena de flagrante violação à presunção de inocência.

2 DAS MODALIDADES DE PRISÃO SOB A VISÃO DA LEI 12.403/20122.1 A prisão sub-cautelar – Prisão em Flagrante

Com a nova reforma do Código de Processo Penal, a prisão em Flagrante ganhou o aspecto de pré-cautelar.

De acordo com Avena (2012, p. 878), tal instituto é regido pela causalidade, pois o flagrado é surpreendido no decorrer da prática da infração ou momentos depois.

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A prisão em flagrante está justificada nos casos excepcionais, do artigo 302 do Código de Processo Penal e constituiu uma forma de medida pré-cautelar pela sua absoluta precariedade.

De acordo com Bonfim (2011, p. 75), o artigo 310 do Código de Processo Penal, modificado pela Lei nº 12.403/2011, consagrou uma ruptura na forma com que vinha sendo tratada a prisão em flagrante.

Na oportunidade do recebimento do auto de prisão em flagrante, o juiz, constatando existirem indícios suficientes de autoria e materialidade delituosa, homologa o flagrante. Caso entenda existir alguma ilegalidade ou desatendimento à exigência legal, pode relaxar a prisão.

Outra opção do juiz – não sendo caso de relaxamento de prisão – é conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.

A liberdade provisória, de acordo com Capez (2003, p. 236), é o instituto processual que garante ao acusado o direito para que ele aguarde em liberdade até o trânsito em julgado, vinculado ou não a certas obrigações, podendo ser revogado a qualquer tempo, diante do descumprimento das condições impostas.

2.2 Da prisão preventiva

A possibilidade de decretação da prisão preventiva encontra-se prevista no Artigo 5º, inciso LXI, da Constituição Federal.

O doutrinador Avena (2012, p. 917) refere que a prisão preventiva pressupõe a existência de periculum in mora (ou periculum libertatis), que significa o risco de que a liberdade do agente venha a causar prejuízo à segurança social, à eficácia das investigações policiais e da apuração criminal, e à execução de eventual sentença condenatória, bem como pressupõe, da mesma forma, a existência do fumus boni iuris (ou fumus comissi delicti), consubstanciado na possibilidade de que tenha o acusado praticado uma infração penal, em face dos indícios de autoria e da prova da existência do crime verificados no caso concreto.

Lopes Júnior (2011, p. 63) refere que o artigo 311 do Código de Processo Penal estabelece que caberá a prisão preventiva a partir do requerimento do querelante; logo, no curso de ação penal de iniciativa privada.

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Ainda, o assistente de acusação também poderá requerer a decretação da prisão preventiva. Nas palavras de Cunha (2011, p. 143), com o advento da Lei nº 12.403/2011, o agente ministerial adquiriu essa capacidade, passando a figurar no rol do artigo 311 do Código de Processo Penal.

Lopes Júnior (2011, p. 74) adverte que além da existência do fumus commissi delicti e do periculum libertatis, a prisão preventiva somente poderá ser decretada nos crimes dolosos. Não é possível a prisão preventiva em crime culposo, ainda que haja a argumentação acerca da existência de quaisquer dos requisitos elencados no artigo 312 do Código de Processo Penal. Isso porque, para além do princípio da proporcionalidade, o artigo 313, do referido código, inicia por uma limitação estabelecida em seu inciso I, o qual descreve: crime doloso punido com pena privativa de liberdade máxima superior a quatro anos.

No que se refere à duração da prisão preventiva, Avena (2012, p. 952) esclarece que a legislação não estabelece um prazo máximo de duração prisão preventiva.

2.3 Inovação legislativa - a prisão domiciliar

Em relação à prisão domiciliar, Lima (2011, p.1419) descreve que, levando em consideração certas situações especiais, a substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar visa a tornar menos desumana a segregação cautelar, permitindo que, ao invés de ser recolhido ao cárcere, ao agente seja imposta a obrigação de permanecer em sua residência.

Avena (2012, p. 952) relata as ocasiões da aplicação, quais sejam: (a) ser maior de oitenta anos; (b) extremamente debilitado por motivo de doença grave; (c) imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de seis anos de idade ou com deficiência e (d) gestante a partir do sétimo mês de gravidez ou sendo esta de alto risco.

No entanto, os requisitos exigidos para a decretação da prisão preventiva, confundem-se, à primeira vista, com os elencados no artigo 117 da Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84).

Maciel (2011, p.163) distingue a prisão domiciliar-pena da prisão domiciliar processual. A prisão domiciliar-pena é uma forma de cumprimento da pena imposta e já prevista nas hipóteses excepcionais e taxativas do art. 117

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da Lei de Execução Penal. A prisão domiciliar processual, por sua vez, pode ser medida cautelar autônoma ou medida cautelar substitutiva da prisão preventiva.

Neste sentido, Bonfim (2011, p.143) adverte que, com a edição do artigo 318 do Código de Processo Penal, fica claro que o artigo 117 da Lei de Execuções Penais, a partir de então, ficará restrito aos presos definitivamente condenados, que deverão observar os requisitos previstos no referido dispositivo para a concessão ou manutenção do benefício.

2.4 Prisão Temporária – Lei nº 7.960/1989

De acordo com Lima (2011, p. 1385), a prisão temporária é competente durante a fase preliminar de investigações, com prazo estabelecido de duração, quando a privação de liberdade de locomoção do indivíduo for indispensável para a obtenção de elementos de informação quanto à autoria e materialidade, assim como em relação aos crimes hediondos e equiparados (Lei nº 8.072/1990, art. 2º, § 4º), viabilizando a instauração da persecutio criminis in judicio.

Para a decretação da prisão temporária, são necessários alguns requisitos, os quais são elencados no artigo 1º da lei já citada, que, em suma, são (a) a imprescindibilidade da prisão temporária para as investigações; (b) ausência de residência fixa e não fornecimento de elementos necessários ao esclarecimento da identidade do indiciado e (c) fundadas razões de autoria ou participação do indiciado nos crimes listados no inciso III, artigo 1º, da Lei nº 7.960/1989 e no artigo 2º, § 4º, da Lei nº 8.072/1990.

Quanto ao procedimento da prisão temporária, Lima (2011, p. 1400) leciona que esta será decreta pelo juiz, diante da representação da autoridade policial ou pelo requerimento do Ministério Público, tendo o prazo de cinco dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.

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A principal inovação promovida pela Lei nº 12.403/2011, guarda, sem dúvida, relação com a introdução no Código de Processo Penal das medidas cautelares.

Cebrian e Gonçalves (2012, p. 394) essas medidas, denominadas cautelares, não constituem, obviamente, antecipação da pena, pois ninguém pode ser considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença condenatória, e é neste sentido que a sua adoção pressupõe a constatação de que há risco de dano na demora da entrega da prestação jurisdicional (periculum in mora) e de que há razoável probabilidade de ser acolhida a pretensão do autor (fumus boni iuris).

3.1 As características e requisitos das Medidas Cautelares

De acordo com Bonfim (2011, p. 20), as medidas cautelares, ao serem aplicadas no curso do inquérito ou do processo penal, gozam de quatro características sobressalentes: a provisionalidade, a revogabilidade, a substitutividade e a excepcionalidade.

Nas palavras de Gomes (2011, p. 26), as medidas cautelares alternativas à prisão cautelar são medidas descarcerizadoras, ou seja, medidas que visam a evitar (ou suavizar) o encarceramento do agente antes da sentença final transitada em julgado.

As medidas cautelares têm dois pressupostos. De acordo com Bonfim (2011, p.26), as medidas cautelares, sendo verdadeiramente excepcionais, devem ser impostas somente quando preenchidos alguns requisitos imprescindíveis à sua decretação: o fumus comissi delicti e do periculum libertatis.

Ainda, de acordo com Gomes (2011, p. 55), as medidas cautelares devem ser homogêneas, pois não se admite que permaneça o réu preso em razão de processo penal que poderá resultar ao final, em uma pena que não vai conduzir o condenado para a cadeia. É desproporcional e nada homogêneo decretar a prisão preventiva quando já se sabe que será imposta uma pena alternativa.

Avena (2012, p. 837) ensina que para a decretação das medidas cautelares devem ser observadas duas regras: a primeira, de caráter geral,

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aplicada tanto à prisão preventiva como às demais medidas cautelares diversas da prisão, consubstanciada no artigo 282, § 2 º, do Código de Processo Penal; e a segunda regra, consistente em norma específica para a prisão preventiva, inscrita no artigo 311 do Código de Processo Penal.

Cebrian e Gonçalves (2012, p. 402) explicam que somente o juiz, por meio de decisão fundamentada, pode aplicar medida cautelar, seja no curso da ação penal ou antes de seu exercício. No curso da ação, as medidas cautelares podem ser decretadas de ofício ou a requerimento das partes.

Com a entrada da Lei nº 12.403/2011, passou-se a haver o contraditório prévio à decretação da medida cautelar.

3.2 As medidas cautelares de natureza pessoal - A maior inovação da Lei nº 12.403/2011

As medidas cautelares estão expressas no rol do artigo 319 do Código de Processo Penal.

A primeira medida cautelar diversa da prisão prevista no artigo 319 do Código de Processo Penal é o comparecimento período em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades.

Lopes Junior (2011, p. 123) reflete que é uma medida que permite, a um só tempo, o controle da vida cotidiana e também certificar-se do paradeiro do imputado, servindo como instrumento para tutela da eficácia da aplicação da lei penal.

A segunda medida a ser analisada é a proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distantes desses locais para evitar o risco de novas infrações.

Cebrian e Gonçalves (2012, p. 398) ensinam que é possível que a frequência do indiciado ou réu a determinados lugares ou a estabelecimentos de certa natureza favoreça o cometimento de novas infrações de sua parte,

O artigo 319, inciso III, do Código de Processo Penal prevê a proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante.

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Nesse caso, de acordo com Maciel (2011, p. 183), a medida cautelar visa não só impedir a obstrução das investigações ou do processo – se houver elementos que indiquem que o contato do suspeito poderá atemorizar a pessoa (vítima, testemunha, etc.) – mas também proteger a pessoa contra novas investidas criminosas do indiciado ou acusado.

De acordo com Avena (2012, p. 852) este provimento cautelar mantém correspondência com a previsão já existente no artigo 22, inciso III, alínea “b”, da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), ao estabelecer como medida protetiva de urgência destinada ao agressor, na hipótese de violência doméstica e familiar contra a mulher, a proibição de contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação.

De outro lado, Bonfim (2011, p. 47) ensina que verificando o juiz que o acusado ou investigado dê efetivas demonstrações de que pretende furtar-se à aplicação da lei penal, poderá ele impor a referida medida, impedindo que o acusado se ausente da comarca. Essa é a medida de proibição de ausentar-se da comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução.

Avena (2012, p. 854) ressalta que o juiz deve se ater à efetiva presença do pressuposto específico que a autoriza, qual seja a efetiva necessidade ou conveniência para a investigação processual penal.

A medida cautelar de recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos, de acordo com Lima (2011, p. 1432), verificando que não é necessário privar o agente de sua liberdade de locomoção em absoluto, e que seu mero recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga, já será suficiente e necessário para tutelar a investigação ou a instrução criminal e para evitar a prática de novas infrações penais, deve o magistrado optar pela medida cautelar do artigo 319, inciso V, do Código de Processo Penal.

Havendo fundamento para concluir que o exercício de função pública ou de atividade econômica ou financeira favoreça a prática de nova infração penal, nas palavras de Cebrian e Gonçalves (2012, p. 399), o juiz poderá interditar temporariamente seu exercício, comunicando, conforme o caso, ao respectivo órgão público ou entidade de classe. Trata-se da medida de suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza

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econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais.

Avena (2012, p. 856) ensina que tal medida trata-se de cautelar destinada, primordialmente, aos funcionários públicos, nos crimes contra a administração pública, bem como aos agentes de crimes contra instituições econômicas ou financeiras. Sua aplicação requer a existência de uma relação entre a prática criminosa sob apuração e a função pública ou a atividade econômica ou financeira desenvolvida pelo agente, não se autorizando que seja imposta quando a infração penal, objeto da persecução, não apresentar este vínculo.

A medida de Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração está prevista no artigo 319, inciso VII, do Código de Processo Penal.

Para Cebrian e Gonçalves (2012, p. 399), cuida-se de medida aplicável somente em relação a infrações praticadas com violência ou grave ameaça e que pressupõe, além da constatação, em decorrência da instauração de incidente de insanidade, de que o indiciado ou réu é inimputável ou semi-imputável, a demonstração de que apresenta considerável potencial de reincidência. A internação deve ocorrer em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado.

Prevista no artigo 319, inciso VIII, do Código de Processo Penal, a fiança pode ser aplicada como medida cautelar de natureza pessoal nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução de seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial.

Nas palavras de Maciel (2011, p. 194), a fiança era a única medida cautelar substitutiva da prisão, prevista no Código de Processo Penal, mas havia perdido muito de sua importância. A partir da vigência da Lei nº 12.403/2011, mesmo que não estiverem presentes os motivos da prisão preventiva o juiz pode decretar fiança, como medida cautelar autônoma da prisão.

O artigo 319, inciso IX, do Código de Processo Penal refere-se à monitoração eletrônica. Lima (2011, p. 1437) conceitua que esta medida

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consiste no uso da telemática e de meios tecnológicos, permitindo que à distância, e com respeito à dignidade da pessoa a ele sujeito, seja possível observar sua presença ou ausência em determinado local e período que ali deva ou não possa estar.

Para Maciel (2011, p. 186), a monitoração eletrônica é uma medida polêmica, inclusive quanto à constitucionalidade. No Brasil, após intensos debates e projetos, a monitoração eletrônica foi recentemente introduzida em nosso ordenamento jurídico pela Lei nº 12.259/2010, que alterou a Lei de Execuções Penal, permitindo o monitoramento eletrônico para o preso condenado.

3.3 Duração e recurso cabível das medidas cautelares de natureza pessoal

De acordo com Cebrian e Gonçalves (2012, p. 400), não há previsão de prazo máximo de duração das medidas cautelares, o que autoriza a conclusão de que os efeitos da decisão que as decreta devem perdurar enquanto subsistir a sua necessidade. Deve o juiz, entretanto, notadamente no que se refere à prisão, pautar-se pelos princípios de razoabilidade e da proporcionalidade para estabelecer os casos em que a duração da medida se torne excessiva.

Maciel (2011, p. 181) leciona que todas as medidas cautelares diversas da prisão são restritivas de direitos do acusado. Assim sendo, tal como a prisão, essas medidas não podem perdurar indefinidamente, estando, pois, sujeitas à ilegalidade por excesso de prazo.

Em relação ao recurso cabível à decretação de uma medida cautelar de natureza pessoal, descreve Lima (2011, p. 1170) de acordo com o artigo 581, inciso V, do Código de Processo Penal, que, se cabe o recurso em sentido estrito contra a decisão que indeferir o requerimento de prisão preventiva, também deve ser cabível da decisão que indefere requerimento de decretação de medida cautelar. Também, interpretando extensivamente o artigo acima mencionado, narra o autor que deve ser admitido, da mesma forma, o cabimento do recurso em sentido estrito em face da decisão que revoga e/ou

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determina a substituição de quaisquer das medidas cautelares de natureza pessoal.

Neste sentido, conforme sustenta Avena (2012, 842), contra o indeferimento da medida cautelar existe a possibilidade da utilização do recurso em sentido estrito, cabível quando do indeferimento da cautelar de prisão preventiva, por interpretação extensiva do artigo 581, inciso V, do Código de Processo Penal.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a elaboração deste trabalhado, foram realizadas pesquisas através de coleta de dados referente às jurisprudências emanadas do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.

Para tanto, foi utilizado o método dedutivo, o qual procura transformar enunciados complexos em particulares, chegando-se então à conclusão. Tal método organiza e especifica o conhecimento que já se possui acerca de um delimitado tema, no caso, as prisões e medidas cautelares à luz da Lei nº 12.403/2011.

5 COLETA E ANÁLISE DE DADOS

Para coleta de dados, foi delimitado o período de dois meses – entre as datas de 04/07/2011 e 30/09/2011 - após a publicação da Lei nº 12.403/2011, com o fim de verificar a recepção das medidas cautelares diversas da prisão pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.

Da análise, verifica-se que a Corte Estadual vem aplicando consideravelmente as medidas cautelares, utilizando-se como base os seguintes fundamentos: ausência do fumus commissi delicti e do periculum libertatis, ausência de condenação por crime doloso, pena máxima menor que quatro anos, crime sem violência ou grave ameaça, princípio da proporcionalidade, para caráter profilático e preventivo, pela necessidade e adequação das medidas cautelares. Ainda, constata-se que as medidas cautelares de natureza pessoal mais aplicadas foram: o comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e

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justificar atividades; proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações e proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução.

No entanto, das 44 (quarenta e quatro) jurisprudências analisadas no período já mencionado, percebe-se que a maioria dos pedidos de aplicação das medidas cautelares não foram aceitos pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Isso porque, conforme pesquisa, elas foram denegados pelos seguintes motivos: preenchimento dos artigos 312 e 313 do Código de Processo Penal, por ser o agente foragido, pela reincidência, pela presença do fumus commissi delicti e periculum libertatis, por desobediência às condições impostas pela prisão domiciliar, pela prática do crime de tráfico de drogas, pena maior de quatro anos, por não serem necessárias e suficientes para a prática de novo delito, por ter sido o crime praticado com violência ou grave ameaça e pelo fato do crime ser doloso.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando a análise das jurisprudências selecionadas, nota-se que as medidas cautelares diversas da prisão, introduzidas pela Lei nº 12.403/2011, estão sendo bem recebidas e aplicadas corretamente pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, oferecendo ao autor do delito, uma oportunidade de cumprir sua pena fora de um estabelecimento prisional. Para tanto, as medidas cautelares estão sendo aplicadas de acordo com a presunção constitucional da inocência, insculpida no art. 5º, inciso LVII, da CF, além de outros parâmetros estabelecidos pela lei.

Ainda, necessário referir que o sistema processual penal mantém a idéia, na sua maior parte, que deverá haver a adequação do delito aos tipos de medidas elencadas no artigo 319 da Lei nº 12.403/2011.

Contudo, a maioria das jurisprudências consubstanciam-se no sentido de denegar o pedido de deferimento, visto não se enquadrar a conduta praticada pelo agente aos requisitos elencados pela lei em comento.

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Por fim, considera-se a importantíssima relevância da Lei nº 12.403/2011 para o fim de desafogar o sistema prisional brasileiro, bem como tem o condão da ressocialização do preso por meio do contato com a sociedade.

REFERÊNCIAS

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AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Processo Penal Esquematizado. 4. Ed. São Paulo: Método, 2012.

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Tradução de Torrieri Guimarães. São Paulo: Editora Martin Claret, 2003.

BIANCHINI, Alice. et. alii. Prisão e Medidas Cautelares: comentários à Lei 12.403, de 4 de maio de 2011. 2. ed. rev. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

BONFIM, Edilson Mougenot. Reforma do Código de Processo Penal: Comentários à Lei nº 12.403, de 4 de maio de 2011. São Paulo: Saraiva, 2011.

CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. 10. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003.

REIS, Alexandre Cebrian Araújo; GONÇALVES, Vitor Eduardo Rios. In: LENZA, Pedro (Org.). Direito Processual penal esquematizado. São Paulo: Saraiva 2012.

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. atual. de acordo com a Lei nº 12.403/11. Rio de Janeiro: Impetus, 2011.

LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal: e sua conformidade constitucional. 5. ed. ver. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.

LOPES JUNIOR, Aury. O novo regime jurídico da Prisão Processual, Liberdade Provisória e Medidas Cautelares Diversas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.

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OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 15. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.

Referências

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